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TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO A segunda etapa abre os estudos em Tópicos em Educação 1, trazendo para o âmbito das discussões e estudos as seguintes temáticas: Didática; Evolução do Pensamento Pedagógico; Teorias da Aprendizagem; As Tendências Pedagógicas na prática escolar brasileira e a Avaliação da Aprendizagem Escolar. Iniciamos pela Didática, compreendendo-a como parte da Pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino. Em seguida, faremos uma incursão pela evolução do pensamento pedagógico, iniciando com os filósofos gregos e encerrando com o pensamento sobre a Educação na contemporaneidade. No tópico 3 refletiremos acerca das Teorias de Aprendizagem, passando em seguida para as Tendências Pedagógicas que nortearam a educação brasileira nos diferentes momentos da história da Educação no país. Fecharemos a segunda etapa com os estudos acerca da Avaliação Escolar, em que abordaremos a concepção de avaliação e os instrumentos que configuram esta ação pedagógica. Para obter este aprendizado, você terá à sua disposição uma apostila em formato PDF, um objeto de aprendizagem como interação do conteúdo e questões objetivas para testar seu aprendizado durante a etapa. Caso tenha alguma dúvida, entre em contato com a Tutoria, através do link TIRE SUAS DÚVIDAS, que se encontra no próprio ambiente do curso. Vamos começar? Bons estudos! APRESENTAÇÃO Organização Tania Cordova Equipe Tutoria Interna de Pedagogia Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO .02 1 DIDÁTICA Caro leitor! Estamos prestes a iniciar os estudos sobre a Didática e os elementos da ação didática. Você já se perguntou qual a origem do termo didática? No Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2008), a palavra Didática significa: A técnica de dirigir e orientar a aprendizagem. No século XVII, o termo foi apresentado por Jan Amos Komensky (Comenius), em sua obra Didática Magna, escrita em 1657. Com significação muito semelhante à atual, a Didática de Comenius instituía a nova disciplina como a “arte de ensinar tudo a todos”. Este pensador se opunha à não existência de procedimentos adequados ao ensino ou a técnicas impróprias para ensinar. Pensando em solucionar esta questão e por fim ao modo de pensar sem critérios previamente definidos e sem qualidade, Comenius fundamentou a primeira proposta de organizar uma sistematização no “como” ensinar (técnicas e métodos). Assim, a didática surgiu para orientar os educadores a trilhar um caminho adequado para o processo de ensino e aprendizagem. Os vários manuais de didática traziam detalhes sobre como os professores deveriam se portar em sala de aula. Tradicionalmente, os elementos da ação didática são: professor, aluno, conteúdo, contexto e estratégias metodológicas. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 1 – ELEMENTOS DA AÇÃO DIDÁTICA. FONTE: Disponível em: <http://www.crianca.pb.gov.br/ site/?attachment_id=2436>. Acesso em: 17 abr. 2011. Com o estudo cada vez maior dos paradigmas educacionais nos cursos de formação de professores, em específico no curso de Pedagogia, ampliou- se o conhecimento relacionado à didática. Com as tendências pedagógicas surgidas ao longo da História da Educação, a visão de homem e de mundo e a finalidade da educação modificaram-se, alterando-se o papel do professor, do aluno, da abordagem, da metodologia, dos instrumentos avaliativos, enfim, mudou-se a forma de ensinar. Com essas mudanças, a Didática configurou-se em uma das matérias fundamentais da formação dos professores nos cursos de Licenciatura. É uma disciplina pedagógica, um ramo da Pedagogia, um instrumento de trabalho docente que se ocupa em investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem. Segundo Libâneo (1990a, p. 26), cabe à Didática: Converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos [...] trata da teoria geral do ensino. De acordo com o mesmo autor, a Didática, enquanto disciplina dos cursos de formação docente, tem como objetivo desenvolver a capacidade crítica do professor, para que ele possa analisar de forma clara a realidade do ensino, bem como proporcionar elementos para que o professor possa articular os conhecimentos adquiridos sobre o “como” ensinar e refletir sobre “para quem” ensinar, “o que” ensinar e o “por que” ensinar. A Didática é uma das disciplinas da Pedagogia que estuda o processo de ensino através de seus componentes – os conteúdos escolares, o ensino e aprendizagem – para que, embasado em uma teoria da educação, possa formular diretrizes orientadoras a partir da atividade profissional dos professores (LIBÂNEO, 1990a). CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Nessa perspectiva, a didática deve investigar “as condições e formas que vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicossociais) condicionantes das relações entre docência e aprendizagem” (LIBÂNEO, 1990a). As instituições de ensino, tanto públicas como privadas, utilizam-se da didática para proporcionar a aquisição de conhecimentos dos alunos e, assim, conseguir um melhor aproveitamento do aprendizado. Sem uma didática adequada, é inviável conseguir traçar e atingir o objetivo proposto entre docente e discente. Mas é preciso lembrar que a didática, fundamentada na dialética, é um campo em constante construção/reconstrução, de uma práxis que não tem como objetivo ficar pronta e acabada. Muito bem! Agora que já conhecemos um pouco da função da Didática, vamos retomar os estudos acerca da evolução do pensamento pedagógico, ou seja, buscaremos, prezado(a) acadêmico(a), no próximo tópico, compreender como o pensamento acerca da finalidade da educação nas sociedades humanas foi se modificando ao longo dos anos. Vamos iniciar a trajetória com os filósofos gregos como Sócrates, por exemplo, e encerrá-la com os idealizadores da educação contemporânea, como Jacques Delors e Edgar Morin. 2 PENSADORES DA EDUCAÇÃO: A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO As questões acerca da educação vêm sendo debatidas desde os tempos antigos até a contemporaneidade, por filósofos e educadores, que partem do ponto de que ela é responsável pelo processo de formação das faculdades intelectuais, morais e físicas do ser humano. Assim, o objetivo deste tópico é possibilitar a incursão pela evolução das ideias pedagógicas ao longo da História. Iniciamos com os gregos, em seguida vamos compreender o pensamento sobre a educação no período denominado de Idade Média, passando logo após para o século XVIII, conhecido como o século das luzes. Veremos alguns idealizadores da educação inseridos nos séculos XIX e XX e concluiremos nossa trajetória com as reflexões acerca do pensamento da Educação no século XXI. Vamos iniciar nossa jornada? 2.1 A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA A PARTIR DA PERSPECTIVA DA FILOSOFIA A educação sistematizada tem origem na Grécia Antiga. Nesse contexto, destaca-se o filósofo grego Sócrates como o primeiro educador da história. Para este pensador, o conhecimento estava dentro de cada ser humano, só CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO necessitava ser despertado. Como estratégia, utilizava o método dialogado. Ele proporcionava diálogos críticos com seus interlocutores, fazendo com que, a partir das interrogações feitas por ele, pudessem dar vazão a suas próprias ideias. FIGURA 2 – SÓCRATES Sócrates afirmava que o educador não deve dar as respostas ao educando, mas, estimulá-lo para que procure dentro de si as respostas. O ser humano deve reconhecer a própria ignorância e buscar constantementepelo verdadeiro conhecimento, que se dá para além das aparências das coisas materiais, no mundo das ideias, imutável e perfeito. Sócrates (469-399 a.C.) FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_IDSPYjr7mJs/ShsmAFEcc4I/ AAAAAAAAACE/6hWDeJ7k4dA/S220/socrates+philosopher.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Ainda na antiguidade grega, outro filósofo deve ser destacado. Trata-se de Platão, discípulo de Sócrates. O pensador pode ser considerado o fundador da teoria da educação. Propôs um método fundamentado na dialética. Este era um meio de refutar as afirmações propostas pelas pessoas. Para ele, o verdadeiro conhecimento se encontra no mundo das ideias, que só é atingido quando deixamos para trás o mundo sensível. Platão afirmava haver dois mundos diferentes e separados: 1) o mundo sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos; e 2) o mundo das ideias gerais (inteligível), das essências imutáveis, que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos (ARANHA, MARTINS, 1997). FIGURA 3 – PLATÃO Em resumo, Platão afirmava que, o que se sabe foi contemplado pela alma no mundo das ideias. Nesse contexto, a educação proposta por Platão visava à formação moral do homem diante do Estado. Platão (427-347 a.C.) FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-vy47r88Z1cE/TVhhQfhejFI/ AAAAAAAAAO8/mIgHI5WEa3c/s1600/platao.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Contrapondo-se ao pensamento socrático e platônico, o fi lósofo Aristóteles desenvolveu uma teoria voltada para o real. Assim, enquanto Platão e Sócrates são considerados pensadores de uma vertente idealista, Aristóteles é considerado um pensador realista. FIGURA 4 – ARISTÓTELES Aristóteles nasceu na cidade de Estagira, na Macedônia. Escreveu sobre os mais variados temas (anatomia, biologia, lógica, política, moral, ética, entre outros). Foi discípulo de Platão em Atenas. Após a morte de Platão, Aristóteles fundou sua própria escola, chamada de Liceu. Segundo o filósofo, a finalidade da educação no ser humano é a sua busca pela felicidade ou pelo bem, que está no mais alto grau do funcionamento da natureza humana. Aristóteles (384-322) a.C FONTE: Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos. com.br/aristoteles.