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Produção 1 - ANDERSON DIAS GOMES - GUTEMBERG SUZARTE - UOSTON BARBOSA

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CURSO: JORNALISMO
DISCIPLINA: TÉCNICAS E GÊNEROS JORNALÍSTICOS
DOCENTE: NAIARA MOURA PINTO
DISCENTES: ANDERSON DIAS GOMES, GUTEMBERG SUZARTE
E UOSTON BARBOSA
Saúde mental dos professores e estudantes durante a pandemia
Com a pandemia da Covid-19, a saúde mental de professores e estudantes se agravou
Foto: iStock / arte Lunetas
Com a chegada da Covid-19 no mundo, muitas pessoas começaram a sofrer com antecedência o medo de pegar a doença. Há ainda aquelas que já sofriam com algum transtorno mental e que, durante esse período amedrontador, pioraram. Dados da Opas, Organização Pan-Americana da Saúde, sugerem que 30% da população das Américas teve ou terá algum transtorno mental. No Brasil, estimativas recentes mostraram que os transtornos de depressão e ansiedade respondem, respectivamente, pela quinta e sexta causa de anos vividos com incapacidade.
Dentre essas pessoas, estão professores e estudantes que tiveram que passar por mudanças drásticas nos métodos de ensino e a saúde mental foi afetada. O que era presencial, virou remoto. Isso junto com as dificuldades técnicas, a sobrecarga na rotina diária, o estresse, a ansiedade, a insônia, as cobranças, os problemas familiares e outros sintomas relacionados com a saúde mental.
Em uma pesquisa do chamada de “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do Coronavírus no Brasil”, do Instituto Península mostrou-se que os professores estão ansiosos, sobrecarregados, cansados, estressados e frustrados. 
A transição abrupta para o ensino remoto, num contexto de medo e preocupação geral devido à pandemia, trouxe uma série de novos desafios aos professores que, em sua maioria, não tinham nenhuma experiência no ensino remoto. A mesma pesquisa diz que antes da paralisação das aulas presenciais, 88% dos professores nunca tinha dado aula à distância de forma remota e a maioria deles (83,4%) se sentia nada ou pouco preparada para ensinar remotamente.
A professora do Ensino Médio do Colégio Estadual Professora Tecla Mello, Eliana Guedes de Oliveira, explicou que tem sido um grande desafio o ensino remoto. “São muitas dificuldades para o aprendizado tanto por parte dos professores, com as ferramentas a serem utilizadas, como para os estudantes. Para eles a dificuldade é ainda maior devido à falta de uma internet que possa suprir suas necessidades para as aulas. Entre outras muitas carências que temos, é claro”, disse.
Ela também ficou insegura e com receio de não conseguir se adaptar à nova realidade. Teve ainda muitas dificuldades e tem superado e aprendido muitas coisas. Sobre seus alunos, ela disse que em sua maioria, eles não possuem bons aparelhos de celular. “E isso é o básico. Na realidade que trabalho tenho alunos que não tem o celular”, lamentou. Ela lembrou que não tem como se manter fora dos problemas porque eles existem, dificultam o trabalho e prejudica o desenvolvimento das aulas, afetando o estudante. 
A professora cuida da sua saúde mental durante esta pandemia principalmente lendo, assistindo TV, cuidando de suas plantas, brincando com seu cachorro de estimação. “Tento conversar, rir, ouvir músicas. No final de semana não faço nada relacionado a trabalho”. 
Já a estudante de Direito da Universidade Federal da Bahia, Leilanne Guedes de Araújo Oliveira, explica que a sua maior dificuldade encontra-se no tempo determinado pela universidade. “Os professores só podem dar 50 minutos de aula por dia. Algumas matérias do meu curso são impossíveis de serem vistas com apenas 50 minutos semanais. Fora isso, a inconstância dos professores na hora de adotar uma plataforma única para dar aula”, disse.
Segundo Leilanne, a cada aula muda-se o aplicativo de reunião online utilizado pelos professores. “Como estou trabalhando nesse período da pandemia que me encontro em Feira de Santana, preciso assistir as aulas de lá, o que sinto que por vezes pode me desconcentrar. Ainda assim considero banal minha dificuldade diante do andamento do processo, já que alguns dos meus colegas se quer possuem internet ou aparelhos que consigam assistir as aulas”, completa.
