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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5 2 HEMATOLOGIA .......................................................................................... 6 3 QUALIDADE NO LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA ............................. 7 3.1 Fase pré-analítica ................................................................................. 8 3.2 Fase analítica ..................................................................................... 11 3.3 Fase pós-analítica .............................................................................. 15 4 HEMATOPOESE ...................................................................................... 16 5 MIOGLOBINA E HEMOGLOBINA ............................................................ 17 6 FISIOLOGIA DOS ERITRÓCITOS E LEUCÓCITOS ................................ 22 6.1 Eritrócitos ........................................................................................... 22 6.2 Leucócitos .......................................................................................... 23 7 INTERPRETAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO HEMOGRAMA ..... 27 7.1 Hemograma avaliação quantitativa e qualitativa dos elementos do sangue 27 7.2 Contagem de Hemácias na Câmara de Neubauer ............................. 33 7.3 Dosagem da Hemoglobina pelo Método da Cianometemoglobina ..... 34 7.4 Determinação do Hematócrito pelo Método do Microhematócrito ...... 35 7.5 Determinação do Microhematócrito .................................................... 35 7.6 Leitura dos Resultados ....................................................................... 35 7.7 Índices Hematimétricos ...................................................................... 36 7.8 V.C.M – Volume Corpuscular Médio .................................................. 36 7.9 H.C.M. – Hemoglobina Corpuscular Média: ....................................... 36 7.10 C.H.C.M. – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média: .... 37 7.11 Leucograma .................................................................................... 37 7.12 Contagem Global de Leucócitos com Câmara de Neubauer .......... 37 7.13 Forma Leucocitária Relativa ............................................................ 38 3 7.14 Forma Leucocitária Absoluta ........................................................... 38 8 ALTERAÇÕES DO ERITROGRAMA ........................................................ 39 8.1 Anemias ............................................................................................. 39 8.2 Eritroblásto ......................................................................................... 58 9 LEUCOGRAMA ........................................................................................ 59 10 ALTERAÇÕES DO LEUCOGRAMA ...................................................... 62 10.1 Neutrocitose ou Neutrofilia .............................................................. 62 10.2 Neutropenia ou Neutrocitopenia ...................................................... 63 10.3 Eosinofilia ........................................................................................ 64 10.4 Eosinopenia .................................................................................... 65 10.5 Linfocitose ....................................................................................... 65 10.6 Linfopenia........................................................................................ 65 10.7 Monocitose ...................................................................................... 66 10.8 Basofilia........................................................................................... 66 11 PLAQUETOGRAMA .............................................................................. 67 12 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO .......................................................... 68 12.1 Causas das Hemorragias e Investigação Laboratorial .................... 70 12.2 Tempo de Sangramento (Método de Duke) .................................... 71 12.3 Tempo de Coagulação (Método de Lee - White) ............................ 72 12.4 Medida de Retração do Coágulo ..................................................... 73 12.5 Prova de Resistência Capilar ou Prova do Laço (Rumpel-Leed) .... 74 12.6 Determinação do Tempo de Protrombina (TP) ............................... 75 12.7 Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (TTPa) ......................... 75 12.8 Contagem de Plaquetas .................................................................. 76 12.9 Método de Fônio ............................................................................. 77 12.10 Método de Rees - Ecker ................................................................. 77 13 OUTROS EXAMES EM HEMATOLOGIA .............................................. 79 4 13.1 Contagem de Reticulócitos ............................................................. 79 13.2 Hemossedimentação (VHS) ............................................................ 80 13.3 Pesquisa de Células LE (Lúpus Eritematoso) ................................. 81 13.4 Teste Citomorfológico ..................................................................... 82 13.5 Pesquisa de Drepanócitos (Hemácias Falciformes) ........................ 82 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 84 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 HEMATOLOGIA Fonte: sansce.com A hematologia é o ramo da biologia relacionada à produção, função e patologia do sistema hematopoético. A hematologia estuda, particularmente, os elementos figurados do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. Estuda, também, a produção desses elementos e os órgãos onde são produzidos (órgãos hematopoiéticos): medula óssea (MO), baço e linfonodos. Por outro lado, além de estudar o estado de normalidade dos elementos sanguíneos e dos órgãos hematopoiéticos, estuda também as doenças a eles relacionadas (ROMERO, 2016). A Hematologia tem uma grande correlação com as outras disciplinas da clínica médica, principalmente a gastroenterologia porque os constituintes protéicos plasmáticos, como os fatores de coagulação, são produzidos predominantemente no fígado (ROMERO, 2016). De acordo com o autor, os elementos figurados (eritrócitos, leucócitos e plaquetas), por sua vez, que são os elementos de maior interesse para a hematologia, são produzidos na MO. Para a produção de células sanguíneas, as células do tecido hematopoético são estimuladas, fundamentalmente, pelos chamados fatores de crescimento, monoespecíficos ou multiespecíficos, como por exemplo a eritropoetina (EPO) que é produzida nos rins e estimula a produção de eritrócitos. Neste curso, nós vamos abordar algumas alteraçõesna produção dessas células sanguíneas como: • Anemia 7 • Policitemia • Leucopenia • Leucocitose • Trombocitopenia • Trombocitose • Déficit de fatores de coagulação Uma das manifestações mais importantes e mais comuns das doenças hematológicas é a anemia, que é definida como uma diminuição da massa eritrocitária, avaliada pela quantidade de hemoglobina, pelo volume globular e pelo número de eritrócitos. Esses elementos variam com a idade, com o sexo (os hormônios fazem com que o homem tenha valores muito mais altos de hemoglobina do que a mulher) e com a altitude (NAOUM, 2008). 3 QUALIDADE NO LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA Fonte: autolac.com A garantia da qualidade corresponde ao conjunto de atividades planejadas e sistemáticas que assegura os processos de acordo com determinados pré-requisitos. Um programa de qualidade no laboratório de hematologia visa a ações reais, a fim de aumentar a probabilidade de se obter resultados adequados e confiáveis. O hemograma tem notável importância para o diagnóstico e o controle evolutivo das doenças infecciosas, crônicas e agudas e no acompanhamento de tratamentos 8 (quimioterapia, radioterapia), pois por meio desse exame podemos analisar as variações quantitativas e morfológicas das séries sanguíneas (MELO et al, 2015). Assim, segundo o autor, a automação do hemograma tem proporcionado um aumento na eficácia e na confiabilidade dos resultados emitidos pelos laboratórios de hematologia. No entanto, devem ser constantes a manutenção e a monitoração dos equipamentos e o uso de controles estáveis e padronizados na rotina laboratorial. A garantia da qualidade em hematologia tem como objetivo assegurar a confiabilidade dos testes hematológicos em todas as fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. O programa de qualidade deve abranger desde a preparação do paciente para coleta até a liberação dos resultados dos exames. Dessa maneira, a garantia da qualidade no laboratório clínico é essencial. Isso porque os resultados laboratoriais influenciam aproximadamente 60% a 70% das decisões médicas e, portanto, podem afetar o diagnóstico e o tratamento do paciente (MELO et al, 2015). 