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Microeconomia para a Anpec Theo Cotrim Martins E-mail: theocm@gmail.com mailto:theocm@gmail.com Aula 01 PREFERÊNCIAS E UTILIDADE N-Cap. 3; V-Caps. 2, 3 e 4 Agenda • Axiomas da Escolha Racional e Utilidade • Curvas de Indiferença e TMS • Propriedades da Utilidade • Exemplos de Funções Utilidade • Preferências Homotéticas • Restrição Orçamentária • Questões Anpec Axiomas da Escolha Racional (1) Completitude: – Se A e B são duas situações diferentes, um indivíduo pode sempre especificar exatamente uma destas possibilidade: • A é preferível a B • B é preferível a A • A e B são igualmente atrativas Axiomas da Escolha Racional (2) Reflexividade: – Todas cestas são tão boas quanto elas mesmas. (3) Transitividade: – Se A é preferível a B, e B é preferível a C, então A é preferível a C. – Assume que as escolhas individuais são consistentes. (4) Continuidade: – Se A é preferível a B, então situações próximas a A também devem ser preferíveis a B. Utilidade • Dados os axiomas (1)+(2)+(3), é possível ordenar todas as situações, da menos desejável à mais desejável. • Este ranking é chamado de utilidade. – Se A é preferível a B, então a utilidade associada a A é maior que a utilidade associada a B. 𝑈 𝐴 > 𝑈(𝐵) Utilidade • Rankings de utilidade são ordinais e não cardinais. – O que importa é a ordenação e não o valor específico de utilidade para cada situação. • Deste modo, medidas de utilidade não são únicas. • Também não é possível comparar valores de utilidades entre pessoas. Utilidade • O ordenamento de um rankings de utilidade se preserva caso apliquemos uma transformação order preserving sobre o mesmo. Uma transformação 𝐹(𝑈) atende este critério caso 𝐹′ 𝑈 > 0. Exemplos de funções order preserving: – 𝐹 𝑈 = 𝑈2 – 𝐹 𝑈 = ln(𝑈) Utilidade • Suponha que um indivíduo tenha de escolher diferentes bens de consumo 𝑥1, 𝑥2 … . 𝑥𝑛 • Sua função de utilidade pode ser representada da forma: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥1, 𝑥2 … 𝑥𝑛; outrascoisas) • Simplificando: 𝑈(𝑥1, 𝑥2, … 𝑥𝑛) Utilidade • “mais é preferível a menos” (axioma monotonicidade) Quantidade de x Quantidade de y x* y* Preferível à cesta (x*, y*) ? ? Pior que a cesta (x*, y*) Curvas de Indiferença • Uma curva de indiferença mostra um conjunto de cestas entre as quais o indivíduo é indiferente. Quantidade de x Quantidade de y x1 y1 y2 x2 U1 As cestas (x1, y1) e (x2, y2) geram o mesmo nível de utilidade Taxa Marginal de Substituição • A inclinação negativa de uma curva de indiferença em um determinado ponto mostra a taxa marginal de substituição (TMS) naquele ponto. Quantidade of x Quantidade de y x1 y1 y2 x2 U1 1 UUdx dy TMS Taxa Marginal de Substituição • TMS muda quando 𝑥 e 𝑦 mudam. – reflete o desejo individual de trocar 𝑦 por 𝑥. Quantidade de x Quantidade de y x1 y1 y2 x2 U1 Em (x1, y1), a curva de indiferença é mais inclinada. O indivíduo estaria disposto a abrir mão de uma quantidade maior