Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INCONTINÊNCIA URINÁRIA É definido como qualquer perda involuntária de urina, podendo ser caracterizado como um sintoma (quando relatada pelo paciente) ou como um sinal (observada pelo médico). A prevalência varia de 8 a 34% nos idosos, principalmente nas mulheres. 30-60% das mulheres idosas e 10 a 35% dos homens idosos na comunidade e até 80% dos institucionalizados apresentam incontinência urinária. Apresenta picos de incidência na perimenopausa (hipoestrogenismo) e idade > 75 anos (presença de comorbidades, aumento da diurese noturna, prejuízo cognitivo ou da mobilidade, hipoestrogenismo). A incontinência urinária aumenta o risco de quedas e fraturas, ITU recorrentes, celulites, úlceras de pressão, disfunções sexuais, distúrbios do sono, além de contribuir para isolamento social, depressão, estresse do cuidador e institucionalização precoce. Fisiologia O centro pontinho da micção (CPM) coordena todo o processo da micção, graças à modulação dos efeitos opostos dos sistemas nervosos simpático e parassimpático no TU inferior. Controle voluntário da micção: os centros controladores corticais (giros frontal e cingulado) e subcorticais promovem inibição do CPM e excitação do esfíncter uretral externo. Assim, o esvaziamento vesical pode ser retardado até que se obtenha local e momento apropriados. • Fase de esvaziamento vesical (micção): O CPM envia estimulo excitatório a medula sacral S2-S4 (parassimpática – acetilcolina) e inibitórios para a coluna toracolombar T11-L2 (simpática – norepinefrina). O estimulo do COM origina da distensão da bexiga (leva impulsos aferentes, indicando o esvaziamento). • Fase de enchimento vesical (controle da micção): o CPM envia estímulos inibitórios para medula sacral S2-S4 (parassimpática - acetilcolina) e excitatórios para coluna toracolombar T11-L2 (simpática - norepinefrina). Simpático: emerge da medula toracolombar (T11-L2) ao nervo hipogástrico até os receptores beta adrenérgicos (corpo vesical) e alfa adrenérgicos (colo vesical e uretra vesical). Fibras simpáticas também possuem efeito inibitório sobre o sistema parassimpático. A ativação do sistema simpático produz relaxamento do músculo detrusor (receptores β3) e contração do esfíncter uretral interno (receptores α1), sendo relacionado a fase de enchimento vesical (controle da micção). Lembrar: luta/fuga – condição que segura o xixi. Parassimpático: emerge da medula sacral (S2-S4) ao nervo pélvico até os receptores M2 e M3 muscarínicos (corpo vesical). A ativação do sistema parassimpático produz contração do musculo detrusor (receptores M2 e M3 por acetilcolina) e relaxamento da musculatura lisa do esfíncter uretral interno da uretra proximal (por óxido nítrico), sendo relacionado a fase de esvaziamento vesical (micção). Impacto do envelhecimento Não é uma condição fisiológica do envelhecimento. A continência urinaria depende da integridade do trato urinário inferior, assim como outros fatores relacionados a: alterações da motivação, da destreza manual, da mobilidade, da lucidez e a existência de doenças associadas (como HAS e diabetes). O envelhecimento associa-se a alterações no trato urinário inferior que tornam o idoso mais suscetível à incontinência urinária, como: • Aumento nas fibras de colágeno na bexiga (com diminuição da elasticidade); • Alteração dos receptores de pressão (explica o surgimento de contrações intempestivas durante a fase de enchimento vesical); • Hiperatividade do detrusor. • Alterações da uretra: torna-se mais fibrosa, menos flexível e com perda da densidade muscular (pode acarretar falha esfincteriana); o A pressão máxima de fechamento uretral, o comprimento uretral e as células da musculatura estriada do esfíncter alteram-se principalmente nas mulheres. Condições clínicas/ fatores de risco: - Fatores genéticos. - Hipoestrogenismo: leva atrofia da mucosa vaginal, com maior suscetibilidade a