Sobre suas expectativas para a conclusão de seu curso com o período pandêmico, ela acredita que isso será de imenso prejuízo e atraso, já que tem optado por fazer apenas matérias obrigatórias teóricas ou optativas, sem pegar matérias práticas, para que não prejudique tanto assim minha vida profissional pós formatura. “Por outro lado, é melhor se atrasar, mas estar vivo, do que termos aulas presenciais e colocar em risco os mais de 3.200 alunos, fora professores e servidores da Faculdade de Direito da UFBA (FDUFBA)”.
Ela também sentiu que a sua saúde mental foi afetada com todas as mudanças as quais foi obrigada a se adaptar. “Até hoje ainda é nítida a sensação de que todos estão afetados e não conseguem desenvolver bem as atividades. Falta concentração, motivação e interação. Estar na universidade vai além das paredes da sala de aula. Os momentos no diretório estudantil, na cantina, na biblioteca, as infinitas horas assistindo cursos com professores muitas vezes reconhecidos nacionalmente e poder ter com eles uma troca real faz parte da vivência que todo estudante precisa pra montar seu cenário acadêmico. Além de tudo isso, ainda tem o medo constante de perder alguém ou ser contaminado pelo vírus”, ressaltou.
Com esse novo modelo de estudos remotos, ela acha que trouxe algum ganho para o seu aprendizado dentro do seu curso. Conforme Leilanne, para os alunos mostrou que o estudo, no sentido de busca adicional de conhecimento, não deve e não pode parar ao retornar pra casa. “Mostra também que é possível atividades remotas paralelas. Não só possível como necessário. Aos professores, muitos arcaicos, mostra que não é doloroso manter os alunos atualizados via grupos e plataformas complementares, além de poder proporcionar aulas interativas e completamente diferentes do usual”.
O estudante do ensino superior privado Fernando José Silva tem como sua maior dificuldade no ensino remoto a motivação para manter a concentração e foco em relação as aulas. “Tenho uma falta de motivação, pelo fato de muitas disciplinas serem práticas”, explica. Ele ainda tem baixas expectativas para a conclusão do seu curso devido ao período de pandemia. “Eu não absorvi bem as disciplinas práticas, que demanda de conhecimentos técnicos dentro de um estúdio e laboratórios como fotografia, produção de áudio, vídeo e direção de arte”.
	Ele tem sentido muita ansiedade por conta da mudança na rotina e muitas incertezas em relação ao curso, um misto de insegurança e frustração e não acredita que teve algum ganho para o seu aprendizado dentro do seu curso. “Muito pelo contrário. Perdemos muito nas disciplinas práticas. Para um estudante de Publicidade e Propaganda, que espera ansiosamente pelos semestres futuros para ter acesso a estúdio, laboratórios e a equipamentos como mesas de áudios, câmeras e monitoria em programas de criação e edição, é uma grande perda. Ver esses mestres passarem por nós e não termos acesso por aquilo que esperávamos é muito triste”, lamentou.
Palavra dos psicólogos e psicopedagogos - A psicóloga e administradora da Escola João Paulo I, Judinara Braz da Silva Mota de Carvalho, lembrou que o professorado é formado em sua maioria por mulheres que se encontram diante de várias demandas, sentindo-se “esgotadas”. “Os professores e professoras se viam tendo que exercer uma fornada exaustiva de trabalho tanto profissional como doméstico, incluindo a assistência aos filhos. O novo normal impactou essa classe de profissionais pelo excesso de atividades pedagógicas, as quais não estavam preparados pro cumpri-lo. Refiro-me a nossa realidade, escola privada. Medo, ansiedade, insegurança, cansaço físico e mental, ausência de conhecimento tecnológico e muitos, precisando desenvolver habilidades sociais para conviver com as famílias de seus alunos, que passaram a estar presentes diariamente em suas famílias”, disse. 
Outra questão que vem afetando os professores, ainda segundo Judinara, foi outro aspecto financeiraque provocou um acarretamento na vida do professor. Suspensões de contratos, medidas provisórias, nem a redução de carga trouxe alívio e descanso. “Os professores precisam se cuidar, mas também serem cuidados”, ressaltou. 