3.1 Fase pré-analítica A fase pré-analítica é o período entre a solicitação do clínico até a realização do exame e envolve a requisição do exame, ou seja, compreende todos os processos anteriores à amostra ser processada pelo equipamento e analisada pelo citologista. A orientação sobre a coleta, a preparação e a coleta do material, o cadastramento e o transporte até o laboratório clínico são exemplos desta fase. Publicações recentes indicam que a fase pré-analítica é responsável por 46% a 68% dos erros laboratoriais. Um erro na fase pré-analítica influencia decisivamente no erro total e, consequentemente, no resultado analítico que o laboratório for liberar para o paciente. Desse modo, uma adequada realização da fase pré-analítica pode evitar a repetição do exame e da coleta, além de um diagnóstico incorreto que conduza a um tratamento inadequado (MELO et al, 2015). Os exemplos de erros mais comuns na fase pré-analítica são: o preenchimento inadequado do pedido, a troca da etiqueta com a identificação do paciente no tubo e/ou lâmina, o uso excessivo no tempo do torniquete, a coleta difícil e lenta (geralmente coleta pediátrica), o volume do sangue inadequado, a lâmina mal confeccionada e com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), a ordem incorreta dos tubos de coleta, a homogeneização insuficiente do tubo, o tempo prolongado entre a coleta e a realização do exame e a temperatura inadequada de armazenamento e 9 transporte da amostra. Para tentar diminuir os erros totais, o laboratório deve priorizar a fase pré- -analítica, desenvolvendo procedimentos próprios com base nas normas de acreditação e certificação da qualidade. Coleta e cadastro do paciente Os procedimentos de cadastro e coleta do paciente devem garantir a qualidade analítica da amostra biológica para o hemograma. A compreensão da requisição médica auxilia no sucesso da coleta. Dados importantes como gênero, idade, posição do corpo, atividade física, jejum, dieta, uso de medicação, tabagismo, etilismo e condições cronobiológicas devem ser fornecidos pelo paciente (MELO et al, 2015). Algumas medidas podem ser tomadas para a implantação da melhora da qualidade na fase pré-analítica e estão diretamente ligadas à excelência do hemograma, segundo Melo (2015) como: • Realização de treinamentos periódicos dos recepcionistas e coletadores. • Padronização dos procedimentos da coleta da amostra. • Materiais de coleta, como suportes para agulhas e agulhas de diferentes calibres, podem ser selecionados de acordo com a veia do paciente. • Pode-se usar seringa para a coleta do sangue venoso para o hemograma; a preferência é pela coleta a vácuo e pelos sistemas fechados e seguros. • Após a coleta, homogeneizar lentamente, de 8 a 10 vezes, o tubo por inversão para não hemolisar, evitando a formação de microcoágulos que interferem na contagem de plaquetas. • Confeccionar o esfregaço sem o EDTA no momento da coleta para evitar a alteração morfológica das células, apesar de alguns laboratórios confeccionarem o esfregaço sanguíneo no setor com EDTA, por meio de aparelhos automatizados (slide-makers). Estes confeccionam e coram os esfregaços sanguíneos. Após o advento da NR32, que preconiza a utilização da trava de segurança para as agulhas, desenvolvemos em nosso laboratório uma técnica para a confecção do esfregaço sem o EDTA. Ela consiste na utilização de um tubo seco, sem vácuo e tampado no momento da coleta, colocado no suporte da agulha, após o último tubo, para empurrar o sangue contido nesta antes de travá-la com o dispositivo de segurança. 10 Transporte da amostra O transporte da amostra é também um fator muito importante, o qual interfere diretamente na qualidade da amostra. A amostra deve ser transportada entre 18°C a 25°C, na posição vertical, em recipiente isotérmico, higienizável, impermeável, e chegar ao local para análise no máximo em quatro horas após a coleta. Isso garante a estabilidade desde a coleta até a realização do exame. O recipiente deve ser identificado com a simbologia de risco biológico com a frase “Espécimes para diagnóstico” (MELO et al, 2015). Aceitação e rejeição da amostra Os critérios de aceitação e rejeição da amostra no laboratório de hematologia também fazem parte da fase pré-analítica e devem envolver segundo Melo (2015) a: • Aceitação da amostra: A amostra deve chegar ao setor de hematologia identificada com a etiqueta de código de barras, em tubo plástico contendo EDTA K2 (recomendado pelo International Council for Standardization in Haematology [ICSH]), transportada para a unidade de análise em caixas térmicas até quatro horas após a coleta do sangue. • Rejeição da amostra: Amostra sem identificação, com identificação errada ou duvidosa; amostra inadequada de acordo com o grau de lipemia e hemólise; amostra com volume insuficiente e transportada de modo inadequado. Embora as tecnologias de automação auxiliem na resolução de problemas relacionados com a amostra, como sensores de coágulo e leitura para lipemia ou hemólise, estes ainda são causas comuns de rejeição da amostra na hematologia. Além de afetar os parâmetros do hemograma com diminuição da contagem de leucócitos, plaquetas e hemácias, a existência de coágulo prejudica o equipamento causando obstrução no sistema. Já a existência de lipemia no sangue interfere na dosagem de hemoglobina, fornecendo resultados de concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) falsamente aumentados. Por sua vez, a hemólise intensa também pode elevar a dosagem de hemoglobina e reduzir o número de hemácias com consequente CHCM aumentado. Os anticorpos frios ou crioaglutininas causam agregaçãonas 11 hemácias quando a temperatura da amostra é inferior a 37°C. Assim, os equipamentos contam os grumos de hemácias inadequadamente, diminuindo a contagem total de hemácias e aumentando falsamente o volume corpuscular médio (VCM) e a CHCM. 3.2 Fase analítica A fase analítica corresponde à da realização da análise propriamente dita. Integram esta fase a manutenção dos equipamentos, a calibração, a validação, o controle de qualidade, a preparação e a análise da amostra. A confiabilidade dos resultados do laboratório é garantida pela realização do controle de qualidade, que tem como funções básicas a análise, a pesquisa e a prevenção de ocorrência de erros laboratoriais por meio de programas que incluem tanto o controle interno quanto o controle externo. Para implantarmos um programa de qualidade da fase analítica em hematologia, com o objetivo de monitorar a estabilidade do processo ao longo do tempo, identificar constantemente os erros e realizar as ações corretivas necessárias, é importante elaborar os procedimentos operacionais padronizados (POP), validar os processos, calibrar os equipamentos, programar e fazer as manutenções dos equipamentos (MELO et al, 2015). Do mesmo modo, convém definir o plano de contingência, capacitar os profissionais por meio de educação continuada e monitorar e registrar diariamente todo o processo. A gestão da fase analítica inclui a monitoração do sistema automatizado (MELO et al, 2015). Este gerenciamento envolve várias etapas, começando pelo inventário dos equipamentos e prosseguindo com as inspeções periódicas e a instalação, desde a solicitação do serviço para manutenção até o retorno do equipamento à operação. Uma gestão de documentos deve ser implementada para controlar e atualizar, sempre que necessário, aqueles utilizados como consulta na realização dos exames, como: os POP; os manuais de operação dos equipamentos; as orientações dos fornecedores (bulas) para elaboração dos procedimentos e os respectivos registros; a monitoração do plano de manutenções preventivas; a verificação e o registro de eventuais manutenções corretivas; o controle da validação; e a calibração dos equipamentos. Definir alguns termos é fundamental para a compreensão do controle de qualidade segundo Melo (2015): 12 • Média aritmética: é a medida de tendência central mais comum para um conjunto de dados. É obtida por meio da divisão entre a soma dos dados pela quantidade deles. • Desvio padrão (DP): é a medida absoluta da dispersão ao redor do valor- alvo e está relacionado com a média obtida comparada ao grupo (média esperada). • Coeficiente de variação (CV): é a medida da variabilidade da precisão do equipamento e da estabilidade do controle expressa em porcentagem. É obtido pela divisão entre o DP e a média aritmética dos dados. • Exatidão: corresponde à capacidade do método em apresentar resultados próximos do valor verdadeiro. Segundo a International Federation of Clinical Chemistry (IFCC), a exatidão é a concordância entre o valor medido de um analito e seu valor real. • Precisão: o documento da CLSI EP5-A231 define a precisão como uma concordância entre resultados de medidas independentes obtidos sob condições estipuladas. A precisão revela a capacidade de o método, em determinações repetidas em uma mesma amostra, fornecer resultados próximos entre si. • Reprodutibilidade: corresponde à concordância entre resultados do mesmo analito, realizado sob condições de medidas alteradas. • Repetibilidade: corresponde à concordância entre resultados de sucessivas medidas do mesmo analito, sendo realizado sob as mesmas condições de medida. • Erros aleatórios: são chamados de erros randômicos, difíceis de serem identificados, pois ocorrem ao acaso. Correspondem a resultados que se afastam do valor esperado e estão relacionados com a imprecisão. • Erros sistemáticos: ocorrem de maneira regular e constante, resultando na perda de exatidão. • Erro total: é o somatório do erro sistemático com o erro aleatório. Validação e calibração dos equipamentos 13 A validação do desempenho de um processo e sua aprovação para a utilização na rotina consiste em avaliar seu nível de erros frente a uma determinada especificação de qualidade. Em hematologia, a validação dos analisadores hematológicos deve ocorrer na sua implantação. Esses equipamentos têm particularidades inerentes ao processo de realização do hemograma que diferem dos equipamentos de outras áreas do laboratório. Geralmente, têm um modo fechado (mais usado) e o modo aberto (usado em alguns tipos de tubo pediátrico e urgências). Liberam diversos alarmes eletrônicos (flags) quando identificam leucócitos, hemácias e plaquetas. Sua completa validação implica menor número de lâminas para revisão na microscopia e aumento dos resultados com valor diagnóstico. A validação do analisador deve envolver o estudo de precisão intra- e inter ensaio, a precisão entre sistemas analíticos, o estudo de exatidão, o estudo de linearidade, o estudo de robustez, o estudo de estabilidade de amostra e o estudo de interferentes (MELO et al, 2015). A calibração dos equipamentos é outra questão importante na gestão da fase analítica. A verificação da calibração pode ser realizada a qualquer momento para confirmar as condições de exatidão do sistema analítico. Recomenda-se sua realização periódica (semestralmente) e, especialmente, quando houver alteração no sistema analítico (manutenção do equipamento). A calibração corresponde a um conjunto de operações que estabelecem a relação quantitativa entre a resposta de um sistema analítico e os valores de concentração ou atividade de um ensaio. Decorrem desse conceito a sensibilidade analítica do método, o limite de detecção, seu limite de quantificação e a linearidade (MELO et al, 2015). Procedimento operacional padronizado O POP é um documento que descreve de modo detalhado as operações necessárias para a realização de uma atividade técnica. Considerado uma ferramenta importante para a gestão da qualidade, o POP tem como objetivo padronizar e garantir os processos para alcançar os resultados esperados a cada tarefa executada nas etapas do programa de qualidade. Os itens que fazem parte do POP são segundo Melo (2015): • Título: informar o nome do teste, o material (soro, plasma), a marca do reagente/equipamento. 14 • Finalidade do método: descrever a indicação médica a que se aplica o exame (o diagnóstico, a monitoração de uma terapêutica ou o prognóstico de uma doença). • Princípio do método: descrever o princípio do método aplicado nas reações, como a reação química. • Especificação de desempenho: fazer referência aos limites de sensibilidade, especificidade, linearidade, imprecisão, exatidão e erro total. • Amostra: descrever o tipo de amostra, o recipiente, o aditivo e o volume mínimo a ser coletado. Descrever estabilidade e armazenamento. • Materiais requeridos: listar os equipamentos (principais e auxiliares) e materiais necessários para a execução do exame. • Reagentes: listar os reagentes que serão utilizados, assim como seu preparo, se aplicável. • Controle de qualidade: descrever o controle de qualidade interno e externo. Descrever o manuseio, a frequência de utilização e o armazenamento dos materiais de controle ou fazer referência a documento específico. • Procedimento de calibração: descrever o processo de calibração/verificação, garantindo que as medições realizadas sejam rastreáveis a padrões nacionais e internacionais de medida, quando disponíveis ou fazer referência a documento específico. • Procedimento técnico: incluir os passos do procedimento de maneira detalhada. Descrever a rotina para realização da atividade, detalhando passo a passo a execução do processo. • Fontes potenciais de variabilidade: ações e processosque interferem nos resultados analíticos. Descrever as possíveis variações que possam ocorrer no resultado dos exames decorrentes de falhas nos processos pré-analítico (aplicação do torniquete, tempo de transporte, homogeneização) e analítico (calibração, manutenção dos equipamentos). • Cálculos e liberação dos resultados: descrever a fórmula ou as formas de cálculos necessários, se aplicáveis, para a expressão dos resultados. • Intervalo de referência: indicar valores de referência do exame. 15 • Intervalo reportável: descrever o intervalo de valores do analito que um método pode liberar como um resultado quantitativo, possibilitando a diluição de amostras, a concentração ou outro pré-tratamento. • Valor crítico: definir os limites que, do ponto de vista da saúde, podem constituir risco à vida do paciente e o processo de notificação ao médico e/ou paciente. • Interferências e possíveis causas de resultados positivos e negativos: interferentes in vivo que talvez interfiram nos resultados dos exames. • Precauções de segurança: citar os equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para a execução da tarefa. • Interpretação clínica dos resultados: tecer comentários interpretativos relacionados com o exame. • Anexos: incluir informações complementares para execução do exame, como gráficos, fluxogramas, ilustrações etc. • Bibliografia: fazer referência ao material bibliográfico utilizado para estabelecer a metodologia de execução do exame. • Quadro de registros: listar os registros da qualidade que comprovem a execução do exame. • Natureza das alterações: todas as alterações devem ser relacionadas. Listar as alterações nas revisões do procedimento. • Elaborado/revisado/aprovado: citar os responsáveis pela elaboração, revisão e aprovação dos procedimentos. 3.3 Fase pós-analítica Segundo a RDC no 302/2005 da Anvisa, a fase pós-analítica é aquela que se inicia após a obtenção de resultados válidos das análises e termina com a emissão do laudo, para interpretação pelo solicitante. Na fase pós-analítica, a entrega do laudo deve ser eficiente, evitando trocas, extravios e dentro do turnaround, ou tempo de resposta (TAT). Os valores críticos devem ser avisados imediatamente. Recomenda- se que a liberação dos exames seja realizada por interfaceamento para evitar erros de digitação. Além disso, sugere-se a conferência e a liberação final do exame serem realizadas por profissional de nível superior. O laudo do exame precisa ser arquivado 16 por 5 anos. Atualmente, o resultado do exame pode ser arquivado eletronicamente e não há a necessidade de guardar o laudo impresso (MELO et al, 2015). Os erros potenciais da fase pós-analítica são segundo Melo (2015): • Identificação incorreta do paciente. • Transcrição de dados incorretos. • Resultado ilegível. • Unidades erradas. • Não identificação de substâncias interferentes (hemólise, lipemia, ictérico). • Especificidade, sensibilidade e precisão dos testes inadequados. • Erros na interpretação dos resultados. • Atraso na entrega dos exames. • Não comunicação dos resultados críticos e erro na digitação. O armazenamento de amostras da hematologia não pode ser longo, pois, por se tratar de sangue total, apresenta uma baixa estabilidade. O hemograma deve ser armazenado sob refrigeração (2°C a 8°C) por 24h, já o esfregaço sanguíneo na laminoteca à temperatura ambiente durante 30 dias (MELO et al, 2015). 4 HEMATOPOESE Fonte: biomedicinapadrao.com A palavra hematopoese significa formação das células do sangue. Abrange o estudo de todos os fenômenos relacionados com a origem, com a multiplicação e a maturação das células primordiais ou precursora das células sanguíneas, em nível da medula óssea. A hematopoese se divide em dois períodos segundo VIVAS (2015): 17 • Período embrionário e fetal: Iniciando no primeiro mês de vida pré-natal, surgem as primeiras células fora do embrião, são os eritroblastos primitivos. Na sexta semana, tem início a hematopoese no fígado; o principal órgão hematopoiético nas etapas inicial e intermediária da vida fetal. Na fase intermediária da vida fetal, o baço e os nodos linfáticos desempenham um papel menor na hematopoese, mas o fígado continua a dominar essa função. Na segunda metade da vida fetal, a medula óssea torna-se cada vez mais importante para a produção de células sanguíneas. • Período pós-natal: Logo após o nascimento, cessa a hematopoese no fígado, e a medula passa a ser o único local de produção de eritrócitos, granulócitos e plaquetas. As células-tronco e as células progenitoras são mantidas na medula óssea. Os linfócitos B continuam a ser produzidos na medula e órgãos linfoides secundários e os linfócitos T são produzidos no timo e também nos órgãos linfoides secundários. Ao nascer o espaço medular total é ocupado pela medula vermelha; na infância apenas parte desse espaço será necessária para a hematopoese; o espaço restante fica ocupado pelas células de gordura. Ainda de acordo com o autor, mais tarde apenas os ossos chatos (crânio, vértebras, gradil torácico, ombro e pelve) e as partes proximais dos ossos longos (fêmures e úmeros) serão locais de formação de sangue. 5 MIOGLOBINA E HEMOGLOBINA A Mioglobina (Mb) e a Hemoglobina (Hb) são hemeproteínas e fazem parte da família das proteínas globulares. Estas proteínas são caracterizadas por terem a cadeia polipeptídica enrolada de forma esférica ou globular possuindo vários tipos de estruturas secundárias. Outro aspecto importante que caracteriza as proteínas globulares, é o posicionamento das cadeias aminoacídicas laterais, que se reflecte na estrutura e estabilidade das interacções hidrófobas. A maior parte dos seus grupos laterais hidrófobos está localizada no interior das moléculas, ficando distantes da exposição à água, e grande parte dos grupos laterais hidrófilos (polares) fica à superfície das moléculas (SEMEDO, 2007). Segundo o autor, as hemeproteínas são constituídas por um grupo prostético, o heme e por uma parte proteica, a globina. São responsáveis por diversos tipos de 18 actividade catalítica e desempenham várias funções nos sistemas biológicos. Apresentam um máximo de absorção a 400-440 nm (banda de Sorét), característicos das porfirinas (Alface, 1997 e Ozaki et al., 2000). A Mb e a Hb consideradas hemeproteínas respiratórias são responsáveis pelo transporte de oxigénio molecular e possuem uma sequência aminoacídica semelhante entre si. Neste trabalho foram utilizadas a Mioglobina de coração de cavalo (Mb c) e a Hemoglobina humana (Hb A). Grupo Heme O grupo prostético heme confere a estas proteínas uma cor característica, e é constituído por uma parte orgânica e um átomo de ferro, no estado ferroso [Fe(II)]. Fonte: SEMEDO, 2007. O heme consiste numa estrutura tetrapirrólica, na qual os quatro anéis pirrólicos se encontram ligados por pontes de metano tendo à periferia 4 radicais metilo, 2 radicais vinilo e 2 radicais proprionilo em arranjos diferentes, dos quais a protoporfirina IX é um dos isómeros. O Fe(II) encontra-se no centro da protoporfirina IX coordenado por 4 ligações ao azoto de cada anel pirrólico (SEMEDO, 2007). 