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1 Princípios Básicos do Treinamento de Força e Prescrição de Exercício O treinamento de força, também conhecido corno treinamento contra resistência ou treinamento com pesos, tornou-se uma das formas mais populares de exercício para melhorar a aptidão física de um indivíduo e para o condicionamento de atletas. Os termos treinamento contra resistência, treinamento com pesos e treinamento de força têm sido utilizados para descrever um tipo de exercício que exige que a musculatura do corpo promova movimentos (ou tente mover) contra a oposição de uma força geralmente exercida por algum tipo de equipamento. Os termos treinamento contra resistência e treinamento de força abrangem urna ampla faixa de modalidades de treinamento, incluindo pliométricos e corridas em ladeiras. O termo treinamento com pesos normalmente se refere apenas ao treinamento de força comum, utilizando pesos livres ou algum tipo de equipamento de treinamento com pesos. O crescente número de salas de musculação em clubes, universidades e escolas atesta a popularidade dessa forma de condicionamento físico. Os indivíduos que participam de um programa de treinamento de força esperam que ele produza determinados benefícios, tais como aumento de força, aumento da massa magra, diminuição da gordura corporal e melhoria do desempenho físico em atividades esportivas e da vida diária. Um programa de treinamento de força bem elaborado e consistentemente desenvolvido pode produzir todos esses benefícios. O entusiasta da aptidão física, o praticante de musculação amador e o atleta esperam ganhos em força ou tamanho) muscular (hipertrofia muscular) a partir de um programa de treinamento de força. Várias modalidades desse treinamento (p. ex., isocinético, resistência variável, isométrico, pliométrico) podem ser utilizadas para atingir tais objetivos. Além disso, muitos sistemas de treinamento ou programas (p. ex., combinações de séries, repetições e cargas) podem produzir aumentos significativos na força ou na hipertrofia muscular, proporcionais ao estímulo efetivo de treinamento apresentado ao músculo). Os ganhos em aptidão física continuarão enquanto o estímulo de treinamento permanecer efetivo. A efetividade de um tipo específico de modalidade de treinamento de força, sistema de treinamento ou programa de treinamento depende da sua utilização adequada na prescrição total de exercício. A maioria dos atletas e entusiastas da aptidão física espera que os ganhos em força e potência produzidos por um programa de treinamento de força resultem no desempenho melhorado das atividades esportivas e da vida diária. O treinamento de força pode melhorar o desempenho motor (p. ex., a capacidade de tiro de corrida, de arremesso de um objeto ou de subir escadas), que pode, por sua vez, levar a um melhor desempenho em diversos jogos, esportes e atividades da vida diária. A quantidade de transferência de um programa de treinamento de força para uma atividade física determinada depende da especificidade ou transferência entre o programa de treinamento e a atividade. Por exemplo, exercícios multiarticulares, como os arranques a partir dos joelhos, podem ter maior capacidade de transferência para a habilidade no salto vertical do que exercícios monoarticulares isolados, como as extensões ou flexões de joelhos. Tanto os exercícios multi quanto os monoarticulares aumentam a torça dos grupos musculares do quadríceps e dos isquiotibiais. Entretanto, uma maior similaridade dos movimentos biomecânicos e dos padrões de recrutamento das fibras musculares entre um exercício multiarticular e a maioria das atividades esportivas e da vida diária resulta em maior especificidade de transferência. Portanto, em geral, exercícios multiarticulares têm maior especificidade de transferência do que exercícios monoarticulares. A alteração da composição corporal também é o objetivo de muitos entusiastas da aptidão física e atletas engajados em programas de treinamento de força. Normalmente as alterações desejadas são a diminuição na quantidade de gordura corporal e o aumento na massa magra. Entretanto, alguns indivíduos também desejam um ganho ou perda na massa corporal total. Todas essas alterações podem ser obtidas em um programa de treinamento de força adequadamente elaborado e desenvolvido. O sucesso de qualquer 2 programa na produção de adaptações específicas depende da efetividade da prescrição do exercício, que, em última análise, produz o estímulo do treina mento. O treinamento de força pode produzir as alterações na composição corporal, na força, na hipertrofia muscular e no desempenho motor que muitos indivíduos desejam. Para obter alterações ótimas nessas áreas, os indivíduos devem aderir a alguns princípios básicos. Esses princípios se aplicam independentemente da modalidade, do tipo ou