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Para compreendermos o pensamento de Aristóteles acerca da Educação, vamos acompanhar o texto a seguir: A educação aristotélica mostrava-se, portanto, profundamente interessada em investigar os fenômenos da natureza. Possuía um currículo bastante amplo, que incluía matérias de biologia, a física, a astronomia. Aristóteles estudou estas matérias com grande dedicação, sendo considerado, por isso, o pai das ciências modernas. Segundo Aristóteles, existem três ideias absolutamente essenciais para o desenvolvimento de uma boa educação: 1º) A primeira destas ideias é aquela que se refere à natureza do educando. Pois bem, esta natureza, que por razões biológicas irá condicionar em muitos aspectos o comportamento do aluno, deve ser compreendida e respeitada pelo educador. O programa de ensino precisa ser elaborado a partir da aceitação desta natureza, isto é, do conhecimento de suas virtudes e deficiências. Somente assim o professor poderá enfrentar com realismo as suas possibilidades de mudanças e de progresso, embora esteja consciente de suas limitações quando forem superáveis. 2º) A segunda destas ideias está relacionada à formação de bons hábitos. Aristóteles afirmava que muitos dos nossos desejos instintivos são contrários ao sadio desenvolvimento de nossa personalidade. Então, torna-se necessário controlarmos estes desejos através de hábitos produtivos que nos induzam a assumir, automaticamente, um comportamento construtivo. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Vamos exemplificar este pensamento: se condicionada pela inércia, determinada pessoa sente o desejo de permanecer na cama, dormindo, depois de um certo horário, mesmo sabendo que este horário já não é mais o ideal, seria infantil supormos que do dia para a noite poderíamos conter este desejo. Mas podemos controlá-lo se desenvolvermos nesta pessoa o hábito de acordar cedo. O hábito, entretanto, não se desenvolve de uma hora para outra, como num passe de mágica. O seu desenvolvimento depende de um trabalho gradativo, que se realiza através da contínua e persistente repetição da ação pretendida. De posse do hábito, ele nos servirá como eficiente arma de combate de nossos desejos instintivos e irracionais, que cederão lugar a um comportamento automático e construtivo. 3º) A terceira e última ideia básica, para a qual o processo educacional sempre deve estar voltado, é o desenvolvimento da inteligência e da razão. Para Aristóteles, são estas as nossas faculdades mais importantes e, por isso, devem merecer uma atenção toda especial. A educação precisa se dedicar ao aprimoramento destas faculdades, através de um adequado programa de ensino que proporcione o treinamento e a disciplina mental. Aristóteles depositava enorme confiança nos poderes da razão, apontando-a como caminho mais seguro para a solução dos problemas que nos envolvem. Estimular o aluno a dar passos por este caminho era, para ele, a função primordial da educação. Com Aristóteles, a filosofia grega atingiu o seu clímax. É difícil julgar o exato valor deste filósofo. [...] De qualquer forma, a influência intelectual que Aristóteles exerce, até hoje, sobre a humanidade, dá-nos uma ideia da grandeza de sua genialidade. FONTE: Cotrim; Parisi (1988) 2.2 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA A partir do século III, o cristianismo ganhou proporções significativas no contexto europeu. A Igreja Católica apropriou-se da cultura clássica greco- romana para adaptá-la às necessidades do discurso cristão. Para combater o paganismo, termo utilizado para designar aquele que não era convertido ao cristianismo, os padres da Igreja Católica buscaram fundamentos na filosofia grega. Neste aspecto, as ideias difundidas pelos filósofos gregos foram reorganizadas a serviço do discurso da Igreja Cristã com o objetivo de firmar a conversão ao cristianismo como opção compatível com as maneiras de viver e pensar a que estavam acostumados os homens naquele período. O pensamento platônico, por exemplo, influenciou a primeira filosofia cristã do período medieval. Para compreendermos a influência das ideias de Platão neste contexto, vamos ler as considerações feitas no texto a seguir: CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Por influência platônica, Agostinho distingue dois tipos de conhecimento: o que advém dos sentidos é imperfeito, mutável; e o outro, que é perfeito, conhecimento das essências imutáveis, de onde provém? Sabemos que Platão começa explicando o conhecimento pela alegoria da caverna e, em seguida, propõe a teoria da reminiscência, segundo a qual a alma teria contemplado as essências no mundo das ideias antes da vida presente, enquanto os sentidos seriam apenas ocasião das lembranças e não a fonte própria do conhecimento. O cristão Agostinho adaptou essa explicação à teoria da iluminação. O ser humano receberia de Deus o conhecimento das verdades eternas, o que não significa desprezar o próprio intelecto, pois, como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. O saber, portanto, não é transmitido pelo mestre ao aluno, já que a posse da verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas de dentro de cada um. Isso é possível porque “Cristo habita no homem interior”. Toda a educação é, dessa forma, uma autoeducação, possibilitada pela iluminação divina. FONTE: Aranha (2006) FIGURA 5 – SANTO AGOSTINHO A primeira filosofia cristã, denominada de Patrística, teve como representante Santo Agostinho. Para ele, o homem só tinha acesso ao conhecimento quando iluminado por Deus. Nesta filosofia, educação e catequese eram equivalentes, o conhecimento confundia-se coma fé. Assim, a educação estimulava, sobretudo, a obediência aos mestres, a resignação e a humildade diante daquilo que não era conhecido. O objetivo era treinar o controle das paixões para merecer a salvação numa suposta vida após a morte (FERRARI, 2011a). O pensamento agostiniano marcou quase oito séculos do contexto cristão europeu durante a Idade Média. Santo Agostinho (354-430) FONTE: Disponível em: <http://www.ahistoria.com.br/wp-content/uploads/ santo-agostinho-de-hipona.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. No século XII, a sociedade europeia passou por transformações de âmbito social, econômico, cultural e religioso. Viveu-se o período final da Idade Média e a transição de uma sociedade agrária para um modo de produção mais orientado para as cidades e a atividade comercial (idem). Neste cenário, destaca-se São Tomás de Aquino, importante nome da filosofia escolástica, cujo pensamento evidenciava a atividade, a razão e a vontade humana. O sistema filosófico organizado por este pensador conciliava a fé cristã com o pensamento realista do filósofo grego Aristóteles. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 6 – SÃO TOMÁS DE AQUINO O pensamento tomista, como também é denominada a filosofia difundida por São Tomás de Aquino, faz uma revisão da teologia cristã sob a ótica do princípio aristotélico no qual cabe à razão ordenar e classificar o mundo para entendê-lo. A relação fé e razão está no centro desta filosofia. São Tomás de Aquino defendia que, embora subordinada à fé, a razão funcionava por si só e segundo as suas próprias leis. Nessa perspectiva, o conhecimento não depende da fé nem da presença de uma verdade divina no interior do indivíduo, mas é um instrumento para se aproximar de Deus (FERRARI, 2011a). São Tomás de Aquino (1224-1274) FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-Pl3TnDouvB4/ThBd5Vcw6bI/ AAAAAAAAA7k/-1AF8BI7z3A/s1600/STaquinas.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Estes dois representantes da filosofia cristã consideraram o ensino como um instrumento divino, onde Deus era o verdadeiro mestre que ensina dentro da alma, porém Aquino defende a necessidade da ajuda exterior. Ainda no contexto do final da Idade Média, destacamos a contribuição de Comênio. Este pensador deu importância às formas de ensinar (didática), dimensão que até então a educação não levava em consideração. FIGURA 7 – COMÊNIO Este pensador tcheco é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação. Sua obra mais significativa, Didática Magna, marca o início da sistematização da pedagogia. Para Comênio, a prática deveria imitar os processos da natureza. O interesse da criança passa a ser também considerado, valorizado. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades (FERRARI, 2011a). Jan Amos Komensky (Comênio) (1592-1670) FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_OssMahKY36g/SobWh71071I/ AAAAAAAAACk/PJ-wKvvOE30/s400/022-comenio%5B1%5D.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. 2.3 A EDUCAÇÃO E O ILUMINISMO No século XVIII, um movimento denominado Iluminismo procurava levar as “luzes” da razão por todos os lugares, não se prendendo ao dogmatismo e sim, à racionalidade. A educação iluminista, assim como a sua cientificidade, era livre de influências religiosas, permitindo a liberdade de pensamento. Um dos expoentes do pensamento iluminista foi Jean-Jacques Rousseau. Sua obra Emílio, ou da Educação dá origem a um novo conceito de infância. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 8 – ROUSSEAU FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b7/Jean- Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg/200px-Jean-Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. A pedagogia proposta por este pensador representa a primeira tentativa radical e apaixonada de oposição à pedagogia da essência e de criação de perspectivas para uma pedagogia da existência. A obra Emílio tornou-se o manifesto de um novo pensamento pedagógico e assim permanece até os dias de hoje. Nela o autor pretendeu provar que o homem nasce bom, mas que o contexto social o corrompe, tornando-o mau. Rousseau preconizava que seria conveniente dar à criança a possibilidade de um desenvolvimento livre e espontâneo. Segundo Rousseau, uma das falhas da civilização em atingir o bem comum é a desigualdade, que se manifesta em duas formas: a que se deve às características individuais de cada ser humano, sendo esta natural, e aquela causada por circunstâncias sociais, e que deve ser combatida. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Nos anos finais do século XVIII, as práticas das ideias de Rousseau foram empreendidas pelo pensador suíço Johann Heinrich Pestalozzi, que em seus escritos e atuação apresenta dimensões à problemática educacional. Para este pensador, a criança era um ser puro, bom na sua essência e possuidor de uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude. FIGURA 9 – PESTALOZZI FONTE: Disponível em: <http://www.nacional.edu.br/imagens/pestalozzi_clip_ image002.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Este pensador comparava o trabalho do professor ao do jardineiro, que deveria providenciar as melhores condições externas para que a planta seguisse seu desenvolvimento natural. Para Pestalozzi, o aprendizado era, em grande parte, conduzido pela própria criança. O método de ensino deveria partir do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na ação e na percepção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava era o desenvolvimento das habilidades e dos valores. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) Contemporâneo a Pestalozzi, o filósofo Johann Friedrich Herbart foi o precursor de uma psicologia experimental aplicada à Pedagogia. Foi o primeiro a elaborar uma pedagogia que pretendia ser uma ciência. Para este pensador, a mente funcionaria com base nas representações de: imagens, ideias ou qualquer outro tipo de manifestação psíquica isolada. Para ele, as faculdades inatas eram inexistentes. Os processos mentais se dariam a partir CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO das relações entre as representações, que nem sempre são conscientes. Essas representações se combinariam e produziriam resultados manifestos ou entrariam em conflitos entre si, permanecendo, sob forma não manifesta, numa espécie de domínio do inconsciente. FIGURA 10 – HERBART FONTE: Disponível em: <http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/752628/ gd/130473198017/Grandes-pensadores-Herbart-o-organizador-da-pedagogia-como- ciencia.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Herbart criou um sistema de ensino denominado instrução educativa, que a partir de situações sucessivas, bem reguladas pelo professor, possibilitaria o fortalecimento da inteligência, onde o seu cultivo forma a vontade e o caráter. Sugeriu que cada conteúdo trabalhado obedecesse a fases estabelecidas ou passos formais. Seriam eles: o de clareza da apresentação dos elementos sensíveis de cada assunto, o de associação, o de sistematização, e, por fim, o de aplicação.Johann Friedrich Herbart (1776-1841) Na Alemanha, do final do século XVIII e início do XIX, o professor Friedrich Froebel compartilhava com outros pensadores do seu tempo, como Pestalozzi e Herbart, das ideias de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. A essência da criança é boa e divina e precisava ser afastada das ações sociais que poderiam corrompê-la. Froebel fundou os jardins de infância, instituições destinadas aos menores de 8 anos. O objetivo das atividades nestes espaços era possibilitar brincadeiras criativas, sendo estas o primeiro recurso no caminho daaprendizagem. Nesse contexto, as brincadeiras não eram apenas diversão, mas uma forma de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. As atividades e o material escolar eram determinados previamente, para oferecer o máximo de oportunidades para tirar proveito educativo da atividade lúdica. (FERRARI, 2011a). CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 11 – FRIEDRICH FROEBEL FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ thumb/8/82/Frederick-Froebel-Bardeen.jpeg/220px-Frederick-Froebel-Bardeen.jpeg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Froebel fo i um dos pr imeiros educadores a considerar o início da infância como fase importante na formação das pessoas. As técnicas propostas por este educador estão presentes até hoje nas instituições de Educação Infantil. Friedrich Froebel (1782- 1852) 2.4 A EDUCAÇÃO NO FINAL DO SÉCULO XIX Caro(a) acadêmico(a)! Além de levantar discussão sobre a educação escolar, o final do século XIX foi também profícuo em pensamentos sobre a relação sociedade e educação. Nesse contexto, destacam-se o pensador alemão Karl Marx, o filósofo italiano Antonio Gramsci e o sociólogo francês Émile Durkheim. Vamos conhecer as propostas de cada um deles. FIGURA 12 – KARL MARX FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/82/ Frederick-Froebel-Bardeen.jpeg/220px-Frederick-Froebel-Bardeen.jpeg>. Acesso em: 28 jul. 2011. O pensamento de Karl Marx influenciou profundamente as ciências sociais contemporâneas. No que diz respeito à educação, a contribuição das ideias marxistas precisa ser considerada em dois níveis: o do esclarecimento e da compreensão de que a educação precisava ser transformada. Todavia, para que essa mudança ocorresse seria necessário mudar as condições sociais. Para Marx, a transformação educativa deveria ocorrer concomitantemente à revolução social. Para o desenvolvimento total do homem e a mudança das relações sociais, a educação deveria acompanhar e acelerar esse movimento, mas não encarregar-se exclusivamente de desencadeá-la, nem de fazê-la triunfar. Karl Marx (1818-1883) Na mesma perspectiva que Marx, o pensador italiano Antonio Gramsci compreende que o ser humano só constrói sua personalidade digna pela capacidade de produzir a própria existência por meio do trabalho. Gramsci considerava o trabalho como um princípio antropológico e educativo básico da formação humana. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Este pensador criticava a escola tradicional na qual o ensino estava dividido entre o clássico e o profissional. O ensino clássico era destinado à formação da classe dominante e aos intelectuais, e o profissional estava destinado às classes instrumentais (classe popular). A proposta de Gramsci para a superação desta divisão defendia uma escola crítica, onde o ensino deveria ser ao mesmo tempo: clássico, intelectual e profissional. FIGURA 13 – GRAMSCI FONTE: Disponível em: <http://api.ning.com/files/WXOzLb79GUGC7WTcv4wxPwwzDLj8 7ArLLhIzJHERmzo12jA*vjzgR*GAzQooQVHAtAi0sqk2ELoM8mO0qr3-L8uWqsLMBo5B/gramsci. bmp?crop=1%3A1&width=171>. Acesso em: 28 jul. 2011. O pensamento gramsciniano difundia que os agentes da transformação social seriam os intelectuais, e a escola seria um dos instrumentos mais importantes desta transformação, pois seria campo de atuação destes intelectuais. Para Gramsci, a função do intelectual (e da escola) é mediar a tomada de consciência do aluno, que passa pelo autoconhecimento individual e implica reconhecer o contexto em que está inserido. Antonio Gramsci (1891-1937) De acordo com Ferrari (2011a), uma das contribuições de Gramsci para a contemporaneidade é conceito de cidadania. Foi ele quem trouxe à discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola. A cidadania deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural das massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes dominantes. O século XIX é ainda marcado pelo nascimento das ciências humanas, como antropologia, sociologia, psicanálise e linguística. No contexto da sociologia, destacamos o francês Émile Durkheim. Para este pensador, a educação atuava como agente de mudanças sociais e culturais na sociedade envolvente. Durkheim (apud FERRARI, 2011b) afirmava que: A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela. Assim, o educador poderia promover modificações no comportamento individual do educando e, por meio deles, na sociedade, já que uma de suas funções era a de formar cidadãos para contribuir na harmonia social. Este pensador defendia uma educação pública, monopolizada pelo Estado e laica, liberada do controle e influência da Igreja Católica. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 14 – DURKHEIM FONTE: Disponível em: <http://www.larousse.fr/encyclopedie/data/ images/1310778.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Durkheim acreditava que a sociedade seria beneficiada pelo processo educativo. Para ele, “a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta”. E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida. (FERRARI, 2011b). Émile Durkheim (1858-1917) 2.5 O PENSAMENTO SOBRE A EDUCAÇÃO NOS SÉCULOS XX E XXI: NOVOS OLHARES A democracia e a liberdade de pensamento, como instrumentos para a maturação emocional e intelectual das crianças, foram uma das preocupações que perpassou o pensamento educacional nas primeiras décadas do século XX. Entre os pensadores que se debruçaram sobre essa orientação está o norte-americano John Dewey, que exerceu grande influência sobre a pedagogia contemporânea. Dewey defendeu a Escola Ativa, que propunha a aprendizagem através da atividade pessoal do aluno, onde a experiência era o principal fator de interesse em aprender. FIGURA 15 – JOHN DEWEY FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-0AYxhJNYj5M/TfQEQgxbC7I/ AAAAAAAAAaY/68CB0qdIUhI/s400/john+Dewey.