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Cap 1-2-3- economia-brasileira-werner-baer

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Introdução e aspectos gerais
O BRASIL PASSOU P O k PROFUNDAS mudanças socioeco- 
nômicas desde a Grande Depressão da década de 1930, e, principalmente, após a Se-
gunda Guerra Mundial. Sua economia, durante séculos voltada para a exportação de 
uma pequena quantidade de produtos primários, foi dominada por um setor indus-
trial amplo e diversificado em um espaço de tempo relativamente curto. Ao mesmo 
tempo, sua sociedade, predominantemente rural, tornou-se cada vez mais urbanizada.
Essa rápida transformação socioeconômica pode ser exemplificada com alguns nú-
meros. Em 1940, apenas 30% da população do país era urbana; em 1970, essa proporção 
havia aumentado para 56%, e, em 1999, para 78%.1 A contribuição da agricultura para o 
Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 28% em 1947 para cerca de 10% no final da década 
de 1990 (avaliada em preços atuais), enquanto a da indústria cresceu de quase 20% em 
1947 para cerca de 36% no final da década de 1990. Após quatro décadas de intensa 
industrialização, o Brasil produzia 2 milhões de veículos a motor em 1997, 26 milhões de 
toneladas de aço em 1997, 39 milhões de toneladas de cimento em 1998, cerca de 7,8 
milhões de aparelhos de televisão e 3,7 geladeiras em 1997. Em 1998, possuía mais de 
58 mil megawatts de capacidade energética instalada e mais de 60% de suas exportações 
consistiam em produtos manufaturados. Sua rede de estradas pavimentadas cresceu de 
36 mil quilômetros em 1960 para cerca de 150 mil quilômetros em 1999.2
Embora a agricultura não fosse o setor líder nesses anos, seu crescimento foi conside-
rável. A área cultivada do país ampliou-se de 6?6 milhões de hectares em 1920 para 52,1 
milhões em 1985, caindo para 41,7 milhões em 1995,3 enquanto as terras dedicadas ao 
plantio de pastagens aumentaram de 74,1 milhões de hectares em 1985 para 99,6 mi-
lhões em 1995. O_país_tornou-se o maior produtor de açúcar e exportador de suco de 
laranja e o segundo maior exportador de soja, depois dos Estados Unidos.
Essas realizações, entretanto, não transformaram o Brasil em uma sociedade indus-
trial avançada, pois, em termos de prosperidade de seus cidadãos médios, ele conti-
nuou sendo um país menos desenvolvido. Embora em 1998 a renda per capita tenha 
sido de US$ 4.570, esse número não é um bom indicador de bem-estar geral, visto que
25
a distribuição de renda se mostrou altamente concentrada entre determinados grupos 
d e renda e regiões do país. Em 1998, 10% da população recebeu 46% da renda nacio-
nal, enquanto os 50% pertencentes aos grupos de renda mais baixa receberam apenas 
14% da renda nacional. A renda per capita variou regionalmente a tal ponto que em 
muitos estados do Nordeste representou menos da metade da média nacional, enquan-
to em regiões mais avançadas ela superou a média nacional em mais de 50%.4
Em 1998, 80% das residências tinham acesso a sistemas de fornecimento de água, 
36% estavam conectadas a um sistema geral de esgotos, 65,6% dispunham de serviços 
de coleta regular de lixo, 94% tinham eletricidade, 74,6% tinham uma geladeira, 81% 
possuíam um aparelho de televisão e apenas 32% possuíam telefone. ̂ Em 1984-89, a 
relação habitante-médico era de 1:1.120, passando a 1:746 em 1995, comparada a 1:408 
nos Estados Unidos e 1:334 na Suécia; a relação enfermeira-habitante era de 1:2.439 em 
1995, comparada a 114 nos Estados Unidos e 95 na Suécia. A taxa de mortalidade in-
fantil era de 65 em cada 1.000 crianças em 1990, caindo para 34 em 1997, comparada a 7 
nos Estados Unidos e 4 na Suécia.
Esses indicadores sociais descrevem apenas médias nacionais e, em muitas regiões 
do país, a população vivia em condições muito piores do que elas indicam. No início da 
década de 1990, por exemplo, no Nordeste do Brasil apenas 48% das residências urba-
nas tinham acesso a sistemas gerais de abastecimento de água, comparadas a mais de 
85% no Sudeste; apenas 16% das residências estavam ligadas a um sistema geral de 
esgotos, comparadas a 70% no Sudeste. A expectativa de vida ao nascer era de 88,1 
no Sudeste, comparada a 60,7 no Nordeste, e a taxa de mortalidade infantil atingia 
26,8% no Sudeste, comparada a 63,1 no Nordeste.6
Os responsáveis pela política econômica tinham esperança de que, além de contri-
buir para o crescimento e desenvolvimento geral do Brasil, a industrialização diminuiria 
substancialmente a dependência econômica do país em relação aos tradicionais centros 
industriais do mundo. A divisão internacional do trabalho originada no século XIX con-
feriu ao Brasil e à maioria dos países do Terceiro Mundo o papel de fornecedores de 
produtos primários. Assim, sua taxa de atividade econômica dependia em grande parte 
do desempenho dos centros industrializados do mundo. Esperava-se que a industriali-
zação - visando à substituição de importações - resultasse em maior independência para 
o país, quando, na verdade, modificou somente a natureza de sua dependência. O coefi-
ciente de importação (o indicador de importação/PIB) não sofreu uma queda acentuada, 
enquanto a composição de mercadorias de importação mudou e, no que diz respeito à 
atividade econômica, ocasionou uma dependência do país em relação ao comércio 
exterior no mínimo tão grande quanto antes. Além disso, como a industrialização foi 
atingida por investimento estrangeiro maciço nos setores mais dinâmicos da indústria, a 
influência estrangeira no desenvolvimento e no uso de meios de produção aumentou 
substancialmente.
O modelo brasileiro de industrialização baseou-se na ideologia das economias de mer-
cado, isto é, na maioria dos governos durante o período em que a industrialização era 
estimulada. Enfatizou-se o respeito pela propriedade privada e a confiança nos em-
preendimentos privados domésticos e estrangeiros. O Estado, entretanto, envolveu-se 
diretamente em atividades econômicas com maior intensidade do que foi planejado ori-
ginalmente pelos responsáveis pela política econômica do país. Isso ocorreu devido às
26
limitações financeiras, ao atraso técnico do setor privado doméstico, à relutância do capi-
tal estrangeiro em penetrar em certos campos de atividade e à resistência dos governos 
em permitir a entrada do capital estrangeiro em alguns setores.
Este livro examinará a evolução histórica da economia brasileira, concentrando-se 
principalmente no seu processo de industrialização no século XX, nos métodos usados 
para atingi-la, no impacto que produziu sobre o ambiente socioeconômico e nos ajustes 
das instituições socioeconômicas às mudanças estruturais ocorridas na economia. Esses 
fatos nos conduzirão ao estudo do tipo de sistema econômico surgido nesse processo, 
isto é, a combinação de capitalismo privado e estatal, em que algumas das caracterís-
ticas são diferentes das de economias mistas da Europa ocidental. Finalmente, plane-
jamos examinar alguns aspectos das políticas econômicas e do sistema econômico 
brasileiro responsáveis pela permanência do subdesenvolvimento em meio ao cres-
cimento econômico.
Cenário físico e demográfico
A extensão territorial do Brasil, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, torna-o 
o quinto maior país do mundo, ultrapassado somente pela Rússia, Canadá, China e 
Estados Unidos, ocupando 47% da América do Sul. A maior parte do território é 
composta de montanhas geologicamente antigas, das quais cerca de 57% se encontram 
sobre um planalto que varia de 200 a 900 metros de altitude; 40% consistem em 
planícies com elevação inferior a 200 metros e 3% ultrapassam 900 metros. Ao norte da 
cidade de Salvador, observa-se um aumento gradual da costa para o interior. Entretan-
to, quem se aproximar do Brasil pelo Atlântico, ao longo das costas do Centro e do Sul, 
terá a impressão de ver um país de montanhas, visto que o planalto montanhoso do 
Centro-Sul do país desce bruscamente para o Atlântico. Esse declive, semelhante a um 
muro, chamado de Grande Escarpa, dificultou o acesso ao interior e foi muitas vezes 
citado como a principal razão para o lento desenvolvimento do planalto da regiãoCentro-Sul, antes do século XX.
Com exceção do Amazonas, a maioria dos principais sistemas fluviais tem suas nas-
centes na região Centro-Sul do país, relativamente próximas ao oceano. No entanto, como 
os rios correm para o interior, não há um núcleo natural de rotas na área mais dinâmica do 
país, motivo pelo qual o transporte fluvial não desempenhou um papel importante no 
desenvolvimento do Brasil. O sistema do rio Paraná é alimentado por afluentes que se des-
locam em direção ao oeste, para o interior, até atingirem o rio principal, que corre em di-
reção ao sul, para a Argentina. O rio São Francisco, cuja nascente fica no sul, segue em 
direção ao norte, paralelo à costa por mais de 1.600 quilômetros antes de direcionar-se 
para o leste. A maioria dos sistemas fluviais desce rapidamente à medida que atravessa a 
Grande Escarpa, impossibilitando a navegação interna para as grandes embarcações. O 
rio São Francisco, por exemplo, é navegável por cerca de 250 quilômetros para o interior, 
até pouco antes da Usina de Paulo Afonso. Somente o rio Amazonas é navegável por uma 
grande distância em direção ao interior, unindo uma região do Brasil esparsamente habi-
tada, subdesenvolvida e inexplorada.
27
O Brasil é, em grande parte, um país tropical e seus climas apresentam poucos 
extremos, mas “eles não são, de modo algum, tão monotonamente uniformes, ou tão 
insuportavelmente quentes e úmidos a ponto de entorpecer o espírito humano. Se 
parece faltar energia aos brasileiros de determinadas regiões, este fato não pode ser 
interpretado como resultado inevitável do clima até que outros elementos, como a 
alimentação e as doenças, tenham sido avaliados”.7
A temperatura média em Santarém, na Amazônia, a poucos graus da linha do 
Equador, é de 25°C; no seco Nordeste, a mais alta temperatura registrada é de 41°G, 
porém, mais ao sul, ao longo da costa, a temperatura máxima é muito mais baixa. A 
média no Rio de Janeiro no mês mais quente é de 26°C. Nas montanhas do interior, 
as temperaturas são mais baixas do que nas mesmas latitudes na costa; somente nos 
estados ao sul de São Paulo ocorrem geadas.
