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Carolina Marques Anestesiologia Classificação Mallampati Classificação Asa Drº Eder ● Fisiopatologia da Dor A dor é causada por lesão tecidual. Com o objetivo de retirar o estímulo doloroso que está causando lesão. Dor rápida/aguda → é sentida dentro de 0.1 segundo após o estímulo doloroso. Descrição: - Dor pontual - Dor em agulhada - Dor aguda - Dor elétrica Carolina Marques Agulha, facada, queimaduras agudas e choque elétrico. Não é sentida nos tecidos mais profundos Dor lenta/crônica → começa após o início de estímulo doloroso levando 1 segundo ou mais, aumentando levemente durante vários segundos e às vezes durante minutos. Descrição: - Dor em queimação - Dor persistente - Dor pulsátil - Dor nauseante - Dor crônica Geralmente associada a destruição tecidual Pode levar ao sofrimento prolongado e quase insuportável Pode ser sentida na pele e em quase todos os órgãos ou tecidos profundos. ➔ TIPOS DE DOR ● Dor nociceptiva Esse tipo de dor envolve estímulos ascendentes transmitidos atráves de nervos normais, ao longo de neurônios sensoriais, e que sobem pelas vias espinotalâmicas da medula espinhal. Compreende as dores somáticas e viscerais. A dor somática é tipicamente bem localizada sobre a superfície cutânea ou nas estruturas musculoesqueléticas profundas (p. ex., feridas no pós-operatório imediato, metástases ósseas, estiramentos musculares). A dor visceral costuma ser mal localizada e frequentemente é atribuída a estruturas profundas, como os intestinos ● Dor inflamatória A dor inflamatória é transmitida através de vias e nervos normais, tal como a dor nociceptiva. Entretanto, o grau de lesão tissular leva à ativação de mediadores inflamatórios agudos e crônicos que potencializam a dor, diminuem os limiares de condução e sensibilizam o sistema nervoso central para o estímulo que chega. Os exemplos incluem condições inflamatórias crônicas, tais como artropatias e artrites, vasculopatias isquêmicas, feridas pós-operatórias tardias e queimaduras. ● Dor neuropática Surge em uma área anormal do ponto de vista neurológico, sendo causada por uma lesão do sistema nervoso central ou periférico. Os mecanismos de lesão são em sua maior parte mal compreendidos, mas podem incluir lesão incisional ou por esmagamento do tecido nervoso e agressões nutricionais, químicas, isquêmicas, metabólicas, neoplásicas ou paraneoplásicas do sistema nervoso periférico ou central. A dor geralmente é percebida ou descrita como tendo uma qualidade elétrica (i. e., em queimação, lancinante, em punhalada, vibrátil, em formigamento) ou associada a parestesia ou alteração da temperatura. A sensibilidade na área afetada e envolvida pela dor é habitualmente Carolina Marques anormal. Por exemplo, estímulos não-nóxicos (como toque, pressão leve ou temperatura) são frequentemente amplificados de modo a se tornarem hiperalgésicos ou produzirem dormência. A sensação causada pelo estímulo pode estar dissociada do estímulo em si (p. ex., um leve toque com uma pena pode provocar dor, o frio pode ser sentido como calor, os estímulos provocados por um instrumento pontiagudo podem ser percebidos como dormência). Exemplos: neuropática incluem a neuralgia pós-herpética, a dor do membro fantasma, a dor torácica pós-toracotomia e a neuropatia diabética. ● Dor nociceptiva É causada pela ativação dos nociceptores e pela transmissão dos impulsos gerados, que percorrem as vias nociceptivas até as regiões do sistema nervoso central, onde são interpretados. • A dor secundária a agressões externas (picada de um inseto, fratura de um osso, corte da pele), a dor visceral (cólica nefrética, apendicite), a neuralgia do trigêmeo, a dor da artrite e da invasão neoplásica dos ossos são exemplos de dor nociceptiva. A dor nociceptiva começa simultaneamente ao início da atividade do fator causal. Sua remoção frequentemente culmina com o alívio da