Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA (FOI) Doença febril sem uma etiologia inicialmente óbvia ou sem sinais localizados como febre de origem. Pode ser chamada também de febre sem sinais localizatórios (FSSL). Três categorias gerais de doenças são responsáveis pela maioria dos casos "clássicos" de FOI e têm sido consistentes ao longo das décadas: ➢ Infecções ➢ Doenças do tecido conjuntivo (por exemplo, vasculite, lúpus eritematoso sistêmico, polimialgia reumática) ➢ Neoplasias ➢ Miscelânia (todo o resto que não entra em nenhuma das anteriores). DEFINIÇÃO PETERSDORF E BEESON (1961) ★ Febre > 38,3°C em várias ocasiões ★ Duração da febre por 3 semanas ★ Diagnóstico incerto após uma semana de hospitalização (pode ser 3 dias considerando o contexto atual). A febre ocorre devido a presença de pirógenos agindo no centro termorregulador do hipotálamo levando a um aumento do limiar de temperatura e proporcionando respostas metabólicas para produção e conservação de calor como vasoconstrição. Quando a temperatura corporal supera o novo limiar de temperatura a resposta metabólica é direcionada para dissipação do calor, na tentativa de reduzir a temperatura, como vasodilatação periférica e sudorese. ● Subpopulações - Idade: em crianças e jovens são mais comuns síndromes virais indefinidas e em adultos e idosos ocorre mais as doenças reumáticas, vasculite, arterite de células gigantes, sarcoidose.. - AIDS: Mais da metade ocorre devido a micobactérias, dois terços das quais eram atípicas, mais comumente Mycobacterium aviumcomplexo (MAC) e leishmaniose visceral. Apenas os linfomas foram altamente representados entre as doenças malignas, particularmente os linfomas não Hodgkin. ALARME LIGADO As principais causas de morte por FOI são endocardite bacteriana, doenças das vias biliares, abscessos abdominais e infecções em imussupressos. Infecções ● Tuberculose A tuberculose (TB) é a infecção mais comum na maioria dos casos de FOI. As manifestações de TB, que escapam à detecção precoce, são extrapulmonares, miliares ou ocorrem nos pulmões de pacientes com doença pulmonar preexistente significativa ou imunodeficiência. A tuberculose disseminada (miliar) é facilmente tratável, porém, a morte pode ocorrer em pacientes que permanecem sem tratamento. Portanto, uma busca vigorosa por esse transtorno deve ser realizada. O teste cutâneo do derivado de proteína purificada (PPD) é positivo em < 50% dos pacientes com TB que apresentam FOI geralmente devido à anergia cutânea. ● Abscesso Os abscessos ocultos normalmente estão no abdômen ou pelve. Algumas condições predispõem a isso como: cirrose, esteróides, medicamentos imunossupressores, cirurgia recente e diabetes. Eles vão surgir quando há uma ruptura da barreira do tecido, como por exemplo a parede do intestino na apendicite, diverticulite ou doença inflamatória intestinal. A ruptura geralmente fecha espontaneamente e a peritonite local é convertida em um abscesso pelos mecanismos de defesa do hospedeiro. Os abscessos intra-abdominais podem se desenvolver nas localizações subfrênica, omental, bolsa de Douglas, pélvica e retroperitoneal, além de locais viscerais. A fonte de infecção varia: 1. Abscessos hepáticos piogênicos: seguem uma doença do trato biliar ou supuração abdominal como apendicite e diverticulite. 2. Disseminação hematogênica: responsável pelos abscessos esplênicos. ● Endocardite bacteriana Culturas são negativas em 2 a 5 por cento dos pacientes com endocardite infecciosa, mesmo quando se toma o máximo cuidado na obtenção do número e volume adequados de hemoculturas. A frequência de culturas negativas é maior em pacientes que já foram tratados com antimicrobianos, como usuários de drogas intravenosas que frequentemente auto administram antibióticos, nessas pessoas normalmente a endocardite é direita e sem sopros. A negatividade da cultura é particularmente provável com os seguintes organismos, que são mais difíceis de isolar em cultura: coxiella