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MUSCULAÇÃO Salime Donida Chedid Lisboa Periodização do treinamento de força Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a importância da organização e periodização do treina- mento de força. � Comparar diferentes formas de periodização de curto, médio e longo prazo. � Criar uma periodização completa de longo prazo para o treinamento de força. Introdução Periodizar um treinamento é uma prática relativamente antiga na socie- dade. Inicialmente, era utilizada para treinamento militar, passando depois a ser aplicada para fins esportivos e estéticos. Essa prática se refere ao planejamento de mudanças em variáveis modificáveis de um treino por meio da proposta de um programa de exercícios físicos. O principal objetivo de um treinamento é a otimização das adap- tações do treino (supercompensação), evitando platôs de conquistas físicas, o que pode ser alcançado por meio da manipulação das variáveis resultantes de diversas possibilidades (estratégias a curto, médio e longo prazo). Essas variáveis incluem ordem e escolha dos exercícios, número de repetições, séries, sessões, intensidade, entre outras, na tentativa de proporcionar o melhor condicionamento físico ao indivíduo em questão. Neste capítulo, você vai compreender a importância da utilização da periodização na prescrição de treinamentos de força. Você também vai conferir diversas possibilidades de planejamento em diferentes tempos de treino e vai verificar como criar uma periodização completa de longo prazo. 1 A importância da periodização A preparação desportiva, visando ao desempenho esportivo, à estética ou à saúde, é uma estratégia complexa. Para o alcance do resultado final previamente desejado, é necessária a interligação de diversas áreas da educação física, bem como um amplo conhecimento da metodologia do treinamento físico. Para o sucesso de uma preparação física, é importante que previamente haja certa estruturação do treinamento — a periodização. A periodização consiste basicamente na criação de um sistema de planos de treinos, organizando-se etapas, objetivos e métodos que serão utilizados em um determinado tempo, que será destinado a treinos e à recuperação, estabelecendo-se perspectivas a curto, médio e longo prazo (GOMES, 2009). A periodização é relativamente antiga na humanidade. Foi utilizada por romanos e chineses, principalmente para a preparação física de militares. Da mesma forma, gregos a utilizavam para a preparação para guerras. Acredita-se também que os gregos foram o primeiro povo a periodizar treinamentos com enfoque esportivo — especialmente para os jogos olímpicos da Antiguidade (GRAHAM, 2002; BARBANTI, 2001). Periodizar um treinamento não é um ato individual de planejamento de treinamento, mas, sim, uma das partes da fase de elaboração, que deve visar à união de todas as variáveis modificáveis do treinamento proposto na preparação do indivíduo (HAFF, G.; HAFF, E., 2012). Ela deve ser feita de maneira lógica, com diversas propostas de diferentes etapas em sequência, de forma que permita ao indivíduo o monitoramento de seu rendimento. A temática da periodização possui como criador o soviético Lev Pavlovich Matveev, que, por meio de seu modelo de periodização clássico, deu origem a diversas outras variações. Seu sistema foi iniciado a partir da teoria da síndrome geral da adaptação, a qual acontece independentemente da von- tade humana, por meio da detecção cerebral de alguma situação estressante que fará com que o organismo busque adaptações. Para Matveev (1977 apud CARDOSO, 2010, documento on-line), precursor desse conceito: [...] periodização é o planejamento e a estruturação do treinamento ao longo da temporada para possibilitar ao atleta alcançar um estado de ótima (a melhor possível) performance em determinada época da temporada (competição ou competições mais importantes). Este estado de ótima performance envolve os aspectos físicos, psíquicos, técnicos e táticos. Periodização do treinamento de força2 Suas ideias perduram até os dias atuais. Matveev propõe que o treinamento seja manipulado por meio de todas as variáveis, para que o indivíduo alcance o máximo desempenho e que isso ocorra no momento mais apropriado, pro- gredindo gradualmente de uma baixa intensidade e um grande volume de trabalho para uma alta intensidade e um baixo volume de trabalho. Trata-se de uma divisão de períodos que vai nortear as cargas a serem aplicadas em cada dia de treino (GRUNENNVALDT, 1999). A Figura 1 apresenta um exemplo de modelo de periodização de treinamento. Figura 1. Modelo de periodização. Fonte: Adaptada de Matveev (1965 apud CARDOSO, 2010). Mês 1 Máx Mín Duração Intensidade Performance Desenvolvimento