19 Representações da estrutura do grupo prostético heme (Fe-protoporfirina IX). (Adaptado de Nelson e Cox, 2004). A sua fórmula molecular é C34H32FeN4O4 e tem uma massa molecular de 616,487 g/mol. Este grupo é essencialmente plano, ligeiramente dobrado. A 5ª e a 6ª ligação coordenadas do Fe(II) estão estabelecidas com dois ligandos adicionais, localizados acima e abaixo do plano do heme. A 5ª ligação está ligada ao azoto imidazólico do resíduo de histidina (His) proximal (F8 ou 8º resíduo da sexta hélice ou F – nomenclatura de Perutz) da cadeía polipeptídica. A 6ª ligação coordenada está livre no estado não oxidado ou Desoxi,e ocupada pelo oxigénio no estado oxigenado ou Oxi, que se situa entre o Fe (II) e o grupo imidazol da His distal (E7) (SEMEDO, 2007). Representações do heme, que permitem observar que a 5ª posição de coordenação do Fe(II), está associado a um aminoácidos (resíduo de His F8) da cadeia polipeptídica e a 6ª posição permite a associação ao oxigénio molecular (estado oxigenado ou Oxi). Fonte: SEMEDO, 2007. 20 O átomo de ferro pode estar no estado de oxidação ferroso (II) ou no férrico (III), e as formas correspondentes quer da mioglobina quer da hemoglobina são denominadas, respectivamente, ferro- e ferri- (ou meta-). Somente os que se encontram no estado de oxidação (II), podem ligar-se ao oxigénio (SEMEDO, 2007). Hemoglobina - Estrutura e Funções A hemoglobina é a principal proteína solúvel que se encontra presente nos eritrócitos do sangue de diversos organismos (representa cerca de 75% da proteína total do sangue), e cuja capacidade de ligação a gases é conhecida. É responsável pelo transporte do oxigénio, dos pulmões até aos tecidos e parte do dióxido de carbono no sentido inverso. A versatilidade da hemoglobina reside na capacidade para se ligar e desligar facilmente ao O2, conforme varie a pressão deste gás nos tecidos (SEMEDO, 2007). Ainda segundo o autor, o nome hemoglobina deriva do grego haima (sangue) e do latim globus (bola). As características viscosas, assim como cor vermelha do sangue, têm sido dos aspectos mais notórios deste fluído desde que o homem existe. A explicação de que a cor vermelha do sangue resultaria da constituição e da conformação tetramérica própria de cada molécula de hemoglobina, foi adquirindo receptividade ao longo dos anos. Ao combinar-se com o oxigénio, esta estrutura metaloproteica adquiria uma cor vermelha mais clara, escurecendo quando passava ao estado desoxigenado. Sequencialmente, foi estabelecido que a organização química e a respectiva ressonância electrónica, que resulta de numerosas ligações duplas do anel de protoporfirina (em cada um dos quatro grupos heme de cada molécula de hemoglobina), está na origem daquela coloração e, também, da capacidade de fluorescência das porfirinas numa estreita banda do espectro de luz visível. A molécula de hemoglobina dos vertebrados é um tetrâmero, constituído por quatro cadeias polipeptídicas, duas α e duas β. As cadeias α possuem 141 aminoácidos e as cadeias β 146 aminoácidos, sendo muito semelhantes à da mioglobina. Cada cadeia polipeptídica contém um grupo heme, ligado covalentemente, e um centro de ligação ao oxigénio. As quatro unidades polipeptídicas estão ligadas entre si por ligações não covalentes, ou seja, ligações fracas (SEMEDO, 2007). 21 A) B) Fonte: SEMEDO, 2007 A) Estrutura tridimensional da hemoglobina humana. Esta proteína é formada por quatro cadeias polipeptídicas, duas cadeias α (representadas a amarelo) e duas cadeias β (representadas a cinzento). Cada cadeia polipeptídica contém um grupo prostético heme (representado a vermelho). Estruturalmente, os quatro monómeros ligam-se dispondo dímeros, que formam o tetrâmero da hemoglobina. (Adaptado de Lodish et. al, 2004) B) Imagem tridimensional da ligação distal de uma subunidade da hemoglobina, demonstrando a incorporação do heme na proteína. A hemoglobina A, hemoglobina humana principal dos adultos (Hb A), como já foi mencionado, é constituída por quatro cadeias polipeptídicas (α1, α2 , β1, β2 ). Uma outra hemoglobina dos adultos (cerca de 3-5% da hemoglobina total) é a hemoglobina A2, na qual as cadeias β são substituídas por cadeias δ. Assim, a composição da hemoglobina A é α2 β2 e da hemoglobina A2 é α2 δ2. Apenas cerca de 18% dos resíduos de aminoácidos são idênticos na mioglobina e nas subunidades α e β da hemoglobina, possuindo no entanto, estruturas terciárias similares. As subunidades α e β da hemoglobina têm o mesmo plano estrutural da mioglobina. Contudo, surgem novas propriedades de profunda importância biológica, quando diferentes subunidades se juntam para formar um tetrâmero. A hemoglobina é portanto, uma molécula muito mais complexa e susceptível do que a mioglobina. Para executar a sua função fisiológica, a hemoglobina deve capturar o oxigénio tão eficiente quanto possível, e libertá-lo facilmente nos outros tecidos. In vivo, a hemoglobina pode apresentar duas estruturas quaternárias distintas. Uma é a estrutura T (Tensa), característica da forma desoxiHb (não ligada), e tem baixa afinidade ao oxigénio; a 22 outra é a estrutura R (Relaxada), característica da forma oxiHb (4 moléculas de oxigénio ligadas) e tem alta afinidade ao oxigénio. Nos eritrócitos, as hemoglobinas encontram-se num equilíbrio das duas formas. A concentração de formas parcialmente ligadas é baixa (SEMEDO, 2007). As estruturas da hemoglobina em diferentes estados de ligação têm sido intensivamente estudadas, em parte pela sua importância na medicina e na fisiologia. As comparações entre as estruturas da oxiHb e da desoxiHb mostram mudanças na estrutura terciária das subunidades individuais e na estrutura quaternária, ou seja, na geometria relativa das subunidades e nas interacções nas interfaces. A Hb pode-se ligar a outros gases para além do O2. A ligação da Hb ao CO, é muito semelhante à que ocorre com o O2, mas possui uma estabilidade de ligação de cerca de 200 vezes superior. A dissociação deste gás é muito difícil, o que explica a sua toxicidade. A Hb ligada ao CO é designada por carboxi-hemoglobina. O anidrido carbónico, pode também combinar-se com a Hb, obtendo-se a carboxihemoglobina, mas os grupos heme, não intervêm, visto que a fixação de CO2 se dá ao nível dos grupos básicos da parte proteica da Hb (SEMEDO, 2007). Cerca de 1 a 2% da Hb encontrada no sangue humano são metahemoglobinas. Esta forma é produto da oxidação do Fe(II) a Fe(III), de forma que o heme é oxidado a hematina. A metaHb pode ser obtida de diversas formas, como por exemplo, devido à autooxidação da oxiHb, consequência da sua baixa estabilidade em solução (LEHNINGER et al 2014; apud SEMEDO, 2007). 6 FISIOLOGIA DOS ERITRÓCITOS E LEUCÓCITOS 6.1 Eritrócitos 23 Fonte: biologianet.com Os eritrócitos são células pequenas, circulares, com forma aproximada de discos bicôncavos, com 7,5 mm de diâmetro e sem núcleo. São os mais numerosos tios celulares no sangue. Embora seu número seja variável, um milímetro cúbico de sangue contém cerca de 4.5 a 6.1 milhões dessas células nos homens e cerca de 4.1 a 5.3 milhões nas mulheres. Essas células circulam pelo sangue circulante durante o período de aproximadamente 120 dias antes que sejam destruídas (BARBOSA, 2020). 6.2 Leucócitos Fonte: agro20.com Os leucócitos são células nucleadas, presentes no sangue circulante. São incolores, dotados de movimento amebóide, fagocitose e diapedese. Estão relacionados com as defesas celulares e imunocelulares do organismo. Em adultos, o número de leucócitos oscila entre 5.000 e 10.000/µl de sangue. A contagem de leucócitos varia significativamente conforme o ciclo circadiano, estando sua quantificação na dependência da hora da coleta do material. Os leucócitos são reunidos de início em dois grupos: granulócitos e agranulócitos. Esta denominação se prende à presença ou ausência de granulação no citoplasma dos mesmos. Granulócitos: 24 • Neutrófilos: representam a primeira linha de defesa celular contra invasão de microrganismos, sendo dotados de notável atividade fagocitária. Núcleo polilobulado. • Eosinófilos: as granulações são coradas pelos corantes ácidos, como a eosina. Apresentam atividade fagocitária, porém não tão acentuada quanto a dos neutrófilos. • Basófilos: as granulações dos basófilos são maiores do que aquelas existentesnos demais granulócitos. São dotados de movimentos amebóide e de fagocitose. Agranulócitos: • Linfócitos: são leucócitos esféricos, de diâmetro variável. Os linfócitos estão ligados à defesa do organismo, por meio da produção de anticorpos. Apresentam núcleo arredondado. Linfócito "T" – Timo dependente – atuando na defesa através do reconhecimento de antígenos. O HIV atua no linfócito "T4" Linfócito "B" – Bursa dependente – atua na defesa através da produção de anticorpos. Monócitos: correspondem aos maiores leucócitos do sangue circulante. Apresentam ação fagocitária. São capazes de atravessar a parede dos capilares e penetrar no conjuntivo, fenômeno conhecido como diapedese. Os monócitos podem ser confundidos com os histiócitos ou macrófagos. Núcleo reniforme. Células de Sézary são linfócitos T neoplásicos circulantes apresentando no núcleo, convoluções cerebriformes anormais. Encontradas na Síndrome de Sézary que é um linfoma cutâneo T epidermótropo primário. Gumprecht, manchas de ou sombras de, são núcleos linfocitários lisados que aparecem frequentemente na Leucemia Linfóide Crônica (LLC). Os leucócitos são transportados pelo sangue para todo o corpo, a partir da medula óssea, onde são formados. Os leucócitos estão presentes no sangue em muito menor número que os eritrócitos, com cerca de 4.000 a 10.000 leucócitos por milímetro cúbico de sangue (VIVAS, 2015). Neutrófilos: são conhecidos também como polimorfonucleares e correspondem cerca de 50 a 70% das células circulantes; possuem grânulos citoplasmáticos pequenos corados fracamente em púrpura-avermelhado. Os neutrófilos são capazes de deixar os vasos sanguíneos e entrar nos tecidos, onde protegem o corpo e fagocitando bactérias e substâncias estranhas ao organismo. 