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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PROCESSUAL PENAL Jurisdição e Competência Livro Eletrônico 2 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Sumário Jurisdição e Competência .............................................................................................................. 4 Introdução ........................................................................................................................................ 4 1. Jurisdição ...................................................................................................................................... 4 1.1. Características da Jurisdição ................................................................................................. 6 1.2. Tipificação do Fato ................................................................................................................... 7 1.3. Princípios Específicos da Jurisdição Criminal .................................................................... 9 2. Prorrogação e Competência .................................................................................................... 11 2.1. Prorrogação de Competência ............................................................................................... 11 2.2. Competência Absoluta e suas Características.................................................................12 2.3. Competência Relativa ............................................................................................................13 3. Espécies de Competência ....................................................................................................... 14 3.1. Competência em Razão da Matéria .................................................................................... 14 3.2. Competências Territoriais ...................................................................................................24 3.3. Prevenção ................................................................................................................................ 25 3.4. Jurisprudência e Atualizações Legislativas sobre Competência Territorial ............. 27 4. Alteração da Competência ...................................................................................................... 30 4.1. Continência ...............................................................................................................................31 4.2. Conexão ....................................................................................................................................31 4.3. Prevalência do Foro .............................................................................................................. 32 4.4. Casos de Separação Obrigatória........................................................................................34 4.5. Casos de Separação Facultativa ........................................................................................ 35 5. Perpetuação da Jurisdição ...................................................................................................... 36 6. Avocação de Processos ........................................................................................................... 37 7. Prevenção ................................................................................................................................... 37 8. Foro por Prerrogativa de Função .......................................................................................... 37 9. Da Incompetência no Processo Penal ..................................................................................38 10. Recomendações Práticas ...................................................................................................... 41 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Resumo ............................................................................................................................................42 Questões de Concurso .................................................................................................................48 Gabarito ............................................................................................................................................61 Gabarito Comentado .................................................................................................................... 62 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA Introdução Olá, querido(a) aluno(a)! O termo jurisdição é sem dúvidas um dos mais utilizados no cotidiano pelos meios de comunicação. Nos jornais, revistas e em diversos noticiários, é comum ouvir que um determi- nado caso estava sob a jurisdição de um órgão ou de outro. Em seriados e filmes, acontece a mesma coisa: “Você está fora da sua jurisdição”, dizem os personagens. O mais engraçado é que, muitas vezes, essa utilização do termo jurisdição acaba sendo realizada de forma incorreta. Na aula de hoje, você vai entender com propriedade o que realmente significa exercer juris- dição, qual a diferença entre a definição de jurisdição e de competência, e porque os roteiros de filmes e seriados deveriam ser escritos sob a supervisão de um consultor jurídico... Vamos apresentar os conceitos, diferenciar esses institutos e aprofundar em cada um de seus elementos, de modo que você vai ficar muito bem preparado(a) quando se deparar com qualquer tipo de questão sobre o assunto. Ao final, como de praxe, faremos uma lista de diversos exercícios, fomentando nossa prá- tica da melhor e mais abrangente forma possível (alguns assuntos são mais escassos em questões). Espero que tenha um estudo proveitoso. Prof. Douglas 1. JurIsdIção O termo jurisdição nasce do latim juris (direito) e dicere (dizer), e é a nomenclatura utilizada para definir o poder do Estado de aplicar o direito ao caso concreto, ou seja, de dizer... o direito! Antes de prosseguir em nossa narrativa sobre jurisdição, no entanto, vamos falar sobre uma curiosidade que pode nos ajudar a entender o assunto: os brocardos jurídicos. Obs.: � Brocardos jurídicos são pensamentos sintetizados em uma única sentença, expres- sando uma conclusão reconhecida como verdade. Os brocardos jurídicos em maior parte são escritos em latim, e tratam dos mais diversos temas. E quanto à jurisdição, existem dois que são de especial relevância: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas "Da mihi factum, dabo tibi ius" Dai-me os fatos, que te darei o direito. "Iura novit curia" O Tribunal conhece o direito. Os brocardos acima estão diretamente ligados ao conceito de jurisdição, materializado no poder do Estado de aplicar o direito a um determinado caso. Eles nos levam, no entanto, à seguinte pergunta: Se jurisdição é o poder do Estado de aplicar o direito a um caso concreto, afinal de contas,o que é a competência? A competência, que muitos chamam erroneamente de jurisdição, não trata do poder do Estado de aplicar o direito, e sim de uma norma para definição de QUEM poderá aplicar a juris- dição em uma determinada situação. Dessa forma, enquanto jurisdição significa dizer o direito, competência significa dizer quem é o responsável por aplicar o direito em um determinado caso. De