de resistência Introdução da resistência especí�ca Resistência especí�ca Preparação geral Preparação especí�ca Pré-competição Competição Transição 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 De acordo com Zatsiorsky e Kraemer (2006), a prescrição de cargas em forma de ciclos promove melhores resultados. Dessa forma, a periodização é planejada em um período de longo prazo, subdividida em níveis, em que cada momento será destinado à obtenção de objetivos específicos (GOMES, 2009). A seguir e na Figura 2 são apresentados os níveis de organização do sistema de periodização. � Preparação à longo prazo: múltiplos anos de periodização de treinamento. � Ciclo olímpico: programa de treinamento que visa ao desenvolvimento de talentos esportivos (quatro a 12 anos de duração inter-relacionados). 3Periodização do treinamento de força � Ciclo anual: programa de treinamento constituído de várias fases de treinamento, objetivando um ótimo desempenho em um ano. � Macrociclos: longos blocos de treinamento de, no mínimo, dois meses a um ano de duração, com objetivos distintos, compostos de pelo menos dois a três mesociclos com objetivos específicos. � Mesociclos: curtos períodos de treinamento de duas a cinco semanas ou microciclos com sobrecarga progressiva de treinamento, seguidos por um ou dois períodos regenerativos ou microciclos. � Microciclos: períodos de três a seis dias de treinamento, usando uma variedade de sessões de treinamento acompanhadas de períodos de repouso. � Sessão: dia de treinamento. � Resultado desportivo (RD): o topo a ser alcançado. Figura 2. Níveis de organização do sistema de periodização. Fonte: Gomes (2009, p. 151). Periodização do treinamento de força4 Para o treinamento de força, a periodização tem seu pilar de sustentação na variação sistemática de distribuição de cargas de treino, com o objetivo principal de otimizar o princípio da sobrecarga e gerar adaptações no sistema neuromuscular. É importante lembrar de que, para isso, é necessário que sejam aplicados os princípios do treinamento físico, que são: � sobrecarga; � adaptação/recuperação; � especificidade; � individualidade; � reversibilidade; � variedade. 2 Periodização do treinamento de força — cuidados e tipos Sendo a periodização o planejamento de diversas variações de intensidade e volume de treinamento, e sabendo-se que o treinamento de força visa à hiper- trofia, aos ganhos de força, à prevenção de lesões e ao desempenho, muitos fatores devem ser considerados durante a elaboração de uma prescrição de treinamento de força. É necessária a individualização de cada treino, para melhor atender aos objetivos específicos de cada indivíduo. Devido às varia- ções nos elementos que compõem o treinamento de força, podem-se utilizar diversos programas (FLECK; KRAEMER, 2017). Os objetivos da periodização são relacionados diretamente às adaptações corporais e fisiológicas desejadas (além da observação do potencial genético que o indivíduo tem para alcançar determinado objetivo). Uma vez que os objetivos ao longo do treinamento podem alterar-se devido a melhoras no condicionamento físico do praticante, é necessária a utilização da progressão — sendo esse um dos princípiosmais interessantes e importantes no desen- volvimento do planejamento do treino de força. Esse princípio é conhecido na literatura científica, que aponta que o treinamento periodizado proporciona maiores aumentos de taxa de força quando comparado a treinamentos de força não periodizados (KRAMER et al., 1997). Ainda, programas de treino periodizados parecem fornecer maior eficiência em alterações na composição corporal, quando comparados a programas não periodizados (SCHIOTZ et 5Periodização do treinamento de força al., 1998), e no desempenho motor, tanto para habilidades esportivas como para salto vertical (KRAEMER et al., 2000). Além disso, é de extrema importância observar as diferentes respostas de mag- nitudes individuais. A resposta de cada indivíduo varia com recorrentes variações e modificações no planejamento, ao se alcançar ou não o desejado em cada etapa. É possível que alguns praticantes não alcancem um alto grau de desempenho, devido a limitações fisiológicas e genéticas, mesmo que seja possível predizer algumas respostas — na prática, as respostas são diversas. Assim, a chave de um programa de treinamento efetivo é a identificação prévia de variáveis importantes para controle e aperfeiçoamento (FLECK; KRAEMER, 2017). Uma única sessão de treino dirigida ao exercício, com um objetivo es- pecífico, é o início de uma cascata de estímulos que, ao longo do tempo, vão promover modificações nas variáveis agudas (por meio de variações, progressões e sobrecarga). Os efeitos crônicos (relacionados