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1 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Módulo III: Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Problema 6: Trauma em dobro! Objetivo 1: Analisar o TCE considerando sua fisiopatologia. Objetivo 2: Descrever o manejo do paciente vítima do TCE. Objetivo 3: Explicar os achados nos exames de imagem para os traumas mais importantes. Objetivo 4: Explicar as possíveis complicações do TCE. TCE Conceito O TCE é definido como qualquer agressão de ordem traumática de ocasionando uma lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges, encéfalo ou vasos. Dessa forma, ocorre um insulto para o cérebro, gerado por uma força física externa, que pode produzir um estado diminuído ou alterado da consciência, podendo resultar em deficiência da capacidade cognitiva, do funcionamento físico, distúrbios comportamentais e emocionais. A lesão encefálica traumática representa uma causa importante de morte e incapacidade. Sua incidência vem aumentando nos países de renda baixa ou média, decorrente do crescente aumento de acidentes com veículos motorizados; nos países de renda elevada, por quedas na população em envelhecimento. Epidemiologia Principal causa de morte de pessoas entre 5 e 44 anos; Corresponde a 10% das mortes; 1.7 milhão de casos de TCE anualmente nos EUA; Predomínio no sexo masculino (4:1); Alta taxa de mortalidade (5-50%); Brasil: 500 mil novos casos anualmente; 75 % dos TCEs são leves; 15% dos TCEs são moderados; 10% dos TCEs são graves; 90% das mortes pré-hospitalares (taxa moderada a grave); Mais de 1 milhão de pessoas tiveram sequelas irreversíveis devido o TCE, nos últimos dez anos. Etiologia Os acidentes automobilísticos são as causas mais comuns (adolescentes e adultos jovens); Quedas (faixas pediátricas e geriátricas); Violência; Esportes; Suicídio. Anatomia Os aspectos ímpares da anatomia e fisiologia cranioencefálica que influenciam os padrões de trauma são: o couro cabeludo, o crânio, as meninges, o encéfalo, o sistema ventricular, e os compartimentos intracranianos. Couro cabeludo Em razão da sua irrigação abundante, a laceração do couro cabeludo pode levar a perdas sanguíneas significativas, choque hemorrágico e mesmo morte. Isso é particularmente verdadeiro em doentes com tempo muito longo de transporte. 2 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Obs.: as lesões mais comuns são lacerações. Crânio A base do crânio é irregular, possibilitando a ocorrência de lesões quando o cérebro se desloca e desliza no interior do crânio, em decorrência de movimentos de aceleração e desaceleração. A fossa anterior aloja os lobos frontais, a fossa média aloja os lobos temporais e a fossa posterior aloja a porção inferior do tronco cerebral e o cerebelo. Meninges As meninges revestem o cérebro e se consistem de três camadas: a dura-máter, a aracnoide e a pia-máter. Em locais específicos, a dura-máter divide-se em duas superfícies que envolvem grandes seios venosos que permitem a maior parte da drenagem venosa cerebral como: seio sagital superior, transverso, sigmoide. A laceração desses seios venosos pode resultar em hemorragia maciça. As artérias meníngeas correm entre a dura-máter e a superfície interna do crânio (espaço epidural). Fraturas cranianas acima dessas artérias podem lacerá-las e resultar em hematoma epidural. A artéria meníngea média, que se encontra localizada sobre a fossa temporal, é o vaso meníngeo lesado com maior frequência. Um hematoma em expansão, provocado pela laceração arterial nessa localização pode causar deterioração rápida e morte. Os hematomas epidurais também podem resultar de lesões dos seios durais e de fraturas do crânio, que tendem a expandir mais lentamente, e provocam menor pressão sobre o cérebro subjacente. Entretanto, a maioria dos hematomas epidurais representam uma emergência com risco de morte, devendo ser avaliados por um neurocirurgião tão logo quanto possível. Abaixo da dura-máter situa-se a membrana aracnoide. Como a dura-máter não está aderida à aracnoide subjacente, existe um espaço potencial (o espaço subdural) no qual podem ocorrer hemorragias. No trauma cranioencefálico as veias que vão da superfície do cérebro para os seios venosos, no interior da dura (veias em ponte), podem romper-se levando à formação de hematoma subdural. A terceira meninge, a pia-máter, está firmemente aderida à superfície do cérebro. O líquido cefalorraquidiano (LCR) preenche o espaço entre a aracnoide impermeável e a pia-máter (o espaço subaracnóideo), acolchoando o cérebro e a medula espinhal. Hemorragia para dentro desse espaço preenchido de líquido (hemorragia subaracnóidea) é frequentemente causada por contusão cerebral ou trauma de grandes vasos na base do encéfalo. Encéfalo O encéfalo compreende cérebro, cerebelo e tronco cerebral. O cérebro é composto pelos hemisférios direito e esquerdo, separados pela foice. O hemisfério esquerdo contém os centros da linguagem em virtualmente todos os indivíduos destros e em mais de 85% dos indivíduos canhotos. O lobo frontal controla as funções de execução, as emoções, as funções motoras e, no lado dominante, a expressão da fala (área motora da fala). O lobo parietal dirige a