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Patologia Gastrointestinal Introdução O trato gastrointestinal (TGI) é um tubo oco, estendendo-se desde a cavidade oral até o ânus, composto por: esôfago, estomago, intestino delgado, cólon, reto e ânus. Esses componentes possuem funções únicas, mas integradas e complementares. Em geral, a patologia gastrointestinal está relacionada aos seguintes fatores: do desenvolvimento; motores e mecânicos; vasculares; infecções; químicos ou drogas; idiopáticos; imunológicos; depósito; tumorais. Em relação às reações teciduais, elas são respostas às injúrias e são as seguintes: metaplasia; displasia (alteração epitelial – tem pleomorfismo nuclear, perda da polaridade, relação núcleo citoplasma aumentada – é uma lesão pré-neoplásica); neoplasia. Ainda, as lesões podem ser classificadas como: aguda com ou sem reparo (predomínio de neutrófilos e macrófagos); crônica (predomínio de linfócitos e plasmócitos); ou quiescente. Anomalias Congênitas A existência de anomalias congênitas do TGI indica a avaliação de outros órgãos, devido ao fato deles se desenvolverem simultaneamente na embriogênese. Por exemplo: anomalias do esôfago podem estar associadas aos defeitos cardíacos congênitos, às malformações geniturinárias e às doenças neurológicas. Os sintomas são: regurgitação, broncoaspiração e pneumonia. AGENESIA Pode ocorrer em qualquer parte do TGI, sendo descoberta logo após o nascimento, em geral, devido à regurgitação durante a alimentação. A agenesia é quando ocorre a AUSÊNCIA do esôfago, sendo extremamente raro. ATRESIA Pode ocorrer em qualquer parte do TGI, sendo descoberta logo após o nascimento, em geral, devido à regurgitação durante a alimentação. A atresia esofágica (A) é o desenvolvimento incompleto do esôfago, em que um cordão fino e não canalizado substitui o segmento do esôfago, causando uma obstrução mecânica. Em geral, ocorre próximo a ou na própria bifurcação traqueal, podendo estar associada a uma fístula (B). Já a atresia intestinal é menos comum e frequentemente envolve o duodeno, sendo a sua forma mais comum o ânus perfurado, que é decorrente da não involução do diafragma cloacal. A estenose é uma forma incompleta de atresia, em que a luz está reduzida devido à um espessamento fibrosa da parede, resultando em uma obstrução parcial ou completa. • A estenose pode ser por causas não congênitas também. FÍSTULAS Pode ocorrer em qualquer parte do TGI, sendo descoberta logo após o nascimento, em geral, devido à regurgitação durante a alimentação. As fístulas (C) conectam as bolsas esofágicas, superior ou inferior, a um brônquio ou à traqueia. Elas podem resultar em aspiração, sufocamento, pneumonia e desequilíbrios de eletrólitos e fluidos com gravidade. HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA Em condições normais, o diafragma e o esfíncter inferior impedem que ocorra regurgitação. A hérnia diafragmática ocorre quando a formação incompleta ou defeituosa do diafragma permite que as vísceras abdominais se projetem para dentro da cavidade torácica. Nos casos graves, pode causar hipoplasia pulmonar (incompatível com a vida). Ela pode ser de dois tipos: hérnia de hiato (por deslizamento) e hérnia hiatal paraesofágica. A hérnia de hiato (ou axial) é causada por uma frouxidão do diafragma, fazendo com que o estômago suba, por deslizamento, e, consequentemente, o esôfago também sobe. Caracteriza 95% dos casos de hérnia esofágica. Já na hérnia paraesofágica (ou não axial), o esôfago permanece na posição normal, mas o fundo gástrico sobe. Sobretudo na hérnia, vai haver refluxo gastroesofágico, podendo perder a ação do esfíncter inferior. O que ocorre é que o diafragma comprimi essa hérnia, tendo um estreitamento dos vasos sanguíneos, o que gera hipóxia e, consequentemente, isquemia; podendo gerar processo inflamatório e, logo, necrose isquêmica. Os sintomas vão estar relacionados à incompetência esfincteriana e à obesidade, sendo que, caso não tratada, pode ulcerar devido ao ácido clorídrico vindo do estômago. Isto pode causar perfuração e hemorragia. Essa perfuração é mais complicada e mais frequente na paraesofágica, podendo levar ao rompimento e derramamento de suco gástrico na cavidade torácica, que é uma cavidade estéril. ONFALOCELE A onfalocele ocorre quando o fechamento da musculatura abdominal é incompleto e as vísceras abdominais se projetam para dentro de um saco membranoso ventral. Isto pode ser reparado em cirurgia, porém, cerca de 40% das crianças afetadas possuem outros defeitos congênitos. GASTROQUISE A gastroquise é similar à onfalocele, porém, envolve todas as camadas da parede abdominal, desde o peritônio até a pele. ECTOPIA Local mais frequente: mucosa gástrica ectópica (terço superior do esôfago – patch de entrada). Pode levar à disfagia, ao esôfago de Barrett, à esofagite e ao adenocarcinoma. O tecido pancreático ectópico (menos frequente) pode ser no esôfago ou no estomago, são quase sempre assintomáticos, mas podem causar inflamações locais e danos, principalmente no piloro, sendo que, caso haja cicatrização, pode levar à obstrução. Podem acabar mimetizando um câncer. DIVERTÍCULO DE MECKEL DIVERTÍCULO = evaginação cega do trato alimentar que se comunica com a luz e inclui as 3 camadas da parede intestinal. O divertículo de Meckel é o mais comum e ocorre no íleo, sendo decorrente da involução fracassada do ducto vitelínico, que se conecta a luz do intestino em desenvolvimento ao saco vitelínico. Ele vai se estender a partir do lado antimesentérico do intestino. Ele ocorre em 2% da população, apresentando-se a 60 cm da válvula ileocecal, em geral. Ainda, possui 5 cm de comprimento, sendo 2 vezes mais frequente em homens. Em relação ao revestimento do divertículo, a mucosa é semelhante à do intestino delgado, mas pode conter tecidos pancreáticos ou gástricos também. Quando contém tecido gástrico, vai haver secreção de ácido e, consequentemente, ulceração da mucosa adjacente, causando sangramento oculto ou dor abdominal, o que parece apendicite ou obstrução intestinal. ESTENOSE PILORICA HIPERTRÓFICA É 3-5 vezes mais comum em homens, sendo comum em gêmeos monozigóticos ou dizigóticos, porém, é uma herança multifatorial (ou seja, depende de vários fatores). O uso de eritromicina ou azitromicina nas duas primeiras semanas de vida tem aumentado a incidência da doença. A estenose pilórica hipertrófica vai se apresentar entre a 3ª e a 6ª semana de vida na forma de regurgitação recente (vômito não bilioso e projetável após a amamentação) e frequentes demandas para uma nova mamada. No exame físico, aparece como uma massa abdominal firme e ovoide, de 1 a 2 cm. Em alguns casos, a hiperperistalse anormal da esquerda para a direita é evidente durante a alimentação e logo antes do vômito. • Tudo isso decorrente da hiperplasia da musculatura própria pilórica, que obstrui o trato de saída gástrico. Tratamento: miotomia (separação cirúrgica da musculatura). Nos adultos, pode ocorrer decorrente de gastrites e úlceras próximas ao piloro. DOENÇA DE HIRCHSPRUNG (MEGACÓLON AGANGLIÔNICO CONGÊNITO) Incidência: 1:5.000 nascidos vivos. Pode ser isolada ou não. • 10% dos casos – indivíduos com Síndrome de Down. Essa doença ocorre quando a migração normal das células da crista neural do ceco para o reto é interrompida prematuramente ou quando as células ganglionares sofrem morte prematura; o que produz um segmento intestinal distal que não apresenta os plexos submucoso de Meissner e o mioentérico de Auerbach. Isso resulta na ausência de contrações peristálticas coordenadas e na obstrução funcional, causando uma dilatação ao segmento afetado. Esôfago ASPECTOS NORMAIS O esôfago se desenvolve da porção cranial do intestino anterior e é reconhecível por volta da 3ª semana gestacional. Ele é um tubo muscular oco e distensível, que se estenda da epiglote (na faringe) até a junção gastresofágica.A sua função é de conduzir os alimentos e os fluidos da faringe até o estômago, evitando o refluxo de conteúdo gástrico vindo do estômago. No adulto, o esôfago mede cerca de 23 a 25 cm, enquanto, no recém nascido, mede cerca de 10 a 11 cm. Em relação aos seus tecidos, é formado pelas seguintes camadas: • Mucosa: epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. • Muscular da mucosa: feixes de musculo liso, com limite na inferior da mucosa. • Submucosa: tecido conjuntivo frouxo com ácinos glandulares serosos e mucosos e ductos excretores que se abrem na superfície epitelial, vasos sanguíneos e linfáticos e fibras nervosas (plexo de Meissner). • Muscular externa: 6-8 cm proximais – formada por fibras musculares estriadas. • Adventícia: esôfago não tem serosa, mas tem adventícia. O esôfago possui 3 pontos de estreitamento da luz: cartilagem cricoide; adjacente ao arco aórtico; inferiormente onde atravessa o diafragma. Além disso, possui 2 áreas com alta pressão: esfíncter esofágico superior e esfíncter esofágico inferior, sendo este responsável por impedir o refluxo gástrico. Em relação às patologias possíveis, podem ser anormalidades congênitas, como já explicado anteriormente, podem ser distúrbios de motilidade, como as disfagias e a acalasia. Ainda, pode ser DRGE, esôfago de Barrett, varizes e neoplasias. ESTENOSE E ANÉIS ESOFÁGICOS A estenose benigna, os anéis esofágicos, o refluxo gastroesofágico, a irradiação e a lesão cáustica são capazes de evoluir para uma estenose por refluxo, o que pode evoluir para o câncer. Os anéis esofágicos ou anéis de Schatzki são placas concêntricas de tecido de origem desconhecida, que se projetam para dentro da luz do esôfago. Esse tecido é formado por mucosa, submucosa e, às vezes, muscular hipertrófica. • Ou seja, dentro do tubo esofágico, forma uma membrana em forma de anel, podendo ter, até mesmo, tecido