do sistema do programa utilizado. Definições Básicas Antes de discutir os princípios básicos do treinamento de força, definiremos alguns termos normalmente utilizados na descrição dos programas ou princípios do treinamento de força. Quando um peso está sendo levantado, os músculos envolvidos normalmente estão encurtando ou realizando uma ação muscular concêntrica. Durante uma ação muscular concêntrica ocorre o encurtamento do músculo e, portanto, a palavra contração também é adequada para este tipo de ação muscular. • Quando um peso está sendo baixado de maneira controlada, os músculos envolvidos são normalmente alongados de maneira controlada, o que é chamado de ação muscular excêntrica. Os músculos somente podem encurtar ou alongar de maneira controlada; eles não podem forçar contra os ossos aos quais estão fixados. Na maioria dos exercícios, a gravidade puxará o peso de volta à posição inicial de um exercício. Para controlar o peso à medida que ele retorna para a posição inicial, os músculos devem alongar de maneira controlada, ou o peso cairá de forma abrupta. • Quando um músculo é ativado e desenvolve força, mas nenhum movimento visível ocorre na articulação, acontece uma ação muscular isométrica. Isso pode ocorrer quando um peso é mantido estacionário ou quando uma carga é muito pesada para ser levantada. A força em uma ação isométrica máxima é maior do que a força concêntrica máxima em qualquer velocidade de movimento, porém é menor do que a força excêntrica máxima em qualquer velocidade de movimento. • A repetição é o movimento completo de um exercício. Ela normalmente consiste em duas fases: a ação muscular concêntrica, ou o levantamento da carga, e a ação muscular excêntrica, ou o abaixamento da carga. • A série é um grupo de repetições realizadas continuamente, sem interrupção ou descanso. Apesar de uma série poder consistir em qualquer número de repetições, normalmente são utilizadas de 1 a 15 repetições. Repetição máxima, ou RM é o número máximo de repetições por série que pode se realizado com a técnica correta utilizando-se determinada carga. Portanto, uma série de determinada RM implica que ela seja realizada até que haja fadiga voluntária momentânea. A carga mais pesada que pode ser utilizada em uma repetição completa de um exercício é considerada 1RM. Uma carga mais leve que permite completar 10 repetições, e não 11, com a técnica correta é considerada 1ORM. Principais ações musculares. (a) Durante uma ação muscular concêntrica, o músculo encurta. (b) Durante uma ação muscular excêntrica, o músculo estira de maneira controlada. (c) Durante uma ação muscular isométrica, nenhum movimento articular ocorre e não há encurtamento ou estiramento total do músculo. • Potência é a taxa de realização de trabalho. A potência durante uma repetição é definida como o peso levantado multiplicado pela distância vertical pela qual ele é levantado dividido pelo tempo para completar a repetição. Se 45 kg (445 N) são levantados verticalmente por 0,9 m em 1 segundo, a potência é igual a 45 kg multiplicados por 0,9m e divididos por 1 segundo, ou 40,5 kg m s’ (ou cerca de 400 W). A potência durante uma repetição pode ser aumentada pelo levantamento do mesmo peso na mesma distância vertical em um menor período de tempo). A potência também pode ser aumentada levantando-se uma carga maior na mesma 3 distância vertical e no mesmo período de tempo de uma carga mais leve. Normalmente, fatores tais como o comprimento do braço ou da perna limitam o aumento da potência pelo movimento do peso em uma distância maior. Portanto, o único modo de aumentar a potência é aumentar a velocidade de movimento ou levantar uma carga maior na mesma velocidade ou em velocidade maior do que aquela em que é levantada uma carga mais leve. • Força é a quantidade máxima de força que um músculo ou grupo muscular pode gerar em um padrão específico de movimento em determinada velocidade específica (Knuttgen e Kraemer, 1987). Em um exercício como o supino, 1RM é a medida de força em uma velocidade relativamente lenta. A clássica curva força- velocidade concêntrica indica que, à medida que a velocidade aumenta, a força máxima diminui. Por outro lado, uma vez que a velocidade excêntrica aumenta, a força máxima aumenta até atingir um platô. Ações Musculares Voluntárias Máximas As ações musculares voluntárias máximas parecem ser um meio efetivo de aumentar a força muscular. Isso não significa que a carga máxima para realizar uma repetição completa (1RM) deva ser levantada. A realização de ações musculares voluntárias máximas significa que o músculo deve contrair com uma resistência que apresente um nível de fadiga suportável. A força que um músculo parcialmente fatigado pode gerar durante uma ação muscular máxima não é tão grande quanto a que ele gera quando não está em fadiga. A última repetição de uma