função sensorial e a orientação espacial. O lobo temporal regula certas funções da memória. O lobo occipital é responsável pela visão. O tronco cerebral é constituído pelo mesencéfalo, ponte e bulbo. O mesencéfalo e a parte superior da ponte contêm o sistema ativador da formação reticular responsável pelo estado de alerta. No bulbo, que continua para formar a medula espinhal, alojam-se centros cardiorrespiratórios vitais. Mesmo pequenas lesões no tronco cerebral podem ser acompanhadas de défice neurológico grave. O cerebelo, responsável principalmente pela coordenação e pelo equilíbrio, projeta-se posteriormente, na fossa posterior, e forma conexões com a medula, o tronco cerebral e, em última análise, com os hemisférios cerebrais. Sistema ventricular O LCR é produzido constantemente nos ventrículos e é absorvido sobre a superfície do encéfalo. A presença de sangue no LCR pode prejudicar a reabsorção do LCR, produzindo aumento da pressão intracraniana. O edema e as lesões de massa (por exemplo, hematomas), podem provocar obliteração ou desvio dos ventrículos que usualmente são simétricos. Tais alterações podem ser facilmente identificadas na TC de crânio. Compartimentos intracranianos O cérebro é dividido em regiões por divisórias de meninges bem resistentes. A tenda do cerebelo ou tentório divide a cabeça em compartimento supratentorial e o compartimento infratentorial. O mesencéfalo passa através de uma abertura no tentório conhecida como incisura da tenda do cerebelo. O nervo óculo motor (III nervo craniano) passa ao longo da margem da tenda do cerebelo, podendo ser comprimido contra ela durante uma herniação do lobo temporal. Fibras 3 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza parassimpáticas, que são constritoras das pupilas, repousam sobre a superfície do III nervo craniano. A compressão dessas fibras durante a herniação causa dilatação pupilar devida à atividade simpática sem oposição, frequentemente chamada de pupila dilatada. A região do cérebro que habitualmente hérnia através da incisura tentorial é a parte mediai do lobo temporal, conhecida como úncus. Herniação do úncus também causa compressão do trato corticoespinhal (piramidal) do mesencéfalo. O trato motor cruza para o lado oposto do forame magno, e a sua compressão resulta em défice motor do lado oposto do corpo (hemiplegia contralateral). A dilatação da pupila ipsilateral associada à hemiplegia contralateral é a síndrome clássica de herniação do úncus. Raramente, a lesão de massa pode empurraro lado oposto do mesencéfalo contra a margem da tenda do cerebelo, provocando hemiplegia e dilatação da pupila no mesmo lado do hematoma. Fisiologia Os conceitos fisiológicos relacionados ao trauma cranioencefálico incluem a pressão intracraniana, a doutrina de Monro-Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral. Pressão intracraniana A pressão intracraniana elevada pode reduzir a perfusão cerebral e causar ou exacerbar a isquemia. A PIC normal no estado de repouso é aproximadamente 10 mm Hg. Pressões maiores do que 20 mm Hg, especialmente se mantidas e refratárias ao tratamento, são associadas a pior resultado. Doutrina de Monro-Kellie A doutrina de Monro-Kellie é um conceito simples, mas de vital importância para a compreensão da dinâmica da PIC. Ela afirma que o volume total do conteúdo intracraniano deve permanecer constante, já que o crânio é uma caixa rígida não expansível. O sangue venoso e o LCR podem ser comprimidos para fora do recipiente dando algum grau de compensação à pressão. Assim, na fase inicial após o trauma, uma massa tal como um coágulo sanguíneo pode aumentar e a PIC permanecer normal. Entretanto, uma vez atingido o limite de deslocamento do LCR e do sangue intravascular, a PIC aumenta rapidamente. Fluxo sanguíneo cerebral A lesão cerebral suficientemente grave para produzir coma pode causar redução importante do FSC durante as primeiras horas após o trauma. Habitualmente aumenta nos próximos 2 a 3 dias, mas nos doentes que permanecem em coma, o FSC permanece abaixo do normal por dias ou semanas após o trauma. Há evidências crescentes que tais níveis baixos de FSC são inadequados para satisfazer a demanda metabólica do cérebro precocemente após o trauma. Por razões conhecidas e desconhecidas, a isquemia cerebral regional, e mesmo global, são comuns após o trauma cranioencefálico grave. Os vasos cerebrais pré-capilares têm normalmente a capacidade de contrair ou dilatar reflexamente em resposta a mudanças na pressão arterial média (PAM). Para efeitos clínicos, a pressão de perfusão cerebral (PPC) é definida como pressão sanguínea arterial média (PAM) menos a pressão intracraniana (PPC = PAM - PIC). A PAM entre 50 e 150 mm Hg é "autorregulada" para manter o FSC constante (autorregularão pressórica). O trauma cranioencefálico grave pode prejudicar a autorregularão pressórica de tal modo que o cérebro fica incapaz de compensar adequadamente as mudanças na PPC. Assim, se a PAM for muito baixa pode ocorrer isquemia e infarto e se a PAM for muito alta pode ocorrer inchaço com aumento da PIC. Os vasos cerebrais também normalmente se contraem ou dilatam em resposta a alterações na pressão parcial de oxigênio (PaO2) ou na pressão parcial