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Abdome agudo na pediatria Dor abdominal na criança: expressão clínica de inúmeras enfermidades. 24% das consultas pediátricas, 13-27% dos escolares têm dor abdominal semanal. A dor pode ser por enfermidade aguda ou processo leve e autolimitado. Podem ter sinais inespecíficos e por causas não abdominais como pneumonia. Abordagem ao paciente -Paciente instável: 1) Avaliação cardiorrespiratória: suporte ventilatório e oximetria de pulso 2) Avaliação circulatória: desidratação e hidratação parenteral com expansão 3) Avaliação de toxemia: febre e ver necessidade de antibioticoterapia 4)Avaliação complementar -Paciente estável: história completa e exame físico. Principais causas de abdome agudo por faixa etária: *Em todas a anemia falciforme pode ser causa! RN Lactente Pré-esc/ escolar Adolescente Obstruções intestinais Invaginação intestinal Apendicite aguda Apendicite aguda Volvo intestinal Hérnia inguinal encarcerad a Obstrução intestinal por Áscaris Trauma abdominal Íleo meconial Trauma abdominal Afecções dos anexos Doença de Hirschsprung DM Doença biliar Enterocolite necrosante DII Gravidez ectópica rota Caracterização da dor -Início: gradativo: DII, apendicite, diverticulite, colecistite, pancreatite. -Início súbito: litíase, envenenamento, invaginação, perfuração, torção de testículo, cisto de ovário. *Anemia falciforme em todas as faixas etárias!! Processo de falcização>> obstrução da microcirculação >>hipóxia e liberação de mediadores inflamatórios>>lesão (isquemia) tecidual ou de vísceras e estímulo dos receptores nociceptivos de vasos/órgãos Síndromes clínicas associadas: pancreatite aguda, colite isquêmica, sequestro isquêmico e apendicite aguda Apendicite aguda Abdome agudo inflamatório mais frequente na criança, risco de perfuração maior em crianças pelo pequeno omento ser menor e ter dificuldade de gerar plastrão para controlar infecção, além de ser imunologicamente mais sensível, o apêndice é mais longo e mais estreito, luz pequena, 50% por fecalito, pode haver até uma apendicite por hipertrofia do tecido linfóide do apêndice devido infecção intestinal. Mortalidade depende do tipo de apendicite, se somente hiperemia não precisa de atb, se tiver peritonite no mínimo 5 dias de atb e internamento, mas de forma geral a mortalidade é baixa. Como ocorre: obstrução da luz apendicular: 30-50% por fecalito, parasitose por enterobius ou ascaris, hiperplasia linfóide, corpo estranho. Megacólon congênito e íleo meconial por constipação e formação de fecalito, podem gerar apendicite Fisiopatologia: obstrução da base apendicular>> secreção de muco>> aumento do apêndice>>aumento da pressão intraluminal>>congestão venosa - edema>> isquemia de parede apendicular Manuelle graciano Classificação: 1) Simples: apensas inflamado (hiperemia) 2) Suprativa: secreção fibrina 3) Gangrenosa: apêndice perfurado *Pode haver peritonite sem perfuração!! *Normalmente o abdome agudo na criança tem início somente com a dor abdominal como sintoma. Diagnóstico: clínico -Anorexia 95% -Náuseas e vômitos 85% (íleo paralítico, alça sentinela, reflexo vagal) -Febre 60-80% -Dor abdominal em QID 70% -Diarréia 10-30% (somente tenesmo pelo processo inflamatório no fundo de saco) *Sintomatologia atípica, principalmente em crianças menores. Exame fisico -Avaliação geral: hidratação *Distúrbio metabólico mimetiza dor abdominal também -Inspeção/Percussão/Palpação -Toque retal: não faz de rotina, só em casos atípicos Exame complementar: melhor é o exame físico!! Conduta: -Ressucitação hidroelectrolítica -Antibioticoterapia: pré e pós-operatória, se não for inflamatório, para durante o ato cirúrgico, caso seja perfurada continua por 5-10 dias com aminoglicosídeo (gentamicina) e metronidazol (bacteroides