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2 3 Dedico esse livro à... Deus, a razão da minha música e o epicentro do meu afã por essa arte, e a razão de minha precoce imersão... Bendito seja o Seu nome eternamente. (O macaco) Minha mãe Valdelice Araújo (In memoriam), minha incentivadora primeira e incansável defensora dos meus sonhos, e fã incondicional das minhas primeiras composições. Meu exemplo de carácter, coragem, amizade, trabalho, e sobre tudo exemplo de vida Cristã. Um silêncio que engoliria Hydra... (O emissário) Minha esposa Lídia Araújo, pelo afinco com que se apropriou desse meu sonho, não me deixando desistir mesmo em momentos de raro ânimo. Passando ela mesma, a sonhar o sonho que eu, na minha ingenuidade, pensei ser apenas meu... Obrigado “B”. Sem você ainda 4 seria apenas uma ideia em um papel. Até desabarem... (O menestrel) Meu filho Daniel Araújo, minha mais importante composição... Minha inspiração e principal alvo do meu legado. Herdeiro da paz, amigo fiel, dono da alegria. Desejo que sejas amigo do bem, coerdeiro com Cristo, amante da música e sobre tudo o mais leal dos homens, mas se não conseguires de tudo ser leal, e surgir a oportunidade... Que enganes somente a morte. Eu te amo. (Tipapai) Todos meus alunos online ou não, e quantos incentivaram a feitura desta obra, o meu mais sincero muito obrigado. Aproveitem a leitura e boa músicaaaaaa!!! Ed Araújo 5 “A harmonia é uma incrível ferramenta. E como toda ferramenta, precisa de um artista.” Ed Araújo. CAP I – Caro leitor seja muito bem vindo ao incrível mundo dos estudos musicais. Espero que sua estadia por aqui possa ser tanto prazerosa quanto esclarecedora. E vamos começar falando de música... Nesse capítulo introdutório eu vou fazer duas coisas especificamente. Vou explicar como a música chegou à forma como nós a conhecemos e como a harmonia se modernizou até o ponto que a encontramos hoje. Bem, e para isso eu vou ter que contar um pouco da história de alguns personagens muito importantes. Então senta que lá vem a história… 6 O período Barroco (cerca de 1600 a 1750) Vou começar pelo ano de 1600, a 1750 d.c., durante o período barroco, quando a nossa harmonia teve um grande avanço. Ela se desenvolveu demais na seguinte ideia: uma melodia principal com um acorde apoiando e uma linha de baixo. Aí você fala: poxa, mas, isso aí é normal… Na verdade não era não. É normal hoje, mas na época era muito revolucionário pensar assim. E um dos precursores dessa ideia foi ninguém menos que Johann Sebastian Bach. 7 Sim o velho João Sebastião acreditava nessa ideia revolucionária, de que a melodia principal precisava de um acorde de apoio (base), e os baixos soando para completar todo o espectro musical. Outra coisa que é muito comum hoje, mas que não era na época é a música ter seu tom (campo harmônico), na época não era, e as músicas eram compostas em cima de modos. Isso também é uma coisa que Johann Sebastian Bach começou a mudar. Johann Christian Bach (Leipzig, 5 de setembro de 1735 – Londres, 1 de janeiro de 1782) foi um compositor alemão, o filho mais jovem de Johann Sebastian Bach. Viveu um bom tempo de sua vida na Inglaterra, motivo pelo qual ficou conhecido como "Bach Londrino" ou o Bach Inglês. 8 A música modal começou a se tornar tonal, e isso começou a revolucionar a forma de pensar as harmonias e progressões harmônicas. Era o nosso agora tão conhecido campo harmônico começando a fazer escola. Outra coisa muito fácil de pensar, porque conhecemos muitas músicas assim, são as modulações que começaram a surgir, ou seja, uma mesma música existir em tons diferentes. A estrofe em um tom, o refrão em outro. Ex: Estrofe em G e o refrão em Bb = Above All | Michael W. Smith. Até isso de estrofe e refrão, quando pensamos em músicas daquela época, as estruturas não eram exatamente assim não. “O ciclo” de Wagner, por exemplo, durava 18 horas. Você passava quase um dia inteiro escutando uma única música. O período Romântico (séc. XIX) O período romântico que já era no final do século XIX e nesse tempo, muito da música como conhecemos hoje começou a se evidenciar. 9 No final do século XIX os autores buscavam uma música muito mais passional, emocionalmente expressiva, por isso precisavam também de uma harmonia que concordasse com isso. Então aconteceu algo que você nunca vai imaginar fazer em uma música. Eles começaram a usar sétimas e nonas. Imagina fazer um acorde de Dó com uma sétima maior!? Eu sei que é engraçado porque a gente usa muito isso, mas é para você ver como a música era diferente. Eles começaram a usar sétimas maiores, nonas, e isso para eles, significou uma mudança harmônica muito grande, porque não era muito comum até então, esse emprego de sétimas e nonas nos acordes. Começou então, a ficar mais rica a harmonia daquele tempo. Você sabe que soa bem mais sofisticado. Você faz um “dózão cara de pau” na função tônica, em seguida você faz um Dó com sétima maior, fica diferente. Ele dá aquele 10 ar mais sofisticado e triste, ainda mais para música romântica. Eles também começaram a usar modulações e cromatismos, que já vinham sendo usados no período barroco, por compositores que pensavam fora da caixinha. Isso começou a se intensificar durante o período romântico. No séc. XX No século passado, começaram a surgir uma série de mudanças bem interessantes. Se o pessoal do período barroco considerou um avanço incrível alguns autores romperem com o sistema modal e adotarem o tonalismo, imagina no século XX?! Alguns compositores já vinham desde o século XIX fazendo modulações. As canções entravam num tom, mudavam para outro, voltavam para o primeiro. Era de deixar os mais conservadores de cabelo em pé. 11 Nessa época surgiram compositores com coragem de romper como o óbvio, e posso citar dentre eles, o compositor Claude Debussy, Richard Wagner e muitos outros, que tiveram coragem de fazer essas loucuras. Debussy estudou muito, ganhou bolsa para estudar em Roma, era um cara que conhecia muito a metodologia e a forma convencional. E é esse cara, com formação convencional, que começou a pensar fora da caixinha e falou: “Eu vou fazer música com liberdade”. Quando Debussy volta de Roma para Paris, ele conhece a vanguarda artística e literária. O compositor francês junto com Maurice Ravel foram as figuras mais proeminentes 12 associadas com a música impressionista, embora Debussy não tenha gostado do termo quando aplicado a suas composições. Ele foi feito Chevalier da Legião de Honra em 1903. Debussy foi um dos compositores mais influentes do final do século 19 e início do século 20, e seu uso de escalas não tradicionais e cromatismo influenciou muitos compositores que se seguiram. Durante suas visitas a Bayreuth em 1888-9, Debussy foi exposto a musica de Wagner, o que teria um impacto duradouro sobre o seu trabalho. Debussy, como muitos jovens músicos da época, respondeu positivamente à sensualidade de Richard Wagner e às harmonias marcantes. O emocionalismo extrovertido de Wagner não era para a “pegada” de Debussy, mas a influência do compositor alemão é evidente em La damoiselle Élue de 1889. Não dá para fazer uma coisa linda como a música caber num conceito. A música é maior que conceitos. Os conceitos sim servem à música. 13 Os músicos impressionistas começaram a usar acordes alterados, clusters, quartais, cromatismos, e todas as formas possíveis... Alguns começaram a usar até mesmo politonalismos. Imaginem oscompositores da época fazendo aquelas peças “super-redondinhas” para orquestra, e de repente surgem os impressionistas com acordes que eram tudo menos triádicos!? Vamos tratar dessa disciplina mais a frente. Acordes construídos em uma estrutura de quartas superpostas. Aquilo desafiava o óbvio. Essas obras surgiram a partir do que foi descrito como a "crise da tonalidade" entre o final do século XIX e início do século XX na música erudita europeia. Cabeças explodiram. Chegou ao ponto em que Igor Stravinsky (foto ao lado) achou que politonalidade não bastava. Ele começou a trabalhar com atonalismos extremos. 14 O que seria atonalismos extremos? Penso que seja um desafio à compor sem a âncora de um modo, ou de um tom que pudesse tornar as progressões e os acordes mais previsíveis, e consequentemente mais diatônicos. Foi então que o Jazz herdou essa herança visionária. E através de seus grandes e inesquecíveis vultos, dentre eles cito aqui: Charlie Parker, John Coltrane, Miles Davis, Bill Evans, etc... Esses nomes fizeram uma música que fez o mundo prestar atenção no que estava acontecendo. Todos esses grandes autores do Jazz mundial, acabaram sendo influenciados pelos impressionistas do início do século. 