As chuvas são adequadas em quase todo o país. Há insuficiência somente no 
Nordeste, onde há áreas que recebem menos de 244 milímetros por ano, enquanto 
a maior parte do Nordeste recebe entre 500 a 630 milímetros. O principal problema 
da região é a irregularidade das chuvas: as variações entre seu excesso e as secas.8 
Áreas muito úmidas, com mais de 2.000 milímetros de precipitação por ano, existem 
em quatro regiões: nas planícies do interior da Amazônia, na costa de Belém, ao 
norte, em partes dispersas da Grande Escarpa, e numa pequena região no oeste do 
estado do Paraná.
Recursos naturais
O Brasil possui muitos e abundantes tipos diferentes de recursos minerais. Tem 
uma imensa reserva de minério de ferro (em 1990, acreditava-se que as reservas 
potenciais chegavam a cerca de 36 bilhões de toneladas), manganês (em 1992, cal-
culavam-se as reservas em cerca de 136 milhões de toneladas), e outros metais 
industriais. O país também possui quantidades significativas de bauxita, cobre, chum-
bo, zinco, níquel, tungstênio, estanho, urânio, cristais de quartzo, diamantes indus-
triais e pedras preciosas.
Até o final da década de 1960, o conhecimento sobre o total das reservas minerais 
do Brasil ainda era limitado. O uso de técnicas modernas de levantamento topográfico 
e prospecção (o emprego de satélites, por exemplo) ocasionou descobertas novas e 
significativas9. Acreditava-se, por exemplo, que a maioria dos depósitos conhecidos de 
minerais estivesse localizada na cadeia de montanhas que percorre o Brasil central 
(principalmente no estado de Minas Gerais). Em 1967, entretanto, imensas jazidas de 
minério de ferro (estimadas em 18 bilhões de toneladas) foram descobertas na serra de 
Carajás, na Região Amazônica. Também no final da década de 1960, descobriu-se que 
a Amazônia continha grandes jazidas de bauxita. Calculou-se que reservas de estanho 
próximas à fronteira da Bolívia eram maiores do que as desse país e, na década de 1970, 
importantes jazidas de cobre foram encontradas no estado da Bahia.
Houve uma drástica reformulação no consumo das fontes de energia do Brasil, nas 
décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial. Em 1946, 70% do fornecimento de
28
energia do país foram extraídos da lenha e do carvão vegetal. Na década de 1990, 
porém, mais de 66% estavam sendo extraídos do petróleo e de hidrelétricas. In-
felizmente, os recursos de combustível do país não se equipararam aos seus recur-
sos minerais. Até recentemente, as únicas jazidas de carvão conhecidas estavam 
localizadas no estado de Santa Catarina, no sul do país, carvão este de má cjuali- 
dade, que contém grandes quantidades de resíduo mineral e enxofre, e, conse-
qüentem ente, não pode ser usado em sua totalidade pela indústria siderúrgica para 
a produção de carvão coqueificável. Cerca de 65% das necessidades de carvão 
metalúrgico são atendidas pelas importações. Na década de 1970, foram descobertas 
algumas novas jazidas de carvão nas profundezas da Região Amazônica, mas ainda 
não foram totalmente exploradas.
As reservas de petróleo conhecidas no Brasil são inadequadas às suas necessidades. 
Até o princípio da década de 1970, a maioria das reservas conhecidas estava localizada 
nos estados da Bahia c Sergipe, mas a produção doméstica dessas fontes atendia so-
mente a 20% das necessidades do país em meados da década de 1970. Explorações 
realizadas ao longo da costa pela Petrobras, empresa pertencente ao governo, resulta-
ram em novas descobertas próximas à cidade de Campos, no Rio de Janeiro, em 
Sergipe e perto da foz do Amazonas. As dimensões dessas descobertas eram conside-
ráveis. Em 1984, as reservas de petróleo do Brasil eram de 2 bilhões de barris, 600 
milhões dos quais se localizavam em terra firme e o restante na plataforma continental. 
Em 1998, a produção doméstica de petróleo totalizou 56,6 milhões de metros cúbicos, 
o que representava 69% do consumo interno.
O potencial hidrelétrico do Brasil é um dos maiores do mundo, ca lcu lad o em 150 mil 
megawatts. Até o período posterior à Segunda Guerra Mundial, os melhores locais foram 
considerados afastados demais dos principais centros populacionais em desenvolvimen-
to, mas desde a década de 1950 rapidamente o progresso de tais pontos ocorreu com a 
construção das usinas de Paulo Afonso e Boa Esperança, no Nordeste, Furnas e Ilha 
Solteira, no Sudeste, e Três Marias, em Minas Gerais. Em meados da década de 1970, 
deu-se início ao maior projeto hidrelétrico do mundo, Itaipu, na fronteira paraguaia e, 
em 1983, foram ligadas suas primeiras turbinas. Até a década de 1990, apenas pouco 
mais de 15% do potencial hidrelétrico do país estava sendo utilizado.
A população
Em 2000, a população do Brasil era calculada em 170 milhões de pessoas, o que 
o torna a sexta maior nação em número de habitantes. Considerando-se o enorme 
território do país, sua densidade populacional é relativamente baixa, havendo 19,6 
pessoas por quilômetro quadrado, em 1998 (comparada com 13 na Argentina, 49 no 
México e 36 na Colômbia). Pode-se verificar uma grande oscilação na densidade 
populacional, variando de 2,6 pessoas por quilômetro quadrado na Região Amazônica 
a 27,5 habitantes no Nordeste e 127 no estado de São Paulo. Em 1991, 6,8% da 
população vivia na Região Amazônica, 28,9% no Nordeste, 42,7% no Sudeste, 15,1% 
no Sul e 6,5% no Centro-Oeste.
29
Uma característica notável sobre a distribuição regional da população no Brasil é 
o grau de concentração dentro de umas poucas centenas de quilômetros da costa 
marítima. A penetração populacional no interior apenas se tornou significativa no 
século XX, principalmente no sul. A construção de Brasília (que se tornou a capital 
federal em 1960) no interior, as estradas que se dirigiam a essa cidade e o elevado 
índice da atividade de construção de estradas nas décadas de 1960 e 1970 aumentaram 
substancialmente a migraçãoda população para o interior do país.10
A alta taxa de crescimento populacional (3% ao ano na década de 1950, 2,9% na 
década de 1960, 2,5% na década de 1970 e 2,0% na década de 1980) deve-se à 
continuada taxa elevada de nascimentos, combinada com a queda da taxa de morta-
lidade, o que fez com que uma grande parcela da população - 39,5% em 1995 (com-
parados com 21,5% nos Estados Unidos e 29,4% na Argentina) - se inserisse no grupo 
etário dependente de 14 anos ou menos. A taxa de alfabetizados de 15 anos ou mais 
cresceu de 49% em 1950 para 61% em 1970 e 84% em 1995. Esse fato está intima-
mente ligado ao recente elevado aumento do número de matrícula nas escolas. Até 
1994, as inscrições em escolas do 1- grau do curso fundamental da faixa etária entre 
7 e 13 anos representavam 90%; nos cursos médios atingiram 47% da faixa entre 14 
e 19 anos e nos cursos superiores representaram 11% da faixa entre 20 e 24 anos.
A elevada parcela da população presente nas faixas etárias mais jovens é respon-
sável, em parte, pelo reduzido índice de participação na força de trabalho, que era de 
32,9% em 1950, caiu para 31,8% em 1970 e subiu para 65% em 1995.
A composição racial do país é bastante variada. Um especialista na população do 
Brasil declarou que “há poucos lugares no mundo em que a formação racial é mais 
confusa e complexa do que no Brasil. Todas as principais variedades do gênero hu-
mano, todos os grupos étnicos básicos em que os seres humanos estão divididos — 
vermelhos, brancos, negros e amarelos — entraram na composição da população deste 
grande meio-continente”.11 Até o final do século XIX, a população era formada prin-
cipalmente por descendentes de portugueses, africanos e ameríndios. Durante o pe-
ríodo de colonização, e durante o século XIX, ocorreu uma quantidade considerável 
de miscigenação que ocasionou a descendência variada de grande parte da população 
atual. No final do século XIX e na primeira década do século XX, houve intensa 
imigração da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Polônia e do Oriente Médio. Esses 
imigrantes estabeleceram-se principalmente no sudoeste e sudeste do Brasil. Na se-
gunda década no século XX chegou ao país um grande número de imigrantes japo-
neses que se estabeleceu principalmente nos estados de São Paulo e Paraná. Calcula- 
se que hoje há mais de 800 mil brasileiros descendentes de japoneses.
A diversidade na formação da população não evitou que o Brasil atingisse um 
elevado grau de unidade cultural. Com a exceção de um reduzido número de índios 
instalados nas profundezas da Região Amazônica, todos os brasileiros falam português, 
com pequenas variações regionais de sotaque (possivelmente menos do que nos Es-
tados Unidos). De acordo com um dos principais intérpretes da sociedade brasileira, 
“existe um sentimento forte e profundo entre os brasileiros de todas as procedências 
raciais e origens nacionais que os faz formar um ‘povo’ e uma nação. Eles partilham 
os mesmos ideais, gostos e problemas, um passado comum e o mesmo senso de 
humor”.12
30
Notas
1. A fonte dos dados populacionais é a FIBGE, Censo Demográfico. Rio de Janeiro, FIBGE, 1940, 
1950, 1960, 1970, 1980. FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1996. Esses dados exageram o grau de 
urbanização, visto que a definição brasileira da palavra “urbano” , utilizada em recenseam entos, se 
aplica a toda a população que vive em distritos administrativos, que pode consistir em pequenas 
cidades com população de 500 a 1.000 pessoas ou grandes cidades. Como as atividades do primeiro 
grupo são, com freqüência, mais rurais do que urbanas, o grau de urbanização do Brasil em 1990 
provavelmente é menor do que indicam os dados oficiais. Se, por exemplo, fôssemos definir popula-
ção urbana como aquela que vive nas cidades de 10 mil ou mais habitantes, a parcela da população 
que é urbana cairia 51%.
2. FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1996.
3. A queda entre 1985 c 1995 ocorreu, em parte, devido ao aumento de produtividade de algumas 
safras e, em parte, por causa da maior importação de alguns gêneros alimentícios.
4. FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1996.
5. Isso mudou rapidamente no final da década de 1990 com o uso de telefones celulares e os planos de 
investimento dos sistemas de telefonia fixa, recentemente privatizados.
6. W ILLUMSEN, Maria J.F., “Regional Disparities in Brasil”. In: The Brazilian economy: structure and 
performance in recent decades, editado por Maria Willumsen e Eduardo Giannetti da Fonseca, Miami, North- 
South Center Press, 1996, p. 243; Brasil: Reforma ou Caos, editado por I lélio Jaguaribe, Rio de Janeiro, Paz c 
Terra, 1989, p. 24.