sensação dolorosa. Nenhum déficit sensorial é identificado, e a distribuição da dor corresponde à das fibras nociceptivas estimuladas. Quanto menor é o número de segmentos medulares envolvidos na inervação de uma estrutura, mais localizada é a dor (somática superficial). Em contrapartida, quanto maior o número de segmentos medulares, mais difusa é a dor (visceral e somática profunda). A dor nociceptiva pode ser espontânea ou evocada: • A espontânea pode ser expressa com as mais variadas designações: pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, latejante, surda, contínua, profunda, vaga, dolorimento. Todas essas denominações sugerem lesão tissular. • A evocada pode ser desencadeada por algumas manobras como: manobra de Lasegue na ciatalgia, a dor provocada pelo estiramento da raiz nervosa, obtida pela elevação do membro inferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal, e lavar o rosto e escovar os dentes, nos pacientes com neuralgia do trigêmeo. Esse tipo de dor reproduz a sentida pelo paciente ● Dor não nociceptiva A dor não nociceptiva engloba a dor neuropática e a psicogênica - Dor neuropática: A dor neuropática resulta de dano ao SNC ou sistema nervoso periférico. Não é necessária a estimulação dos nervos para que o paciente informe que sente dor. A dor pode ser leve ou muito intensa, sendo descrita, muitas vezes, como uma sensação de queimação ou cauterização. Tem localização pouco definida e não responde às intervenções convencionais. Comumente, a dor neuropática é contínua, e não intermitente. Pode ser acompanhada por parestesias, sensações de calor ou frio, formigamento, dormência ou paralisia. Como o resultado da lesão dos nervos, é comum a dor neuropática se transformar em um sintoma crônico que pode ser gravemente debilitante - Dor psicogênica: A dor psicogênica, por sua vez, está relacionada à prevalência de fatores psicológicos na gênese da sensação dolorosa. Esse tipo de dor pode ser observado em Carolina Marques distúrbios psicológicos, como na depressão e na ansiedade generalizada. A depressão e a ansiedade interagem na percepção da dor via mecanismos inibitórios e facilitatórios. As vias noradrenérgicas e serotoninérgicas estão envolvidas no mecanismo da ansiedade e da depressão, bem como no controle central da dor. A interação entre as unidades excitatórias e inibitórias, a condição emocional, os traços constitucionais, as experiências pregressas e presentes, a ocorrência de anormalidades orgânicas ou funcionais e as condições ambientais podem interferir na transmissão da informação nociceptiva para centros nervosos, os quais participam da percepção ou das reações reflexas diante da dor. O estresse psicológico, por exemplo, torna a dor mais intensa ou menos tolerável ➔VIAS DE DOR Os estímulos dolorosos transitam por 2 vias distintas específicas para cada tipo de dor: 1. A dor aguda (rápida) utiliza a via espinotalâmica lateral. 2. A dor crônica (lenta) utiliza a via espinorreticulotalâmica. Cada uma obedece a um trajeto, a localização no sistema nervoso central (SNC) e o número de fibras envolvidas, o que determina o tipo de dor. Trato espinotalâmico lateral ➔ Embriologicamente, é a mais recente via neoespinotalâmica. ➔ Iniciada por estímulos mecânicos ou térmicos, utiliza-se de axônios com velocidade de condução mais rápida, as fibras Aδ (12 a 30 m/s). ➔ É a via que produz a sensação da dor aguda, em pontada, lacerante e bem localizada. ➔ Seu impulso é transmitido da periferia do SNC ao córtex cerebral, através de 3 neurônios. FIBRAS Aδ ⇒ TÁLAMO ⇒ CÓRTEX SOMATOSENSORIAL Carolina Marques Trato espinorreticulotalâmico ➔ Embriologicamente, é a mais antiga via paleoespinotalâmica. ➔ Inicia-se por fatores químicos (produzidos pela própria lesão). ➔ Utiliza axônios de diâmetro reduzido e velocidade de condução lenta (0,5 a 2 m/s) as fibras C. ➔ Esta via produz dor crônica, mal localizada, difusa, contínua