Na escola em que trabalha, a psicóloga disse foi disponibilizado uma equipe de psicólogos, além de formações teológicos e atendimentos individuais. Ainda permanecemos com esse formato ampliada. “Trouxemos o entretenimento, rodas de conversas, lives musicais e apoio pedagógico tudo, que se torna pouco para o professor e demais colaboradores que trabalham no ambiente escolar”. 
Essas ações trazem promoção do autoconhecimento, a realização de vivência para o desenvolvimento de resiliência e empatia, as imersões comportamentais para promover equilíbrio no trabalho e na vida pessoal e o treino de Habilidade Social. O maior desafio do professor, segundo Judinara, é aprender a conviver com a ansiedade, o estresse e com as emoções desagradáveis, a exemplo do luto e da desesperança no contexto político e social do país. 
A psicopedagoga Norma Suely M. Guimarães disse que os modelos de estudo remoto trata-se de uma alternativa para uma situação em que não é possível ter aulas presenciais. “Precisamos entender q ensino remoto não é educação a distância. Partindo desse pressuposto, as aulas remotas, acrescidas ao ensino híbrido, vem garantindo de maneira satisfatória as habilidades cognitivas que são inerentes a cada faixa etária. Contudo, não posso deixar de mencionar que algumas crianças ainda não se adaptaram a esse novo modelo de aulas, principalmente aquelas que desistiram em 2020”.
Sobre se acha que o ensino remoto afetou muito a saúde mental do professor, Norma Suely disse que alguns reflexos com certeza estão apresentados, pois não tem como uma mudança de comportamento radical, não ter impactos emocionais na vida dos professores. 
“Antes da pandemia, estavam em suas salas de aula e hoje entram nas casas dos alunos. Além de ensinar as crianças, eles precisam lidar com os familiares que o acompanham. Isso quando se trata de crianças menores. Outro fator que também impactou foi a exposição inicialmente a gravação de vídeos. Muitos não se sentiam à vontade e nem tinham equipamentos adequados para uma gravação de qualidade. Tudo isso foi vivido em 2020, contudo, hoje percebo que estão encarando com maior naturalidade”, explicou.
Sofrimentos psicológicos de educadores também são oriundos de sua vida profissional ao invés do pessoal. Com o não reconhecimento, a sociedade agrava e torna ainda mais invisível essa dor. Norma Suely lembra que a carga emocional, inerente a qualquer ser humano, é carregada juntamente com suas habilidades profissionais. “A sociedade exige respostas às suas necessidades, sem levar em consideração o histórico pessoal e profissional. Muitas das vezes, para não ficar exposto, ele acaba por omitir suas reais angustias. Hoje, o maior medo é a perda do emprego por não atingir as habilidades esperadas, impactando diretamente tanto na vida profissional com pessoal”.
Já a psicopedagoga Jannine Serra Araújo ressalta que todo profissional merece ter reconhecimento, não somente financeiramente, mas também pela importância e fruto de seu trabalho. “Sendo assim, sem esse processo e com tantos desafios vivido para fazer acontecer o processo de ensino aprendizagem, muitas vezes sem contar com uma rede de apoio, acaba que as consequências respingam no estado emocional, desestimulando o profissional, refletindo sobre seu trabalho e na qualidade educacional”.
Na opinião da psicopedagoga, a falta de conhecimento tecnológico, falta de habilidade com as tecnologias e com o planejamento inovador através do uso das mesmas, dificuldade de se expor e ser criticado, falta de instrumentos tecnológicos dos alunos, rede de internet deficiente são as maiores dificuldades no ensino remoto. Para resolver o problema, ela tem estudado sobre as tecnologias e suas aplicações.
Além de todos os problemas ocasionado devido as mudanças de presencial para remoto, os problemas familiares também afetaram a rotina. A falta de estrutura física e a necessidade de sobrevivência, conforme a profissional, faz com que muitos dos seus alunos necessitem trabalhar e ajudar a cuidar de irmãos para que seus responsáveis possam buscar o alimento de cada dia. “Além disso, pais impacientes, menos tolerantes e de ignorância tecnológica, não colaboram com o desenvolver da aprendizagem de seus filhos, dificultando a eficácia da mesma”, explica.

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