de dióxido de carbono (PaCO2) do sangue (autorregularão química). Portanto, a lesão secundária pode ocorrer por hipotensão, hipóxia, hipercapnia ou por hipocapnia iatrogênica. Portanto, deve ser feito todo esforço para aumentar perfusão e fluxo sanguíneo cerebrais pela redução da pressão intracraniana 4 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza elevada, mantendo o volume intravascular normal, mantendo a PAM normal e restaurando a oxigenação normal e a normocapnia. Hematomas e outras lesões que aumentam o volume intracraniano devem ser precocemente evacuados. Como meio de melhorar o FSC, é recomendada a manutenção da pressão de perfusão cerebral em níveis normais, entretanto, a PPC não é igual nem assegura o FSC. Uma vez que os mecanismos de compensação se encontram esgotados e existe um aumento exponencial da PIC, a perfusão cerebral fica comprometida. Fisiopatologia Múltiplos são os fatores que determinam as lesões causadas pelo TCE. Há mecanismos que começam a agir tão logo o TCE ocorre, bem como outros que vão se estender por dias, semanas ou meses após o evento. Há ainda fatores sistêmicos que podem agravar o quadro neurológico, levando a um pior prognóstico. Assim, pode-se dividir as lesões cerebrais em primárias e secundárias. As lesões primárias são aquelas que ocorrem como resultado imediato e direto do trauma. Ex: em um ferimento por arma branca que penetra o crânio, a lesão primária é aquela que vem em decorrência do trauma direto ao parênquima cerebral. Outro exemplo de lesão primária, mas em um ferimento fechado (sem contato externo com o conteúdo intracraniano), ocorre quando há mecanismo de desaceleração envolvido no trauma. Como há estruturas de densidades diferentes compondo o encéfalo, quando submetidas a um movimento de aceleração e desaceleração cerebral associada à energia cinética do acidente, tais estruturas terão resposta desigual a esta desaceleração. Esta desigualdade de movimentos leva à ruptura de veias, estiramento de axônios e/ou impacto do cérebro contra a caixa craniana. Todos estes fatos podem ocorrer em conjunto ou separadamente, podendo levar a 15 diferentes tipos de lesões, com disfunções que podem ou não ser temporárias. A gravidade, extensão e tipo de lesão primária que resultam do TCE dependem dos mecanismos físicos e do tipo de impacto (direto ou mecanismo de inércia) que ocorreram no trauma. Se há uma parada abrupta da cabeça após o impacto, será gerada uma força de contato, o que produzirá lesões focais como contusões e fraturas do crânio. Quando há uma desaceleração/aceleração da cabeça, resultando em uma diferença de movimento entre crânio e encéfalo, gera-se uma força inercial. Esta força pode ser translacional, causando principalmente lesões focais, como contusões e hematomas intraparenquimatosos, ou rotacional, levando aos quadros de concussão e lesão axonal difusa. Pode ainda ser translacional e rotacional, que é uma forma bastante frequente de mecanismo de lesão. As lesões secundárias são aquelas que se iniciam após o momento da agressão. Podem decorrer da interação de fatores intra e extracerebrais, levando à morte de células que não foram afetadas no momento exato do acidente, mas que sofrem consequências posteriores. Classificações das Lesões As lesões cranioencefálicas são classificadas de várias maneiras. Para efeitos práticos, a gravidade da lesão e a morfologia são as mais importantes. Gravidade da lesão O Escore da Escala GCS é usado como medida clínica objetiva da gravidade do trauma craniencefálico. Um escore na GCS igual ou inferior a 8 tem se tornado a definição geralmente aceita de coma ou trauma cranioencefálico grave. Doentes com trauma craniencefálico com escore GCS de 9 a 12 são classificados como "moderados", e aqueles com escore de 13 a 15 são designados como "leves". Ao avaliar o escore na GCS, quando existe assimetria direita/esquerda ou superior/inferior, é importante que se use a melhor resposta motora no cálculo do escore porque esta é o preditor mais confiável do resultado. Entretanto devem-se anotar as respostas efetivas em ambos lados do corpo, face, braços e pernas. Morfologia O trauma craniencefálico pode incluir fraturas de crânio e lesões intracranianas tais como contusões, hematomas, lesões difusas e inchaço resultante de edema/hiperemia. Fraturas de Crânio As fraturas de crânio podem ocorrer na calota ou na base do crânio. Elas podem ser lineares ou estreladas e abertas ou fechadas. Para identificação das fraturas da base do crânio habitualmente é necessário o uso de tomografia computadorizada com "janela" para osso. Os sinais clínicos de fratura de base de crânio incluem a equimose periorbital (olhos de guaxinim), a equimose retroauricular (sinal de Battle), fístula liquórica através do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia) e disfunção dos sétimo e oitavo nervos 5 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza cranianos (paralisia facial e perda de audição) que podem ocorrer imediatamente ou poucos dias após a lesão inicial. A presença desses sinais clínicos deve aumentaro índice de suspeita e ajudar na identificação das fraturas da base do crânio. Fraturas da base do crânio que atravessam os canais