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Consumação e tentativa

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Consumação e tentativa
1. Dispositivo legal.
O código penal, em seu artigo 14, preocupou-se em conceituar o momento da consumação do crime, bem como quando o delito permanece na fase da tentativa (conatus), esclarecendo o seguinte:
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
2. Iter criminis.
Iter criminis é uma expressão em latim, que significa "caminho do delito", utilizada no direito penal para se referir ao processo de evolução do delito, ou seja, descrevendo as etapas que se sucederam desde o momento em que surgiu a ideia do delito até a sua consumação. É para crimes dolosos.
3. Fases do iter criminis.
O iter criminis é composto por seguintes fases:
a. Cogitação: é aquela fase do iter criminis que se passa na mente do agente. Não é punível no Direito penal, ou seja, não constitui um fato punível, até pela dificuldade da produção de provas.
b. Atos preparatórios (preparação):  Encontramos no art. 31 CP:
Art. 31. “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxilio, salvo disposição expressa em contrario, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”
São externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva; arma-se dos instrumentos necessários para a pratica da infração penal. São meios e instrumentos utilizados na prática do crime. 
Exemplo: procurar o local mais adequado ou a hora mais favorável para a realização do crime, quando começa a se municiar para praticar o crime, procurar um carro para furtar, entre outros. Em regra não são puníveis, mas tem duas exceções, que são:
- Quando elevados à categoria de crimes autônomos (ex.: arts. 252, 253, 288 CP).
- Concurso de pessoas, na modalidade participação (ex.: art. 29 CP)
c. Atos executórios (execução): É diretamente a pratica do delito. É a realização do núcleo jurídico. Sempre constitui fato punível. Pode ser de duas formas: Crime tentado (art. 14, II CP) e Crime Consumado (art. 14, I CP).
d. Consumação: É o momento que, de fato, ocorre o crime. É a realização completa do tipo penal. Está no art. 14, I do CP.
e. Exaurimento: É a fase que se situa após a consumação do delito, esgotando-o plenamente.
4. Diferença entre atos preparatórios e atos de execução (Teorias).
a. Teoria subjetiva: Haveria tentativa quando o agente, de modo inequívoco, exteriorizasse sua conduta no sentido de praticar a infração penal (praticar o crime).
b. Teoria objetiva-formal: Início da execução, significa início da realização do verbo nuclear do tipo. Ato executório é o que inicia a realização do núcleo do tipo. Assim que o agente começar a realizar o núcleo do tipo estará realizando atos executórios.
c. Teoria objetivo-material: Há início da execução quando da realização do verbo nuclear do tipo e também dos atos imediatamente anteriores à ele, conforme a observação de um terceiro (critério do 3º observador). Ex.: Para esta Teoria, no crime de furto, o fato de o agente ter pulado o muro de uma casa, já haveria ato executório, uma vez que pular o muro da casa significa ato imediatamente anterior ao momento do início da realização do núcleo do tipo.
d. Teoria Objetiva Individual: Há início da execução com a realização do verbo nuclear do tipo e também de atos imediatamente anteriores à ele, conforme o plano individual do agente.
e. Teoria da hostilidade do bem jurídico: Atos executórios são aqueles que atacam o bem jurídico, criando-lhe uma situação concreta de perigo.
5. Elementos do crime tentado.
a) início da execução: a tentativa só é punível a partir do momento em que a ação penetra na fase de execução;
b) não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente: a causa interruptiva deve impedir o agente de prosseguir (tentativa imperfeita) ou evitar o resultado (tentativa perfeita/crime falho);
6. Desistência voluntária (Quando a execução do crime se interrompe pela própria vontade do agente):
Quando a execução do crime se interrompe pela própria vontade do agente poderá haver desistência voluntária ou arrependimento eficaz, que serão examinados adiante (art. 15, CP).
7. Espécies de tentativas:
1º - Tentativa imperfeita ou inacabada - O agente não pratica todos os atos de execução do crime. Há interrupção do processo executório, por circunstancias alheias a sua vontade.
2º - Tentativa Perfeita ou Acabada ou Crime Falho: O agente pratica todos os atos executórios e mesmo assim não consegue consumar o crime, por circunstancias alheias a sua vontade.
8. Desistência voluntária (definição):
Desistência voluntária ocorre quando o agente desiste, interrompe a execução do crime, respondendo somente pelos atos já praticados, - tentativa = quero, mas não posso - desistência voluntária = posso, mas não quero. Na desistência não se exige a espontaneidade, basta a voluntariedade (se o agente ouve um conselho ou aviso e desiste, não houve espontaneidade posto que um estimulo externo o motivou a desistir, mas houve voluntariedade posto que não foi forçado a desistir nem desistiu contra sua vontade)
9. Punibilidade da tentativa:
a) Teoria subjetiva: Para esta teoria, o que importa é a intenção do agente em lesão o bem jurídico tutelado pelo Direito Penal, independentemente do efetivo resultado. É um crime punível e deve ser punido da mesma forma do crime consumado
Ou seja, basta a vontade completa, perfeita do sujeito em atacar o bem
Exemplo: crimes contra a vida ou patrimônio de outrem. 
b) Teoria objetiva (CP): Na teoria objetiva a punibilidade da tentativa fundamenta-se no perigo a que é exposto o bem jurídico, e a repressão se justifica um vez iniciada a execução do crime.
c) Obrigatoriedade da diminuição legal: pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. (Art. 14 Parágrafo único do CP).
10. Arrependimento eficaz.
Arrependimento Eficaz: art.15 segunda parte. O agente conclui todos os atos executórios necessários e suficientes para cumprir seu desiderato, e em seguida arrepende-se e evita que o resultado aconteça. Neste caso é preciso que o agente aja para impedir o que ele mesmo causou. OBS: o agente só responde pelos atos já praticados.
11. Arrependimento posterior.
Arrependimento Posterior: art. 16 do CP , é uma causa de diminuição de pena, que ocorre nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça a pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denuncia ou queixa. 
12. Crimes que não admitem tentativa.
A.  Culposo - Crimes culposos não admitem tentativa, salvo culpa imprópria, que é aquela por erro de tipo sobre as descriminantes putativas (imaginárias).
B.  Contravenções Penais - DL 3.688/41, art, 4º (expressa remissão legal). 
C. Omissivos Próprios - São aqueles em que a própria lei descreve uma omissão (um não fazer). Exemplo: Art. 135 do CPB, Omissão de Socorro. Observe que os crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão), por sua vez, admitem tentativa.
D. Unissubsistentes - São aqueles em que não é possível identificar-se divisão entre o início de execução e o resultado material. Ou seja, não é possível o fracionamento do Iter Criminis. São denominados crimes de "apenas um ato". Identificam-se com os crimes de mera conduta.
E. Preterdolosos - Dolo na conduta, culpa no resultado. Nenhum crime qualificado pelo resultado culposo admite tentativa, pelo simples fato de que estes crimes (os culposos) não a admitem.
F. Crimes habituais: Crimes habituais são aqueles em que o tipo exige, para sua consumação, que o agente pratique a conduta como um "modo de vida". Exemplo: Exercício Ilegal da Medicina, Odontologia ou Farmácia;
13. Crime impossível.
Crime impossível consistenaquele em que o meio usado na intenção de cometê-lo, ou o objeto-alvo contra o qual se dirige, tornem impossível sua realização.
Segundo o código penal brasileiro, em seu artigo 17:
"Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime."
· Exemplo de impossibilidade do meio:
Matar alguém, batendo-lhe com uma flor, fazendo rituais de magia, etc.
· Exemplo de impossibilidade do objeto:
Matar um cadáver, estuprar uma boneca, etc

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