Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Samara Pires- MED25 Bioquímica Médica II Metabolismo do glicogênio 1. Glicogênio: armazenamento e fontes ● Fonte contínua de glicose sanguínea nos animais. Nos vegetais, a principal forma de armazenamento de glicose é o amido; ● O glicogênio é apenas um dos homopolissacarídeos, pois é formado apenas pelo monossacarídeo glicose. Há também os heteropolissacarídeos, formados por outras moléculas, como a N-acetilgalactosamina; ● Valor normal de glicemia → 70 a 99 mg/dl; ● Fonte esporádica de glicose sanguínea (externa) → ingestão de amido. Fontes internas de glicose para o organismo → glicogenólise e gliconeogênese. O tecido hepático é aquele que tenta manter a glicemia em equilíbrio, já que armazena e libera glicose a partir do glicogênio; ● Depósitos de glicogênio → músculo esquelético (reserva de combustível para a contração muscular e não para suprir a corrente sanguínea, depósito não é afetado no caso de jejum curto, mas varia moderadamente em jejum prolongado) e fígado (mantém a glicemia no início do jejum e aumenta a concentração de glicose no período pós-prandial, isto é, entre a digestão e a absorção, mas logo o depósito é exaurido no jejum). Já o tecido adiposo armazena o excesso de glicose na forma de gordura; 2. Glicogenólise ● Estrutura do glicogênio → ligação 𝛼1,4 na cadeia linear e 𝛼1,6 no ponto de ramificação ● É a degradação no citosol do glicogênio armazenado no fígado com o objetivo de manter a glicemia e do armazenado no fígado para a produção de ATP para a contração muscular. Quando a degradação ocorre no lisossomo, isso ocorre pela enzima 𝛼1,4-glicosidase (ácido maltase); Obs.: o fígado, o músculo esquelético e o tecido adiposo não captam a glicose na atividade física, mas sim no período pós-prandial, quando a glicose está em excesso e pode ser armazenada. Obs2.: a deficiência genética de ácido maltase nos lisossomos provoca a doença de Pompe, em que o indivíduo não apresenta as enzimas que quebram ligações lineares e ramificadas do glicogênio, gerando acúmulo de glicogênio nos lisossomos. ● Quando a quantidade de glicose da corrente sanguínea reduz, diminui a concentração de insulina e aumenta a de glucagon. Obs.: a degradação do glicogênio produz glicose-1-fosfato (G1P) e não glicose livre. Para que a transformação de uma em outra ocorra, a glicose-1-fosfato deve ser Samara Pires- MED25 convertida em glicose-6-fosfato pela fosfoglicomutase e, em seguida, essa é transformada em glicose livre pela desfosforilação da glicose-6-fosfatase (isso apenas no fígado, pois o músculo não tem glicose-6-fosfatase). ● A baixa concentração de glicose no músculo e no fígado estimula a glicogênio-fosforilase, a qual quebra cadeias de glicogênio para produzir glicose-1-fosfato. Já a glicogênio-sintetase fica inibida. O contrário ocorre no caso de alta concentração de glicose. - A glicogênio-fosforilase quebra as ligações 𝛼1,4 começando a partir da extremidade não redutora (aquela que não tem uma hidroxila livre) na ramificação e na cadeia linear. Ela retira os resíduos de glicose até sobrarem 4 resíduos antes da ramificação. - Em seguida, há uma enzima que atua nas áreas de ramificação (ligações 𝛼1,6): glicose-𝛼1,6-glicosidase ou enzima desramificadora (bifuncional). Ela quebra as glicoses das ramificações e as transfere para a extremidade não redutora (atividade transferásica), deixando apenas uma glicose na ligação 𝛼1,6, a qual é quebrada, liberando uma glicose livre (atividade glicosidásica). - Posteriormente, a glicogênio-fosforilase continua a catálise até chegar em uma ramificação ou até ser limitada pela dextrina (estrutura polimérica reduzida) e, quando isso acontece, a glicosidase não atua também. Obs.: essa análise é no tecido muscular, pois, quando ocorre no fígado, o produto final da quebra é transformado em glicose livre e lançado na corrente sanguínea por meio dos transportadores (um na membrana do retículo endoplasmático, onde ocorre a desfosforilação, e outro na membrana da célula, o GLUT2). No músculo, a glicose-6-fosfato vai para a via glicolítica. O músculo carece de glicose-6-fosfatase, por isso o produto da quebra do glicogênio nesse tecido libera glicose-6-fosfato. Samara Pires- MED25 3. Glicogeniogênese ou glicogênese ● É a síntese do glicogênio a partir de moléculas de 𝛼-D-glicose com gasto de ATP. Inicialmente, a glicose é fosforilada pela hexoquinase no músculo e pela glicoquinase no fígado, formando a glicose-6-fosfato, a qual é isomerizada a glicose-1-fosfato pela fosfoglicomutase. Em seguida, ela reage com a uridina trifosfato e forma a UDP-glicose; ● A principal enzima é a glicogênio-sintetase ou glicogênio-sintase → não faz a ligação entre duas moléculas de glicose