infecções, que favorece a irritação dos receptores de pressão. - Fragilidade do períneo: por envelhecimento muscular, carências hormonais, partos/gravidez/sequelas de intervenções uroginecológicas ou radioterapia pélvica. Sintomas crônicos, como tosse e constipação, podem aumentar a pressão sobre essa fáscia muscular. - Alterações do fluxo urinário: por HPB ou adenoma de próstata, que causa obstáculo urinário com instabilidade do detrusor. Pode se manifestar com jato fraco, gotejamento terminal, poliúria e noctúria. - Envelhecimento renal: diminuição de néfrons reduz a capacidade de concentrar a urina, associado a aumento da secreção de ADH, contribuem a poliúria e noctúria. - Aumento da pressão intra-abdominal: DPOC, obesidade, esportes de alto impacto, gravidez. Abordagem da queixa incontinência urinária e conduta Anamnese: caracterizar perda urinária (quantidade, gravidade, sintomas associados, noctúria, urgência, esforço, hesitação); diário miccional (registro de 24h da ingesta de líquidos, frequência e volume urinários, circunstâncias); avaliar dor, hematúria, infecções recorrentes, prolapsos de órgãos pélvicos, cirurgias prévias, radiação pélvica, fístulas; comorbidades clínicas; uso de medicamentos. Exame físico: avaliação cognitiva, mobilidade, funcionalidade; exame neurológico (reflexo bulbocavernoso avalia integridade das vias sacrais), toque retal (tônus esfincteriano, massas, fecalomas, avaliação prostática), prolapsos, atrofia genital, teste de estresse (tossir vigorosamente na posição supina com a bexiga cheia. Se perda simultânea sugere deficiência esfincteriana intrínseca; se perda após alguns segundos, sugere contração detrusora induzida pela tosse). Exames complementares: • Laboratoriais: sinais de infecção, hematúria e glicosúria em todos os pacientes. Eletrólitos, glicemia, ureia e creatinina de acordo com a suspeita clínica. • Medida do volume residual pós-miccional (cateterização vesical ou US): útil para excluir retenção urinária significativa em paciente com alto risco de retenção urinária (diabetes, doenças neurológicas, sinais de hesitação miccional, antecedentes de retenção urinária e uso de anticolinérgico). É inadequado se > 200 ml. É recomendado antes do tratamento medicamentoso ou cirúrgico. • Estudo urodinâmico: exame caro e invasivo. Avalia a qualidade das contrações vesicais e dos esfíncteres uretrais. Etapas: cistometria, medida da pressão de perda sob esforço e urofluxometria. Embora seguro, não altera o desfecho no tratamento de idosos frágeis. É recomendado antes de procedimentos cirúrgicos ou minimamente invasivos do TU inferior ou na avaliação de sintomas de bexiga hiperativa após falha do tratamento inicial. • Citoscopia: se suspeita de fistulas ou de outras patologias associadas (presença de hematúria, dor ou desconforto pélvico). Tratamento: • Tratamento da incontinência urinária de urgência: predomina tratamento farmacológico • Tratamento da incontinência de esforço: predomina tratamento cirúrgico. Tratamento não farmacológico (1ª linha): mudanças no estilo de vida (MEV) e terapias comportamentais. Corrigir comorbidades, deteriorização funcional e iatrogenias medicamentosas. • MEV: perda de peso, evitar abundancia de líquidos , evitar cafeína/ álcool/ tabaco, retirar facilitar acesso ao banheiro. • Terapias comportamentais: o Exercícios de kegel para a musculatura do assoalho pélvico. o Exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico (contração isolada ou associados ao biofeedback). Podem ser usados cones vaginais de pesos variados. o Diário miccional o Estimulação elétrica: aplicação de impulsos através de agulha ou eletrodos para inibir a hiperatividade do detrusor ou melhorar a contratilidade do assoalho pélvico. o Treinamento vesical: preestabelecimento de intervalos para as micções para incrementara capacidade vesical reestabelecendo a função vesical. Tratamento farmacológico: • Propiverina: ação