15 Isso impactou diretamente a música que viria. O mais afetado por essa “reação em cadeia”, pelo menos no inicio, talvez tenha sido o Jazz. Quem conhece o Real Book e toca alguns Standards de Jazz, sabe do que eu estou falando. Músicas que eram completamente incríveis. Progressões que propunham caminhos diferentes dos convencionais. A criatividade era a palavra de ordem. Quando a gente fala de Debussy e lembra que ele tinha aquelas “viagens” de fazer uma quinta seguida de outra quinta seguida e de mais outra… uma harmonia composta por um ciclo de dominantes… Hoje quando você vê alguém fazendo um tema com uma sequência de dominantes, que chamamos de quinto cadencial, progressões muito estudadas hoje em dia, você diz: Nossa, o cara inovou! Se você imaginar que um cara que viveu nos idos de 1880, só para citar Debussy, Ravel, Wagner dentre outros, que já naquela época faziam isso. Veja bem... Eu estou falando do final do século XIX começo dos XX, percebemos o 16 quanto algumas novidades são antigas. Não é mesmo?! A gente tem que saber de onde vem a música que nos influenciou. As harmonias que tocamos hoje, boa parte delas vêm sendo estudadas e pesquisadas há quase 300 anos. Se você pensa que elementos chaves como quartais, trítonos, cromatismos, acordes de estrutura alterada são coisa do nosso tempo, de Neo Soul, de Harmony Urban e estilos contemporâneos, caro leitor você não poderia estar mais perdido na história da música. Se considerarmos desde Bach, nós estamos falando de quase 500 anos de evolução a se considerar. E, é óbvio que toda essa revolução causada pelo jazz, acabou se desdobrando em um movimento muito responsável pela música que a gente conhece hoje, pelo menos a música instrumental, que foi o Fusion. Muito do que chamamos de Jazz hoje, nem é Jazz, é Fusion. 17 O fusion mais primitivo teve um “boom” naquele movimento da Mahavishnu Orchestra. Banda criada em 1970 por John McLaughlin (guitarra), e composta em sua primeira formação por McLaughlin, Billy Cobham (bateria), Rick Laird (baixo), Jerry Goodman (violinos elétrico e acústico) e Jan Hammer (piano elétrico, sintetizadores). Esse movimento muito importante continuou fazendo escola e se popularizando graças a influência de nomes como: Armando Anthony "Chick" Corea, Herbie Hancock, Josef Erich "Joe” Zawinul (De 7 Julho, 1932 – a 11 Setembro, 2007) e eu estou falando só de tecladistas. Tem muitos outros grandes músicos desse cenário e que fizeram muita coisa pela música desse tempo. Assim como 18 surgiram muitos outros estilos igualmente influenciados por essas vertentes já citadas. Posso citar como exemplo a Bossa Nova. Você pega uma música de Bossa Nova e logo percebe que não tem um acorde triádico naquela harmonia. Aquelas progressões super sofisticadas da bossa nova, inegavelmente apresentavam sintomas claros da influência de estilos precursores. Eu quero destacar aqui entre tanto autores do estilo, Tom Jobim. Antônio Carlos Jobim foi um expoente do estilo e um representante da música brasileira, cuja colaboração ímpar sobre tudo no cenário internacional, imortalizou-o e não apenas ele, mas todo um estilo de fazer música. João Donato de Oliveira Neto, mais conhecido apenas como João Donato, é um pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor brasileiro. Recomendo a pesquisa da obra. Donato 19 foi amigo de todos os expoentes do movimento bossanovista. Marcos Kostenbader Valle é um compositor, cantor, instrumentista e arranjador brasileiro. Começou a estudar piano clássico aos seis anos de idade e formou-se em piano e teoria musical em 1956. Em 1964, sua canção Samba de Verão atingiu o segundo lugar nas paradas de sucesso estadunidenses, e teve pelo menos 80 versões gravadas nos EUA. A música daquele tempo ficou muito, muito rica, afinal havia uma cultura de se estudar harmonia por conta do estilo musical em destaque na época. É raro achar, mesmo hoje em dia, um músico de Bossa Nova ou MPB que não tenha estudado seriamente um pouco de harmonia funcional. Tente imaginar um músico de Jazz, Gospel, Harmony Urban, Neo Soul ou qualquer outro estilo do gênero, que 20 não tenha estudado seriamente harmonia funcional. E é por isso, que iremos falar de harmonia agora. Harmonia tradicional X harmonia funcional Eu quero falar mais um pouco sobre a diferença da harmonia tradicional e a harmonia funcional. É importante você entender que não é harmonia clássica, é um erro chamar até música de música clássica. É música erudita. É música do período clássico? É. Mas tem música erudita que é do período barroco, então seria música barroca e não clássica... Entendeu?! Então chama-se música erudita. A harmonia tradicional também não é diferente. Ela existe por um motivo, assim como o seu nome. A harmonia tradicional consiste basicamente em uma harmonia que tem como preocupação, a construção de cada acorde prezando pela condução das vozes. Ou seja, a forma como eu monto o meu acorde, vai estar mais preocupada com a condução das vozes (intervalos) para que todos os instrumentos possam soar de forma mais orgânica, mais harmônica, mais conjunta. 21 Lembrando que esse pensamento vem muito do período barroco, por causa da escrita do canto coral. Arranjos para um quarteto de vozes, um sexteto de cordas, um octeto de metais… era muito importante as vozes estarem em consonância. A harmonia funcional é mais preocupada e orientada pela função harmônica que cada acorde deve desempenhar dentro da progressão, dentro do diálogo harmônico. Sabe aquelas funções que estudamos no campo harmônico? Tônica, Subdominante, Dominante, Supertônica, etc... Essas funções são o que preocupam mais a harmonia funcional. Ela é mais preocupada com a função de cada acorde dentro do campo harmônico, do que com condução de vozes. E o que isso muda? Dá-nos uma liberdade enorme para construir o acorde. Por exemplo, eu não preciso me preocupar em usar um acorde triádico em terça superposta, Dó, Mi Sol, e na sequência, usar um acorde quartal. Por quê? Porque eu não preciso me preocupar em como o encadeamento de uma voz, vai 22 conectar na outra dentro da progressão. Eu estou mais preocupado em como a harmonia vai soar como um todo, e em como aquele acorde está funcionando dentro do papel dele no campo harmônico. É muito maisfácil montar alguma progressão com o clima esperado, como eu citei aqui do período romântico, quando eu tenho essa liberdade para construir o meu acorde. Vale a pena lembrar que a harmonia funcional é apenas uma evolução da harmonia tradicional. Ela não é uma coisa que surgiu sozinha, ela evoluiu da outra. Então, como eu contei aqui um pouquinho para você, a gente vai vendo que uma descoberta vai favorecendo outra, que vai favorecendo outra, e a música vai mudando, vai evoluindo. Na verdade eu queria colocar aqui que a música não evolui. Somos nós que ao longo dos anos evoluímos para entender a grandeza da música. Falando um pouquinho do estudo da harmonia. Qual a importância do estudo da harmonia para o músico em geral? 23 É complicado… Antigamente não se pensava um músico que não conhecia, ou não estudasse harmonia. Mesmo que fosse a harmonia tradicional, você tinha que conhecer. Então eu vou falar um pouco disso para você. Compositores e estudantes de composição, gente que pretende compor ou que pretende estudar e entender uma composição, mesmo que você não seja um compositor… você precisa de um conhecimento vasto de harmonia. Imagine criar qualquer linha de melodia, seja para um instrumento, seja para um cantor, sem imaginar a harmonia?! É como se você criasse uma linha melódica, sem ter ideia do efeito que ela vai causar em alguém. Preocupando-se só com a letra e com a melodia. Você se lembra daquelas músicas antigas de cinema? Aquelas trilhas épicas com tambores que dava uma sensação de grandeza e heroísmo?! Pesquisem trilhas memoráveis de filmes como Tubarão (Main Title) que provoca medo e ou suspense, Ben-hur (Overture) passa uma sensação de grandeza, essas duas trilhas são do grande mestre John Willians, ou mesmo o tema principal do filme Carruagens de Fogo, esse último é realmente 24 genial, dá uma sensação de que o Olimpo está realmente representado no filme, uma obra prima do incrível músico e compositor grego Vangelis. Hoje em dia muitas músicas Gospel têm se utilizado de tambores também, dando um clima de guerra, porque a música tem esse poder. Para você conseguir causar isso na sua audiência, nos seus expectadores, você precisa entender de harmonia, saber como uma harmonia afeta as pessoas. Até um acorde, um acorde maior ou menor, pode ser alegre ou triste. Imagine o seguinte... Um contratante procura por você e dispara: “Aqui, faz um arranjo para essa música. Re-harmonize, faça um arranjo novo para ela”. Como se você não sabe nada de harmonia? Você pode sair inventando? Pode. Pode copiar ideias que ouviu em trabalhos de outras pessoas? Pode. Pode apenas dar um sofisticada na ideia inicial que lhe foi apresentada? Pode. Mas sejamos francos. Em todas as hipóteses acima você estará voando as cegas. Você não conhece os elementos necessários para o trabalho. Logo, sua 25 ignorância a respeito de um assunto tão necessário será um peso a ser carregado. Isto é um fato. E agora isto... Como improvisar sem conhecer acordes? “Alguém faz um acorde com estrutura alterada”, ou seja, um acorde que tenha uma quinta aumentada, por exemplo. Um músico sem conhecimento de harmonia pode fazer uma escala que tenha uma quinta justa; quando ele tocar a quinta o acorde vai parecer errado. “Ué, eu errei?” Conhecer a estrutura de um acorde é boa parte de saber improvisar. Como é que você improvisa em cima de uma coisa que você não conhece? O cara fez uma diminuta para fazer um 2-5-1, você vai improvisar em cima, a quinta é bemol, a terça é menor, a sétima não é sétima, é sexta. Então, que escala você faz? 26 Análise harmônica. Você sabe o que é uma análise harmônica? É por exemplo pegar a música de um artista que você admira, e fazer a análise harmônica da música inteira. Para que eu iria fazer isso? Para aprender os conceitos que nortearam aquela ideia. Saber o que tal músico pensou quando compôs a música que você tanto gosta. Analisar a harmonia de uma música é aprender, absorver, é ver pelos olhos do seu ídolo, o seu músico de referência, a música que você irá fazer no futuro. Vamos dizer que você adore os Beatles. Você é fã dos Beatles. Então, pegue todas as músicas dos Beatles e faça uma análise harmônica. Quando for compor uma música, vai poder compor com harmonias similares a dos seus ídolos, e o mais importante, as sacadas que os músicos tiveram. 