burmetii, brucella, mycoplasma, chlamydia, bartonella→ avisar ao laboratório essa suspeita para manter a cultura por mais dias. Melhor exame: ecocardiografia transesofágica. Catarina Nykiel - MedManas Vegetação em valva aórtica sugestiva de endocardite bacteriana. ● Neutropenia Episódios febris associados à neutropenia sem origem estão mais frequentemente associados à bacteremia. As infecções fúngicas substituem as infecções bacterianas em destaque após o período agudo (após sete dias). Doenças do tecido conjuntivo ● Arterite de células gigantes O diagnóstico deve ser considerado em pacientes > 50 anos que se queixam de dor de cabeça, perda abrupta de visão, sintomas de polimialgia reumática, febre inexplicada ou anemia e uma alta taxa de hemossedimentação. Um sintoma sugestivo é a claudicação da mandíbula. A biópsia da artéria temporal é sugerida em todos os casos de suspeita de ACG. NEOPLASIAS As neoplasias malignas ocultas mais frequentes que causam febre são de origem reticuloendotelial como linfoma e leucemia. ● Linfoma Hodgkin ● Linfoma não Hodgkin ● Leucemia Essa febre geralmente ocorre quando o linfoma já está mais avançado ou então com padrões histológicos agressivos. Normalmente fazer TC, RM do tórax, abdome, pelve e biópsia da medula óssea permite identificação. Síndromes mielodisplásicas ocasionalmente se apresentam com febre e algumas evidências de alterações displásicas em várias células sanguíneas. O diagnóstico é feito por biópsia da medula. ● Carcinoma de células renais Há febre em aproximadamente 20 por cento dos casos. Pode ocorrer hematúria microscópica e eritrocitose, mas frequentemente não há anormalidades no sedimento urinário e o hematócrito é normal. ● Carcinoma hepatocelular ou outros tumores metastáticos para o fígado MISCELÂNIA ● Medicamentos Um terço dos pacientes hospitalizados sofre de reações adversas a medicamentos, incluindo "febre medicamentosa". Os medicamentos causam febre ao estimular uma reação alérgica ou idiossincrática ou ao afetar a termorregulação. Eosinofilia e erupção cutânea acompanham a febre medicamentosa em apenas 25%; portanto, a ausência desses achados não deve impedir a busca por uma possível droga ofensiva. As que mais causam problemas são: antimicrobianos (sulfonamidas, penicilinas, antimaláricos), anti-histamínicos bloqueadores de H1 e H2, drogas antiepilépticas, iodetos, AINES, antihipertensivos (hidralazina, metildopa).. !!!! Normalmente a reação medicamentosa ocorre mais em pacientes imunossuprimidos como os soropositivos para AIDS. DIAGNÓSTICO: suspensão medicamentosa com exposição ocasional. ● Febre factícia É geralmente uma manifestação de uma condição psiquiátrica subjacente que afeta predominantemente mulheres e profissionais de saúde. Pacientes com febre factícia fingem doença para obter algum ganho secundário. Eles também podem apresentar evidências de automutilação e podem ter sofrido várias hospitalizações e testes diagnósticos invasivos. As elevações da febre podem ser fabricadas por meio da manipulação de termômetros. Normalmente são extremas, às vezes ultrapassando 41ºC, e não acompanham sintomas e sinais frequentes da febre como calafrios, uso de cobertores, extremidades frias. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA ● História e exame clínico A história e o exame físico, assim como os exames laboratoriais, têm o potencial de gerar pistas diagnósticas valiosas em pacientes com FOI. Deve ser perguntado sobre: viagens, exposição a animais, imunossupressão, histórico de drogas, localização dos sintomas. Achados podem levar ao diagnóstico, ex: mudanças sutis de comportamento ou cognição pode ser meningite granulomatosa. O exame físico também deve ser completo e detalhado, deve-se pesquisar especialmente por lesões cutâneas, lesões em orofaringe, seios paranasais, visceromegalias, adenomegalias, sopros cardíacos e massas palpáveis em abdome e pelve. O exame físico completo deve ser realizado diariamente buscando novos sinais até o