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. As ideias disseminadas por este pensador influenciaram educadores de várias partes do mundo. No Brasil inspirou o movimento da Escola Nova, liderado por Anísio Teixeira. A corrente filosófica de Dewey também é denominada de pragmatismo ou instrumentalismo. No campo da Educação, a teoria se inscreve na chamada educação progressiva, tendência esta que veremos mais adiante. John Dewey (1859- 1952) A ideia de educação como uma conquista da criança fundamenta o pensamento da médica italiana Maria Montessori, que defendia que a criança nasce com a capacidade de ensinar a ela mesma, desde que sejam dadas as condições necessárias. A proposta consiste em despertar a atividade infantil através do estímulo e promover a autoeducação da criança a partir dos meios (materiais e espaço físico) adequados à sua necessidade. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 16 – MARIA MONTESSORI FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_HaK30w4NDRQ/TJl_rgLr54I/ AAAAAAAAB2Q/tOH6XKek5pI/s1600/maria+montessori+05.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Desta forma, o educador não atuaria diretamente sobre a criança, mas ofereceria meios para sua autoformação. Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como sujeito e objeto do ensino. Seu método empregava uma diversidade de materiais didáticos (cubos, prismas, sólidos, bastidores para enlaçar caixas, cartões, etc.), destinado a desenvolver a atividade dos sentidos. Maria Montessori (1870-1952) Entre outros, os pensadoresda educação que difundiram o uso dos métodos ativos aonde o aluno conduz o próprio aprendizado está Ovide Decroly. Este método consiste na tarefa do professor em preparar a criança para viver em sociedade. FIGURA 17 – OVIDE DECROLY FONTE: Disponível em: <http://www.holisticeducator.com/PhotoOvide.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; enfatiza o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Esta última se baseia na ideia de que as crianças apreendem o mundo com base em uma visão do todo, que, posteriormente pode se organizar em partes, ou seja, que vai do caos à ordem. O modo mais adequado de aprender a ler, portanto, teria seu início nas atividades de associação de significados, de discursos completos, e não do conhecimento isolado de sílabas e letras (FERRARI, 2011a). Ovide Decroly (1871-1932) No cenário do movimento renovador da escola contemporânea, destaca-se o pedagogo e psicólogo suíço Édouard Claparède. Este pensador defendia a necessidade de estudar o funcionamento da mente infantil e de estimular na criança um interesse ativo pelo conhecimento. Claparède criou um método, denominado educação funcional, que procurava desenvolver as aptidões individuais e encaminhá-las para o interesse comum, dentro de um conceito democrático de vida social. Conforme o pensador, nenhuma sociedade progride devido à redução das pessoas a um tipo único, mas sim devido à diferenciação. (FERRARI, 2011a). CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 18 – ÉDOUARD CLAPARÈDE FONTE: Disponível em: <http://www.baillement.com/image-ter/claparede.gif>. Acesso em: 28 jul. 2011. As ideias de Claparède favoreceram o desenvolvimento de duas das mais importantes linhas educacionais do século XX, a Escola Nova, cuja representante mais conhecida foi Maria Montessori, e o cognitivismo de Jean Piaget. Caro(a) acadêmico(a), as teorias de aprendizagem idealizadas por Jean Piaget e por Lev Vygotsky serão abordadas no tópico 3 deste caderno.Édouard Claparède (1873-1940) As crises sociais e a instabilidade política vivenciadas pelas sociedades mundiais na primeira metade do século XX, ocasionadas pelas Primeira e Segunda Guerras Mundiais, entre outros fatores, serviram de campo de estudo para o médico e psicólogo francês Henri Wallon desenvolver suas considerações acerca da finalidade da educação. As ideias de Wallon estão fundamentadas em quatro elementos básicos que devem comunicar-se o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. FIGURA 19 – HENRI WALLON FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/img/historia/henri-wallon.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. A teor ia wa l lon iana cons idera que o desenvolvimento intelectual envolve mais do que um simples cérebro. Envolve fatores internos (de ordem fisiológica, neurológica e psicomotora), bem como fatores de ordem externas como a organização dos espaços físicos, por exemplo. Os estudos de Wallon mostram que o desenvolvimento da aprendizagem depende de como cada um faz as diferenciações com a realidade que o cerca.Henri Wallon (1879- 1962). Ainda no contexto de reação contra o ensino tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, destaca-se o pedagogo francês Célestin Freinet. Este pensador somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si. Freinet propunha uma pedagogia do trabalho, em que a atividade é o que orienta a prática escolar, e o objetivo final da educação é a formação de cidadãos para o trabalho livre e criativo, capaz de se apropriar e transformar o meio. A função do professor, nesse contexto, é a de criar e organizar uma atmosfera laboriosa nos espaços escolares. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Em relação ao papel do professor, Freinet ainda orientava que este deveria colaborar para a superação do erro, pois o errar poderia desestimular o aluno a aprender. FIGURA 20 – CÉLESTIN FREINET FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/img/historia/022-freinet-01. jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Os pontos de destaque da metodologia de Freinet são: • A pedagogia do trabalho • A pedagogia do êxito • A pedagogia do bom senso. Célestin Freinet (1896-1966) As ideias do norte-americano Carl Rogers para a educação são uma extensão da teoria que desenvolveu como psicólogo. Nos dois campos, as suas ideias opunham-se às concepções e práticas dominantes. O aspecto antiautoritário e anticonvencional de seu pensamento o tornou conhecido e referenciado nos anos 1960, durante o auge da contracultura, representada em parte pelo movimento hippie. No Brasil, a influência de Rogers também se deu por essa época, em particular na formação de orientadores educacionais (FERRARI, 2011a). FIGURA 21 – CARL ROGERS FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_QAlVLaUzyak/TSc8IiHyLUI/ AAAAAAAAAEQ/jmEHvtTLhRg/s1600/CARL%2BROGERS.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. A teoria não diretiva, criada por Rogers, é centrada no sujeito, porque a ele cabe a responsabilidade pela condução e pelo sucesso do processo de aprendizagem. O papel do professor é o de facilitar o aprendizado, que o aluno conduz a seu modo. A tendência não diretiva é denominada, também, de humanista, porque parte de uma visão otimista do homem. Carl Rogers (1902- 1987) O escocês Alexander Sutherland Neill propôs uma escola em que a autoridade é substituída pela responsabilidade e a disciplina pela liberdade. Este pensador afirma que só num ambiente não repressivo a criança manifesta sua criatividade. Este educador fundou a Summerhill School, na Inglaterra. Esta escola se tornou referência das pedagogias alternativas ao concretizar um sistema educativo em que o importante é a criança ter liberdade para escolher e decidir o que aprender e, com base nisso, desenvolver-se no próprio ritmo. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 22 – PIERRE BOURDIEU FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_ZWdGBM7qvgs/TOfORgHMRRI/ AAAAAAAABJM/FlLR9ZpMyOE/s320/bourdieu.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. Já para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição por um poder arbitrário. A ação pedagógica tende à reprodução cultural e social simultaneamente. De acordo com Bourdieu, quando a criança começa sua aprendizagem formal é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe social, desde a organização pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.Pierre Bourdieu (1930-2002) Na década de 80 do século XX, as ideias de Howard Gardner causaram impactos na área educacional com a teoria das inteligências múltiplas. Seus estudos sinalizavam que a inteligência humana é complexa demais para que os testes escolares comuns fossem capazes de medi-la. A teoria das múltiplas inteligências diz respeito à existência de habilidades diferenciadas para atividades específicas. Cada indivíduo nasce com um vasto potencial de talentos ainda não expostos pela cultura. A educação teria a função de oportunizar o desenvolvimento das capacidades inatas, estimulando todas as habilidades potenciais dos alunos quando se está ensinando um mesmo conteúdo. Nesse contexto, as estratégias educacionais devem partir da resolução de problemas. Resumidamente, seguem as oito inteligências propostas por Gardner: Lógico-matemática: capacidade de raciocínio lógico e compreensão de modelos matemáticos, científicos. Habilidade de compreender novos conceitos e enfrentar novas situações. Verbal-linguística: Capacidade de se expressar de forma escrita e oral. Habilidade de compreender textos, falar em público. Espacial: Sentido de movimento, localização e direção. Habilidade de formar imagens mentais. CURSOLIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Corporal cinestésica: Domínio dos movimentos do corpo para expressar-se no esporte, na dança, nas obras teatrais ou para expressar sentimentos. Intrapessoal: Capacidade de compreender os próprios sentimentos e emoções e administrá- los. Conhecimentos das próprias fraquezas e potencialidades. Habilidade de automotivar-se. Interpessoal: Capacidade de relacionar-se e criar empatia. Habilidade de trabalho em equipe e de administrar conflitos. Liga a compreensão do que é a sociedade e de que todos somos seres sociais. Naturalista: Capacidade de compreender os processos da natureza e respeitá-los. Preocupação com o meio ambiente. Musical: Capacidade de dominar os sons, perceber ritmos, criar através da música. O sociólogo francês Edgar Morin, nas últimas décadas do século 20, apresenta ao campo educacional a teoria da complexidade. As ideias propostas por esta teoria buscam compreender a concepção de conhecimento, afastando-as da especialização, da simplificação e da fragmentação dos saberes. Para o pensador, os saberes tradicionais foram submetidos a um processo reducionista que acarretou a perda das noções de multiplicidade e diversidade. A simplificação, de acordo com Morin, está a serviço de uma falsa racionalidade, que passa por cima da desordem e das contradições existentes em todos os fenômenos e nas relações entre eles. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 23 – EDGAR MORIN FONTE: Disponível em: <http://img.allvoices.com/thumbs/image/77/77/44848018- edgar-morin.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. O fundamento da teoria proposta por Edgar Morin pauta-se nas formulações surgidas com o campo das ciências exatas e naturais, como as teorias da informação, dos sistemas e da cibernética, que demonstravam a importância de superar as fronteiras entre estes conhecimentos. Pierre Bourdieu (1930-2002) No texto Os Sete Saberes Necessár ios à Educação do Futuro , encomendado pela Organização das Nações Unidas, Morin (2001) apresenta uma relação de temas que não podem faltar na formação do cidadão do século XXI. Os temas são iniciados pelo estudo do próprio conhecimento. O segundo ponto apresentado é a pertinência dos conteúdos, que devem levar ao aprendizado dos problemas globais e fundamentais. Na sequência vem o estudo da condição humana, entendida como unidade complexa da natureza dos seres humanos. O quarto ponto destaca o ensinar a identidade terrena que aborda as relações humanas do ponto de vista global. O próximo tema trata do enfrentamento das incertezas com base nos aportes recentes da ciência. O sexto item diz respeito ao aprendizado da compreensão, onde Morin aponta a necessidade de uma reforma de mentalidades para superar males como o preconceito, por exemplo. O último ponto apresentado refere-se à ética global, baseada na consciência do ser humano como indivíduo e parte da sociedade e da espécie. Os Sete Saberes são diretrizes para a elaboração e ação de propostas de intervenções educacionais. A grande meta da educação, na perspectiva de Edgar Morin, deve ser o desenvolvimento da compreensão e da condição humana. Outro texto de referência é o produzido para a UNESCO pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, produzido em 1999 e publicado sob a forma do livro: “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, onde estão sinalizados os caminhos percorridos para a aprendizagem. A discussão dos quatro pilares para a educação, escrito pelo francês Jacques Delors, aponta como principal consequência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo da vida, fundada em quatro pilares, que são, ao mesmo tempo, baseados no conhecimento e na formação continuada. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 24 – JACQUES DELORS FONTE: Disponível em: <http://www.londonspeakerbureau.co.uk/managed/images/ speakers/252--JacquesDelors.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. De acordo com Delors, a prática pedagógica deve ocupar-se em desenvolver o: aprender a conhecer, que indica o interesse e a abertura para o conhecimento que verdadeiramente liberta da ignorância; aprender a fazer, que mostra a coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar; aprender a conviver, que traz o desafio da convivência que apresenta o respeito a todos e o exercício de fraternidade como caminho do entendimento; e, finalmente, aprender a ser, que, talvez, seja o mais importante, por explicitar o papel do cidadão e o objetivo de viver.Jacques Delors 1925 Já em relação aos temas discutidos por Philippe Perrenoud no âmbito da educação estão: formação docente, avaliação e o desenvolvimento das competências. A competência refere-se à faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, entre outros) para solucionar uma série de situações. No livro 10 Novas Competências para Ensinar, Perrenoud estabelece objetivos na formação profissional do docente. Para ele, o que é imprescindível saber para ensinar numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível seria: organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da administração escolar; informar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão e, por último, administrar a própria formação. Para o pensador espanhol César Coll, a preparação de um currículo precisa satisfazer todos os níveis da escola. O que importa é o que o aluno efetivamente aprende, não o conteúdo transmitido pelo professor. Entretanto, alerta para o fato de que o bom funcionamento de um currículo depende não só do professor, mas também dos alunos, pais, funcionários, coordenadores e diretores. Isto é, a escola precisa ser entendida como um espaço de corresponsabilidade entre estes sujeitos. César Coll foi um dos responsáveis pela Reforma educacional na Espanha. No Brasil, foi consultor do Ministério da Educação e esteve à frente do projeto de reforma curricular que resultou na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Documento que deve servir como referência e como elemento de reflexão para os educadores modificarem sua prática, e não como currículo obrigatório. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Para ele, a qualidade de um sistema educacional depende, além do PCN, do currículo e também de avaliações que levam em conta a origem social, econômica e cultural do estudante. Nesse aspecto, o currículo precisa ser contextualizado, ou seja, os conteúdos precisam ser aproximados da vivência do aluno. Na vertente das teorias contemporâneas sobre o pensar a Educação, destacamos e encerramos a incursão pelo cenário mundial apresentando o psicólogo da educação estadunidense David Ausubel, cujas idealizações vão causar, no campo da educação, em específico a aprendizagem, novos olhares. FIGURA 25 – DAVID AUSUBEL FONTE: Disponível em: <http://www.londonspeakerbureau.co.uk/managed/images/speakers/252-- JacquesDelors.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2011. A teoria proposta por Ausubel é denominada de Teoria da Aprendizagem Significativa. Nesta teoria, os conhecimentos que o indivíduo já possui na sua estrutura cognitiva são fundamentais para que a aprendizagem ocorra. Esse conhecimento prévio deve receber novos conteúdos para poder ser modificado e os alunos apreenderem outros significados àqueles preexistentes. Desta forma, a teoria de Ausubel remete a um processo pelo qual uma nova informação é acoplada a uma estrutura cognitiva particular e específica, prévia, a qual denominou de subsunçor. Para este psicólogo, a aprendizagem significativa é elemento essencial ao processo de aquisição do conhecimento do aluno, fundamental parao papel do professor e a função social da escola.David Ausubel (1928 - 2008) As diferentes formas de pensar a educação no mundo circulam no Brasil, estabelecendo métodos, teorias, perspectivas educacionais, e foram ressignificadas por pensadores da Educação no país. Assim, o próximo item apresenta alguns nomes da educação brasileira no contexto do século XX. Vamos estudá-los? 2.6 PENSADORES DA EDUCAÇÃO NO BRASIL No cenário da Educação Brasileira destacaram-se os seguintes pensadores: • Anísio Teixeira – idealizador das mudanças no contexto educacional brasileiro no século XX. Pioneiro na implantação da escola pública e gratuita para todos os níveis da escolarização. Defendia a experiência do aluno como base da aprendizagem. O pensamento de Anísio Teixeira aproxima-se do pensamento pragmático de John Dewey, onde os elementos centrais eram o ensino ativo, o uso da psicologia na educação e a renovação metodológica. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Defendeu a escola única, aberta a todos, sem qualquer espécie de distinção. Na concepção de Teixeira, a escola deveria servir como instrumento para a reconstrução social. • Lourenço Filho – conhecido por sua ativa participação no movimento dos pioneiros da Educação Nova na década de 30 do século XX. Para ele, o papel da escola era o de adaptar os futuros cidadãos às necessidades da sociedade. A educação deveria integrar e preparar a criança para a vida real. • Fernando de Azevedo – Na década de 30 do século XX, este educador ficou conhecido como um dos defensores da Escola Nova. Sua proposta estava fundamentada na questão de que o indivíduo deveria se adaptar ao grupo social a que pertence e que caberia ao ensino fornecer a base para tornar possível a coesão social. • Florestan Fernandes – Nos anos 50, este sociólogo discutiu aspectos da realidade brasileira que ampliaram as possibilidades de compreensão dos impasses da educação pública no Brasil. Acreditava que a educação e a ciência tinham, potencialmente, uma grande capacidade transformadora. Por isso, deveriam ser instrumentos de elevação cultural e desenvolvimento social das camadas mais pobres da população. • Paulo Freire – Na década de 60 do século XX, este educador ficou conhecido pelas propostas de alfabetização de adultos. Para ele, o objetivo da educação era o de conscientizar o aluno da sua realidade social, política e cultural. A compreensão do contexto vivido levaria o educando a entender sua situação de oprimido, auxiliando-o a agir em favor da própria libertação. Sua principal crítica à educação refere-se à educação bancária, em que o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo e dócil. Para Freire, esse formato de escola acomoda o aluno. 