fragilis), sempre começar da menor geração para evitar resistência bacteriana e ter ferramentas para futuras complicações. Deve ser amplo espectro. -Não complicada: dose única ou por 24 de cefoxitina -Complicada (gangrenosa ou perfurativa): 48h sem febre (mínimo 5 dias) com C3 + metronidazol ou ampicilina +AG + metronidazol/clindamicina. -Técnica cirurgia Resultados: -Mortalidade: 0,1% em apendicites não complicadas, 0,5% nas gangrenosas e 3-5% nas perfuradas. Invaginação/ intussuscepção intestinal Invaginação do intestino dentro dele mesmo levando a obstrução intestinal. A porção invaginada é chamada de intussuscepto e o intestino que recebe é denominado intussuscepiente. Incidência: causa mais frequênte de obstrução intestinal em lactente e crianças maiores, é mais prevalente durante o primeiro anos de vida, o pico de incidência é de 5-10 meses de vida, predominância no sexo masculino. 60% dos casos ocorrem durante o primeiro ano de vida e 90% ocorrem até o final do segundo ano de vida. Fisiopatologia: normalmente ocorre quando a porção proximal do intestino é conduzida para dentro da porção distal pelo movimento peristáltico. O mesentério do intestino proximal também invagina e a angulação e compressão, resulta em obstrução venosa, e edema da parede. Intussuscepção (alça + mesentério do intestino proximal pelo peristaltismo) >> angulação e compressão (edema de alça e mesentério) >> obstrução venosa (leva a progressão do edema e obstrução arterial)>> necrose/gangrena >> perfuração intestinal proximal. Sintomatologia: crianças eutróficas saudáveis, tem subitamente dor abdominal intensa, tipo cólica, de caráter intermitente, percebida normalmente com o choro da criança e flexão das pernas em direção ao abdome, eliminação de muco sanguinolenta via retal (fezes em geleia de framboesa, surgem de 24-48h), vômitos, sintomatologia de reflexo vagal durante os episódios álgicos. Manuelle graciano TRÍADE CLÁSSICA dor abdominal em cólica (20% não tem), fezes em “geléia-de-framboesa” ou hematoquezia, e uma massa abdominal palpável Exame físico: na palpação de massa palpável de aspecto tubular em quadrante superior direito do abdome, podendo ser subcostal, pode ser mal definida ou amolecida, deve-se observar tumoração elíptica “salsichoide” em mesogástrio e hipogástrio, fossa ilíaca direita vazia (sinal de dance - visto na radiografia), ao toque retal a ampola retal se encontra vazia, presença de muco sanguinolento, prolapso anal da cabeça da invaginação. No diagnóstico tardio pode haver desidratação, bacteremia com taquicardia e febre, peritonite e perfuração intestinal. Classificação: 1) Localização: alça delgada ou colônica A maior parte das intussuscepções pediátricas é ileocólica (75–95%). Intussuscepção entre alças delgadas na infância é incomum. 2) Etiologia: neoplásica, não-neoplásica ou idiopática Diagnostico: USG (imagem em pseudo rim ou alvo) *Quem tem irritação peritoneal vai direto pra sala Etiologia: maioria idiopática, existe a teoria de infecções por adenovírus e rotavírus, também é encontrado em alguns casos o espessamento de placas de Peyer , crianças mais velhas podem ser por linfoma não-hodgkin, crianças com fibrose cística (a média de idade para apresentação clínica para essas crianças é de 9 anos de idade). Pós-operatório de obstrução intestinal também pode causar. Existem causas específicas como íleo de Meckel (causa comum), pólipos, duplicação intestinal, linfomas e hemangiomas. -90% não apresenta um ponto inicial patológico, (cabeça da invaginação), sendo casos idiopáticos, a provável causa é por hipertrofia linfóide secundária a infecção viral. -Entre as intussuscepções causadas por um ponto inicial, a natureza deste depende da idade do paciente. Nas crianças com menos de dois anos, o ponto inicial