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1 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP INFECÇÕES BACTERIANAS DA PELE E TECIDO CELULAR SUBCUTÂNEO INTRODUÇÃO Infecção da pele pode ser: Primária: quando se instala num paciente sem história previa de cirurgia ou traumatismo. Secundária: quando se instala devido a um trauma, acidental ou cirúrgico que favorece a implantação dos micro-organismos. DEFESA DA PELE Os mecanismos de defesa da pele são essenciais para o combate a inúmeros agentes infecciosos, tanto pela barreira física (defesa primária) que impede ou dificulta a penetração bem como pela resposta imune eficaz após o contato com determinados agentes. Dentre os principais elementos de defesa destacam-se: Turnover celular → descamação superficial da pele, processo fisiológico de renovação celular e eliminação de células mortas. Favorece a “limpeza” externa da pele. pH ácido (4,7 e 5,75) → impede a proliferação de algumas bactérias e fungos. Secreção sebácea → contém elementos antibióticos protetores ao organismo e produz resposta imune pelas células de defesa (Langherans, mastócitos e células dendríticas). Flora bacteriana natural → presentes desde o nascimento, servindo também como uma proteção natural ao organismo. Resposta imune → várias células de defesa presentes na pele. CLASSIFICAÇÃO Pele e tecido celular subcutâneo Erisipela Celulite Abscesso Fleimão Panarício Linfadenite aguda Anexos da Pele Furúnculo Carbúnculo Hidradenite supurativa ERISIPELA É um tipo de celulite superficial da pele que apresenta envolvimento linfático marcante. Portas de entrada: ulceras de pele, lesões traumáticas, varizes, picada de insetos, abrasões, lesões eczantemáticas ou psoriásicas e infecções fúngicas. Fatores predisponentes: estase venosa, paraparesia, diabetes melito, abuso de álcool e obesidade. Recidivas: 10 a 30% dos casos Locais mais acometidos: Perna (70 a 80%) Face (5 a 20%) – predomínio em crianças Acomete com maior frequência crianças pequenas e adultos após a quarta década de vida. 2 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Agente etiológico: Mais comum: estreptococo beta hemolítico do grupo A (S. pyogenes) Em menor frequência: estreptococos dos grupos G e C, seguidos pelo grupo B (principalmente RN) Mais raramente: S. aureus Em imunossuprimidos: S. pneumoniae e P aeruginosa Características clínicas: Pródromos sistêmicos: febre elevada, cefaleia, calafrios, mal-estar e desanimo. No local da lesão: mancha avermelhada, quente e dolorosa (geralmente em queimação), de bordas elevadas e bem definidas. Torna-se lisa e brilhante em decorrência do edema que acompanha o processo. Geralmente a lesão aparece 6 a 12h após o início dos sinais e sintomas gerais. Frequentemente ocorrem linfagite e linfadenomegalia. Casos mais graves (complicações): formação de bolhas de liquido não purulento (do 2º ou 3º dia), hemorragia superficial, ulceras superficiais, celulite, abscesso subcutâneos, miosite, fleimão, fascite necrosante e até mesmo gangrena. Ocorrem geralmente devido à falta de tratamento. Diagnóstico diferencial: celulite Tratamento: Uso de antimicrobianos sistêmicos, medicamentos sintomáticos e cuidados locais. Na maioria dos casos é necessária internação para o tratamento, casos leves não é preciso. Penicilina G procaína IM na dose de 400.000 U de 12/12h, por 5 a 10 dias. Casos leves: penicilina (VO, 250mg a 500mg de 6/6h) ou amoxicilina (VO, 500mg de 8/8h). Alérgicos a penicilina: tratar com Eritromicina VO 250mg a 500mg, de 6/6h. Casos graves: ceftriaxona (1g EV de 24/24h) ou oxacilina (2g EV de 4/4h cada 8h). Repouso do segmento acometido, compressas mornas, elevação do membro. Casos de recidiva (mais de 3 vezes no ano) é indicado profilaxia com Penicilina G Benzatina IM (benzetacil) a cada 3 semanas. CELULITE Inflamação de origem infecciosa do tecido celular subcutâneo. As vezes pode haver extensão superficial e acometimento também da pele. Predomina em homens e ocorre em qualquer idade. Membros inferiores nos idosos Membros superiores nos mais jovens Acomete regiões da cabeça e pescoço e perianal predomina em crianças. 3 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Assim como a erisipela, deve ter uma porta de entrada: ferida aberta, úlcera, ferimento penetrante, laceração, infecção por T. pedis, etc. Raramente resulta de disseminação hematogênica. Além disso, indivíduos portadores de insuficiência vascular venosa periférica e/ou linfedema. Agente etiológico: Mais comum: Estreptococo do grupo A e pelo S. aureus Streptococus dos grupos C, G e B H. influenzae (celulite facial em crianças menores de 2 anos, frequentemente associado a otite media ipsilateral) S. pneumoniae (celulite orbitária) Raro: enterobactérias e pseudomonas (imunossuprimidos e diabéticos) Aeromonas (contaminação por aguas de lagos, rios ou solo) Vibrio (contaminação por agua do mar) Características clínicas: Vermelhidão, calor, dor, edema depressível e intumescimento da pele e do subcutâneo no local da infecção. Em contraste com a erisipela, as bordas da área da celulite são planas e mal definidas. Linfangite e/ou linfadenite de drenagem são menos frequentes, porém não são raras. Manifestações gerais: mal-estar, febre, calafrios e anorexia, e a temperatura oscila em torno de 38°C. A celulite de membros inferiores em idosos pode causar tromboflebite. Leucograma: Leucocitose discreta Diagnóstico diferencial: enduração do abscesso, metástases linfáticas. Tratamento: Medidas locais: uso de calor, repouso do segmento e proteção da região contra o trauma. Se for em extremidade, elevação desta. Calor no local: promove vasodilatação, com consequente aumento do fluxo sanguíneo e hipertensão capilar. Decorrem daí aceleração das atividades metabólicas e aumento da fagocitose e da transferência de células e fluidos para os tecidos no local da infecção. Além disso, o calor colabora para diminuição da dor. Ocorrente formação de abscesso ou fleimão, a drenagem cirúrgica está indicada. Tratamento sistêmico: antimicrobianos, analgésicos e antitérmicos. Atualmente, a escolha do antimicrobiano varia de acordo com a forma de apresentação e reflete a chance de o agente etiológico ser S. aureus. Dessa forma, as celulites podem ser separadas em: - Purulentas - Não purulentas - As purulentas são mais comumente causadas pelo S. aureus e o tratamento empírico deve ser direcionado para MRSA. - Tratamento empírico dos pacientes com celulite não purulenta deve ser direcionado para estreptococos beta-hemolíticos e S. aureus sensíveis a meticilina. Antimicrobianos: cefalexina 500mg 6/6h, clidamicina 300-450mg 6/6h ou 8/8h, cefazolina 1g 8/8h, oxacilina 2g 4/4h, clindamicina IV 600-900mg 8/8h. 4 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP ERISIPELA X CELULITE 5 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP ABSCESSO Infecção localizada do tecido conjuntivo com destruição de tecidos e formação de pus. Geralmente constitui complicação de infecções contíguas (erisipela, celulite, hidradenite supurativa etc). Contaminação secundária de ferida traumática ou foco infeccioso metastático na vigência de bacteremias ou endocardite. Na vigência dessas afecções, a presença de tecidos, micro-organismos e células fagocitárias destruídas estimula a migração de leucócitos polimorfonucleares e outras células fagocitárias para o foco inflamatório. Destas, grande número é destruído e vai se juntar ao exsudato, formando o pus. As demais se dispõem em torno do local, formando barreira defensiva que limita o processo. Os fibroblastos colaboram também na formação dessabarreira. Forma-se então, o abscesso, constituído por cavidade cheia de pus separada dos tecidos normais adjacentes por uma zona (membrana piogênica) onde são intensas a neoformação vascular e a proliferação celular. Em torno da membrana piogênica é frequente a existência de áreas de celulite. Agente etiológico: Mais comum: S. aureus (mais comum em troncos e membros) Estreptococos Anaeróbios, E. coli, difteroides e Proteus (regiões perianal, genital e iguinal) Recidivantes: pensar em infecção mista (aeróbia/anaeróbia). Características clínicas: Tumoração proeminente e circunscrita, delimitada, de tamanho variável, consistência endurecida que se torna amolecida, flutuante à medida que a lesão amadurece. Localização: dermo-hipodérmica e/ou subcutânea, circundada ou não por uma área de celulite. Rubor, calor e dor Manifestações gerais: febre, mal-estar e calafrios Nos mais profundos, flutuação e rubor podem estar ausentes e a dor é mais difusa. Tratamento: Na fase de maturação, o tratamento é semelhante ao da celulite. Se o abscesso já estiver formado a contribuição do antimicrobiano sistêmico é de menor valor. Nas lesões bem circunscritas, e dependendo do antimicrobiano usado, a membrana piogênica impede que este atinja concentrações terapêuticas satisfatórias na cavidade do abscesso. Indicação de uso do antimicrobiano: - Deve ser limitada a presença de associação do abscesso com linfagite, linfadenite, febre e/ou sinais de bacteremia. - Usados também em casos de abscessos maiores que 5 cm, múltiplas lesões, extremos de idade, áreas de difícil drenagem (face, mãos e genitália) e em diabéticos ou imunosuprimidos. Mais indicados: penicilinas sintéticas resistentes a penicilinase, cloxacilina (500mg) ou dicloxacilina (250mg) VO, de 6/6h. Pacientes alérgicos a penicilina: clindamicina (150mg a 300mg) ou eritromicina (250mg a 500mg), VO, de 6/6h. Podem também ser usadas cefalosporinas, cefalexina (500mg) VO de 6/6h ou cefadroxil (500mg) VO de 12h em 12h. Abscesso bem localizado e flutuação evidente: incisão e drenagem constituem o tratamento. Quando o paciente não estiver em uso de antimicrobiano, ele pode ser administrado, por via endovenosa, meia hora antes da drenagem, de modo que, havendo ruptura da membrana piogênica durante a intervenção, com disseminação bacteriana, o medicamento possa exercer efeito satisfatório. A técnica de drenagem deve obedecer aos seguintes princípios: 1. Técnica cirúrgica rigorosamente asséptica 2. Escolha da anestesia: abscessos muito volumosos e/ou localizados em regiões muito sensíveis (ex: perianal) ou em 6 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP crianças, a anestesia geral é mais indicada. Nos demais casos, a anestesia local pode ser realizada. 3. A incisão é realizada no ponto de maior flutuação do abscesso. Em seguida, evacuar o pus após coleta do material para exame bacteriológico (Gram e cultura antibiograma). Não se deve espremer o abscesso, mesmo após a incisão de drenagem. 4. Abscessos profundos: coloca-se um dreno de Penrose, que deve ser retirado após a parada da drenagem. 5. Abscessos superficiais: retirada de um fragmento de pele no local de drenagem (“drenagem em janela”). 6. Curativo diário FLEIMÃO Inflamação difusa e necrosante do tecido conjuntivo. Representa, também, grau evolutivo de um mesmo processo inflamatório que envolve a celulite e o abscesso. Ao contrário dos abscessos, não ocorre formação de membrana piogênica, e o processo tende a invadir os tecidos numa extensão muito mais significativa. Agente etiológico: Mais comum: estreptococos (maior poder de difusão). S. aureus, bacilos gram-negativos e anaeróbios, isolados ou em associação. O fleimão pode ser: Supra-aponeurótico: quando localizado no tecido celular subcutâneo acima na aponeurose. Subaponeurótico: situado abaixo da aponeurose. Profundo: quando atinge os espaços intermusculares. O comprometimento do estado geral do paciente é muito mais acentuado que nos abscessos e a maior difusão local do processo é responsável por alterações locais mais intensas, que podem evoluir até a gangrena. Por esses motivos é conveniente a internação. 7 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Tratamento: Baseia-se nos mesmos princípios para os abscessos. Acrescenta-se o maior valor da antibioticoterapia sistêmica. Penicilinas sintéticas por via EV (oxacilina – 2g EV de 4/4h) Cefalosporinas de 1º geração (cefazolina – 2g EV de 8/8h) Vancomicina (1g EV de 12/12h) para pacientes alérgicos a penicilina. Tratamneto cirúrgico: incisões amplas da pele e desbridamento rigoroso dos septos aponeuróticos e bainhas musculares, com objetivo de drenagem das secreções. Curativos diários Desbridamento à medida que a necrose se define. Panarício Infecção supurativa ao redor da unha. Causada pela proliferação de microorganismos naturalmente presentes na pele, como estafilococos e estreptococos, principalmente. Normalmente é desencadeado pelo ato de puxar a pele da cutícula com os dentes ou com um alicate de unhas (pequenos traumatismos). Tratamento: Drenar Cefalexina 500mg 6/6h LINFADENITE AGUDA Infecções de linfonodos representando, na maioria dos casos, a localização secundária ou propagação de infecção situada nas proximidades ou a distância. No último caso, ela está localizada em uma área cuja drenagem linfática se faz no sentido dos linfonodos acometidos. Pode ser: Especifica: origem tuberculosa, sifilítica, linfogranuloma venero, leishmaniose, etc. Inespecífica: tem usualmente etiologia estafilocócica ou estreptocócica. Elas surgem frequentemente na evolução dos diferentes tipos de infecções da pele, subcutâneo e tecidos mais profundos. É comum ocorrer também inflamação associada aos vasos linfáticos (linfangite). Podem ser também secundarias a disseminação por via sanguínea de infecções a distância ou de origem traumática. Características clínicas: Aumento do volume de um ou mais linfonodos, que se apresentam duros, regulares e dolorosos. Fase inicial: linfonodos são moveis, deslocados facilmente 8 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Evolução: ocorre acometimento dos tecidos perilinfonodais, surgindo edema, rubor, calor e aumento da dor espontânea e a palpação. Quando não tratado evolui para abscesso linfonodal Fase de periadenite: sintomas gerais intensos (indisposição, febre, calafrios, inapetência e prostação). Os abscessos ganglionares podem ser facilmente diagnosticados pela presença de flutuação. Quando não drenados cirurgicamente, produzem necrose da pele que os recobre, com consequente abertura para o exterior (fistulização). Tratamento: Repouso, imobilização e elevação do segmento atingido, calor local e antibioticoterapia. Fase tardia→ abscesso ganglionar com flutuação → drenagem cirúrgica FURÚNCULO Infecção necrosante do folículo pilossebáceo, ou seja, tanto do folículo piloso quanto das glândulas sebáceas. Agente etiológico: S. aureus (quase sempre) Streptococcus sp, E. coli, P. aeruginosa e Proteus Etiologia O S. aureus pode colonizar a pele sem causar danos por longos períodos, mas por motivos diversos como, por exemplo, quebra da barreira física ou deficiência do sistema imune penetram a pele e geram a agressão patológica. Geralmente, penetram no interior do folículo pilossebáceo, onde determinam uma foliculose, que em seguida se estende a derme e ao tecido conjuntivo subcutâneo. Forma-se então uma área de necrose central com hiperemia e enduração circunjacentes. Células fagocitárias e leucócitos migram para a área e algumas são destruídas pelas toxinas bacterianas, formando o pus. A porção necrosada é eliminada junto com o pus e é denominado “carnegão”. Em 25% dos casos gera furunculose recorrente. É uma doença universal e sem predileção entre sexos. Fatores de risco: Bastante comum em áreas de higiene inadequadas, em baixas condições socioeconômicas ou aglomerações; Histórico familiar e contato próximo com pessoas infectadas; Obesidade, pela formação de dobras na pele que facilitam a proliferação bacteriana e dificultam a limpeza local, além de alterações inflamatórias pelo tecido gorduroso; Traumas e discrasias sanguíneas; Diabetes mellitus e outras situações de imunossupressão. A infecção pode estender-se aos folículos pilossebaceos adjacentes, bem como ao subcutâneo vizinhos, dando origem ao carbúnculo. 9 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Características clínicas: Pode ocorrer em qualquer local da superfície cutânea (exceção: superfícies palmar e plantar), mas tem predileção por áreas ricas em folículos pilosos e sujeitas a fricção e transpiração (reagiao cervical, face, axilas e nádegas). Inicialmente: pequena área avermelhada, endurecida, que surge em torno do folículo pilossebáceo. Evolução: nódulo inflamatório saliente, duro, doloroso e apresenta aumento de volume. No ápice da saliência, forma-se a zona de coloração branco- avermelhada, em decorrência da necrose da pele, que acaba por se romper espontaneamente, liberando pus e o carnegão. A evolução é quase sempre favorável. Complicações: ruptura da barreira defensiva (ex: ao espremer os furúnculos) → disseminação hematogênica → osteomielite, endocardite, entre outros focos infecciosos a distância. Existe na face a chamada “zona perigosa”: - lábio superior - nariz - Lesões nesses locais podem propagar-se para o seio cavernoso e produzir trombose. Por isso, todos os furúnculos na face devem ser tratados com antibióticoterapia sistêmica. Furunculose: furúnculos múltiplos - ato de coçar - roupas - desnutrição, obesidade, uso de corticoides, DM, HIV - portadores de S. aureus nas narinas e/ou períneo Tratamento: Cuidados locais: antissépticos, calor local, imobilização do segmento atingido Incisão e drenagem na maioria dos casos não é necessária Incisão e drenagem: apenas quando ponto de flutuação e em lesões grandes. Antibioticoterapia sistêmica pode ser dispensada em casos de infecção restrita, sem celulite circunjacente nem febre. Cefalosporinas de 1º geração, amoxicilina, clidamicina (150mg a 300mg), eritromicina (250mg a 500mg) VO de 6/6h. Infecções recorrentes: profilaxia – antimicrobiano por 10 a 14 dias, de todo episódio infeccioso novo, limpeza da pele com uso de soluções antissépticas (clorexidina a 4%, hexaclorofeno), lavagem frequente das mãos, uso de toalhas limpas e trocas frequentes de fronhas e roupas intimas (lavadas em agua aquecida a altas temperaturas). Portadores nasais do S. aureus devem ser tratados com aplicação de ATB tópicos nas narinas, axilas, pontas dos dedos, região umbilical e região perianal. - Mupirocina a 2%, 2 vezes ao dia, por 5 dias (proteção por até 90 dias) - Ácido fusídico, 2 vezes ao dia Os familiares devem ser investigados e também tratados, se forem portadores. 10 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP CARBUNCULO OU ANTRAZ Infecção necrosante de vários folículos pilossebáceos contíguos com acometimento do tecido conjuntivo adjacente, incluindo tecido subcutâneo. Agente etiológico: S. aureus (quase sempre) Constitui estágio avançado do furúnculo, em que ocorre propagação do processo infeccioso. Depende de fatores anatômicos e/ou diminuição dos fatores defensivos do organismo. Fatores anatômicos: região cervical posterior, ombros, quadris e coxas → maior ação necrosante das toxinas estafilocócicas Fatores de diminuição da defesa orgânica: DM, desnutrição, uso de corticoides, dermatoses graves, discrasias sanguíneas, traumatismos, má higiene, etc. Características clínicas Área endurecida, dolorosa e avermelhada, no centro da qual se desenvolvem múltiplas áreas de necrose, das quais saem pequenas quantidades de pus. Pele no local da necrose: aspecto de favo de mel Em torno dessa área é avermelhada e endurada, correspondendo a zona de edema, hiperemia e infiltração leucocitária. Podem estar presentes linfangite e linfadenite de drenagem Sintomas gerais: calafrios, astenia, mal-estar, anorexia, etc. A absorção de produtos tóxicos do processo infeccioso determina o aparecimento de leucocitose e febre, que pode ser alta. A invasão da corrente sanguínea com septicemia e desenvolvimento de abscessos metastáticos é rara e ocorre em pacientes debilitados. Tratamento: Uso de antibióticoterapia sistêmica (penicilina sintética resistente a penicilinase, cefalosporinas de 1º geração etc). Analgésicos, repouso do segmento e calor úmido local. Terapêutica cirúrgica agressiva, no sentido de aliviar a dor, promover a drenagem eficaz e acelerar a cura. - Sob anestesia geral ou troncular - Internação não é necessária A cirurgia baseia-se em dois princípios fundamentais: excisão radical e drenagem ampla que podem ser obtidos por meio dos seguintes métodos: a) Uso de incisões em cruz atingindo toda extensão do carbúnculo (uma das mais utilizadas); b) Uso de incisões paralelas (Gridiron); c) Incisão circular atingindo toda a periferia da lesão e promovendo sua excisão completa; d) Incisão estelar com ressecção dos retalhos. Ressecção de todo o tecido necrosado Com essas manobras podem ocorrer sangramentos que podem ser controlados por meio de curativo compressivo. 11 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP HIDRADENITE SUPURATIVA (ACNE INVERSA) Afecção inflamatória crônica, recorrente, debilitante, que atinge a pele intertriginosa das regiões axilar, inguinal, inframamária, genital ou perianal. Alteração patogenética nos ductos foliculares pilossebáceos, como na acne. Oclusão do folículo sebáceo por queratina, em que a obstrução aumenta a pressão intraductal, com ruptura folicular, inflamação e posterior infecção por bactérias da flora normal da pele. Agente etiológico: S. aureus, S. milleri, bactérias aeróbias gram- (E. coli, Proteus, Pseudomonas) e anaeróbios. Processo infeccioso → atinge a derme, tecido celular subcutâneo e glândulas sudoríparas apócrinas adjacentes → fibrose, enduração formação de cicatriz, destruição dos anexos da pele e formação de sinus. Ocorre após início da puberdade com o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e da função das glândulas apócrinas. Principais locais: axila, região inguinocrural, perianal, mamária, nuca e couro cabeludo. Afeta mais mulheres (3:1) Até o momento, não se sabe a causa da obstrução ductal. Mas alguns autores afirmam haver relação hormonal, distúrbios no metabolismo dos andrógenos, além de fatores como, histórico familiar, obesidade, DM, hirsutismo e tabagismo. Em alguns pacientes há relação com acne conglobata ou celulite dissecante do couro cabeludo. Características clínicas: Nódulo eritematoso, duro e doloroso. Frequentemente acompanhado de febre. Ao final de poucos dias, o nódulo começa a amolecer, vindo a apresentar flutuação e ruptura, com drenagem de secreção purulenta e formação de tratos crônicos de drenagem. Diagnóstico: Critérios diagnósticos: 1. Lesões típicas: nódulos profundos, dolorosos e precoces em lesões primárias, abscessos, drenagem de sinus, cicatrizes em ponte e comedões tipo lápide em lesões secundárias. 2. