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Thaís Morghana - UFPE-CAA Incontinência urinária no idoso INTRODUÇÃO A incontinência urinária é definida como qualquer perda involuntária de urina. EPIDEMIOLOGIA O sexo feminino é o mais acometido em todas as faixas etárias, devido a causas anatômicas. A prevalência e a gravidade dos casos de incontinência aumentam com o envelhecimento. Tal condição atinge: ○ 30-60% das mulheres idosas; ○ 10-35% dos homens idosos; ○ 80% dos indivíduos institucionalizados. IMPACTO DO ENVELHECIMENTO NA FISIOLOGIA URINÁRIA A continência é uma condição multifatorial que depende da integridade não apenas do trato urinário inferior e seu controle neurológico, como também de cognição, mobilidade, destreza manual e motivação. Além disso, comorbidades clínicas e medicamentos podem influenciar a continência. ○ Aumento nas fibras de colágeno na bexiga, acarretando diminuição da sua elasticidade ○ Os receptores de pressão também se alteram, explicando o surgimento de contrações intempestivas durante a fase de enchimento vesical ○ Hiperatividade do detrusor ○ A uretra torna-se mais fibrosa, menos flexível e perde densidade muscular, com consequente falha esfincteriana ○ Na mulher, ocorre o hipoestrogenismo, com atrofia e ressecamento que predispõem a infecções e irritação dos receptores de pressão ○ Períneo fragilizado ○ Diminuição do número de néfrons e da secreção do ADH contribuem para maior frequência urinária ○ No homem, a HPB ou adenoma de próstata pode causar jato fraco, gotejamento, aumento da frequência e noctúria CLASSIFICAÇÃO INCONTINÊNCIA URINÁRIA TRANSITÓRIA Caracteriza-se pela perda de urina precipitada por insulto psicológico, medicamentoso ou orgânico, que cessa ou melhora após o controle do fator desencadeante. DIURAMID Delirium Aumento de débito urinário Infecções do trato urinário Medicamentos Uretrite e vaginites Impactação fecal Restrição de mobilidade Distúrbios psíquicos Medicamentos que afetam a continência Agonistas alfa-adrenérgicos, AINEs, álcool, anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos, antipsicóticos, bloqueadores do canal de cálcio, bloqueadores alfa-adrenérgicos, diuréticos de alça, hipnóticos, IECA, GABAérgicos, antagonistas H2, antiparkinsonianos, opioides, anestésicos INCONTINÊNCIA URINÁRIA ESTABELECIDA Incontinência urinária de estresse → Perda involuntária de urina que ocorre com o aumento da pressão intra-abdominal (tosse, espirro, atividade física) na ausência de contrações vesicais. ○ Mulher: ocorre por hipermobilidade uretral e deficiência esfincteriana intrínseca. - Fatores de risco: obesidade, partos vaginais, hipoestrogenismo e cirurgias. ○ Homem: incomum, e ocorre deficiência esfincteriana intrínseca secundária a cirurgias prostáticas, traumas pélvicos e lesões neurológicas. Incontinência urinária de urgência → tipo mais comum nos idosos. Caracteriza-se pela perda de urina precedida ou acompanhada de um desejo imperioso de urinar (urgência). ○ Ocorre devido a hiperatividade do detrusor levando a contrações involuntárias durante a fase de enchimento vesical. Thaís Morghana - UFPE-CAA ○ Causas: transtornos neurológicos, anormalidades vesicais e idiopática. ○ Pode ou não haver comprometimento da contratilidade da bexiga: a hiperatividade do detrusor + hipocontratilidade é mais comum em idosos frágeis. ○ Bexiga hiperativa: urgência com ou sem incontinência, frequência elevada (≥ 8 micções em 24h) e noctúria (≥ 2 micções a noite). Incontinência urinária por hiperfluxo ou transbordamento → mais comum em homens. ○ Ocorre devido a inabilidade de esvaziamento vesical devido a hipocontratilidade do músculo detrusor, a obstruções uretrais ou ambos. ○ Causas: HPB, cirurgias anti-incontinência ou prolapsos genitais graves, impactação fecal, cistopatia diabética e medicamentos anticolinérgicos. Incontinência urinária mista → coexistência de mais de um tipo de incontinência. Comum nos idosos, principalmente entre mulheres. Incontinência urinária funcional → atribuído a fatores externos. ○ Causas: comprometimento cognitivo, fatores ambientais, limitações físicas e psíquicas. ABORDAGEM ANAMNESE ○ Características da perda urinária, quantidade, gravidade e sintomas associados (frequência, noctúria, urgência, esforço, hesitação). ○ Diário miccional: ingesta de líquidos, frequência, volume urinário, episódios de perda e circunstâncias a ela associadas nas 24 h. ○ Investigar: dor, hematúria, infecções recorrentes, prolapsos de órgãos pélvicos em mulheres, cirurgias prévias, radiação pélvica, suspeita de fístulas. ○ Atenção especial às comorbidades e lista de medicamentos. EXAME FÍSICO ○ Avaliação cognitiva, da