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Anna Victória T17 - Pneumologia 1 Bronquiectasias Não fibrocísticas Definição • Dilatação brônquica irreversível demonstrada radiograficamente, usualmente por uma TC de tórax • Compartilha características de DPOC: ✓ Vias aéreas inflamadas cronicamente ✓ Obstrução ao fluxo aéreo ✓ Hospitalizações frequentes Tomografia de tórax com bronquiectasia Tomografia de tórax normal, sem bronquiectasia. • Para dar o diagnóstico de bronquiectasia é necessário tomografia de tórax, obrigatoriamente. Epidemiologia • Prevalência no Brasil subestimada pela falta de dados ✓ Poucos centros de referência • Dados americanos: ✓ Aumento da prevalência ✓ Maior detecção ao método mais disponível (a tomografia é um método muito mais acessível do que era antigamente) ✓ Custos mais elevados devido: • Medicações inalatórias • Internações frequentes • Antibiótico de amplo espectro e por tempo mais prolongado (quando esses pacientes internam geralmente é por infecções por bactérias mais resistentes) • Principal representante do seguimento: ✓ Fibrose cística ✓ Mudou a mortalidade com acompanhamento multidisciplinar Fisiopatologia 1. Agressão ambiental (infecção) → No paciente com bronquiectasia existe um fator inicial (geralmente é uma infecção) que vai agredir o pulmão do pct, o grande exemplo no nosso meio é a tuberculose. 2. Pulmões susceptíveis ✓ Transporte mucociliar (discinesia ciliar congênita) → típico da fibrose cística (A discinesia ciliar congênita atrapalha o transporte ciliar) Anna Victória T17 - Pneumologia 2 ✓ Disponibilidade de IgG e antiprotease nos espaços aéreos distais (deficiência de IgG e antiproteases nos espaços aéreos distais → exemplos de deficiências de defesa pulmonar) • Prejuízo nos mecanismos de defesa: ✓ Dificultam a eliminação de partículas biológicas e não biológicas • Proliferação de micro-organismos nas vias aéreas: ✓ Mudam o microbioma pulmonar ✓ Favorecem a inflamação neutrofílica • Cronicamente: ✓ Lesão estrutural da via aérea ✓ Infecções crônicas ✓ Inflamação crônica ✓ Mais lesão... • Fibrose cística e discinesia ciliar → os mecanismos de limpeza (clareance) das vias aéreas não conseguem eliminar bem as secreções → isso gera infecções, como pneumonias, tuberculose, micobacteriose não tuberculosa etc. → essas infecções vão inflamar as vias aéreas e há doenças que inicialmente inflamam as vias aéreas, como a doença do tecido conjuntivo, lúpus, artrite reumatoide, doenças inflamatórias intestinais, refluxo gastresofágico (microaspiração crônica) → dano estrutural nas vias aéreas, por exemplo, as doenças infamatórias intestinais (doença de Crohn), defeitos anatômicos congênitos podem causar bronquiectasia e isso vai gerando mais ineficiência dos mecanismos de limpeza das vias aéreas, mais infecção, mais inflamação, o que gera mais dano. O paciente entra num “círculo vicioso” de progressão, por isso essas lesões são consideradas irreversíveis, são cursos de lesão, cicatrização, ocasionando dilatação brônquica. • Não é muito melhor o brônquio está dilatado (devido ao ar passar com mais facilidade)? ✓ O problema é que o ar mesmo passando naquele segmento com mais facilidade acumula secreção, essa via aérea não limpa e ali só serve para acumular catarro, não serve para as trocas gasosas, que é a função pulmonar. Causas principais • Obstrução brônquica crônica → aspiração de corpo estranho, ex: famoso osso de galinha (o fato de ter obstrução atrapalha a limpeza da via respiratória, gerando infecção, inflamação, dano estrutural, problema na limpeza e consequentemente causando bronquiectasia), tumores, impactação mucoide • Defeitos anatômicos também podem causar obstrução brônquica, como vasculares (sequestro pulmonar), broncomalacia Anna Victória T17 - Pneumologia 3 • Imunodeficiências, o tipo mais comum é a imunodeficiência comum variável (IDCV), onde o indivíduo tem deficiência de quase todas as imunoglobulinas, ou seja, acaba sendo um indivíduo mais susceptível a infecções. • Uma grande diferença da bronquiectasia por imunodeficiência comparada com a causada por obstrução é que a por obstrução só causa bronquiectasia no segmento que está obstruído. A bronquiectasia por imunodeficiência causa bronquiectasia difusa. • Defeitos de secreção/de limpeza → fibrose cística • Outras doenças como a deficiência de alfa-1-antitripsina (causa de DPOC), doenças reumatológicas (artrite reumatoide), síndrome de Sjogren, doença de Crohn, retocolite ulcerativa podem causar bronquiectasia • Infecções na infância (a grande causa de bronquiectasias é por infecções prévias) → no nosso meio a principal causa é a tuberculose. Apresentação Clínica • Sintomas ✓ Tosse