27 É claro que no caso dos Beatles, eles são uma grande escola de acorde perfeito maior, mas não é uma grande escola de harmonias difíceis. Vamos dar uns exemplos do nosso país: Djavan. Tom Jobim. Ivan Lins. João Bosco. Esses são grandes harmonizadores. Se fizer uma análise harmônica da obra desses autores, você entrará em uma viagem armado apenas com sua criatividade, porém do outro lado da análise, você vai se tornar um músico extremamente sofisticado. Esses músicos, para se tornarem os músicos que foram, também fizeram análises harmônicas de músicos antes deles. Então se o cara é um maestro, escreve para um grupo, ele não vai conseguir, porque ele fez um acorde superdifícil, mas não sabe como colocá-lo numa cifra. Porque ele não sabe se tem sétima, se tem nona, se é com décima terceira, não sabe nada. Fica complicado transcrever peças musicais dessa maneira. O estudo de harmonia funcional é uma indispensável ferramenta, porém cabe aqui um importante lembrete. 28 Não deixe a harmonia limitar você. Use-a como uma ferramenta. Componha seus arranjos, suas ideias musicais, sempre usando a harmonia a seu favor e nunca como uma regra, que vai limitar sua criatividade. Vai chegar um tempo em que a música que você está fazendo, será um avanço incrível. Então não menospreze a importância dessa ferramenta, mas também não deixe que ela seja o centro da sua criatividade. 29 “Agarre-se ao conhecimento como um apaixonado… se você amar a música, ela vai amar você” Ed Araújo. CAP II - Nesse segundo capítulo nós vamos falar um pouco sobre notas e sobre frequências. Como surgiram, ou como foram descobertas. Tudo sobre notas, porque são as notas que compõem o acorde, que compõem as progressões e nós precisamos entender tudo sobre esse assunto que é fantástico. Pitágoras Eu queria falar para você a princípio sobre um filósofo e matemático. Na verdade o pai da matemática, Pitágoras de Samos. “Espere, o que é isso cara? Pitágoras? Filósofo? Eu vim aqui aprender harmonia.” 30 Seja paciente caro leitor e, você vai entender. Pitágoras era de 570 a.c., ele nasceu na ilha grega de Samos, por isso Pitágoras de Samos (não era um sobrenome, era referência à ilha de onde ele veio). Ele viajou bastante com seu pai, eles tinham recursos. Estudou com os melhores professores, e alguns desses professores eram filósofos. Tocava lira. Ele era músico, não era um alguém curioso apenas. Aprendeu aritmética, geometria, astronomia, poesia, era um jovem que estudou demais. Acabou sendo o pai da matemática por desenvolver o pensamento matemático e a escola pitagórica. Foi também o precursor do estudo de teoria musical. Lenda Tem uma lenda muito legal, que conta que Pitágoras estava passando em uma rua e ouviu na oficina de um 31 ferreiro, homens batendo o martelo, forjando ferro, e cada batida de martelo tinha um som diferente na cabeça dele. Ele ficou intrigado com aquilo e percebeu que dependendo do tamanho ou peso do martelo, o som saía diferente. Um resumo da história é que Pitágoras criou um instrumento chamado monocórdio. E como o nome diz, era um instrumento de uma corda. Ele marcou doze espaços iguaisentre as pontas que prendiam a corda no instrumento e percebeu que cada espaço desse tinha um som. Assim ele foi descobrindo intervalos entre essas notas. Ele achou uma oitava, uma quinta, uma quarta… intervalos interessantes, ele percebeu que um som, era o mesmo do outro, porem mais agudo. Foi talvez o primeiro a registrar essas notas com seus respectivos intervalos. 32 Os pitagóricos, que foram os seguidores de Pitágoras mais tarde, foram um dos poucos movimentos, senão o único, a estudar a música de forma científica. A estudar a teoria musical, até o advento de Aristóteles. Estamos falando aqui de quase 600 a.c. Naquele tempo já haviam pessoas estudando música de forma científica. E nós vamos estudar no próximo capítulo esses intervalos musicais também. Este é um estudo muito importante, porque o estudo dos intervalos musicais é uma coisa vital para a compreensão da música. Não é legal saber que quase 600 a.c. já tinha alguém num “instrumentozinho” de uma corda, pesquisando a relação das notas e seus intervalos, e nós estamos hoje, aqui estudando a mesma coisa?! Pensar que tinha um músico, lá na Grécia com uma corda amarrada a um pedaço de 33 pau estudando a mesma coisa da qual trata este livro. Isto com certeza é uma inspiração. Vemos então que não é uma questão de oportunidade ou tecnologia. O estudo da música é uma questão de vocação. E, isso é uma primeira coisa a se identificar. Guido D'Arezzo Existiu um homem chamado Guido D’Arezzo, ele era um monge, regente do coral da catedral de Arezzo, na Toscana, Itália. 34 Guido D’Arezzo sentiu uma necessidade, aproximadamente 900 anos depois de Cristo de registrar as ideias musicais dele, os arranjos que fazia. Lembrando que as notas ainda não tinham nome. Você consegue imaginar, que quase 100 anos depois de Pitágoras ter registrado os intervalos e descoberto a relação entre as notas, ninguém sequer havia colocado nome nas notas?! O estudo da música era uma tradição muito oral. Você passava para seu filho e ele para o filho dele. Ou você ia a um mosteiro estudar, e era uma música religiosa. A música ia passando de geração em geração de maneira muito pessoal. Obviamente, a música ia sendo alterada a cada novo intérprete que tocasse essa música, porque cada um que toca uma música coloca um pouco de si nessa música. Muitas dessas músicas, nós nunca vamos saber como de fato foram compostas. 35 Quem é cristão sabe que muitos dos salmos que lemos, até hoje ninguém sabe qual eram as suas melodias. Afinal, não havia um sistema de registro até 990 anos depois de Cristo, quando um monge chamado Guido D’Arezzo, sentiu uma necessidade de criar um registro, que ficasse conhecido para todo mundo. Um registro com o qual os músicos tivessem a oportunidade de guardar as suas músicas com altura e tempo de duração de nota, que é o que chamamos de partitura hoje. Uma das primeiras medidas que Guido tomou logo no começo foi a de nomear as notas. Naquela época São João Batista era considerado o padroeiro dos músicos. Guido D’Arezzo, como você deve saber era um monge católico. Até hoje, se você pensar, a linguagem musical é em italiano... Da capo, ritornelo fortíssimo, pianíssimo… 36 Guido batizou as notas musicais da seguinte maneira. Ele pegou as 7 notas musicais e as batizou com o nome de cada sílaba inicial, de cada linha de um hino conhecido como Oração a São João Batista, onde ele pegou a primeira: Ut, segunda: Re, terceira: Mi, quarta: Fa, quinta: Sol, sexta: La e sétima: San. Mais tarde, ele acabou por uma questão puramente vocálica, uma questão de pronúncia, porque ele trabalhava com música cantada obviamente, mudando isso. O Ut passou a ser Do, e o San passou a ser Si. Então ficamos com Do, Re, Mi, Fa, Sol, La, Si. Guido criou um sistema de anotação musical, baseado em um sistema de quatro pautas: o tetragrama. Ut queant laxis Resonare fibris Mira gestorum Famuli tuorum Solve polluti Labii reatum Sancte Ioannes Que significa: "Para que teus grandes servos, possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João." 37 Hoje não utilizamos esse sistema. Hoje, usamos um com cinco pautas, que é o pentagrama. Guido D’Arezzo criou algumas partituras nesse sistema, e mais tarde, ele mesmo teve a ideia de acrescentar uma quinta pauta para aumentar a extensão da escrita. Quem já lê partitura sabe do que eu estou falando. Quanto mais grave ou aguda é uma nota, se faz necessário o uso de linhas suplementares, e isso facilitou que a extensão fosse mudada por Guido. Notas Falando sobre notas musicais, sabemos que a nota é o menor elemento de um som. Um acorde são várias notas soando ao mesmo tempo, mas se formos subdividir, não é o intervalo, e sim a nota que é o menor elemento de um som. Eu queria explicar um pouco sobre o som, porque quando falamos de notas, sempre estamos falando sobre som. 38 Quando um instrumento gera uma nota, sobretudo um instrumento de corda, como um violão, ou um