7. JAMES, Preston E. Latin America. Nova York, Odyssey Press, 1969, p. 389. Informações mais deta-
lhadas sobre a geografia brasileira podem ser obtidas através da FIBGE, Sinopse estatística do Brasil, 1975. 
DYE R, Donald R. “ Brasil’s half-continent” . In: Modem Brazil: New patterns and development, John Saunders, 
Gainesveille, University of Florida Press, 1979, p. 29-50.
8. Ao comentar as secas do Nordeste, Dyer afirma que “a estação seca é regular, mas a seca não o é. 
Entretanto, as secas são por demais freqüentes para serem inesperadas, com períodos que variam dc um a 
quatro anos de duração”. DYER, op. cit., p. 41-2.
9. “Pesquisas de recursos naturais no Brasil”. In: Conjuntura Econômica, jan.1974, p. 66-70. Ver também 
FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1981.
10. SM ITII, T . Lynn. “The people of Brazil and their characteristics” . In: Modem Brazil', op. cit., p. 52-3.
11. Idem, ibid., p. 53-4.
12. WAGLEY, Charles. An Introduction to Brazil, ed. rev. Nova York, Columbia University Press, 1971, p. 5.
2
Perspectiva histórica
A economia colonial
N o PRINCÍPIO DO PERÍODO colonial, durante o século XVI, o 
Brasil não era considerado algo valioso por Portugal. Embora o território adquirido pela 
Coroa portuguesa fosse imenso, não trouxe a inesperada sorte econômica obtida pelos 
espanhóis em suas conquistas do Peru e México, isto é, metais preciosos e uma popu-
lação ampla, estável e bem organizada que poderia ser empregada na mineração e nos 
setores agrícolas de apoio.1 O território brasileiro era esparsamente habitado por índios 
nômades que diminuíram em número devido a doenças contraídas dos primeiros colo-
nizadores portugueses e que não puderam ser facilmente submetidos à disciplina e 
treinados para o trabalho de plantio.2
O nome Brasil originou-se de seu primeiro produto de exportação - o pau-brasil. 
A casca dessa árvore era utilizada como matéria corante na Europa, e sua colheita era 
uma atividade rudimentar que não criou muitos povoados permanentes e setores 
complementares.3
O primeiro produto de exportação importante do Brasil foi o açúcar. Seu cultivo 
foi introduzido aproximadamente em 1520 e trazido ao continente brasileiro por 
usineiros imigrantes e comerciantes de açúcar vindos de ilhas do Atlântico dominadas 
por Portugal. A rápida expansão do cultivo e da exportação do açúcar logo se trans-
formou na primeira de uma série de grandes ciclos de exportação primária, que iriam 
dominar o crescimento econômico do Brasil até o século XX.4
Organização socioeconômica inicial
A escassez de mão-de-obra e os baixos benefícios econômicos que o Brasil parecia 
oferecer a Portugal no início conduziram a uma organização político-econômica des-
32
centralizada. O comércio estava principalmente em mãos de particulares e, a fundação 
dos primeiros povoados foi deixada a cargo de donatários, indivíduos que recebiam 
concessões para povoar e desenvolver determinadas áreas (capitanias) às próprias 
expensas. Eles vendiam terras a colonos e envolviam-se na promoção de vários tipos 
de empresas comerciais. Assim, o princípio da colonização no Brasil “foi essencialmente 
um empreendimento comercial, combinado com aspectos de subgoverno privado”.' 
Embora em meados do século XVI fosse indicado um governador-geral, instalado na 
cidade de Salvador para dirigir a colônia, o governo local foi mais forteaté a última 
metade do século XVIII.
Assim, “somente as principais linhas gerais da política a ser seguida eram formu-
ladas na Europa e a implementação e interpretação real eram deixadas a cargo dos 
governadores e conselhos municipais”.6 Estes últimos, por sua vez, eram dominados 
pelos donos de grandes propriedades rurais (fazendeiros) e de engenhos de açúcar 
(senhores de engenho), e o centro da vida social e econômica concentrava-se nas 
grandes plantações costeiras de açúcar.7
O ciclo da cana-de-açúcar
O primeiro grande produto de exportação do Brasil - o açúcar - era produzido 
principalmente próximo à úmida zona litorânea do Nordeste brasileiro, conhecida como 
Zona da Mata. Além das excelentes condições de cultivo, a localização da região tam-
bém favorecia o embarque do produto para a Europa e o recebimento de mão-de-obra 
escrava da África. Com a escassez de trabalhadores índios locais, os portugueses lan-
çaram mão da importação de escravos africanos (principalmente de Angola) para tra-
balhar nas fazendas de açúcar.
A rápida expansão do cultivo do açúcar transformou a Zona da Mata em uma área 
de monocultura. O volume das exportações de açúcar aumentou com regularidade 
durante um século. O aumento da produção baseou-se na extensão de terra cultivada 
(já que havia uma grande quantidade disponível) e no crescimento da população 
escrava mais do que em mudanças no processo de produção e aumento de produ-
tividade. A maior parte da cana-de-açúcar era cultivada em grandes fazendas (o nú-
mero de escravos que trabalhava em uma propriedade de tamanho médio, na época, 
era de 80 a 100).8
Na época, o único ponto doméstico de integração econômica era o interior do 
Nordeste (o agreste e o sertão), cuja produção agrícola excedente alimentava os ha-
bitantes das zonas do açúcar. A população do interior era composta de imigrantes 
portugueses e seus escravos, escravos fugitivos e caboclos mestiços. Eles praticavam o 
cultivo e administravam as fazendas de modo bastante primitivo, mas eram capazes de 
produzir excedentes suficientes para dar apoio ao crescimento do setor de exportação.
O setor de exportação de açúcar foi lucrativo para vários agentes econômicos: os 
fazendeiros e aqueles envolvidos na comercialização, financiamento, expedição e co-
mércio de escravos. Os comerciantes também obtiveram lucros significativos com as 
importações, visto que a colônia era quase que totalm ente dependente de produtos 
estrangeiros manufaturados e mesmo de alguns alimentos importados.
33
Nessa análise do passado colonial brasileiro, Celso Furtado chama atenção para 
uma diferença fundamental entre a estrutura produtiva do Brasil e as colônias inglesas 
na América do Norte. Grande parte destas consistia em pequenas propriedades rurais, 
enquanto a agricultura de exportação do Brasil era composta de grandes propriedades 
dedicadas à monocultura. Como conseqüência, a renda era distribuída de forma muito 
mais uniforme na América do Norte do que no Brasil. Esse fato explica o aparecimen-
to no início de grande mercado interno na América do Norte que criou a base para 
o desenvolvimento inicial de um setor comercial e industrial independente. A limi-
tação do mercado brasileiro devido à concentração da propriedade e renda serviu para 
manter estagnada a estrutura econômica colonial no Brasil.9
Embora seja atraente, esse argumento pode não ser totalmente pertinente ao período 
colonial. As economias de escala eram menos importantes para a indústria e o comércio 
naquela época do que seriam nos séculos XIX e XX. Também se poderia argumentar 
que, como a economia possuía uma vantagem comparativa natural no açúcar e algodão, o 
desenvolvimento das indústrias não teria sido uma forma eficiente de alocar recursos.
Furtado também apresenta uma análise muito convincente a respeito das reper-
cussões significativas sobre a economia causadas pelo fracasso da economia inicial de 
exportação de açúcar. Ele sugere que a maioria do excedente ia para as classes comer-
ciais, que investiam seus lucros no estrangeiro, ou para os fazendeiros, que gastavam 
grandes somas em importações, tanto em bens de consumo como de produção (que 
incluíam escravos).10 Ele destaca o fato de como é fraca a relação entre investimento 
e renda em uma economia escravagista voltada para as exportações, visto que a maior 
parte dos gastos é realizada na importação de mão-de-obra e capital, enquanto a 
manutenção dos escravos é paga em espécie, na maioria das vezes. O investimento 
representado pelo emprego de escravos para trabalhar na infra-estrutura local também 
não representou entrada de dinheiro.
Como o setor monetário da economia era, dessa forma, muito restrito, a estagnação 
da exportação exerceu poucos efeitos sobre a economia como um todo, e foi sentida 
apenas por uma queda na importação de mercadorias e escravos e um declínio geral na 
importância relativa do setor monetário da economia." A economia baseada na pecuá-
ria do interior foi a única a sofrer repercussões internas por causa da economia do 
açúcar. As quedas nas exportações iriam causar uma atrofia nesse setor à medida que 
ele iria transformar-se progressivamente em uma economia de subsistência (isto é, um 
setor auto-suficiente fora do setor monetário da economia). A migração da enfraquecida 
economia açucareira para o interior e a mudança da atividade econômica de criação de 
gado para exportação para a de subsistência resultariam em um processo que Furtado 
chama de “involução econômica” - precisamente o oposto de crescimento e desenvol-
vimento.1- Esse processo iria ocorrer, com freqüência, na história econômica do país e 
mostra, com efeito, como a organização socioeconômica específica do Brasil não per-
mitiu que repentinas altas na exportação exercessem efeitos secundários duradouros 
na sociedade. Para que ocorresse um desenvolvimento orientado pelas exportações, 
seriam necessários muitos pré-requisitos que não existiam no Brasil.
No início do século XVII, o Brasil havia se tornado o principal fornecedor de açúcar 
do mundo e, de acordo com Glade, “havia superado as especiarias asiáticas como os
34
elementos principais do comércio anglo-português e as exportações brasileiras eram 
igualmente conhecidas no continente europeu”.13
A medida que o século XVII foi chegando ao fim, a atividade exportadora começou 
a enfraquecer. A queda nas exportações de açúcar não ocorreu devido à falta de melho-
rias tecnológicas no Brasil, pois o custo do açúcar brasileiro ainda era 30% menor do que 
o das plantações inglesas no Caribe. A causa do declínio foi o desenvolvimento de uma 
crescente quantidade da oferta do produto nas colônias inglesas, holandesas e francesas, 
que tinham acesso preferencial aos respectivos mercados dos países de origem.