uma forma ainda mais simples: competência é uma medida da Jurisdição. Jurisdição • Significa, literalmente, dizer o direito. • É o poder do Estado de aplicar o direito ao caso concreto. Competência • Permite dizer quem poderá aplicar a jurisdição em um determinado espaço ou situação. • É uma medida da jurisdição! O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Portanto, em um conflito sobre a aplicação do direito (em um caso concreto) cabe ao Es- tado-Juiz realizar uma análise e dizer o direito naquela situação (exercer a chamada prestação jurisdicional). A questão é que o Estado-Juiz está dividido em esferas de competência. Cada Juiz tem uma determinada competência determinada por lei. E só atuará em situações e casos aos quais a sua competência seja adequada. Com isso, acaba acontecendo o seguinte: Alguns juízes têm competências mais amplas do que outros. Um juiz federal possui uma competência menos ampla do que um ministro do STF, cuja competência alcança todo o território nacional. Assim sendo, temos o seguinte cenário: Todo juiz tem JURISDIÇÃO (poder de dizer o direito) Nem todo juiz tem COMPETÊNCIA (atribuição para julgar um determinado caso concreto) 1.1. CaraCterístICas da JurIsdIção A primeira característica do exercício de jurisdição (e que costuma ser observada em pro- vas) é a inércia. Inércia: Em regra, um Juiz não atua de ofício – deve ser PROVOCADO para tal. Logo: a presta- ção jurisdicional deve ser solicitada ao Estado. Por força da inércia, o órgão jurisdicional tem que ser provocado para atuar. Não pode, por- tanto, julgar das seguintes formas: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Extra Petita Julgar fora do que foi pedido (concedendo algo distinto). Citra Petita Julgar aquém do pedido. Ultra Petita Julgar além do pedido. Além disso, é claro que o órgão jurisdicional também não possui o direito de se omitir e di- zer “não julgo” – caso seja provocado a fazê-lo – e muito menos julgar sem que seja provocado para tal (devido à característica da inércia). Juiz não pode julgar sem ser provocado. Juiz não pode se omitir se for regularmente provocado para julgar um determinado caso. 1.2. tIpIfICação do fato Sobre o assunto em tela, é interessante observar o que rege o art. 383 do CPP. Veja só: CPP – Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. Para exemplificar o que quer dizer o art. 383, a doutrina costuma apresentar o seguin- te exemplo: Em um determinado processo, um fato foi inicialmente classificado como um estupro. Entre- tanto, posteriormente, verifica-se que na verdade ocorreu um estupro de vulnerável. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Se isso acontecer, o juiz poderá atribuir a tipificação mais gravosa e cominar a pena ao acusado – sem que haja nulidade alguma. A única obrigatoriedade nesse caso é que não ocorra modificação na DESCRIÇÃO dos fatos contidos na denúncia. Conforme ensina Capez, o réu se defende dos fatos – e não da capitulação jurídica! Ainda nos ensinamentos de Capez, esse fato também se torna possível pois parte-se do princípio de que o juiz conhece o direito. Basta às partes que lhe informem sobre os fatos. Assim... dai-me os fatos, que lhe darei o direito! A seguir temos a próxima característica relacionada com a prestação jurisdicional: a exis- tência de lide. Existência de lide: deve existir um conflito de interesses (uma lide) para que possa ocorrer a prestação jurisdicional. Esta característica nos leva à próxima, que é sem dúvidas a mais importante característica sobre a matéria de jurisdição, como leciona Leonardo Barreto: a substitutividade. Substitutividade: A vontade do Estado substituirá à vontade das partes, para a resolução do conflito. Oras, se solicitamos a prestação jurisdicional para que resolva uma lide (um conflito entre as partes), e o órgão jurisdicional atuou decidindo o direito aplicável ao caso, é fato que não se obterá o que querem as partes – e sim o que o Estado determinar que seja feito. Essa é a essência da prestação jurisdicional. O próximo item é a imutabilidade. Imutabilidade: A sentença conclui o exercício da jurisdição, o que, via de regra, tem caráter definitivo. Salvo casos de revisão criminal, a qual estudaremos posteriormente, uma sentença transi- tada em julgado é imutável – tem caráter definitivo – e conclui a prestação jurisdicional. A sentença também nos leva à última característica que precisamos estudar: a atuação do direito. Atuação do direito: é o objetivo da prestação jurisdicional, que se realiza na aplicação do direi- to ao caso concreto. Embora as normas efetivas sobre os casos concretos encontrem-se previstas na legisla- ção penal comum, é a legislação processual que permite a aplicação do direito ao caso con- creto, através de suas normas procedimentais. 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Veremos, no entanto, que em alguns casos específicos, apenas a competência pode ser delegada; Indelegabilidade •O judiciário deverá apreciar lesões ou ameaças a direito, o que não poderá ser afastado sequer por lei. Este princípio também está previsto na Constituição Federal (Art. 5º, XXXV); Inafastabilidade •Princípio que segundo Nucci, veda às partes que “escondam” do conhecimento do juízo determinadas causas criminais (mesmo que queiram fazê-lo); Improrrogabilidade •Princípio constitucional que determina que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; Devido Processo Legal •Como já explicamosanteriormente, o juiz não pode dizer “não julgo”, ou seja, declinar de julgar casos que lhe sejam apresentados; Indeclinabilidade O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas •Também previsto da CF, este princípio veda a existência de tribunais de exceção (posto que ninguém será processado ou sentenciado senão pela autoridade competente); Juiz Natural •A jurisdição deve ser exercida por um Juiz, magistrado devidamente investido na função de julgador; Investidura •Outro princípio sobre o qual já discorremos indiretamente. A jurisdição é imposta (não depende da vontade das partes); Irrecusabilidade ou Inevitabilidade •A jurisdição é una – e pertence ao poder Judiciário. Sua diferenciação ocorre na esfera de competência, aplicações e especializações. Unidade Merece destaque o fato de que a jurisdição não pode ser delegada, enquanto, em casos pontu- ais, é possível a delegação de competência. Esquematizando: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 2. prorrogação e CompetênCIa A jurisdição, embora seja a base da atuação do poder judiciário, é um assunto mais simples. Só ele a exerce, e se relaciona diretamente com o poder de dizer o direito no caso concreto. A competência, por sua vez, é um assunto muito mais extenso – pois trata da verdadeira medida da jurisdição. É o estudo da competência que permite dizer qual órgão irá atuar em determinados casos. Antes que possamos adentrar essa matéria, no entanto, é necessário primeiro entender o conceito de prorrogação de competência processual. 2.1. prorrogação de CompetênCIa Obs.: � A competência processual, via de regra, é improrrogável, ou seja, deve ser exercida exclusivamente pelo juízo competente. � Entretanto, em alguns casos excepcionais, admite-se que um juízo originariamente incompetente possa emanar uma decisão à qual se submetam as partes. � Essa exceção é possibilitada pela lei, e quando ocorrer estaremos diante da chamada prorrogação de competência. Em alguns casos a lei permite que um juízo originariamente incompetente atue, sem gerar vício processual. Competência absoluta e relativa • É aquela competência que não admite prorrogação. • O interesse é público. Competênci a absoluta • Competência que admite prorrogação. • Interessa sobretudo às partes! Competênci a relativa O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 2.2. CompetênCIa absoluta e suas CaraCterístICas A competência absoluta, como você já sabe, possui a característica de não admitir prorrogação. Reiterando: competência absoluta não admite prorrogação. Existem três casos em que será considerada a competência do juízo como absoluta: Competência Funcional A competência funcional é uma espécie de competência absoluta que se divide em três tipos: • Em alguns casos, a competência de um mesmo processo acaba sendo dividida entre dois juízes. É o que ocorre, por exemplo, nos casos da execução da pena. Um juiz cuida do processo durante o julgamento e sentencia o acusado. Quando o processo finalmente entra em fase de execução, a competência passa a ser do Juiz da Execução – ou seja, a competência muda de acordo com a fase do processo. Essa competência é absoluta, e não respeitá-la gera a nulidade absoluta dos atos praticados. Por fase do processo • Em outros casos temos uma divisão de atribuições dentro de um mesmo processo, mas não em relação à fase em que o processo se encontra, e sim às tarefas que devem ser executadas por cada um. O exemplo clássico aqui é o do tribunal do júri. O juiz- presidente tem algumas tarefas no curso do processo, enquanto o júri tem outras. Essa competência também deve ser respeitada com caráter absoluto. Por objeto do Juízo • Aqui temos uma garantia de respeito ao duplo grau de jurisdição, que também deve ser respeitada para não gerar nulidade absoluta. Por Grau de Jurisdição O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Competência por Prerrogativa de Função A competência por prerrogativa de função é mais simples – está relacionada simplesmen- te com o cargo público ocupado pelo infrator. É a competência sobre a qual a mídia mais fala, chamando-a inadequadamente de foro privilegiado. Algumas autoridades públicas, por força do foro por prerrogativa de função, devem ser julgadas no STF, outras no STJ, e outras por outros tribunais. Competência em razão da matéria A última forma de competência absoluta decorre do tipo de infração penal que será julga- da. Simples assim! A competência absoluta é basicamente a “mais importante”, pois caso não seja respeitada, pode ser questionada pelas partes a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição, e até mesmo pelo juiz, de ofício. 2.3. CompetênCIa relatIva A competência relativa, como o próprio nome nos leva a crer, é mais tolerante – posto que admite a prorrogação. Entretanto, embora a incompetência relativa possa também ser argumentada pelas partes (assim como a absoluta), tal arguição não poderá ocorrer a qualquer tempo! Caso a arguição da incompetência de um determinado foro não seja realizada a tempo, ocor- rerá a prorrogação da competência do foro incompetente. Cuidado: Competência relativa gera apenas nulidade relativa. Competência relativa não é capaz de anular os atos instrutórios. Felizmente, a competência relativa é muito mais fácil de dominar do que a competência absoluta, pois só existe um caso de competência relativa no Direito Processual Penal. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas A competência territorial é o único caso de competência relativa prevista no direito proces- sual penal. Seguindo em diante, podemos finalmente adentrar as espécies de competência propria- mente ditas, o que fará com que o assunto fique mais prático e mais fácil de entender. 3. espéCIes de CompetênCIa Vamos começar abordando a categoria de competências em razão da matéria! 3.1. CompetênCIa em razão da matérIa Tribunal do Júri A competência do tribunal do júri está prevista no Art. 74 do CPP. Vejamos: CPP – Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamentodos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. (Redação dada pela Lei n. 263, de 23.2.1948) § 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada. § 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz sin- gular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2º). O tribunal do júri possui competência para julgar os chamados crimes dolosos contra a vida. Veja como agora fica muito mais fácil entender o conceito de jurisdição e competência. Todo o Judiciário pode exercer jurisdição. Entretanto, apenas o tribunal do júri tem a competên- cia para julgar os crimes dolosos contra a vida. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Crimes DOLOSOS contra a VIDA Homicídio e seus derivados (Feminicídio, Homicídio Funcional, Homicídio Qualificado...) Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. Infanticídio. Variações do delito de aborto (Art. 124 a 127 CP). Por isso, muito cuidado para não cair em uma pegadinha básica sobre esse assunto: Homicídio CULPOSO (previsto no §3º do art. 121), obviamente, não é de competência do tribu- nal do júri. Só condutas dolosas estão em sua esfera de competência. Outra observação importante é sobre os crimes tentados. O fato do crime ser tentado ou consumado não influirá na configuração da competência do tribunal do júri. Logo, homicídio doloso tentado ou consumado será de competência do júri, normalmente. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Características da Competência do Júri • A competência do júri está prevista expressamente na CF, no art. 5º, XXXVIII. Competência Constitucional •A competência do tribunal do júri é considerada MÍNIMA (ou seja, lei ordinária pode ampliá-la, sujeitando novas condutas à apreciação do tribunal do júri). Entretanto, o que nunca poderá ocorrer é que sua competência seja reduzida. Portanto, os crimes dolosos contra a vida não podem deixar de ser competência do tribunal do júri por força de lei. Competência MÍNIMA Note, ainda, que crimes conexos aos crimes contra a vida também passam a ser de com- petência do tribunal do júri. Nesse caso, se houve um estupro e um homicídio, de forma cone- xa, ambos os delitos serão julgados pelo tribunal do júri. Tal previsão, no entanto, encontra-se no CPP, e não diretamente na Constituição Federal. Os examinadores adoram elaborar questões dizendo que os delitos de latrocínio, estupro se- guido de morte e lesões corporais seguidas de morte são de competência do tribunal do júri. Essa afirmação está incorreta! Não são competência do júri: • lesão corporal seguida de morte; • latrocínio; • estupro seguido de morte. Além disso, é importantíssimo que você saiba o conteúdo sumulado pelo STF: Súmula vinculante n. 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Portanto, caso o foro por prerrogativa de função seja previsto na Constituição Federal, a pessoa será julgada no foro privativo mesmo que se trate de crime seja doloso contra a vida. Justiça Militar Outra competência expressamente na Constituição Federal é a competência da Justi- ça Militar. A competência da justiça militar só costuma ser abordada de uma forma mais avançada em concursos para cargos militares (como para carreiras nas polícias militares e corpos de bombeiros militares dos estados). Isso porque a justiça militar tem seu próprio Código Penal e seu próprio Código de Processo Penal, ambos de natureza militar. Apesar disso, é importante conhecer ao menos de forma básica o que diz a Constitui- ção Federal: CF – Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Art. 125, § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004) Veja que as definições são bastante simples. Os crimes militares previstos em lei estão previstos no Código Penal Militar, e existem circunstâncias que farão com que crimes comuns (como homicídio ou crimes previstos na legislação especial) sejam considerados como cri- mes militares. Para apurá-los, temos os seguintes órgãos: • Julga os crimes militares em geral (relacionados ao Exército, Marinha, Aeronáutica e servidores e órgãos integrantes das forças da União); Justiça Militar da União • Julga os crimes militares praticados pelos militares dos estados, e ações judiciais contra atos disciplinares militares. Justiça Militar Estadual O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Observações sobre a Justiça Militar • Vítima civil de homicídio: − O CPM (Código Penal Militar) prevê o crime militar de homicídio. No entanto, homicí- dio praticado por militar contra civil, por expressa previsão constitucional, é de com- petência do tribunal do júri. • Julgamento de Civis: − Apenas a Justiça Militar da UNIÃO tem a competência de julgar civis. Fique atento: A justiça militar estadual não possui essa competência. Entre os tópicos acima, merece especial destaque a questão do abuso de autoridade e da impossibilidade do julgamento de civis pela justiça militar estadual! Tome nota dessas observações! Crimes dolosos contra a vida e Justiça Militar E você aí, achando que os seus problemas já tinham acabado... Infelizmente não. Outro ponto importantíssimo sobre as recentes alterações nos crimes militares está em outra mudança causada no CPM pelo texto da Lei n. 13.491/2017. Vejamos: § 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por mi- litares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto[...] Quase todo aluno sabe que, por expressa previsão constitucional, a competência de julgar crimes dolosos contra a vida édo Tribunal do Júri – e não de qualquer outro ramo da Justiça Brasileira. Entretanto, como é possível aduzir do parágrafo acima, o legislador infraconstitucional abriu uma exceção, concedendo à Justiça Militar da União a competência para julgar militares das Forças Armadas quando estes praticarem crimes dolosos contra a vida de civil, em deter- minados casos. Mas, professor, não seria essa norma inconstitucional? Essa é uma excelente pergunta. São cabíveis argumentos em ambos os sentidos (de que tal norma é inconstitucional ou mesmo de que é perfeitamente válida). A verdade é que o Su- premo Tribunal Federal é o único que tem competência para responder a essa pergunta – e que ainda não há manifestação nesse sentido. Por esse motivo, o correto é considerar que a letra da lei está valendo – e que é competên- cia da Justiça Militar da União o julgamento de crimes dolosos contra a vida quando pratica- dos por militares das Forças Armadas e dentro do contexto previsto no CPM. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1001.htm#art9%C2%A72 19 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas E qual contexto é esse, professor? É aquele que se enquadra nas circunstâncias previstas nos incisos e alíneas do art. 9º, parágrafo 2º: CPM – Art. 9º, § 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei n. 13.491, de 2017) I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da Repú- blica ou pelo Ministro de Estado da Defesa; II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constitui- ção Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: a) Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica; b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; c) Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal Militar; e d) Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral. Professor, e qual a norma para os demais militares? Para os militares estaduais (não vinculados às forças armadas) e para os militares das Forças Armadas que praticarem o crime de homicídio doloso contra a vida de civil fora das circunstâncias do parágrafo 2º, aplica-se a regra do parágrafo 1º: CPM – Art. 9º, § 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. Cabe salientar, ainda, que EM REGRA o homicídio praticado por militar da ativa contra militar da ativa é de competência da Justiça Militar (configurando o crime impropriamente militar de homicídio). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp97.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm 20 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Crimes dolosos contra a vida de civil, praticado por militar Se militar estadual Tribunal do Júri Se militar das Forças Armadas, e não estão presentes as circunstâncias do parágrafo 2º, I, II ou III Tribunal do Júri Se militar das Forças Armadas e estão presentes as circunstâncias do parágrafo 2º Justiça Militar da União Justiça Eleitoral Em 2017, tomaram grande notoriedade as ações que tramitam no TSE, o que acabou tra- zendo uma maior protagonismo da Justiça Eleitoral nas notícias em geral. Sua competência (que não se restringe à do TSE, é claro), possui origem na Constituição Federal, com a definição dos órgãos que a compõem: CF – Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I – o Tribunal Superior Eleitoral; II – os Tribunais Regionais Eleitorais; III – os Juízes Eleitorais; IV – as Juntas Eleitorais. Apesar disso, suas normas de competência propriamente ditas não costumam ser cobra- das em prova, visto que por força do art. 121, uma lei complementar deve tratar do assunto, e tal diploma legal dificilmente faz parte do conteúdo programático dos concursos. Curiosidade: A lei complementar que deve dispor sobre a organização e competência da Justi- ça Eleitoral é o Código Eleitoral. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas CF, art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. Justiça Federal Para finalizar a competência em razão da matéria temos a mais extensa dessa lista: a com- petência da Justiça Federal. A competência da JF é sempre TAXATIVA e EXPRESSA. Assim, aquilo que é competência da Justiça Federal estará escrito como tal. Todo o resto é competência da Justiça Estadual (chamada de competência residual). A primeira norma sobre o assunto é o art. 109 da Constituição Federal – da competência dos juízes federais. Mas como tal artigo é um pouco extenso, vamos apresentá-lo de uma for- ma esquematizada. Causas em que o autor, o réu, o assistente ou oponente são: •A União; •Entidade Autárquica; •Empresa Pública Federal. •Exceções: Causas de Falência, Acidentes de Trabalho e sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Causas relacionadas à Estados Estrangeiros: •Entre Estado Estrangeiro / Organismo Internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no Brasil; •Causas fundadas em tratados ou contrato da União com Estado Estrangeiro ou Organismo Internacional. Causas relacionadas à crimes: •Crimes políticos; • Infrações penais em detrimentos de bens e serviços da União, suas autarquias e empresas públicas; •Exceções: Contravenções Penais e causas de competência da Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Causas relacionadas à crimes(II): •Previstos em tratados ou convenções internacionais; •Cuja execução foi iniciada no Brasil e o resultado ocorreu ou deveria ter ocorrido no estrangeiro (ou vice-versa). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Causas relacionadas à crimes (III): •Crimes contra a organização do trabalho; •Crimes contra o sistema financeiro ou ordem economico-financeira (em casos determinados por lei). Outras Competências •HC's nas causas criminais de competência da JF; •HC's contra constrangimentos perpetrados por autoridades cujos atos não estão sujeitos à outras jurisdições. •Execução de carta rogatória; •Execução de sentença Estrangeira (Após Homologação); Outras competências II •Habeas Datae Mandados de Segurança contra atos de autoridade federal. •Exceção: Competências dos Tribunais Federais. •Causas relativas à Direitos Humanos (§ 5º); •Direitos indígenas. •Naturalização e Nacionalidade. Causas relacionadas à crimes (IV): •Crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves. •Exceção: Competência da Justiça Militar •Crimes de ingresso ou permanência irregular no estrangeiro; Repare que no esquema acima estão incluídas todas as hipóteses e não apenas as criminais. A única boa notícia sobre essa lista extensa é que o examinador costuma cobrar o assunto acima de forma direta (colocando uma assertiva extraída do rol de competências da Justiça Federal). O lado ruim disso, no entanto, é óbvio: somos forçados a ler e reler, e memorizar. In- felizmente não tem remédio! Lembre-se de que a competência da Justiça Estadual é residual. Se uma hipótese não está configurada como competência da Justiça Federal, será da Justiça Estadual, por eliminação. Crimes Conexos É necessário ainda saber o que acontece quando um crime de competência da Justiça Fe- deral é praticado de forma conexa com um crime de competência da Justiça Estadual. Quem responde a essa pergunta é a Súmula n. 122/STJ: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Súmula n. 122/STJ Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal. Jurisprudência Relevante Não bastasse o rol de competência extremamente extenso, existem ainda inúmeros in- formativos e súmulas relacionados à competência da Justiça Federal, os quais você preci- sa conhecer. Contravençõ es Penais Contravenções Penais competem à Justiça Estadual, mesmo que praticadas em detrimento de bens da União, e mesmo que estejam conexas a crimes de competência da Justiça Federal (STJ). Sociedades de Economia Mista Crimes contra Sociedades de Economia Mista são de competência da Justiça Estadual. Fundações Públicas Federais Fundações Públicas Federais são consideradas Autarquias (são as chamadas Fundações Autárquicas). Por isso, crimes praticados em detrimento dessas entidades também são de competência da Justiça Federal. Conselhos Profissionais Crimes praticados contra Conselhos profissionais (tais como a OAB) também são de competência da Justiça Federal. Isso ocorre pois esses órgãos são essencialmente de natureza autárquica! Lei de Terrorismo Os delitos previstos na lei 11.260/16 são de competência da Justiça Federal. Justiça Eleitoral e Militar A competência da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar EM REGRA prevalece sobre a competência da JF, em caso de conflito. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Outros Conflitos Temos ainda um outro quadro comparativo entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual, baseado em outras decisões judiciais: • Crimes praticados contra funcionário público federal, relacionados ao exercício da função; • Falsificação de papel moeda de forma não grosseira; • Crimes de falso testemunho em processos trabalhistas; • Crimes de uso de passaporte falso; • Desvio de verbas sujeitas a prestação de contas perante órgão federal, praticado por prefeito; • Tráfico internacional de drogas para o exterior; • Tráfico internacional de crianças. Compete à Justiça Federal processar e julgar: • Crimes de Falsa anotação na CTPS; • Falsificação grosseira de papel moeda; • Falsificação e uso de documento falso de escola particular; • Desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal (praticado por prefeito); Compete à Justiça Estadual processar e julgar: 3.2. CompetênCIas terrItorIaIs Passamos agora a estudar as competências em razão do território. Não se preocupe: Esse regramento é muito mais simples do que as competências em razão da matéria. Vamos começar com a leitura do art. 70 do CPP: CPP, art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. § 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. § 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competên- cia firmar-se-á pela prevenção. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. Via de regra, a competência territorial será determinada através do local em que se consu- mou o delito, ou no caso de tentativa, o local em que foi praticado o último ato de execução. Segundo a doutrina, o art. 70 aplica a chamada TEORIA DO RESULTADO na definição de competência. 3.3. prevenção Antes que possamos continuar nosso estudo, é preciso que você entenda o conceito de PREVENÇÃO. Você ainda vai ler muito esse termo tanto em nossa aula quanto nas provas de concursos... então primeiramente vejamos o que ele significa: Prevenção: Prevenção está relacionada com a ideia de antecipação. No Direito Processual Penal, a prevenção é uma prefixação de competência, concedida ao juiz que primeiro tomar conhecimento da infração penal e praticar um ato ou tomar uma me- dida no processo ou inquérito. Costumo dizer que a prevenção é um verdadeiro “coringa” da solução dos conflitos de com- petência. Quando não houver outro critério para solucionar uma situação em que dois juízes possam ser considerados competentes para atuar em um determinado inquérito ou processo, o legislador se utiliza da prevenção para solucionar o impasse. Prevenção: o “Coringa” da definição de Competências. O primeiro exemplo é da aplicação da prevenção está no § 3º do art. 70 do CPP: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Em caso de limite territorial incerto entre jurisdições, ou de infração consumada ou tentada nas divi- sas entre jurisdições, tornando complicado determinar o local exato para definição da competência, o legislador utilizou-se do critério de prevenção para solucionar o caso. Um segundo caso está noart. 