série que provoque falha concêntrica momentânea e, portanto, uma ação muscular voluntária máxima, mesmo que a força produzida não seja a máxima absoluta devido à fadiga parcial do músculo. Muitos sistemas de treinamento de força utilizam a falha concêntrica momentânea ou a carga RM como meio de assegurar o desempenho de ações musculares voluntárias máximas. Isso assegura que os aumentos de força, potência ou resistência muscular localizada desejados ocorram. O desempenho de ações musculares voluntárias máximas no treinamento de força é freqüentemente citado como sobrecarga do músculo. O músculo deve contrair contra uma resistência que ele normalmente não encontra, para que ocorram alterações fisiológicas que resultem nos efeitos desejados. Entretanto, aumentos máximos em força podem ocorrer, pelo menos em algumas populações (i. e., seniores), sem o desempenho das ações musculares voluntárias máximas durante cada sessão de treinamento semanal (Hunter et ai., 2001). Nesse estudo, ganhos equivalentes de força e de massa magra foram demonstrados para um grupo que realizou ações musculares voluntárias máximas durante as três sessões semanais e um grupo que as realizou em apenas uma das sessões semanais de treinamento. Entretanto, é importante observar que as ações musculares voluntárias máximas foram realizadas pelo menos uma vez por semana. Em alguns exercícios, o desempenho das ações musculares voluntárias máximas não indica, necessariamente, que a última repetição de uma série foi completada. Por exemplo, quando algumas fibras musculares entram em fadiga durante os arremessos, mesmo que o indivíduo esteja fazendo esforço máximo, a velocidade da barra diminui e o peso não é puxado até a mesma altura da primeira repetição de uma série. Por ele desenvolver força máxima em um estado parcialmente fatigado, esta é, por definição, uma ação muscular voluntária máxima. Alguns equipamentos de treinamento de força têm sido especifica mente desenvolvidos para forçar o músculo a realizar ações voluntárias máximas tanto) em maiores amplitudes de movimento como com mais repetições em uma série. O desenvolvimento de equipamentos como os de resistência variável e dos isocinéticos, atesta a necessidade de ações voluntárias máximas. Todos os levantadores olímpicos, os levantadores de potência e os fisiculturistas competitivos utilizam essas ações em algum ponto dos seus programas de treinamento. Isso indica que os levantadores competitivos perceberam a necessidade de tais 4 ações em algum ponto do processo de treinamento para os ganhos ótimos em força ou hipertrofia musculares. Intensidade A intensidade e a produção de potência estão altamente relacionadas com as ações musculares voluntárias máximas. A potência pode ser aumentada utilizando-se cargas mais pesadas e realizando-se repetições na mesma velocidade de movimento em alguns exercícios ou levantando-se ou movendo-se determinadas cargas em velocidades mais altas em outros exercícios. Quanto mais próxima do máximo a velocidade concêntrica, maior será a potência. Isso é verdadeiro tanto para exercícios mono quanto paira multiarticulares (Komi, 1979) Aumentar a potência de um exercício pelo aumento da velocidade de movimento é importante quando o objetivo principal é aumentar a produção de potência do músculo, e não só a capacidade de produzir força máxima (capacidade de 1 RM). A intensidade de um exercício pode ser estimada como o percentual de 1RM ou qualquer carga RM para o exercício. A intensidade mínima que pode ser utilizada para realizar uma série até a fadiga voluntária momentânea em jovens saudáveis a fim de gerar aumento de força é de 60 a 65 % de 1 RM (McDonagh e Davies, 1984; Rhea et ai., 2003). Entretanto, a progressão com cargas na faixa de 50 a 600 de 1 RM pode ser efetiva e resultar em maiores aumentos do 1 RM do que a utilização de cargas mais pesadas em algum as populações (p. ex., em mulheres seniores). Além disso, aproximadamente 80% de 1 RM resulta em ganhos máximos de força em indivíduos treinados em força (Rhea et ai., 2003). A realização de um grande número de repetições com cargas muito leves resultará em nenhum ou mínimo ganho em força. Entretanto, o número máximo de repetições por série de um exercício que resultará em ganho de força varia de exercício para exercício e de grupo muscular para grupo muscular. Por exemplo, o número máximo possível de repetições a 60% de 1RM para o leg press é 34 e para a flexão de joelhos é 11 (Hoeger et aI., 1987). Diferentemente do que ocorre com a intensidade de exercício aeróbio, a intensidade do treinamento de força não pode ser estimada pela freqüência cardíaca durante o exercício, pois ela não varia de acordo com a intensidade do exercício (ver Figura 1.2). A freqüência cardíaca atingida durante as séries até a fadiga voluntária momentânea entre 50 e 80% de 1RM