25 Existe uma célula precursora do neutrófilo segmentado, é o bastão. São assim chamados porque seu núcleo não amadureceu completamente, embora seu citoplasma tenha características de célula madura. Em infecções bacterianas agudas pode-se encontrar um desvio a esquerda, ou seja, uma elevação do número de bastões (VIVAS, 2015). Eosinófilos: possuem grânulos corados em laranja-avermelhado e fagocitam complexos antígeno-anticorpo. Seus núcleos geralmente têm dois lobos conectados por um filamento. O número de eosinófilos circulantes aumenta de forma muito acentuada no sangue circulante durante as reações alérgicas, e durantes as infestações parasitárias (VIVAS, 2015). Basófilos: possuem grânulos relativamente grandes corados em azul púrpura; liberam histamina (contribui para as respostas alérgicas dilatando e permeabilizando os vasos sanguíneos) e heparina (previne a coagulação do sangue). Os basófilos funcionam similarmente aos mastócitos, que são encontrados no tecido conjuntivo (VIVAS, 2015). 26 Monócitos: possuem um único núcleo; são células grandes. São formados por monoblastos; São capazes de entrarem no tecido conjuntivo frouxo, onde se desenvolvem em grandes células fagocíticas denominadas macrófagos, que podem ingerir bactérias e outras substâncias estranhas ao organismo (VIVAS, 2015). Linfócitos: são o segundo tipo mais abundante de leucócitos (após os neutrófilos), compreendendo cerca de 30% dos glóbulos brancos em circulação; a maioria se localiza no tecido linfoide e são formados por linfoblastos. São leucócitos pequenos, sendo apenas um pouco maiores que os eritrócitos, e cada um deles têm um núcleo que é circular ou algo recortado num dos lados. São importantes nas respostas imunes específicas do corpo, incluindo a produção de anticorpos (VIVAS, 2015). 27 7 INTERPRETAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO HEMOGRAMA Fonte: www.mycmllife.eu 7.1 Hemograma avaliação quantitativa e qualitativa dos elementos do sangue Constitui o estudo da séria vermelha, revelando alguns tipos essenciais de alterações patológicas do sistema eritropoético como eritrocitoses e anemias. Alterações fisiológicas podem ocorrer, por exercícios físicos e refeições gordurosas. Pode ser subdividido em 3 partes conforme o enfoque na série vermelha, branca e plaquetária, segundo Ribeiro (2017). • Eritrograma estuda as alterações nos eritrócitos, na hemoglobina, no hematócrito, nos índices globulares e na morfologia eritrocitária. • Leucograma estuda a contagem total de leucócitos (leucometria) assim como as fórmulas percentual e absoluta e o estudo da morfologia. • Plaquetograma faz uma estimativa do número de plaquetas e estuda sua morfologia. A avaliação inicial de um paciente deve ser pelo hemograma. O acompanhamento poderá ser feito utilizando-se o eritrograma (exemplo: Insuficiência Renal Crônica) ou Leucograma (abdômen agudo). Constitui o estudo da séria 28 vermelha, revelando alguns tipos essenciais de alterações patológicas do sistema eritropoético como eritrocitoses e anemias (RIBEIRO, 2017). Segundo o autor a avaliação quantitativa: poderá ser feita pela contagem em câmara. A de eritrócitos está abandonada, pelo elevado coeficiente de variação (C.V.), mas a de leucócitos é aceitável. Contadores eletrônicos de células (por exemplo por condutividade) de terceira geração fazem plaquetas e leucócitos com controle de qualidade (CQ interno). Os de quarta geração possuem diluidor e fazem eritrócitos, leucócitos, linfócitos, plaquetas, hemoglobina, hematócrito, índices globulares e controle de qualidade (RIBEIRO, 2017). Avaliação clínica: considerado o exame físico do sangue, todo pedido de hemograma deverá ser avaliado à luz de dados clínicos, como nos exemplos abaixo de acordo com Ribeiro (2017): • Leve anemia (Hb = 10 g/dl) ® ver se há exame anterior ® revisão de lâmina ® reticulócitos ® ver se há resultados de bilirrubina indireta e creatinina ® contactar o médico. • Hematócrito com plasma ictérico ® dosar Bilirrubinas. • Plaquetopenia ® conferir se há coágulos ® ver exames anteriores ® colher nova amostra. • Blastos, pancitopenia ® sugerir mielograma. • Anomalias genéticas ® emitir nota explicativa. • Resultados incompatíveis ® repetir na mesma amostra ® nova amostra. • Anemia significa contração da massa eritrocitária e policitemia a expansão desta. • Contagem de eritrócitos: ao analisar os valores lembrar que o CV é de 5% (isto é, em contagem de 5 milhões, 95% dos casos estarão entre 4,5 e 5,5). Eritrocitose significa aumento da contagem de eritrócitos. • Hemoglobina: os valores exatos dependem da sensibilidade dos hemoglobinômetros. • Hematócrito (Ht): o microhematócrito retém plasma (1 a 4%), o que interfere nos índices; nos contadores é calculado pelo número x volume, sendo sempre 1 ou 2 pontos abaixo da medida por centrifugação. Excesso de EDTA desidrata 29 os eritrócitos, o que reduz o Ht (assim como a má limpeza das cubetas). Na faixa normal há correlação entre os 3 parâmetros A dosagem do Ht/Hb da amostra reflete os valores da massa de eritrócitos e de hemoglobina total, exceto nas condições em que há alterações do volume plasmático ou volemia total. Normalmente há correlação entre a massa de eritrócitos da amostra e a total. O aumento do volume plasmático (pseudoanemia) pode ser encontrado na gravidez, insuficiência renal, baço grande, uso excessivo de líquidos endovenosos. A diminuição do volume plasmático (pseudoeritrocitose) no uso de diuréticos, na desidratação, na obesidade, no estresse e em queimaduras. Diminuição harmônica da volemia ocorre em hemorragia no início e prematuridade. Aumento harmônico da volemia ocorre na transfusão de sangue total (RIBEIRO, 2017). Valores de referência recomendados para adultos Fonte: RIBEIRO, 2017. Indices hematimétricos VCM - (Volume corpuscular médio) 80-98 fl (femtolitros) • Determinação direta nos contadores caracteriza tipo de anemia (macrocítica > 98 fl, microcítica < 80 fl e normocítica 80-98 fl). • A determinação usual (Ht x 10/eritrócitos)não têm valor: microhematócrito e contagem de eritrócitos têm erro elevado. HCM-(hemoglobina corpuscular média) 27 a 32 pg (picogramas). Determinação usual: Hb x 10/eritrócitos. Na determinação eletrônica equivale ao VCM, na usual valem as restrições anteriores. HCM elevado encontrado em casos de macrocitose e reduzido em casos de hipocromia. CHCM - (concentração de 30 hemoglobina corpuscular média, em peso/volume -pg/fl ou %). Determinação usual: Hb/Ht, 31 a 35%. Valores acima de 36% não podem ocorrer, exceto na esferocitose, por perda de porções de membrana e desidratação do eritrócito. Rejeitar valor elevado do CHCM, causado por erro do Ht para menos e da Hb para mais. Com a tecnologia usual é o melhor índice de hipocromia, pois não depende da contagem de eritrócitos (RIBEIRO, 2017). Colorações 1) O esfregaço deve ser de sangue sem contato com anticoagulante (punção digital ou da agulha). 2) O pH da água é fundamental para a otenção de bons resultados, através da mistura de fosfato monobásico (KH2PO4) e dibásico (Na2HPO4), o primeiro para a acidez e o segundo para alcalinidade. 3) Ao corar médula óssea, aumentar o tempo da segunda fase. 4) Pode-se recuperar esfregaços lavando em metanol e recorando 2ª fase. 5) O metanol (diluente) absorve água rapidamente: conservar o frasco do corante bem fechado (RIBEIRO, 2017). Morfologia eritrocitária Examinar as lâminas com os valores dos índices, idade, sexo e dados clínicos. • Macrocitose: facilmente notada se o VCM > 110; alcoolismo é causa comum; atenção especial na gravidez e idosos; procurar por hipersegmentação de neutrófilos (déficit de ac. fólico ou vitamina B12). É causada por hiperregeneração da medula, ou síntese alterada do DNA. • Microcitose e hipocromia: deficiência na síntese de hemoglobina (deficiência de ferro, Talassemias). A hipocromia poderá ser mais aparente do que real. • Anisocitose: presença de macro e microcitose ao mesmo tempo, sem predominância; seu significado é incerto. • População Dupla: presença concomitante de eritrócitos normais e anormais, por ex., anemias hipocrômicas tratadas por transfusão, ou nas primeiras semanas de tratamento com ferro. 