mobilidade e funcionalidade do paciente. ○ Exame neurológico detalhado. ○ Toque retal. ○ Exame pélvico, inspeção de prolapsos e atrofia genital. ○ Teste de estresse: a paciente deve estar na posição supina, com a bexiga cheia e tossir vigorosamente. Se ocorrer perda simultânea sugere deficiência esfincteriana intrínseca, se a perda ocorrer alguns segundos após sugere contração detrusora induzida pela tosse. EXAMES COMPLEMENTARES Laboratoriais: ○ Sumário de urina ○ Dosagem de eletrólitos ○ Glicemia ○ Ureia e creatinina Medida do volume residual pós-miccional → útil para excluir retenção urinária significativa. ○ Pode ser realizada por cateterização vesical ou ultrassonografia. ○ Um valor maior que 200 mℓ está associado a esvaziamento vesical inadequado e o paciente deve ser encaminhado ao especialista. Estado urodinâmico → útil para avaliar a qualidade das contrações vesicais e dos esfíncteres uretrais. ○ Etapas: cistometria, medida da pressão de perda sob esforço e urofluxometria. ○ É caro e invasivo. ○ Indicações: antes de procedimentos cirúrgicos ou minimamente invasivos do trato urinário inferior ou na avaliação de sintomas de bexiga hiperativa após falha no tratamento. Cistoscopia → deve ser realizada quando houver suspeita de fístulas ou de outras patologias associadas. TRATAMENTO O primeiro passo do tratamento consiste em estabelecer metas e objetivos a serem atingidos visando à melhora global na qualidade de vida do paciente. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO ○ Mudanças do estilo de vida: perda de peso, não ingerir líquidos de forma abundante, evitar cafeína, álcool e tabaco, eliminar as barreiras físicas de acesso ao banheiro. Thaís Morghana - UFPE-CAA ○ Terapias comportamentais: exercícios para os músculos pélvicos (exercícios de Kegel), treinamento vesical, diário miccional, biofeedback e eletroestimulação. ○ Em pacientes de idade avançada se deve priorizar a correção de fatores contribuintes como as comorbidades, a deterioração funcional e as iatrogenias medicamentosas. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Medicamentos de ação mista Propiverina → Tem uma ação antimuscarínica e de bloqueio dos canais de cálcio. Foi recentemente introduzido como uma preparação de ação prolongada 1 vez/dia e pode ser usada nas pessoas incapazes de tolerar outras medicações antimuscarínicas. Antimuscarínicos → Oxibutinina - 5 mg/12 a 8h Darifenacina - 7,5-15 mg/dia Solifenacina (melhor eficácia e menos efeitos adversos) - 5-10 mg/24h Fesoterodina - 4-8 mg/24h Tolterodina - 2 mg/12h Propantelina Trospium (indicado em pacientes em uso de múltiplas medicações) - 20 mg/12h Obs.: Medicações antimuscarínicas podem piorar a função cognitiva e devem ser usadas com precaução em idosos com alterações cognitivas preexistentes. Não há efeito positivo de medicamentos anticolinérgicos em incontinência urinária nos idosos frágeis, com efeitos importantes na cognição. Agonistas dos beta-adrenorreceptores → Muitos estudos têm mostrado um efeito miorrelaxante, mas o mecanismo de ação ainda não está elucidado. Mirabegron (não recomendado em pacientes com doença renal ou hepática) - 25 mg/dia Capsaicina Agonista de receptor vaniloide Incontinência de estresse → Os fármacos têm papel secundário, devido a baixa eficácia e efeitos adversos. 1ª linha: exercícios de Kegel. Alfa-adrenérgicos (efedrina, fenilefrina) - baixa eficácia e muitos efeitos adversosDuloxetina (muitos efeitos adversos) - 40 mg 2x/dia Antidepressivos tricíclicos - dados insuficientes Estrógenos - dados insuficientes Cirurgia → indicado em pacientes que não responderam ao tratamento não farmacológico e para as IUE graves. O tratamento é baseado na utilização de faixas suburetrais de suporte (slings). Incontinência de urgência 1ª linha: treinamento da bexiga + exercícios musculares de fortalecimento. ○ Realizar micções frequentes voluntárias para manter um baixo volume de urina na bexiga. ○ Treinamento para inibir as contrações do detrusor, quando se apresenta a urgência. ○ Técnicas de distração e relaxamento. ○ 3 meses: tão eficaz quanto os antimuscarínicos e sem efeitos adversos. Anticolinérgicos Toxina botulínica Antidepressivos Incontinência mista → combinação de tratamentos das incontinências de esforço e de urgência. Incontinência por transbordamento → cirurgia ou sondagem intermitente. Fármacos podem ser usados até o momento da intervenção cirúrgica ou, no caso de não estar indicada (alfabloqueadores e agonistas parassimpáticos). REFERÊNCIAS FREITAS E.V. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 4. ed. [s.I.]: Guanabara Koogan, 2017.
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