é mais amiúde um divertículo de Meckel, enquanto na criança com cinco anos ou mais a causa mais frequente é linfoma ou linfossarcoma. -Em RN geralmente é por duplicação intestinal. *5% dos casos é invaginação íleo-ileal! *Giardíase pode causar diarreia com muco e sangue, faz diagnóstico diferencial. Tratamento: suporte clínico, enema opaco, laparotomia exploratória. -Tratamento conservador - Enema penumático 80-120 mmHg -Tratamento cirúrgico: laparotomia transversa Quantomais distal a intussuscepção, menor a taxa de redução terapêutica. Quando esta é encontrada no cólon ascendente, pode-se esperar taxa de redução de 75%; entretanto, apenas 25% das intussuscepção encontradas no reto podem ser reduzidas. Semi-obstrução por áscaris Maiores de 2 anos infestação maciça por ascaris lumbricoides.. -Quadro clínico: distensão abdominal, vômitos, parada de eliminação de fezes, eliminação de ascaris pela boca ou nariz. -Diagnostico: clinico -Tratamento clínico, e esporadicamente cirúrgico. *Piperazina imobiliza antes de utilizar medicação para matar o ascaris, para verificar se e semi obstrução utiliza se óleo mineral. USG e rx tem como ver também embora exames complementares não são necessários Causas cirúrgicas de dor abdominal IMIP 4ªed Manuelle graciano Os fenômenos fisiopatológicos relacionados ao abdome agudo estão relacionados com o peritônio, e as modificações intestinais. Peritônio: tem enorme rede capilar sanguínea e linfática, que justifica sua função protetora por meio da exsudação, absorção e formação de aderências. Se divide em: -Peritônio visceral: inervado pelo sistema nervoso autônomo, responde a um processo irritativo lentamente, por meio da instalação progressiva de um íleo paralítico localizado ou generalizado. A dor visceral é mal localizada, difusa e geralmente em cólica. -Peritônio parietal: inervado pelo sistema nervoso cérebro espinhal, responde rápido por meio da contratura da musculatura abdominal, que pode ser localizada ou generalizada. A dor parietal é constante, fixa e se agrava com o movimento ou aumento da pressão intra abdominal. O abdome agudo na criança é dividido por faixa etária. Lactente → Hérnia inguinal encarcerada -Causada pela persistência do conduto peritoniovaginal. Tem incidência nos primeiros 6 meses de vida e é mais comum nos meninos. -Clínica: choro contínuo, sem razão aparente, seguido de vômitos. -Exame físico: tumoração endurecida na região inguinoescrotal, pouco móvel, irretutível e dolorosa. -Diagnóstico diferencial: cisto de cordão espermático, hidrocele, torção de testículo. -Tratamento: inicialmente deve ser feita a redução manual, após sedação com dolantina. Caso haja longo tempo de evolução da doença ou comprometimento do estado geral a cirurgia está indicada. Após a redução manua, deve-se fazer entre 24-48h a cirurgia de hernia inguinal. -Complicação: sofrimento testicular. → Invaginação intestinal -Conceito: penetração de uma alça intestinal dentro de si mesma. -Epidemiologia: causa mais frequente de abdome agudo no lactente, pico de incidência entre 4-9 meses de idade com predominância no sexo masculino. *Ocorre principalmente nos meses do ano em que há maior número de infecções respiratórias e digestivas. -Etiologia: invaginação pela peristalse intestinal, o mesentério também invagina e causa obstrução venosa e edema de parede, levando a obstrução do fluxo arterial, isquemia e necrose, podendo levar à perfuração. *80% são íleocecólicas, iniciando-se no íleo terminal, podendo levar até o prolapso retal. *Também pode ser ileoileal mais frequente no pós-operatório. 