muscarínica e de bloqueio dos canais de cálcio. Pode ser usada nas pessoas incapazes de tolerar outras medicações antimuscarínicas. • Antimuscarínicos: o Oxibutinina: controle sintomático. Uso crônico piora a função cognitiva em idosos. Tem potente ação antimuscarinica não seletiva para os receptores vesicais; relaxa musculo liso pelo bloqueio dos canais de cálcio; propriedades anestésicas locais e anti-histamínicas. o Solifenacina: agente seletivo para os receptores M3 da bexiga. Melhor eficácia e menos efeitos colaterais. o Tolterodina: possui relativa seletividade para os receptores da bexiga. o Trospium: não seletivo sobre a bexiga. Baixa metabolização por enzimas hepáticas (pouca interação medicamentosa). o Darifenacina: altamente seletivo para os receptores M3 vesicais o Fesoterodina: antagonista competitivo do receptor muscarínico. • Agonistas dos beta-adenorreceptores: efeito miorelaxante vesical. Efeito não é bem elucidado. o Mirabegron: ativa os beta-3-adrenorreceptores, relaxando o músculo detrusor e aumentando a capacidade vesical. Utilizado na IU de urgência e bexiga hiperativa. Contraindicado na DRC terminal ou doença hepática grave. Sem estudos em idosos. o Agonista de receptor vaniloide: após a dessensibilização das fibras neurais da bexiga, ele suprime as contrações involuntárias do detrusor. o Capsaicina: instilação intravesical na instabilidade do detrusor de origem neurogênica. Ela suprime contrações involuntárias do detrusor após lesões crônicas da medula acima dos segmentos sacrais. Tratamento de pacientes com problemas cognitivos: a incontinência e piora do status cognitivo em idosos podem ser sintomas inespecíficos de ITU nessa população, sendo recomendado urinálise e urocultura. • Inibidores da colinesterase no tratamento da demência podem precipitar incontinência por aumento de acetilcolina. • Medicações antimuscarínicas podem piorar a função cognitiva nos pacientes com demência • Pacientes com demência podem sofrer declínio funcional e cognitivo com intervenções cirúrgicas. • A constipação intestinal pode ser fator precipitante de incontinência urinária. Noctúria Definições: • Mais aceita: é a necessidade de levantar-se da cama mais de uma vez para urinar, após ter ido deitar com a expectativa de só se levantar pela manhã. • produção de urina, no período noturno, > 0,9 ml/min; • produção de urina noturna > 33% da produção diurna A noctúria, por si, não sugere nenhum diagnóstico específico. Principais causas: diminuição da capacidade vesical e/ou o aumento na produção de urina no período noturno. • Diminuição da capacidade vesical: por diminuição da complacência vesical, hiperatividade detrusora e envelhecimento. • Aumento na produção de urina no período noturno: por diabetes (insipidus ou mellitus), ICC, hipoalbuminemia, insuficiência venosa e doenças renais. Avaliar: ingestão noturna de grande quantidade de líquido, cafeína e/ou álcool, assim como horário de uso dos diuréticos. Pode também estar associada a outros sintomas do TU inferior, a distúrbios do sono ou ao tempo em que o paciente permanece na cama. Tratamento: • Conservador: o Avaliar medicamentos o Uso de meias elásticas e elevação dos membros inferiores no final da manha e final da tarde nos pacientes com edema periférico ou ICC (Obs: os líquidos acumulam-se durante o dia e são reabsorvidos durante a noite) o Monitorizar ingestão hídrica (evitar até 3 horas antes de se deitar). • Medicamentoso: o Desmopressina: visa reduzir a produção de urina noturna. Não é recomendado uso rotineiro pelos efeitos colaterais de retenção hídrica e hiponatremia. É recomendado via oral nos idosos com boas condições de saúde. o Diuréticos: Os diuréticos de alça podem ser usados a qualquer hora do dia, desde que sejam monitorizados os efeitos colaterais de hipotensão postural e distúrbios hidroeletrolíticos. o Alfa bloqueadores: nos pacientes com componente prostático. Efeito adverso hipotensor. o