em queimação. ➔ Conduz o estímulo da periferia do SNC até o córtex cerebral, através de vários neurônios (no mínimo 4, podendo chegar a 16). FIBRA C⇒ BULBO ⇒ MESENCÉFALO ⇒ TÁLAMO ⇒ ÍNSULA ⇒ CÓRTEX SOMATOSENSORIAL PRIMÁRIO Carolina Marques A anatomiada dor é constituída basicamente por fibras aferentes do tipo A e C, pouco mielinizadas. Ambas apresentam, em suas extremidades periféricas, receptores do tipo terminações nervosas livres, que captam da pele e das vísceras os estímulos nocivos térmicos, químicos e mecânicos, em uma tentativa de informar ao córtex sensitivo (área 3, 2, 1 de Brodmann) a agressão cometida para que se obtenha uma resposta compatível ao fato. Ao serem estimuladas, percorrem um trajeto com início nas terminações nervosas livres. Passam pelos gânglios espinais, adentram a medula espinal, ascendem ao tronco encefálico, à formação reticular, ao tálamo, as áreas límbicas e finalmente ao córtex sensitivo do cérebro. Carolina Marques ➔ Neurotransmissores - Dor aguda = Glutamato - Dor crônica = Substância P Neurotransmissores excitatórios: Glutamato, Substância P, serotonina Neurotransmissores inibitórios: norepinefrina, Opióides, GABA, glicina e dopamina ● Dor fibromialgia e Síndrome da Dor Complexa Regional A fibromialgia (FM) caracteriza-se por dor e hipersensibilidade crônicas generalizadas. Embora seja definida principalmente como síndrome dolorosa, os pacientes com FM também se queixam comumente de sintomas neuropsicológicos associados à fadiga, sono não restaurador, disfunção cognitiva, ansiedade e depressão. Pacientes com FM exibem uma prevalência aumentada de outras síndromes associadas a dor e fadiga, incluindo síndrome da fadiga crônica, distúrbio temporomandibular, cefaleias crônicas, síndrome do intestino irritável, cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa e outras síndromes de dor pélvica. As evidências disponíveis apontam o sistema nervoso central como essencial na manutenção da dor e de outros sintomas centrais de FM e de condições correlacionadas. A presença de FM está associada a consequências negativas substanciais para o funcionamento físico e social. ● EPIDEMIOLOGIA A FM é muito mais comum em mulheres do que em homens, com uma relação de cerca de 9:1. Em estudos populacionais de âmbito mundial, existe um acordo geral de que a taxa de prevalência é de aproximadamente 2 a 3%, com taxas que se aproximam mais de 5 a 10% em clínicas de atendimento primário. Os dados de prevalência assemelham-se entre classes socioeconômicas. Os fatores culturais podem estar envolvidos, determinando se um paciente com sintomas de FM irá procurar assistência médica; entretanto, mesmo em culturas nas quais não se espera que o ganho secundário possa desempenhar um papel significativo, a prevalência da FM permanece nessa faixa. ● Fisiopatologia; Como na maioria das doenças complexas, é provável que vários genes contribuam para a vulnerabilidade ao desenvolvimento da FM. Até o momento, esses genes parecem estar em vias que controlam a sensibilidade à dor e a resposta ao estresse. Algumas das bases genéticas da FM são compartilhadas com outras condições de dor crônica. Por exemplo, a catecol-O-metiltransferase, que controla os níveis sinápticos de norepinefrina e dopamina tem sido associada à sensibilidade a dor na população geral, e certos polimorfismos ou haplótipos foram associados à FM, síndrome de fadiga crônica e distúrbio temporomandibular. Polimorfismos do receptor –adrenérgico e do receptor de dopamina também estão associados à FM e a outras condições de dor crônica. Genes associados ao metabolismo, ao transporte e as receptores de serotonina e de outros monoaminas também foram implicadas na FM e condições de superposição. Quando consideradas em conjunto, as vias nas quais foram identificados polimorfismos em pacientes com FM implicam ainda mais fatores centrais como mediadores da fisiologia que leva