sozinha, pois precisa de um primer (como se fosse um precursor), ao qual é adicionado glicose. Esse primer pode ser, por exemplo, de dextrinas que já estão no citosol da célula. Outro primer é a glicogenina, que é uma enzima autoglicosilante capaz de adicionar moléculas de glicose. - A glicogênio-sintase utiliza a UDP-glicose (uridina-difosfato), a qual é adicionada à estrutura pré formada na extremidade não redutora. Em seguida, forma-se uma ligação 𝛼1,4 entre a glicose livre (que elimina a parte UDP) e a estrutura. - 𝛼-1,6-transglicosilase (glicosilase ou enzima ramificadora): forma ligações 𝛼1,6, pois a glicogênio-sintase só produz ligações 𝛼1,4. Isso acontece por meio de um mecanismo de quebra da cadeia e posterior encaixe na ramificação. Samara Pires- MED25 - Glicogenina: uma molécula de glicose perde o UDP e se liga à glicogenina. Em seguida, a glicogênio-sintase forma um complexo com a glicogenina glicosilada e começa a acrescentar glicose liberando UDP, formando uma estrutura linear (já que só faz ligações 𝛼1,4). ● Após a formação do glicogênio: a glicogênio-sintetase se desliga e a glicogenina sai do complexo. 4. Regulação do metabolismo de glicogênio ● Regulações de metabolismos contrários → depende da glicemia; ● Ocorre a nível alostérico e a nível hormonal; ● No fígado , a glicogênese é acelerada durante os períodos pós-alimentares e a glicogenólise, no jejum (depende dos hormônios insulina e glucagon); - Diminuição da glicose → diminuição da insulina → aumento da produção de glucagon pelas células 𝛼 do pâncreas → glicogenólise ativada. - No fígado, o excesso de glicose inibe a glicogênio-fosforilase e estimula a glicogênio-sintetase → produção de glicogênio. ● No músculo esquelético , a degradação do glicogênioocorre nos períodos de exercício físico e a síntese, no período de repouso. - A contração muscular aumenta a liberação de cálcio, o qual se liga à calmodulina e promove a conversão da fosforilase b em a (da forma pouco ativa para a ativa). Os altos níveis de AMP também ativam a fosforilase b, sem que ela seja fosforilada (não será convertida em fosforilase a, mas sim ativada na forma b mesmo). Obs.: o músculo esquelético não tem receptor para glucagon. Obs.2: o ATP e a glicose-6-fosfato realizam inibição alostérica na fosforilase a (ativa). No fígado, mas não no músculo, a glicose também é um inibidor. Samara Pires- MED25 ● A nível hormonal → níveis elevados de insulina aumentam a glicogênese, enquanto os de glucagon e os de epinefrina aumentam a glicogenólise. A insulina inibe a glicogenólise no músculo, pois aumenta a captação de glicose (lembrar que os receptores musculares são insulino-dependentes), formando glicose-6-fosfato, a qual ativa a glicogênio-sintase e inibe a glicogênio-fosforilase. Obs.: a epinefrina aumenta a glicogenólise em praticamente todos os tecidos do organismo, mesmo que a quantidade de glicose esteja alta. - O glucagon e a epinefrina no fígado e a epinefrina no músculo aumentam os níveis de AMPc e a insulina os diminui. Qual é o efeito do AMPc (segundo mensageiro)? Ele estimula a degradação do glicogênio, porque estimula a fosforilação da fosforilase b em a, ativando-a, além de tornar inativa a glicogênio-sintetase (responsável pela produção de glicogênio). Obs.: no músculo, o sinal para a formação aumentada de AMPc é a ação da norepinefrina, que é secretada em resposta ao medo ou pavor, quando existe a necessidade de aumentar a glicogenólise para possibilitar uma rápida atividade muscular. - A glicogênio-sintetase é inativada (fosforilada) também pelo glucagon, pela epinefrina e pelas altas taxas de cálcio. Já a insulina, a glicose livre e a glicose-6-fosfato ativa essa enzima (ela a desfosforila para isso). Obs.: as enzimas de síntese precisam ser desfosforiladas para serem ativadas, enquanto as de degradação geralmente são inativadas pela desfosforilação. Perceba que a síntese e a degradação ocorrem em vias opostas independentemente do compartimento em que ocorrem. 5. Glicose e os tecidos ● Hemácias - GLUT1 → transportador insulino-independente presente nas hemácias que têm capacidade de captar pequenas quantidades de glicose. O fato de serem insulino-independentes é importante, porque, caso contrário, o diabético (que carece de insulina) entraria em colapso por hipóxia, já que as hemácias não transportariam oxigênio, pois não teriam ATP por falta de glicose; - Não metabolizam proteínas ou lipídios (não têm segunda fonte de energia); - As vias que as hemácias realizam são a da glicólise (produz ATP e leva à produção de ácido láctico) e a das pentoses (importante para a produção de NADPH, o qual participa da redução dos radicais livres pela glutationa-redutase); - A via glicolítica das hemácias tem uma