pode ser maior do que a freqüência cardíaca atingida durante as séries de 1RM ou séries realizadas até a fadiga voluntária momentânea em percentuais mais altos de 1RM (Fleck e Dean, 1987). Volume de Treinamento O volume de treinamento é a medida da quantidade total de trabalho (joules) realizado em uma sessão, em uma semana, um mês ou algum outro período de treinamento. A freqüência (número de sessões de treinamento por semana, mês ou ano, a duração da sessão de treinamento, o número de séries, o número de repetições e o número de exercidos realizados por sessão têm impacto direto no volume de treinamento. O método mais simples de estimar o volume é a soma do número de repetições realizadas em um período de tempo específico, como uma semana ou um mês de treinamento. O volume também pode ser estimado pela quantidade total de peso levantado. Por exemplo, se 45 kg são utilizados para realizar 10 repetições, o volume de treinamento é 450 kg (10 repetições multiplicadas pelos 45 kg). O volume de treinamento é determinado mais precisamente pelo cálculo do trabalho realizado. O trabalho tal de uma repetição é a carga multiplicada pela distância vertical em que o peso é levantado. Portanto, se 45 kg ou 445 N são levantadosverticalmente 0,9 m em uma repetição, o volume ou trabalho total é dado por 445 N multiplicados por 0,9 m ou 400 J. O volume de treinamento para uma série de 10 repetições, neste exemplo, é 400 J por repetição multiplicados por 10 repetições, ou seja, 4.000 J. O cálculo do volume de treinamento é útil na determinação do estresse total do treinamento. 5 Existe uma relação entre volume e resultados de treinamento, como hipertrofia muscular, diminuição do percentual de gordura corporal, aumento da massa magra e até mesmo desempenho motor. Volumes maiores de treinamento também podem resultar em perdas mais lentas dos níveis de força após a interrupção do treinamento (Hather et ai., 1992). Portanto, o volume de treinamento deve ser considerado quando se elabora um programa de treinarnento de força. A variação planejada no volume e na intensidade do treinamento é extremamente importante para ganhos ótimos contínuos na força, bem como para outros resultados do treinamento. Além disso, as alterações nas outras variáveis do treinamento, como a escolha do exercício, também podem ser feitas de forma regular ou periodizada. Variações na posição de pés, mãos e outras partes do corpo que não afetem a segurança do indivíduo podem ser utilizadas como rima diversificação no treinamento e não alteram os padrões de recrutamento das fibras musculares. A utilização de diversos exercícios para variar os estímulos de condicionamento de um determinado grupo muscular também é um meio válido pelo qual os padrões de recrutamento das fibras musculares podem ser alterados na tentativa de produzir aumentos contínuos na força e na hipertrofia musculares (ver a discussão da ativação das unidades motoras no Capítulo 3). A periodização é necessária para se obter ganhos ótimos na força e na potência à medida que o treinamento progride (American College of Sports Medicine, 2002). Sobrecarga progressiva A sobrecarga progressiva se refere à prática de aumentar continuamente o estresse muscular uma vez que ele se torna capaz de produzir maior força ou se torna mais resistente. No início de um programa de treinamento, a carga de 5RM para a rosca bíceps pode ser 23 kg, o que é um estímulo suficiente para produzir aumento de força. À medida que o treinamento progride, 5 repetições com 23 kg podem não ser um estímulo suficiente para produzir mais ganhos de força porque o indivíduo agora consegue realizá-las facilmente com esta carga; em conseqüência, a carga não deve mais ser de 5RM. Se o estímulo de treinamento não for aumen- tado, não ocorrerão mais ganhos de força. Existem diversos métodos de sobrecarga progressiva do músculo (American College of Sports Medicine, 2002). O mais comum é aumentar a carga para realizar determinado número de repetições. A utilização de RMs ou zonas de treinamento RM (i.e., carga que permite a realização de 6 a 8 repetições por série) fornece automaticamente uma sobrecarga progressiva porque, quando a força muscular aumenta, a carga necessária para realizar 1RM ou ficar dentro de uma zona RM aumenta. Por exemplo, a carga de 5RM pode aumentar de 23 para 27 kg após diversas semanas de treinamento. Outros métodos de sobrecarga progressiva do músculo incluem o aumento do volume total de treinamenlo pelo aumento do número de repetições ou séries; o aumento da velocidade de execução da repetição com cargas submáximas; a alteração dos períodos de recuperação entre os exercícios (i.e., encurtando o período de recuperação para aumentos da resistência aeróbia ou aumentando esse período para o treinamento de força e potência máximas); e a alteração do volume total de treinamento mudando o número de repetições, séries e exercícios realizados. A sobrecarga progressiva de qualquer tipo deve ser gradualmente introduzida no programa de treinamento a fim de que haja tempo suficiente para que o indivíduo se adapte e alcance as adaptações fisiológicas. Devido a esses fatores e à possibilidade de sobretreinamento, as alterações no volume total de treinamento devem ser feitas com pequenos incrementos de 2,5 a 5% (American College of Sports Medicine, 2002). Os períodos de recuperação entre as séries de um exercício, entre os exercícios e entre as sessões de treinamento são importantes para o sucesso de qualquer programa. Os períodos de recuperação entre as séries e entre os exercícios durante uma sessão de treinamento são determinados, em grande parte, pelos objetivos 6 do programa de treinamento. Sua duração afeta a recuperação entre as séries e os exercícios e as respostas hormonais à sessão de treinamento. Os períodos de recuperação entre as séries e os exercícios, a carga utili- zada e o número de repetições realizadas por série podem afetar o formato e os objetivos do programa. Em geral, se o objetivo é aumentar a capacidade de força máxima, períodos relativamente longos (diversos minutos), cargas pesadas e 3 a 6 repetições por série são sugeridos. Quando o objetivo é aumentar a capacidade de realizar exercícios de alta intensidade por rim período de diversos segundos, os períodos de recuperação entre as séries devem ser menores do que 1 minuto. As repetições e a carga podem variar de 5 a 15RM, dependendo do tipo exato de capacidade de alta intensidade que se deseja aumentar. Se o objetivo é a melhoria da resistência aeróbia de longa duração (potência aeróbia), o treinamento de força em circuito com curtos períodos de recuperação (menos de 30 s), cargas relativamente leves e 10 a 15 repetições por série é a prescrição adequada do treinamento. Muitos entusiastas da aptidão física e alguns atletas permitem um dia de repouso entre as sessões de treinamento para determinado grupo muscular. Essa é uma boa regra geral, apesar de algumas evidências indicarem que outros padrões de sessões de treinamento e períodos de recuperação são igualmente ou até mais benéficos (ver a discussão sobre os períodos de recuperação entre as sessões no Capítulo 5 e a discussão sobre duas sessões de treinamento por dia no Capítulo 7). Uma indicação prática dos períodos de recuperação entre as sessões de treinamento é a dor muscular residual. Quando ela interfere no desempenho da sessão de treinamento seguinte, o período de recuperação entre as sessões de treinamento provavelmente foi insuficiente. Especificidade da Velocidade Diversos treinadores e atletas sabem que parte do treinamento de força deve ser realizada na velocidade exigida pela atividade esportiva real. Para muitas dessas actividade isso significa alta velocidade de movimento. A especificidade da velocidade é o conceito de que o treinamento de força produz seus maiores ganhos de força na velocidade na qual ele é realizado. O desenvolvimento de potência está altamente associado com a velocidade de movimento . Há especificidade de velocidade, entretanto, se o objetivo do treinamento é aumentar a força em todas as velocidades de movimento, a velocidade intermediária é a melhor escolha. Portanto, para o indivíduo interessado no ganho de força em geral, uma velocidade de treinamento intermediária deve ser recomendada. Entretanto, o treinamento com velocidade rápida e carga leve e o treinamento com velocidade menor e carga pesada demonstram ganhos de força específicos para a velocidade. Assim, o treinamento específico para a velocidade a fim de maximizar os ganhos em força e potência é adequado para atletas e entusiastas da aptidão física em algum ponto de seus programas de treinamento. Especificidade da Ação Muscular Se um indivíduo treina isometricamente e avalia o progresso com ação muscular estática, um grande aumento na força pode ser aparente. Entretanto, se o mesmo indivíduo determina o progresso utilizando ações excêntricas ou concêntricas, pouco ou nenhum aumento na força poderá ser demonstrado. Isso é chamado de especificidade da ação muscular ou especificidade de avaliacão. Essa ação muscular ou especificidadede avaliação indica que os ganhos na força são, em parte, específicos ao tipo de ação muscular utilizado no treinamento (p. ex., isométrica, de carga variável, isocinética). Essa especificidade dos ganhos de força é causada por adaptações neurais, resultando na capacidade de recrutamento dos músculos que realizam determinado tipo de ação muscular (ver discussão sobre as adaptações do sistema nervoso no Capítulo 3). Sendo assim, o programa de treinamento ou a atividade ou esporte específicos devem incluir os tipos de ações musculares encontradas nesses esportes ou atividades. Por