As plantações de cana-de-açúcar não desapareceram. O fluxo de caixa declinante 
foi compensado, em parte, pela diminuição dos custos monetários “à medida que a 
criação de escravos nas fazendas oferecia um substituto, ao menos parcial, para sua 
importação”.14 Como descrevemos anteriormente, algumas terras foram redirecionadas 
para a agricultura de subsistência ou para o cultivo de alimentos para a população cos-
teira em expansão. Nas proximidades de Salvador, algumas terras passaram a ser utili-
zadas para o plantio de fumo e, mais tarde, em meados do século XVIII, de cacau. No 
Nordeste sempre se plantou certa quantidade de algodão que iria provocar breves ci-
clos de exportação no final do século XVIII (à época da Guerra da Independência dos 
Estados Unidos) e no século XIX (por exemplo, durante a Guerra Civil Americana).15
O legado do ciclo de exportação do açúcar foi negativo. A organização da agricultura 
no interior do Nordeste permaneceu primitiva e nas plantações costeiras as técnicas 
agrícolas continuaram a ser arcaicas. O sistema escravagista manteve os recursos hu-
manos subdesenvolvidos,16 e a distribuição de bens e de renda era extremamente con-
centrada. Muitos dos lucros não previstos proporcionadospelo ciclo da cana-de-açúcar 
passaram às mãos dos portugueses e intermediários estrangeiros, enquanto grande par-
te dos lucros que cabia aos fazendeiros e senhores de engenho foi gasta com bens de 
consumo importados, e não em melhorias técnicas e de infra-estrutura.
O ciclo do ouro e o princípio do controle mercantilista
Uma nova arrancada no crescimento foi iniciada em 1690 com a descoberta de moe-
das na região onde hoje é o estado de Minas Gerais. Apesar da precariedade do sistema 
de comunicação da época, a notícia do descobrimento espalhou-se rapidamente e logo a 
região antes desabitada estava repleta de migrantes que buscavam o precioso metal. A 
produção de ouro cresceu continuamente entre 1690 e 1760 (havia também alguma pro-
dução de diamantes, embora em menor escala). Afirmou-se que o Brasil foi responsável 
por metade da produção mundial de ouro no século XVIII.17
O ciclo de exportação do ouro mudou o centro de atividade econômica do Brasil 
para o Centro-Sul e migrantes chegavam de todas as partes do país. Muitos nordes-
tinos, inclusive plantadores que traziam consigo seus escravos, deixavam seu território 
em decadência em busca das regiões do ouro, além de fazendeiros e rancheiros pro-
venientes do rústico Sul e novos imigrantes de Portugal. Surgiram muitas novas cida-
des nas regiões de mineração que faziam as vezes de centros de serviços para as 
atividades de extração e possuíam estruturas ocupacionais mais complexas do que 
aquelas que haviam existido em outras cidades brasileiras. Pela primeira vez, desen-
35
volveu-se um setor artesanal e surgiram grupos bancários privados, suprindo as neces-
sidades dos setores de mineração e comercial.
Uma grande parte da mineração era do tipo de aluvião, que podia ser realizada em 
pequena escala. Gomo as exigências de capital e mão-de-obra por unidade de produ-
ção eram, por conseguinte, pequenas, foi possível haver uma crescente participação 
nos empreendimentos de mineração e, conseqüentemente, a concentração de renda 
era menor do que no Nordeste.18
O setor de mineração de Minas Gerais surtiu consideráveis efeitos de encadeamen- 
to. A demanda por alimento nas cidades e centros de mineração representou um estí-
mulo à produção agrícola não somente nesse Estado, mas também no Estado de São 
Paulo, nas regiões localizadas mais ao sul e mesmo no Nordeste. Como o transporte de 
ouro para os portos era realizado por animais de carga, a procura por mulas causou 
impacto em várias regiões fornecedoras no Sul. A exportação de ouro e diamantes tam-
bém financiou um crescente volume de importações de bens de consumo e suprimen-
tos de mineração.
O incremento da mineração fez com que o Rio de Janeiro despontasse como um 
porto importante, que se tornou o principal centro exportador de minérios e pelo qual 
entravam os artigos importados manufaturados. Não demorou muito para que as mais 
importantes casas comerciais, instituições financeiras e vários outros serviços lá se ins-
talassem. Em 1763, o centro administrativo dessa colônia portuguesa foi transferido de 
Salvador para o Rio de Janeiro.
Com a significativa valorização de sua colônia brasileira, o governo português au-
mentou drasticamente seus controles administrativos. As regiões de mineração eram cui-
dadosamente inspecionadas a fim de minimizar a evasão do pagamento à Coroa de um 
quinto do ouro extraído. Estavam proibidas as navegações particulares; todos os navios 
tinham de fazer parte de comboios oficialmente supervisionados; foram criados mono-
pólios especiais de comércio; a manufatura local era rigidamente controlada e os bens 
que poderiam ser fornecidos pela metrópole não podiam ser produzidos no Brasil.19
A redução da integração interna com um novo setor manufatureiro ao mínimo 
manteve os fatores de produção da colônia em um estado muito primitivo, o que 
também foi resultado, em parte, do descaso em relação à instrução que era pratica-
mente inexistente antes de 1776 (exceto pelos esparsos esforços empreendidos pelos 
jesuítas antes de sua expulsão em 1759). Mesmo antes desse ano, as poucas escolas 
que funcionavam exerciam pouco impacto sobre o nível cultural da população.20 A 
infra-estrutura de transporte era mantida intencionalmente primitiva a fim de se con-
trolar o contrabando, o que manteve limitadas as dimensões do mercado interno 
durante muito tempo.21
O ciclo do ouro terminou no final do século XVIII, quando a maioria das minas eco-
nomicamente viáveis se havia esgotado. Parte da população mineira, então, rumou em 
direção ao Planalto Central do Brasil, onde encontrou trabalho em fazendas de gado, e 
outros foram para o Sul, engajando-se em atividades agrícolas. Muitos permaneceram 
em Minas Gerais, também se dedicando a atividades agrícolas, muitas de natureza de 
subsistência.
Na segunda metade do século XVIII também houve o renascimento da agricultura de 
exportação no Nordeste, especialmente de algodão. Mais notável foi o aumento do cul-
36
tivo e exportação de algodão no Maranhão, em Pernambuco e na Bahia.22 As exportações 
de açúcar, que nunca cessaram por completo, restabeleceram-se nesse século, prove-
nientes não somente da região Nordeste, mas também de São Paulo.
Glade resume bem a situação do Brasil no final do século XVIII. Ele declara que 
“a cortina... caiu sobre dois estados brasileiros nitidamente separados. No Norte, o 
complexo costeiro agreste-sertão estava aniquilado, com uma sociedade quase imobi-
lizada por sua estrutura institucional interna depois que o antigo dinamismo havia 
deixado os vínculos comerciais externos... em direção ao sul, o primeiro ato, baseado 
no ouro e nos diamantes, também chegara ao fim. Mas lá permaneceu uma sociedade 
mais versátil e aberta, pairando, por assim dizer, numa espécie de intervalo de desen-
volvimento. O palco já estava sendo preparado para a segunda apresentação - um 
trabalho mais demorado com o café como centro das atenções” .23
Os últimos anos da colônia
Quando Napoleão ocupou Portugal, em 1807, a família real, sob proteção britânica, 
veio para o Brasil. Em 1808, instalou a capital do império português no Rio de Janeiro, e 
a criação de empregos no governo e os efeitos da folha de pagamentos do governo sobre 
os setores de serviços e manufatureiro estimularam o crescimento da cidade. A Coroa 
também assumiu a construção destinada a melhorar a infra-estrutura da nova sede do 
novo governo.
A abolição dos controles mercantilistas ajudou a intensificar o comércio. Os merca-
dores portugueses e estrangeiros e os estabelecimentos financeiros intensificaram suas 
atividades, auxiliados pela fundação do primeiro Banco do Brasil, em 1808, e que operou 
como banco emissor e banco comercial até 1829.
Durante esse período, uma prensa tipográfica foi trazida para o país pela primeira vez. 
A Coroa também fundou várias instituições educacionais e trouxe inúmeros cientistas e 
técnicos europeus para o Brasil como consultores, além de procurar incentivar vários ti-
pos de estabelecimentos industriais que não criaram raízes devido à torrente de bens 
importados, principalmente da Grã-Bretanha. Os ingleses haviam recebido acesso espe-
cial ao mercado brasileiro em troca da garantia da defesa naval do Brasil.
O rei retornou a Portugal em 1821, deixando seu filho como regente. Como, de-
pois de algum tempo, se tornou óbvio que Portugal iria devolver ao Brasil o status de 
colônia subordinada, o crescente descontentamento em todo o país levou o regente 
a declarar a independência em 1822. Dessa data até 1889, o Brasil foi um país inde-
pendente, governado por um sistema monárquico cujo chefe era D. Pedro I, um 
imperador, que, após um período de regência de nove anos, de 1831 a 1840, foi 
seguido por seu filho, D. Pedro II.
O século após a Independência
Na época da Independência, na verdade no ano após sua declaração, em 1822, a po-
pulação brasileira era estimada em 3,9 milhões de habitantes, dos quais 1,2 milhão eram
37
escravos.24 Considerando-se a imensidão territorial do paísem relação ao número de ha-
bitantes e as dificuldades de comunicação que ainda existiram durante quase todo o 
século XIX, é um fenômeno histórico notável que o país não tenha sido dividido em 
países independentes menores, como ocorreu com o império hispano-americano.
Durante o século XIX, o Brasil adaptou-se facilmente à ordem econômica controla-
da pela Grã-Bretanha, que se tornou o núcleo do centro industrial do mundo, trocando 
seus produtos manufaturados por alimentos e matérias-primas do exterior, ou seja, de 
países cujas economias eram completamente dependentes da exportação deles. O Bra-
sil tornou-se um típico exemplo de tais países, pois sua economia dependia de um 
importante produto primário de exportação (café) e de alguns secundários (açúcar, al-
godão, cacau). Durante quase todo esse período, sua economia estava aberta ao capital 
e aos produtos manufaturados estrangeiros (principalmente ingleses), que fluíam para 
dentro do país e destinavam-se a formar uma infra-estrutura financeira, comercial e de 
transportes que poderia ligar o país mais eficientemente à ordem econômica mundial 
do século XIX.
O ciclo do café
Embora o café tenha sido introduzido no Brasil no início do século XVIII, ele foi 
cultivado primeiramente como uma especialidade e era consumido principalmente nas 
residências e nos cafés das mais importantes cidades européias. Com a melhoria dos 
padrões de vida na Europa e na América do Norte, resultado do progresso ocasionado 
pela revolução industrial, o consumo de café intensificou-se rapidamente. Na quarta 
década do século XIX, o café era o principal item de exportação do Brasil.25
O rápido crescimento das exportações de café no século XIX é indicado pelos se-
guintes dados de exportações por décadas (1.000 sacas, de 60 kg cada):26
1821-30 1831-40 1841-50 1851-60 1861-70 1871-80 1881-90
3.178 10.430 18.367 27.339 29.103 32.509 51.631
Na década de 1820, o café foi responsável por 19% do total de exportações; já em 
1891, essa participação havia aumentado para cerca de 63%.