carotídeos podem lesar as artérias carótidas (dissecção, pseudo-aneurisma ou trombose) e deve-se considerar a realização de arteriografia cerebral (angio TC [ATC] ou por cateterismo arterial). Fraturas de crânio abertas ou compostas podem estabelecer comunicação direta entre a laceração do couro cabeludo e a superfície cerebral, porque a dura-máter encontra-se frequentemente rota. A importância da fratura de crânio não deve ser subestimada pois para que ela ocorra é necessária a aplicação de força considerável. Uma fratura linear da calota craniana em doentes conscientes aumenta em cerca de 400 vezes a possibilidade de ocorrência de hematoma intracraniano. Lesões lntracranianas Lesões intracranianas podem ser classificadas como focais ou difusas, embora as duas formas de lesão frequentemente coexistam. Lesões Cerebrais Difusas: Lesões cerebrais difusas variam de concussões leves, nas quais a TC da cabeça é habitualmente normal, até lesões hipóxicas isquêmicas graves. Com concussões, o doente tem um distúrbio neurológico não focal transitório que frequentemente inclui perda de consciência. Lesões difusas graves resultam mais frequentemente de agressão hipóxica, isquêmica ao cérebro devido a choque prolongado ou apneia que ocorrem imediatamente após o trauma. Nesses casos, a TC pode ser inicialmente normal, ou o cérebro aparece com inchaço difuso com perda da distinção normal entre cinza e branco. Outro padrão difuso, frequentemente visto em impactos de alta velocidade ou em lesões por desaceleração, pode produzir hemorragias pontilhadas por todos os hemisférios cerebrais, concentrando-se nos limites entre as substâncias cinzenta e branca. Essas "lesões por cisalhamento" mencionadas como LAD (lesão axonal difusa) definiram uma síndrome clínica de lesão cerebral grave, com desfecho variável, mas geralmente reservado. Lesões Cerebrais Focais: As lesões focais incluem os hematomas epidurais, os hematomas subdurais, contusões e hematomas intracerebrais. Hematomas Epidurais Hematomas epidurais são relativamente raros, ocorrendo em 0,5% de todos os doentes com trauma craniencefálico e em 9% dos doentes com lesão cerebral traumática e que estão em coma. Esses hematomas tipicamente adquirem a forma biconvexa ou lenticular à medida em que empurram a dura aderente em direção oposta à da tabua interna do crânio. Estão mais frequentemente localizados na região temporal ou temporoparietal e habitualmente resultam da ruptura da artéria meníngea média causada por uma fratura. Esses coágulos em geral têm origem arterial; entretanto, podem também resultar de ruptura de um seio venoso importante ou do sangramento da fratura de crânio. O intervalo lúcido entre o momento da lesão e a deterioração neurológica é a apresentação clássica do hematoma epidural. Hematomas Subdurais: Os hematomas subdurais são mais comuns que os hematomas epidurais ocorrendo em aproximadamente 30% dos traumas cranioencefálicos graves. Eles ocorrem mais frequentemente por dilaceração de vasos superficiais pequenos ou vasos ponte do córtex cerebral. Contrastando com a forma lenticular do hematoma epidural à TC, os hematomas subdurais frequentemente parecem assumir a forma do contorno do cérebro. O comprometimento cerebral subjacente ao hematoma subdural costuma ser muito mais grave do que nos hematomas epidurais devido à presença de lesão parenquimatosa concomitante. Contusões e Hematomas Intracerebrais: Contusões cerebrais são bastante comuns (presentes em cerca de 20% a 30% dos traumas cranioencefálicos graves). A maioria das contusões ocorre nos lobos frontal e temporal, embora possam ocorrer em qualquer parte do cérebro. As contusões podem, em um período de horas ou dias, evoluir para formar um hematoma intracerebral ou uma contusão coalescente com efeito de massa suficiente para exigir evacuação cirúrgica imediata. Isso ocorre em aproximadamente 20% dos doentes que apresentam contusão na TC de crânio inicial. Por esta razão, doentes com contusão devem ser submetidos a TC repetidas para avaliar as mudanças nos padrões da contusão nas 24 horas após a TC de crânio inicial. 6 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Mecanismos de Lesão Estático Depende das circunstâncias que leva a lesão. Ex: atropelamento, parto a fórceps. Dinâmico: 2 tipos (impacto e impulsivo). Impacto Ocorre pela ação de uma força de contato, levando às deformações na calota, resultando em fraturas ou ondas de choque, que acarretam a deformação do encéfalo. Ex: golpe e contra golpe. O mecanismo que causa lesão através do próprio impacto direto é denominado golpe. Já o mecanismo responsável por causar lesões diametricamente opostas ao local do trauma é o contragolpe, causado pelo deslocamento encefálico, com estiramento e lacerações vasculares, formação de cavitação com pressão negativa e posterior contra impacto. Além disso, pode existir o mecanismo de impacto interno que ocorre entre as estruturas intracranianas menos e mais fixas. Ele é causado devido aos deslocamentos causados pela desaceleração, sendo os locais de maior atrito e impacto interno os assoalhos das fossas temporais e frontais, as asas maior e menor do esfenoide, o clivo, a porção petrosa do osso temporal, a foice e a borda livre do tentório, sobre os quais se chocam as estruturas nervosas e vasculares com estes relacionados. Impulsivo Relacionado com forças inerciais. 