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Thaís Morghana - UFPE-CAA Edema Agudo Pulmonar INTRODUÇÃO O Edema Agudo Pulmonar (EAP) é uma síndrome clínica caracterizada por acúmulo de líquido no espaço alveolar. FISIOPATOLOGIA O volume de líquidos no interstício pulmonar depende do equilíbrio entre as forças hidrostáticas e oncóticas dentro dos capilares pulmonares e nos tecidos circundantes. Pressão hidrostática → favorece a saída de líquido dos capilares para o interstício. Pressão oncótica → favorece a entrada de líquidos nos capilares, determinada pela concentração protéica. Nos indivíduos saudáveis, as junções estreitas do endotélio capilar são impermeáveis às proteínas, e os canais linfáticos dos tecidos removem pequenas quantidades de proteínas que possam ter extravasado. EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO As anormalidades cardíacas aumentam a pressão venosa pulmonar, com consequente aumento da pressão hidrostática e saída do líquido dos capilares para o interstício. Esse processo resulta em edema intersticial e edema alveolar, nos casos mais graves. EDEMA PULMONAR NÃO CARDIOGÊNICO A quantidade de água dos pulmões aumenta em razão da lesão do revestimento dos capilares pulmonares com consequente extravasamento de proteínas e outras macromoléculas para os tecidos; os líquidos acompanham as proteínas à medida que as forças oncóticas são desviadas dos vasos para os tecidos pulmonares circundantes. Fisiologicamente, o edema pulmonar não cardiogênico caracteriza-se por shunt intrapulmonar com hipoxemia e redução da complacência pulmonar, levando à redução da capacidade residual funcional. ETIOLOGIA EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO Disfunção ventricular sistólica, disfunção ventrocular diastólica, HAS severa, estenose mitral, hipertensão renovascular, insuficiência VE aguda, como arritmias, isquemia/infarto ou descompensação miocárdica. EDEMA PULMONAR NÃO CARDIOGÊNICO A principal etiologia é a Síndrome do desconforto respiratório agudo. Lesão pulmonar direta → Traumatismo de tórax, aspiração, inalação de fumaça, pneumonia, toxicidade do O2, embolia pulmonar. Lesão hematogênica → sepse, pancreatite, traumatismo extratorácico, transfusões múltiplas, uso de drogas IV, bypass. Lesão pulmonar com pressão hidrostática alta → edema pulmonar de altitudes elevadas, edema pulmonar neurogênico, edema pulmonar de re-expansão. QUADRO CLÍNICO Anamnese → avaliar a presença de doença cardíaca subjacente ou distúrbios associados ao edema pulmonar não cardiogênico. ○ História de início rápido de dispneia em repouso, taquipneia, taquicardia e hipoxemia grave. Exame físico → FR, FC e PA aumentadas. O paciente pode apresentar alteração do nível de consciência (EAP grave). EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO ○ Dispneia aos esforços e ortopneia. ○ Crepitações, roncos e sibilos (edema de parede brônquica). ○ Elevação das pressões intracardíacas (galope por B3, elevação do pulso venoso jugular, edema periférico). ○ A hipoxemia associada ao edema pulmonar cardiogênico é atribuída principalmente à desproporção entre V̇/Q̇ e melhora com a administração de oxigênio suplementar. Thaís Morghana - UFPE-CAA EDEMA PULMONAR NÃO CARDIOGÊNICO ○ Alterações secundárias aos distúrbios desencadeantes. ○ Varia de dispneia branda à insuficiência respiratória. ○ A ausculta pulmonar pode ser normal nos estágios iniciais. ○ A hipoxemia é causada principalmente pelo shunt intrapulmonar e geralmente persiste apesar da inalação de concentrações altas de oxigênio. EXAMES COMPLEMENTARES EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO ○ Radiografia de tórax: aumento da silhueta cardíaca, redistribuição vascular, espessamento intersticial e infiltrados alveolares peri-hilares; os derrames pleurais são comuns. ○ Ecocardiografia: pode detectar disfunção ventricular sistólica e diastólica, bem como lesões valvares. A elevação do segmento ST e as ondas Q progressivas no ECG em geral confirmam o diagnóstico de IAM. ○ Peptídeo natriurético cerebral (BNP): o aumento reforça a possibilidade de insuficiência cardíaca. Um BNP < 100 pg/ml torna o diagnóstico de IC improvável, enquanto BNP > 500 pg/ml indica que IC seja provável. Valores entre 100 e 500 pg/ml são insuficientes para discriminação diagnóstica. ○ Cateter de Swan-Ganz: pressão de encravamento da artéria pulmonar alta (> 18 mmHg). NÃO é recomendado de rotina. ○ Ecocardiograma