muscular, o que o deixa firme e, consequentemente, pode impedir a passagem de alimento. Os anéis A ficam acima da junção, sendo recobertos por mucosa escamosa. Enquanto isso, os anéis B ficam na junção escamocolunar, do esôfago inferior, podendo ser recobertos por epitélio colunas gástrico na superfície inferior. Esses anéis causam disfagia (dificuldade de deglutir) e dor na alimentação. ACALÁSIA No indivíduo normal, ocorre liberação de oxido nítrico e polipeptídios vasoativos intestinais dos neurônios inibitórios, juntamente com a interrupção colinérgica normal, o que permite que o esfíncter esofágico inferior relaxe durante a deglutição. Já na acalasia, ocorre o estreitamento da luz do esôfago a nível de divisão entre o esôfago e o estomago, causando um aumento do esôfago por acúmulo das substâncias. A acalasia primária é causada pela degeneração dos neurônios inibidores esofágicos distais (o indivíduo fica com poucas ou nenhuma célula ganglionar), causando uma incapacidade de relaxamento do esfíncter, que fica o tempo todo contraído. Já a acalasia secundária é causada pela doença de chagas, que vai destruir o plexo mioentérico do esôfago, duodeno, cólon e ureter, além de causar a falha do peristaltismo e uma dilatação esofágica. A acalasia é caracterizada pela tríade: relaxamento incompleto ou parcial do esfíncter esofágico inferior; aperistalse; e aumento do tônus do esfíncter esofágico inferior. Em relação à morfologia, ocorre a dilatação progressiva do esôfago acima do esfíncter esofágico inferior (megaesôfago), podendo a parede estar normal ou hipertrófica. A mucosa pode estar normal, inflamada ou ulcerado, pois, com o tempo, o bolo alimentar vai ficar preso e acumulado, de modo a causar a inflamação, o que pode chegar à úlcera. Em relação aos gânglios mioentéricos, eles podem estar ausentes ou reduzidos. O paciente vai sentir disfagia para líquidos, seguida de disfagia para sólidos. A comida vai ficando presa e começa a irritar a mucosa, de modo que vai haver infiltrado inflamatório. Ainda, o paciente vai ter dor torácica, dificuldade para eructar e regurgitação noturna. • Regurgitação noturna: a hora que o paciente se deita, o conteúdo que estava parado no esôfago em ortostase vai retornar pela posição. As vezes, isso ocorre enquanto o paciente está dormindo. O maior problema disso é a broncoaspiração, que pode levar a uma pneumonia de repetição e a um quadro mais tardio de fibrose. Essa doença pode ser tratada a partir de miotomia (faz cortes no músculo, tentando relaxar a parede, porem, o paciente perde o controle do esfíncter); a partir de dilatação (que é o balão); ou por neurotoxina botulínica. DIVERTÍCULO O alimento, durante o dia, pode acumular no divertículo, de modo que, de noite, pode ocorrer uma regurgitação e, consequentemente, broncoaspiração, podendo ocasionar uma pneumonia. Isso ocorre, pois, quando em ortostase, a bolsa vai enchendo e, quando em decúbito dorsal ou ventral, ela vai para cima. Os principais sintomas são a regurgitação de alimentos na ausência de disfagia, aspiração de alimentos, resultando em pneumonia. • Divertículo de Zenker: imediatamente acima do esfíncter esofágico superior. • Tração: situado na linha média do esôfago • Epifrênico: imediatamente acima doe esfíncter esofágico inferior. Quando ocorre inflamação do divertículo = diverticulite. O divertículo pode ser constituído por mucosa, por adventícia e por camada muscular (divertículo verdadeiro). Os divertículos que não possuem camada muscular são chamados de divertículos não verdadeiros. LACERAÇÃO MALLORY-WEISS São lesões benignas na mucosa esofágica, localizadas na região de junção gastroesofágica, estando frequentemente associadas às ânsias e aos vômitos graves. Em geral, elas são decorrentes de intoxicação aguda por álcool, havendo vômitos severos com suco gástrico, o que danifica a mucosa, podendo causar exulcerações, que evoluem para ulcerações, que podem evoluir para perfuração. Essas lacerações são responsáveis por 10% dos sangramentos do TGI superior, representados pela hematêmese maçica, sendo que, esses indivíduos podem evoluir rapidamente para um choque hipovolêmico e ao óbito. Em relação a morfologia, essas lacerações envolvem a mucosa e podem penetrar a parede do órgão, podendo haver sangramento e resposta inflamatória. Ela pode chegar a romper o esôfago, causando a síndrome de Boerhaave. • A síndrome de Boerhaave é um distúrbio caracterizado pela laceração transmural e ruptura do esôfago distal. Essa síndrome causa mediastinite grava e, em geral, precisa de intervenção cirúrgica, sendo que os pacientes vão apresentar: dor no peito, taquipneia, choque, sendo o diagnóstico diferencial o IAM. ESOFAGITES As esofagites podem ter inúmeras causas: • Aguda: refluxo gástrico; infecção viral; ingestão de substâncias irritantes; sonda nasogástrica; radiação; trauma; e cândida (compromete muito indivíduos imunocomprometidos). • Crônico: hérnia de hiato; aumento da pressão intra-abdominal (obesidades, hipertensão porta com CIT) causa esvaziamento gástrico demorado, de modo que o estômago não consiga mandar bolo alimentar para o intestino; vômitos recorrentes; esvaziamento gástrica demorado; condições alérgicas e autoimunes; diminuição da pressão no EEI (esfíncter esofágico inferior). Independentemente da causa, pode ocasionar exulceração, ulceração, cicatrização, estenose e disfagia. Nas esofagites agudas, a morfologia vai depender do agente etiológico e da duração e severidade da agressão. Porém, há presença de células inflamatórias (eosinófilos, neutrófilos e linfócitos), hiperplasia da zona basal (15-20%) – em amarelo na imagem. Ainda, nota-se mitoses em células basais, espongiose da camada basal, alongamento da lâmina própria com congestão, dilatação e ruptura de vênulas, erosão e ulceração e tecido de granulação. A primeira imagem demonstra o epitélio pavimentoso não queratinizadonornal. Note, nessa segunda imagem, como o epitélio está muito mais espessado, com hiperplasia das células da camada basal. Nas esofagites crônicas, o que ocorreu foi um processo agudo prolongado que mudou a celularidade, de forma que, na remodelagem, formou fibrose na submucosa, levando à estenose, perdendo cada vez mais a mobilidade da luz. Caso ocorra uma metaplasia glandular (gástrica ou intestinal), pode haver formação do esôfago de Barrett, que é uma condição pré-maligna. • Quando há presença de granulomas, indica um processo inflamatório. ESOFAGITE DE REFLUXO O epitélio esofágico é muito sensível ao ácido, por isso, possui mecanismos que. Impedem o refluxo: - Pressão do esfíncter esofágico inferior, podendo ter auxílio do diafragma. - Compressão extrínseca do EEI pelo hiato diafragmático. - Posição oblíqua da junção gastroesofágica: passa pelo fundo do estomago primeiro, o que permite que o conteúdo diminua de forca para depois chegar ao esfíncter. - Gravidade - Esvaziamento rápido do estômago - Salivação: quanto maior a salivação, menor é a chance de refluxo. - Glândulas submucosas na região proximal e distal – secreção de mucina e bicarbonato. Portanto, se o indivíduo tem um esfíncter incompetente, o alimento consegue ganhar o esôfago com uma facilidade maior. A CONDIÇÃO CLÍNICA ASSOCIADA É CHAMADA DE DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE). CAUSAS – redução da eficácia dos mecanismos anti-refluxo (relaxamento transitório do EEI); agentes depressores do SNC; hipotireoidismo; doenças esclerosantes sistêmicas; alcoolismo; tabagismo; uso de sonda nasogástrica; chocolate; presença de hérnia hiatal (aumenta refluxo); eliminação lenta ou inadequada do material refluído; esvaziamento gástrico lento e aumento do volume gástrico; redução da capacidade de reparação da mucosa gástrica devido à exposição prolongada aos sucos gástricos. MORFOLOGIA – hiperemia (pode ser a única alteração). Na DRGE leve, a histologia da mucosa é, em geral, aparentemente normal. Na DRGE mais grave, os eosinófilos são recrutados para a mucosa escamosa, seguidos pelos neutrófilos. Pode haver hiperplasia de células da camada basal, excedendo 20% da espessura total do epitélio, e, também, pode haver o alongamento das papilas da lâmina própria e congestão de vasos sanguíneos, devido à inflamação associada (que causa vasodilatação), estendendo-se ate o terço superior do epitélio. ASPECTOS CLÍNICOS – comum em indivíduos acima de 40 anos, mas pode ocorrer em bebês e crianças. O indivíduo vai sentir azia, disfagia e regurgitação ácida, o que depende da intensidade do refluxo e da duração dele. Alguns indivíduos podem ter pirrago, rouquidão e sensação de nó na garganta, além de dor torácica, náuseas e vômitos. Ainda, o refluxo ácido pode causar broncoespasmo, que pode exacerbar a asma, levando à tosse, à dispneia e aos sibilos/chiados. SINAIS DE ALARME PARA POSSÍVEL MALIGNIDADE DO REFLUXO: disfagia, odinofagia, úlcera e perfuração, anemia, hemorragia e perda de peso. • As consequências dessa doença são: sangramento, ulceração, estenose (devido a remodelação por fibrose, perdendo a mobilidade esofagiana, causando a disfagia), esôfago de Barrett. DIAGNÓSTICO – clínico, endoscopia digestiva alta, pHmetria. TRATAMENTO – no início, é usado o bloqueador do receptor de histamina do tipo 2 ou inibidores da bomba de prótons, somado com mudanças no estilo de vida, elevação da cabeceira da cama e evitar o uso de anti-inflamatórios não esteroides. COMPLICAÇÕES – esôfago de Barrett, ulceração, hematêmese, melena, estenose. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – Esofagite eosinofilica (presença de mais de 15 eosinófilos em um campo de maior aumento). • Sintomatologia nos adultos: pirose (refluxo), dor torácica (porque o esôfago fica na cavidade torácica), disfagia, impactação de alimentos. • Sintomatologia nas crianças: pirose, dor abdominal, vômitos e disfagia. Em termos de comparação, observe o quadro abaixo: A presença de atopia (resposta imunológica) é importante, pois ela é muito maior na eosinofilica do que no DRGE e, ainda, na eosinofilica, nota-se uma grande presença de suco nas mucosas. ESOFAGITE EOSINOFÍLICA ASPECTOS CLÍNIC0S – impactação dos alimentos e disfagia em adultos. Nas crianças, ocorre intolerância à alimentação ou sintomas semelhantes à DRGE. O refluxo ácido não é proeminente e os inibidores da bomba de prótons não trazem alívio. Muitos possuem dermatite atópica, rinite alérgica, asma ou eosinofilica periférica moderada. ESOFAGITE DE REFLUXO ESOFAGITE EOSINOFÍLICA HISTOLOGIA – grande número de eosinófilos intraepiteliais, sobretudo superficialmente. TRATAMENTO – restrições na dieta para evitar a exposição aos alérgenos dos alimentos, como o leite e a soja, e corticoides tópicos ou sistêmicos. VARIZES ESOFÁGICAS As varizes são causadas pelas doenças que causam hipertensão porta e elas são uma causa importante de sangramento esofágico. PATOGENIA – a hipertensão porta resulta no desenvolvimento de canais colaterais, por onde os sistemas porta e cava se comunicam, permitindo que, ao mesmo tempo que alguma drenagem aconteça, levam ao desenvolvimento de plexos venosos subepiteliais e submucosos com congestão dentro do esôfago distal e do estomago proximal. Essas veias (varizes) são muito comuns em indivíduos com cirrose alcoólica ou com esquistossomose hepática. A ruptura das varizes causa hemorragia na luz ou na parede esofágica, de modo que a mucosa apareça ulcerada e necrótica, podendo causar trombose venosa e inflamação. ASPECOTS CLÍNICOS – hemorragia TRATAMENTO PROFILÁTICO (evitar hemorragia) – uso de beta bloqueadores, para reduzir o fluxo de sangue portal, e ligação endoscópica das varizes. ESÔFAGO DE BARRETT O esôfago de Barrett é uma complicação da DRGE crônica, caracterizada por uma metaplasia intestinal (ou gástrica) dentro da mucosa escamosa esofágica. • Epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado do esôfago passa a ser epitélio colunar glandular intestinal. Além de poder ser causado pela DRGE crônica, pode ser causado pela hérnia hiatal e pela incompetência do esfíncter inferior do esôfago, o que aumenta o refluxo gastroesofágico. EPIDEMIOLOGIA – mais comum em pacientes homens brancos, entre 40-60 anos. PATOGENIA - O EB parece surgir de um processo que se inicia na colunarização da mucosa, seguida de uma intestinalizacao, com aumento gradual da extensão da mucosa colunar metaplásica. A região do esôfago distal entre o ligamento freno- esofágico e a junção esôfago-gástrica é a região da cardia. Em situações de refluxo patológico, pode ocorrer uma transformação do epitélio escamoso para um epitélio colunar semelhante ao gástrico, porém, mais simples, sendo composta apenas por células colunares e mucosas, sem as células caliciformes, sendo chamado de epitélio juncional ou cardíaco. A exposição prolongada pode permitir a progressão da metaplasia e maiores são as chances de apresentar displasia intestinal, com presença de células caliciformes, o que caracteriza o esôfago de Barrett. • A metaplasia intestinal ocorre principalmente na área mais próximo da transição escamo- colunar, com progressão distal variável, devido ao ambiente menos ácido devido à neutralização da saliva e à distância da junção gastroesofágica. A intestinalização da mucosa colunar se associa com a diminuição da atividade inflamatória, supostamente devido a uma maior resistência à agressão ácida. ESSA INTESTINALIZAÇÃO CARACTERIZA UM ESTÁGIO PRÉ- MALIGNO, POIS PODE PROGREDIR PARA A DISPLASIA E PARA O ADENOCARCINOMA. MORFOLOGIA – uma ou várias línguas ou placas vermelhas de mucosa aveludada, se estendendo para cima, a partir da junção gastroesofágica. Essa mucosa metaplásica se alterna com a mucosa normal escamosa lisa e pálida do esôfago, e se conecta com a mucosa colunar gástricamarrom-clara. A = normal B= EB. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – evidência endoscópica de epitélio colunas acima da junção gastroesofágica; evidência histológica de metaplasia intestinal na biopsia do epitélio colunas – metaplasia com displasia; patogenia obscura; mudança na diferenciação das células tronco da mucosa esofágica. DIAGNÓSTICO – exame endoscópico; biópsia de esôfago; marcador Ki67. NEOPLASIA BENIGNA São os papilomas escamosos e o leiomioma (tumor de músculo liso). São mais comuns em homens (a cada 1,8 homens acometidos, 1 mulher é acometida), por volta de 50 anos. PAPILOMA ESCAMOSO: não há pleomorfismo nuclear e não há perda de polaridade – ele não maligniza. ADENOCARCINOMA É um tumor epitelial maligno, com diferenciação glandular. A sua maioria surge como consequência do EB, porem, existem outros riscos, como o tabagismo, a obesidade e a radiação ionizante. • Dietas ricas em frutas frescas e vegetais diminuem o risco. • Helicobacter Pylori diminui o risco de adenocarcinoma, pois causa atrofia gástrica e, consequentemente, redução da secreção ácida. Acomete 7 vezes mais os indivíduos homens do que as mulheres. PATOGENIA – Estudos moleculares sugerem que a progressão do EB para o adenocarcinoma ocorre durante um longo período, com aquisição gradativa de alterações epigenéticas e genéticas (período de latência que permite que existam muitas alterações genéticas). • Mutação do TP53 e regulação negativa do CDKN2A (conhecido como p16/INK4a – silenciamento epigenético devido à hipermetilação) – estágios iniciais. • Amplificação dos genes EGFR, ERBB3, MET, ciclina D1 e ciclina E nos estágios mais tardios. MORFOLOGIA – incialmente, surge como placas planas ou elevadas na mucosa (antes intacta). Podem infiltrar e ulcerar, invadindo mais profundamente. Na microscopia, nota-se EB adjacente ao tumor. Maior produção de mucina e formação de glândulas do tipo intestinal. Mais raramente, pode aparecer o tipo gástrico em anéis de sinete, difusamente infiltrativo e, raramente, tumores de pequenas células pouco diferenciado, LOCALIZAÇÀO – esôfago distal, mas podem invadir a cárdia djacente. ASPECTOS CLÍNICOS – dor ou dificuldade na deglutição, perda de peso progressiva, hematêmese, dor torácica ou vômitos. Quando os sintomas aparecem, o tumor já se disseminou para os vasos linfáticos submucosos. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS Mais comum em adultos homens, acima de 45 anos. • Fatores de risco: álcool, tabaco, pobreza, lesões cáusticas, acalasia, tilose, síndrome de Plummer- Vinson, dietas deficientes em frutas e vegetais e consumo de bebidas muito quentes; infecção pelo HPV e ingestão de alimentos contaminados por fungos (nitrosamina). Possui maior incidência no Irã, na China central, em Hong Kong e na África do sul. PATOGENIA – não está bem estabilidade, mas sabe-se que as anormalidades recorrentes incluem a amplificação do gene do fato de transcrição SOX2 (o qual se acredita estar envolvido na autorrenovação e sobrevivência das células-tronco), a superexpressão da ciclina D1 reguladora do ciclo celular e mutações de perda de função nos genes supressores de tumor TP53, caderina-E e NOTCH1. MORFOLOGIA – 50% dos casos ocorrem no terço médio do esôfago. Ele se inicia com uma lesão in situ chamada de displasia escamosa. Lesões iniciais aparecem como espessamentos pequenos, acinzentados, semelhantes às placas. Ao longo da evolução, tornam-se massas tumorais polipoides ou exofíticas, projetando-se para a luz e a obstruindo. Pode haver invasão das estruturas circundantes, incluindo: a árvore respiratória, o que pode ver à pneumonia; a aorta, que pode causar exsanguinação catastrófica; o mediastino; ou o pericárdio. Podem ser moderadamente diferenciados até bem diferenciados. Em relação aos padrões morfológicos: - Protuso (60%): é uma lesão exofítica polipoide, que se projeta para o interior da luz. - Plano (15%): é uma forma infiltrativa e difusa, que causa espessamento, rigidez e estenose luminal. - Escavado (25%): ulceração neoplásica necrótica, que pode invadir o mediastino e o pericárdio. Note que a coloração não é mais branca no local de carcinoma. Clínica – disfagia, odinofagia ou obstrução, perda de peso, hemorragia e sepse. CÂNCER DE ESÔFAGO EM GERAL Tanto o adenocarcinoma quanto o carcinoma de células escamosas, ao atingir a rede linfática, fazem metástases para os linfonodos e, ao atingir a rede sanguínea, fazem metástases para qualquer parte do corpo. • Tumores no terço superior podem acometer os linfonodos cervicais. • Tumores no terço médio podem acometer os linfonodos mediastínicos, para-traqueais e traqueobrônquicas. • Tumores no terço inferior podem acometer linfonodos gástricos e celíacos, e, ainda, podem acometer a mucosa estomacal. SINTOMATOLOGIA – disfagia, obstrução crônica e tardia, emagrecimento e debilidade física. COMPLICAÇÕES – hemorragia e septicemia (ulceração – pode ter hematêmese); broncoaspiração; fístula traqueoesofágica. TRATAMENTO – radioterapia, quimioterapia, esofagectomia. PROGNÓSTICO – depende da profundidade e penetração da parede; das metástases linfonodais (primeiro sítio é o pulmão, podendo invadir fígado); da extensão extranodal da doença; das comorbidades associadas. Estômago Os distúrbios do estomago são as causas mais frequentes de doenças clínicas, em que as lesões inflamatórias e neoplásicas são particularmente comuns. O estomago é dividido em 4 regiões anatômicas principais: a cárdia, o fundo, o corpo e o antro. A cárdia e o antro são revestidos principalmente por células foveolares secretoras de mucina, que formam as pequenas glândulas à epitélio colunas alto muco-secretor. As glândulas antrais são similares, mas, também, contêm células endócrinas, como as células G, que liberam gastrina para estimular a secreção luminal de ácido pelas células parietais dentro do fundo e do corpo gástrico. As glândulas bem desenvolvidas do corpo e do fundo também contêm células principais que produzem e secretam enzimas digestivas, tais como a pepsina. SUCO GÁSTRICO O suco gástrico é formado pelos seguintes componentes: - Muco: produzido pelas células mucosas superficiais. - Bicarbonato: produzido pelas células mucosas superficiais. - Pepsinogênio/pepsina: produzido pelas células principais ou pépticas. - HCl: produzido pelas células parietais ou oxíticas. - Fator intrínseco de Castle: produzido pelas células parietais ou oxíticas. - Gastrina: produzida pelas células mucosas do colo. - Lipase gástrica: produzida pelas células mucosas do colo. - Amilase salivar: produzida pelas células mucosas do colo. - Água - Eletrólitos MECANISMOS DE DEFESA - Secreção superficial de muco - Secreção de bicarbonato junto com muco – permite que o ácido não agrida muito a mucosa (relacionado ao equilíbrio ácido- base). - Fluxo sanguíneo da mucosa - Transporte da membrana na superfície apical - Capacidade regenerativa epitelial - Síntese de Prostaglandina. FORÇAS CAUSADORAS DE DANOS: acidez gástrica e enzimas pépticas. GASTROPATIA E GASTRITE AGUDA A gastrite é um processo inflamatório da mucosa. • Aguda: presença de neutrófilos e macrófagos. • Crônica: pode ser linfócitos, eosinófilos e plasmócitos. Quando as células inflamatórias são raras ou estão ausentes, o termo usado é gastropatia. • Agentes que causam gastropatias: AINEs, álcool, bile e lesões por estresse. • Erosão ou hemorragia da mucosa aguda, como úlceras de Curling, ou interrupção total do fluxo sanguíneo gástrico, como na hipertensão porta, causam gastropatia que, em geral, tipicamente progride para a gastrite. GASTROPATIA HIPERTRÓFICA = doenças de Ménétrier e síndrome de Zollinger-Ellison. PATOGENIA – Qualquer alteração nos mecanismos de proteção da mucosa gástrica. • Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) inibem a síntese de PGLDE2 e I2, dependentes da ciclo- oxigenase (COX), as quais estimulam quase todos os mecanismos de defesa relatados. • H. pylori causa lesão gástrica. • A queda na liberação de oxigênio pode tornar o indivíduo susceptível à gastrite em altas altitudes. • Ingestão de químicos agressivos, como soda cáustica, lesam gravemente a mucosa epitelial. HISTOLOGIA – edema moderado e congestão vascular leve na lâmina própria, hiperplasia de células foveolares, com perfis característicos de saca-rolhas e proliferação epitelial presente. Na gastrite aguda, nota- se neutrófilos acima da membrana basal, em contato direto com as células epiteliais, indicando uma inflamação ativa. Nas lesões mais graves, pode-se notar erosão (perda do epitélio), acompanhada de infiltrado neutrofílico e um exsudato purulento contendo fibrina na luz. Caso haja hemorragia, nota-se pontos escuros na mucosa hiperêmica. • Erosão + hemorragia = gastrite hemorrágica erosiva aguda. A erosão pode progredir para ulceração. ASPECTOS CLÍNICOS – assintomáticos ou podem apresentar dor epigástrica persistente, que responde aos inibidores da bomba de prótons. Pode haver vomito bilioso ocasional, emagrecimento, hematêmese e melena. GASTRITE AGUDA A gastrite aguda vai atacar a glândula e o epitélio mucoso, portanto, vai ter um aumento da defesa, sobretudo a secreção de muco. Com isso, vai haver um processo inflamatório, com vasodilatação local para aumentar o fluxo naquele local. Com o passar do tempo, esse fluxo diminui, o que pode levar a uma ruptura da camada mucosa, causando um dano no epitélio mucoso e glandular. Portanto, a gastrite aguda é um processo inflamatório transitório da mucosa gástrica que pode causar danos graves e evoluir com erosão e hemorragia. Ela está associada ao estresse intenso (trauma grave, queimadura, doenças intracranianas, cirurgias extensas, doenças graves); infecções; uso de AINES; uso de álcool; uso de tabaco, quimioterapia, causas iatroênicas. Ela se manifesta, clinicamente, com dor epigástrica, náuseas e vômitos, hemorragia, hematêmese e melena, mas há indivíduos assintomáticos. DOENÇA DA MUCOSA RELACIONADA AO ESTRESSE – em geral, está relacionado à isquemia local devido à hipotensão sistêmica ou fluxo sanguíneo reduzido (causado pela vasoconstrição esplâncnica induzida pelo estresse). Ainda, nos casos de lesões intracranianas, sabe-se que são causadas pela estimulação direta dos núcleos vagais, o que causa uma hipersecreção de ácido gástrico. Esses pacientes vão ter os sintomas de uma úlcera, portanto, dor epigástrica, podendo ter vômito com ou sem sangue, melena e náuseas. GASTRITE CRÔNICA A gastrite crônica é dividida em 3: A causa mais comum da gastrite crônica é a infecção por H. pylori (90%), portanto, em geral, ela é distribuída em gastrite do tipo A (não associada à bactéria) e do tipo B (associada a bactéria). EPITÉLIO GÁSTRICO NORMAL: GASTRITE SUPERFICIAL – GASTRITE ATRÓFICA – poucas glândulas. Nota-se, na imagem, em amarelo, uma fibrose devido ao infiltrado inflamatório. No epitélio normal do estomago, teríamos muito mais glândulas. Nessa próxima imagem, note que há uma grande quantidade de tecido fibro- conjuntivo englobando essas glândulas. Junto com a atrofia, tem-se um infiltrado inflamatório, destacado em vermelho: ATROFIA GÁSTRICA – há atrofia da glândula, perdendo as suas estruturas, mas sem infiltrado inflamatório. GASTRITE POR HELICOBACTER PYLORI A gastrite do tipo B é mais predominante no antro, acometendo cerca de 90% dos pacientes, sendo a maioria assintomática (os sintomáticos se apresentam com náusea, vômitos e com um pouco de dor). Essa gastrite possui um maior risco de causar úlcera péptica e cancro gástrico. Ela aparece em 2 padrões: antral (predominante) ou pangastrite + atrofia multifocal. Em geral, os indivíduos contraem a bactéria e não são tratados ou não são tratados adequadamente, evoluindo para um caso crônico. A epidemiologia está relacionada com a pobreza, superpopulação doméstica, educação limitada, etnia afro-americana ou México-americana, áreas rurais. A transmissão é feita via fecal-oral e geralmente a infecção é feita na infância. PATOGENIA – infecção pela bactéria. A virulência da bactéria é devido aos seguintes fatores: flagelos, uréase (eleva o pH local, aumentando a sua taxa de sobrevivência), adesinas (maior aderência), toxinas. Além disso, há uma influência genética, como o gene CagA. Quando a inflamação permanece limitada ao antro, o aumento da produção de ácido resulta em um risco maior de úlcera péptica duodenal. MORFOLOGIA – o infiltrado inflamatório geralmente inclui muito neutrófilos na lâmina própria e alguns na membrana basal e eles se acumulam na luz das criptas gástricas para criar os abscessos de criptas. Além disso, os neutrófilos intraepiteliais e os plasmócitos subepiteliais são características da gastrite por H. pylori. Quando intensos, os infiltrados inflamatórios podem criar pregas rugosas espessadas, que mimetizam a aparência de canceres em estágio inicial. Os agregados linfoides estão, em geral, presentes e representam uma forma induzida de tecido linfoide associado à mucosa, ou MALT, que tem um potencial de se transformar em linfoma (linfoma de MALT). Uma gastrite por H. pylori de longa duração pode acometer o corpo e o fundo e a mucosa pode se tornar atrófica, com perda das células principais e parietais, fazendo com que a mucosa oxíntica tenha a aparência da mucosa antral. O desenvolvimento da atrofia é tipicamente associado à presença da metaplasia intestinal e aumento do risco de adenocarcinoma gástrico. CLÍNICA – diagnóstico por testes sorológicos, fecais, teste da respiração de ureia. Os tratamentos são feitos com antibióticos e inibidores da bomba de prótons. GASTRITE AUTO-IMUNE A gastrite do tipo A é menos comum, estando predominantemente no fundo e no corpo gástrico e está associada à anemia perniciosa. Nesta, há presença de anticorpos contra as células parietais e, portanto, é chamada de gastrite auto imune. Ela está associada à (ao): • Acloridria (secreção alterada de ácido gástrico): devido à atrofia gástrica difusa. • Deficiência de vitamina B12: a falta do fator intrínseco impede a absorção pelo íleo de vitamina B12, levando à deficiência. • Hipergastrinemia e hiperplasia das células G antrais: devido à ausência da produção de ácido que estimula a liberação de gastrina. • Concentração sérica de pepsinogênio I: devido à destruição das células principais. Esses anticorpos contra as células parietais podem ser detectados no soro e nas secreções gástricas. PATOGENIA – as células TCD4+ direcionadas contra os componentes da célula parietal, incluindo a H+, K+ e a ATPase, são consideradas como os principais agentes de lesões na gastrite autoimune. Entretanto, não há evidência de uma reação autoimune às células principais, sugerindo que estas foram perdidas devido à destruição das glândulas gástricas durante o ataque autoimune às células parietais. Em 80% dos pacientes, há os anticorpos aos componentes das células parietais, além do fator intrínseco. MORFOLOGIA – caracterizada por uma lesão difusa (atrofia) à mucosa oxintica (produtora de ácido) dentro do corpo e do fundo. Se a deficiência de vitamina B12 for grave, há hipertrofia nuclear nas células epiteliais (mudança megaloblástica – por isso o nome de anemia megaloblástica ou perniciosa). Há infiltrado inflamatório com linfócitos, macrófagos e plasmócitos (agregados linfoides e folículos), sendo essa reação inflamatória profunda e centralizada nas células gástricas. Ainda, em casos mais severos, pode-se notar metaplasia intestinal, como pode ser visto nessa segunda imagem. A primeira se refere ao infiltrado inflamatório e atrofia glandular. CLÍNICA – presença de anticorpos para as células parietais e fator intrínseco. É umadoença de progressão lenta e, por isso, só é detectada por volta dos 60 anos, sendo mais levemente mais comum em mulheres. O paciente pode apresentar sintomas da anemia perniciosa, como glossite atrófica, na qual a língua fica lisa, robusta e vermelha, megablastose epitelial, diarreia por má absorção, neuropatia periférica, lesões da coluna vertebral e disfunção cerebral. GASTRITE EROSIVA A erosão é quando se tem o infiltrado inflamatório chegando no epitélio de revestimento, lá na faixa superficial, e esse infiltrado pode levar a necrose. Quando tem um acometimento do epitélio de revestimento, pode haver a corrosão da parede, causando úlcera gástrica, o que causa um exsudato fibrinopurulento. A remodelagem vai ser feita com fibrose, podendo causar uma gastropatia reativa. GASTRITE EOSINOFÍLICA Há presença de mais de 15/20 eosinófilos em um campo de maior aumento. Quanto maior é a quantidade de eosinófilos, maior é a gravidade da gastrite eosinofilica. Uma das causas mais comuns são as reações alérgicas. GASTROPATIA REATIVA É uma gastrite ulcerativa que se remodelou, fazendo com que o epitélio responda com reatividade (vilosidades meio franjadas). Na primeira imagem, há uma gastrite atrófica, pois tem poucas glândulas. Na segunda, que é um aumento da primeira, note que existem células caliciformes, que são de origem intestinal. Portanto, é uma lâmina com metaplasia presente, mas displasia ausente. ÚLCERA GÁSTRICA Também conhecida como doença ulcerosa péptica (DUP), é uma ulceração crônica da mucosa (complicação da gastrite crônica), que afeta o duodeno ou o estômago, sendo a maioria associada à H. pylori, AINEs ou ao tabagismo. A forma mais comum ocorre dentro do antro ou do duodeno, associadas ao aumento da secreção ácida gástrica e com a queda da secreção de bicarbonato duodenal. Apesar desse aumento da secreção ácida, ainda não é possível vencer os mecanismos de defesa da mucosa. A DUP pode ocorrer, também, no esôfago, como resultado da DRGE ou da secreção de ácido pela mucosa gástrica ectópica esofágica. FATORES DE RISCO – infecção por H. pylori; tabagismo; DPOC; drogas ilícitas; cirrose alcoólica; AINEs; estresse; hiperplasia de células endócrinas; síndrome de Zollinger-Ellison; infecção viral (CMV) PATOGENIA – resulta do desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e os fatores lesivos, se desenvolvendo em um ambiente de gastrite crônica. MORFOLOGIA – a maioria ocorre no duodeno proximal, a poucos centímetros do piloro. As gástricas acontecem mais na curvatura menor, próxima à interface do corpo e do antro. A úlcera péptica clássica é um defeito em saca-bocado, arredondado a oval. A margem da mucosa pode se projetar para a base, mas em geral está nivelada com a mucosa adjacente. Pode haver perfuração e causar hemorragias. As paredes são lisas e as margens não são elevadas. A base da úlcera é lisa e limpa, livre de exsudato. A mucosa circundante fica edemaciada. IMPORTANTE: úlcera péptica = úlcera benigna. CLÍNICA – anemia por deficiência de ferro, hemorragia ou perfuração, dor após a refeição que piora pela noite e é aliviada por alimentos ou por bases. Pode haver náuseas, vômitos, distensão, arrotos e perda de peso. Note que, na imagem acima, há um buraco na mucosa, que pode acometer as estruturas abaixo e, quando chega na serosa, causa uma perfuração. Quando há perfuração, o conteúdo gástrico atinge a cavidade peritoneal, que é estéril, causando uma peritonite. Se há acometimento de vasos sanguíneos gastrointestinais, há hematêmese e melena. A úlcera péptica é dividida em 2: úlcera gástrica e úlcera duodenal. COMPLICAÇÕES – hemorragia do TGI, perfuração e obstrução gástrica. TUMORES GÁSTRICOS BENZOARES É um matéria ectópico que está dentro do estomago, causando uma obstrução gástrica. - Fitobenzoar: material vegetal - Trichobenzoar: bola de pelo - Alfinetes, unhas, lâmina de barbear, moedas, luvas, carteiras de couro. PÓLIPOS HIPERPLÁSICOS Os pólipos hiperplásicos surgem devido à inflamação crônica, sendo mais comum em indivíduos de 50-60 anos, resultando na hiperplasia reativa e no crescimento do pólipo. Eles não malignizam. Em sua maioria, são múltiplos e presentes, sobretudo, em indivíduos com gastrite atróficas. Eles são ovoides na forma e tem uma superfície lisa, embora possa haver erosões superficiais. Na microscopia, há glândulas foveolares alongadas, irregulares e cisticamente dilatadas. Além disso, há edema na lâmina própria. Pode ou não haver ulceração. PÓLIPO ADENOMATOSO Em 10-20% da população, ele é solitário. Ele pode aparecer séssil (na altura do epitélio, dentro da parede) ou pedunculado (forma como se fosse uma bexiga para a luz do vaso). Esse pólipo possui um diâmetro maior do que 2 cm e pode ser de 3 tipos: tubular, túbulo-viloso ou viloso. Esses dois últimos possuem maiores chances de cursarem com displasia de alto grau e formar um adenocarcinoma in situ. ADENOMA GÁSTRICO Representam 10% dos pólipos gástricos, tendo maior incidência conforme o aumento da idade e é mais frequente em homens. Eles, em geral, ocorrem em uma ambiente de gastrite crônica com atrofia e metaplasia intestinal. Geralmente são lesões solitárias, com menos de 2 cm (risco maior de carcinoma para lesões maiores que 2 cm). A maioria é composta pelo epitélio colunar do tipo intestinal, com diversos graus de displasia. ADENOCARCINOMA GÁSTRICO FATORES DE RISCO – H. PYLORI; nitritos, carnes defumadas, em conserva, excesso de sal, pimenta, pobreza, tabaco, gastrite crônica, EB, adenomas; histórico familiar; alimentos quentes. • A presença da bactéria não é uma condição benigna e ela precisa ser eliminada o mais rápido possível, pois o risco de desenvolver adenocarcinoma é muito alto. O adenocarcinoma representa cerca de 95% das neoplasias malignas gástricas, sendo mais comum no Japão e na Escandinávia. PATOGENIA – a maioria não está associada aos fatores genéticos devido à baixa penetrância, porém, quando são, trazem informações importantes sobre os casos esporádicos. MORFOLOGIA – os tumores gástricos são classificados de acordo com a sua localização morfológica macroscópica e histológica. Os tumores gástricos com uma morfologia intestinal (tendem a formar massas volumosas) são compostos por estruturas glandulares. Enquanto isso, os tumores com um padrão de crescimento infiltrante difuso são mais comumente compostos por células em anel de sinete (citoplasma repleto de mucina, rechaçando o núcleo para a periferia) A liberação extracelular de mucina em qualquer câncer gástrico pode resultar em grandes lagos de mucina que dissecam os planos teciduais. ADENOCARCINOMA SUPERFICIAL – está limitado à mucosa, não invadindo a camada uscular própria, mas pode haver metástases em linfonodos. Na macroscopia, nota-se uma lesão elevada, plana ou deprimida, menor que 8 cm de diâmetro. Na microscopia, pode haver ser intestinal ou difuso. A sobrevida é de 5 anos na maioria dos casos. ADENOCARCINOMA AVANÇADO – invade a camada muscular própria, sendo menos frequente nos países de alto risco devido ao alto rastreio pela EDA. Na macroscopia, nota-se lesões fungoides, polipoide, ulcerada ou difusamente infiltrante. Na microscopia, pode ser tanto intestinal quanto difuso. Esse adenocarcinoma forma metástases para os linfonodos e para o fígado. • Virchow (supraclavicular): câncer com linfonodos supraclaviculares – diagnóstico diferencial é o câncer de estomago e o de pulmão. • Krukenberg: qualquer tumor de ovário com células em anel de sinete, podendo ser até mesmo primário. Muitas vezes, investiga-se o ovário para depois buscar o câncer primário no TGI. CLÍNICA - O indivíduo pode se apresentar assintomático ou apresentar os sintomas da úlcera péptica (dor, anorexia, perda de peso, melena, anemia) e até massa epigástrica e evidencias de metástases. DIAGNÓSTICO– endoscopia e biópsia. LINFOMAS Em geral, os linfomas mais comuns são os não-Hodgkin e são focos secundários de linfomas disseminados. Os primários correspondem apenas a 3-5% das neoplasias gástricas malignas. Na macroscopia, eles podem ser polipoides, ulcerados, infiltrativos ou aparecer como uma gastrite ou um adenocarcinoma. Na microscopia, eles são, em sua maioria, derivados dos linfócitos B, correspondendo a um dos tumores associados à mucosa (MALT – linfoma de MALT). • Baixo grau: células pequenas • Alto grau: células grandes HISTOLOGIA DO MALT – infiltrado linfocítico denso na lâmina própria. Os linfócitos neoplásicos se infiltram nas glândulas gástricas, focalmente, para criar lesões linfoepiteliais diagnósticas. Podem existir folículos de células B com aparência reativa. A imagem mostra com detalhe as lesões linfoepiteliais. Eles vão expressar marcadores de células B (CD19 e CD20). CLÍNICA – dispepsia, dor epigástrica, hematêmese, melena, perda de peso. TUMOR CARCINOIDE Eles surgem como componentes difusos do sistema endócrino, conhecidos como tumores neuroendócrinos bem diferenciados. É usado o termo carcinoide por parecerem um curso mais indolente do que os carcinomas do TGI. São tumores mais raros no estômago, podendo ser nódulos únicos ou multifocais, geralmente em corpo gástrico. Eles estão associados à gastrite atrófica e à hipogastrinemia, síndrome de Zollinger- Ellison e à hiperplasia de células endócrinas. MORFOLOGIA – macroscopicamente, são massas intramurais ou submucosas que criam pequenas lesões polipoides, podendo ou não haver ulceração na mucosa sobrejacente. Tendem a ser amarelos ou castanhos e são muito firmes. Microscopicamente, são formados por ilhas, trabéculas, cordões, glândulas ou ninhos de células uniformes, com citoplasma granular rosado escasso e um núcleo pontilhado, de redondo a oval. Ainda, podem ocorrer metástases para o fígado e linfonodos, mas o prognóstico é bom (é uma lesão de baixo grau). TUMOR GÁSTRICO ESTROMAL MALIGNO (GIST) É o tumor mesenquimal mais comum, porém, corresponde a apenas 1% das neoplasias gástricas malignas, sendo difícil diferenciar da forma benigna. A maioria é de leiomiossarcoma, mas a origem exata ainda é controversa. Esse tumor possui um índice mitótico muito alto, sendo que, em um campo de maior aumento, conta-se mais de 5/10 mitoses e o tamanho é maior que 6 cm, sendo essas duas características utilizadas como fatores de prognósticos. As suas metástases são hematogênicas para o fígado e os pulmões. PATOGENIA – 75-80% de todos os GISTs possuem mutações oncogênicas de ganho de função no receptor de tirosina-cinase KIT. MORFOLOGIA – geralmente formam uma massa carnosa, bem circunscrita e solitária, coberta por uma mucosa intacta ou ulcerada, mas pode se projetar em direção à serosa. Os GISTs compostos por células delgadas e alongadas são classificados como tipo celular fusiforme, enquanto os por células aparentemente epiteliais são chamados de epitelioide. DIAGNÓSTICO – o marcador diagnóstico é o KIT, detectável em células de cajal, através das colorações imuno-histoquímicas. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O PROGNÓSTICO DAS NEOPLASIAS MALIGNAS 1 – Prevenção 2 – Diagnóstico precoce 3 – Tratamento dos fatores etiológicos 4 – Estadiamento clínico patológico Intestino delgado O intestino delgado possui cerca de 6 metros de comprimento, sendo que os seus primeiros 25 cm correspondem ao duodeno, que é a menor porção. O duodeno está localizado, em sua maior parte, na cavidade retroperitoneal, enquanto o terço proximal do delgado, o jejuno, o íleo e a válvula íleo- cecal estão na cavidade peritoneal. É no intestino delgado que o sistema imune se encontra com os antígenos dos alimentos e dos micróbios intestinais. O duodeno possui 4 fases de absorção de alimentos: • Digestão intraluminal: degradação de proteínas, carboidratos e lipídios em formas assimiláveis. Problemas aqui podem causar: pancreatite crônica, fibrose cística, má absorção primária de ácido biliar e doença de ácido biliar. • Digestão terminal: hidrólise dos carboidratos e dos peptídeos por dissacaridases e peptidases (borda em escova do delgado). Problemas aqui podem causar: doença celíaca, enteropatias ambiental e autoimune, deficiência de dissacaridase; gastroenterite viral, bacteriana ou parasitária, doença inflamatória intestinal. • Transporte transpeitelial: líquidos e eletrólitos são transportados até o epitélio entérico, onde são liberados nos vasos intestinais. Problemas aqui podem causar: doença celíaca, enteropatias ambiental e autoimune, deficiência da dissacaridase, má absorção primária de ácido biliar, abetaliproteinemia, gastroenterite viral, bacteriana ou parasitária, doença inflamatória intestinal. • Transporte linfático dos lipídios absorvíveis. Problemas aqui podem causar a doença de Whipple. Quando temos a diarreia crônica, ela pode ocorrer em uma dessas 4 fases de absorção de alimentos. OBSTRUÇÃO INTESTINAL Pode ocorrer em qualquer nível do TGI, mas é mais frequente no delgado por conta da sua luz estreita. As hérnias, as aderências intestinais, a intussuscepção e vólvulos representam 80% das obstruções mecânicas, enquanto os tumores, infarto, doença de Crohn, representam de 10-15%. As suas manifestações clínicas gerais se apresentam como dor e distensão abdominal, vomito e constipação. HÉRNIAS SACO HERNIÁRIO = protrusão de uma bolsa de peritônio revestida por serosa, causada por qualquer defeito ou fraqueza na parede abdominal. As hérnias são a causa mais frequente de obstrução intestinal e as mais comuns são as inguinais e as femorais. As alças do intestino delgado estão tipicamente envolvidas, mas o omento ou o intestino grosso também se projetam, e qualquer um desses pode ficar aprisionado. Assim, a pressão no colo da bolsa pode prejudicar a drenagem venosa da víscera aprisionada. • Estase + edema aumentam o volume da alça herniada, levando ao aprisionamento permanente, estrangulamento e infarto. ADERÊNCIAS Aderências fibrosas entre os segmentos do intestino e a parede abdominal ou local de cirurgia. Elas vão criar alças fechadas capazes de aprisionar outras vísceras, resultando em uma herniação interna. Elas devem ser consideradas mesmo na ausência de um histórico de peritonite ou cirurgia. VÓLVULO É a torção de uma alça intestinal sobre seu ponto mesentérico, resultando no comprometimento da luz e vascular. INTUSSUSCEPÇÃO Quando o segmento do intestino, comprimido por uma onda de peristaltismo, se encaixa no segmento distal mais próximo, de modo que, o segmento invaginado é empurrado pelo peristaltismo e puxa o mesentério. É muito comum em crianças menores de 2 anos. SÍNDROMES DA MÁ ABSORÇÃO INTESTINAL A má absorção resulta do distúrbio em pelo menos uma das 4 fases da absorção dos nutrientes, sendo representada, sobretudo, pela diarreia crônica com esteatorreia, que são as fezes com lipídios, em que são vistas gotas de gordura na diarreia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – • Trato alimentar: diarreia, dor abdominal, flatulência, perda de peso e mucosite. • Sistema hematopoi;ético: anemia, hemorragia (deficiência vitamina K). • Sistema muscular esquelético: osteopenia, tetania (diminuição do cálcio, magnésio e vitamina D). • Sistema endócrino: amenorreia, impotência e infertilidade, hiperparatireoidismo (deficiência prolongada de cálcio e vitamina D). • Epiderme: púrpuras e petéquias (falta de vitamina K), edema (diminuição das proteínas – mexe com a pressão hidrostática e oncótica), dermatite e hiperceratose. • Sistema nervoso: neuropatia periférica. A criança, em geral, vai ser pequena, com baixo peso, podendo ter comprometimento do nível intelectual e do desenvolvimento. DIARREIA = aumento na massa, na frequência ou na fluidez das fezes (mais de 200 g/dia e, nos casos mais graves,pode exceder 14 L/dia). DISENTERIA = diarreia dolorosa, sanguinolenta e de pequeno volume. A diarreia pode ser classificada em 4 categorias: - Diarreia secretória: fezes isotônicas e permanece durante o jejum. Ela continua, ao contrário da osmótica, por exemplo, em que, se você para de consumir o leite, a diarreia diminui. - Diarreia osmótica: decorrente das forcas osmóticas excessivas exercidas pelos solutos luminais não absorvidos. Exemplo: deficiência de lactase. - Diarreia de má absorção: consequência de falha generalizada na absorção de nutrientes, associada à esteatorreia, aliviada pelo jejum. - Diarreia exsudativa devido à doença inflamatória: caracterizada por fezes purulentas e sanguinolentas, que continuam durante o jejum. Exemplo: colite e doença de Crohn. FIBROSE CÍSTICA A fibrose cística afeta muitos sistemas orgânicos, principalmente os pulmões. Em razão da ausência do regulador da condução transmembrana da fibrose cística (CFTR) epitelial, o pacientes apresentam defeitos na secreção de íons cloreto e, no caso de alguns tecidos, na de bicarbonato, o que leva a uma hidratação luminal defeituosa. A hidratação reduzida pode, ocasionalmente, causar uma obstrução intestinal. DOENÇA CELÍACA A doença celíaca também é conhecida como espru celíaco ou enteropatias sensível ao glúten. Esta é uma enteropatias mediada pelo sistema imunológico, disparada pela ingestão de alimentos que contém glúten (proteína gliadina), como o trigo, centeio ou cevada, nos indivíduos geneticamente predispostos. • Presença de genes codificadores do antígeno leucocitário humano (HLA) do haplótipo DQ2 e DQ8. • Polimorfismos de genes envolvidos na regulação imune e função epitelial. A porção do duodeno vai reconhecer esse proteína e vai formar um complexo inflamatório, não deixando que ocorra a absorção do glúten à células epiteliais vão expressar IL-15, a qual ativa e prolifera os linfócitos CD8+ intraepiteliais. Estes irão expressar um grupo de NK (NKG2D) e o receptor para MIC-A, o que vai desencadear mais uma série de processos, culminando nas células TCD4+ produzindo citocinas que contribuem para a lesão tecidual. • Desaminados transglutaminase tecidual interage com o HLA-DQ2 ou com o HLA-DQ8 nas células apresentadoras de antígenos. • O dano epitelial vai aumentar a passagem de outros peptídeos da gliadina para a lâmina própria. A sua incidência global é de 0,6-1% da população. Além de ter todas as síndromes da doença celíaca, o paciente pode ter doenças autoimunes associadas, como a DM I, tireoidite, S. Sjögren (não produz lágrimas), nefropatia IgA; e pode ter neuropatia periférica associada, além de outras doenças, como a ataxia e a epilepsia. Ainda, o paciente pode ter neoplasias malignas, sobretudo a ampola de Vater. MORFOLOGIA – aumento do número de linfócitos T CD8+ intraepiteliais (linfocitose intraepitelial), hiperplasia de cripta e atrofia das vilosidades. Ainda, há perda da área mucosa e da borda em escova, além do aumento na atividade mitótica nas cristas (taxas de reposição epitelial aumentadas). Há um aumento no número de plasmócitos, mastócitos e eosinófilos. Note que a mucosa com doença celíaca não tem essas vilosidades à ATROFIA VILOSITÁRIA. CLÍNICA – mais comum entre 30-60 anos. Pode ser silenciosa ou não. Está associada à diarreia crônica, distensão ou fadiga crônica, mas é assintomática na maioria da vezes. Em 10% dos pacientes, nota-se uma lesão pruriginosa e bolhosa (dermatite herpetiforme). Nas crianças, apresenta-se com os seguintes sintomas: irritabilidade, distensão abdominal, anorexia, diarreia crônica, insuficiência no crescimento, eprda de peso ou atrofia muscular. Pode haver queixas extra-intestinais: artrite ou dor nas articulações, estomatite aftosa, anemia por deficiência de ferro, atraso puberal e baixa estatura. DIAGNÓSTICO – teste dos marcadores, como a medicao de IgA e transglutaminase tecidual. biopsia da segunda porção do duodeno ou do jejuno