71 do CPP: Em caso de infração continuada ou permanente praticada em território de múltiplas jurisdições, o conflito também será sanado por prevenção. Obs.: � Lembre-se de que a definição de competência no âmbito internacional (para os chama- dos crimes a distância) segue as regras do lugar do crime previstas no Código PENAL, em seu art. 6º (teoria da ubiquidade) e as normas de territorialidade e extraterritoriali- dade da lei penal. Assim, caro(a) aluno(a): para não se confundir, quando for resolver uma questão sobre a competência da justiça brasileira para julgar um delito de caráter internacional, aplique as regras e teorias previstas no CP. Você estará solucionando os casos dos chamados crimes a distância. Já nos casos de crimes plurilocais (praticados em múltiplos locais dentro do território na- cional) você deve utilizar as regras e teorias do CPP. Crimes a distância Regras previstas no CP. Caráter Internacional. Questão de Territorialidade ou Extraterritorialidad e da Lei Penal. Crimes Plurilocais Regras previstas no CPP. Caráter nacional. Questão de Jurisdição e Competência. Esclarecida essa diferença, vamos falar de mais uma exceção à regra do art. 70 do CPP: Em casos de delitos de homicídio, deve prevalecer o juízo do local da AÇÃO ou da OMISSÃO, se- gundo a jurisprudência majoritária. Logo, em casos de homicídio, temos que a teoria utilizada por definição judicial, é a teoria da atividade, e não a do resultado, que é a regra do CPP. Regra geral CPP Teoria do Resultado Homicídio Teoria da Atividade O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 3.4. JurIsprudênCIa e atualIzações legIslatIvas sobre CompetênCIa terrItorIal • Infrações de Menor Potencial Ofensivo também são regidas pela teoria da atividade na definição de competência. • Portanto, constituem exceção à regra geral do CPP, de modo que o juízo competente para julgá-las será o do local onde a infração foi praticada. IMPO's • No caso de delitos de contrabando ou descaminho, o STJ entende que o juízo competente será definido, na esfera federal, com base na prevenção, sendo competente o juízo do lugar onde os bens contrabandeados foram apreendidos. Súmula n. 151 do STJ • A jurisprudência dos tribunais superiores até a edição da Lei 14.155/21 vinha entendendo que o estelionato praticado com falsificação de cheques deve ser processado e julgado no juízo do local onde foi obtida a vantagem ilícita, ao passo que o estelionato praticado com cheques SEM FUNDOS, no entanto, deveria ser processado e julgado no juízo do local da recusa do pagamento dos cheques. • No entanto, houve alteração legislativa superveniente sobre o tema, inserida no ordenamento jurídico pela Lei 14.155/21. A referida Lei inseriu o § 4º do art. 70 do CPP, segundo o qual, nos crimes previstos no art. 171 (estelionato) do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. Estelionato – IMPORTANTE! • Aplica-se a regra geral do art. 70 do CPP – Teoria do Resultado. Crimes Preterdolosos O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Sei que são muitas hipóteses para casos singulares. Infelizmente, o examinador simples- mente adora utilizar desse tipo de jurisprudência para confundir o aluno, de modo que não temos saída senão a de listar cada uma delas. Dito isso, sigamos. Nosso próximo passo é conhecer os arts. 72 e 73 do CPP: CPP – Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. § 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. Essa é a chamada regra supletiva, utilizada caso a regra geral não possa ser aplicada. Nesse caso, por algum motivo não se conhece o local da infração, mas ainda sim existe um processo que precisa tramitar regularmente. O legislador optou pelo seguinte fluxo para determinar o juízo competente de forma a so- lucionar esse caso: Juízo do domicílio ou residência do réu Em caso de mais de uma residência, PREVENÇÃO Réu sem residência certa ou de paradeiro ignorado: Juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. Temos ainda a regra do art. 73 do CPP, específica para ação penal exclusivamente privada, nas quais o querelante tem o direito de optar pelo trâmite do processo no foro de domicílio ou residência do réu em lugar do foro do lugar da infração, mesmo que este seja conhecido. Veja que a regra prevista no art. 73 é para ação penal exclusivamente privada, ou seja, não se aplicará aos casos de ação penal privada subsidiária da pública. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Esquematizando: Art. 72 (Regra Supletiva) Em casos onde não se tem conhecimento sobre o local da consumação do crime, utiliza-se o foro do domicílio ou residência do réu para determinar o juízo competente. § 3º e Art. 71 Em caso de infração praticada em território de duas ou mais jurisdições, ou de infração em local de limite territorial incerto entre jurisdições, utiliza-se a prevenção para solução do conflito. Art. 70 (Regra Geral) Teoria do Resultado. Juízo competente é o do lugar da consumação do delito ou do último ato de execução da tentativa. O conteúdo apresentado soluciona inúmeras questões sobre esse regramento. Entretanto, ainda fica a seguinte pergunta: O que fazer quando existirem dois juízes igualmente competentes para julgar uma infra- ção penal? A explicação está no art. 75 do CPP: CPP, art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal. Eis que identificamos um novo termo relacionado com a definição de competência: a distribuição. Mas o que é que ele significa? Distribuição nada mais é do que a maneira que o legislador optou para dizer sorteio. Logo, havendo dois juízes igualmente competentes na mesma circunscrição judiciária, será sele- cionado qual julgará um determinado caso por sorteio, o que normalmente é efetuado por um sistema informatizado desenvolvido com essa finalidade. O conteúdo deste livro eletrônicoé licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 4. alteração da CompetênCIa Via de regra, a competência é definida de acordo com regras básicas e gerais. A partir do art. 76 do CPP, no entanto, temos os chamados critérios de conexão e continência, que tratam da possibilidade de alteração da competência originária para que o caso concreto possa ser processado de uma melhor forma. Os critérios de conexão e continência não criam um tipo de competência. O que ocorre é uma alteração da competência originária. Em primeiro lugar, no entanto, precisamos entender o que significam exatamente os con- ceitos de conexão e continência. • Ocorre quando um fato criminoso está contido (engloba) outro. • Regra prevista no art. 77 do CPP. • Não é possível a cisão (separação) dos delitos em processos diferentes (pois estão contidos uns nos outros). Continência • Ocorre quando existe uma ligação entre as infrações penais (liame) que justifique sua união em um mesmo processo para facilitar seu julgamento. • A conexão serve para evitar decisões contraditórias, bem como para facilitar o trâmite geral do processo (e atos como a produção de prova). Conexão Antes de especificar os detalhes de cada um desses institutos, devemos fazer uma men- ção à Súmula n. 235 do STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. Assim, tanto na conexão quanto na continência, não se deve reunir processos se um deles já tiver sido julgado. Passemos agora ao estudo de cada um desses dois institutos, de forma detalhada! O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 4.1. ContInênCIa Primeiramente, vamos fazer a leitura do art. 77 do CPP: CPP, art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II – no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. Se duas ou mais pessoas forem acusadas da mesma infração, ou na hipótese de concurso formal de crimes, previstas no Código Penal, teremos a determinação de competência pela continência. 