Até 1880, a maioria do café brasileiro era plantada ao norte e oeste do Rio de Janeiro 
(especialmente no Vale do Paraíba) e também no nordeste (na região de Cantagalo). As 
técnicas de produção eram rudimentares, baseadas no trabalho de escravos negros e 
mulatos, que geralmente viviam à parte da economia monetária. A fazenda era adminis-
trada pelo proprietário, o fazendeiro, que reinava “como um patriarca poderoso sobre as 
questões sociais e políticas na área adjacente, além de controlar as atividades econômi-
cas da fazenda em si”.27 Nos dias que precederam a construção das estradas de ferro, o 
café era despachado para o porto do Rio de Janeiro por uma tropa de mulas. Entre a 
fazenda e as casas de exportação, o café ficava aos cuidados de comissários.28
À medida que as terras férteis do Vale do Paraíba se foram esgotando, por volta da 
década de 1880, a produção de café mudou para o sul, para São Paulo e depois para 
o oeste desse Estado. Na década de I860, capital e engenheiros ingleses construíram 
uma estrada de ferro sobre a escarpa litorânea que separava o planalto de São Paulo 
do porto de Santos, e nas décadas seguintes foram construídas ferrovias nas profundezas 
das zonas cafeeiras de São Paulo. A produção de café desse Estado cresceu rapida-
mente nas décadas de 1880 e 1890. Nessa época, a quantidade do produto que pas-
sava por Santos era igual à do Rio de Janeiro e, em 1894, esse porto havia se tornado 
o mais importante centro exportador de café do mundo.29
A expansão paulista em direção ao oeste ocasionou o desenvolvimento de imensas 
fazendas de café, visto que somente um pequeno número de pessoas possuía poder 
econômico e político necessários para estabelecer e defender propriedades e iniciar a 
produção em novas terras. Elas empregavam um crescente número de trabalhadores 
livres e, mesmo antes da abolição da escravatura, em 1888, fomentaram a imigração 
européia. Depois da abolição, houve uma grande afluência de mão-de-obra imigrante, 
principalmente do sul e do leste da Europa (especialmente da Itália).30
Não pode haver dúvidas de que as exportações de café foram o instrumento de 
crescimento durante quase todo o século XIX. Além disso, na última parte desse 
século, a economia cafeeira transferiu-se para São Paulo, de modo que o centro eco-
nômico mudou gradualmente para essa região, onde permanece até os dias de hoje. 
Os efeitos secundários da economia cafeeira paulista - emprego de mão-de-obra 
imigrante livre, investimento estrangeiro na infra-estrutura, acúmulo de capital de 
produtores de café e, como veremos num capítulo posterior, o conseqüente desenvol-
vimento da indústria — aprofundaram o dualismo regional entre o Centro-Sul e o 
restante do Brasil (levando-se em conta principalmente o Nordeste).
Alguns estudiosos da história econômica do Brasil, especialmente Celso Furtado, 
identificaram o atraso do país em relação à Europa e aos Estados Unidos como resul-
tado da posição privilegiada ocupada pela Inglaterra como fornecedora de bens ma-
nufaturados e da falta de uma classe comercial nativa importante. Dessa forma, o 
poder político estava nas mãos das classes proprietárias de terras cujos interesses eram 
compatíveis com a divisão do trabalho internacional no século XIX. Furtado dá ênfase 
ao seu ponto de vista comparando as situações que se sucederam à independência 
brasileira e americana. A influência dos pequenos produtores na agricultura, as classes 
comerciais e a guerra da independência contra o fornecedor de bens manufaturados 
são encarados por Furtado como importantes fatores institucionais que explicam o 
progresso havido no século XIX nos Estados Unidos em contraste com a estagnação 
socioeconômica ocorrida no Brasil.31
Nesse debate sobre a ascensão da economia cafeeira, Furtado é muito sensível a 
fenômenos não-econômicos. Ele destaca as diferenças existentes entre os anterior-
mente dominantes proprietários de fazendas de cana-de-açúcar e os emergentes pro-
prietários de fazendas de café. No apogeu do açúcar, o comércio era monopólio dos 
portugueses e, conseqüentemente, os proprietários de fazendas de cana-de-açúcar, 
separados do comércio, nunca se transformaram em empreendedores progressistas. Os 
produtores de café, entretanto, estavam intimamente ligados ao objetivo comercial de 
seu setor, além de estarem muito mais próximos da capital do país do que os fazen-
39
deiros de cana-de-açúcar. Desse modo, eles estavam muito mais conscientes da fun-
ção potencial a ser desempenhada pelo Estado na influência sobre seus interesses 
econômicos do que outras classes. Essa visão é de importância fundamental para a 
compreensão do apoio do Estado obtido pelo setor cafeeiro no século XX.32
Outras exportações
Embora o café tivesse dominado durante a maior parte do século XIX, outros 
produtos de exportação primários continuaram presentes na lista de exportações do 
país. A produção de açúcar expandiu-se principalmente por causa de um mercado 
doméstico em crescimento, visto que o valor do aumento das exportações anuais era 
inferior a 1%, devido à concorrência do açúcar de beterraba em mercados europeus 
protegidos, à produção de açúcar nos Estados Unidos e à concorrência do açúcar 
cubano, de custo mais reduzido.33
As exportações de algodão não apresentaram resultados muito melhores que as do 
açúcar, com um aumento de apenas 43% no período entre 1850-1900. Os elevados 
custos de transporte do interior para os portos parecem ter sido uma das principais 
causas para o lento crescimento dessas exportações.34 As exportações de fumo da 
Bahia iniciaram-se nas últimas décadas do século XIX e nunca se tornaram significa-
tivas em razão das péssimas práticas de produção empregadas, que tornaram o produto 
não-competitivo no mercado internacional. No final desse século, começaram as ex-
portações de cacau produzido no sul da Bahia e, depois da introdução de uma varie-
dade de alto rendimento, vinda do Ceilão, em 1907, as plantaçõesexpandiram-se 
rapidamente e o Brasil tornou-se um dos principais exportadores do produto.
Um espetacular incremento de exportações teve início na Região Amazônica nas 
últimas décadas do século XIX. Como nessa época a região era a principal fonte 
produtora de borracha, a rápida demanda progressiva pelo produto e os preços em 
ascensão ocasionaram uma acelerada penetração e povoamento da área por grupos 
comerciais internos e estrangeiros. Grande parte da mão-de-obra para colher a seiva 
das esparsas seringueiras selvagens vinha do Nordeste do Brasil, principalmente do 
Ceará. A desastrosa seca da década de 1870 causou a disponibilidade de um grande 
pool de trabalhadores prontos para migrar para o Amazonas. As exportações de borra-
cha passaram de uma média anual de 6 mil toneladas na década de 1870 para 21 mil 
toneladas na década de 1890 e para 35 mil toneladas na primeira década do século 
XX. Nesse período, o Brasil fornecia 90% da borracha do mundo e, em 1910, o 
produto era responsável por 40% das exportações do país.35
Em 1870, sementes de seringueiras (hevea) foram contrabandeadas para fora do 
país com fins de experimentação nos jardins botânicos de Kew, em Londres. Em 
1895, formaram-se fazendas na Ásia e, em 1899, aparecia a primeira borracha asiática 
no mercado mundial. O aumento da oferta de borracha na segunda década do século 
XX fez com que os preços caíssem drasticamente e, em 1921, atingiram menos de 
um sexto em relação aos de 1910. O Brasil não pôde competir com o produto 
asiático, muito mais barato, e gradualmente perdeu toda sua participação no merca-
do mundial.
40
Depois de sua queda, os lucros líquidos obtidos da expansão da borracha na economia 
brasileira mal eram perceptíveis. A renda gerada era despendida, em sua maior parte, em 
importações e num consumo irrefletidamente conspícuo (como exemplificado pelo fa-
moso teatro construído na cidade de Manaus).
Políticas adotadas no século XIX
Uma década e meia antes da proclamação da Independência, a Corte portuguesa, 
“exilada”, envidou esforços para diversificar a vida socioeconômica-cultural do Brasil, 
especialmente no Rio de Janeiro e vizinhanças, o que ficou patente com a fundação 
do primeiro banco do Brasil, em 1808, o primeiro banco moderno da América Latina; 
a fundação da bolsa de valores no Rio; a importação da primeira prensa tipográfica; a 
contratação de técnicos e a assistência oferecida a vários tipos de empreendimentos 
industriais (como o desenvolvimento da indústria metalúrgica em Minas Gerais e São 
Paulo).36 Como veremos no próximo capítulo, muitos dos primeiros esforços de indus-
trialização fracassaram depois da Independência devido à política de portas abertas às 
importações industriais. Embora houvesse tarifas de importação durante todo o pe-
ríodo, elas, juntamente com as tarifas de exportação, eram a principal fonte de renda 
do governo e raramente tinham efeitos protecionistas.
Uma das principais medidas de desenvolvimento adotadas pelo governo na segun-
da metade do século XIX foi o incentivo à construção de ferrovias. Os principais 
instrumentos da política consistiam em subsídios e taxas de retorno garantidas.37 In-
felizmente, a rede de ferrovias desenvolvida mostrou ser deficiente de várias formas; 
linhas diferentes possuíam diferentes bitolas, já que haviam sido construídas e eram 
operadas por várias firmas independentes. Elas ligavam as fazendas ao porto, onde 
muitas tendiam a serpentear em vez de fazer a ligação do interior para o porto de 
maneira mais eficiente. O sistema de transporte que daí resultou não transformou o 
país em um mercado mais unificado. A extensão das ferrovias brasileiras cresceu de 
14 quilômetros, em 1854, para 474 em 1864; 3.302 em 1884; 16.306 em 1904, e 33.106 
em 1934.™
A maioria das ferrovias foi construída por empresas inglesas. Em 1870, quatro 
companhias britânicas eram proprietárias de 72% da extensão das ferrovias brasileiras. 