proximal, pois são áreas mais expostas ao glúten. ENTEROPATIA AMBEINTAL SPRU TROPICAL Distúrbio prevalente em áreas e populações com más condições sanitárias e de higiene, como em países subdesenvolvidos. Os indivíduos afetados sofrem de má absorção e desnutrição, atraso no crescimento e defeitos na função da imunidade da mucosa intestinal. A histologia é semelhante à celíaca grave. ENTEROPATIA AUTOIMUNE É um distúrbio ligado ao X, caracterizado por diarreia grave persistente e doença autoimune que ocorre mais frequentemente em crianças jovens. DEFICIÊNCIA DE LACTASE (DISSACARIDASE) É um defeito bioquímico, portanto, a histologia é normal. A deficiência congênita é causada por uma mutação no gene que codifica a lactase, é um distúrbio autossômico recessivo. É uma doença rara e apresenta uma diarreia explosiva, com fezes aquosas e espumantes e distensão abdominal com a ingestão de leite. A deficiência adquirida é causada pela regulação negativa da expressão do gene da lactase e é particularmente comum entre as populações de americanos nativos, afro- americanos e chineses. Ela pode se desenvolver depois de infecções virais entéricas ou bacterianas, tendo cura. Sintomas: plenitude abdominal, diarreia, flatulência. ABETALIPOPROTEINEMIA É uma doença autossômica recessiva rara, que ocorre devido a uma mutação na proteína de transferência de triglicerídeos microssomais (MTP), a qual é necessária para que os enterócitos processem e secretem lipoproteínas ricas em triglicerídeos. • Sem a MTP, os enterócitos não podem produzir ou exportar as lipoproteínas. Isso resulta no acúmulo intracelular de lipídios – presença de células vermelhas acantolíticas (células-ouriço) nos esfregaços de sangue periférico. Ela se manifesta na infância e causa um atraso no desenvolvimento, diarreia e esteatorreia. ENTEROCOLITES INFECCIOSAS Pode se apresentar como uma série de sintomas, o que incluía diarreia, a dor abdominal, a urgência, o desconforto perianal, a incontinência e a hemorragia. As diarreias pediátricas infecciosas podem resultar em óbito devido à desidratação grave e acidose metabólica, sendo comumente causadas por vírus entéricos, parasitas e bactérias. • Parasitas: áscaris, strongyloides, hookworms (necator e anklyostoma), enterobius, trichuris, cestódios, taenia solium, diphyllobothrium latum, hymenolepsis nana, entamoeba histolytica, giárdia lamblia. SHIGHELLA É a causa mais comum de diarreia sanguinolenta, sendo causada por uma bactéria anaeróbia gram-negativa não encapsulada, sem motilidade e parasita facultativo. • Família enterobacteriaceae, que está intimamente relacionada com a E. coli. • Resistente ao ambiente hostil do estômago, o que explica a sua carga infecciosa ser extremamente baixa. A sua transmissão é feita pela via fecal- oral, pela água e por alimentos contaminados. Sendo assim, a incidência é maior em regiões com saneamento básico deficiente e pouca higiene pessoal. Entretanto, é uma doença autolimitada, ficando até uma semana em incubação e há 1 semana de sintomas, apresentando os sintomas de diarreia, febre e dor abdominal. Porém, por mais que raras, existem complicações, como a tríade: artrite estéril reativa, uretrite e conjuntivite. Ainda, pode ocorrer a síndrome hemolítico-urêmica e o megacolon tóxico, com obstrução intestinal. O cólon esquerdo é o local mais comum, mas o íleo pode estar envolvido. MORFOLOGIA: nota-se uma inflamação aguda na mucosa, que pode levar à hemorragia e à ulceração da mucosa. As bactérias são capturadas pelas células M (epitélio da cúpula acima das placas de Peyer), porém, elas se proliferam intracelularmente, escapando para a lâmina própria, onde são fagocitadas pelos macrófagos, onde elas induzem apoptose e causam dano celular. A superfície epitelial fica, assim, invadida pelas membranas basolateriais das células epiteliais SALMONELLA É um bacilogram-negativo, dividida em salmonella typhi, causador da febre tifoide, e salmonela não tifoide. É uma gastroenterite autolimitada, sendo transmitida por água e alimentos contaminados, sobretudo carnes cruas, aves, ovos e leite, pelo S. enteritidis. As fezes saem amolecidas, com uma diarreia profusa, febre, podendo cursar com doenças sistêmicas, como a febre tifoide. A macroscopia e a microscopia é similar às outras enterites infecciosas. • Salmonella secreta uma molécula que induz a liberação do ecosanoide hepoxilina A3 pelas células epiteliais, atraindo neutrófilos para a luz intestinal e potencializando, assim, a lesão à mucosa. É uma doença muito comum em países subdesenvolvidos e cursa com a seguinte sintomatologia: linfonodomegalia, dor abdominal e prostração, hiperplasia seguida de ulceração das placas de Peyer, com hemorragia intestinal e podendo evoluir para perfuração e choque; e esplenohepatomegalia (com necrose focal do parênquima hepático). YERSINIA Há 3 espécies patogênicas humanas. O que vai ocorrer é a invasão das células M e utilização das proteínas bacterianas especializadas (adesinas) para se ligar às integrinas b1 da célula hospedeira. Assim, uma ilha de patogenicidade codifica um sistema de captura de ferro que controla a captura e o transporte de ferro. Nessa doença, o ferro acentua a virulência e estimula a disseminação sistêmica e, por isso, pode ser notado um aumento do ferro não heme. A Yersinia envolve mais o íleo, o apêndice e o cólon direito, sendo que os organismos se multiplicam extracelularmente no tecido linfoide, resultando na hiperplasia do linfonodo regional e placas de peyer, além da hipertrofia da parede do intestino. A mucosa adjacente pode conter hemorragia, com erosões aftosas, úlceras e infiltrado de neutrófilos e granulomas. CLÍNICA – dor abdominal, febre, diarreia, náusea, vômitos, sensibilidade abdominal. Colite e enterite nos jovens. Pode haver faringite, artralgia e eritema nodoso. A invasão da placa de Peyer mimetiza a apendicite aguda. DOENÇA DE WHIPPLE (LIPODISTROFIA INTESTINAL) É uma doença crônica, multivisceral e rara, sendo mais comum em homens caucasianos e causada por uma actinomiceto gram positivo. MORFOLOGIA – acúmulo denso de macrófagos espumosos e distendidos na lâmina própria do intestino delgado, com acúmulo de bactérias dentro. Os macrófagos contêm grânulos ácido periódico de Schiff (PAS) positivos e resistentes à diástase. Na microscopia eletrônica, podem ser identificados bacilos em forma de bastão, intactos. Uma expansão vilosa causa pelo denso infiltrado de macrófagos pode ser notada, dando uma aparência áspera da mucosa superficial, além da presença de edema. Por conta da dilatação linfática e da deposição lipídica na mucosa, na endoscopia, nota-se placas branco- amareladas na mucosa. • Obstrução linfática causa essa deposição lipídica e consequente diarreia linfática. Ainda, os macrófagos repletos de bactérias podem se acumular dentro dos linfonodos mesentéricos, das membranas sinoviais das articulações afetadas, das válvulas cardíacas, do cérebro e de outros locais. CLÍNICA – tríade: diarreia, perda de peso e artralgia. Pode ter artrite, febre, linfadenopatia, doença neurológica, doença cardíaca ou doença pulmonar. OBS: diagnóstico diferencial – tuberculose intestinal. Note que as vilosidades estão normais, porém, na submucosa, existe um acúmulo de gordura e, portanto, há um acúmulo de macrófagos. DOENÇA INTESTINAL ISQUÊMICA A maior parte do TGI é suprida pelas artérias celíaca, mesentérica superior e mesentérica inferior, sendo que, ao se aproximarem da parede intestinal, as mesentéricas se ramificam e formam as arcadas mesentéricas. • Hipoperfusão progressiva e crônica: comprometimento aguda de qualquer vaso maior que pode resultar no infarto de uma grande parte do intestino. Ou seja, a obstrução destas pode chegar a ser uma obstrução isquêmica, fazendo com que as fezes caiam na cavidade peritoneal, que é uma cavidade estéril. As lesões isquêmicas podem se restringir ao intestino delgado, ao cólon ou ambos, na dependência do território de vascularização arterial acometido. Sendo assim, a gravidade da lesão pode ser a seguinte: - Infarto transmural: acomete toda a parede intestinal, pegando desde a mucosa até a serosa, sendo uma obstrução vascular aguda e tendo um prognóstico pior. • Enterocolite necrosante (ECN) é um distúrbio agudo dos intestinos que pode resultar em necrose transmural. - Infarto mucoso e submucoso: geralmente é causado por uma hipoperfusão aguda ou crônica, acometendo a mucosa e a submucosa. Prognóstico um pouco melhor que o anterior. - Infarto Mucoso: não ultrapassa a camada mucosa, mas geralmente é causada pela hipoperfusão aguda ou crônica. Os infartos mucosos e murais podem não ser fatais, mas há progressão do infarto se o suprimento vascular não for reestabelecido (não houve correção da lesão). CONDIÇÕES PREDISPONENTES: • Obstrução arterial aguda: trombose arterial, grave aterosclerose (vaso mesentérico), vasculite sistêmica, aneurisma aórtico, estados de hipercoagubilidade e anticoncepcionais orais, embolia arterial (vegetações cardíacas e ateromas cardíacos). • Hipoperfusão intestinal: falência cardíaca, choque, desidratação e uso de vasoconstritores. • Tromboses venosas: estados de hipercoagubilidade hereditários ou adquiridos, cirrose, neoplasias invasivas, traumatismo abdominal e, hoje, COVID-19. As respostas intestinas à lesão hipóxica tecidual ocorrem em 2 fases: 1. Lesão hipóxica inicial: é o início do comprometimento vascular. Embora algumas lesões aconteçam durante essa fase, as células epiteliais que revestem o intestino são relativamente resistentes à hipóxia transitória. Portanto, é uma fase reversível ainda, sendo que, caso a hipóxia não seja revertida, vai terminar em necrose isquêmica e, em casos mais graves, pode disparar a falência múltipla de órgãos. 