crônica ✓ Expectoração mucopurulenta ✓ Dispneia ✓ Rino sinusites ✓ Hemoptise ✓ Dor pleurítica ✓ Fadiga ✓ Incontinência urinária (tosse) ✓ Redução do olfato ✓ Osteopenia/ osteoporose • Exame físico ✓ Crepitações localizadas ou difusas ✓ Sibilos expiratórios ✓ Baqueteamento digital (2%) Obs: O típico da história desses pacientes é que são aqueles pacientes que vivem no hospital, vivem tendo infecção de repetição, pneumonia de repetição (1,2,3,4,5 pneumonias por ano, sendo algumas delas internas e outras não) Diagnóstico (por imagem) • Tc de tórax de Alta Resolução (TCAR): ✓ Padrão ouro ✓ Dilatação da luz dos brônquios ✓ Espessamento da parede brônquica ✓ Auxilia na identificação da etiologia ou grupo de etiologias Outros achados: ✓ Dilatação de bronquíolos ✓ Bronquíolos preenchidos por secreção (bronquiolite, árvore em brotamento) ✓ Atenuação em mosaico (cortes em expiração) Anna Victória T17 - Pneumologia 4 Algoritmo para o diagnostico e a investigação etiológica das bronquiectasias • Quadro clínico: tosse produtiva crônica e/ou infecções respiratórias de repetição. TCAR de tórax com alteração compatível com bronquiectasia • Investigar: hemograma, alfa-1-antitripsina, dosagem de imunoglobulinas (dosar imunoglobulinas principalmente se o pct tiver infecções recorrentes com pneumonias e diarreias) • Alfa-1-Antitripsina baixa pode lembrar DPOC, a bronquiectasia pode ser no contexto da DPOC tabágica ou não tabágica • Escarro: extremamente importante para identificar micobactérias, fungos e bactérias • Teste do cloro no suor: triagem para fibrose cística. A fibrose cística é típica daquele pct que tem história familiar, pancreatite crônica, diarreia crônica, infertilidade ou estafilococos no escarro. Se o cloro no suor der elevado é um teste de triagem positivo para fibrose cística • Bronquiectasias centrais com IgG E alto → asma, aspergilose broncopulmonar alérgica (indivíduo com hipersensibilidade ao fungo Aspergilus, o fungo não causa a infecção, a pessoa que é hipersensível ao Aspergilus) • A discinesia ciliar primária é uma condição congênita que é investigada principalmente nos indivíduos do sexo masculino que não tem filhos e que são considerados inférteis pelo espermograma • Doenças reumatológicas ou doença inflamatória intestinal com clínica compatível • A principal causa de bronquiectasia é a pós-infecciosa. Anna Victória T17 - Pneumologia 5 Acompanhamento • Espirometria: ✓ Distúrbio obstrutivo ✓ VEF1 correlaciona-se com a dispneia • Pletismografia (função pulmonar completa): ✓ Hiperinsuflação ✓ Aumento do volume residual ✓ Aumento da relação VR/CPT • Teste de caminhada de 6 minutos: medir a capacidade funcional do paciente • Micro-organismos potencialmente patogênicos (MPP): ✓ Maior inflamação ✓ Pior prognóstico ✓ Redução da microbiota pulmonar Pseudomonas aeruginosa (principal germe causador da infecção brônquica crônica) ✓ Tentar erradicação com antibióticos ✓ Caso 03 tentativas com cultura persistente positiva = infecção brônquica crônica → sinal de pior prognóstico Coletar cultura de escarro (quandoo pct está estável): ✓ Germes aeróbios a cada 3-4 meses ✓ Fungos e micobactéria anualmente Acompanhar qualidade de vida Marcadores sistêmicos (não ajudam muito): ✓ PCR (comum estar elevado na maior parte do tempo) ✓ Leucocitose ✓ Sem evidências para uso rotineiro Escores de gravidade: E-FACED: ✓ E xacerbações ✓ VEF1 (F unção pulmonar) → quanto pior o VEF1, pior o prognóstico ✓ Idade (A ge) → quanto mais velho o pct, pior o prognóstico ✓ C olonização por Pseudomonas ✓ E xtensão de lobos acometidos → > 2 lobos comprometidos é considerado pior prognóstico ✓ D ispneia (MMRC) → 3 ou 4 é considerado pior prognóstico • Idade, VEF1 e exacerbação pontuam mais, são critérios que estão associados com pior prognóstico. Anna Victória T17 - Pneumologia 6 Algoritmo para o manejo terapêutico do paciente estável com bronquiectasia Anna Victória T17 - Pneumologia 7 • O único antibiótico oral disponível é o ciprofloxacino, todos os outros são inalatórios (que são caros, não são tão acessíveis) como a gentamicina, tobramicina nebulizada, colístimetato ou endovenosos (necessitam de internação) • Inalatório tratamento por 3 meses • Endovenoso 14 dias • Daí a grande importância de investigar a causa da bronquiectasia, para que se possa fazer um tratamento mais específico. Exacerbações • Piora dos três ou mais dos sintomas por pelo menos 48 horas: ✓ Tosse ✓ Volume ou viscosidade do escarro ✓ Purulência do escarro ✓ Dispneia ou intolerância ao exercício ✓ Fadiga ✓ Hemoptise Anna Victória T17 - Pneumologia 8 Fluxograma para o manejo terapêutico na exacerbação
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