de y para receber uma unidade adicional de x. Em (x2, y2), a curva de indiferença é menos inclinada. O indivíduo estaria disposto a abrir mão de uma quantidade menor de y para receber uma unidade adicional de x. Taxa Marginal de Substituição – se a TMS é decrescente, então as curvas de indiferenças são estritamente convexas. Quantidade de x Quantidade de y U1 A B Mapa de Curvas de Indiferença • O quadrante 𝑥, 𝑦 é totalmente preenchível com curvas de indiferença, cada uma correspondendo a um nível de utilidade. Quantidade de x Quantidade de y U1 < U2 < U3 U1 U2 U3 Aumento de utilidade Transitividade • Curvas de indiferença podem se cruzar? Quantidade de x Quantidade de y U1 U2 A B C • O indivíduo é indiferente entre A e C. • O indivíduo é indiferente entre B e C. • Transitividade sugere que este indivíduo seja indiferente entre A e B. Entretanto, B é preferível a A pois B tem mais x e mais y que A. Convexidade • Um conjunto de pontos é convexo se dois pontos podem ser ligados por uma reta que está inserida nesse conjunto (axioma da convexidade). Quantidade de x Quantidade de y U1 A hipótese de TMS decrescente é equivalente à hipótese de que todas as combinações de x e y que são preferíveis a x* e y* formam um conjunto convexo. x* y* Convexidade Quantidade de x Quantidade de y U1 x2 y1 y2 x1 Isto implica que cestas balanceadas sejam preferíveis a cestas não balanceadas. (x1 + x2)/2 (y1 + y2)/2 • Se a curva de indiferença é convexa, então a cesta (𝑡 ∙ 𝑥1 + 1 − 𝑡 ∙ 𝑥2; 𝑡 ∙ 𝑦1 + 1 − 𝑡 ∙ 𝑦2) é preferível às cestas (𝑥1, 𝑦1) e 𝑥2, 𝑦2 , ∀𝑡 ∈ (0,1). Em particular, se 𝑡 = 1 2 : Utilidade e a TMS • Suponha que as preferências de um indivíduo por hambúrguer (y) e refrigerante (x) possa ser representada por: 𝑈 = 𝑥 ∙ 𝑦 • Calcule a TMS: 𝑈 = 10 100 = 𝑥𝑦 → 𝑦 = 100 𝑥 → 𝑇𝑀𝑆 = − 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 100 𝑥2 Utilidade e a TMS 𝑇𝑀𝑆 = − 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 100 𝑥2 Note que a medida que o x aumenta, a TMS diminui. – quando x = 5, TMS = 4 – quando x = 20, TMS = 0.25 Alternativa para calcular a TMS • Suponha que um indivíduo tenha a seguinte função utilidade: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥, 𝑦) • A utilidade marginal de x é dada por: 𝑀𝑈𝑥 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥 • A diferenciação total de U é: 𝑑𝑈 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥 ∙ 𝑑𝑥 + 𝜕𝑈 𝜕𝑦 ∙ 𝑑𝑦 Alternativa para calcular a TMS • Ao longo de qualquer curva de indiferença, a utilidade é constante (dU = 0). • Então: 𝑇𝑀𝑆 = − 𝑑𝑦 𝑑𝑥 𝑈=𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥 𝜕𝑈 𝜕𝑦 • TMS é igual à razão entre a utilidade marginal de 𝑥 e a utilidade marginal de 𝑦. Teorema da Função Implícita • Nem sempre é possível transformar 𝑓(𝑥, 𝑦) em 𝑦 = 𝑔(𝑥). Nestes casos, use o Teorema de Função Implícita: 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = − 𝜕𝑓 𝜕𝑥 𝜕𝑓 𝜕𝑦 Exemplos de Funções Utilidade • Cobb-Douglas: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦 onde e são constantes positivas. – O tamanho relativo de e indica a importância relativa entre os bens. Exemplos de Funções Utilidade • Substitutos Perfeitos: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥, 𝑦) = ∙ 𝑥 + ∙ 𝑦 Quantidade de x Quantidade de y U1 U2 U3 As curvas de indiferença serão lineares. A TMS será constante ao longo de toda a curva de indiferença. Exemplos de Funções Utilidade • Complementos Perfeitos: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥, 𝑦) = min( ∙ 𝑥; ∙ 𝑦) Quantidade de x Quantidade de y As curvas de indiferença terão formato de “L”. Somente aumentando a quantidade dos dois bens é que a utilidade aumenta. U1 U2 U3 Exemplos de Funções Utilidade • CES (Elasticidade Substituição Constante): utilidade = U(x,y) = x/ + y/ quando 0; Ou: utilidade = U(x,y) = ln x + ln y quando = 0 – Substitutos Perfeitos = 1 – Cobb-Douglas = 0 – Complementos Perfeitos = - Preferências Homotéticas • Se a TMS depende somente da razão do montante dos dois bens, e não das quantidades totais, a preferência é dita homotética. Matematicamente: 𝑇𝑀𝑆 = − 𝑑𝑦 𝑑𝑥 𝑈 = − 𝑓𝑥 𝑥 𝑦 ,1 𝑓𝑦 𝑥 𝑦 ,1 • Se as preferências são homotéticas, então: i. as curvas de indiferença são muito parecidas. ii. 𝑋~𝑌 → 𝛼𝑋~𝛼𝑌 Preferências Homotéticas • Substitutos Perfeitos TMS é igual em todos os pontos. • Complementos Perfeitos – TMS = se y/x > /; – TMS indefinida se y/x = /; – TMS = 0 se y/x < /. • Para a Cobb-Douglas, a TMS é dada por: 𝑇𝑀𝑆𝐶𝐷 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥 𝜕𝑈 𝜕𝑦 = 𝛼𝑥𝛼−1𝑦𝛽 𝛽𝑥𝛼𝑦𝛽−1 = 𝛼 𝛽 ∙ 𝑦 𝑥 Preferências Não Homotéticas • Algumas funções utilidade não apresentam preferências homotéticas. Exemplo: 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑈(𝑥, 𝑦) = 𝑥 + ln𝑦𝑇𝑀𝑆 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥 𝜕𝑈 𝜕𝑦 = 1 1 𝑦 = 𝑦 Caso com n-bens • Suponha uma função utilidade com n bens dada por: utilidade = U(x1, x2,…, xn) • A diferenciação total de U é: 𝑑𝑈 = 𝜕𝑈 𝜕𝑥1 ∙ 𝑑𝑥1 + 𝜕𝑈 𝜕𝑥2 ∙ 𝑑𝑥2 + ⋯ + 𝜕𝑈 𝜕𝑥𝑛 ∙ 𝑑𝑥𝑛 Caso com n-bens • Podemos encontrar a TMS entre quaisquer dois bens fixando 𝑑𝑈 = 0 e as quantidades de quaisquer outros bens. j i i j ij x U x U dx dx xxTMS )por ( j j i i dx x U dx x U dU 0 Caso com n-bens • Definimos uma superfície de indiferença como sendo o conjunto de pontos em n dimensões que satisfaz a equação: U(x1,x2,…xn) = k onde k é uma utilidade pré determinada. • Infelizmente, este caso não é possível ser tratado graficamente. • Dados os preços 𝑝1, 𝑝2 … 𝑝𝑛 dos bens 𝑥1, 𝑥2 … 𝑥𝑛 e a renda do indivíduo é dada por 𝐼, então a restrição orçamentária (RO) delimita o conjunto de possibilidade de consumo: 𝑝1𝑥1 + 𝑝2𝑥2 + ⋯+ 𝑝𝑛𝑥𝑛 ≤ 𝐼 • Para dois bens: 𝑝1𝑥1 + 𝑝2𝑥2 ≤ 𝐼 Restrição Orçamentária xp I yp I y x Restrição Orçamentária • O que ocorre quando a renda do indivíduo aumenta de I para I’? xp I yp I y x xp I' yp I' A reta orçamentária se desloca para a direita, aumentando as possibilidades de consumo do indivíduo. • O que ocorre quando