31 • Policromasia e Reticulocitose: eritrócitos jovens com DNA citoplasmático coram-se azulados na coloração usual (eritrócitos policromáticos); os ribosomas serão visíveis em coloração supra-vital ("Reticulócitos" -Rt). Permanecem 20 -30 horas na circulação, e depois amadurecem (cerca de 1% ao dia para vida média eritrocitária de 120 dias). Reticulocitose significa aumento da eritropoiese, como resposta normal à anemia e hipoxemia; começa no 4º dia, máximo aos 8-15 dias e depois diminui. São necessárias duas correções (índice reticulócito) para compensar a eritrocitopenia e a liberação precoce da medula óssea, estimulada pela eritropoietina (RIBEIRO, 2017). 1ª correção : Rt (%) x Ht paciente/Ht normal. Considerar Ht 47 homens e 42 mulheres. 2ª correção :o valorobtido acima dividido pelo número de dias de duração de retículo, pela tabela a seguir: Correção da contagem de reticulócitos conforme o tempo de maturação Fonte: RIBEIRO, 2017. Na segunda correção, devemos encontrar no esfregaço reticulócitos imaturos que amadurecem em 40-70 horas, sob forma de macrócitos policromáticos ("shift- cells"). Se obtivermos um IR (índice reitulocitário) de 2, a resposta medular é considerada adequada; IR de 3 a 6 aparece nas grandes hemorragias; IR < 2 resposta subótima da medula óssea. • Poiquilocitose: alterações da forma. Em caso de anemia grave, o excesso de plasma causa deformações ao se fazer o esfregaço; refazê-lo reajustando o Ht em 40-50% por retirada do plasma sobrenadante em tubo centrifugado, após as dosagens hematimétricas (RIBEIRO, 2017). 32 • Esferócitos: defeito de membrana por alteração genética da espectrina (Esferocitose Hereditária) ou agressão por anticorpos (anemia hemolítica imune, após transfusões). • Eliptócitos ou Ovalócitos: defeito hereditário da membrana (Eliptocitose Hereditária), ou adquirido (anemias hipocrônicas, megaloblásticas e síndromes mieloproliferativas). • Estomacitose: geralmente artefato; raramente tem significado clínico (uso de asparaginase, doenças hepáticas, recem nascido, hereditária, Rhnull). • Drepanócitos: geralmente homozigoto da HbS; confirmar pelo teste de falcização e eletroforese de hemoglobina. Sua contagem carece de valor clínico. • Equinócitos: são hemácias crenadas, artefato produzido por substâncias alcalinas nas lâminas, afetando principalmente eritrócitos de RN; raramente são diagnósticos na uremia ("burr-cells"), nas hepatopatias, uso de heparina venosa e no hipotiroidismo (ovalo-equinócitos). • Acantócitos: abetalipoproteinemia, deficiência de tocoferol no RN, hepatopatias ("spurr-cells") e esplenectomizados. • Leptócitos: eritrócitos delgados e hipocrômicos, podem adquirir forma de sino (codócitos) ou alvos ("target-cells"). Presentes na hemoglobinopatia C, Talassemias e icterícias obstrutivas. • Dacriócitos:forma de lágrimas ("tear-drop cells"); são produzidos no baço na mielofibrose e anemias megaloblásticas. • Hemácias Fragmentadas: lesão por colisão em áreas de fluxo violento (válvulas cardíacas, próteses arteriais), fibrina intra-vascular (CIVD), lesão térmica (queimaduras) ou química (drogas oxidantes).Queratócitossão células "mordidas ("bite-cells"), ou em forma de capacete ("helmet-cells"), presentes nas anemias hemolíticas por hemoglobina instável, defeito enzimático, remédios (sulfas, acetominofen).Esquizócitossão células em forma de meia- lua, triangulares ou de esférulas. • Eritroblastos: eritrócitos nucleados. Aparece nas grandes regenerações eritróides (acompanha policromasia), na metaplasia mielóide do figado e baço, na invasão da medula (junto com células jovens granulocíticas, chama-se reação leucoeritroblástica). São contados como leucócitos qualquer que seja o 33 método usado, e acima de 5% convém descontá-los da leucometria pela fórmula:Leucometria Real = 100 x leucometria obtida / 100 + eritroblastos. Inclusões: coloração supra-vital (azul de cresil brilhante) identifica os corpos de heinz (Hb desnaturada nas hemoglobinopatias e defeitos enzimáticos) e corpos de hemoglobina H("bola-de-golfe") na a -Talassemia. Na coloração usual poderemos encontrar os corpos de howell-jolly (cromossomas aberrantes de mitoses anormais em esplenectomizados ou asplenia); pontilhado basófilo, RNA ribosômico encontrado nas Talassemias, nos defeitos enzimáticos e intoxicação pelo chumbo (desaparece em sangue anticoagulado com EDTA); anéis de cabot, restos de fuso mitótico raramente vistos nas anemias megaloblásticas e mielodisplasias. 7.2 Contagem de Hemácias na Câmara de Neubauer Os métodos para contagem global das células sanguíneas consistem geralmente em diluir o sangue, em proporção conhecida, com um líquido diluidor chamado Hayen, permitindo a conservação das células em estudo (VIVAS, 2015). 1. Pipetar 4 ml do líquido diluidor em um tubo de ensaio. 2. Com a pipeta transferir 0,02 ml de sangue. Limpar a parede externa da ponteira com auxílio de papel absorvente. 3. Transferir os 0,02 ml de sangue para o tubo com o líquido diluidor, lavando com ele o interior da ponteira por aspiração e expulsão do líquido. A diluição é de 1:200. 4. Agitar suavemente por inversão para uma correta homogeneização. 5. Com uma pipeta preencher os retículos da câmara de contagem, evitando excesso de líquido e bolhas de ar sob a lamínula aderida firmemente à câmara. 6. Deixar repousar por dois minutos para sedimentação dos glóbulos. 7. Focalizar a preparação com pequeno aumento no microscópio para localizar o retículo e observar a distribuição uniforme das hemácias. Observar então, com aumento de 100X ou 400X, conforme necessidade. 8. Fazer a contagem de todas as hemácias encontradasnos quadros marcados “H” na figura relativa ao retículo de Neubauer, ou seja, 1/5 de mm2. Sistematizar a contagem segundo a figura abaixo. Contar os elementos em negro (VIVAS, 2015). 34 Cálculos: Hemácias por ml de sangue = H.c. x 5 x 10 x 200 7.3 Dosagem da Hemoglobina pelo Método da Cianometemoglobina É o método de referência para a dosagem de hemoglobina. Dosam todas as suas formas exceto a sulfemoglobina. A desvantagem reside na extrema toxidade do cianeto usado no preparo do reagente (solução de Drabkin), mas pode ser resolvida pela aquisição já preparada, de concentração mínima (VIVAS, 2015). A solução de Drabkin modificada e o padrão de hemoglobina de concentração conhecida. Calcula-se um fator determinado a absorbância de 0,02 ml do padrão em 5ml da solução de cianeto, através da fórmula: Fonte: www.mycmllife.eu O zero é estabelecido com água destilada em 540nm. O sangue em estudo, diluído de modo idêntico a padrão (0,02 ml para 5 ml de Drabkin) fornece outro valor de absorbância, que multiplicando pelo fator de g% de hemoglobina pela multiplicação de cada unidade de leitura pelo fator (VIVAS, 2015). 35 Fonte: www.mycmllife.eu 7.4 Determinação do Hematócrito pelo Método do Microhematócrito Hematócrito é o volume de hemácias expresso como percentagem do volume de uma amostra de sangue total, ou seja, mililitros de hemácias por decilitro de sangue (VIVAS, 2015). 7.5 Determinação do Microhematócrito 1. Encher com o sangue o tubo para microhematócrito, até dois terços do seu volume. Para tubos heparinizados o sangue capilar pode ser usado. 2. Selar o tubo, introduzido a extremidade vazia na massa própria, com movimentos de rotação, até aproximadamente 5mm de profundidade. 3. Encher os demais tubos de modo idêntico. 4. Coloca-os na microcentrifuga em posição diametralmente opostas com a parte selada voltada para fora. Observar a numeração evitando a troca de resultados. 5. Após tampar convenientemente a microcentrifuga, coloca-a em movimento por cinco minutos. Tempo superior a este não altera a sedimentação dos glóbulos. 6. Desligar o aparelho. Retirar os tubos e fazer a leitura usando a escala própria (VIVAS, 2015). 7.6 Leitura dos Resultados 1. Colocar o tubo sobre a escala, fazendo coincidir a extremidade inferior das células centrifugadas com a linha zero. 2. Deslocar o tubo paralelamente às linhas verticais fazendo coincidir o menisco superior do plasma com a linha 100. 3. Ler a percentagem do volume hematócrito na escala graduada ao nível da superfície das hemácias no tubo (VIVAS, 2015). 36 7.7 Índices Hematimétricos Índices hematológicos ou hematimétricos são determinados a partir da contagem global dos eritrócitos, taxa de hemoglobina e determinação do hematócrito. Tais elementos, deverão ser padronizados pelo laboratório, fornecendo-se sempre resultados na unidade de percentagem do normal (VIVAS, 2015). 7.8 V.C.M – Volume Corpuscular Médio É o volume médio das hemácias expresso em fentolitros. Representa, portanto, o quociente de um determinado volume de hemácias pelo número de células contidas no mesmo volume (VIVAS, 2015). Fonte: s3.amazonaws.com 7.9 H.C.M. – Hemoglobina Corpuscular Média: É o conteúdo médio de hemoglobina nas hemácias expresso em picogramas. Representa, portanto, o quociente de conteúdo de hemoglobina em um determinado volume de hemácias pelo nº de células contidas no mesmo volume (VIVAS, 2015). Fonte: s3.amazonaws.com 37 7.10 C.H.C.M. – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média: É a percentagem de hemoglobina em 100ml de hemácias. Fonte: s3.amazonaws.com 7.11 Leucograma O leucograma corresponde à contagem global e específica dos leucócitos, representados pela leucometria e pelo estudo quantitativo e qualitativo dos glóbulos brancos. O quadro leucocitário que se apresentará após ser concluído o exame hematológico, permitirá ao médico tirar conclusões diagnósticas e prognósticas importantes (VIVAS, 2015). 7.12 Contagem Global de Leucócitos com Câmara de Neubauer 1. Pipetar 0,4 ml do líquido de Turk no tubo 2. Com pipeta automática, pipetar 0.02 ml de sangue. Limpar a ponteira com papel de filtro. 3. Transferir os 0,02 ml de sangue para o tubo com o líquido diluidor, lavando com ele o interior da pipeta por aspiração e expulsão do líquido. A diluição é de 1:20. 