4.2. Conexão A conexão, por sua vez, é um pouco mais complexa que a continência. Vejamos o que rege o art. 76 do CPP: CPP, Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Sobre a conexão, a doutrina faz a distinção entre cada um desses incisos. Esquematizan- do, fica da seguinte forma: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Conexão Intersubjetiva por Concurso • É a prevista no art. 76, inciso I. • Ocorre quando estamos diante de duas ou mais infrações, praticadas por duas ou mais pessoas. Conexão Intersubjetiva por Reciprocidade • Também prevista no art. 76, inciso I. • Ocorre quando estamos diante de duas ou mais infrações, praticadas por várias pessoas umas contra as outras. Conexão Objetiva ou Finalista • Prevista no art. 76, inciso II • A conexão entre as infrações penais se dá através da existência de um objetivo – seja ele o de facilitar ou ocultar outras infrações penais, ou para garantir a vantagem ou a impunidade de qualquer delas. Conexão Probatória, Processual ou Instrumental • Prevista no art. 76, inciso III. • Ocorre quando estamos diante de uma conexão gerada por uma prova, relevante o suficiente para influir na prova de outra infração penal. 4.3. prevalênCIa do foro Ao alterar a competência originária para julgar uma determinada infração, é certo que exis- tirão inúmeros benefícios (tais como evitar contradições, facilitar a produção das provas, en- tre outros). Entretanto, essa unificação de várias infrações gera uma consequência bastante óbvia: onde tínhamos dois ou mais juízos competentes, agora apenas um irá prevalecer. A questão é a seguinte: Como selecionar qual dos juízos deverá manter sua competência no momento da união dos feitos? A resposta para essa pergunta está no art. 78 do CPP: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguin- tes regras: I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; II – no concurso de jurisdições da mesma categoria: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 33 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. São muitas informações, mas esquematizando fica bem mais fácil. Vejamos: Art. 78, I • Competência do Júri prevalece sobre outras competências; • Unica exceção é a de concurso entre crimes de competência do júri e de competência da justiça militar ou eleitoral (nesse caso, os feitos devem permanecer separados); Art. 78, II • Mesma categoria significa juízes aptos a julgar mesmos tipos de causas (como por exempo, dois juízes de primeiro grau). • Nesse caso, segue-se uma lista de prioridades, na seguinte ordem: foro do local da infração mais grave, foro onde foi cometido o maior nº de crimes, e caso permaneça o conflito, prevenção. Art. 78, III • O inciso III é o mais simples e conhecido, pois trata do conflito entre jurisdições superiores e inferiores. Ocorre nos casos de foro por prerrogativa de função. Imagine crimes conexos praticados por um indivíduo com foro no STJ e outro com foro comum: Os feitos serão unidos e prevalecerá a competência do STJ para julgar o caso. Art. 78, IV • Quando houver conflito entre a jurisdição especial (como a eleitoral, por exemplo) e a jurisdição comum, prevalecerá a especial. • Logo, em concurso entre crimes eleitorais e crimes comuns, a Justiça Eleitoral deverá julgar todos os delitos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgaçãoou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 34 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Exceção importante! Em caso de concursos de crimes de jurisdição MILITAR e jurisdição COMUM, deve ocorrer a disjunção dos feitos. 4.4. Casos de separação obrIgatórIa Já aprendemos quando é que os processos devem ser reunidos para julgamento uno dos feitos. Também já sabemos qual justiça deve prevalecer em casos específicos (ao estudar o art. 78 do CPP). Entretanto, ainda nos resta aprender que em determinados casos, mesmo diante de um caso de conexão ou continência, os processos não devem ser reunidos, man- tendo-se a separação dos feitos. Tais casos estão previstos expressamente no art. 79 do CPP, a saber: CPP, art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. § 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152. § 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não pos- sa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461. Sobre a separação entre a justiça comum e a justiça militar, nós acabamos de fazer uma observação. Entretanto, temos ainda outros casos: Separação entre a Justiça Comum e o Juízo de Menores Aqui temos o seguinte: Num concurso entre um menor de 18 anos e um outro autor maior de idade, o menor será julgado pelos Juizados da Infância e Juventude, enquanto o maior de idade terá sua participação apurada pela Justiça Criminal de forma regular. Superveniência de Enfermidade Mental Quanto ao §1º, estamos diante do caso em que um dos autores acaba padecendo de uma doença mental que enseja a suspensão do processo até a sua recuperação. Entretanto, não se pode suspender também o processo para o réu que se encontra bem de saúde, motivo pelo qual os processos devem ser desmembrados, suspendendo-se apenas o relativo ao réu doente. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 35 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Fuga de um dos réus Por fim, temos o § 2º, que trata da fuga de um dos réus. Aqui, é necessário analisar se é possível que o réu possa ser julgado à revelia. Se for possível, a junção pode ser realizada nor- malmente. No entanto, se for um caso em que o julgamento à revelia não é permitido, deve ocorrer a disjunção dos processos. 4.5. Casos de separação faCultatIva Existem ainda casos em que embora a separação não seja obrigatória, o legislador previu a possibilidade de separação dos feitos. Note que estamos diante de uma faculdade, e não de uma obrigação. CPP – Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido pra- ticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Separação Facultativa (CPP – Art. 80) Infrações penais praticadas em tempo ou lugares diferentes. Número excessivo de réus ou acusados. Outro motivo relevante. Esses casos são simples – basta que você conheça o rol que pode ensejar a separação facultativa dos processos. A única observação realmente importante é que a separação facultativa dos processos pode ser reconhecida de ofício pelo juiz ou quanto arguida pelas partes. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 36 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 5. perpetuação da JurIsdIção A perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdictionis) está prevista no art. 81 do CPP: CPP, art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que des- classifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos. No caso do art. 81, ocorreu o seguinte: alguns processos foram reunidos, por conexão ou continência. Entretanto, no que diz respeito ao processo que causou a atração (que determi- nou a escolha de competência que prevaleceu sobre as demais), o juiz proferiu uma sentença absolutória ou desclassificou a infração para outra, que não é de sua competência. Nessa situação, o que deve acontecer com os processos que foram atraídos, e que não estão em seu juízo de origem? A resposta é simples: eles deverão continuar sob a competência do juízo atual, por força do art. 81 do CPP. Até aí a definição é bastante simples, certo? No entanto, como toda boa regra, a do art. 81 também possui uma exceção, prevista em seu parágrafo único, especificamente para os casos do tribunal do júri: Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. Assim, temos um processo com delitos conexos a um crime doloso contra a vida (Exem- plo: um estupro conexo com um homicídio doloso). Inicialmente, portanto, os processos serão unidos e encaminhados ao tribunal do júri (cuja competência prevalece sobre a justiça comum, como você já sabe). Entretanto, caso o juiz-presidente verifique, por algum motivo, que não há mais a compe- tência do júri para atuar no caso (por exemplo: comprova-se que o homicídio foi culposo), o júri não poderá continuar atuando no julgamento, de modo que os processos deverão ser remetidos ao juízo competente. Portanto, note que ocorreu o contrário do que se aplica aos casos regulares, nos quais o processo continuaria sob a tutela do juízo mesmo após sua desclassificação e o reconheci- mento da competência de outro órgão jurisdicional. 