3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM As diferentes compreensões acerca da função da educação, ao longo da História, buscaram e buscam respostas a duas questões inerentes ao processo da aprendizagem dos seres humanos, são elas: como o ser humano aprende? E como criar as melhores condições possíveis para que o aprendizado ocorra na escola? (SANTOMAURO, 2011). Para isso vamos percorrer, neste tópico, três concepções sobre a aprendizagem: Inatismo, Comportamentalismo e Cognitivismo. Vamos iniciar conceituando Teoria de Aprendizagem e em seguida abordaremos as concepções citadas. Vamos em frente? CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO FIGURA 26 – COMO A APRENDIZAGEM OCORRE Denominam-se Teorias da Aprendizagem, em Psicologia e em Educação, as diferentes concepções sobre a aquisição dos conhecimentos, isto é, os diversos modelos que visam explicar o processo pelo qual os indivíduos aprendem. FONTE: Diponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestaoescolar/orientador- educacional/como-evitar-alunos-rotulados-483497.shtml>Acesso em 21/04/2011. Vamos estudar as teorias que infuenciaram e influenciam o fazer pedagógico em sala de aula? A primeira teoria abordada será o inatismo. 3.1 INATISMO Desde a Antiguidade identificam-se movimentos e estudos que buscaram explicar como o indivíduo aprende. Na Grécia Antiga, os primeiros filósofos buscaram formas de entender o mundo baseadas na racionalidade, formas e explicações que se distanciassem do mito, da influência das explicações que envolviam o sobrenatural. Uma das inquietações desses filósofos consistia em saber se as pessoas possuem saberes congênitos ou se é possível ensinar algo ou alguma coisa a alguém. Desta forma, caracteriza-se o nascimento do pensamento racional e também da concepção inatista da aprendizagem. Esta concepção sustenta que as pessoas naturalmente carregam certas aptidões, habilidades, conhecimentos, conceitos, desenvolvimento de valores, modos de compreender a realidade, entre outros aspectos, em sua bagagem hereditária (SANTOMAURO, 2011). Ou seja, a perspectiva inatista considera que o sujeito nasce com o conhecimento praticamente pronto. E o que não está pronto desenvolve-se com o tempo, desabrochando ou amadurecendo, como ocorre com as plantas, em cuja semente está a previsão de todas as características a serem desenvolvidas posteriormente. O inatismo motivou um tipo de ensino em que o professor deve interferir o mínimo possível, apenas trazendo o saber à consciência e organizando-o. Sua função centra-se em respeitar as qualidades, interesses ou capacidades individuais apresentados pelas crianças espontaneamente. Em linhas gerais, o estudante aprende por si mesmo. (SANTOMAURO, 2011). CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO A aprendizagem, de acordo com esta concepção, decorre da maturação e do desenvolvimento das capacidades congênitas do indivíduo, e não da intervenção docente no processo de ensino. Essa concepção tem fundamentado pedagogias espontaneístas que subestimam a capacidade intelectual do indivíduo, na medida em que o sucesso ou o fracasso é atribuído, única e exclusivamente, ao aluno. Isto é, a dificuldade de aprender é relacionada à imaturidade ou à falta de prontidão para a aprendizagem. Na perspectiva inatista, o papel das interações sociais no desenvolvimento humano, fora e dentro do contexto escolar, é desconsiderado. No Brasil, os pressupostos que fundamentam essa concepção se revelam nas práticas pedagógicas de influência escolanovista, que circularam no contexto educacional a partir dos anos 30, do século XX. Estas práticas tendem a subordinar a aprendizagem ao ritmo individual e à maturação da criança. Na escola, em função de suas características individuais, as crianças passavam a ser enquadradas em classes distintas e a organização do currículo (conteúdos a serem ensinados) passou a ser de acordo com essas diferenças, entendidas como naturais e imutáveis. A concepção inatista pode ser observada em ações, hábitos, costumes e maneiras de pensar. Destaca-se que o precursor do inatismo foi o filósofo grego Platão. 3.2 COMPORTAMENTALISMO: O ESTÍMULO DO MEIO A concepção comportamentalista fundamenta-se na ideia de que a aprendizagem é entendida como um processo pelo qual o comportamento do indivíduo é modificado pelos estímulos recebidos do meio em que está inserido (ambiente externo). Nesse sentido, ele passa a produzir respostas, ou seja, a se comportar, de acordo com os incentivos que recebe, que podem ser planejados com o objetivo de reforçar o comportamento adequado para cada situação . Nesta concepção, o que ocorre na mente, durante o processo de aprendizagem, não é levado em consideração. A associação é feita diretamente entre estímulos e respostas. Nenhuma outra variável é incluída. FIGURA 27 – APRENDER É UMA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ ie2/infoeduc/aprcomportamentalismo.html>. Acesso em: 21 abr. 2011. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO A concepção comportamentalista está muito ligada à teoria behaviorista (teoria ambientalista), onde a organizaçãodas condições externas determina o comportamento dos indivíduos. Nas práticas pedagógicas comportamentalistas, o destaque é dado ao planejamento e à organização das condições oferecidas à aprendizagem. A função do professor é organizar a sequência do ensino, programando-o de forma a atender aos objetivos que deseja alcançar em termos de respostas dos alunos. O objetivo das situações de aprendizagem é fazer com que os alunos reproduzam respostas consideradas corretas a partir das questões organizadas pelo professor. São representantes da concepção comportamentalista: John Broadus Watson, Ivan Petrovich Pavlov e Burrhus Frederic Skinner. 3.3 COGNITIVISMO O termo é originário do latim cognitione, que pode ser traduzido por conhecimento. Os cognitivistas procuram estudar como o indivíduo constrói suas estruturas cognitivas para a aquisição do conhecimento e quais os processos de pensamento presentes no homem desde sua infância até a idade adulta. Na concepção cognitivista, o papel do ensino é ampliar o número de conhecimentos do indivíduo. A aprendizagem é vista como um processo ativo do aprendiz. O aprendiz é visto como o sujeito que reúne, seleciona, processa e armazena a informação por meio de seus próprios processos mentais. Ao contrário da concepção comportamentalista, no cognitivismo os estímulos não influenciam mecanicamente o indivíduo e sua aprendizagem. Ela ocorre pela ação do sujeito sobre o meio, e não pela influência do meio sobre o sujeito. A interação do indivíduo é fundamental para o processo de cognição. Assim, aprender é compreender e resulta da capacidade humana de adquirir, transformar e avaliar informações. A aprendizagem, nesta concepção, é descrita como um processo em que as novas informações são relacionadas com as já existentes, causando a sua ressignificação. O principal objetivo da escola, nesse contexto, é o desenvolvimento intelectual do aluno, proporcionando-lhe conhecimentos significativos e relevantes. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Entre os cognitivistas destacam-se: Jean Piaget e Lev Vygotsky. Vamos compreender, prezado(a) acadêmico(a), as propostas destes dois teóricos. 3.3.1 Jean Piaget O biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), na década de 30 do século XX, influenciou significativamente o campo educacional. É considerado o precursor da revolução cognitiva contemporânea. Os estudos de Piaget preconizavam a especificidade da infância e consideravam a criança um ser em desenvolvimento. Segundo Ferrari (2011c), das pesquisas acerca das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigações que chamou de epistemologia genética. Este campo de estudo está centrado no desenvolvimento natural da criança, que obedece, segundo Piaget, a estágios hierárquicos, que decorrem do nascimento até por volta dos 16 anos (faixa etária em que ocorre a consolidação dos esquemas de ação). Partindo da observação e da análise dos dois primeiros anos de vida da criança, Piaget considera que a inteligência se desenvolve desde o nascimento – e não com o surgimento da fala, como era comum pensar até o início do século 20 (FERRARI, 2011c). No livro A Epistemologia Genética, publicado em 1970, o pensador divide o processo do desenvolvimento da capacidade de conhecer em quatro períodos: • Estágio sensório-motor (do nascimento aos 2 anos de idade em média) - a criança desenvolve um conjunto de "esquemas de ação" sobre o objeto, que lhe permitem construir um conhecimento físico da realidade. Mamar, sugar, puxar e prender são esquemas comuns no desenvolvimento da inteligência sensório-motora. • Estágio pré-operatório (aproximadamente de 3 a 7 anos) - a