2 tipos: Rotação e, aceleração e desaceleração. Rotação: aceleração centrada na região cervical baixa, com deformação encefálica. Aceleração e desaceleração: Pode ocorrer o mecanismo denominado cisalhamento que causa a fragmentação de fibras nervosas e vasos perfurantes. Manejo do paciente vítima de TCE Deve seguir o ABCDE do exame primário. Qualquer alteração hemodinâmica deve ser corrigida. Uma boa oxigenação associada à correção das perdas de volume são elementos de fundamental importância na prevenção das lesões cerebrais secundárias. A: VIA AÉREA Vias aéreas e controle da coluna cervical. Nessa primeira fase do atendimento, o médico deve checar se o paciente está com as vias aéreas desobstruídas. É importante verificar se não há corpos estranhos impedindo a respiração, fraturas de face ou qualquer lesão na coluna cervical. Todo o processo deve ser tátil, verificando sinais de edemas ou sangramentos e observando se a vítima não emite qualquer som durante a respiração, tosse ou apresenta alguma agitação. Garantida a permeabilização, o colar cervical deve ser colocado. B: RESPIRAÇÃO Respiração e ventilação. Depois de garantir a permeabilidade das vias respiratórias, é preciso aferir se o cidadão está, de fato, respirando bem. Nesse ponto, é necessário observar os movimentos do tórax, fazer auscultas a fim de eliminar qualquer lesão torácica e, se necessário, utilizar métodos de ventilação mecânica para reestabelecer a função. C: CIRCULAÇÃO Circulação com controle de hemorragia. Após os primeiros procedimentos, é preciso impedir que a vítima entre em quadros como a hipovolemia (diminuição anormal do volume do sangue de um indivíduo), que podem trazer como consequência o choque hemorrágico. Assim, apalpar, verificar o dorso e identificar de onde surgiu a hemorragia é o primeiro passo para sua contenção. Impedir que o cidadão continue perdendo sangue durante o atendimento pode ser decisivo para que o óbito não aconteça. Nessa etapa também são aferidos o nível de consciência, a coloração da pele, a frequência e a amplitude do pulso, a perfusão periférica, a pressão arterial e do pulso, ainda notando se há sudorese. D: INCAPACIDADE Exame neurológico sumário. Uma avaliação primária do nível de consciência da vítima deve serdeterminada no momento do primeiro atendimento para que, depois, seja encaminhada e classificada pela Escala de Glasgow. A primeira verificação deve ser feita pelo método AVDI: Alerta, resposta a estímulo Verbal, resposta a estímulo Doloroso ou inconsciente aos estímulos. Depois da primeira 7 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza classificação, o paciente deve passar por um novo teste ao chegar na unidade de atendimento. E: EXPOSIÇÃO Exposição com controle da hipotermia. Para identificar fraturas e hemorragias, a vítima deve ser despida. Para facilitar o trabalho e impedir novos traumas, corta- se a roupa. Nesse procedimento, é comum que a temperatura do corpo baixe, deixando os cidadãos mais suscetíveis à hipotermia. Com isso, outros problemas podem surgir. Assim, antes da remoção da vítima para o atendimento, é preciso garantir que sua temperatura esteja estável. Por isso, é preciso ter mantas térmicas sempre à mão. Conduta no TCE As indicações do exame no TCE leve têm como base um critério conhecido como regra canadense da TC de crânio (Canadian CT head rule) que está descrito no ATLS: OBS: Não podemos esquecer que pacientes em uso de anticoagulante oral ou que apresentem diátese hemorrágica, ou naqueles com sinais focais ou convulsões, a TC deve ser solicitada sempre. Tratamento O tratamento do traumatismo craniencefálico é classificado de acordo com o risco ao qual cada paciente individual encontra-se sujeito. As categorias de risco são: baixo, moderado e alto. TRATAMENTO PARA TCE LEVE: Os pacientes que atendem todos os critérios de baixo risco delineados na tabela acima geralmente recebem alta da unidade de emergência sem submeter-se à CT, desde que possam ser observados por uma pessoa confiável nas 24 horas 8 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza subsequentes. Ao paciente é entregue uma lista em que constem os sinais de alerta (como cefaleia, vômitos e confusão), e estes são instruídos a retomar imediatamente ao hospital diante da ocorrência de qualquer um dos sinais listados. TRATAMENTO PARA TCE MODERADO: Nos pacientes com risco moderado e que apresentaram concussão, mas que estão em Glasgow 15 (alertas, totalmente orientados e obedecendo aos comandos) e cuja CT é normal, a internação não está indicada. Os pacientes com déficits neurológicos discretos a moderados (o que, geralmente, corresponde ao Glasgow 9 a 14) e CT revelando alterações que não exigem intervenção neurocirúrgica devem ser internados na unidade de cuidados intermediários ou na unidade de tratamento intensivo (ICU), para observação. 