violino ou piano (instrumentos onde uma corda vai tanger), quando aquela corda é ferida, o atrito do seu dedo naquela corda faz com que as moléculas de ar sejam movimentadas, e esse movimento tem uma frequência. Frequência A frequência dessa nota vai ser a frequência do seu instrumento. Se você colocar o dedo em lugares diferentes no seu violão, ele vai ter sons diferentes, e o seu teclado também, porque imita um piano. Cada vez que você bate em uma tecla do piano, ela vai bater em cordas de tamanhos diferentes, então o princípio de Pitágoras está aí: O tamanho da corda definindo a altura da nota e o intervalo entre as notas. O que eu estou querendo dizer com frequência? Se eu perguntar para você com que frequência vai ao colégio ou igreja, ou assiste a um filme, ou vai ao cinema, eu estou querendo saber quantas vezes você faz determinada coisa em um determinado espaço de tempo. Se eu pergunto para 39 você, com que frequência soa essa nota, significa que existe uma quantidade de vezes em que ela vibra por segundo, e isso vai determinar se essa nota é alta ou baixa, dentro do intervalo das notas. Se ela vai ser mais aguda ou mais grave, como falamos em português. Se ela vibra mais ou menos vezes. O nosso ouvido capta essa frequência, ou seja, quantidade de vezes em que as moléculas de ar estão sendo movimentadas, e o nosso ouvido atribui um som ao nosso cérebro. Tem gente que tem um ouvido absoluto, e ao escutar um som, sabe identificar se é um Do 3, um Do 4. Cada nota tem seu som característico, diferente. Isso está estabelecido pelo número de vezes em que ela vibra. Quando a gente fala em frequência, tem muita gente que pensa em um equalizador, e está certo, todo som tem frequência. A frequência não tem a ver com agudo ou grave, e sim com a quantidade de vezes em que uma coisa se repete, a quantidade de vezes que está vibrando. 40 Toda frequência tem nota. Quando você escutar o barulho de um cachorro latindo, tem nota. Pesquise sobre um músico brasileiro chamado Hermeto Pascoal. Vai descobrir que ele é um músico que percebeu isso, e ficou mundialmente conhecido por usar sons de animais nas suas músicas. Hermeto Pascoal tem um ouvido absoluto, é um músico incrível e percebeu quando garoto, que quando um passarinho cantava, era uma melodia. Hermeto conseguia tirar no cavaquinho, no acordeom, um som igualzinho. Tem pessoas que demoram a entender que todo som tem sua nota respectiva. 41 Existiu um físico alemão, que se chamavaHertz. Heinrich Rudolf Hertz. Ele fez muitas descobertas importantes para física mundial, e acabou tendo o seu nome, como homenagem, colocado a essa unidade de medidas que mede as frequências. Então hoje dizemos 400 Hertz, 2 Kilohertz ou 2000 Hertz. Antes do nome de Hertz ser atribuído à unidade de medidas que mede as frequências, o nome utilizado era Ciclos por Segundo - CPS. Acho que essa nomenclatura era mais amigável. Nada contra Hertz, a homenagem é válida e mais que merecida, mas quando você diz que uma nota está em 400 ciclos por segundo, o músico possivelmente entende melhor. Agora Heinrich Rudolf Hertz (Hamburgo, 22 de fevereiro de 1857 — Bonn, 1 de janeiro de 1894[1]) foi um físico alemão. Hertz demonstrou a existência da radiação eletromagnétic a, criando aparelhos emissores e detectores de ondas de rádio. 42 Hertz é um sobrenome alemão, e quando você diz que uma nota tem 400 Hertz, muitos não associam a frequência de vezes que essa nota está se movimentando, e acabam não entendendo. Você sabia que o Do central do piano, é o Do 3, e que tem 261 Hertz? Ou seja, ele vibra 261 vezes por segundo? E, para quem toca violão ou guitarra, sabia que o violão afinado em 440 Hertz é a frequência da quinta corda que seria de um La 3? Vibra 440 vezes por segundo? Cada frequência é uma nota. Você sabia que aquele barulho de microfonia na hora do culto, é uma nota? Tente encontrar na sua guitarra ou teclado o mesmo som... (Isso seria o que o Hermeto Pascoal faria). As notas estão aí o tempo todo. Você pode usar sons do ambiente para criar arranjos, mas sobretudo, entenda que não se cria harmonia sem acordes, e não se cria acordes sem notas. Vamos estudar sobre diversas formações de acordes, mas entenda primeiro que a nota talvez seja a coisa mais importante para um músico. 43 Imagina se você conseguir identificar uma nota de longe. Talvez você tenha uma maior facilidade para tirar melodias, e talvez você consiga encontrar acordes de forma mais rápida. Porque você passou a prestar atenção nas notas. Você que é tecladista, você sabe identificar se o Do que você está tocando é um Dó 3, Dó 1, Dó 2, Dó 4? Não fale apenas Dó. Não quando for nota. Você que gosta de usar cifra para denominar uma nota, saiba que toda vez que você coloca uma cifra, o músico pensa em acorde. Uma partitura é uma representação escrita de música padronizada mundialmente. Tal como qualquer outro sistema de escrita, dispõe de símbolos próprios (notas musicais) que se associam a sons. Não é comum no Brasil usarmos cifras para denominar notas. Para notas costumamos usar partitura. Para aqueles que não leem partitura porque acham complicado, acreditem em mim... É muito fácil aprender a 44 ler. O que é necessário? Só ler. Fique lendo. Eu sugiro que você leia partitura todo dia. A prática da leitura levará a um reconhecimento imediato quando for tocar uma canção. Agora, mesmo que você saiba ler partitura, se ficar um ano sem colocar a mão em uma partitura, vai ler de forma mais lenta e defasada. Partitura tem a ver com treino. É só praticar todo dia. Procure pegar todas as suas ideias musicais e escrever partitura. Tablatura (ou tabulatura) é uma forma de notação musical, que diz ao intérprete onde colocar os dedos em um determinado instrumento, em vez de informar quais notas tocar. Mas se começar a colocar tablaturas e um monte de coisas para substituir a leitura convencional, nunca vai conseguir ler. O que eu tenho percebido hoje em dia, que atrapalha muito os músicos de avançarem em suas performances, é 45 a falta de dedicação. Muitos músicos hoje tem muita preguiça para estudar. Tenho falado sempre: se você amar a música, se apaixonar por ela, ela vai amar você. O teclado vai te amar, o violão vai te amar. Aquele músico que faz um acorde que você não faz, é porque ele estuda mais tempo ou há mais tempo do que você. Então ele está melhor que você por uma questão de justiça simples: quem estuda e treina mais, aprende mais e executa melhor... Um amigo meu, quando alguém lhe desejava boa sorte, ele sempre respondia assim: “Não preciso de sorte, eu ensaiei.”. É uma coisa que parece arrogante, mas não é não. Quem ensaia, conhece a música. Está preparado. Fica tranquilo. Esse negócio de boa sorte, frio na barriga, é para quem não estudou. 46 Nunca desista de aprender… se você abandonar os seus sonhos, eles abandonarão você; Ed Araújo. CAP III – Bem-vindo ao nosso terceiro capítulo. Aqui nós vamos tratar sobre intervalos. Já falamos sobre notas, fizemos uma pequena introdução à música e harmonia, agora vamos falar sobre intervalos, esses que são os amigos do peito de todo músico. Todo tecladista, violonista, músicos de um instrumento harmônico em geral, precisa muito deles. São os intervalos que nos dão essa percepção de como a distância entre as notas são importantes para construção dos acordes, para sua sonoridade e para harmonia de um modo geral. Bom, eu vou começar falando para você o seguinte. O intervalo é a diferença de altura entre uma e outra nota. 47 Quando eu toco, por exemplo, um Do, depois eu toco um Mi, esse Mi está 3 graus e dois tons acima do Dó. Claro que quando eu falo três graus eu estou considerando o campo harmônico da escala maior diatônica. Numa construção triádica comum, a próxima nota seria o Sol, e depois o Si fechando a tétrade. E aí você pode estudar a distância entre elas. De Dó a Mi, terças. De Dó a Sol, quintas. De Dó a Si, sétimas. Você vai perceber todos que a ligação entre esses intervalos produz. Sensações diferentes. Experimente tocar uma sequência de notas em intervalo de terças, depois em intervalo de quintas e depois intervalo 48 de sétimas. Sinta como causam sensações e produzem sons bem característicos. Cada intervalo nos dá uma sensação característica, a harmonia tem esse poder. Na unidade de medida da música ocidental, que se baseia na escala logarítmica, as menores unidades de medida são o tom e o semitom. De Dó para Ré tem um tom. De Ré para Mi bemol tem meio tom. Quando eu pulo três teclas no piano eu tenho um tom de distância. Quando eu pulo só duas, tenho meio tom. Então se você pensar Dó/Mi, temos dois tons. 49 O próximo intervalo, que seria o quarto grau do campo harmônico, seria o Fá. Então do Dó para o Ré, tenho um tom. Do Ré para o Mi, um tom. Do Mi para o Fá, meio tom. Toque esse intervalos e tente percebê-los. É diferente o som, não é?! Muita gente não considera esses importantes detalhes na hora de formar os acordes e talvez seja por isso que não criam acordes mais interessante. Os intervalos são importantes para te fazer perceber essas coisas. Alguns intervalos, você vai ver que soam muito diferentes de outros. Você pode classificar os intervalos em basicamente quatro categorias: Se são melódicos ou harmônicos, se são simples ou compostos. Intervalo melódico ou harmônico: Se ele soar simultâneo (ao mesmo tempo) é harmônico. Se as notas soarem em sequência (uma após a outra), é melódico. 50 Quem já viu as aulas gratuitas no meu canal (https://www.youtube.com/edaraujo) deve ter me visto fazendo ataques com intervalos de sextas. E como seria isso? Começaremos com um Lá. Qual a sexta de Lá? Fá sustenido. Mantenha essa distância entre as notas, e comece a tocar outras notas do CH (Campo harmônico) criando assim, uma melodia a duas vozes. No contexto certo, essa ideia pode gerar um arranjo musical muito bacana. Para isso precisaremos praticar um pouco. 51 “Tudo bem, você explicou intervalosharmônicos e melódicos. E o simples e composto?”. Esses são mais fáceis ainda. São intervalos feitos dentro ou fora da oitava. Por exemplo, eu faço um ataque de sexta. A sexta está dentro da oitava? Está. Seis, sete, oito. Mas, eu poderia, por exemplo, fazer um ataque batendo um Ré e um Mi. Fundamental e nona. Ou bater Fá sustenido e Mi, um depois do outro. Quando está dentro da oitava, é um intervalo simples. 52 Eu não vou falar de acordes agora, porque logo vou ensinar como montar um acorde, criar triádicos, clusters, enfim, vem muita coisa bacana por aí... Mas, eu quero te dizer algo importante. Se você pensar nos acordes que já conhece, e levar em consideração os intervalos desses acordes, poderá entender a forma como tais acordes foram criados, e quando entender isso, você vai entender a importância que tem os intervalos para um músico. Mesmo você que é violonista, que é guitarrista, você vai entender o porquê que alguns músicos criam umas harmonias tão interessantes e, sobretudo acordes com versões tão interessantes. Tudo tem a ver com intervalo. 53 Veja o exemplo no gráfico: Não é impressionante que mesmo com tão poucos acordes certas canções sejam tão lindas. E como é legal ver certos acordes simples soarem tão bem em uma canção. O estudo dos intervalos tem tudo a ver com isso. Recomendo que você ouça o arranjo acústico dessa canção. Poucos acordes e um show de beleza. Segue a cifra pra você estudar em seu respectivo instrumento. |BM7 |ADD9 |A9/C# |D9 |A9 |F#m67 |G67M | 54 Alguns intervalos por ficarem próximos uns dos outros causam essa sensação de diferença, de tensão. A maioria das pessoas não percebe isso. Quando você pega esses ensinamentos e não testa, não escuta no seu instrumento, a sua vida não muda em nada. A teoria sem prática é vazia. Exemplo: Isso é um acorde G7 9 11. Mão esquerda com estrutura de quinta justa. Mão direita com intervalos de quartas justas e aumentadas. A partir da quarta do Sol. 55 G7add9-11. Dominante suspenso. Com uma estrutura mista. Eu peguei um acorde de estrutura de quintas e quartas e mesclei. Eu vou formar esse mesmo acorde em Ré. Mão esquerda de quinta justa. D A E Mão direita. G C F# A mesma estrutura de quintas e quartas aplicadas de forma mesclada. 56 Vamos fazer em Fá agora. Mão esquerda. F C G Mão direita. Bb Eb A Você entendeu que eu peguei um acorde de estrutura relativamente complicada, e repliquei para vários tons diferentes? Então eu pergunto: eu posso fazer em Si bemol? Posso. Porque eu vou pensar sempre na mesma estrutura. 57 Quintas na mão esquerda, quartas justas e aumentadas na direita. Significa que se eu te passar um acorde quartal com um trítono na mão esquerda... Você irá analisar os intervalos do acorde e poderá replicá- lo em qualquer tom, porque já entendeu a estrutura do acorde. Comece a pensar nos acordes pelos graus e não pelo nome das notas. Comece a decorar os intervalos, a estudar isso, a altura que tem de uma nota para outra. 58 É preciso entender que as notas tem uma diferença tanto de altura, quanto de relação dentro da própria estrutura do campo harmônico, e o porquê. Tem gente que até hoje confunde terceiro grau com três tons. Você fala: pula três graus. E o cara pula três tons. Tem gente que se tocar em um tom que tenha muito sustenido, o cara fica doido e não consegue tocar… por quê? Não estudou intervalos. Nada do que eu disser aqui vai mudar a sua vida, se após ler sobre isso, você não se der uma chance para assimilar o conhecimento. Se você não praticar o conhecimento ele estará adormecido dentro de você. Sabe aquela pessoa que compra um livro e quer ler todos os capítulos em um dia? Pode fazer, o livro é seu. Mas, depois volte e releia cada capítulo com carinho. Você precisa assimilar esse conhecimento. E tudo em um só dia, não vai entrar na sua cabeça. 59 Estabeleça para você uma meta. “Eu vou aprender isso em tanto tempo” e, que seja uma meta honesta, algo que você realmente possa cumprir, sem sacrificar o seu aprendizado. Entendeu como intervalo é uma coisa importante e pode ser usado de forma muito criativa? Não pule as etapas. Confie na pessoa que escreveu esse livro para você. Estou querendo levar um conhecimento para você que não seja muito cansativo, mas o mínimo de informação é necessário. Se você estivesse fazendo um curso numa instituição convencional, acredite em mim, você passaria anos estudando isso. Porque um músico tem que saber de onde vem o que ele faz! Você não pode trabalhar a vida inteira com uma coisa desconhecendo até o porquê de ela existir. Então tenha paciência. Eu costumo dizer que existe um motivo para Jesus ter dito que os mansos herdarão a Terra. É porque os afoitos vão acabar se matando. Vão brigar no trânsito, se jogar de um 60 prédio... Não consigo imaginar uma pessoa ansiosa sentada num canto estudando violão, piano, guitarra. Quanto tempo leva para um guitarrista/tecladista desenvolver uma autonomia legal no seu instrumento? Se você não tem paciência para estudar, não importa quantos cursos compre, quantos livros leia, você não vai aprender. Não tem como alguém que desistiu de estudar virar um grande músico. O cara que não desistiu, tem chance. Aí você fala “Ed, eu não sei, eu tenho pouca chance de me tornar um grande músico.” Mas tem! E quem desistiu, não tem mais. Há uma grande diferença entre ter chance de falhar e ter certeza que falhou. Certeza que falhou, é só quando a gente desiste. Coloque em prática o que aprendemos nesse capítulo, que daqui para frente vamos estudar muito. 61 “O bonito é legal… o funcional é muito mais legal. O belo e o funcional são perfeitos.” Ed Araújo. CAP IV - E aí galera? Finalmente chegou nosso capítulo sobre acordes. Uma coisa que realmente, eu acho que mesmo para quem é iniciante, é algo muito, muito importante. São os acordes. A base de toda progressão. Tudo que nós vimos até agora, é muito importante. Saber a história da música, da harmonia, porque a harmonia está como está, de onde vieram essas influências para esses acordes tão diferentes terem surgido. Conhecer o que são notas, tanto na concepção física, quanto na concepção histórica… tudo isso é muito importante. 62 Mas com certeza, mesmo para pessoa mais leiga no assunto os acordes são extremamente importantes. Porque são com eles que nós montamos as nossas tão amadas progressões harmônicas. Eu quero falar um pouco sobre as mais conhecidas formas de formar acordes, e você vai entender o porquê que aqueles músicos que eu citei no primeiro capítulo, buscaram novos conceitos harmônicos. As coisas vão sendo criadas, e chega um ponto que não é mais uma questão de bom gosto e criatividade, mas a própria estrutura já começou a ficar cansada. Imaginem... Nós estamos falando de centenas e centenas de anos, do ser humano criando acordes, por exemplo, com a estrutura triádica. 63 Acordes formados numa estrutura de terças superpostas. Chega uma hora, em que esse tipo de abertura acaba se esgotando, mesmo nas suas muitas possibilidades, por mais que o ser humano seja criativo. Surgiram então, outras formas de acordes. Vamos falar disso hoje. Primeiro vamos estabelecer um senso comum do que seja acorde de um modo geral. 64 Um acorde é a combinação de três ou mais sons formados por notas diferentes, com um intervalo fixo entre si e a partir de uma nota tônica. Porexemplo, eu estou aqui em Dó maior. As três notas são Dó, Mi, e Sol. São notas diferentes, a partir de uma tônica, no caso o Dó e com um intervalo fixo, ou seja, terças. A cada intervalo de terças superpostas, a gente vai colocando... Dó, Mi, Sol, Si, Ré, Fá, Lá e etc... Enfim, onde eu quero chegar com isso? Gente, estabelecendo-se isso, você sabe o que é um acorde. São três ou mais notas diferentes, a partir de uma tônica principal, com intervalo fixo entre si. Terça, quarta, segunda, segunda menor, quarta justa, quarta aumentada, e aí vai depender muito da estrutura de acorde que se pretende. Vamos falar especificamente de três acordes aqui, se bem que vou citar um quarto depois... 