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Leishmaniose visceral - Calazar Introdução · Constitui grupo das doenças tropicais negligenciadas (malária, dengue) · É de notificação compulsória! · Três formas clinicas da Leishmaniose: Visceral / Cutânea / Cutânea-mucosa causadas por +20 espécies de Leishmania · É endêmica em 83 paises · Estima-se que 1 milhão de novos casos de Leishmaniose cutânea por ano · 30.000 novos casos de Calazar por ano (grande morbidade) Forma cutânea da leishmaniose · Ulceras cutâneas indolores de crescimento centrífugo · Bordos elevados · Fundo limpo granuloso · Locais mais frequentes no nariz, boca a garganta. · Podem adquirir caráter destrutivo porque crescem · Diagnóstico por Intradermorreação de Montenegro Forma cutâneo-mucosa da leishmaniose · Acomete pele e mucosa · Principalmente septo nasal e palato Forma visceral da leishmaniose (calazar) · Decorre da invasão da Leishmania em órgãos do sistema reticulo endotelial (MO. Baço e fígado) · Pancitopenia, esplenomegalia e hepatomegalia Epidemiologia da Leishmaniose Visceral · No Brasil, concentra-se na região Nordeste · Vêm ocorrendo mudança intensa na epidemiologia: aumento no número de casos + expansão para áreas urbanas e periurbanas Ecologia · No ciclo urbano: o principal reservatório é o cachorro; ficam bastante adoecidos perda de peso e de pelos, linfonodomegalia, úlceras de pele, crescimento exacerbado das unhas; Obs: mesmo tratados e curados continuam transmitindo a doença (portador-são mesmo após o tratamento); por isso o mais importante em relação aos cães é a vacinação + uso de coleiras repelentes · Na Mata: a raposa, lobos, marsupiais · Vetor: mosquito fêmea Lutzomya longipalpis (mosquito-palha) – consegue se adaptar bem às regiões próximas às casas humanas e fica originalmente em regiões de mata, por isso é comum ver casos de leishmaniose em regiões recém desmatadas. Etiologia A Leishmania apresenta duas formas · Promastigota – infectante do mosquito. · Amastigota – infecta os macrófagos e células humanas Fisiopatogenia · A fêmea do mosquito palha faz o repasto, pica o canídeo / outro reservatório ou o humano, o parasita sob a forma promastigota adentra a derme e serão reconhecidos pelas células de langerhans. Inicia-se uma sequência de transformação do parasita, que se transforma em amastigota e infecta os macrófagos dos linfonodos, proliferando-se rapidamente e ocasionando apoptose dos macrófagos, liberando inúmeros amastigotas na corrente sanguínea e para o sistema reticulo endotelial VISCERALIZAÇÃO · Portanto, a leishmania invade primariamente linfonodos órgãos do sistema reticulo endotelial (medula, fígado e baço) · O amastigota dispõe de mecanismos de tolerância à oxidação do macrófagos e de linfócitos T, resistindo à destruição por eles. · Também ativam resposta policlonal de linfócitos B (característica importante da leishmaniose visceral) · A Leishmania é parasita intracelular, vai afetar a imunidade celular. · Os linfócitos B são células importantes da imunidade humoral e serão ativados produzindo alta quantidade de imunoglobulinas (hipergamaglobulinemia) sem que isso resulte em uma ativação da imunidade celular adequada – em decorrência da infecção pela Leishmania - . · O maquinário hepático é limitado e portanto para compensar a hipergamaglobulinemia, ocorre hipoalbuminemia Obs: no mielograma amastigota; na mielocultura promastigota (amastigotas dentro do macrófago) Diagnóstico Clínico Leishmaniose Visceral · Período de incubação de 2 a 8 meses · Quanto mais precoce se iniciam os sintomas mais grave o quadro clinico · Tempo de vida com Leishmaniose visceral 2 anos · Causas de morte no Calazar: por infecção secundaria e hemorragias · Mesmo sendo tratado e curado, não consegue eliminar totalmente o parasita do organismo então o individuo, assim como o cachorro, fica como portador-são, de modo que pode ocorrer reativação por imunossupressão . · Importância clinica-epidemiológica: áreas endêmicas para HIV e para Calazar, uma vez que desenvolvam imunossupressão pelo HIV podem reativar o Calazar mesmo pós tratamento. · Amplo espectro clínico · 85% oligo ou assintomático com cura espontânea · Discreta hepatoesplenomegalia febril · 15% calazar clássico (é somente aqui que ocorre a diminuição da resposta imune celular com exacerbação da resposta imune humoral) · Sintomas · · Febre baixa diária recorrente, vespertina, 2 a 3 picos · Astenia · Mal estar · Inapetência · Perda de peso perceptível · Prostração · Apatia · Diarreia · Tosse seca – a leishamnia causa pneumonite comumente · · Plaquetopenia · Esplenomegalia discreta no começo da doença com a evolução da doença ocorre sequestro de plaquetas agravando a plaquetopenia · Palidez progressiva (devido à anemia) · Hepatomegalia · Distensão abdominal (nesse momento, percebe-se aumento de transaminases, FA, Gamaglobulina e diminuição albumina e como consequência, edema) · Edema · Sangramentos gengivais e mucosas (tanto porque o fígado está com a síntese dos fatores de coagulação alterada quanto porque há plaquetopenia) · Micropoliadenopatia generalizada · · Para fazer o diagnostico deve haver critério epidemiológico (endemia ou viagem para região endêmica; contato ou não com cachorros adoecidos) + febre, plaquetopenia, esplenomegalia · CALAZAR CLÁSSICO: Pancitopenia Hepatoesplenomegalia Febre Diagnóstico Laboratorial Exames inespecíficos Na forma oligossintomática de LV, os exames laboratoriais não se alteram à exceção da velocidade de hemossedimentação, que está elevada e hiperglobulinemia · TESTE DE HIV– regiões endêmicas para Calazar geralmente são endêmicas para HIV e há risco de a imunossupressão reativar calazar · Hemograma · · Plaquetopenia inicialmente · Pancitopenia na evolução · · Eletroforese de proteínas: hipergamaglobulinemia x Hipoalbuminemia !!!!!!!!!!! · Marcadores de injúria hepática: Transaminases elevadas · Marcadores de colestase: · GGT e FA elevadas · Bb total e frações elevadas (casos graves e avançados pela disfunção hepática que impede a conjugação e depuração) · Sumário de urina (EAS) · Leucocitúria · Proteinúria · Função renal – a Leishmania pode causar insuficiência renal por ser tóxica · Radiografia de tórax – infiltrado pulmonar em caso de pneumonia bacteriana associada · USG de abdome · Hepatoesplenomegalia · Linfonodomegalia intrabdominal Exames específicos: isolar a leishmania · Mielograma – Padrão ouro! positividade 70 a 85% corado pelo Giemsa · Pesquisa-se o parasita em MO · Punção aspirativa esplênica – tem alta positividade (até 98%) mas muito invasivo e como é um paciente com distúrbio de coagulação acaba não sendo feito · Mielocultura – demora 30 dias, possibilita identificar a espécie de Leishmania · Sorologia · IFI – quem é de área endêmica pode ter anticorpo positivo e isso não significa infecção ativa. Positivo de acima de 1:80 · Títulos podem ficar positivos por longos períodos mesmo depois do tto, principalmente se é área endêmica · Se o resultado vier positivo, na ausência de manifestações, não autoriza tto · Teste rápido rK39 NÃO SERVE PRA LEISHMANIOSE CUTÂNEA · Biópsia hepática e aspiração de linfonodo + cultura em meio NNN · Imunoenzimáticos – Anti-Rk39 (Menos disponível) · Teste de sensibilidade tardia – Teste de Montenegro não é usado · Não espera que seja positivo Diagnósticos diferenciais de Síndrome febril com pancitopenia e esplenomegalia Calazar é uma doença arrastada com semanas de evolução! · Doenças linfoproliferativas – importantíssimo Dx que só consegue diferenciar com mielograma · LMC – paciente entre 50-60 anos de idade, já fez radioterapia para câncer previamente, bom estado geral, queixa-se apenas de desconforto gastrintestinal, chega em consulta de rotina e descobre leucocitose com DE; ausência de linfonodomegalias, presença de esplenomegalia; fase crônica paciente tem febre, PP, esplenomegalia, fadiga, palidez e leucocitose com desvio a esquerda; fase acelerada ocorre basofilia > 20% e aumento da esplenomega · Histoplasmose disseminada – importantíssimo Dx quesó consegue diferenciar com mielograma porque o fungo invade medula gerando pancitopenia; gera hepatoesplenomegalia e febre; · Importância nos pacientes com HIV, imunossuprimidos porque desenvolvem esta infecção secundaria, mas também têm a possibilidade de estar reativando calazar · Tb disseminada · CMV – não tem componente sistêmico tão importante; não tem pancitopenia importante, não se espera anemia; · Esquistossomose hepatoesplenica – arrastada, mas componente de hipertensão portal importante; não tem acometimento medular importante sem pancitopenia · Malária – bastante aguda, em poucos dias o paciente apresenta queda do estado geral; febre alta característica (febre terçãs e quartãs); não tem visceromegalia exuberante do calazar · Doença de chagas aguda – evolui rapidamente com febre e componente sistêmico; não tem pancitopenia · Endocardite infecciosa – de câmara direita cursa com visceromegalias e quadro mais arrastado podendo se assemelhar ao calazar, mas terá sopro cardíaco, apresenta leucocitose · Brucelose – bastante associada ao consumo de leite cru; vai causar quadro febril com hepatoesplenomegalia sendo que há leucocitose · Febre tifoide – doença bifásica bacteriana e diferente do calazar apresenta leucocitose (no calazar, mesmo que haja infecção bacteriana secundária não há como a medula aumentar a produção de leucócitos porque ela está ocupada por leishmanias) Complicações · · Infecções bacterianas · Otite · Piodermite · ITU · Pneumonia · Sepse · Hemorragias secundárias à plaquetopenia · Icterícia Tratamento Critérios de cura · Desaparecimento da febre · Redução das visceromegalias Seguimento · 3,6,12 meses após o tratamento · Provas sorológicas não são indicadas · Usar as séries: melhora das citopenias / Tamanhos do fígado e baço Obs: A indústria farmacêutica pegou a anfotericina B convencional e alterou sua composição para formas lipídicas que se tornassem menos nefrotóxica (acaba sendo tóxica a outros tecidos). A Anfotericina, independente de sua apresentação pode causar como efeitos febre calafrio e flebite por isso deve-se ter cuidados antes da infusão. Preparo a) Fase de soro fisiológico 500ml (só não faz se o paciente for cardiopata com IC) b) Antitérmico (dipirona ou paracetamol) c) Antihistaminico (fenergan, polaramin, desloratadina) d) Diluir anfotericina em Soro GLICOSADO 200ml e) Duração da infusão a. Anfotericina convencional 4 a 6 horas b. Ambisone e abelcet 2 a 3 horas 1. Antimoniato de meglumina (glucatime) · Uma das primeiras usadas no tto do calazar · Desuso devido à toxicidade · Indicação: diagnóstico precoce de Calazar + quadro leve, sem contraindicações · Quadro leve de Calazar = pancitopenia discreta , esplenomegalia discreta, bom estado geral · Contraindicações · Gestantes · Lactantes (mulheres amamentando) · Menores de 1 ano · > 65 anos · Distúrbios orgânicos: IR, IH, IC · Pacientes com leishmaniose grave (leucócitos < 1000) · Dose · A concentração do sal de antiamoniato de meglumina é de 1,5mg em 5ml de ampola ou 300mg em 1 ml. Mas para calculo da dose o que importa é a concentração do principio ativo, que é de 405mg em 5ml · Usar no máximo 3 ampolas por dia. Se precisar de mais do que isso, vai estender o tempo de tratamento. · Efeitos colaterais · Alargamento de ST e arritmias cardíacas · Realizar ECG antes de iniciar a medicação repetir a cada 3 dias · Realizar o calculo de QT corrigido · Pancreatite · Monitorar com amilase · Hepatotóxico · Aumento de transaminases acima de 5x normalidadesuspender · Reação anafilática · Tosse (edema de glote) · Ansiedade 2. Anfotericina B convencional – nefrotoxicidade · Apresentação 50 mg · Dose 1mg/kg durante 20 dias e dose máxima de 50mg (so pode fazer no máximo 1 ampola). Se o paciente tiver mais de 50 kg precisa estender o tratamento. Paciente com 100kg ao invés de fazer 2 ampolas, vai dobrar o tempo de tratamento para 40 dias · Dose bastante limitada · Efeitos colaterais · Alargamento de ST e arritmias cardíacas · Realizar ECG antes de iniciar a medicação repetir a cada 3 dias · Realizar o calculo de QT corrigido · Nefrotoxicidade · Monitorizar função renal · Paciente pode evoluir com insuficiência renal hipocalêmica (lembrar de leptospirose, síndrome de fanconi e anfotericina B como causas) repor o potássio profilaticamente · Manter bem hidratado para evitar a disfunção renal · Contraindicado em pacientes com IR ou comorbidades 3. Ambisome (anfotericina lipossomal) * · Indicação: pacientes Calazar + HIV; · Apresentação 50mg na ampola · Dose 3mg/kg por 7 dias 4. Abelcet (complexo lipídico) * · Indicação: pacientes Calazar + HIV · Dose 5mg/kg por 5 dias 5. Amphotec (dispersão coloidal) – não está disponível aqui no Brasil Outras medidas de tratamento · Tem indicação formal de antibiótico de amplo espectro devido ao risco de infecção bacteriana secundária · Pacientes desnutridos maior facilidade de ulceras de pressão monitorar · Transfusão de plaquetas · < 10.000 plaquetas transfunde · < 20.000 plaquetas se sangrar trasnfunde · Não há indicação de repor albumina fazer sintomáticos e tratar a leishmaniose Prevenção e controle · Coleira antirepelente contra lutzomia nos cachorros · Vacinação de cães contra leishmania anualmente · Detetização de casas próximas às matas e florestas
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