criança inicia a construção da relação de causa e efeito, bem como das simbolizações. É a chamada idade dos porquês e do faz-de-conta. Imitar, representar e classificar é típico da inteligência pré-operatória (Idem). • Estágio operatório-concreto (dos 8 a 11 anos) - a criança começa a construir conceitos através de estruturas lógicas, consolida a observação de quantidade e constrói o conceito de número. Seu pensamento, apesar de lógico, ainda está centrado nos conceitos do mundo físico, onde abstrações lógico-matemáticas são incipientes. As características deste estágio são: ordenar, relacionar e abstrair. (FERRARI, 2011c). CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO • Estágio operatório-formal (a partir dos 12 anos) – Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O indivíduo passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses. (FERRARI, 2011c). Conforme a teoria piagetiana, é com base nesses esquemas que o ser humano constrói as estruturas mentais que possibilitam o aprendizado. No entanto, destaca-se que a ordem destes estágios é considerada invariável e inevitável a todos os indivíduos, embora os intervalos de tempo de cada um deles não sejam fixos, podendo variar em função do indivíduo, do ambiente e da cultura. FIGURA 28 – AS PESQUISAS DE PIAGET (NA FOTO EM UMA ESCOLA NOS ANOS 1970) DERAM RELEVO À PRIMEIRA INFÂNCIA. FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/ esquemas-acao-piaget-sujeito-epistemico-jean-617999.shtml>. Acesso em: 21 abr. 2011. Caro(a) acadêmico(a)! Ao ressignificar os estágios de desenvolvimento apresentados por Jean Piaget, considera-se que, inicialmente, a aprendizagem se dá com a experiência empírica, concreta. No decorrer do desenvolvimento, a criança caminha em direção ao pensamento formal e abstrato, ou seja, à medida que o indivíduo cresce, a sua interação com o mundo vai se tornando mais complexa. Na perspectiva piagetiana, o conhecimento é construído através da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas sociais existentes. Para que ocorra a construção de um novo conhecimento, é necessário que se estabeleça um desequilíbrio nas estruturas mentais, isto é, os conceitos já assimilados precisam passar por um processo de desorganização para que possam, a partir do contato com novos conceitos, se reorganizarem novamente, estabelecendo um novo conhecimento. Este processo é denominado de equilibração das estruturas mentais, isto é, a transformação de um conhecimento prévio em um novo conhecimento. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO 3.3.2 Lev Vygotsky FIGURA 29 – LEV VYGOTSKY FONTE: Disponível em: <http://turmakpedagogia.blogspot. com/p/vygotsky.html>. Acesso em: 22 maio 2011. Contemporâneo a Piaget, o psicólogo bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) também foi um estudioso do desenvolvimento, nos anos de 1920 e 1930, dedicando- se ao tema da evolução da capacidade de aquisição do conhecimento pelo ser humano. No entanto, diferente de Piaget, que atribuía a importância aos processos internos do indivíduo, Vygotsky enfatizou preponderantemente às relações sociais nesse processo. A teoria pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Para Vygotsky (1999), o aprendizado decorre da compreensão do homem como um ser que se constrói no contato com a sociedade, na relação dialética entre o sujeito e a sociedade em que está inserido. Nessa dinâmica, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. A aprendizagem se dá a partir da interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente. Segundo o autor, é impossível estabelecer etapas cognitivas que sejam válidas para todas as sociedades. Assim, variando o ambiente social, o desenvolvimento da criança também sofrerá variação. De acordo com a perspectiva vygotskiana na educação escolar, o aprendizado é mediado pelo docente. Isso significa que o primeiro contato da criança com novas atividades e informações deve ter a participaçãode um adulto. Nesse contexto, o papel do professor é o de observar e investigar os conhecimentos que o aluno traz à escola e estruturar uma intervenção que reorganize estes conhecimentos, elevando-os a outro estágio cognitivo. Para compreender essa relação, Vygotsky (1999) apresenta o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal , que seria a distância entre o desenvolvimento real da criança e o potencial desta em aprender. O potencial é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência a partir da mediação de um adulto. Em linhas gerais, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança já sabe e aquilo que ela tem a potencialidade de aprender. Atenção: A Zona de Desenvolvimento Real compreende as funções psíquicas já dominadas pelo sujeito, ou seja, nesta zona estão as habilidades já dominadas pelo sujeito. Para os adeptos da teoria pela qual o desenvolvimento precede a aprendizagem é na zona de desenvolvimento real o lugar onde o professor e o sistema de ensino devem atuar. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO A ênfase da teoria vygotskiana está no aprendizado. Neste aspecto, a intervenção docente deve provocar avanços que levem a criança a atingir níveis de compreensão e habilidades que ainda não domina completamente. As informações devem ampliar as estruturas cognitivas da criança. 4 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR BRASILEIRA Ao longo da história da educação, diferentes tendências pedagógicas vêm sendo construídas, considerando o contexto histórico das sociedades que as produzem. Estas tendências são permeadas por diferentes concepções de homem, mundo e sociedade, e consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem. Vamos identificar, caro(a) acadêmico(a), estas tendências no contexto da educação escolar: De acordo com Libâneo (1990a), as tendências pedagógicas organizam- se em dois grupos: liberais e progressistas . No primeiro, estão incluídas as tendências tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva e tecnicista. No segundo, encontram-se as tendências libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. Vamos conhecer as diferentes concepções que perpassam esses períodos do pensamento pedagógico brasileiro, refletindo sobre suas características mais gerais. Iniciamos com as Tendências Liberais. 4.1TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS Esta tendência teve início no século XIX, sendo influenciada pelo ideário de “igualdade, liberdade e fraternidade” difundido pela Revolução Francesa. De acordo com Libâneo (1990b), esta tendência sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Isso pressupunha que o indivíduo precisava adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da cultura individual. Devido à ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre as classes sociais não eram consideradas, pois, embora a escola passasse a transmitir a ideia de igualdade de oportunidades, não levava em conta a desigualdade de condições. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Os saberes legitimados (conteúdos de ensino) eram considerados mais importantes que a experiência do sujeito e o processo pelo qual ele aprende. Nesse aspecto, a educação foi instrumento de poder entre dominador e dominado. 4.1.1 Tendência Liberal Tradicional Caracterizada pelo ensino humanístico, esta tendência perpassa o ensino a partir do final do século XVIII, permanecendo até o final do século XIX. De acordo com esta tendência, é tarefa do educador fazer com que o educando atinja a realização pessoal através de seu próprio esforço. As diferenças de classe social não são consideradas e a prática escolar não tem nenhuma associação com a vivência do aluno. A transmissão é feita a partir dos conteúdos acumulados historicamente pelo homem, num processo cumulativo, sem reconstrução ou questionamento. Seu método enfatiza a transmissão de conteúdos e a assimilação passiva sem que seja necessário acionar as habilidades mentais do educando além da memorização. Nessa tendência, a criança é vista como um adulto em miniatura, mas menos desenvolvida. Desse modo, as características próprias de cada idade não são levadas em consideração. 4.1.2 Tendência Liberal Renovada Progressivista Esta tendência se refere aos processos internos do desenvolvimento do indivíduo. O papel da educação é o de atender as diferenças individuais, as necessidades e interesses dos sujeitos, enfatizando os processos mentais e habilidades cognitivas necessárias à adaptação do homem ao meio social. Na escola renovada progressivista defende-se a ideia de “aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social. Os interesses do aluno são levados em consideração. O educando é, portanto, o centro e sujeito do conhecimento. As ideias disseminadas por esta tendência circularam no contexto educacional brasileiro nos anos 30 do século XX e tem como principal defensor o educador Anísio Teixeira. 4.1.3 Tendência Liberal Renovada Não Diretiva É contemporânea à Tendência Liberal Renovada Progressivista, esta tendência configura-se como o mais forte movimento renovador da educação brasileira, que sofreu influências de teóricos como Carl Rogers e John Dewey. Esta tendência se volta para os objetivos de desenvolvimento CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO pessoal e relações interpessoais. O método de ensino é ativo e privilegia os estudos independentes e os estudos em grupo, selecionando uma situação vivida pelo educando que seja desafiante e que careça de uma solução para um problema prático. O papel da escola acentua-se na formação de atitudes. Os esforços devem visar à mudança dentro do indivíduo, e para isso, deve-se estar mais preocupado com os aspectos psicológicos do que com os aspectos pedagógicos ou sociais. O aprender é associado ao modificar as percepções do indivíduo. Apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas um facilitador. 