65 Os acordes de clusters, que são acordes montados sobre uma estrutura de segunda ou segunda menor (Dó-Ré ou Dó-Dó#). Eu usarei como exemplo o Bm7 add9, que tem um cluster bem no meio do acorde. Esse acorde, apesar de possuir um cluster muito bacana, é uma acorde majoritariamente triádico. Vamos retornar a esses acordes com um cluster em sua estrutura daqui a pouco. Seguindo o raciocínio, esses acordes de cluster, na verdade tem uma característica de notas agrupadas, coladinhas. Muito legal para essa “onda” que estamos usando agora de Neo Soul. 66 Olha esse Dó maior, é um C cluster: Outros exemplos para C Cluster: 1 2 67 3 Então, os clusters são o que? Acordes com intervalo fixo de segunda ou segunda menor, podem ter três ou mais vozes e por ter uma estrutura fixa dessa forma. Ele tem a característica de ficar com as notas bem próximas. E dá para fazer muita coisa com esse acorde. É muito comum que ele seja usado em músicas que permitam um pouco mais de complexidade harmônica. Não sofisticação, mas complexidade. Por exemplo, em um Jazz, um Fusion, ou mesmo em trilhas de cinema, Bossa Nova. EXEMPLO DE DÓ CLUSTER 68 Alguns acordes clusters são usados, por conta da sua sonoridade e intervalos característicos, para provocar suspense e às vezes medo em uma audiência, por exemplo, em trilhas de cinema. Vamos conferir um exemplo? Estude o exemplo a seguir: Cm7 (9 13) Eu queria demonstrar um pouco de estrutura cluster também para violão. Não é complicado, se você mantiver em mente que as notas têm que estar próximas uma da outra, e considerando que cada corda está afinada de um jeito. 69 Dedo no Si (4ª casa 3ª corda), Ré (3ª casa 2ªcorda), Mi(1ª corda solta). Baixo em Dó. Cluster de C7M (add9). Se você procurar na internet, vai encontrar muito shape legal de cluster. 70 Vamos a um exemplo de Am9: Mi (2ª Casa 4ª corda), Dó (5ª casa 3ª corda), Si (2ª corda solta). Baixo na quinta corda solta. Como você pode ver, essas informações são importantes para qualquer músico e podem ser usadas em qualquer instrumento melódico. Melódico? Sim, imagine você escrevendo para um quarteto de cordas, e no meio da peça você faz um acorde que tocado por esse quarteto forme um cluster. Tem noção de como isso fica legal?! 71 Isso faz com que a sua harmonia tenha uma característica mais moderna, mais sofisticada. Importante levar em consideração que você pode ficar na liberdade de usar um acorde cluster, uma formação de cluster como você quiser. Às vezes a pessoa fica preocupada pensando “Ah, vou fazer um acorde cluster” e faz um monte de nota pertinho uma da outra... Não precisa. Pode usar o conceito do cluster. Não fique preso a nada que não possa trabalhar a seu favor. 72 Olha esse Dó com sétima maior e nona... E esse F7M (13): Agora, é claro que esses acordes, que parecem vir de “filme de terror”, não é toda hora que podemos usá-los. São ferramentas incríveis. Use os acordes clusters sem moderação, mas fique atento ao sabor de cada acorde, e como ele tempera a sua música quando utilizado. 73 Vamos falar dos triádicos agora? De todos que vamos estudar nesse capítulo hoje, acho que esses são os que você conhece melhor. Triádicos são aqueles com um intervalo fixo de terça superposta. Exemplo Dó maior: Dó Mi Sol. 74 Tanto no violão, quanto no teclado, esses acordes não precisam de uma apresentação muito extensa, pois como eu disse, são os mais usados desde sempre. É a formação mais comum, por isso que é bom que se tenha domínio deles. É certamente o tipo de acorde que você vai usar mais vezes ao longo da sua carreira, e eu sempre costumo dizer que vale muito a pena a gente temperar esses acordes com um pouquinho de intervalos diferentes, clusters, vozes misturadas, porque é um acorde muito comum. Então, quando ele soa simples, deixa a música com uma cara muito simplória. São acordes muito marcados. E é aí que entram o estudo das vozes. Tríades e tétrades. Um acorde triádico soa muito mais simplório quando em tríade (Dó maior: Dó-Mi-Sol). 75 Eu vou falar de campo harmônico mais a frente, mas por hora, só vou ensinar o seguinte: nem todo acorde de três vozes, é um acorde tríade. Existem regras para isso. Este livro não se destina a isso de forma nenhuma. Ficar explicando regras de quando é tétrade, quando não é… Este livro se destina a informar a você de forma prática o básico sobre harmonia funcional, e como se dá o estudo dela. Se você tem aspirações a um estudo mais acadêmico do tema, eu recomendo a você que procure uma instituição de ensino convencional, onde você possa aprender de forma assistida e continuada questões teóricas e acadêmicas. Creio não haver substituição para algo desse tipo, por tanto se você, caro leitor, tem chance de fazê-lo... Faça-o. Nosso livro pretende uma abordagem mais informal, singela e rápida sobre harmonia funcional, por isso eu digo que é um “HACK MUSICAL”. Talvez, mais para frente, a gente desenvolva um material intermediário/avançado de harmonia. Aqui eu vou ensinar 76 para você tríades e tétrades com relação a suas respectivas utilizações e não a regras. Lembrete importante: Não confunda acorde triádico com acorde tríade. É tríade porque tem uma formação de três vozes, e triádico porque está com intervalo de terças superpostas. Daqui a pouco eu vou falar sobre formações de acordes legais e você vai pensar: “Tudo isso são acordes triádicos?” Se você for ver a música tocada hoje, eu acho difícil você encontrar uma música moderna, com uma boa harmonia, em que essa harmonia esteja engessada em uma única formação de acorde. Vamos falar de um outro acorde muito procurado hoje em dia: Os acordes quartais. Os acordes quartais, assim como os clusters e os acordes triádicos, são construídos com um intervalo fixo a partir da nota principal. A diferença é que ao invés de terças 77 superpostas como no caso dos triádicos, são quartas justas ou aumentadas. Exemplo C 7 (11) em estrutura Quartal: Agora se eu estiver no Sol, e ao invés do Dó, fizer um Dó sustenido uma quarta aumentada, vai gerar um trítono. É claro que o acorde quartal tem uma porção de características interessantes que vale a pena ressaltar aqui. Eu não vou dar mil exemplos de acordes quartais, porque a ideia é passar para você parte do que eu sei sobre harmonia e acordes, para que entendam o conceito e saibam reconhecê-los. 78 É claro que o estudo nunca acaba e sempre há algo novo para saber. No entanto, o principal a ser dito é que o estudo de harmonia é para que você entenda a harmonia. A princípio, esse estudo servirá para que a próxima música bacana que você tirar, vocêvai poder analisar de forma a entender o conceito harmônico que o autor usou. Você poderá desenvolver a sua harmonia com o mesmo conceito, e não apenas copiar os acordes. É claro que agora, sem saber nada disso, você pega uma ideia e fica repetindo. Isso não é evolução. Você precisa ter conhecimento suficiente para assimilar o que o outro músico fez e poder desenvolver a sua própria musicalidade, suas ideias. Mas, voltemos ao tema... Então se você parar para pensar, os acordes quartais por pularem as terças, pelo menos os de três vozes, não dá 79 para saber se são acordes maiores ou menores, já que eles não têm o terceiro grau em sua estrutura. Os de quatro vozes quando iniciados a partir do primeiro grau, e em quartas justas superpostas, são menores e com sétima menor. Estrutura do acorde: |C F Bb Eb| Porém, quando são tétrades e começados no quinto grau, são obrigatoriamente dominantes porque vem com uma sétima em sua estrutura. Isso em se tratando de quartas justas, claro. 80 Estrutura do acorde: |C G C F Bb| Se você não quiser um acorde dominante, ou um acorde menor, pode usar uma quarta aumentada na terceira nota, e o acorde não vai ser menor e ou dominante. Veja no exemplo a seguir. Estrutura do acorde: |C F B E| Tudo isso te da uma série de possibilidades. 81 A tríade no quartal soa como um acorde menor por ter a sétima menor. Só tem dois acordes que naturalmente carregam a sétima menor. São os acordes dominantes e os acordes menores. Os acordes quartais têm essas duas sonoridades e são verdadeiros canivetes suíços. São muito versáteis. Quando você usa a sétima menor, você geralmente dá um ar de menor para o acorde. Mas, se você quiser colocar uma sétima aumentada, como eu sugeri na primeira formação, vai soar como acorde maior. Mesmo que seja tríade. Bem legal né? E dá um ar bem Fusion para a progressão. Vamos demonstrar então um acorde quartal no violão para você entender a formação. 