9 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza TRATAMENTO PARA TCE GRAVE: Todos os pacientes com traumatismo craniencefálico significativo são considerados como sujeitos a alto risco, devendo ser internados e avaliados precocemente pelo neurocirurgião. Depois de estabilizados, avaliados e submetidos ao exame por imagem, a equipe deve decidir, de imediato, se é necessária intervenção cirúrgica em caráter emergencial. O tratamento clínico dos traumatismos cranioencefálicos graves deve ser realizado, obrigatoriamente, na UTI. TRATAMENTO CLÍNICO Inclui líquidos intravenosos, hiperventilação temporária, manitol, solução salina hipertônica, barbitúricos e anticonvulsivantes. 1. FLUIDOS INTRAVENOSOS: Os fluidos intravenosos, sangue e produtos de sangue devem ser administrados conforme a necessidade, para reanimar o doente e para manter a normovolemia. Também deve-se tomar o cuidado de não sobrecarregar o doente com líquidos. Não se devem usar líquidos hipotônicos. Além disso, o uso de soluções que contêm glicose pode produzir hiperglicemia, que se mostrou prejudicial ao cérebro lesado. Portanto, para a reanimação, recomenda-se o uso de solução salina isotônica ou de Ringer lactato. Os níveis séricos de sódio devem ser monitorados muito cuidadosamente em doentes portadores de trauma craniencefálico. A hiponatremia está associada ao edema cerebral e deve ser prevenida. 2. HIPERVENTILAÇÃO: A normocapnia é preferida na maioria dos casos. A hiperventilação age reduzindo a PaC02 e produzindo vasoconstricção cerebral. Hiperventilação agressiva e prolongada pode, na verdade, produzir isquemia cerebral, no cérebro já lesado, por causar vasoconstricção cerebral grave, prejudicando, portanto, a perfusão cerebral. Isto é particularmente verdadeiro quando se permite que a PaC02 caia abaixo de 30 mm Hg (4,0 kPa). Entretanto, a hipercapnia (PaC02 > 45 mm Hg) promove vasodilatação e aumento de pressão intracraniana e, portanto, deve ser evitada. A hiperventilação deve ser usada somente com moderação e, tanto quanto possível, por período de tempo limitado. Em geral é preferível manter a PaCO2 em 35 mm Hg (4, 7 kPa), o limite inferior do intervalo de normalidade (35 mm Hg a 45 mmHg). 10 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza 3. MANITOL: É usado para reduzir a pressão intracraniana elevada. Utiliza-se, habitualmente, uma solução a 20% (20g de manitol por 100mL de solução). O manitol não deve ser administrado a doentes hipotensos porque manitol não abaixa a PIC em situação de hipotensão além de ser um diurético osmótico potente. Isso pode exacerbar a hipotensão e a isquemia cerebral. Uma indicação clara para o uso de manitol em doente normovolêmico é défice neurológico agudo, como apresentação de pupila dilatada, hemiparesia, ou perda de consciência enquanto o doente está sendo observado. Nestas condições, o manitol (1 g/kg) deve ser rapidamente (por 5 minutos) administrado em bolus e o doente deve ser transportado imediatamente para a realização de TC ou diretamente para a sala de cirurgia no caso da lesão causadora já ter sido identificada. 4. SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA: A solução salina hipertônica também é usada para reduzir a PIC elevada. São usadas concentrações de 3% a 23,4% e esse pode ser o agente preferido para ser usado em doentes hipotensos pois ela não age como diurético. Entretanto, não existe diferença entre o manitol e a solução salina hipertônica em relação à redução da PIC e nenhuma das duas diminuem adequadamente a PIC em doentes hipovolêmicos. 5. BARBIÚTICOS: São eficientes na redução da pressão intracraniana refratária a outras medidas. Estas drogas não devem ser usadas na presença de hipotensão ou hipovolemia. Além disso, o uso desses agentes frequentemente produz hipotensão. Portanto o seu uso não está indicado na fase aguda de reanimação do trauma. A vida média longa da maioria dos barbitúricos também prolonga o tempo para a determinação da morte encefálica, uma consideração importante em doentes com lesões devastadoras e provavelmente incompatíveis com a vida. 6. ANTICONVULSIVANTES: A epilepsia pós-traumática ocorre em cerca de 5% de todos os doentes admitidos no hospital com traumatismos cranioencefálicos fechados e em 15% daqueles com traumatismos cranioencefálicos graves. Os três fatores principais ligados à alta incidência de epilepsia tardia são as convulsões que ocorrem durante a primeira semana, o hematoma intracraniano e a fratura com afundamento de crânio. As convulsões agudas podem ser controladas com anticonvulsivantes, porém o uso precoce de anticonvulsivantes não muda a evolução das convulsões pós-traumáticas de longo prazo. Os anticonvulsivantes também podem inibir a recuperação do cérebro, portanto eles só devem ser usados quando absolutamente necessários. TRATAMENTO CIRÚRGICO Pode ser necessário para lesões de couro cabeludo, fraturas com afundamentode crânio, lesões intracranianas de massa e ferimentos cerebrais penetrantes. 1. LESÕES DE COURO CABELUDO: É importante limpar a e inspecionar ferida cuidadosamente antes da sutura. As causas mais comuns de infecção de feridas do couro cabeludo são a limpeza e o desbridamento inadequados. O sangramento de couro cabeludo geralmente pode ser controlado aplicando-se pressão direta, e cauterizando-se ou ligando-se os vasos maiores. Podem então ser aplicados suturas, clipes ou grampeadores apropriados. Deve-se inspecionar cuidadosamente a ferida, sob visão direta, à procura de sinais de fratura ou de corpos estranhos. A presença de vazamento de LCR indica que existe laceração da dura-máter associada. 