à progressão e ao treinamento a longo prazo), alcançados por meio da periodização previamente realizada, são resultados de consecutivas sessões (FLECK; KRAEMER, 2017). A Figura 3 apresenta um modelo de prescrição de exercícios para treinamento de força, levando em consideração as variáveis agudas e crônicas do programa. Figura 3. Modelo de prescrição de exercício para treinamento de força. Fonte: Adaptada de Fleck e Kraemer (2006). Periodização do treinamento de força6 Análise das necessidades na prescrição do treinamento de força Para auxiliar na organização e no planejamento de um treinamento de força, é possível utilizar a análise de necessidades (Quadro 1), sendo esta um passo preliminar importante para que sejam tomadas as melhores decisões em um treinamento de força. As necessidades abrangem: � os grupos musculares que serão treinados; � as fontes de energia básicas que serão treinadas; � os tipos e as ações musculares que serão treinados; � o histórico do indivíduo (principais lesões); � as especificidades do treinamento (força muscular, flexibilidade, potência). Fonte: Adaptado de Fleck (2006). Análise das necessidades Variáveis agudas do programa Movimentos dos exercícios (biomecânica) � Músculos específicos usados � Ângulos articulares � Ação muscular Opções de exercício � Estrutural, corpo inteiro, multiarticulares � Parte do corpo, articulação isolada (uniarticular) Metabolismo � Sistema ATP-CP � Sistema anaeróbio � Sistema aeróbio Ordem dos exercícios � Grandes grupos musculares primeiro � Exercícios com técnica complexa primeiro � Braços-pernas ou membros superiores- membros inferiores � Formatação de circuito da seguinte ordem: braço-braço ou perna-perna, ou membro superior-superior ou inferior-inferior Prevenção de lesões � Locais comuns de lesões � Locais de lesões prévias Número de séries Intensidade da carga externa constante e dinâmica Duração dos períodos de descanso � Curto: < 1 minuto � Moderado: 2 a 3 minutos � Longo: > 3 minutos Quadro 1. Detalhamento de variáveis agudas de um programa de treinamento 7Periodização do treinamento de força A busca de estratégias para a prescrição de treinamento de força é neces- sária para o alcance do melhor condicionamento possível, sem que ocorram platôs que prejudiquem o potencial do indivíduo. Além disso, as táticas de treino podem otimizar o desenvolvimento de variáveis. Os modelos mais conhecidos na literatura científica são: modelo linear, modelo linear reverso, modelos não lineares, periodização não linear diária. Essas escolhas dependem dos treinadores, que devem avaliar o perfil do praticante e os seus objetivos. Modelo linear ou clássico de periodização de treinamento de força O modelo linear tem sua origem no modelo clássico de periodização (tra- dicional no treinamento de força), sendo a mais antiga das periodizações do treinamento de força. Tem como característica possuir o início do pro- grama de treinamento com alto volume (mais séries ou repetições a cada série realizada) e intensidade baixa (menos carga/peso/kg). De forma gradual, as variáveis são modificadas para atingir a redução do volume e o aumento da intensidade — as alterações ocorrem a cada uma a quatro semanas de treino. Esse modelo de periodização é fortemente indicado para períodos iniciais de treinos em longo prazo, por possuir como característica a manipulação das cargas, causando adaptações de padrão de movimento e de ordem neural (FLECK; KRAEMER, 2017). O modelo de periodização linear (Figura 4), segundo Pires (2014, docu- mento on-line): [...] consiste no aumento gradual da intensidade e diminuição do volume, com mudanças ocorrendo dentro de ciclos com duração de uma a quatro semanas aproximadamente [...]. A intensidade e o volume de treinamento são mantidos constantes durante as fases do treinamento, somente havendo modificações de aumento na intensidade e diminuição do volume ao final do ciclo proposto na periodização. Periodização do treinamento de força8 Figura 4. Padrão de volume e intensidade de um treino de força e potência lineares. Fonte: Fleck e Kraemer (2017, p. 246). Modelo linear reverso de periodização de treinamento de força O modelo linear reverso é uma variação do modelo linear, visto que se diferencia apenas pela forma das variações da intensidade e do volume. No modelo linear reverso, a fase inicial é destinada para baixo volume e alta inten- sidade, com progressão de treinamento para alto volume e baixa intensidade, com alterações ocorrendo a cada uma a quatro semanas. Por ter aplicação de intensidades mais altas desde seu início, essa periodização não é indicada para indivíduos em estágio inicial de treinamento. Esse tipo de treinamento oferece vantagens como aumentar a resistência muscular localizada ao final do período de treino, quando comparado a uma periodização linear. A Figura 5 traz um exemplo desse tipo de periodização. 