82 Veja na foto a seguir. Dó (5ª corda 3ª casa), assim a quarta de Dó é Fá (4ª corda 3ªcasa), a sétima seria Si que é a quarta aumentada de Fá, então Si (3ª corda 4ª casa), e o Mi quarta de Si, porque é um acorde maior, então tem que ter a terça maior, logo Mi (2ª corda 5ª casa). Aqui no caso estamos fazendo um shape de acorde quartal tétrade. O objetivo aqui não é, nem nunca foi, ficar passando shape de acorde. “Ed, mas aí eu não aprendo.” Aprende sim. 83 Acabei de ensinar como o quartal é formado. Se eu quiser fazer o quartal do Ré? Ré, a quarta de Ré é Sol, e aí você diz: “Ed, eu não sei que a quarta de Ré é Sol”. Sim, e é por isso que nós vamos estudar campo harmônico no próximo capítulo. Eu vou ensinar para você, os intervalos de cada campo harmônico, porque isso aqui é chamado de quarta, de onde veio o campo harmônico, as escalas e etc… Você vai entender, por exemplo, que a escala diatônica de Dó, originou campo harmônico maior como a gente conhece. Retomando a pauta... Se analisarmos estilos como Jazz, Neo Soul, Gospel, Harmony Urban, Sertanejo e Rock, veremos que em todos os estilos já se percebe uma sofisticação harmônica, em alguns mais que outros. Alguns estilos estão começando a usar acordes com estruturas mais rebuscadas. O pagode, por exemplo, está cada vez mais difícil de tocar. Samba sempre foi. Então, 84 percebemos que hoje em dia não tem muito espaço para músicos despreparados, e que sejam leigos em harmonia funcional. Qual é o segredo? O segredo não é você fazer bastante acorde cluster, nem bastante acorde triádico ou quartal. Eu diria que o segredo é apostar em acordes de estrutura mista. Pense bem. Vamos dizer que você tenha uma ideia harmônica específica. Você não pode se limitar musicalmente por causa da formação de um acorde. Como eu falei a harmonia não pode te limitar, assim como as formações de acordes também não podem te limitar. Se você quiser fazer uma coisa, ousar, e achar que a tua ideia ficaria com harmonia melhor usando um acorde quartal, cluster, ou misto porque vai servir melhor para tua ideia… Você deve fazer o acorde que servir melhor a tua música! Você não vai sacrificar a tua ideia musical por causa de moldes, e parâmetros. Isso aqui ainda é arte! 85 Como nós estamos falando de harmonia funcional e não tradicional, eu não estou preso a nada. Se eu achar que um cluster vai ficar legal eu ponho, se eu achar que um acorde quartal vai acrescentar, eu coloco, eu não preciso ficar estagnado em um tipo de estrutura de acorde. Estrutura do acorde: |E B E B Eb F# G# B| E7M add9 “Tá Ed, mas como que eu sei quando eu vou poder usar isso?” Bom, primeiro vamos ter em vista a formação dos acordes no campo harmônico, como cada um é colocado, tanto no campo harmônico menor, quanto no maior. No caso do campo harmônico menor, temos o menor natural, o menor harmônico e o menor melódico. No caso do maior, o campo harmônico maior. 86 Então quando você vê o campo harmônico, você já vê, por exemplo, cada acorde como é, se é maior, se é meio diminuto, sétima maior, sétima menor, isso você já está definido no próprio CH. Mas, o que vai definir o que você quer usar, é o som que você quer tirar da tua cabeça e colocar no seu instrumento. Daí alguém me diz... “Ed, mas pode um acorde de quarto grau, um acorde lidio ter quarta aumentada?” É. Não pode. Até um cara famoso, ou um músico sinistro fazer e, você ficar babando. Agora, o que falta em você? Você saber todas essas formações de acordes então, comece a brincar com elas. Porque não adianta só ter as informações. Você não vai se tornar um bom músico se não arrumar um tempo para brincar com os acordes, brincar com os seu instrumento, fazer seus testes. A final é isso o que um músico faz. Um músico toca! Não fique muito engessado nessas formações de acorde que eu ensinei. Pode usar no primeiro um acorde triádico, 87 depois um cluster, um quartal, o que você achar que vai enriquecer sua harmonia. Use sempre a harmonia que soar mais bonita. Tem gente por aí fazendo acorde difícil, achando que acorde difícil é bonito. E não necessariamente. Não faça nada que não for para servir a música. No final da história, é ela quem tem que aparecer e não nós. Agora, pegue tudo isso e transforme em música. 88 “Muitos homens deixam de fazer grandes coisas por menosprezarem coisas pequenas.” Ed Araújo. CAP V - Esse é o capítulo sobre campo harmônico maior. Eu queria chamar a sua atenção para a importância dessa disciplina. Se você tem pulado capítulos, eu entendo às vezes o tempo voa, mas eu quero lhe dizer que você deve voltar e ler cada lição com muito cuidado. E, se perceber depois, que não lembra tudo dessa aula, leia novamente, leia quantas vezes for necessário. Desde que nós começamos a tocar no sistema tonal, precisamos de uma percepção muito mais apurada do campo harmônico. Quando você entende o campo harmônico, você entende o que pode estar acontecendo com a música, a partir das funções harmônicas. 89 Quando você não entende, fica aquela situação em que o músico sabe os acordes, sabe o que é uma diminuta, sabe qual é a sétima, qual é a nona, mas não sabe quando pode usar. Ou escuta uma peça musical e não tem ideia do que está acontecendo, para onde a harmonia está indo. Consequentemente não sabe tirar uma música de ouvido. Isso acontece, porque a pessoa não entende o campo harmônico. Não dá para ficar adivinhando cada acorde só com os ouvidos. Esse nãoé o caminho mais rápido, nem o mais prático, tão pouco o mais intuitivo. A música não espera... A minha intenção aqui hoje, é mostrar para você a real importância do campo harmônico. Então vamos ao básico. O que é um campo harmônico? Um campo harmônico, independente se é maior, menor, são conjuntos de acordes formados a partir de uma escala ou modo. 90 Também podemos chamá-lo de estrutura tonal visto que o desenvolvimento da harmonia está inteiramente ligado ao aparecimento e desenvolvimento do conceito de tonalidade. Vamos estudar aqui o campo harmônico que se forma a partir da escala maior natural. A escala diatônica. Vamos começar a aprender um monte de regrinhas. Você vai descobrir a regra para se formar um campo harmônico. Podendo depois desenvolver até seus próprios campos harmônicos a partir de escalas da sua preferência. Podendo então, compor músicas baseadas nessas escalas e nos seus respectivos campos harmônicos. Bom, falando de campo harmônico maior, o que eu vou explicar aqui no tom de Dó maior, serve para todos os campos harmônicos de tonalidade maior. Quero dizer primeiro, o seguinte: Sabe aquela expressão em que dizemos assim: E que tom está essa música? Isso é uma coisa muito nossa. 91 Muita gente foi criada ouvindo música tonal, música que foi escrita e arranjada em um tom específico. Ainda no nosso tempo, existe muita música com politonalidade, músicas compostas e arranjadas em mais de uma tonalidade específica. É meio confuso eu sei, mas vamos continuar... E, também temos as músicas que são atonais, que não tem obrigatoriamente uma estrutura tonal para respeitar. Elas vão para a direção que o compositor, que concebeu tais músicas, quiser. Outra coisa muito interessante, é que houve um tempo em que se compunha música em cima de pequenos modos, especificamente, e não de uma escala. Mas, por enquanto vamos falar do que nos interessa: campo harmônico maior. Partindo da escala que nós escolhemos para o primeiro exemplo. 92 A escala diatônica de Dó Maior: |Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si| Temos aqui uma escala de sete sons, e temos que desenvolver um acorde para cada nota dessa escala, e para tanto a princípio, temos duas regras a seguir. Primeira: essa escala vai ser formada por acordes triádicos (Depois vamos considerar a possibilidade de usar acordes quartais. Não é comum, mas é possível). E segunda: só podemos usar notas que constam na escala de origem, no nosso caso, a escala de Dó maior. Primeiro acorde: o acorde fundamental. Geralmente a gente chama de fundamental ou de primeiro acorde, o acorde que dá nome a escala. Por exemplo, a escala é de Dó, então geralmente começa em Dó. Você pode argumentar dizendo: “Eu posso executar a escala de Dó, a partir de qualquer intervalo da escala?” 93 Correto. Mas, a escala continua sendo a escala de Dó maior, por isto iremos tocar a partir de Dó maior. O primeiro intervalo da escala, o primeiro grau, que é Dó maior, vai formar um acorde que dará nome a esse campo harmônico, o campo harmônico de Dó maior. Uma vez que estou trabalhando com a formação de acordes triádicos, eu sei que esses acordes tem que respeitar uma distância (ou intervalo) de três graus (não três tons). Ao que chamamos de terças. 94 Então Dó maior seria: Dó-Mi-Sol-Si Trabalhando com tétrades, porque a tríade já é presumida (Dó-Mi-Sol). Temos então o acorde de C7M Temos assim o primeiro grau da escala de Dó maior. É um C7M. “Qual é o segundo grau Ed?” Então o segundo grau é um Dm7. 95 Terceiro grau: Lembrando que não podemos usar intervalos que não estejam na escala. Eu posso fazer um Dó com sétima menor? Não. No campo harmônico de Dó maior não temos o Bb que é a sétima menor. 96 Vamos para o quarto grau. Então o quarto grau é F7M. O quinto grau, é o único acorde maior com sétima menor do campo harmônico maior. O G7. 97 O sexto grau é menor e com sétima menor. O nosso bom e velho Am7. O sétimo e último grau é um B°. Antes de falarmos de funções harmônicas, vejamos que temos sete acordes nesse campo harmônico. Derivados das sete notas da escala diatônica. 