exemplo, as ações musculares isométricas são fre- 7 qüentemente realizadas durante a luta greco-romana; portanto será benéfico incorporar o treinamento isométrico ao programa de treinamento de força dos lutadores. Especificidade do Grupo Muscular Especificidade do grupo muscular significa simplesmente que cada grupo muscular que exija ganhos de força ou outras adaptações ao treinamento de força deve ser treinado. Se o aumento da força dos flexores (bíceps) e dos extensores (tríceps) dos cotovelos é desejado, os exercícios para esses grupos musculares precisam ser incluídos no programa. Os exercícios de um programa de treinamento devem ser especificamente escolhidos para cada grupo muscular para o qual se desejam adaptações ao treinamento, como o aumento de força, de resistência muscular localizada ou hipertrofia. Especificidade da Fonte Energética Especificidade da fonte energética se refere ao conceito de que qualquer treinamento físico pode provocar adaptações dos sistemas metabólicos predominantemente utilizados para suprir a energia necessária aos músculos que realizam determinada atividade física. Existem duas fontes anaeróbias e uma aeróbia para as ações musculares. As fontes anaeróbias suprem a maior parte da energia para eventos de curta duração e alta potência, como o tiro de 100 m, enquanto a fonte aeróbia supre a maior parte da energia para eventos de longa duração e baixa potência, como a corrida de 5.000 m. Se um aumento na capacidade do músculo de realizar exercício anaeróbio for desejado, as seqüências de exercício devem ser de curta duração e alta intensidade. Para aumentar a capacidade aeróbia, as seqüências de treinamento devem ser de maior duração e menor intensidade. O treinamento de força é geralmente utilizado para provocar adaptações das fontes energéticas anaeróbias. O número de séries e repetições e o número e a duração dos períodos de recuperação entre as séries e os exercícios precisam ser adequados para a fonte energética da qual as adaptações sejam desejadas. Aspectos de Segurança Os programas de treinamento de força efetivos têm em comum uma característica proeminente — a segurança. O treinamento de força apresenta um risco inerente, como todas as atividades físicas. O risco de lesões pode ser bastante reduzido ou completamente eliminado pela utilização das técnicas adequadas de levantamento, do auxílio e da respiração adequada; pela manutenção dos equipamentos em boas condições de trabalho e pela utilização de roupas adequadas. O risco de ocorrência de lesões durante o treinamento de força é muito pequeno. Em jogadores universitários de futebol americano (Zemper, 1990), a taxa de lesões na sala de musculação foi muito baixa (0,35 por 100 jogadores por temporada). As lesões na sala de musculação são responsáveis por somente 0,74% do total de lesões registradas durante a temporada de futebol americano. Essa taxa pode ser reduzida para níveis ainda mais baixos com uma atenção mais rigorosa aos procedimentos adequados na sala de musculação (Zemper, 1990), como a técnica adequada dos exercícios e a utilização de prendedores para as barras com pesos livres. As taxas de lesão em uma sala de treinamento supervisionada que inclua o treinamento de força como parte do programa total de treinamento também são muito baixas (0,048 por 1.000 participantes-hora) (Morrey e Hensrud, 1999). Uma revisão do U.S. Consumer Product Safety Comission National Electronic Injury Surveillance System indica que 42% das lesões pelo treinamento de força ocorrem em casa (Lombardi e Troxel, 1999) e 29 e 16% ocorrem em salas de treinamento esportivo e escolas, respectivamente. Esses resultados indicam que a falta de supervisão contribui para a lesão. Portanto, apesar de o treinamento de força ser uma atividade muito segura, todas as precauções de segurança devem ser tomadas 8 com atenção especial a todos os fatores relacionados com a segurança quando se realiza treinamento de força em local não-supervisionado. Auxílio O auxílio adequado é necessário para assegurar a segurança dos participantes de um programa de treinamento de força. O auxílio se refere às atividades de indivíduos que não estejam treinando e que ajudem a garantir a sua segurança no treinamento. Os auxiliares possuem três funções principais: auxiliar a finalização da repetição se necessário, criticar a técnica de exercício e somar na ajuda se ocorrer algum acidente. Resumidamente, os fatores a seguir devem ser considerados quando se auxilia: • Os auxiliares devem ser fortes o bastante para ajudar o indivíduo em treinamento, caso necessário. • Durante o desempenho de determinados exercícios (p. ex., agachamentos), mais de um auxiliar pode ser necessário para garantir a segurança do indivíduo em treinamento. • Os auxiliares devem conhecer a técnica adequada de auxílio e de exercício para cada levantamento. • Os