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Sentença definitiva, nesse caso, quer dizer simplesmente que a primeira fase processual foi encerrada. 7. prevenção Você com certeza se lembra de que falamos que a prevenção é o coringa das situações de conflitos processuais. Quando as regras gerais não forem suficientes para solucionar os conflitos de competência e determinar em qual juízo devem tramitar os processos, a soluçãovem da prevenção: CPP, art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juí- zes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c). Entretanto, é importante também conhecer a Súmula n. 706 do STF, que trata sobre o assunto: Súmula n. 706 – STF É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção. Logo, se durante um processo não for corretamente observada a competência definida por prevenção, a nulidade não será absoluta (apenas relativa), de modo que, para ser arguida, irá depender da comprovação de que houve prejuízo. 8. foro por prerrogatIva de função Por fim, temos a previsão contida entre os artigos 84 e 87 do CPP. Tratamos, é claro, do foro por prerrogativa de função (popularmente chamado de foro privilegiado). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 38 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas O CPP não aborda todas as regras específicas para cada cargo – pois quem o faz é a Cons- tituição da República – o que acaba transferindo a abordagem mais pesada sobre este assun- to para a disciplina de Direito Constitucional (inclusive a Questão de Ordem na Ação Penal 937, a qual sugiro que os senhores leiam). Dito isso, em Direito Processual Penal, o que o examinador costuma fazer é cobrar a litera- lidade dos artigos do CPP, os quais estão transcritos a seguir: CPP, art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Dis- trito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Cons- tituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade. 9. da InCompetênCIa no proCesso penal A incompetência tida como absoluta gera como consequência uma nulidade absoluta. Características da incompetência absoluta: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 39 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Resultará em atentado a preceito constitucional; Protege direito público; Pode ser arguida a qualquer momento, enquanto não houver o trânsito em julgado da decisão; Obs: Em caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria, poderá ser arguida após o trânsito em julgado, por meio de revisão criminal ou habeas corpus, sempre em favor do condenado. O prejuízo é presumido. Dessa forma, o processo deve ser anulado ab initio. É imodificável, ou seja, a conexão e a continência não podem alterar uma regra de competência absoluta. Obs: A doutrina ressalta que diversamente do que se dá no processo civil, no processo penal o juiz pode declarar de ofício tanto a incompetência absoluta quanto a relativa, enquanto não esgotada sua jurisdição pela prolação da sentença. Doutrina: Resulta em anulação dos atos decisórios e também dos atos probatórios. Obs:Os Tribunais superiores entendem que os atos probatórios não devem ser anulados no caso de reconhecimento de incompetência, sendo possível que até mesmo os atos decisórios sejam ratificados perante o juízo competente quando não se tratar de sentença de mérito. Já a incompetência relativa, por sua vez, pode produzir uma nulidade relativa. Característi- cas da incompetência relativa: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 40 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas Resultará em atentado às regras infraconstitucionais; Atende ao interesse preponderante das partes (particular); Obs: A doutrina ressalta que sempre haverá, em certa medida, algum interesse público. Deve ser arguida em tempo oportuno (no momento da resposta à acusação – CPP, art. 396-A), sob pena de preclusão; enquanto o magistrado exercer a jurisdição; --> De acordo com a doutrina, resulta em anulação dos atos decisórios. Os probatóprios podem ser ratificados; Obs: Os Tribunais superiores entendem que os atos probatórios não devem ser anulados no caso de reconhecimento de incompetência, sendo possível que até mesmo os atos decisórios sejam ratificados perante o juízo competente. --> Pode ser declarada de ofício pelo juiz até o início da instrução processual: CPP, art. 109. Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior. --> O prejuízo deve ser comprovado; Nesse sentido, é importante destacarmos que a súmula n. 33 do STJ: “a incompetência relativa não pode ser declarada de ofício” não se aplica ao processo penal. Contudo, em alguns julgados isolados, o STJ vem reconhecendo que a incompetência relativa não pode ser decla- rada de ofício pelo juiz nem mesmo no processo penal. Os atos praticados por juízo incompetente são atos nulos e não inexistentes, uma vez que foram proferidos por juiz regularmente investido de jurisdição. O STF entende que vício de incompetência de juízo gera uma nulidade que embora não possua o alcance das decisões válidas, pode produzir efeitos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Concurseiros - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 41 de 85www.grancursosonline.com.br Jurisdição e Competência DIREITO PROCESSUAL PENAL Douglas Vargas 10. reComendações prátICas Se você seguir na leitura do CPP (dos artigos 88 até o 91), irá se deparar em regras de apli- cação da lei processual no espaço. Gostaria de observar que tais normas raramente são objeto de prova, salvo a literalidade dos artigos (e mesmo assim não é comum essa abordagem). Isso ocorre pois, em relação a aplicação da lei no espaço (tanto penal quanto processual) o examinador historicamente prefere cobrar as previsões do Código Penal (Art. 6º, Territoriali- dade e Extraterritorialidade). Por este motivo, recomenda-se que você faça a leitura dos artigos 88, 89, 90 e 91 para co- nhecer o texto de lei, mas que foque seus estudos na aplicação da lei penal no espaço se este for um dos tópicos do seu conteúdo programático. Dito isso, a última dica de hoje é a seguinte: combine o estudo de conceitos, jurisprudência e doutrina presentes nessa aula com a leitura da lei seca. Acredite, essa combinação faz toda a diferença na hora da prova, pois te prepara para todo tipo de questão que o examinador pode vir a elaborar. 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