4. Agitar suavemente por dois minutos. 5. Encher os dois retículos da câmara de contagem, evitando excesso de líquido e bolhas de ar sob a lamínula, aderida firmemente à câmara por compressão daquela sobre esta, cobrindo ambos os retículos. 6. Deixar repousar de um a dois minutos para sedimentação dos glóbulos. 7. Focalizar a preparação com pequeno aumento no microscópio para localizar o retículo e observar a distribuição uniforme dos leucócitos. Em seguida, observar com aumento de 100 x ou 400 x, a desejar. 38 8. Fazer a contagem de todos os leucócitos encontrados nos quadros marcados “L” na figura relativa de Neubauer, ou seja, 4mm2 (VIVAS, 2015). Fonte: s3.amazonaws.com 7.13 Forma Leucocitária Relativa Determina a relação percentual entre as distintas variedades de leucócitos. Se, em 100 leucócitos contados no esfregaço, 60 são neutrófilos, estes representam 60% do total de leucócitos (VIVAS, 2015). 7.14 Forma Leucocitária Absoluta Fornece o número de cada tipo de leucócito por microlitro de sangue. Considerando para o caso anterior que a contagem global de leucócitos foi de 8.000 por micro- litro de sangue, uma relação pode ser estabelecida segundo Vivas (2015): • Em 100 leucócitos, 60 são neutrófilos. Em 8.000 leucócitos, 4.800 serão neutrófilos. Dessa forma, um microlitro de sangue contém 4.800 neutrófilos. • Para cada um dos tipos contados o mesmo raciocínio será seguido, estabelecendo a fórmula leucocitária relativa e absoluta para todas as variedades de leucócitos. 39 8 ALTERAÇÕES DO ERITROGRAMA Fonte: medquimheo.com 8.1 Anemias Sinais e sintomas: aguda (sinais de hipovolemia - queda da PA, taquicardia, pulso fino, sede, oligúria) e crônica: volemia normal; se hemoglobina menor que 9 g/dl há irritação, cansaço fácil, angina em coronariopatias e palidez. Se Hb entre 6 -9g/dl, palidez evidente, taquicardia, sopro anêmico, cansaço aos menores esforços. Se Hb < 6 d/dl: sintomas aos mínimos esforços. Se Hb < 3,5 g/dl: insuficiência cardíaca. O hemograma é fundamental para o diagnóstico da anemia; solicitar sempre o hemograma completo. Anemia é um sinal de doença subjacente. As principais causas são segundo Ribeiro (2017): 1 -Anemia pós-hemorrágicas: o hemograma é normal, sendo representativo da perda somente 24 a 48 horas; após 7 dias há sinais de regeneração (policromasia, reticulocitose). 2 -Anemias por síntese deficiente da Hemoglobina. • Ferropriva: a redução da Hb é maior do que os outros parâmetros; o VCM e o HCM estão bastante reduzidos (microcitose e hipocromia). Procurar analisar o hemograma completo: eosinofilia sugere verminose. Causas mais frequentes na infância: dieta carente; em adultos, perda hemorrágica crônica. No tratamento com ferro há reticulocitose entre 8 a 14 dias e daí em diante elevação da Hb em torno de 1% ao dia, até a normalização. Repetir o 40 hemograma em 40-60 dias; a normalização das reservas (ferritina) ocorre após 3 meses (RIBEIRO, 2017). • Talassemia: anemia semelhante à ferropriva: microcitose intensa, eritrocitose apesar da anemia, leptocitos, pontilhado basófilo, policromasia e poiquilocitose podem ocorrer. A Hb varia na faixa de 9 a 11 g/dl, CHCM normal. Na forma a com defeito em 2 gens manifesta-se leve anemia microcítica A doença de Hb H (3 gens) é mais severa, com policromasia, reticulocitose e corpos de Hb H (evidenciados na mesma preparação para Reticulócitos). • Anemia Sideroblástica: mielodisplasia somente diagnosticada pela coloraçãodo ferro (Perls) na medula óssea, encontrando-se sideroblastos anelados. • Anemia das doenças crônicas (ADC): acompanha infecções, colagenoses, dermatites, câncer, convalescença de cirurgias e traumas extensos e doenças inflamatórias. Há "sequestro" de ferro no sistema monócito-macrófago (SRE), caindo o ferro sérico, a ferritina está normal ou elevada; é causada pela ação da Interleucina -1 (IL-1), secretada pelos monócitos-macrófagos e que também causa febre, síntese de proteínas de fase aguda (fibrinogênio, proteína C reativa, complemento), queda da Albumina e da Transferrina. Poderá haver anemia microcítica-hiprocrômica (VCM 75-85; CHCM 28-31) ou normocítica- normocrômica sem alterações morfológicas dos eritrócitos. Nas infecções agudas pode aparecer ADC de 2 a 3 semanas após o início da doença. Um teste simples que ajuda a caracterizar a inflamação é a VHS (velocidade de hemossedimentação), que costuma estar aumentada nas doenças que causam ADC, e reduzida na talassemia e anemia ferropriva. Os mesmos fatores que aumentam o VHS causam o empilhamento dos eritrócitos("ROULEAUX") por alterarem a carga elétrica da superfície. A eletroforese das proteínas mostra gama policlonal nos estados inflamatórios. Grandes aumentos de VHS e rouleaux intenso sugere gamopatia monoclonal (mieloma); a eletroforese é típica. Às vezes é difícil separar ADC de ferropriva: ambas têm microcitose - hipocromia e baixa do ferro sérico. A capacidade de ligação férrica do soro é alta na ferropriva e baixa na ADC, porém a Ferritina atualmente é o melhor método (< 15 mg/ml = ferropenia; normal ou elevada na ADC; alta na talassemia e muito alta na sideroblástica; ferritina muito baixa em doença crônica sugere carência concomitante de ferro) (RIBEIRO, 2017). 41 Anemias por produção deficiente de eritropoietina • Insuficiência Renal Crônica (IRC): há certo paralelismo entre o grau de anemia e o valor da creatinina; é normocítica-normocrômica sem alterações morfológicas a não equinocitose ("burr-cells") que é confundida com artefatos; leucograma e plaquetas normais; deve-se analisar a creatinina, os exames anteriores do paciente, contar reticulócitos e levantar os dados clínicos (nictúria, sede, edema, náuseas). A diálise não melhora a anemia, somente o uso de eritropoietina (EPO) e o transplante renal (RIBEIRO, 2017). • Hipotireoidismo: os dados clínicos são edema periorbitário e maleolar, queda de cabelos, hipersensibilidade ao frio e mudança da voz; dosar TSH e T4; a anemia é normocítica-normocrômica, Hb 9 -12 g/dl, presença de ovalo- equinócios; o tratamento hormonal causa melhora lenta da anemia (RIBEIRO, 2017). • Anemias por síntese defeituosa de nucleoproteínas: reduz-se a síntese do DNA, sem afetar o RNA e outras proteínas, as células em proliferação sofrem crescimento assincrônico núcleo/citoplasma, que vai piorando em cada mitose, até inviabilizá-las, causando eritropoiese ineficaz, leuco plaquetopenia em menor grau, macro ovalocitose e poiquilocitose; aumento do VCM/HCM, CHCM normal, não há policromasia; presença de neutrófilos gigantes e hipersegmentados; sugerir mielograma para confirmação. A maioria dos casos é por carência de Ácido Fólico (dieta carente, alcoolismo, crescimento rápido, gravidez, uso de anticonvulsivantes, secundariamente nas anemias hemolíticas crônicas por consumo excessivo, doenças intestinais, etc.); a intensa anorexia que a acompanha piora ainda mais a anemia. O déficit de vitamina B12 traz sintomas neurológicos concomitantes (parestesias, ataxia) e anemia. A falta de fator intrínseco por gastrite atrófica em pessoas de meia-idade ou idosas, a gastrectomia e má-absorção intestinal alteram a absorção da B12. O teste terapêutico com 10 µg de Vit. B12 IM leva a regeneração hematológica no 8º dia, e a retomada de eritropoiese normal (RIBEIRO, 2017). • Anemia por falta de precursores: pancitopenia (anemia + leucopenia + plaquetopenia). Ex: Anemia aplástica, invasão da medula óssea por células neoplásicas, granulomas; necrose. Mais raramente poderá haver aplasias seletivas; clinicamente a pancitopenia grave leva a sintomas de anemia + 42 hemorragias de pele e mucosas -petéquias, equimoses, e febre por infecção. Causas de aplasia secundária: remédios (cloranfenicol, pirazolonas, sais de ouro, antitireoideanos), benzeno, radioterapia, hepatite a vírus, parvovírus. Está indicado mielograma ou biópsia de medula óssea conforme o caso. A invasão tumoral da medula e a mielofibrose causam a reação leuco eritroblástica (RIBEIRO, 2017). • Anemias hemolíticas: hemólise é a redução da vida-média do eritrócito (normal 120 dias); hemólise compensada: a medula consegue manter valores hematológicos normais; anemia hemolítica: sobrevida do eritrócito menor que 15-20 dias. Clínica: anemia + icterícia + esplenomegalia; hemoglobinúria na hemólise intra-vascular. Laboratório: o microhematócrito mostra icterícia plasmática (este dado é perdido nos contadores eletrônicos) (RIBEIRO, 2017). Segundo o autor o Índice Reticulócito está entre 3 e 6; exame da medula óssea mostrará apenas hiperplasia eritroblástica; a icterícia é por aumento da bilirrubina indireta, que a longo prazo leva à litíase biliar; aumenta o urobilinogênio fecal e urinário; nas hereditárias a expansão medular causa deformidades ósseas; a infecção por parvovírus causa "crises aplásicas"(seletiva da série eritróide); o esgotamento das reservas de Ac. Fólico leva a megaloblastose, ocorrendo piora considerável da anemia. Podemos subdividir as anemias hemolíticas em: • Defeitos intracorpusculares. • Esferocitose: defeito autossômico dominante da Espectrina, principal proteína na membrana do eritrócito. Hb entre 7-12 g/dl, Bilirrubina Indireta (BI) de 1 a 4 mg%, Reticulócitos (Rt):5 a 25 % Na dúvida, corar a lâmina de reticulócitos, observar icterícia no microhematócrito e fazer teste simplificado de resistência osmótica (NaCl 0,5 g/dl -esferócitos hemolisam, discócitos normais não). • Ovalo ou Eliptocitose: autossômico dominante, não causa anemia, somente hemólise compensada. • Hemoglobinúria Noturna Paroxística (HNP): defeito adquirido, levando a susceptibilidade aumentada ao Complemento em pH ácido. Defeito clonal de célula-mãe causando anemia + leucoplaquetopenia. A hemólise é intra vascular levando a hemoglobinúria (atenção no exame de urina: a fita acusa hemoglobina sem a presença de eritrócitos no sedimento). Confirmar pelo Teste de HAM ou teste da sacarose. 