2. FRATURAS COM AFUNDAMENTO DE CRÂNIO: Geralmente a fratura com afundamento de crânio deve ser reduzida cirurgicamente se o grau de depressão for maior do que a espessura da calota adjacente, ou se estiver exposta e grosseiramente contaminada. As fraturas com afundamento menos significativo podem ser tratadas com segurança com fechamento do ferimento do couro 11 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza cabeludo, quando presente. A TC é útil para a identificação do grau de afundamento, mas, principalmente, para excluir a presença de hematoma ou contusão intracranianos. 3. LESÕES INTRACRANIANAS DE MASSA: Estas lesões são tratadas por um neurocirurgião. Caso um neurocirurgião não esteja disponível no hospital que recebe de início o doente com lesão intracraniana de massa, é essencial que se transfira esse doente para um hospital que possua um neurocirurgião de plantão. Em circunstâncias muito excepcionais, um hematoma em rápida expansão pode implicar em risco iminente de vida, não permitindo a transferência do doente se cuidados neurocirúrgicos ficam a alguma distância. Embora esta circunstância possa ser rara em áreas urbanas, ela pode ocorrer em áreas rurais. Somente em circunstâncias extremas e no doente que apresenta deterioração rápida, pode-se considerar a realização de trepanação feita por um médico que não é neurocirurgião. 4. FERIMENTOS ENCEFÁLICOS PENETRANTES: Quando um aneurisma ou uma fístula AV é identificada, recomenda-se o tratamento cirúrgico ou o endovascular. Os objetos que penetram o compartimento intracraniano ou a fossa infra-temporal e estão exteriorizados (por exemplo, flechas, facas ou chaves de fenda) não devem ser retirados até que sejam excluídas possíveis lesões vasculares e que o tratamento neurocirúrgico tenha sido estabelecido. A mobilização ou a remoção precoce de objetos penetrantes pode levar a lesão vascular fatal ou a hemorragia intracraniana. Achados de Imagens para TCE Os exames de imagem devem ser sempre feitos em pacientes com: Deficiência de consciência, Gcs < 15 Descobertas neurológicas focais Vômito persistente, História de perda de consciência Convulsões Fraturas clinicamente suspeitas. Muitos médicos fazem TC para todos os pacientes com mais de uma lesão cerebral trivial, pois as consequências clínicas e médico-legais de um hematoma despercebido são graves, mas os médicos devem ponderar essa abordagem com o possível risco dos efeitos adversos relacionados à radiação da TC em pacientes mais jovens. Embora a radiografia possa detectar algumas fraturas cranianas, ela não pode ajudar a avaliar o cérebro e pode atrasar exames de imagem mais definitivos; dessa forma, é raramente utilizada. A TC é a melhor escolha para imagem inicial, pois detecta: Hematomas Contusões Fraturas cranianas (cortes finos são obtidos para revelar clinicamente fraturas cranianas basilares suspeitas, as quais, do contrário, não poderiam ser visíveis) FRATURA DE CRÂNICO Essa radiografia de crânio mostra uma fratura da sutura lambdoide. 12 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza E, algumas vezes, lesões axonais difusas - LAD. A TC pode mostrar: Contusões e sangramento agudo aparecem opacos (densos) em comparação com o tecido cerebral. Hematomas epidurais arteriais classicamente aparecem como opacidades em formato lenticular acima do tecido cerebral, frequentemente no território da artéria meníngea média. Hematomas subdurais classicamente aparecem como opacidades em formato de lua crescente que se sobrepõem ao tecido cerebral. Hematoma subdural crônico aparece hipodenso comparado ao tecido cerebral, enquanto um hematoma subdural subagudo pode ter radiopacidade similar à do tecido cerebral (isodenso). Hematoma subdural isodenso, particularmente se bilateral e simétrico, pode aparecer somente sutilmente anormal. Em pacientes com anemia grave, um hematoma subdural agudo pode aparecer isodenso com tecido cerebral. Os achados podem ser diferentes dessas aparências clássicas entre diferentes pacientes. Sinais de efeito de massa incluem apagamento dos sulcos, compressão do ventrículo e cisterna, bem como desvio da linha média. Ausência desses achados não exclui PIC aumentada e efeito de massa pode estar presente com PIC normal. Um desvio de > 5 mm da linha média é, geralmente, considerado uma indicação para abordagem cirúrgica do hematoma. HEMATOMA EPIDURAL A TC mostra hematoma epidural (opacidade no canto inferior direito). HEMATOMA SUBDURAL Essa TC mostra opacidade em forma de lua crescente recobrindo o tecido cerebral, característica de hematoma subdural. Também há efeito de massa, com compressão do ventrículo e desvio da linha média. HEMORRAGIA SUBDURAL Hiperdensidade clássica em forma de crescente, estendendo-se ao longo das linhas de sutura. HEMORRAGIA EPIDURAL (TC CORONAL) Hiperdensidade lentiforme clássica (em forma de lente) que não ultrapassam as linhas de sutura. 