Terapia de reposição hormonal: visa reduzir atrofia dos tecidos do assoalho pélvico sensíveis a estrogênio. Apresenta resultados conflitantes (aumenta risco de câncer de endométrio e mama). Incontinência urinária transitória Caracteriza-se pela perda de urina precipitada por insulto psicológico, medicamentoso ou orgânico, que cessa ou melhora após o controle do fator desencadeante. Mnemônico: DIURAMID • Delirium: estado confusional agudo e flutuante da consciência e desorientação. É uma síndrome cerebral orgânica multifatorial extremamente prevalente entre idosos. Incontinência pode ser seu primeiro sinal. • ITU inferior: causa inflamação da mucosa vesical e consequente aumento da aferência sensitiva. Podem contribuir para bexiga hiperativa e incontinência urinária. • Uretrite e vagina atrófica: por carência de estrógenos, gerando irritação local e aumento do risco de infecções, bexiga hiperativa e incontinência urinária. • Restrições de mobilidade: artroses, paresias, imobilizações, hipotensão postural e pós-prandial, calçados inapropriados e medo de cair podem dificultar a chegada ao toalete e justificar episódios de incontinência. • Aumento do débito urinário: ingesta excessiva de fluidos, diuréticos, distúrbios hidroeletrolíticos (hiperglicemia, hipercalcemia), ICC, insuficiência venosa periférica, hipoalbuminemia; • Medicamentos o Diuréticos de alça: podem aumentar a produção de urina. o Bloqueadores alfa adrenérgicos: podem bloquear os receptores do colo vesical e ocasionar perdas por estresse em idosas (apresentam fatores predisponentes: diminuição do comprimento da uretra e da pressão de fechamento uretral). o BCC: relaxam a musculatura lisa, ocasionando o aumento do volume residual pós miccional, podendo gerar incontinência de estresse ou de transbordamento por retenção urinária. o IECA: tosse é efeito colateral, podendo precipitar perdas urinárias de estresse. o Tranquilizantes, antidepresivos, antiparkinsonianos, antiespasmódicos e opiáceos: podem apresentar efeitos anticolinérgicos, diminuir a contratilidade do músculo detrusor e causar retenção urinária, que pode precipitar incontinência de estresse ou de transbordamento. • Impactação fecal: por irritação local ou compressão direta sob a parede vesical. Responsável por até 10% da IU em idosos hospitalizados e institucionalizados. • Distúrbios psíquicos (depressão, demência, psicose): podem interferir na capacidade do pct em reconhecer e responder adequadamente à sensação de bexiga cheia. Por exemplo, um paciente com depressão grave pode não ter motivação para procurar um local apropriado para urinar. Incontinência urinária estabelecida/persistente Ocorre quando a perda involuntária de urina não é causada por comorbidade existente, não é decorrente do efeito colateral de medicamentos e persiste por pelo menos 3 meses. • Incontinência urinária de urgência (urge- incontinência): É o tipo mais comum de incontinência em idosos na comunidade. É a perda de urina precedida ou acompanhada de um desejo urgente de urinar. A perda urinária é variável e depende da função do esfíncter uretral e da capacidade do paciente em suprimir a urgência. • Bexiga instável: relaciona-se à presença de contrações involuntárias vesicais, espontâneas ou em resposta a estímulos nas fases de enchimento e armazenamento, durante a cistometria. As contrações devem ser acompanhadas de vontade de urinar. • Instabilidade detrusora: pacientes que apresentam contrações involuntárias documentadas na avaliação urodinâmica sem doença neurológica associada. Na presença de fator neurológico desencadeante, devemos usar o termohiperreflexia do músculo detrusor. Muitas vezes, nos idosos, não é possível a distinção entre hiperreflexia e instabilidade detrusora. • Hiperatividade detrusora: pode ocorrer quando a força de contração da musculatura vesical está preservada ou quando está diminuída. o Hiperatividade do detrusor com hipocontratilidade (mais comum em idosos frágeis): pode levar à urge-incontinência, à obstrução urinária, à incontinência urinária de esforço ou à incontinência por transbordamento e cursa com volumes residuais pós-miccionais elevados. Em idosos que apresentam resíduo pósmiccional elevado, é obrigatório fazermos a avaliação da força de contração detrusora (pela urodinâmica) para que possamos diferenciar obstrução infravesical (HPB, estenose de uretra ou neoplasia prostática) de hipocontractilidade do músculo detrusor. o Hiperatividade do detrusor com hipercontratilidade: mais comum nas mulheres, sendo os principais fatores desencadeantes os prolapsos genitais ou causas iatrogênicas cirúrgicas. Fatores irritativos locais (tumores, litíase urinária, divertículos e ITU) podem levar à hiperatividade detrusora com urge- incontinência. Nesses casos, acredita-se que os impulsos nervosos direcionados ao SNC, gerados pela hipersensibilidade dos receptores sensitivos do trato urinário, causam desequilíbrio entre os estímulos inibitórios, desencadeando a contração vesical. • Bexiga hiperativa: síndrome que inclui urgência urinária com ou sem incontinência, frequência elevada (> 8 micções em 24 h) e noctúria (> 2 despertares pra urinar). Sintomas clínicos de polaciúria, urgência miccional, noctúria e urge- incontinência. É baseada exclusivamente nas queixas clínicas, não dependendo dos achados urodinâmicos (os outros termos citados dependem de achados urodinâmicos). Tratamento: 1ª linha – não medicamentoso: treinamento da bexiga. Baseia-se em 2 princípios: (1) realizar micções frequentes voluntárias para manter um baixo volume de urina na bexiga e (2) treinamento para inibir as contrações do detrusor, quando se apresenta a urgência. Pode ser associado a exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico. Em 3 meses, demonstrou eficácia semelhante ao tratamento com antimuscarínicos. Medicamentoso: - Anticolinérgicos (fesoterodina e solifenacina): mais utilizados. São 1ª linha para o tratamento de bexiga hiperativa. Reduzem as contrações involuntárias do músculo detrusor. Avaliar risco/beneficio em pacientes com demência e não é recomendado se uso de inibidores de acetilcolinestase. - Antidepressivos (imipramina): em doses inferiores às utilizadas para depressão com menor toxicidade. - Toxina botulínica: injetada no músculo detrusor mediante citoscopia. Indicado na IU refratária ao tratamento anticolinérgico. Possui elevada taxa de retenção urinaria após o tratamento. Incontinência urinaria de estresse ou esforço (IUE) Perda involuntária de urina que ocorre com o aumento da pressão intra-abdominal (tosse, espirro, atividade física) na ausência de contrações vesicais. É a principal causa em mulheres jovens. Fatores de risco: obesidade, partos vaginais, hipoestrogenismo e/ou cirurgias. Causas: • Hipermobilidade uretral: pela fraqueza do assoalho pélvico ou de procedimentos cirúrgicos que resulta em descenso e rotação do colo vesical e uretra proximal com incapacidade de fechamento adequado contra a parede vaginal anterior. • Deficiência esfincteriana intrínseca: geralmente por desnervação do assoalho pélvico, radioterapia prévia, diminuição dos níveis estrogênicos e procedimentos cirúrgicos. A instabilidade uretral (relaxamento esfincteriano na ausência de contração vesical) é causa rara de IU de esforço. No homem, a IU de estresse é incomum, podendo ocorrer por deficiência esfincteriana intrínseca secundária a cirurgias prostáticas (como a prostatectomia radical) e mais raramente traumas pélvicos e lesões neurológicas (trauma raquimedular, espinha bífida). No pós-op imediato de prostatectomia radical é comum a ocorrência de IU com melhora ou resolução dos sintomas em 12 a 24 meses. Porém, em alguns pacientes, a IU persiste após este período. Tratamento: 1ª linha – não medicamentoso: exercícios de Kegel. Demonstrou taxas de cura ou melhora em 3 a 6 meses. Os exercícios podem ser