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Direito Penal

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TRIBUNAL DO JÚRI NA ESFERA FEDERAL
	A literatura nacional remonta o surgimento do Tribunal do Júri ainda no Brasil Império. Em 1822, pelo que se pode extrair desta, foi criado o júri por meio da lei de 18 de junho de 1822, para que fosse instituído juízes de fato para o julgamento de abuso de liberdade de imprensa. O júri foi mantido nas constituições que sucederam a lei que o criou até a Constituição Federal de 1988, que o instituiu no título II, capítulo I, dos direitos e deveres individuais e coletivos. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados; a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
	Como se pode depreender do artigo supracitado, é assegurada a plenitude da defesa (proporciona ao acusado a defesa inerente à sua condição), o sigilo das votações (visa assegurar aos jurados a garantia de que não sofrerão perseguição em razão das suas decisões), a soberania dos veredictos (isto é, o mérito do julgamento é de competência exclusiva dos jurados. Não se trata de princípio absoluto, pois pode ser relativizado quando houver possibilidade de absolvição sumária e na revisão criminal) e a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
	No que diz respeito a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, a Constituição Federal elenca os crimes os quais se refere a alínea “d” do inciso XXXVIII do artigo 5º, qual seja
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentado.
	Portanto, os crimes de alçada do Tribunal do Júri são o Homicídio, trazido no artigo 121, e parágrafos, do Decreto-Lei 2.848/1940, Código Penal, tanto o privilegiado quanto o qualificado, excluídas as modalidades culposas, que são de competência do Juiz singular, e observados os critérios de competência originária. O induzimento, o auxílio e a instigação ao suicídio, bem como o infanticídio e todas as modalidades dolosas de aborto traduzido no capítulo I, do mesmo diploma legal, na sua forma dolosa. 
	Saliente-se, no entanto, que, de acordo com a doutrina majoritária, a competência para o Tribunal do Júri pode ser ampliada por lei ordinária. Dessa forma, a competência para julgar crimes dolosos contra a vida é considerada mínima, posto que os crimes conexos também podem ser julgados pelo referido Tribunal. Nesse sentido, em julgamento ao HC 101.542/SP, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, em 2010 ratificou o entendimento supracitado
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA. COMPETÊNCIA MÍNIMA DO TRIBUNAL DO JÚRI. INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, XXXVIII, D, DA CF. POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DE JURISDIÇÃO POR LEI ORDINÁRIA. REGRAS DE CONEXÃO E CONTINÊNCIA LEGITIMAMENTE ESTABELECIDAS PELO ART. 78, I, DO CPP. CONSELHO DE SENTENÇA QUE SE PRONUNCIA TAMBÉM SOBRE OS DELITOS DE SEQUESTRO E ROUBO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I – A competência do Tribunal do Júri, fixada no art. 5º, XXXVIII, d, da CF, quanto ao julgamento de crimes dolosos contra a vida é passível de ampliação pelo legislador ordinário. II – A regra estabelecida no art. 78, I, do CPP de observância obrigatória, faz com que a competência constitucional do tribunal do júri exerça uma vis atrativa sobre delitos que apresentem relação de continência ou conexão com os crimes dolosos contra a vida. Precedentes. III – A manifestação dos jurados sobre os delitos de sequestro e roubo também imputados ao réu não maculam o julgamento com o vício da nulidade. IV – O habeas corpus, ademais, em que pese configurar remédio constitucional de largo espectro, não pode ser utilizado como sucedâneo da revisão criminal, salvo em situações nas quais se verifique flagrante nulidade processual seja na sentença condenatória, seja no acórdão que a tenha confirmado. V – Ordem denegada. (STF – HC: 101542 SP, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 04/05/2010, Primeira Turma, Data de Publicação: Dje-096 DIVULG 27-05-2010 PUBLIC 28-05-2010 EMENT VOL 0240304 PP-01149)
	
	O Código de Processo Penal traz outras particularidades quanto ao funcionamento do Tribunal do Júri. Em relação a atribuição para julgar os crimes dolosos contra a vida, esta pode ser estadual ou federal. O Tribunal do Júri na esfera federal foi criado com o decreto 848 em 11 de outubro de 1890, seguindo basicamente as mesmas regras de julgamento Estadual, ressaltando, conforme prevê a Constituição Federal de 1988
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral (...);
	
	Merece destaque a atuação do Superior Tribunal de Justiça onde reconheceu a competência da Justiça Federal para processar um agente por crime de homicídio que teria sido praticado para evitar que a vítima prestasse um depoimento em um órgão federal
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. GRUPO DE EXTERMÍNIO. FORMAÇÃO DA QUADRILHA. CRIME PRATICADO PARA EVITAR QUE A VÍTIMA PRESTASSE DEPOIMENTO A CONSELHO DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA HUMANA. ÓRGÃO VINCULADO AO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. […] 4. Se o crime de homicídio foi praticado, segundo a denúncia, com o objetivo de evitar que a vítima prestasse declarações ao referido Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, de forma a impedir que aquele órgão federal descortinasse as práticas da organização criminosa, resta evidente que a infração penal maculou, de forma indelével, serviço e interesse da União. […] 6. Tem-se por caracterizada a ofensa a interesse da União, consoante a disciplina contida no art. 109, IV, da Constituição Federal, de modo a determinar a competência, na espécie, da Justiça Federal para o processamento e julgamento do feito criminal. […] (STJ, Sexta Turma, HC 57.189/DF, Rel. Ministro Og Fernandes, julgado em 16/12/2010)
	Outro ponto importante, trata da competência do tribunal do júri ainda no âmbito da Justiça Federal para julgar de crime doloso contra a vida de funcionário público federal no exercício da função ou em virtude dela, como o homicídio de um Policial Rodoviário Federal ocorrido durante o seu dia de folga, em uma abordagem ou de um Policial Federal, em razão de alguma investigação o qual fazia parte.
	Nesse ínterim, deve-se lembrar da súmula 147 do STJ, que prevê “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.”
	Em tempo, competirá ainda à Justiça Federal o processo e julgamento de crime doloso contra a vida ocorrido a bordo de navio ou aeronave (ressalvada a competência da Justiça Militar), bem como o de crime doloso contra a vida no contexto coletivo dos direitos indígenas. 
	Ademais, caso um servidor público federal, no exercício de suas funções, pratique um crime doloso contra a vida, a competência para o julgamento pelo tribunal do júri será da Justiça Federal. Apesar de a vida atingida não ser um bem da União, ofende-se um interesse federal quando um funcionário público pratica um crime no exercício de suas funções.
	Nesse sentido, um antigo julgado do STJ:
PROCESSUAL PENAL. AGENTE DE POLICIA FEDERAL. HOMICIDIO. – COMPETENCIA. CABE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS DELITOSPRATICADOS POR FUNCIONARIO PUBLICO FEDERAL, NO EXERCICIO DE SUAS FUNÇÕES E COM ESTAS RELACIONADAS, INCLUSIVE A PRESIDENCIA DO JURI NOS CRIMES CONTRA A VIDA.
(STJ, CC 5.350/AC, Rel. Ministro José Dantas, Terceira Seção, julgado em 07/10/1993)
	Por fim, impende destacar que o tribunal do júri, inclusive no âmbito da Justiça Federal, poderá julgar outros crimes que não sejam dolosos contra a vida, quando forem conexos com tais crimes, como já mencionado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [S. l.], 7 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm. Acesso em: 6 mar. 2021. 
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 26. ed. São Paulo: Rideel, 2019. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.

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