Depois da suspensão das garantias das taxas de retorno, em 1901, quase toda a cons-
trução de linhas adicionais ficou nas mãos do governo, que também assumiu gradual-
mente um crescente número de linhas privadas estrangeiras.39
Durante todo o século XIX, o governo central estava constantemente ocupado em 
fomentar a imigração e a colonização. Antes da Independência, a Coroa portuguesa 
atraiu um grupo de colonizadores suíços com o pagamento de suas passagens e pro-
porcionando-lhes meios para iniciar um povoado.40 A existência da escravatura dificul-
tou a difusão de tais projetos, embora alguns outros tivessem sido levados a cabo no 
sul do Brasil nas décadas de 1820 e 1830 com imigrantes alemães. A imigração em 
larga escala no sul somente começou com o fim da escravidão nessa região. Depois da 
abolição, em 1888, e da proclamação da República, em 1889, a imigração começou a 
ser realizada em grande escala.41
41
A imigração deveria exercer um efeito positivo no desenvolvimento econômico do 
Brasil, especialmente no Sul, visto que oferecia ao país um grande número de pessoas 
economicamente ambiciosas. Além disso, uo ato público de subsidiar a imigração foi, 
a curto prazo, um substituto razoavelmente eficiente para o investimento em educa-
ção como meio de melhorar a qualidade dos recursos humanos na economia”.42
No final do século, o governo ocupou-se em proteger os principais setores de 
exportação do país. Os ganhos garantidos pelo governo e as isenções de tarifas de 
importação de equipamentos foram usados como incentivos para a realização de inves-
timentos em usinas de açúcar altamente capitalizadas.43 Na primeira década do século 
XX, à medida que a produção de café superava a demanda mundial, ocasionando uma 
queda nos preços, o estado de São Paulo proibiu o plantio de novas mudas durante 
cinco anos e, em 1907, esse estado (com alguma cooperação de Minas Gerais e do Rio 
de Janeiro) deu início ao primeiro projeto de valorização (embora esse fato seja conhe-
cido como o Convênio de Taubaté, o programa foi realizado quase que tão-somente 
pelo estado de São Paulo). Utilizando, primeiro, a arrecadação conseguida com as 
taxas de exportação e, depois, empréstimos estrangeiros (garantidos pelo governo 
central), São Paulo comprou grandes quantidades de café que eram sonegadas ao 
mercado a fim de estabilizar os preços.44
Notas
1. GLADE, William P. The Latin American economies: A study of their institutional evolution. Nova York, 
American Book - Van Nostrand, 1969, cap. 3 e 4.
2. PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 12aed., São Paulo, Brasiliense, 1970, p. 35-6; 
JOHNSON, H. B. “T he Portuguese settlement of Brazil, 1500-1580”. In: The Cambridge history of Latin America, 
vol. 1, Colonial Latin America. Leslie Bethell, Cambridge, Cambridge University Press, 1984, p. 253-86.
3. PRADO JUNIOR, Caio. op. cit., p. 24-7; BLJESCU, Mircea & TAPAJÓS, Vicente. História do desen-
volvimento econômico do Brasil. Rio de Janeiro, A Casa do Livro, 1969, p. 29-31.
4. Antes de 1548, bastava uma média anual de dois navios para atender ao comércio da colônia brasilei-
ra. Quarenta anos mais tarde, a média anual atingia 45 embarcações e, em 1620, chegava a 200. HUSSEY, 
Ronald Dennis. “Colonial Economic Life” . Itr. Colonial Hispanic America, vol. 4 de Studies in Hispanic american 
affairs, S. Curtis YVilgus, Washington, D.C.: George Washington University Press, 1936, p. 334.
5. GLADE, William P. op. cit., p. 156.
6. Idem, ibid.; ver também BUESCU & TAPAJÓS, op. cit., p. 100-4.
7. O mais renomado trabalho que descreve essa sociedade é o de Gilberto Freyre, The masters and the 
slaves. Nova York, Alfred A. Knopf, 1946. A descrição de Freyre, entretanto, está longe de estar completa. Ele 
ignora, por exemplo, os plantadores livres de cana-de-açúcar que se encontravam em algum ponto entre os 
“senhores” e os “escravos” . Melhor do que qualquer outro fato, o escritor descreve com mais precisão o 
Nordeste do século XIX (principalmente Pernambuco). Veja também SCHWARTZ, Stuart B. “Colonial Brazil, 
1580-1750,Plantation and peripheries”. ln\ The Cambridge history of Latin America, vol. 2, Colonial Latin America. 
Leslie Bethell, Cambridge, Cambridge University Press, 1984, p. 423-500.
8. PRADO JÚNIOR, Caio. op. cit., p. 34-8; BUESCU & TAPAJÓS, op. cit., p. 33-4.
9. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 11a ed., São Paulo, Companhia Editora Nacional, 
1972, p. 30-1.
10. Idem, ibid., p. 45-6.
11. Idem, ibid., p. 50-2.
12. Idem, ibid., p. 64. Buescu & Tapajós apresentam algumas estimativas sobre o rebanho brasileiro nos 
séculos XVI e XVII, op. cit., p. 36-7.
13. GLADE, op. cit., p. 162.
42
14. Idem, ibid., p. 163-71. Para algumas estimativas quantitativas sobre as exportações de açúcar em anos 
selecionados durante o período colonial, veja BIJESCU & TAPAJÓS, op. cit., p. 23-4, 128.
15. PRADO JÚNIOR, Caio. op. cit., p. 81-2.
16. Em outro livro, Caio Prado Junior apresenta uma avaliação bastante negativa da influência exercida 
pela escravatura no desenvolvimento econômico e social: “O uso universal de escravos nos diferentes ramos 
e ocupações da vida social e econômica acabou por influenciar a atitude em relação ao trabalho, que veio a ser 
considerada desprezível e degradante”. Veja o seu livro The colonial background of modem Brazil. Berkeley e 
Los Angeles, University of California Press, 1967, p. 325.
17. GLADE, op. cit., p. 166; BUESCU & TAPAJÓS, op. cit., p. 38-40. Veja também Estudos econômicos 13, 
número especial, 1983, que contém uma coleção de artigos sobre a economia colonial nos séculos XVII c 
XVIII; RUSSEL-WOOD, A. J. R. “Colonial Brazil: T h e gold cycle”. In: The Cambridge history of Latin America, 
vol. 2, Colonial Latin America, Leslie Bethcll, Cambridge, Cambridge University Press, 1984, p. 547-600.
18. FURTADO, op. cit., p. 76 & GLADE, op. cit., p. 167.
19. PRADO JUNIOR, Caio. op. cit., p. 50-9.
20. PRADO JUNIOR apresenta um quadro sucinto do nível educacional da colônia: “Não foi feita ne-
nhuma tentativa para compensar o isolamento em que a colônia foi obrigada a viver, nem ao menos oferecen-
do um sistema elementar de educação. A instrução insuficiente dada nas poucas escolas oficiais existentes 
em alguns dos maiores centros das colônias não ia muito alem do ensino da leitura, da escrita e da aritmética... 
Criadas após 1776, essas escolas eram geralmente negligenciadas, tendo um número insuficiente dc profes-
sores mal pagos, alunos indisciplinados e classes desorganizadas. O nível cultural da colônia era extremamen-
te baixo c a ignorância prevalecia. Os poucos estudiosos que se destacavam viviam em um mundo à parte, 
ignorados por um país totalmente incapaz de compreendê-los”. The colonial background, p. 160-1.
21. BUESCU & TAPAJÓS, op. cit., p. 110-11.
22. PRADO JÚNIOR, Caio. op. cit., p. 82-3.
23. GLADE, op. cit., p. 171.
24. PRADO JUNIOR, Caio. op. cit., p. 346. As primeiras estimativas sobre a população do Brasil eram as 
seguintes:
1550 15.000
1600 100.000
1660 184.000
1690 300.000
1776 1.900.000
25. HOLLOWAY, Thomas H. In: The Brazilian coffee valorization of 1906: Regional politics and economic 
dependence. Madison: Sociedade Histórica Estadual de Wisconsin para o Departamento dc História, Universi-
dade de Wisconsin, 1975, p. 5.
26. PRADO JUNIOR, Caio. op. cit., p. 160.
27. HOLLOWAY', Thomas H. op. cit., p. 5; veja também STEIN, Stanley. In: Vassouras, a Brazilian coffee 
country, 1850-1900. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1957.
28. Idem, ibid., op. cit., p. 6.
29. Idem, ibid., p. 7-9.
30. Idem, ibid., p. 15-7. Dc 1887 a 1906, cerca de 1,2 milhão de imigrantes chegaram a São Paulo, dos 
quais mais de 800 mil eram italianos.
31. FURTADO, op. cit., p. 111-13.
32. Idem, ibid., p. 114-16.
33. DENSLOW7, David. “Exports and the Origins of Brazil’s Regional Pattern of Industrialization”. In: 
Dimensões do desenvolvimento brasileiro, BAER, Werner, GEIGER, Pedro & HADDAD, Paulo, Rio de Janeiro, 
Campus, 1978; e “As origens da desigualdade regional no Brasil”. In: Formação econômica do Brasil: A experiên-
cia da industrialização, VERSIANI, R. Flávio & MENDONÇA DE BARROS, J. R. , eds., Série ANPEC 
Leituras de Economia. São Paulo, Saraiva, 1977.
34. DENSLOW, op. cit., p. 59-60.
35. PRADO JÚNIOR, Caio. op. cit., p. 236-41; GLADE, op. cit., p. 297.
43
36. GLADE, op. cit., p. 299; BAER, Werner, In: The development of the Brazilian steel industry. Nashville, 
Tenn.: Vanderbilt University Press, 1969, cap. 4.
37. VILLELA, Annibal V. & SUZIGAN, Wilson. In: Política do governo e crescimento da econotnia brasilei-
ra, 1889-1945, Série Monográfica, nu 10, Z~ ed., Rio dc Janeiro, I PEA, 1973, p. 378-83. Villela e Suzigan 
observam que o sistema de concessões de ferrovias estava sujeito a abusos: “As concessões eram 
freqüentemente oferecidas como favores a pessoas influentes que as vendiam como um privilégio mono-
polista. Além disso, as garantias de taxas de retorno sobre o capital investido não levaram a um planejamento 
mais racional de linhas, que muitas vezes eram mais longas que o necessário e tecnicamente imperfeitas”, p. 381.
38. FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1939, p. 139.
39. Idem, ibid., p. 383-84.
40. GLADE, op. cit., p. 303.
41. Idem, ibid., p. 306; GRAHAM, Douglas H. “Migração estrangeira e a questão da oferta de mão-de- 
obra no crescimento econômico brasileiro, 1880-1930”, Estudos Econômicos 3, nü 1, 1973, p. 10-13.