13 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Ressonância Magnética pode ser útil mais tarde no curso clínico para detectar contusões mais sutis, LAD e lesão do tronco cerebral. RM normalmente é mais sensível que TC para o diagnóstico de hematomas agudos muito pequenos, subagudos subdurais e isodensos crônicos. Evidência preliminar e não confirmada sugere que certos achados da RM podem antecipar o prognóstico. Angiografia, angiotomografia, e angiografia por ressonância magnética: todas ajudam na avaliação da lesão vascular. Por exemplo, suspeitar lesão vascular quando os achados tomográficos forem incompatíveis com os achados ao exame físico (p. ex., hemiparesia com TC normal ou não diagnóstica por causa da suspeita de isquemia secundária em evolução a trombose vascular ou embolia decorrente de dissecção da artéria carótida). Complicações do TCE As manifestações clínicas associadas ou Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) estão diretamente relacionadas à gravidade e a área atingida pela lesão. porém normalmente a alteração da consciência associado ao coma prolongado, estão presentes no Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) grave, permanecendo por várias horas, dias ou semanas quando há tumefação, hemorragia, contusão ou laceração do córtex estão presentes na região do trauma. No período de restabelecimento das funções cognitivas após o coma os pacientes podem apresentar cefaleia por mais de 12 horas e confusão mental. Diante destes achados à paciente encontra-se no quadro de coma. Outros achados clínicos, comumente presentes em pacientes com Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) tem: Choque cirúrgico; Transtornos da função neuromuscular que abrangem aumento do tônus; Tremor, hipotonia, ataxia, perturbações das reações de endireitamento e equilíbrio; Transtorno sensorial; Transtorno da linguagem, comunicação e audição; Afasia; Alterações da personalidade, Controle das emoções e intelecto; Transtornos visuais; Epilepsia; Incontinência; Complicações por imobilização prolongada como úlceras de decúbito, deformidades das articulações; Atrofias por desuso, paralisias de nervos cranianos, alteração na função autonômica, posturas anormais. Além das manifestações clínicas que o paciente com Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) pode apresentar existem algumas complicações que podem ocorrer como: Lesões vasculares; Hemorragia; Trombose; Aneurismas; Infecções como osteomielite, meningite; Abcesso; Rinorréialiquórica; Otoliquorréia; HEMORRAGIA EPIDURAL (TC AXIAL) Hiperdensidade lentiforme clássica (em forma de lente) que não ultrapassa as linhas de sutura. 14 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Pneumocele; Lesão de nervos cranianos; Lesões focais do cérebro; Diabetes insípido. Principais sequelas do TCE As incapacidades resultantes do TCE podem ser divididas em três categorias: físicas, cognitivas e emocionais/comportamentais. As físicas são diversificadas, podendo ser motoras, visuais, táteis, entre outras. As cognitivas frequentemente incluem principalmente problemas de atenção, memória, e funções executivas. As incapacidades comportamentais/emocionais são, em geral, a perda de autoconfiança, motivação diminuída, depressão, ansiedade, dificuldade de autocontrole, esta representada mais comumente por desinibição, irritabilidade. Os prejuízos físicos são os mais aparentes, mas, a longo prazo, os problemas com cognição, personalidade e comportamento são mais importantes para a qualidade de vida da pessoa acometida. Físicas Efeitos posteriores à lesão cerebral estendem-se para uma fase subaguda e crônica do trauma desencadeando complicações para vários sistemas do corpo. Podem ser observadas alterações musculoesqueléticas, distúrbios cardiovasculares, disfunções endocrinológicas, alterações no trato intestinal e urinário, bem como na dinâmica respiratória, além de comprometimentos no sistema sensório-motor. A lesão do TCE pode comprometer todos os membros ocorrendo, concomitantemente, alterações de tônus e de postura. Inicialmente o tônus encontra-se reduzido e mais usualmente evolui para um quadro de espasticidade, podendo levar à instalação de um quadro que contribui para a ocorrência de contraturas e deformidades. A presença de ataxia, com dificuldade para coordenação de movimentos, também pode ocorrer em decorrência de lesões ao nível do cerebelo. Assim como pode haver a presença de tremores involuntários, resultante da lesão do sistema extrapiramidal, mais especificamente nos núcleos da base. As contraturas ou encurtamentos da pele, tendões, ligamentos, músculos ou cápsula articular podem resultar do período de imobilização do paciente, ocasionando fatores de risco representados pela espasticidade muscular, mau alinhamento e o posicionamento impróprio. Em alguns casos observa-se a presença do padrão hemiplégico e ou hemiparético, com alterações de marcha e mobilidade funcional de membro superior e de membro inferior. Não raramente as pessoas que tiveram o TCE são politraumatizadas, apresentando sequelas de fraturas, que podem interferir de maneira significativa no processo de reabilitação. Dor, limitação articular e falhas de consolidação muitas vezes limitam a realização de exercícios, interferem com o adequado posicionamento, dificultam a realização de atividades de cuidado pessoal, o ortostatismo e a marcha.