às manifestações clínicas da FM. O exame psicofísico de pacientes com FM demonstrou alteração do processamento aferente sensorial da dor e comprometimento do controle inibitório nocivo descendente, com consequente hiperalgesia e alodinia. A RM funcional e outros procedimentos de imagem para pesquisa demonstram claramente a ativação das regiões cerebrais envolvidas na experiência da dor em resposta a estímulos que são inócuos em controles do estudo sem FM. A percepção da dor em pacientes com FM é influenciada pelas dimensões emocionais e cognitivas, como catastrofização e percepções de controle, Carolina Marques proporcionando uma base sólida para recomendação de estratégias de terapia cognitiva e comportamental. ● Quadro clínico; A queixa inicial mais comum de um paciente com FM é de “dor em todo o corpo”. A dor em pacientes com FM localiza-se acima e abaixo da cintura, em ambos os lados do corpo, acometendo o esqueleto axial (pescoço, costas ou tórax). A dor atribuível a FM é pouco localizada, difícil de ignorar, intensa e associada a uma redução da capacidade funcional. A dor deve estar presente na maior parte do dia, na maioria dos dias, durante pelo menos 3 meses. A dor clínica da FM está associada a um aumento da sensibilidade à dor evocada. Na prática clínica, essa sensibilidade é determinada pelo exame de um ponto hipersensível, em que o examinador usa a unha do polegar para exercer uma pressão de aproximadamente 4 kg/m2, ou uma pressão que produz empalidecimento da ponta da unha do polegar, em locais musculotendíneos bem definidos (Fig. 22.1). Os critérios de classificação da American College Rheumatology exigiam anteriormente 11 de 18 locais percebidos como dolorosos para o diagnóstico de FM. Na prática, a hipersensibilidade é uma variável contínua, e a aplicação rigorosa de um limiar categórico para um diagnóstico específico não é mais necessária. A sensibilidade aumentada a dor pode ser demonstrada não apenas para a dor induzida por pressão mecânica realizada na clínica, mas também para pressão mecânica não muscular, calor, frio e outros estímulos sensoriais; isso reforça a ideia de que os mecanismos patogênicos da FM não estão relacionados com uma patologia musculoesquelética específica, mas como uma alteração no processamento da dor. Novos critérios eliminam os pontos sensíveis e concentram-se nos sintomas clínicos de dor disseminada e sintomas neuropsicológicos. Pacientes com FM frequentemente apresentam geradores de dor periférica que se acredita atuam como gatilhos para a dor mais disseminada atribuída a fatores do sistema nervoso central. Geradores de dor potenciais, como artrite, bursite, tendinite, neuropatias e outras condições inflamatórias ou degenerativas, devem ser identificados pela anamnese e exame físico. Geradores de dor mais sutis podem incluir hipermobilidade articular e escoliose. Os pacientes também podem apresentar mialgias crônicas desencadeadas por condições infecciosas, metabólicas ou psiquiátricas, que podem atuar como gatilhos para o desenvolvimento de FM. Com frequência, essas condições estão incluídas no diagnóstico diferencial de FM, e um grande desafio consiste em diferenciar a atividade continuada de uma condição desencadeante da FM como consequência de uma condição comórbida que deve ser, ela própria, tratada. Carolina Marques ● Sintomas neuropsicológicos Além da dor disseminada, os pacientes com FM queixam-se de fadiga, rigidez, distúrbios do sono, disfunção cognitiva, ansiedade e depressão. Esses sintomas ocorrem em graus variáveis na maioria dos pacientes com FM, porém não estão presentes em todo o paciente ou em todos os momentos. Entretanto, esses sintomas podem ter um impacto igual ou até mesmo maior sobre a função e a qualidade de vida. A fadiga é altamente prevalente em pacientes com assistência médica primária nos quais se estabelece finalmente o diagnóstico de FM. A dor, a rigidez