43 • Anemia Falciforme: presença homozigota da Hb S causa Hb de 5-8 g/dl, BI 2 -6 mg%, Rt > 15%, hipocromia e leptocitose; drepanócitos (inconstantes!); sinais regenerativos, eritroblastos, leucocitose, plaquetas normais ou aumentadas; corpos de HOWELL-JOLLY por asplenia. Confirmação: teste de falcização, eletroforese de hemoglobina. Clínica: infecções por germes encapsulados e Salmonela devido à asplenia (autoesplenectomia) caudada por micro-infartos repetidos; dores ósseas repetidas por microinfartos ósseos. Os heterozigotos tem 50% de Hb A e S (atenção: anemia microcítica-hipocrômica nestes pacientes é ferropriva). É frequente a associação S/Talassemia (RIBEIRO, 2017). Outras hemoglobinopatias: Hb C-heterozigotos (AC) são assintomáticos; homozigotos (CC) anemia moderada 9-12 g/dl, leptocitose, hipocromia, policromasia 1+ a 2+; duplos heterozigotos: SC. Hb D-na eletroforese em pH alcalino migra com a S; anemia, hipocromia, esferocitose, policromasia (atenção: clínica leve, eletroforese de Hb S e falcização negativa sugere Hb D).Doença por Hb H-alfa-Talassemia de 3 gens: anemia, hipocromia, policromasia, corpos de Hb H nos reticulócitos. Hb instáveis-anemia hemolítica crônica, crises hemolíticas após infecção ou uso de drogas oxidantes; diagnóstico pelo teste de desnaturação pelo calor e teste de isopropanol. Corpos de Heinz podem estar presentes nos esplenectomizados(RIBEIRO, 2017). Enzimopatias: o eritrócito retira a energia necessária à manutenção do gradiente iônico em relação ao plasma da glicólise anaeróbica e a proteção contra agentes oxidantes da via das pentoses pela síntese do glutationa reduzido; um defeito enzimático no primeiro caso leva a esgotamento energético prematuro e hemólise, e no segundo caso hemólise sob ação de agentes oxidantes (RIBEIRO, 2017). Deficiência de piruvatoquinase (PK): pacientes provavelmente são heterozigotos duplos anemia hemolítica variável, congênita, não-esferocítica (RIBEIRO, 2017). Deficiência de pirimidino-5'-nucleotidase: característico é o pontilhado basófilo fino (acúmulo de ribossomos por defeito do metabolismo do RNA); a intoxicação pelo chumbo (saturnismo) inibe esta enzima, mas causa basófilo grosseiro (RIBEIRO, 2017). Deficiência de glicose -6-fosfato-desidrogenase (G6PD): ligado ao sexo, presentes nos homens e rara nas mulheres homozigotas, não aparece nas 44 heterozigotas; as crises hemolíticas mostram anemia hemolítica súbita, hemoglobinúria, história de uso de agentes oxidantes (naftalina, anilina, anti- maláricos, sulfas, acetominofen, AAS ou vitamina K), reticulocitose, corpos de HEINZ, presença de "bitecells" (RIBEIRO, 2017). Defeitos extracorpusculares Malária. Clínica: febre, calafrios, prostração extrema. Anemia hemolítica (pode haver hemoglobinúria), policromasia, aumento da BI; neutrófilos normais, ou neutropenia com desvio à esquerda, monocitose e eosinofilia na convalescença. P. Falciparum é grande maioria dos casos que vêm à nossa região: eu prefiro a coloração de MGG em esfregaços. Procurar por esquizontes anelados de anel pequeno; achado de mais de um por eritrócito é característico do P. falciparum, assim como os gametócitos "em Banana". Acho importante dar rapidamente um diagnóstico de P. falciparum, devido à gravidade dos casos (insuficiência renal, malária cerebral) (RIBEIRO, 2017). Imunológicas. Podem ser por crioaglutininas, anticorpos IgM, agindo na faixa de 5 a 25ºC - nota-se no laboratório em dias frios, e no sangue conservado em geladeira. A aglutinação é vista ao microscópio, é diferente do rouleaux; pode ocorrer em pessoas idosas sadias, em portadores de colagenoses, neoplasias, infecções crônicas, pneumonias por Mycoplasma (paciente jovem com febre e tosse) e Mononucleose Infecciosa. Na anemia hemolítica auto-imune coombs-positiva, os anticorpos IgG ligam-se aos eritrócitos e causam sequestração no Sistema Monócito-Macrófago; há macrocitose com elevação de VCM, esferócitos, aumento de BI, esplenomegalia, Coombs Direto positivo. Causas: remédios (alfa metildopa), Linfoma não-Hodgkin (LNH), Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), AIDS e idiopática (RIBEIRO, 2017). Fragmentação eritrocitária. Próteses valvulares: as hemácias fragmentadas de 1 a 10% -em casos muito graves podem estar ausentes (fragmentação total), com hemoglobinúria. Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT): mulheres jovens no último trimestre ou após a gravidez; há agregação plaquetária na microcirculação causando plaquetopenia e fragmentação dos eritrócitos. Sintomas neurológicos, febre e insuficiência renal; causa ignorada. Síndrome hemolítico-urêmico: igual à anterior, mas em crianças até 2 anos de idade insuficiência renal e anemia por fragmentação. Estas duas últimas causas, 45 assim como as causadas por carcinomas disseminados e vasculite por hipertensão maligna, são chamadas coletivamente de "anemias hemolíticas microangiopáticas" (RIBEIRO, 2017). Anemias mistas: alcoolismo (megaloblástica por déficit de Ac. fólico -ferropriva por perda de sangue em gastrite). A macrocitose (VCM eletrônico) é um marcador importante e duradouro; a g GT é mais sensível; grandes doses de álcool causam vacuolização dos eritroblastos e sideroblastose na medula óssea; há neutro- plaquetopenia facilitando infecções (broncopneumonia) e sangramentos. Hepatopatias: a obstrução biliar e lesão do hepatócito provocam excesso de colesterol no plasma e na membrana dos eritrócitos, originando leptocitos ou codócitos, alteração reversível que não provoca anemia hemolítica: na fase terminal com encefalopatia, ascite e esplenomegalia há anemia hemolítica por presença de Acantócitos ("spurr-cells") e esferocitose; na esteatose hepática com hipertrigliceridemia e hipertensão portal aguda pode aparecer anemia hemolítica(Síndrome de ZIEVE); pode haver anemia ferropriva por sangramento de varizes esofagianas; cirrose com esplenomegalia leva a aumento de gamaglobulinas causando rouleaux (na eletroforese aparece platô beta/gama), leptocitose, icterícia, hiperesplenismo (pancitopenia e anemia por diluição) (RIBEIRO, 2017). Gravidez: ocorre hemodiluição a partir do 3º mês até o 7º mês e aumento da massa eritrocitária (manifestando-se por policromasia), mas de maneira desproporcional favorável à primeira, causando redução do Ht/Hb. O limite inferior do valor normal da hemoglobina da gestante é, portanto, 11 g/dl. O balanço de ferro é negativo e a ferropenia é comum, assim como anemia na gravidez; raramente poderá haver componente megaloblástico por déficit de folatos em gestantes pobres ou com anorexia acentuada (RIBEIRO, 2017). Eritrocitoses: Aumento das cifras do eritrograma por aumento da massa eritrocítica, ou diminuição do volume plasmático(pseudoeritrocitose). Dados clínicos: desidratação, uso de diuréticos. Deve-se repetir os testes. Eritrocitoses acentuadas (Ht > 60% homens e > 55% mulheres) costumam ser reais -as moderadas exigem diagnóstico diferencial, a saber segundo Ribeiro (2017): 1) Moradores de grandes altitudes. 2) Fumo> 20 cigarros/dia. 3) Obesidade e estresse(pseudoeritrocitose): Síndrome de PICKWICK. 46 4) Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): a eritrocitose é benéfica por permitir maior transporte de oxigênio, porém com Ht > 55% a viscosidade sanguínea aumenta e é prejudicial. 5) Síndrome da apnéia noturna. 6) Tumores secretantes de eritropoietina:o mais comum é o hipernefroma (rim) -início com eritrocitose + emagrecimento, depois aparece tumor no abdômen. 7) Cardiopatias congênitas na infância, Ht > 70% com sinais de pletora, cianose, hipocratismo digital. 8) Hemoglobinopatias de alta afinidade pelo 02, herança familiar, tipo dominante; a eletroforese de hemoglobina poderá levar ao diagnóstico. A presença de eritrocitose + cianose sugere a presença de metahemoglobina (Hb M), molécula defeituosa causando oxidação do ferro; herança dominante; diagnóstico pela eletroforese de Hb. Déficit de Metahemoglobina-redutase: recessivo, melhora com uso de Ac. Ascórbico. Em ambos os casos a cor do sangue é marrom-achocolatado. 9) Policitemia Vera: doença mieloproliferativa crônica, clonal, acometendo também a granulo-plaquetopoiese. Idade 60-65 anos, esplenomegalia, tromboses cerebrais e de veias supra-hepáticas, úlcera péptica hemorrágica. Hemograma com eritrocitose, leucocitose e plaquetose; microcitose e hipocromia na evolução, devido ao tratamento com sangrias; eritroblastos, mielócitos, basofilia, plaquetas anormais. Neutrofilia: aumento acima do limite superior do valor de referência (VR), vai de1.600 -7.000/m l. São células maduras, pós-mitóticas, vida-média 10 a 11 horas, por diapedese vão a tecidos e cavidades do organismo. A reserva medular é de 10 a 15 vezes circulante, sendo a proporção Bt/Seg = 3/2. Distribuem-se no sangue periférico em dois componentes: marginal e circulante (50% cada um). A leucometria avalia o circulante. O marginal é mobilizado por descargas adrenérgicas (exercício leve: neutrofilia fugaz; prolongado: neutrofilia duradoura); o repouso estimula a marginação. O choro e pânico das crianças ao colher sangue tem o mesmo efeito do exercício. Os corticóides inibem a marginação e levam a neutrofilia; os anestésicos estimulam a marginação (reduzem a contagem) (RIBEIRO, 2017).
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