9Periodização do treinamento de força Figura 5. Exemplo de periodização linear reversa dividida em duas sessões (A e B). Objetivo: hipertrofia muscular para indivíduos intermediários. Fonte: Adaptada de Uchida, Charro e Bacurau (2009). Modelos não lineares de periodização de treinamento de força Os modelos não lineares são chamados também de modelos ondulatórios ou ondulantes. Dos modelos de periodização para treinamento de força, são consi- derados o mais recentes. Diferenciando-se dos demais modelos, o modelo não linear sugere tanto a progressão quanto a redução na intensidade e no volume em um período máximo de sete a 10 dias, de maneira que as alterações sejam frequentes, não sendo necessário seguir apenas um sentido de manipulação do volume ou da intensidade, seja semanalmente ou mensalmente. Um dos seus maiores objetivos é alcançar o pico de força e potência ao fim da fase de pico. Com a periodização não linear, a intensidade e o volume variam pela utilização de diferentes repetições máximas (RMs) ou zonas de treinamento, que podem ser modificadas a cada sessão de treino (FLECK; KRAEMER, 2017). Periodização do treinamento de força10 O modelo não linear, segundo Tavares Junior (2014, documento on-line), é caracterizado: [...] pelas alterações frequentes de volume e intensidade, sejam estas semanais, por ciclos ou até mesmo diárias, dependendo do objetivo proposto, nível do atleta e condição de fadiga [...]. Essa oscilação permite trabalhos em altas intensidadese incrementos mais significativos nos ganhos de força, pois a variação dos componentes das cargas de treinamento induz a supercompen- sação, por meio de uma recuperação ativa [...], oportunizando a manutenção de ótima forma competitiva durante toda a temporada. Periodização não linear diária A periodização não linear diária utiliza troca de zonas de treinamento de maneira não linear, com base na disposição que o indivíduo que pratica a atividade possui. A mudança de zona de treinamento pode ser realizada de diversas formas, como um teste inicial de treino (exemplo: praticante realiza um salto vertical no início do treino, não atingindo 90% do salto vertical máximo previsto, com possibilidade de estar fatigado), bem como testes ao final do treino. Assim, mesmo que, inicialmente, a sessão tenha sido prescrita para zona de alta intensidade, o treino pode ser modificado, a fim de atender à atual condição do indivíduo. As alterações não são voltadas somente para a fadiga. Caso o praticante demonstre estar 100%, em vez de se manter na prescrição em determinada zona, pode progredir, em caso de demonstração de alto grau de desempenho. Por exemplo: avaliação inicial com prescrição de 8 a 10 repetições; porém, o aluno realizou 12 repetições, portanto, há a possibilidade de progredir para uma zona de maior intensidade (FLECK; KRAEMER, 2017). A Figura 6 traz um exemplo de periodização ondulatória diária. 11Periodização do treinamento de força Figura 6. Exemplo de periodização ondulatória diária. Fonte: Adaptada de Hunter et al. (2000). Periodização linear versus não linear Para relembrar as características das periodizações, Rhea et al. (2002) apon- tam que o treinamento linear aumenta gradualmente a intensidade e diminui o volume, propondo alterações a cada quatro semanas. Já no formato não linear, as alterações ocorrem frequentemente, semanalmente ou diariamente (POLIQUIN, 1988). A maioria dos programas de treinamento de força utilizam alguma dessas formas de periodização. Quando realizada a comparação entre as formas de periodização, em um período de treinamento inicial, as adaptações são basicamente neurais, com pequenas alterações fisiológicas (alterações na qualidade das proteínas musculares), adaptações essas que ocorrem com qualquer tipo de programa de treinamento bem prescrito. Assim, a curto prazo, as diferenças entre a periodização linear e a não linear são quase imperceptíveis (FLECK; KRA- EMER, 2017). Uma recente revisão sistemática com metanálise não encontrou diferenças entre os dois tipos de periodização (linear e não linear) em relação a aumentos de força para membros superiores e inferiores (HARRIES; LUBANS; CALLIS- TER, 2015). Porém, o estudo não analisou o que as periodizações diferiram para hipertrofia muscular. Para hipertrofia muscular, são encontrados estudos que beneficiam o modelo ondulatório (SIMÃO et al., 2012; SPINETI et al., 2014), bem como estudos que não encontraram diferenças entre os métodos (LIMA et al., 2012; PRESTES et al., 2015). Grgic et al. (2017) indicaram Periodização do treinamento de