e a fadiga frequentemente são agravadas pelo exercício ou por uma atividade não habitual (mal-estar após esforços). As queixas quanto ao sono incluem dificuldade em adormecer, dificuldade em manter o sono e acordar cedo pela manhã. Independentemente da queixa específica, os pacientes acordam sentindo-se cansados. Pacientes com FM podem preencher os critérios para a síndrome das pernas inquietas e sono com distúrbio da respiração; além disso, pode ocorrer apneiado sono franca. As queixas cognitivas caracterizam-se por lentidão no processamento, dificuldades de atenção ou concentração, problemas com lembrança de palavras e perda da memória de curto prazo. Sintomas de ansiedade e de depressão são comuns, e a prevalência de transtornos do humor em pacientes com FM aproxima-se de 80%. Embora a presença de depressão não seja necessária nem suficiente para o diagnóstico de FM, é importante proceder a uma triagem para transtornos de depressão maior, investigando a presença de humor deprimido e anedonia. A análise dos fatores genéticos que provavelmente predispõe a FM revela vias neurobiológicas compartilhadas com os transtornos do humor, fornecendo a base para a comorbidade. ● Síndromes de superposição Como a apresentação da FM pode superpor-se a outras condições de dor crônica, a revisão dos sistemas frequentemente revela cefaleias, dor facial/mandibular, dor miofascial regional, que acomete particularmente o pescoço ou as costas e artrite. As queixas de dor visceral acometendo o trato gastrintestinal, a bexiga e a região pélvica ou perineal também estão frequentemente presentes. Os pacientes podem ou não preencher critérios definidos para síndromes específicas. É importante que o paciente compreenda que pode haver vias compartilhadas que medeiam os sintomas, e que o uso de estratégias de tratamento efetivas para uma condição pode ajudar no controle sintomático e global. Carolina Marques ● Condições comórbidas A FM frequentemente é comórbida com condições musculoesqueléticas, infecciosas, metabólicas ou psiquiátricas crônicas. Apesar de a FM acometer apenas 2 a 5% da população geral, ela ocorre em 20% ou mais dos pacientes com distúrbios degenerativos ou reumáticos inflamatórios, provavelmente pelo fato de que essas condições atuam como geradores de dor periférica, alterando as vias centrais de processamento da dor. De modo semelhante, doenças infecciosas, metabólicas ou psiquiátricas crônicas associadas a dor musculoesqueléticas podem simular a FM e/ou atuar como gatilho para o desenvolvimento de FM. É particularmente importante que o médico seja sensível ao controle da dor dessas condições comórbidas, de modo que, quando surgir a FM, caracterizada por dor fora dos limites que poderiam ser razoavelmente explicados pela condição desencadeante, desenvolvimento de sintomas neuropsicológicos ou hipersensibilidade ao exame físico, o tratamento dos processos centrais de dor seja instituído, em lugar de continuar focando no tratamento das causas periféricas ou inflamatórias da dor. ● Considerações psicossociais Com frequência, os sintomas da FM começam e são exacerbados durante períodos de altos níveis de estresse real ou percebidos. Isto pode refletir uma interação entre a fisiologia do estresse central, vigilância ou ansiedade e as vias centrais de processamento da dor. O conhecimento dos atuais estressores psicossociais irá ajudar no tratamento do paciente, visto que muitos fatores que exacerbam os sintomas não podem ser controlados com o uso de abordagens farmacológicas. Além disso, existe uma alta prevalência de exposição à violência interpessoal prévia e outras formas de violência em pacientes com FM e distúrbios relacionados. Se houver possibilidade de transtorno de estresse pós-traumático, o médico deve estar atento e considerar as opções de tratamento. ● Comprometimento funcional É de suma importância avaliar o impacto dos sintomas da