particularidade: parte do 1,3-bifosfoglicerato é desviado para a produção de 2,3-bifosfoglicerato. Este, por sua vez, é um regulador alostérico negativo da hemoglobina, reduzindo a afinidade pelo oxigênio para que o gás seja liberado para as células. Samara Pires- MED25 Obs.: o lactato é transportado para a corrente sanguínea para que ele não iniba a fosfofrutoquinase-1. ● Fígado - Transportador: GLUT2 (insulino-independente). O fígado não precisa de insulina para captar a glicose, mas sim para produzir a glicoquinase (promove a manutenção da glicose na célula quando a fosforila). - Vias do tecido hepático: via das pentoses (produção de NADPH e de ribose-5-fosfato: pode ocorrer só a fase oxidativa se for necessária a ribose, mas, se não for, continua a fase não oxidativa), glicogênese e glicogenólise (o fígado é o maior armazém de glicogênio), via do ácido glicurônico (desintoxicação de drogas e de bilirrubina), glicólise aeróbica (realiza somente no período pós-prandial) e a gliconeogênese. ● Cérebro - GLUT3: transportador insulino-independente do cérebro; - Vias metabólicas do cérebro: glicólise aeróbica (tecido que mais consome glicose= em torno de 120 g/dia) e via das pentoses (produção de NADPH → proteção contra radicais livres e contra peróxidos). ● Músculo - GLUT4: transportador insulino-dependente → a atividade física é indicada para diabéticos, pois auxilia o transporte de glicose para dentro da célula muscular, já que o músculo a consome em exercício físico; - Células musculares esqueléticas e cardíacas; - Vias no músculo: glicólise aeróbica, glicogênese e glicogenólise (sintetiza, armazena e degrada glicogênio). ● Adipócitos - GLUT4: transportador insulino-dependente; - Vias dos adipócitos: glicólise, via das pentoses (produção do NADPH para a lipogênese), glicogênese e glicogenólise (limitado). Obs.: o adipócito dá preferência à frutose quando ela está em alta quantidade, a fim de produzir piruvato, acetil e ácidos graxos. Samara Pires- MED25 6. Glicosaminoglicanos ● Cadeia heteropolissacarídica longa não ramificada constituída de N-acetil-glicosamina ou galactosamina (aminoaçúcar) + ácido urônico (exceto queratan-sulfato, que não tem ácido urônico). Ex.: heparina, queratan-sulfato, dermatan-sulfato, as quais se repetem n vezes; ● A síntese de tal cadeia é feita com UDP-açúcares ácidos (por isso os polissacarídeos são chamados de heteropolissacarídeos ácidos), UDP-açúcares aminados e açúcares fosforilados. É sintetizada no retículo endoplasmático e armazenada no complexo de Golgi, sendo degradada nos lisossomos; ● Quando os glicosaminoglicanos se ligam à proteína, formam as glicoproteínas e os proteoglicanos . A exceção é o ácido hialurônico, que exerce funções de proteoglicano, mas não apresenta proteína, já que é formado apenas de glicosaminoglicanos; Obs.: qual a diferença entre glicoproteína e proteoglicano? As glicoproteínas são formadas por proteínas + heteropolissacarídeos de cadeias curtas, ramificadas e sem unidades dissacarídicas repetidas, já os proteoglicanos têm cadeia linear e apresentam unidades dissacarídicas repetidas. Além disso, a quantidade de carboidrato em um glicosaminoglicano é, geralmente, muito maior do que a encontrada em uma glicoproteína. ● A proteína passa por uma modificação pós traducional para receber a cadeia de polissacarídeos. Já os açúcares sofrem aminações, adição de UDP pela UDP-transferase, etc; ● Glicoproteína : polissacarídeo ligado à proteína por ligações N-glicosídicas (ligação ao nitrogêniodo aminoácido, como a asparagina, que tem esse átomo) ou O-glicosídica (ligação ao oxigênio do aminoácido). Samara Pires- MED25 - Polissacarídeo formado por monossacarídeos, como glicose, fucose, galactose e manose; - Síntese: retículo endoplasmático rugoso. Ocorre por meio do dolicol, um álcool derivado de carboidrato, o qual inicia a síntese do polissacarídeo. 7. Alterações no metabolismo de glicosaminoglicanos ● Mucopolissacaridoses → erros inatos no metabolismo de glicosaminoglicanos. Em geral, tais doenças são transmitidas por gene recessivo autossômico. As mais estudadas são as síndromes de Hurler e de Hunter, as quais apresentam, como sinal, o acúmulo de dermatan e de heparan sulfato na urina; ● Os GAGs são degradados por exoglicosidases, endoglicosidases e sulfatases; ● Como consequência da mutação de um gene que codifica uma enzima de degradação de um ou mais glicosaminoglicanos, ocorre o acúmulo deles em vários tecidos, incluindo o fígado, o baço, o osso, a pele e o sistema nervoso central. Isso pode gerar hepatomegalia, esplenomegalia, distúrbios do crescimento, traços faciais grosseiros e retardo mental, respectivamente aos tecidos mencionados. 8. Doença de armazenamento do glicogênio
Compartilhar