feitos com a ajuda de cones vaginais. A adição de biofeedback e estimulação elétrica são técnicas que não se mostraram mais eficazes que os exercícios; Medicamentoso: os fármacos têm um escasso papel no tratamento da IUE devido a sua baixa eficácia e efeitos secundários. Não é recomendado • Alfa-adrenérgicos (efedrina, fenilefrina): Estimulam a contração do músculo liso uretral. Baixa eficácia com elevada taxa de efeitos adversos (arritmias cardíacas e hipertensão). • Antidepressivos tricíclicos: efeitos anticolinérgicos e alfa-agonista. Não eficaz possui ação débil sobre a musculatura lisa da bexiga. • Inibidor da recaptação da norepinefrina e da serotonina (duloxetina): capacidade de aumentar a contratilidade do esfíncter estriado uretral. Benefícios questionáveis e seus efeitos adversos podem ser graves (problemas cardiovasculares, hepatotoxicidade, síndrome de Stevens-Jonhson); • Estrógenos: a utilidade não está bem estabelecida. Resultados a longo prazo desconhecidos. Cirurgia é o tratamento de escolha para pacientes que não responderam ao tratamento não farmacológico e para as IUE graves. Baseado na utilização de faixas suburetrais de suporte (slings) que funciona como um apoio da uretra durante o exercício, evitando a perda de urina. Podemos usar também os esfíncteres artificiais em caso de IUE grave de origem esfincteriana como último recurso em caso de falha das outras alternativas. O princípio consiste em substituir as funções deficientes de abertura e fechamento do esfíncter. Incontinência urinária por esvaziamento vesical incompleto, hiperfluxo ou transbordamento: Decorre de inabilidade de esvaziamento vesical devido a hipocontratilidade do músculo detrusor, a obstruções uretrais ou ambos; • Em homens: obstrução uretral secundária à HPB (mais comum). • Nas mulheres: menos frequente. Pode ocorrer por obstruções da via de saída após cirurgias para incontinência ou prolapsos genitais graves. • Em idosos de ambos os sexos, impactação fecal e hipocontratilidade vesical secundária a neuropatia autonômica (cistopatia diabética) ou uso de medicamentos anticolinérgicos são causas frequentes. • Incontinência paradoxal: em situações extremas, a hiperdistenção vesical faz com que ocorra IU por transbordamento. Tratamento: Tratar a causa base, como a interrupção de medicamentos (ex, anticolinérgicos) ou correção de desobstrução do fluxo urinário (ex, HPB). A cirurgia é o tratamento mais efetivo para as dificuldades causadas por um útero miomatoso ou uma HPB. Uma alternativa à cirurgia para diminuir ou eliminar a urina residual é a sondagem intermitente. Até o momento da intervenção cirúrgica ou, no caso de não estar indicada, podem-se utilizar os fármacos (como alfabloqueadores e agonistas parassimpáticos) porém possui eficácia controversa; O tratamento da IU nos homens de idade avançada estará ligado ao tratamento dos sintomas urinários do trato urinário inferior associados a uma patologia prostática. Pode-se usar antagonistas alfa-adrenérgicos não urosseletivos (doxazosina, terazosina e prazosina), embora apresentem mais efeitos vasculares (hipotensão ortostática e tonturas) por seus efeitos sobre os receptores alfa1. Incontinência urinária mista É a coexistência de mais de um tipo de incontinência no mesmo paciente. É a principal causa de incontinência urinária em idosas, especialmente nas mulheres que apresentam hiperatividade do detrusor e deficiência esfíncteriana associadas. O tratamento consistena combinação dos tratamentos aplicados nas incontinências de esforço e de urgência; Incontinência urinária funcional IU distinta atribuída a fatores externos ao trato urinário, tais como: comprometimento cognitivo, fatores ambientais que dificultem a chegada ao toalete, limitações físicas e psíquicas. Em grande parte de pacientes, os sintomas urinários coexistem e os padrões de incontinência não correspondem precisamente à fisiopatologia subjacente.
Compartilhar