força12 em seu estudo que não há diferenças para hipertrofia muscular entre os dois modelos de periodização. Ao se analisar outras comparações entre essas periodizações, é possível observar que os dois modelos produzem aumentos significativos para força máxima. Assim, ainda não há evidências para concluir que um tipo de pe- riodização supera o outro. Dessa forma, parte do treinador a escolha pelo modelo mais adequado, ao observar os objetivos de seu aluno, bem como as individualidades do mesmo Acesse o link a seguir para saber mais sobre modelos de treinamento de força e periodização. https://qrgo.page.link/xnXpG 3 Periodização à longo prazo: modelo de treinamento de força linear O Quadro 2 apresenta um exemplo de periodização linear com quatro meso- ciclos (de janeiro a abril). Nesse caso, foi realizado um aumento gradual de intensidade nos mesociclos, iniciando-se com maior volume e menor frequência. Cada mesociclo possui uma manifestação de força como objetivo de treina- mento. Os mesociclos são compostos por quatro microciclos (quatro semanas) cada. As repetições propostas em cada microciclo são decorrentes dos objetivos e das intensidades correspondentes a cada período de treinamento. Nessa periodização, foi seguido o objetivo principal da periodização de treinamento de força linear: [...] propiciar uma variedade de características do desempenho (potência, força ou resistência muscular localizada) a uma elevada taxa de desenvolvi- mento, proporcionando o máximo de desempenho no momento exato do pico de treinamento, evitando qualquer estagnação, lesões e overtraining. Isto é alcançado através da variação dos mesociclos dentro do período de preparação e competição. (PIRES, 2014, documento on-line). 13Periodização do treinamento de força Período Janeiro Fevereiro Março Abril Manifes- tação Resistência muscular Hipertrofia Força máxima Força explosiva Séries 2 a 3 3 a 4 4 a 5 3 a 5 Repetições 12 a 15 RM 8 a 10 RM 4 a 6 RM 1 a 3 RM Duração 4 semanas 4 semanas 4 semanas 4 semanas Vezes semanais 2 3 3 4 Número de exercícios 12 12 10 8 Quadro 2. Mesociclo de quatro meses de uma periodização linear No Quadro 3, é apresentado um exemplo de microciclo com quatro dias de treinos de uma periodização não linear, em que são realizadas modificações frequentes diariamente. Cada sessão possui uma manifestação de força como objetivo de treinamento diário. As repetições propostas em cada microciclo são decorrentes dos objetivos e das intensidades correspondentes a cada período de treinamento. Fase Segunda Quarta Sexta Domingo Período Microciclo 1 Hipertrofia Força explosiva Força máxima Hipertrofia Séries 2 6 4 3 Repetições 12 a 15 RM 1 a 4 RM 4 a 6 RM 8 a 10 RM Número de exercícios 10 12 10 8 Quadro 3. Microciclo de uma periodização ondulatória Periodização do treinamento de força14 Buscar o desenvolvimento das capacidades físicas e da composição corporal a longo prazo exige conhecimento e manipulação das variáveis de treina- mento. Assim, os fundamentos da periodização do treinamento de força, bem como os princípios do treinamento físico, devem ser a base para a criação de programas de treinamentos, bem como do processo decisório para a escolha de cargas e estratégias que serão aplicadas. Vale ressaltar que os conceitos e exemplos dados neste capítulo são ideias que podem orientar os profissionais nas tomadas de decisões, mas não são limitadores na criação de um bom programa de treinamento. Um programa pode ser alterado em decorrência das rotinas de treinos e dos objetivos pessoais de cada indivíduo praticante de treinamento de força. BARBANTI, V. J. Treinamento físico: bases científicas. São Paulo: CLR Balieiro, 2001. CARDOSO, F. M. C. Periodização: uma revisão crítica. 2010. Monografia (Graduação em Educação Física) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. Disponível em: http://www.eeffto.ufmg.br/eeffto/DATA/defesas/20150714170115.pdf. Acesso em: 2 fev. 2020. FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. TAVARES JUNIOR, A. C. A formação profissional e a aplicação dos modelos de periodização do treinamento desportivo, por treinadores de judô de atletas de elite. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) - Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2014. Disponível em: https://repositorio. unesp.br/bitstream/handle/11449/121951/000816566.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 2 fev. 2020. UCHIDA, M. C.; CHARRO, M. A.; BACURAU, R. F. P. Manual da musculação. São Paulo: Phorte, 2009. ZATSIORSKY, V. M.; KRAEMER, W. J. Science and practice of strength training. 2. ed. Cham- paign: Human Kinetics, 2006. 17Periodização do treinamento de força
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