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Catarina Nykiel - MedManas CASO CLÍNICO – LOMBALGIA Dona de casa obesa de 35 anos apresenta-se com dor lombar, requisitando um raio X. Ela tem essa dor há vários anos, mas, nos últimos dois dias, piorou muito. A dor começou depois que ela passou o aspirador em um tapete e acomete especialmente o lado direito da região lombar, irradiando-se para a face posterior da coxa até o joelho, mas não é acompanhada de dormência ou formigamento e melhora quando a paciente se deita de costas, com as pernas ligeiramente elevadas, e quando toma 400 mg de ibuprofeno. Exceto pela obesidade moderada e pela dificuldade de manobras sobre a mesa de exame por causa da dor, seu exame é praticamente normal. A única anormalidade que você nota é o teste positivo de dor na região lombar à elevação da perna, com a direita provocando mais dor do que a esquerda. Força muscular, sensibilidade e reflexos profundos são normais nas extremidades. Questionamentos 1. Qual é o diagnóstico mais provável? 2. Qual o próximo passo? RESPOSTAS NA PÁGINA SEGUINTE Catarina Nykiel - MedManas Respostas Mulher obesa de 35 anos com lombalgia crônica queixa-se que a dor piorou agudamente, irradiando-se ao longo da perna direita. O exame físico é normal. • Diagnóstico mais provável: lombalgia musculoesquelética, possivelmente ciática, sem déficits neurológicos • Próximos passos: estimular continuidade das atividades normais, evitando movimentos de torção e levantamento de objetos pesados. Utilizar AINEs de forma programada e recomendar, opcionalmente, relaxantes musculares, embora essas medicações possam causar sonolência. Fazer massagens ou fisioterapia também pode ser útil. Realizar acompanhamento em quatro semanas. Aconselhar perda de peso e exercícios para fortalecimento da musculatura das costas. Análise do caso Essa paciente jovem com lombalgia tem exarcebação aguda com irradiação para perna, o que pode indicar compressão de nervo ciático. Não tem outras anormalidades neurológicas como déficits sensoriais, fraqueza muscular ou sintomas característicos de etiologias mais graves de lombalgia que, se presentes, exigiriam avaliação mais urgente. Assim, ela tem bom prognóstico de recuperação com o tratamento conservador, sendo talvez o tempo o fator mais importante. Se não melhorar em seis semanas, a realização de estudos de imagem pode ser considerada. Abordagem clínica Na avaliação de pacientes com lombalgia, o clínico precisa excluir doenças potencialmente graves, como tumores malignos e infecção, além de doenças neurológicas perigosas, como compressão de medula espinal ou síndrome da cauda equina. Os indivíduos sem essas doenças inicialmente são tratados com medidas conservadoras. Quase todos os pacientes se recuperam espontaneamente em 4 a 6 semanas; somente de 3 a 5% permanecem incapacitados durante mais de três meses. São muitas as causas potenciais de lombalgia: a dor pode originar-se de ossos, ligamentos, músculos, nervos e, raramente, de víscera ou de outra estrutura. A lombalgia com irradiação para a face posterior da perna sugere compressão da raiz do nervo isquiático, geralmente causada por herniação de disco intervertebral nos níveis L4-L5 ou L5-S1. O paciente geralmente relata dor e parestesia na nádega que se irradia para a face posterior da coxa e para a panturrilha ou para a face lateral da perna. Quando a dor se irradia para abaixo dos joelhos, a probabilidade de radiculopatia verdadeira é maior do que quando a irradiação é somente para a face posterior da coxa. História de dormência e de fraqueza persistentes nas pernas aumenta a probabilidade de envolvimento neurológico. A maioria dos casos de lombalgia é idiopática, e esse grupo em geral é referido como lombalgia musculoesquelética. Os exames de imagem e outros exames diagnósticos normalmente não são úteis no tratamento desses casos. Os estudos mostram que a história e o exame físico podem ajudar