42. GLADE, op. cit., p. 306.
43. Idem, ibid., p. 303.
44. HOLLOWAY, op. cit.
O início do 
desenvolvimento industrial
O período anterior à Primeira Guerra Mundial
A s LIMITADAS TENTATIVAS de promover a produção de artigos 
manufaturados nos últimos anos do Brasil colonial foram anuladas pelas políticas de 
portas abertas do governo pós-Independência. A presença de mercadorias inglesas era 
muito grande e elas tiveram acesso privilegiado ao mercado brasileiro durante muitos 
anos. Produtos de outros países europeus e dos Estados Unidos também apareceram 
depois dos tratados comerciais negociados na década de 1820.1 A tarifa de 1828, que 
fixou taxas de importação a 15%, precedeu o período comercial mais liberal.
As tarifas foram aumentadas na década de 1840, atingindo uma média superior a 
30% advalorem em 1844. Embora o objetivo principal da elevação das taxas de impor-
tação fosse ampliar a receita do governo, essa medida exerceu alguns efeitos colaterais 
que resultaram na criação de várias empresas têxteis. O Estado também oferecia isen-
ção de taxas para a importação de matérias-primas e maquinário utilizado por empresas 
nacionais, que depois também ficaram isentas de pagar impostos.2 Até 1852, 64 fábri-
cas e oficinas - do ramo de têxteis, vestuário, sabão, cerveja, fundição, vidros, artigos 
de couro e outros - haviam se beneficiado desses privilégios.
Sob a pressão dos interesses dos cafeicultores que eram a favor de importações 
mais baratas, algumas dessas tarifas foram revogadas em 1857 e as taxas foram baixa-
das. Na década de 1860, por motivos fiscais, as tarifas sofreram nova elevação para uma 
média de 50% e, nas duas décadas seguintes, foram introduzidas, ocasionalmente, ain-
da outras medidas de proteção.
As poucas oficinas que existiam em meados do século XIX estavam concentradas 
principalmente no setor têxtil, e várias empresas foram fundadas em meados da dé-
cada de 1840 como resultado da tarifa acima mencionada, criada em 1844, e dos privi-
légios especiais concedidos para a importação de maquinário. O número de empresas
45
Tabela 3.1
Produção da indústria têxtil algodoeira, 1853-1948
Ano Número de fábricas Operários
Produção 
(1.000 metros)
1853 8 424 1.210
1866 9 795 3.586
1885 48 3.172 20.595
1905 110 39.159 242.087
1915 240 82.257 470.783
1921 242 108.960 552.446
1925 257 114.561 535.909
1929 359 123.470 477.995
1932 355 115.550 630.738
1948 409 224.252 1.119.738
Fonte: Stanley Stein. The Brazilian cotton manufacture. Cambridge, Mass., Harvard 
University Press, 1957, p. 191.
têxteis em funcionamento aumentou ainda mais na primeira metade da década de 
1870 naregião do Rio de Janeiro e de São Paulo. Embora existissem 48 firmas têxteis 
em 1885, o impacto total exercido por elas era secundário, como evidenciou o fato de 
que todas elas juntas empregavam apenas pouco mais que 3 mil trabalhadores.3
Os dados disponíveis indicam que o desenvolvimento industrial brasileiro se tornou 
significativo durante a década de 1880 e assim prosseguiu durante as três décadas se-
guintes. A Tabela 3.1, por exemplo, mostra um aumento superior a dez vezes na produ-
ção de tecidos de algodão entre 1885 e 1905 e quase o dobro da produção nos dez anos 
subseqüentes. Imediatamente antes de 1914, a produção de tecidos já havia atingido 
85% do consumo do país. A produção de roupas, sapatos, bebidas e produtos de fumo 
em 1912 alcançara 40% da produção de 1929 (ver Tabelas 3.2 e 3.3). Quando se leva em 
consideração que, no final da década de 1920, as indústrias têxteis brasileiras atendiam 
a cerca de 90% do consumo doméstico, a elevada produção anterior a 1914 indica que, 
mesmo então, uma grande parcela do consumo era suprida pelos fabricantes internos.4
Indicadores de formação de capital, apresentados na Tabela 3.4, disponíveis so-
mente de 1901 em diante, cresceram ininterruptamente até 1914 e atingiram níveis 
muito elevados em meados da década anterior à Primeira Guerra Mundial. O consumo 
aparente de cimento aumentou 12 vezes (de 37.300 toneladas em 1901 para 465.300 
em 1913); o consumo de aço aumentou mais de oito vezes (de 69.300 para 589 mil 
toneladas) e a importação de bens de capital quase quadruplicou no mesmo período. A 
extensão do desenvolvimento industrial no último período também está evidente no 
censo de 1920, cujos dados se referem ao ano de 1919. De 13.336 estabelecimentos 
industriais existentes naquele ano, 55,4% foram fundados antes de 1914, e sua dimen-
são média, calculada pelo número de empregados ou pela capacidade de força instala-
da por trabalhador, era maior do que aquelas instaladas durante a Primeira Guerra 
Mundial (ver Tabela 3.5).
A estrutura industrial que se criou nesse primeiro período de desenvolvimento era 
dominada por indústrias leves. Produtos têxteis, roupas, calçados e indústrias alimentí-
Tabela 3.2 
Indicadores do p rodu to real, 1911-19 
(1929= 100)
Ano Têxteis
Roupas, calçados e 
outros têxteis Bebidas Fumo Total*
1911 75,4 41,7 37,2 38,2 60,9
1912 79,2 47,3 47,0 42,5 65,8
1913 76,5 46,8 53,8 46,6 65,3
1914 62,0 35,4 48,4 42,2 53,5
1915 91,9 38,9 38,6 40,9 70,8
1916 86,4 47,2 40,8 53,3 70,6
1917 100,9 52,2 38,6 41,3 78,5
1918 91,0 52,1 40,2 46,4 73,4
1919 105,6 54,0 48,8 65,0 85,4
* A ponderação de 1919 foi usada no cálculo do índice desta coluna.
Fonte: V IU ,RLA Annibal V. & SUZIGAN, Wilson. Política do governo e crescimento da 
economia brasileira, Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1973, p. 432.
cias eram responsáveis por mais de 57% da produção industrial em 1907 e por mais de 
64% em 1919.
A força básica que apoiou esse desenvolvimento industrial foi o incremento cafe- 
eiro baseado na mão-de-obra imigrante livre. Investimentos significativos voltados para 
a infra-estrutura que atendia ao setor cafeeiro (estradas de ferro, usinas elétricas, etc.), 
financiados por fazendeiros e capital estrangeiro,5 proporcionaram o ambiente para uma 
produção industrial local maior e aos poucos criaram uma demanda para peças de repo-
sição produzidas internamente. A grande população imigrante empregada nos setores 
cafeeiro e outros a ele relacionados gerou um enorme mercado para bens de consumo 
baratos. Dessa forma, ao descrever os acontecimentos em São Paulo, Warren Dean 
observou:
Os primeiros produtos a serem manufaturados... foram aqueles cuja relação peso-custo 
era tão elevada que, mesmo com o emprego das técnicas mais rudimentares, ficava mais 
barato produzi-los do que comprá-los na Europa... As atividades mais importantes emprega-
vam produtos agrícolas locais, especialmente o algodão, o couro, o açúcar, cereais e madeira, 
ou minerais não-metálicos, principalmente argila, areia, cal e pedras.6
A maioria dos primeiros industriais brasileiros era importador que, em determinado 
estágio de suas atividades, achou que valeria a pena produzir bens no próprio Brasil, 
em vez de importá-los. Esse fato ocorreu principalmente em relação aos produtos têx-
teis; constatou-se, por exemplo, que, de 13 indústrias têxteis fundadas no século XIX 
e ainda em funcionamento em 1917, 11 eram controladas por importadores.7 Esses 
empreendimentos eram financiados tanto por importadores como por plantadores de 
café. Os importadores também tinham acesso especial a credores europeus para finan-
ciamento da importação de maquinário.
47
Tabela 3.3 
índice de produção industrial, 1920-39 
(1929= 100)
1920 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 1936 1937 1938 1939
Total 78,0 77,1 89,1 106,4 88,9 89,6 88,8 95,9 103,5 100,0 95,2 103,1 103,4 118,6 133,9 152,9 174,9 187,1 199,4 224,6
Mineração 126,8 99,8 108,4 94,2 81,3 93,6 95,8 85,7 104,7 100,0 91,1 85,8 82,3 86,2 85,0 96,3 104,5 128,3 140,1 137,7
Transformação:
Total 76,9 76,6 88,7 106,7 89,1 89,5 88,6 96,1 103,4 100,0 95,3 103,5 103,9 119,3 135,1 154,2 176,5 188,4 200,7 226,6
Minerais
não-metal.
93,0 101,6 104,9 132,0 125,9 87,9 82,7 70,8 97,8 100,0 87,8 151,2 145,4 208,9 282,5 332,0 426,5 498,6 558,3 619,5
Produtos
metalúrgicos 43,7 46,2 47,5 59,7 51,7 62,7 56,1 53,1 78,0 100,0 81,9 71,9 90,2 130,5 155,3 172,2 202,0 225,3 274,1 397,7
Produtos 
de papel - - - - - - 67,7 51,2 84,1 100,0 80,3 120,7 102,2 238,8 290,8 424,1 459,7 564,9 566,6 781,9
Produtos 
de couro - - - - - - - - 106,8 100,0 121,0 118,7 107,8 137,2 146,1 172,8 152,8 175,3 160,1 161,0
Químicos e 
farmacêuticos
55,5 52,1 58,7 79,4 82,8 87,8 96,8 105,1 108,8 100,0 100,3 66,4 73,4 82,7 79,2 105,0 113,2 133,6 138,3 151,2
Perfumes, 
sabonetes e velas 47,5 46,5 62,6 72,6 84,0 73,0 73,1 97,1 112,9 100,0 77,9 77,0 95,6 107,8 153,7 157,0 285,9 221,0 255,9 259,2
Têxteis 106,6 104,1 116,7 116,5 110,2 105,8 105,6 122,1 123,9 100,0 97,2 125,6 127,4 131,0 145,7 165,4 195,8 207,5 219,8 247,0
Roupas e calçados 61,7 55,0 63,6 65,6 77,8 76,2 72,9 86,6 95,5 100,0 70,8 75,0 67,3 71,2 74,6 94,7 110,9 121,0 113,8 124,8
Produtos
alimentícios 63,2 66,7 86,2 77,8 79,2 86,7 88,3 90,2 93,4 100,0 107,9 102,3 99,3 111,6 116,9 128,6 132,4 120,9 125,5 124,9
Bebidas 64,2 63,2 73,2 76,1 70,0 75,5 81,0 92,6 96,4 100,0 83,5 70,3 76,3 79,8 81,7 97,3 107,7 110,4 110,5 129,6
Produtos do fumo 67,6 61,5 72,4 70,2 67,0 85,8 69,5 81,6 91,7 100,0 86,7 87,7 85,5 88,5 135,5 102,0 121,2 143,4 148,4 120,3
Oi/s.: Os índices para cada grupo de indúscria são ponderados de acordo com a média de sua proporção no valor agregado à indústria manufatureira durante os censos de 1919 e 1939. 