4.1.4 Tendência Liberal Tecnicista O objetivo principal desta tendência era produzir indivíduos preparados para o mercado de trabalho. A Reforma do Ensino (Lei n. 5.692/71) conduzida pelo regime militar implantou no país a escola tecnicista. Este modelo de escola sofreu influência da teoria behaviorista, corrente comportamentalista organizada por Skinner na abordagem sistêmica de ensino. O ensino organizou-se a partir das verdades absolutas, produzidas pela ciência, pela neutralidade científica e pela transposição dos acontecimentos naturais à sociedade. O método de ensino era o da transmissão e recepção de informações, em que o educando era submetido a um processo de controle do comportamento, a fim de que os objetivos operacionais previamente estabelecidos possam ser atingidos. 4.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS A circulação das ideias difundidas por estas tendências está associada à análise crítica das realidades sociais, sustentando, implicitamente, as finalidades sociais e políticas da educação. Libâneo (1990b) designa três tendências à Pedagogia Progressista: 4.2.1 Tendência Progressista Libertadora A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, teve seu início nos anos 60, vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. Esta tendência rebela-se contra toda forma de CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO autoritarismo e dominação, defende a conscientização como processo a ser conquistado pelo homem, através da percepção e da problematização de sua própria realidade. Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, o saber mais importante para o oprimidoé a descoberta da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da exploração política e econômica, através da elaboração da consciência crítica relacionada à sua organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também no campo da economia, da política e das ciências sociais. Esta tendência tem caráter revolucionário, preconiza a transformação da sociedade e acredita que a educação, por si só, não faria tal revolução, ainda que fosse uma ferramenta fundamental nesse processo. 4.2.2 Tendência Progressista Libertária Os pressupostos desta tendência estão associados ao início dos anos 80, com o processo de redemocratização do país, com a liberdade de expressão nos meios acadêmicos, políticos e culturais. As propostas da escola libertária fundamentam-se nos interesses por escolas democráticas e inclusivas e na ideia de um projeto político pedagógico que atenda aos interesses locais e regionais, primando por uma educação de qualidade para todos. Esta escola parte da premissa de que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se for possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. A escola libertária recebeu influência do pensamento de Celestin Freinet e suas perspectivas de ensino. 4.2.3 Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos As ideias difundidas por esta tendência circularam no contexto escolar brasileiro a partir da década de 80 e diferem das duas progressistas anteriores pela ênfase que dá aos conteúdos, confrontando-os com a realidade social. A tarefa principal desta tendência centra-se na difusão dos conteúdos, que não são abstratos, mas concretos, portanto, não devem ser dissociados da realidade social. A escola deve apresentar-se como instrumento de apropriação do saber e agente transformador do contexto social. Desta forma, a escola deve preparar o aluno para o mundo em que vive, tornando-o um crítico e consciente de seu papel enquanto sujeito que circula, age e transforma esta sociedade. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO Nesta tendência, todos devem ter acesso aos mesmos conteúdos, sem discriminação por classe social. Referente aos métodos de ensino difundidos, não se trata da forma tradicional de transmitir, repassar conhecimentos, nem da livre expressão de opiniões, mas de uma relação entre aquilo que é vivido pelo aluno e os conteúdos organizados pelo professor. Nesse aspecto, o educando é o sujeito histórico, apto a transformar a sociedade e a si próprio. Caro(a) acadêmico(a)! Vale lembrar que no final dos anos 80, as ideias de Piaget, Vygotsky, Wallon, entre outros, circulam nos contextos educacionais brasileiros. Destaca-se que estes teóricos defendem uma linha interacionista, porque concebem o conhecimento como resultado da ação que se passa entre o sujeito e o objeto. Desta forma, o conhecimento não está no sujeito, como afirmavam os inatistas, nem no objeto, como defendiam os empiristas, mas no resultado da interação entre ambos. Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), estas ideias são revalorizadas e passam a incorporar as ações educacionais. 5 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR FIGURA 30 – AVALIAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/ coletaneas/calvin-seus-amigos-428892.shtml>. Acesso em: 24 abr. 2011. Caro(a) acadêmico(a)! Como você avalia a resposta apresentada pelo personagem do quadrinho? Enquanto você reflete sobre essa questão, vamos discutir alguns pontos sobre a avaliação no contexto escolar. • O que é avaliar? • Qual o sentido da avaliação? • A aval iação deve ser um indicativo para contribuir na melhoria da aprendizagem? As questões acima dizem respeito aos questionamentos acerca da avaliação. Este ato está presente em todas as extensões da atividade humana. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO O julgar, o comparar, ou seja, o avaliar fazem parte do cotidiano, seja através das análises informais, que orientam as frequentes opções do dia a dia ou, formalmente, por meio da reflexão organizada e sistemática que define a tomada de decisões, como no contexto da escola, por exemplo, onde se realiza a partir de objetivos implícitos ou explícitos, que, por sua vez, refletem valores e normas sociais. No universo escolar, a avaliação não acontece isolada do trabalho pedagógico, ela o inicia, perpassa-o e o conclui. No entanto, em qualquer nível de escolarização que ela ocorra, não existe e não opera por si mesma. A avaliação está sempre a serviço de um conceito, de um projeto, de um objetivo ou de uma determinada concepção que fundamenta a proposta de ensino. A avaliação escolar encontra-se hoje em um processo de transição, no qual coexistem velhas e novas concepções pedagógicas de avaliação da aprendizagem: modelos classificadores/reprovadores ao lado de modelos mediadores/diagnósticos. Atualmente, a avaliação da aprendizagem tem sido proposta com base em diferentes referenciais (competências, capacidades, conhecimentos, habilidades, atitudes), apresentando-se em um mosaico de novos conceitos e finalidades, às vezes, confuso e pouco claro aos envolvidos no processo educacional. Apesar das discussões acerca da avaliação buscarem uma nova forma de mensurar o conhecimento ressignificado pelo aluno, no cotidiano da maioria das escolas, a avaliação ainda é refém de uma concepção psicométrica da inteligência, ou seja, a avaliação é entendida como a medida da diferença entre o que o aluno produz e o que o professor ensinou durante um determinado período. Nessa perspectiva, continuam a predominar práticas de avaliação que, no essencial, visam à classificação e à certificação. Em oposição a esse cotidiano, as teorias recentes com relação às aprendizagens entendem a avaliação como um processo formativo e diagnóstico, diretamente comprometido com a noção de aprendizagem. Nesse caso, o foco não está somente na verificação do que o professor ensina, mas na análise do que e por quais caminhos o aluno aprende. O objetivo não é selecionar os aptos e reprovar os que não aprendem. Trata-se de construir os caminhos para que cada um dos educandos possa aprender por caminhos distintos, sendo a avaliação um momento de levantamento de dados para reconstruir os percursos da aprendizagem. Existe, nessa perspectiva, o desejo democrático de incluir todos, respeitando as diferenças. CURSO LIVRE - TÓPICOS EM EDUCAÇÃO I - DA DIDÁTICA À AVALIAÇÃO A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/96) determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Isso significa, em outros termos, que os saberes não devem ser compartimentados e nem fragmentados segundo o período em que são trabalhados (bimestres, semestres, anuais). Significa, ainda, que os instrumentos e as formas de avaliação priorizem uma visão global nas matérias estudadas, levando o aluno a utilizar as competências que foi adquirindo nos diferentes momentos do seu processo de escolarização (outros níveis, séries, entre outros), e que as questões ou situações-problemas sejam abrangentes, interligando os saberes estudados. Entre os objetivos do processo de avaliação, destacamos a orientação em detectar problemas, servir como diagnóstico da realidade em função da qualidade que se almeja, não sendo definitiva nem rotuladora, não visando estagnar, e sim o superar das deficiências na aprendizagem. Para Luckesi (1998), o ato de avaliar, por ser diagnóstico, tem por objetivo subsidiar a permanente inclusão do educando no processo educativo. A avaliação, neste contexto, não exclui a partir de um padrão preestabelecido, mas sim diagnostica para
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