na distinção entre a maioria de pacientes com lombalgia musculoesquelética simples e autolimitada e a minoria com causas subjacentes mais graves. !! Sintomas sistêmicos e dor noturna que não alivia ao deitar-se → pensar em tumor maligno. Quando o paciente tem sintomas e sinais preocupantes, na maioria dos casos a avaliação inicial mais eficaz compreende radiografia simples anteroposterior e lateral da região envolvida da coluna vertebral, velocidade de hemossedimentação e hemograma completo. Exames mais caros, como de ressonância magnética (RM), devem ser reservados para aqueles casos nos quais a cirurgia está sendo considerada porque eles não são necessários para fazer a maioria dos diagnósticos. Durante o exame físico, pontos dolorosos à palpação ao longo das apófises espinais podem indicar lesão destrutiva da própria coluna vertebral; em contraste, os indivíduos com lombalgia musculoesquelética quase sempre têm dor à palpação da musculatura paravertebral. Força muscular, sensibilidade e reflexos devem ser avaliados, especialmente naqueles pacientes com queixa de dor radicular ou irradiada. O teste de Laségue, no qual o examinador, segurando o tornozelo do paciente, eleva passivamente a perna até 45°, é útil se provocar dor na região lombar, sugerindo Catarina Nykiel - MedManas compressão da raiz do nervo. Todavia, não é um exame muito sensível e específico. A manobra de Patrick, no qual o paciente faz rotação externa do quadril, flexiona o joelho do mesmo lado e cruza o joelho da outra perna com o tornozelo (como um número 4), e o examinador simultaneamente pressiona para baixo o joelho flexionado e o lado oposto da bacia, pode ajudar na distinção da dor procedente da articulação sacroilíaca. Manejo No tratamento da lombalgia idiopática, várias modalidades se mostraram igualmente eficazes a longo prazo. Ensaios randomizados e controlados indicaram que o estímulo para que o paciente continue suas atividades habituais tem eficácia superior à recomendação de repouso no leito. Os pacientes sem incapacidade e sem evidência de compressão da raiz nervosa provavelmente podem manter atividade judiciosa, em vez de fazer repouso no leito. O repouso no leito provavelmente é apropriado apenas para indivíduos com dor intensa ou com déficits neurológicos. Os pacientes devem ser instruídos a posicionar-se de modo a minimizar a dor; isso geralmente consiste em deitar de costas, com a parte superior do corpo levemente elevada e com um travesseiro sob os joelhos. Anti-inflamatórios não esteroides (programados e não somente quando necessário), analgésicos diferentes do ácido acetilsalicílico e relaxantes musculares podem ajudar na fase aguda. Pelo fato de que a maioria das hérnias de disco com radiculopatia melhora espontaneamente em 4 a 6 semanas sem cirurgia, essas medidas conservativas são o tratamento inicial recomendado também para esses pacientes. Analgésicos narcóticos também são uma boa opção em casos de dor intensa; no entanto, uma vez que a lombalgia idiopática quase sempre é problema crônico, seu uso prolongado, além da fase inicial, é desestimulado. A terapia quiroprática, fisioterapia, massagem e acupuntura foram estudadas e obtiveram resultados comparáveis aos das abordagens tradicionais. O encaminhamento ao cirurgião pode ser considerado naqueles pacientes com dor radicular, com ou sem neuropatia, que não melhora com 4 a 6 semanas de tratamento conservador. Os pacientes que apresentam aspectos clínicos preocupantes – como história de malignidade, febre ou achados de exame sugestivos de compressão da medula espinal ou síndrome da cauda equina – devem ser encaminhados com urgência para a realização de exames de imagem, seja RM ou tomografia computadorizada (TC) da coluna espinal, para avaliação de condições como metástases vertebrais, osteomielite vertebral ou abscesso epidural espinal, que requerem tratamento urgente.
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