EDEMA PULMONAR NÃO CARDIOGÊNICO ○ Radiografia de tórax: o coração tem dimensões normais, os infiltrados pulmonares estão distribuídos mais uniformemente pelos pulmões e os derrames pleurais não são comuns. ○ Cateter de Swan-Ganz: pressão de encravamento da artéria pulmonar normal. Cateterização da artéria pulmonar: etiologia não definida, edema refratário, hipotensão associada OUTROS EXAMES Hemograma, marcadores de necrose miocárdica, marcadores de função renal e tireoidiana, eletrólitos, enzimas e função hepática, gasometria arterial, lactato e glicemia. TRATAMENTO Tratamento específico → tratamento da causa base do EAP. SUPORTE DE OXIGENAÇÃO E VENTILAÇÃO No EAP cardiogênico geralmente a causa base é detectada e tratada rapidamente, com melhora da troca gasosa. Já o EAP não cardiogênico em geral não regride tão prontamente e a maioria dos pacientes necessita de ventilação mecânica. ○ Oxigenioterapia ○ Ventilação com pressão positiva: a VPP por máscara facial ou nasal ou por intubação endotraqueal deve ser iniciada quando a oxigenação ou ventilação não é adequada apesar de O2 suplementar. - A ventilação não invasiva pode descansar a musculatura respiratória, melhorar a oxigenação e a função cardíaca e reduzir a necessidade de intubação. - A respiração artificial é mais eficaz em casos refratários. - A PEEP tem benefícios por reduzir a pré e a pós carga, redistribuir a água pulmonar e aumentar o volume pulmonar REDUÇÃO DA PRÉ-CARGA Diuréticos de alça → furosemida, bumetanida ou torsemida, são eficazes mesmo se tiver hiponatremia, hipoalbuminemia ou hipocloremia. - Furosemida causa dilatação venosa, com redução rápida da pré-carga antes da diurese. - Dose inicial de furosemida: ≤ 0,5 mg/kg Thaís Morghana - UFPE-CAA - Dose de 1 mg/kg em casos de insuficiência renal, uso crônico de diuréticos ou hipervolemia sem resposta a doses baixas. Nitratos → nitroglicerina ou nitroprussiato de sódio são drogas vasodilatadoras, de início de ação rápido. - Nitroglicerina sublingual: 1ª opção em EAP cardiogênico. Dose: 0,4 mg em 3 doses a cada 5 min. - Nitroglicerina IV: deve ser administrado depois da sublingual, se não houver melhora e sem hipotensão. Dose: 5-10 μg/kg/min. - Nitroprussiato IV: útil em pacientes com EAP e hipertensão. Dose: 0,1 a 5 μg/kg por min. Esse fármaco requer monitorização por cateter arterial. Morfina → causa vasodilatação transitória com redução da pré-carga, alívio da dispneia e ansiedade, redução dos níveis de estresse, da taquicardia e da pós-carga ventricular em pacientes com EAP e hipertensão. - Dose: bolus de 2-4 mg. Inibidores da ECA → causam redução da pré e da pós-carga e estão recomendados em hipertensos. - O tto deve ser iniciado com doses baixas de agente de ação curta, com aumento progressivo das doses orais. Outros redutores da pré-carga → peptídeo natriurético cerebral recombinante (nesiritida) IV é um potente vasodilatador com propriedades diuréticas. - Tto de EAP cardiogênico. - Usado em casos refratários, sem isquemia ou IAM. Métodos físicos → posição sentada com pernas pendentes em pacientes sem hipotensão. Inotrópicos e inodilatadores → Indicados em EAP cardiogênico e disfunção grave de VE. - Dopamina, dobutamina são inotrópicos potentes. - Inibidores de fosfodiesterase-3 biperidínicos (inodilatadores), como a milrinona (50 μg/kg, seguidos de 0,25 a 0,75 μg/kg/min), estimulam a contratilidade miocárdica e, ao mesmo tempo, causam vasodilatação periférica e pulmonar Contrapulsação com balão intra-aórtico → O BIA ou outros dispositivos de assistência ao VE podem ajudar a aliviar o edema pulmonar cardiogênico. - Indicado em EAP refratário, especialmente em preparação para reparo cirúrgico. Tratamento de taquiarritmias→ a cardioversão pode ser necessária para erradicar uma taquiarritmia primária. Nos pacientes com disfunção de VE sem contração atrial ou sem sincronia da contração atrioventricular, deve-se considerar a instalação de um marca-passo atrioventricular sequencial. FLUXOGRAMA DE DIFERENCIAÇÃO EAP CARDIOGÊNICA x NÃO CARDIOGÊNICA FLUXOGRAMA DE CONDUTAS REFERÊNCIAS DANESI, Giuliano Machado et al. Edema agudo de pulmão. Acta méd. Porto Alegre: 2016. KASPER, Dennis L. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. Thaís Morghana - UFPE-CAA POWELL, Jessica et al. CONTINUING PROFESSIONAL DEVELOPMENT. Acute pulmonary oedema. Nursing Standard, v. 30, n. 23, 2016.
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