diagnóstico e todas as pequenas alterações devem ser estudadas. O exame da região genital e anal não podemser esquecidos. Fundoscopia deve ser realizada pelo menos a cada 3 dias. O peso corporal deve ser aferido semanalmente. ATENÇÃO: Perda de peso progressiva e rápida associada a febre prolongada costuma ser neoplasia maligna. ● Testes diagnósticos São pedidos todos os já citados e normalmente a taxa de falsos positivos pode levar a investigações desnecessárias, logo, deve-se ter cautela. Antes de tudo devem ser feitos algumas avaliações: 1. História 2. Exame físico 3. Hemograma completo - contagem diferencial e plaquetária 4. Hemoculturas (3 séries retiradas de locais diferentes com intervalos entre cada uma, porém, antes de atb) Catarina Nykiel - MedManas 5. Química do sangue de rotina, incluindo enzimas hepáticas e bilirrubina 6. Se os testes hepáticos estiverem anormais, sorologias para hepatite A, B e C 7. Exame de urina, incluindo exame microscópico e cultura de urina 8. Teste de anticorpos do HIV e carga viral do HIV 9. Radiografia de tórax 10. Fator reumatóide, anticorpos antinucleares 11. Teste cutâneo tuberculínico 12. TC de tórax e abdome 13. Biópsia: e linfonodos, de medula óssea e de fígado. TODA ADENOMEGALIA (aumento dos linfonodos) TEM QUE SER BIOPSIADA. A biópsia hepática deve ser realizada sempre que houver evidência de doença hepática por história clínica, exames laboratoriais ou de imagem. A biópsia de medula óssea é realizada mesmo quando não há alteração no sangue periférico, a fim de diagnosticar doenças do sistema mononuclear fagocitário. 14. Fosfatase alcalina: geralmente está elevada quando há comprometimento hepático ou ósseo e sua alteração leva a uma investigação mais profunda desses órgãos 15. PCR e VHS (> na arterite de células gigantes): repetidos de forma periódica. Ainda que os avanços da medicina tenham permitido o diagnóstico de algumas doenças que antes eram de difícil achado, o uso de antibioticoterapia empírica acaba por aumentar a dificuldade e gerar redução de sensibilidade a alguns medicamentos básicos. TRATAMENTO Os antipiréticos melhoram o conforto do paciente, reduzindo a cefaléia, as mialgias, e artralgias e a fadiga. Além disso, eles também podem prevenir o delírio, particularmente em adultos mais velhos, e reduzir as exacerbações de doenças pulmonares e cardíacas crônicas. No entanto, os medicamentos com efeitos antipiréticos podem retardar ou obscurecer os primeiros sintomas e sinais de doenças específicas. Assim, tentamos evitar a prescrição de paracetamol, AINES ou glicocorticóides. Foi relatado que as febres causadas por neoplasias malignas respondem melhor a agentes anti-inflamatórios não esteroidais, como o naproxeno, do que as febres de origem infecciosa, mas a ação do naproxeno é inespecífica; assim, a capacidade do chamado teste naproxeno de diferenciar as causas malignas das causas não malignas da FOI permanece não validada. Por essas razões, os estudos terapêuticos, mesmo quando bem-sucedidos na redução da febre, podem retardar o diagnóstico correto e, portanto, o tratamento adequado da FOI. IMPORTANTE: Nos casos em que não conseguimos chegar a uma etiologia podemos considerar a realização de uma laparotomia exploradora, principalmente se houver suspeita de doença intra-abdominal. Alguns sinais indicam doença intra-abdominal, sendo eles dor abdominal, anemia e perda de peso progressivas, icterícia, hepatomegalia, alteração da função hepática, esplenomegalia e massa abdominal palpável ou ascite. Se houver ascite, deve-se coletar amostra do líquido para cultura e citologia Em pacientes neutropênicos febris, os princípios do tratamento são inteiramente diferentes. Devido à prevalência relativamente alta de infecções bacterianas graves responsáveis por essas febres, os pacientes neutropênicos febris devem receber terapia antimicrobiana de amplo espectro imediatamente após a obtenção de amostras de culturas apropriadas. Catarina Nykiel - MedManas
Compartilhar