auxiliares devem saber quantas repetições serão tentadas. • Os auxiliares devem estar atentos, em todos os momentos, ao indivíduo em treinamento e à sua técnica de exercício. • Os auxiliares devem somar na ajuda se um acidente ou uma lesão ocorrer. Seguindo essas recomendações simples, pode-se evitar as lesões na sala de musculação. A descrição detalhada das técnicas de levantamento para todos os exercícios está além do propósito deste livro, porém as técnicas de auxílio para uma ampla variedade de exercícios do treinamento de força já foram apresentadas (Fleck, 1998; Kraemer e Fleck, 1993). Respiração Prender a respiração excessivamente com a glote fechada (manobra de Valsalva) durante os exercícios do treinamento de força não é recomendado, porque a pressão arterial aumenta substancialmente (ver a discussão sobre as respostas cardiovasculares agudas no Capítulo 3). A Figura 1.3 demonstra a resposta de pressão intra-arterial às ações musculares isométricas durante extensões de joelho com uma perna. A resposta da pressão sangüínea durante uma ação muscular isométrica na qual a respiração foi permitida é menor do que aquela observada durante uma ação isométrica simultânea com a manobra de Valsalva ou durante a manobra sem ação muscular isométrica. Isso demonstra que a elevação da pressão arterial durante o treinamento de força é menor com a respiração durante a ação muscular comparada à manobra de Valsalva durante a ação muscular. A pressão arterial elevada aumenta a sobrecarga cardíaca; isso exige que o coração desenvolva maior pressão para ejetar o sangue, tornando o trabalho cardíaco mais difícil. Expirar durante o levantamento de uma carga e inspirar durante a volta à posição inicial são procedimentos normalmente recomendados, apesar de haver pouca diferença na resposta de freqüência cardíaca e pressão arterial durante o treinamento de força se a expiração ocorrer durante a volta à posição inicial e a inspiração ocorrer durante o levantamento da carga, respectivamente ou vice-versa (Linsenbardt, Thomas e Madsen, 1992). A manobra de Valsalva irá ocorrer durante um exercício com carga de 1 RM ou durante as últimas repetições de uma série realizada até a fadiga voluntária momentânea. Entretanto, o ato de prender a respiração excessivamente deve ser desencorajado. Técnica de exercício adequada A técnica adequada para os exercícios do treinamento de força é parcialmentedeterminada pelos grupos musculares específicos que estão sendo treinados. A alteração da forma adequada de um exercício 9 provoca a ativação de outros grupos musculares para auxiliar no desempenho do movimento do exercício. Isso diminui o estímulo de treinamento para os músculos normalmente associados a determinado exercício. A técnica adequada é alterada em diversas manobras avançadas do treinamento de força (p. ex., a técnica da queimação e a técnica da repetição forçada), mas essas técnicas não são recomendadas para iniciantes. A técnica adequada também é necessária para prevenir lesões, especialmente em alguns exercícios em que a técnica inadequada expõe a região tombar a um estresse adicional (p. ex., agachamento, levantamento- terra) ou em que a carga possa ser “lançada” de uma parte corporal (p. ex., supino com peso livre). A forma inadequada freqüentemente ocorre quando o indivíduo realiza o exercício com cargas que excedem sua capacidade de força atual por um determinado número de repetições. Se a técnica do exercício começar a falhar, a série deve ser interrompida. A técnica adequada para uma grande variedade de exercícios foi descrita anteriormente (Fleck, 1998; Kraemer e Fleck, 1993). Amplitude total de movimento Amplitude total de movimento se refere à realização de um exercício com a maior amplitude de movimento possível. Os exercícios são normalmente realizados com a amplitude total de movimento permitida pela posição do corpo e das articulações envolvidas. Apesar de os estudos disponíveis não serem definitivos, assume-se que, para o desenvolvimento de força na amplitude total de movimento da articulação, deve-se realizar o treinamento na amplitude total dessa articulação. Os estudos demonstram a especificidade do ângulo articular com o treinamento isométrico indicando que, se o treinamento for realizado somente em um ângulo articular específico, os ganhos de força acontecerão em uma faixa estreita em torno do ângulo articular específico e não em toda a amplitude de movimento dessa articulação. Portanto, o desempenho de exercícios na amplitude total de movimento assegura ganhos de força em toda a amplitude e é importante para a técnica adequada do exercício. Algumas técnicas de treinamento específicas (p. ex., repetições parciais) limitam intencionalmente a amplitude de movimento. Essas técnicas não são recomendadas para iniciantes e sua eficácia ainda precisa ser