FM sobre a função e o desempenho de papéis. Na definição do sucesso de uma estratégia de tratamento, a melhora da função constitui uma medida essencial. A avaliação funcional deve incluir os domínios físico, social e mental. O reconhecimento das áreas onde o desempenho de papel torna-se deficiente irá ajudar a estabelecer metas de tratamento. ● Diagnóstico; DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Como a dor musculoesquelética constitui uma queixa tão comum, o diagnóstico diferencial da FM é amplo. Os pacientes com causas inflamatórias para dor disseminada devem ser identificados com base na história específica, achados físicos e exames laboratoriais e radiográficos. Carolina Marques EXAMES LABORATORIAIS OU RADIOGRÁFICOS Os exames laboratoriais e radiográficos de rotina são normais em pacientes com FM, de modo que os exames complementares visam excluir outros diagnósticos e avaliar os geradores de dor ou condições comórbidas. Na maioria dos pacientes com queixa recente de dor crônica disseminada, devem-se avaliar as entidades mais comuns no diagnóstico diferencial. Os exames radiográficos devem ser usados de modo parcimonioso e apenas para o diagnóstico de artrite inflamatória. Após o paciente ter sido submetido a uma avaliação completa, a repetição dos exames não é incentivada, a não ser que haja mudanças no complexo sintomático. O exame de imagem (RM) da coluna deve ser particularmente desencorajado, a não ser que haja características sugestivas de doença inflamatória da coluna ou sintomas neurológicos. Carolina Marques Tratamento. ● TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Os pacientes devem ser orientados sobre as expectativas do tratamento. O médico deve ressaltar a melhora da função e da qualidade de vida, e não a eliminação da dor. As estratégias de tratamento devem incluir condicionamento físico, com incentivo para iniciar com baixos níveis de exercício aeróbio, porém com progresso lento, porém consistente. Pacientes que eram fisicamente inativos ou que relatam a ocorrência de mal-estar após esforços podem ter uma melhor resposta inicial em programas supervisionados ou que realizados na água. Os tratamentos que incorporam uma melhora da função física com relaxamento, como ioga e Tai Chi, também podem ser úteis. Pode se recomendar a prática de musculação quando o paciente tiver alcançado suas metas aeróbias. Os programas de exercícios são úteis para reduzir a hipersensibilidade e para aumentar a autoeficiência. ● ABORDAGENS FARMACOLÓGICAS É essencial que o médico trate qualquer condição desencadeante comórbida e estabeleça claramente para o paciente as metas de tratamento com cada medicação. Por exemplo, os glicocorticoides ou os anti-inflamatórios não esteroides podem ser úteis no tratamento dos fatores desencadeantes inflamatórios, porém não são efetivos para os sintomas relacionados com a FM. Na atualidade, as abordagens de tratamento que demonstraram ter maior sucesso em paciente com FM são dirigidas para as vias aferentes ou descendentes de dor. É preciso ressaltar que os analgésicos opióides devem ser evitados em pacientes com FM. Esses agentes não têm nenhuma eficácia demonstrada na FM e estão associados a hiperalgesia induzida por opioides, que podem agravar tanto os sintomas quanto a função. O uso de um único agente para tratar múltiplos domínios de sintomas é fortemente incentivado. Por exemplo, se o complexo sintomático de um paciente for dominado pela dor e distúrbio do sono, é desejável utilizar um agente que exerça efeitos tanto analgésicos quanto de promoção do sono. Estes agentes incluem antidepressivos sedativos, como amitriptilina ou ligantes alfa-2-delta, como gabapentina e pregabalina. Para pacientes com dor associada a fadiga, ansiedade ou depressão a primeira escolha mais apropriada pode consistir em fármacos que exercem efeitos tanto analgésicos quanto antidepressivos/ansiolíticos, como