98 Esses sete acordes, vão me dar basicamente tudo o que eu preciso para tocar uma música. Isso mesmo. Sete acordes e eu tenho tudo que preciso para executar uma canção de harmonia comum ou popular. Duvidando? Então que tal um exemplo? Usarei como exemplo a canção “Sonda-me, Usa-me”. Por ser no tom de Dó maior. Veja que apesar de surgirem acordes com intervalos que enriqueçam a harmonia, todos os acordes envolvidos estão previstos no Campo Harmônico de Dó maior. C9 G/B Am Am7/G Sonda-me, Senhor e me conheces F C/E Dm G/B Quebranta o meu coração C9 G/B Am7 Transforma-me conforme a Tua Palavra F G/F E enche-me, até que em mim Em7 Am Am7/G F Se ache só a Ti, en---------tão 99 G F/A G4 Usa-me Senhor, Usa-me C G/B Como um farol que brilha à noite Am Am7/G Como ponte sobre as águas F C/G Como abrigo no deserto F/A G/B Como Flecha que acerta o alvo C G/B Am Am7/G Eu Quero ser usado da maneira que te agrade F C/E Em qualquer hora e em qualquer lugar Dm7 G Am9 F G Eis aqui a minha vida, usa-me Senhor Usa-me Uma música muito bonita, com um arranjo bonito, que usa apenas acordes do campo harmônico de Dó maior. 100 Tirando as inversões dos baixos, não tem nada demais. Um Dó com nona aqui, um Sol com quarta ali, e de resto só acordes diatônicos. Uma música relativamente nova, não é nenhum hino da harpa, toda feita no campo harmônico. E se você analisar muitas outras músicas verá que a história se repete. A gente não costuma tocar a harmonia de forma tão diatônica como estou mostrando para você, mas se você não entende como a harmonia foi concebida, você não consegue sofisticar essa harmonia. Por isso a importância de começar com exemplos que o aluno consiga entender. O desenvolvimento de um raciocínio musical/lógico é primordial para sua musicalidade amadurecer de forma correta. Tente absorver o campo harmônico, para usar esse conhecimento a seu favor. Tente começar entendendo a harmonia de forma simples. E então, sabendo o que cada acorde faz você saberá como substituir. 101 Você vê que não tem nada demais. É campo harmônico puro. Eu posso usar um Dó maior (I), Ré menor (IIm), Mi menor (IIIm), Fá maior (IV), Sol maior (V), Lá menor (VIm), Si meio diminuto (VIIº). Em cima desses sete acordes, muitos autores criaram coisas geniais! Vamos usar como exemplo a canção Deus de Promessas, também no tom de Dó maior. Veja como uma canção lindíssima, com melodia ímpar e letra maravilhosa passeia pelo campo harmônico de Do´ maior não precisando de nenhum subterfúgio em sua harmonia a não ser uma simples passagem de bVII (Bb). Então colocaremos os graus sobre os acordes, para sabermos exatamente em que grau do campo harmônico (CH) de dó maior cada acorde se encaixa. Certo?! Muito bem. Agora vamos avançar um pouco mais em nossos estudos. 102 Vamos analisar: Deus De Promessas / Toque No Altar IIm7 V/VII Dm7 G/B Sei que osTeus olhos I/III IV C/E F Sempre atentos permanecem em mim IIm7 V/VII Dm7 G/B E os Teus ouvidos I/III IV C/E F Estão sensíveis para ouvir meu clamor I/III IIm7 V/VII C/E Dm7 G/B Posso até chorar a... I V/VII VIm7 C9 G/B Am7 Mas alegria vem de manhã. 103 IV I/III IIm7 V F C/E Dm G És Deus de perto e não de longe IV I/III F C/E Nunca mudastes IIm7 bVII IV/VI V4 Dm Bb F/A G4 Tu és fiel! V/IV I/III G/F C/E Deus de aliança, VIm Am Deus de promessas IIm7 V4 V Dm7 G4 G Deus que não é homem pra mentir 104 V/IV I/III VIm G/F C/E Am Tudo pode passar, tudo pode mudar, IIm7 V4 V Dm7 G4 G Mas tua palavra vai se cumprir. Exercício: Experimente pegar várias canções que você toca comumente, e faça uma análise harmônica como eu fiz acima, identificando em que grau do CH os acordes estão. Você começa a entender porque em algumas progressões predominam os acordes DIATÔNICOS, ou seja, aqueles pertencentes ao CH no qual a música foi composta. O mais importante é você entender que em cima desses sete acordes, “quase” tudo que você conhece da música moderna se formou. O que não está no campo harmônico maior, com certeza se enquadra em algum dos campos harmônicos menores. 105 Eu vou ensinar três dos mais usados nesse livro. Então é importante você ter essa percepção, é imperativo que você aprenda as funções harmônicas, pois é nisso que se baseia o estudo de harmonia funcional. Em funções. Cada acorde tem uma função no campo harmônico e nós precisamos estudar isso. Por exemplo, o acorde de Dó maior, cumpre uma função chamada de Tônica. Que também pode ser feita de forma um pouco mais tímida pelo acorde de terceiro grau, Em7 e o acorde de sexto grau menor, Am7, que é aquela função no qual a melodia relaxa, repousa. Exemplo: A melodia repousa no C/E: G/F C/E Deus de aliança E depois no Am: Am Deus de promessas 106 Temos acordes que são para levantar, para repousar, para preparar para tencionar… e essas funções são o que você precisa estudar com afinco. Começar a fazer estudo de percepção musical. Isso significa perceber no campo harmônico, quais acordes tem qual característica. Eu ensinei acima uma coisa chamada cifra analítica, que é uma coisa que ajuda muito o músico a desenvolver a sua percepção. Por quê? Porque quando você cifra uma música numa cifra analítica, você determina que ela não tenha um tom específico. E, quando você vai tocar em qualquer tom, aquela cifra está na sua cabeça. A cifra analítica nada mais é do que você começar a pensar a música em graus ao invés de acordes. “Tá Ed, mas você tá falando em grau e eu em acorde. Qual é a diferença?” A diferença é que como eu estudei o campo harmônico em vários tons, como eu sempre penso em graus e não em acordes, quando a pessoa vai cantar essa música em Mi bemol eu sei tocar. 107 Porque sei, por exemplo, que essa música (Deus de promessas) começa no segundo grau menor. Que seria Dm7 em C, e Am7 em G e Fm7 em Eb e assim por diante. Nós músicos estamos aqui para acompanhar os cantores, as bandas, outros músicos, e eu preciso saber tocar essa música em qualquer tom. Mas, e se eu só decoro os acordes? Como fazer uma transposição de tom na hora de show? Hoje em dia a galera está decorando tudo. Acho que muitas vezes isso até ajuda, mas o funcional mesmo é o músico saber como e não apenas onde. Conhecimento é poder. É legal você ver um cara que entende do assunto. Você pergunta uma coisa e ele explica cada detalhe. Aí você fala: “Mas Ed, eu não quero ser professor eu quero ser músico”. Sim cara, mas uma hora você vai precisar entender as músicas que você toca pra avançar nos seus estudos. Quantas vezes eu tirei música para alguém cantar e pensei: “Olha só que interessante. Esse cara foi subir desse tom pro outro, usou um 2-5 e foi direto.” E eu aprendi aquilo 108 e usei em arranjos meus, que gravei em CDs depois. Igualzinho? Não. Eu coloquei uma pegada mais minha, mas aprendi muita coisa analisando o trabalho de outros músicos! Tem gente que tira 40 músicas numa semana para tocar na noite e não aprende nada. Por quê? Porque não sabe nada. Só sabe decorar e tocar. Ele não consegue absorver o conhecimento que o outro músico colocou naquele arranjo e usar aquilo em favor dele. Isso é perigoso. Você perde tempo e tempo é um bem inestimável. Faça uma análise assim que você tiver tempo nas músicas que você mais toca, e tente determinar se acordes de cada musica pertence ao CH em que foram compostas. Isso vai fazer com que você comece a ver a música de outro jeito. Vamos falar de função harmônica. Vamos destacar três especificamente, que são as mais presentes na música do nosso tempo. Elas são: Tônica, Subdominante e Dominante. 109 Quando você vai estudar percepção musical e tenta descobrir as funções harmônicas de cada acorde numa música, mesmo sem saber em que tom a música está, a mais fácil de perceber é a Tônica. Quando a música repousa. A segunda mais fácil é a Dominante, porque ela tem a função de tensionar a harmonia. E essas funções Dominante e Tônica, já vão te nortear dentro de uma música. Ou seja, a música (Deus de promessas) começa numa Subdominante (Dm7), vai para Dominante com baixo na terça (G/B) e resolve numa Fundamental também com baixo invertido (C/E). A compressão do que seja essas duas funções, abre muito a cabeça da gente. Você vai ouvir várias músicas, com várias formas, e a maioria delas vai passar por essa progressão quase que obrigatoriamente. 110 Uma subdominante vai para uma dominante e resolve numa tônica, o famoso 2-5-1. E assim você vai perceber tudo o que acontece. Eu vou sair do Dó e vou para o Lá menor. Do primeiro para o sexto grau. Vou fazer isso usando a seguinte progressão: Bm7/5- seguido por um E7b9 e, vou resolver num Am7/9. E vou mostrar para você como isso tudo está dentro do campo harmônico: | C | Bm7(5b) | E7(9b)/G# | Am7(9) | Tônica: C (I Grau) 111 Subdominante Secundário: Bº (VIIº) Dominante secundário: E7 9b/G# (III7 9b) Tônica secundário (Acorde alvo): Am79 (VIIm79) 112 Esse Bm7/5- que eu usei já tá previsto no campo harmônico. E esse E7b9? Isso é o que a gente chama de dominante secundário. (Observação: analise os voicings dos acordes, bem como os baixos modificados.) O dominante primário é o dominante do campo harmônico. Os secundários são aqueles que eu uso para acordes alvos. Por exemplo, quando eu penso em ir de C para o Am ( I grau para o VI grau), eu sei que a dominante de Lá é Mi, que é o quinto grau de Lá. Vamos pensar nisso. Analisemos primeiro o CH de Dó maior. Qual o dominante de quinto grau de C, o quinto grau é G. E o quinto grau de A. Contemos o CH de Lá: A, Bm7, C#m7, D, E, ou seja, o Mi é o quinto grau, é a dominante de Lá. 113 Então o que eu fiz? Eu usei Bm7/5b
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