Fíw/rYILLELA, Annibal, SILVA, Sérgio R. da, SUZIGAN, Wilson e SANTOS, Mario J. “Aspectos do crescimento da economia brasileira”. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 
1971; as estimativas se baseiam em dados do FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1939/40; IBGE, Recenseamento Geral do B rasilde 1920 e 1940, e Ministério da Agricultura, 
Serviço dc Estatística da Produção.
Tabela 3.4
Indicadores de formação de capital, 1901-45
Ano Consumo aparente Consumo aparente Índice de quantidade
de cimento de aço de importação de bens de capital
(1.000 t) (1.000 t) (1939 = 100)
1901 37,3 69,3 56,8
1902 58,8 107,0 31,7
1903 63,8 111,2 38,0
1904 94,0 127,3 41,3
1905 129,6 170,6 62,3
1906 180,3 220,3 66,1
1907 179,9 295,0 93,0
1908 197,9 267,6 96,4
1909 201,8 304,5 102,9
1910 264,2 362,3 118,7
1911 268,7 369,2 153,6
1912 367,0 506,6 205,3
1913 465,3 589,3 152,5
1914 180,8 200,5 63,4 \
1915 144,9 95,2 25,2 4 4 ( 3^
1916 169,8 96,9 32,2 j '
1917 98,6 87,0 32,0 J
1918 51,7 50,0 36,9
1919 198,4 155,1 64,6
1920 173,0 279,7 108,1
1921 156,9 200,7 125,8
1922 319,6 201,6 91,5
1923 223,4 219,4 119,4
1924 317,2 349,6 151,0
1925 336,5 373,5 209,2
1926 409,7 399,4 154,7
1927 496,6 435,8 124,3
1928 544,2 483,1 133,2
1929 631,5 514,3 184,7
1930 471,7 259,299,7
1931 281,4 143,9 33,6
1932 310,0 165,7 28,9
1933 339,4 277,0 47,4
1934 449,6 343,6 82,9
1935 480,4 345,4 123,7
1936 563,3 386,7 114,5
1937 646,3 505,4 143,2
1938 667,5 355,7 122,5 A
1939 732,6 429,8 100,0 \ r \ J 
56,4 \1940 759,2 414,5
1941 776,8 368,3 86,5
1942 818,8 262,8 67,1 1
1943 753,4 325,5 176,1 J
1944 907,4 492,6 166,7
1945 1.025,5 465,6 82,7
Fonte: VILLEI ,A, Annibal V. & SUZICJAN, Wilson. Política do governo e crescimento da economia brasileira. Rio de Janeiro, IPEA/ 
INPES, 1973, p. 437; para aço, Ministério da Agricultura, Serviço de Estatística do Sindicato Nacional da Indústria do 
Cimento; para importações, Ministério da Fazenda, Serviço de Estatística Econômica e Financeira.
49
A expansão do crédito inflacionário (conhecido como encilhamento) na década de 
1890 foi mencionada por alguns analistas como um elemento que contribuiu para o 
estabelecimento de novos empreendimentos industriais naquela década.8 Outros, en-
tretanto, afirmam que as evidências existentes não sustentam essa hipótese.9
As tentativas ocasionais para proteção de tarifas desde 1840 não parecem ter cola-
borado de modo significativo para o desenvolvimento industrial.10 O mesmo pode ser 
dito sobre o auxílio direto do governo oferecido, raramente autorizado, a determinados 
setores. E verdade, porém, que a ajuda direta do governo era decisiva para setores 
específicos (concessões especiais e/ou subsídios a ferrovias, siderúrgicas, etc.). Final-
mente, a ocasional desvalorização da moeda brasileira em relação à libra inglesa, através 
do aumento do preço dos bens importados, acelerou o desenvolvimento industrial.11
Voltando à nossa apresentação quantitativa, é interessante observar o substancial 
aumento da capacidade produtiva nos oito anos que precederam a Primeira Guerra 
Mundial. Vimos na Tabela 3.4 que todos os indicadores de formação de capital cresce-
ram mais rapidamente naquele período do que em qualquer outro observado anterior-
mente. Esse grande impulso era devido, em parte, ao aumento da capacidade de im-
portação daqueles anos e também à valorização da moeda em relação à libra esterlina 
no período de 1905-13, o que reduziu os preços dos bens importados e ocasionou gran-
des aumentos na importação de maquinário. Devemos observar na Tabela 3.5 que as 
firmas fundadas entre 1905-14 tinham um coeficiente de capital mais elevado (medido 
por cavalos-vapor - HP - por trabalhador, excetuando-se as relativamente poucas em-
presas estabelecidas entre 1885-89) do que as fundadas antes desse período ou duran-
te a Primeira Guerra Mundial. Além disso, essas firmas originaram uma parcela maior 
da produção total em 1920 do que qualquer um dos estabelecimentos fundados no 
período de 1885 a 1904 ou mais recentes.12
A Primeira Guerra Mundial
Até recentemente, quase todos os estudiosos da economia brasileira alegavam que a 
Primeira Guerra Mundial exerceu um pronunciado impacto na produção industrial e no 
crescimento de sua capacidade.13 Um exame mais atento de todos os dados disponíveis, 
entretanto, mostrará que a Primeira Guerra Mundial não foi um catalisador do desenvol-
vimento industrial, especialmente porque a interrupção da navegação dificultou a impor-
tação dos bens de capital necessários ao aumento da capacidade produtiva e no Brasil, 
naquela época, não havia indústria que os produzisse.
Os três indicadores de investimentos apresentados na Tabela 3.4 também dão provas 
de fortes tendências de queda nos anos de guerra. O consumo aparente de cimento caiu 
de mais de 465 mil toneladas em 1913 para somente 51.700 toneladas em 1918; o consu-
mo aparente de aço caiu de 589 mil para 50 mil toneladas no mesmo período e o índice de 
importação de bens de capital sofreu uma redução de 205,3 em 1912 para 32,0 em 1917. 
Uma análise comparativa das mudanças ocorridas na quantidade de importações em 1911 - 
13 e 1914-18 também revela uma queda muito maior na importação de bens de capital do 
que de outros produtos.
Tabela 3.5
Estabelecim entos industriais segundo a data de fundação, 1920
Data de Estabelecimentos
Número de
íinprnriíiv n/ir* HP
por operário
Valor da 
produção
(%)fundação Número %
» Uí H/A //C/f
estabelecimento
Até 1884 388 2,91 76 1,01 8,7
1885-89 248 1,86 98 1,48 8,3
1890-94 452 3,39 68 1,08 9,3
1895-99 472 3,54 29 1,05 4,7
1900-4 1.080 8,10 18 1,01 7,5
1905-9 1.358 10,18 25 1,17 12,3
1910-14 3.135 23,51 17 1,15 21,3
1915-19 5.936 44,51 11 1,02 26,3
Data desconhecida 267 2,00 16 1,77 1,6
Total 13.336 100,0 20* 1,13* 100,0
* Mcdias ponderadas.
Fonte: Recemmmento do lirasil, vol. 5, Indústria, para 1919, p. 69.
Observando os dados existentes sobre produção, verificamos na Tabela 3.2 um au-
mento considerável na produção de têxteis, roupas e calçados. A produção de bebidas e 
fumo sofreu pouca alteração, setores que foram responsáveis por cerca de 50% do valor 
agregado em 1919. A indústria alimentícia que, depois da indústria têxtil, era o setor mais 
importante da atividade industrial, não está incluída na tabela devido à falta de dados 
anuais, e era responsável por 19% do valor agregado na indústria em 1907 e 20,5% em 
1919. Essa indústria teve sua capacidade grandemente ampliada na metade da década 
anterior à guerra - principalmente as refinarias de açúcar e frigoríficos. Estes últimos 
foram estimulados pela quase duplicação da capacidade de geração de eletricidade du-
rante o período de 1910-14.
O efeito exercido pela Primeira Guerra Mundial não foi o de expandir e mudar a 
capacidade produtiva do Brasil, mas sim de aumentar a utilização da capacidade de pro-
dução de artigos têxteis e alimentícios originada antes da guerra. O aumento da produção 
serviu principalmente para suprir a economia doméstica carente de importações, mas 
alguns produtos têxteis eram exportados para a Argentina e África do Sul, e vários países 
latino-americanos receberam açúcar e carne congelada. A quantidade dessas exporta-
ções, entretanto, era muito pequena, principalmente se comparada com as realizadas 
durante a Segunda Guerra Mundial.
A década de 1920
O dinamismo da economia brasileira na década de 1920 baseava-se em um setor 
cafeeiro em rápida expansão. A participação do café nas exportações aumentou de 56% 
em 1919 para mais de 75% em 1924. No mesmo período, as exportações, como uma
51
parcela do Produto Nacional Bruto (PNB) aumentaram de 5,7% para 12,5%. A situação 
favorável do balanço de pagamentos do país durante a década trouxe consigo uma 
ligeira valorização da taxa de câmbio que, combinada com o aumento dos preços inter-
nos, diminuiu qualquer proteção que as indústrias domésticas tinham em relação à 
concorrência estrangeira.14
A década de 1920, em geral, constituiu um período de crescimento relativamente 
pequeno no setor industrial. A taxa média de crescimento anual da produção indus-
trial caiu de 4,6% no período de 1911-20 para 3% no período de 1920-29. Na Tabela 
3.3 é especialmente digno de nota o crescimento extremamente lento da produção da 
indústria têxtil. Visto que era o setor industrial mais importante na época, sua estag-
nação explica o fraco desempenho geral da indústria. Um exame mais rigoroso, porém, 
indica um crescimento muito mais rápido de outros subsetores e uma notável tendên-
cia em direção à diversificação industrial. Alguns setores tradicionais, como alimentos, 
produção de chapéus e de calçados, vivenciaram quedas na produção entre 1924-25, 
mas recuperaram-se depois de 1926. Setores mais recentes - química, metalurgia, 
produtos de tabacaria - experimentaram um crescimento significativo. Entre 1925 e 
1929, os fabricantes de artigos não-têxteis testemunharam taxas de crescimento supe-
riores à média da indústria.15
A rápida expansão de artefatos de metal foi resultado do aparecimento de peque-
nas novas siderúrgicas e empresas de bens de capital. E claro que a pequena base na 
qual se iniciou o setor metalúrgico no início da década de 1920 também explica as 
elevadas taxas de crescimento observadas. A segunda metade da década marcou

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