o preço de um bem aumenta? Por exemplo, 𝑝𝑥 aumenta para 𝑝𝑥 ′ . Restrição Orçamentária ' xp I yp I y x xp I A reta orçamentária ficará mais inclinada, diminuindo as possibilidades de consumo do indivíduo. Anpec – Prova 2006 – Questão 01 Com base na teoria das preferências, avalie as afirmativas: Ⓞ Se as preferências entre dois bens para um consumidor são completas, reflexivas, transitivas e monotônicas, então o módulo da taxa marginal de substituição será decrescente ao longo de suas curvas de indiferença. ① Se yxyxU 2,min3100),( for a função utilidade de um consumidor, as preferências deste serão convexas. ② Se as preferências de um consumidor são transitivas isto implica que este prefere mais bens do que menos. ③ Um indivíduo com preferências estritamente côncavas entre dois bens especializa-se no consumo de um dos bens. ④ 3),( yxyxU é a função utilidade do consumidor A e 100),( 22 yxyxU é a função utilidade do consumidor B. Caso os dois tenham a mesma renda, suas cestas de consumo serão idênticas. Anpec – Prova 2002 – Questão 01 Em relação à teoria das preferências, julgue os itens a seguir: (0) Os pressupostos de que as preferências são completas e transitivas garantem que curvas de indiferença distintas não se cruzam. (1) Quando as preferências de um indivíduo são tais que X = {x1,x2} é estritamente preferível a Y = {y1,y2} se e somente se (x1 > y1 ) ou (x1 = y1 e x2 > y2 ), as curvas de indiferença são conjuntos unitários. (2) Curvas de indiferença circulares indicam que o pressuposto de convexidade das preferências não é válido. (3) A convexidade estrita das curvas de indiferença elimina a possibilidade de que os bens sejam substitutos perfeitos. (4) Considere um alcoólatra que beba pinga ou uísque e que nunca misture as duas bebidas. Sua função de utilidade é dada por u(x,y) = max (x, 2y), em que x e y são números de litros de pinga e uísque, respectivamente. Esta função de utilidade respeita o princípio de convexidade das preferências. Respostas • Q01 – 2006: F V F V V • Q01 – 2002: V V F V F ANEXO Funções Quase-Côncavas e Preferências Convexas Funções Quase-Côncavas • Considere uma função 𝐹: 𝑅+ 𝑛 → 𝑅 . Considere 𝑥, 𝑦𝜖𝑅+ 𝑛 e 𝑧 = 𝛼𝑥 + 1 − 𝛼 𝑦, tal que 0 < 𝛼 < 1. A função 𝐹 é dita quase-côncava se 𝐹(𝑧) ≥ min{𝐹 𝑥 , 𝐹 𝑦 }. • Em 𝑅2, quase-concavidade é garantida se a função de utilidade: 𝑓2 2𝑓11 − 2𝑓1𝑓2𝑓12 + 𝑓1 2𝑓22 ≤ 0 Funções Estritamente Quase-Côncavas • Considere uma função 𝐹: 𝑅+ 𝑛 → 𝑅 . Considere 𝑥, 𝑦𝜖𝑅+ 𝑛 e 𝑧 = 𝛼𝑥 + 1 − 𝛼 𝑦, tal que 0 < 𝛼 < 1. A função 𝐹 é dita estritamente quase-côncava se 𝐹 𝑧 > min{𝐹 𝑥 , 𝐹 𝑦 }. • Em 𝑅2, quase-concavidade estrita é garantida se a função de utilidade: 𝑓2 2𝑓11 − 2𝑓1𝑓2𝑓12 + 𝑓1 2𝑓22 < 0 Concavidade e Preferências • Por fim, vale ressaltar que: • Funções de utilidade quase-côncavas gerarão preferência convexas. • Funções de utilidade estritamente quase-côncavas gerarão preferências estritamente convexas.
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