2. Lesão de reperfusão: ocorre a restauração do suprimento de sangue e é nesse momento que a lesão ocorre. É um momento delicado, pois se tem a necrose e parte dos produtos bacterianos ganham a luz intestinal, assim como o infiltrado inflamatório (neutrófilos) e produção de radicais livres. Caso a reperfusão não seja adequada, o indivíduo evolui para uma doença isquêmica. Entretanto, é importante salientar que a gravidade do comprometimento vascular depende da fração de tempo que ele se desenvolve e quais vasos e o local que foi afetado. Sobre os vasos, é importante lembrar que os segmentos intestinais no final de seus respectivos suprimentos arteriais são particularmente susceptíveis à isquemia, sendo chamadas de zonas vertentes. Estas zonas vertentes incluem a flexura esplênica, onde as circulações arteriais mesentéricas superior e inferior terminam e, em menor grau, o cólon sigmoide e o reto, onde as circulações arteriais mesentérica inferior, pudenda e ilíaca terminam. Ainda, somado a isto, o arranjo dos capilares intestinais faz com que a superfície do epitélio seja particularmente vulnerável à lesão isquêmica em relação às criptas. MORFOLOGIA – padrão de atrofia da superfície epitelial, ou mesmo a necrose e a descamação, com criptas normais ou hiperproliferativas, acometendo, sobretudo, o cólon. Em geral, as lesões são segmentadas e em placas, sendo que a mucosa é hemorrágica e pode estar ulcerada. A parede intestinal fica espessada pelo edema e eritematosa, podendo seguir para hemorragia e necrose. A demarcação entre o intestino normal isquêmico é nitidamente definida, sendo que, no início, o intestino infartado é congesto e escurecido, de coloração roxo-avermelhada e, depois, passa a ser um intestino com parede edematosa, espessada e elástica. Caso não haja intervenção, dentro de 1 a 4 dias pode haver necrose coagulativa da muscular própria e pode haver perfuração. Nesse momento,a serosite com exsudatos purulentos e deposição de fibrina, pode ser proeminente. Na trombose venosa mesentérica, o sangue arterial continua a fluir por um tempo, levando a uma transição menos abrupta de intestino afetado para o normal. Na isquemia aguda e crônica, a superinfecção bacteriana e a liberação de endotoxinas podem induzir a formação de pseudomembranas, que se assemelham à colite pseudomembranosa. QUANDO EVOLUI PARA NECROSE - Na microscopia, a necrose isquêmica intestinal é caracterizada por uma atrofia característica ou descamação da superfície epitelial, sendo que os infiltrados inflamatórios estão inicialmente ausentes na isquemia aguda (os neutrófilos são recrutados dentro de algumas horas de reperfusão). Quando a isquemia é crônica, há fibrose da lâmina própria e, raramente, formação do estreitamento. Ainda, a isquemia crônica pode estar mascarada como doença intestinal inflamatória. CLÍNICA – comum em pacientes acima dos 70 anos e ocorre com maior incidência em mulheres. Câimbra, dor abdominal no lado inferior esquerdo, vontade de defecar e eliminação de sangue ou diarreia com sangue. Paciente pode progredir para choque e colapso vascular em poucas horas. Ainda, o paciente tem perda de peso, com parada de eliminação de gazes e fezes. INFECÇÃO POR CITAMEGALOVÍRUS (CMV) – causa doença gastrointestinal isquêmica, em função do tropismo viral para as células endoteliais. DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA É uma condição crônica resultante da ativação imunológica inapropriada da mucosa. Compreende a colite ulcerativa e a doença de Crohn. COLITE ULCERATIVA É limitada ao cólon e ao reto e se estende apenas à mucosa e à submucosa. Ela está intimamente relacionada à doença de Crohn. As suas manifestações extraintestinais são comuns, incluindo a poliartrite migratória, sacroileíte, espondilite anquilosante, uveíte e lesões na pele. MORFOLOGIA – na macroscopia, é uma lesão contínua, que se inicia no reto, sendo que 1/3 dos pacientes possuem pancolite (acometimento de todo o cólon) após 10 anos. A mucosa aparece friável, hemorrágica, com áreas difusas de ulceração, pseudopólipos (as pontas desses pólipos podem se fundir para criar as pontes mucosas), hipertrofia muscular da mucosa, mas raramente apresenta fibrose. Ainda, essa mucosa pode ser levemente avermelhada ou granular. • Diferentemente da doença de Crohn, não há espessamento mural, a superfície serosa é normal e as estenoses não ocorrem. • Megacólon tóxico = dilatação colônica devido ao dano da muscular própria e perturbação da função neuromuscular devido à inflamação e aos seus mediadores químicos. O cólon aparece encurtado por espasmo. Na microscopia, nota-se uma mucosa doente, com as criptas distorcidas e plasmócitos na lâmina própria. Ainda, pode ocorrer metaplasia pilórica com células de Paneth, criptite e crosta e diminuição das células caliciformes. O processo inflamatório é difuso e, geralmente, está limitado à mucosa e à submucosa superficial. NÃO HÁ GRANULOMAS. CRITÉRIOS CLÍNICOS – recorrente, ulcerativa, contínua, superficial, mais prevalente no reto. Paciente vai apresentar diarreia sanguinolenta, com material mucoide viscoso, dor abdominal inferior e cólicas que melhoram com a defecação. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO: - corticoesteroides e sulfazalazina. 5% do pacientes morrem após 1 ano do 1º episódio. DOENÇA DE CROHN Também chamada de ileíte regional, pode comprometer qualquer trecho do TGI e é tipicamente transmural. MORFOLOGIA – formas mais comuns são o acometimento do íleo terminal, da válvula ileocecal e do ceco. Presença de múltiplas áreas, separadas e delineadas, resultam nas lesões salteadas, que são características da doença de Crohn. LESÃO INICIAL (úlcera aftosa) – pode progredir e lesões múltiplas se fundem, formando úlceras alongadas e serpentiformes, orientadas ao longo do intestino. A mucosa fica edemaciada e perde a sua textura normal, parecendo pedra de calçamento. Frequentemente, há fissuras entre as dobras da mucosa, podendo perfurar. A parede fica espessa e borrachuda devido ao edema transmural, à inflamação, à fibrose submucosa e à hipertrofia da muscular própria à contribuem para estenose. Quando há doença transmural extensa, a gordura mesentérica vai se estender e rodear a superfície serosa, o que é chamado de gordura trepadeira. Os neutrófilos infiltram e lesionam as criptas, de modo que fiquem dentro delas, conhecidos como abscessos de cripta. • Ciclos repetidos de destruição e regeneração das criptas levam à distorção da arquitetura da mucosa. Frequentemente, nota-se metaplasia pseudopilórica e metaplasia de células de Paneth (esta geralmente ocorre no cólon esquerdo). Ainda, há hiperplasia dos plexos nervosos de Meissner e Auerbach. MARCO DA DOENÇA DE CROHN: GRANULOMAS NÃO CASEOSOS. Eles são encontrados em 35% dos casos, podendo estar presentes até mesmo nos linfonodos mesentéricos. Os granulomas cutâneos formam nódulos conhecidos como doença de Crohn metastática, mas é um termo inadequada, porque não é câncer. CLÍNICA – diarreia sanguinolenta recorrente, febre, abscesso retal, úlceras no intestino delgado e no cólon e fístulas que começaram aos 20 anos de idade. TRATAMENTO – respondem ao tto, porém, 40-50% necessita de cirurgia por complicações e 10-20% morrem pela doença ou por suas complicações. DOENÇA DIVERTICULAR SIGMOIDE Presença de bolsas externas adquiridas, pseudodiverticulares, da mucosa e da submucosa colônicas. Diferentemente dos divertículos verdadeiros, elas não são revestidas por 3 camadas de parede colônica. Os divertículos colônicos são raros em pessoas com menos de 30 anos, sendo mais comum em indivíduos maiores de 60 anos • ÁSIA E ÁFRICA = mais comum do lado direito • OCIDENTE = mais comum do lado esquerdo PATOGENIA – resulta da estrutura única da muscular própria colônica e da pressão intraluminal elevada no cólon sigmoide. Esta última, provavelmente, é decorrente das contrações peristálticas exageradas, com sequestros espasmódicos de segmentos intestinais. MORFOLOGIA – são bolsas externas pequenas, em forma de cantil, que ocorrem em distribuição regular lado a lado com as tênias do cólon. A parede é fina, composta por mucosa achatada ou atrófica, submucosa comprimida e muscular adelgaçada ou ausente. É comum a hipertrofia da camada circular da muscular própria no segmento intestinal afetado. Pode causar colite, diverticulite, peridiverticulite, espessamento fibrótico na parede ou estenose. A perfuração é rara. CLÍNICA – maioria assintomática. Cólicas intermitentes, desconforto abdominal inferior contínuo, constipação, distensão e sensação de nunca ser capaz de esvaziar completamente o reto. Diarreia e melena. MEGACÓLON CHAGÁSICO É causado por um protozoário parasita intracelular, o Tripanossoma cruzi. Esse parasita infecta animais, incluindo gatos, cães e roedores e, dentro do barbeiro, escondem-se em rachaduras das paredes, alimentando-se nos hospedeiros durante o sono, onde eliminam os parasitas nas fezes ou através das mucosas. • Outra possível transmissão: ingestão oral dos parasitas. No local de entrada, pode haver um nódulo eritematoso transitório. Esse parasita afeta, sobretudo, o coração, sendo que, nas áreas endêmicas, é uma das principais causas de morte devido a arritmia cardíaca, pois causam miocardite aguda com necrose focal das células, acompanhada de infiltrado inflamatório intersticial, culminando na dilatação das 4 câmaras. Quando não afetam o coração, podem afetar o esôfago ou o cólon, causando megaesôfago e megacolon, respectivamente, porém, esses parasitas não podem ser encontrados nos gânglios do plexo mioentérico. MEGACÓLON – DOENÇA DE VIRCHPRUNG Com incidência de 1:5000 nascidos vivos, 10% dos casos dessa doença ocorrem em crianças com síndrome de Down. Em indivíduos normais, o plexo neuronal
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