duloxetina ou milnaciprana. ➔Sobre Síndrome Dolorosa Complexa Regional: (Livro do Marco) A síndrome complexa de dor regional (SCDR) é uma doença que atinge as extremidades. É caracterizada por dor, edema, limitada amplitude de movimento, instabilidade vasomotora, alterações cutâneas e desmineralização óssea. Frequentemente, surge após uma lesão, cirurgia ou evento vascular, excedendo tanto em magnitude quanto em duração o curso clínico esperado pelo evento gerador. Carolina Marques A Classificação de Dor Crônica da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) redefiniu a síndrome dolorosa anteriormente conhecida como distrofia simpático-reflexa e causalgia. Na SCDR tipo I (distrofia simpático-reflexa),lesões pequenas ou fraturas de extremidades precedem o início dos sintomas. A SCDR tipo II (causalgia) surge após lesão de nervo periférico. A dor simpateticamente (DSM) é considerada um fenômeno variável associado a diversos distúrbios, incluindo SCDR. EPIDEMIOLOGIA As mulheres são mais acometidas por SCDR do que os homens; a razão de sexo mulher:homem varia de 2:1 a 4:1. A faixa etária mais atingida é a dos 37 aos 50 anos. A SCDR I é mais frequente que a SCDR II. Um estudo populacional calculou a incidência da SCDR I de 5,5 para 100.000 pessoas/ano e prevalência de 21 para 100.000. A SCDR II apresentou incidência de 0,8 para 100.000 pessoas/ano e prevalência de 4 para 100.000.2 Estudos estimam que, dos pacientes que apresentam SCDR, 1 a 2% sejam provenientes de fraturas e 4% das lesões nervosas evoluem para SCDR II. ● Fisiopatologia; Disfunção do sistema nervoso simpático Este modelo, mais extensamente estudado nos dias de hoje, pressupõe que ocorra uma resposta inflamatória exagerada e persistente diante do trauma inicial, com o intuito de promover a cura e preservar a integridade do organismo, pois todos os sinais clássicos da inflamação estão presentes na síndrome: calor, rubor, edema, dor e perda de função. Em indivíduos com SCDR, são observados sangue e líquor nos líquidos intersticiais, além do aumento de mediadores inflamatórios IL-2, IL-4,IL-6, TNF-alfa e bradicinina FATOR GENÉTICO A importância clínica da genética sobre a SCDR ainda está para ser definida. A incidência e a prevalência da doença não seguem padrões mendelianos de herança. Há poucos estudos que indicam que alguns genótipos pré-dispõem a SCDR. Associações de antígenos leucocitários humanos (HLA) com diferentes fenótipos têm mostrado aumento dos antígenos A3, B7 e DR2 do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) em pacientes com SCDR. Os antígenos HLA-DQ1 e HLA-DR13 também parecem estar associados à ocorrência e à gravidade de SCDR. A fisiopatologia ainda é incerta e pouco progresso tem sido observado no entendimento dos processos que ocorrem na doença. Há autores que postulam que o fenômeno inicia seja o processo inflamatório desproporcional, desencadeado após a lesão tecidual. Os componentes da resposta inflamatória como o edema, calor, rubor, eritema apertada função se fazem presentes em seguida à lesão, resultantes da liberação de mediadores químicos no local. A sensibilização dos nociceptores no local da lesão se estabelece por causa de mediadores liberados como bradicinina, leucotrienos, serotonina, histamina e prostaglandinas. ● Quadro clínico; Fraqueza dos músculos afetados está presente associada com alteração da acurácia de pequenos movimentos. Estudos de condução nervosa e eletromiografia são normais, exceto em estágios avançados da doença. Aproximadamente metade dos pacientes apresenta tremor de ação ou postural e 10% apresentam distonia de pé ou mão afetada. ● Diagnóstico; Síndrome complexa de dor regional tipo I 1. A síndrome tem início após um evento lesivo. 2. Ocorre dor espontânea ou alodinia/hiperalgesia, não há limite territorial de nervo periférico específico e é desproporcional à lesão causadora. 