90% idiopática, 10% tem efeito desencadeante que na maioria das vezes é por nódulo linfóide hipertrofiado, mas também pode ser por divertículo de Meckel, pólipos, hemangiomas, linfoma (suspeitas quando criança tiver mais de 3 anos), ou duplicação intestinal. -Etiologia: a faixa etária tem válvula ileocecal mais ampla antes do 1º ano, o mesentério é mais longo, e há um menor grau de fixação do ceco e cólon direito. *Mudança alimentar pode levar a processo irritativo entérico seguido de hiperplasia linfóide e distúrbios da motricidade intestinal. *Infecções por adenovírus e rotavírus podem levar a um espessamento das placas de Peyer -Tratamento: redução hidrostática ou pneumática (guiadas por USG, as crianças devem estar dentro da faixa etária de 2 meses a 2 anos, clinicamente bem, sem peritonite, e com história menor que 36 horas) ou cirúrgico em casos de perfuração intestinal ou falha a redução, deve ser realizada ordenha manual, e em caso de necrose ou alça inviável ressecção do segmento proximal e anastomose primária. Manuelle graciano *Taxa de recorrência é de 10% independente da redução ou cirurgia. Abdome agudo no pré- escolar e escolar → Apendicite -Conceito: processo inflamatório no apêndice geralmente secundário a obstrução da luz apendicular. -Epidemiologia: é a principal causa de cirurgia abdominal na criança. Mais frequente após os 4 anos, com pico de incidência entre os 8-12 anos, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária. -Etiologia: normalmente secundária a processo inflamatório com hiperplasia linfóide apendicular ou a fecalito/parasitoses. -Etiopatogenia: a obstrução favorece o processo de proliferação bacteriana, e desenvolvimento de processo inflamatório apendicular, inicialmente na mucosa e submucosa com reação exsudativa (apendicite aguda catarral). Nessa fase, por irritação dos plexos autônomos submucoso e mioentérico, inicia-se o quadro álgico com dor periumbilical mal caracterizada, seguida por vômitos. A seguir ocorre a obstrução vascular , que leva a edema (apendicite edematosa), e posteriormente progressão do processo inflamatório para todas as camadas da parede apendicular (apendicite aguda flegmonosa), com piora do retomo venoso e posterior necrose do apêndice, seguida de ruptura (apendicite aguda gangrenosa), com disseminação do conteúdo da luz apendicular e de bactérias para a cavidade abdominal, com evolução para peritonite. O envolvimento do peritônio, já na fase edematosa, traduz-se clinicamente por dor localizada na fossa ilíaca direita. A febre traduz o início do processo inflamatório e infeccioso. *A necrose apendicular desencadeia o processo de bloqueio pelo epíploo e alças intestinais nas crianças maiores fazendo com que a apendicite seja localizada. -Diagnóstico: clínica!! *No USG pode ser visto o apêndice, que normalmente não é, líquido na FID. -Tratamento: sempre cirúrgico. -Complicações: abscesso de parede, abscessos intracavitários e bridas. NO sexo feminino pode haver esterilidade no casos de apendicite perfurada. → Infestação maciça por ascaris -Conduta na obstrução por áscaris é dieta zero, instalação de sonda nasogástrica, hidratação e correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, uso de antiespasmódicos e de óleo mineral (20 mL/kg a cada 4 horas). Após o retomo do peristaltismo intestinal, deve-se iniciar o mebendazol em doses habituais. O óleo mineral auxilia na dissolução do novelo de áscaris e facilita a progressão dos vermes até eles serem expelidos. -Cirurgia: é reservada para os casos em que há obstrução intestinal completa, como no volvo intestinal, quando o tratamento clínico não surte efeito após 48 horas e há deterioração do estado geral do paciente ou perfuração intestinal. A conduta cirúrgica irá variar desde a simples ordenha manual dos áscaris até a ressecção intestinal com enterostomias. Manuellegraciano@gmail.com Manuelle graciano mailto:Manuellegraciano@gmail.com
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