demonstrada. Manutenção dos Equipamentos Manter os equipamentos em condições de operação adequadas é de suma importância para um programa de treinamento de força seguro. As roldanas e os cabos ou cintos devem ser checados freqüentemente para a utilização e devem ser substituídos quando necessário. Os equipamentos devem ser lubrificados como indicado pelo fabricante. Anilhas, halteres ou placas dos equipamentos rachados ou quebrados devem ser retirados e substituidos. Os estofados devem ser desinfetados diariamente. As presilhas das barras olímpicas e outras barras de pesos livres devem girar livremente para evitar que a pele das mãos dos usuários seja machucada. Uma lesão resultante de equipamento com manutenção inadequada nunca deve acontecer em uma sala ou programa de treinamento bem mantidos. Tênis para o treinamento de Força Um tênis seguro para o treinamento de força não perecera ser especificamente elaborado para o levantamento olímpico ou de potência, mas deve possuir um bom suporte para o arco do pé, sola não- escorregadia, ajuste adequado e capacidade de absorção de pequenos impactos. Os três primeiros fatores são razões de segurança. O último é importante por uma simples razão: a força produzida pelos músculos da perna para levantar o peso não deve ser perdida na compressão da sola do tênis. Além disso, se a área do calcanhar é muito compressível, como nos tênis de corrida, em alguns exercícios, como os agachamentos, a compressão da área dos calcanhares pode causar o desequilíbrio do indivíduo. Os tênis elaborados para o treinamento 10 combinado oferecem todas essas características e são adequados para todos, incluindo os levantadores de estilo olímpico e de potência. Luvas para o treinamento de força As luvas para o treinamento de força são elaboradas sem os dedos, para que cubram somente a área da palma da mão. Esse formato protege as palmas no contato com a barra e os manetes dos equipamentos e ainda permite uma boa empunhadura. As luvas ajudam a prevenir bolhas e o rompimento de calos nas mãos. Entretanto, não são imprescindíveis para a segurança no treinamento de torça. Cintos para o Treinamento Os cintos para o treina mento possuem uma parte posterior larga que supostamente auxilia no suporte da lomhar. Os cintos para o treinamento de fato auxiliam no suporte da região lombar, mas não devido à área larga posterior. Ao contrário, fornecem resistência contra os museu los abdominais. Isso ajuda a aumentar a pressão intra-abdominal, que suporta as vértebras lombares a partir da região anterior (Harman et ai., 1989; Lander, Hundley e Simonton, 1992; Lander, Simonton e Giacohhe, 1990). A pressão intra-abdominal aumentada previne a flexão da região lombar, o que ajuda na postura ereta. A musculatura abdominal forte ajuda a manter a pressão intra-abdominal. Quando a pressão intra-abdominal aumenta, a musculatura abdominal fraca protrai anteriormente. Isso resulta em diminuição da pressão intra-abdominal e menor suporte para as vértebras lombares. O cinto para treinamento pode ser usado para exercícios que impõem estresse significativo na área lombar, como os agachamentos e os levantamentos-terra Entretanto, não é necessário para o desempenho seguro desses exercícios. O cinto não deve ser utilizado para abrandar problemas de técnica causados por abdominais ou musculatura lombar fracos. Se exercícios que provocam grande estresse na região lombar são realizados, exercícios para fortalecer as regiões abdominal e lombar precisam ser incluídos no programa de treinamento. Usar um cinto muito apertado durante uma atividade aumenta a pressão arterial (Hunter et ai., 1989), resultando em aumento do estresse cardiovascular. Portanto, o cinto para o treinamento não deve ser usado durante atividades como pedalada na bicicleta estacionária ou durante exercícios nos quais a área lombar não seja significativamente estressada. Além disso, não devem ser usados quando são realizados exercícios que não exijam suporte das costas ou que usam cargas leves a moderadas (i.e., maiores do que 6RM). Definições compreensíveis e claras da terminologia são importantes em qualquer campo de estudo. Definições claras da terminologia do treinamento de força são necessárias para a comunicação precisa e a troca de idéias entre os entusiastas da aptidão física e os profissionais do condicionamento e da força. Precauções de segurança, como as técnicas adequadas de auxílio e de exercício, são uma necessidade de todos os programas de treinamento de força elaborados e implementados adequadamente. A compreensão da terminologia básica e dos aspectos de segurança do treinamento com pesos é importante quando se examina o tópico do próximo capítulo, diferentes tipos de treinamento de força. FLECK, S. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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