3. Há evidência de edema, anormalidade do uxo sanguíneo cutâneo ou atividade sudomotora anormal na região da dor após evento lesivo 4. Exclui-se o diagnóstico por outras condições que promoveriam esse tipo de dor ou disfunção. Carolina Marques Síndrome complexa de dor regional tipo II 1. A síndrome tem início após lesão de nervo. 2. Ocorre dor espontânea ou alodinia/hiperalgesia, que não necessariamente se limita ao território de nervo periférico específico e é desproporcional à lesão causadora. 3. Há evidência de edema, anormalidade do fluxo sanguíneo cutâneo ou atividade sudomotora anormal na região da dor após evento lesivo. 4. Exclui-se o diagnóstico por outras condições que promoveram tal dor ou disfunção. A dor é essencial para o diagnóstico. Sintomas e achados motores, apesar de comuns, não estão incluídos nos critérios diagnósticos. Os mecanismos envolvidos na gênese e sustentação da síndrome ainda são desconhecidos. Provavelmente, diferentes eventos fisiopatológicos ocorrem em locais distintos, simultaneamente ou em sequência. Não existe um modelo que explique todas as formas de apresentação e evolução da síndrome. ● Tratamento. Por ser uma doença complexa, de difícil diagnóstico, com inúmeras propostas terapêuticas e às suas variadas respostas, não existe um protocolo padrão para o tratamento da SDCR. Torna-se necessário, em muitos casos, realizar associações de técnicas para um bom resultado. Nesse sentido, acredita-se que o acompanhamento do paciente deva ser multidisciplinar e multiprofissional devido aos vários componentes envolvidos na doença - Blo���i� �� gân��i� �s��el��� O gânglio estrelado é um grupo de nervos na região do pescoço. Um estudo descritivo com 229 pacientes com SDRC tipo I em membros superiores realizou o bloqueio do gânglio estrelado, de acordo com a técnica de Herget modificada por Nolte. Para isso, utilizou lidocaína a 1% para a pápula cutânea e bupivacaína a 0,25%, duas vezes por semana. Uma vez realizado o tratamento, os pacientes permaneceram pelo menos 1h na sala de recuperação pós-anestésica. Todos os pacientes foram treinados para realizar fisioterapia em suas casas. Ao final do tratamento, foi encontrada alta eficácia no alívio dos sintomas, embora 17,9% dos pacientes retornaram sem encontrar um alívio definitivo para sua doença. Nesse sentido, o autor propõe que uma diminuição de 50% na dor por meio do bloqueio do gânglio estrelado deva ser considerada como um tratamento satisfatório. Drª Gerusa ● Sedação Carolina Marques Carolina Marques Carolina Marques Carolina Marques Carolina Marques Carolina Marques ● Dor oncológica e Dor por desaferentação ● Limiar da dor (tolerância). “Corresponde a mínima intensidade de um estímulo que é percebida como dolorosa”. ● Alodínia Dor que surge como resultado de um estimulação não-nociva aplicada à pele normal. Tátil ou mecânica - (roupas ou vento tocando a pele), toque suave dos dedos, algodão, escova. ● Hiperalgesia Dor exacerbada após estímulo nociceptivo. • Ex: dor exagerada após pequena agulhada. ● Hiperpatia Reação álgica intensa e exagerada após estímulos repetitivos. Ex: Agulhamento sequencial em mesmo ponto da pele; fenômeno de somação. ● Parestesia Sensação anormal, geralmente não desagradável, espontânea ou provocada, como formigamento, adormecimento. ● Disestesia Sensação anormal, espontânea, desconfortável, dolorosa. O limiar da dor não é fixo e pode ser deslocado para cima e para baixo, sendo esse mecanismo adaptativo ou mal adaptativo. Deslocamentos do limiar da dor são expressões da plasticidade neural, significando que mudanças no sistema nervoso podem modular a resposta a estímulos. Carolina Marques DOR NO MEMBRO FANTASMA SOBRE AS NEUROPATIAS PERIFÉRICAS - TERMINOLOGIAS IMPORTANTES NEURALGIA PÓS HERPÉTICA Carolina Marques NEUROPATIA DIABÉTICA DOLOROSA SÍNDROME DA DOR REGIONAL CRÔNICA - SDRC Carolina Marques
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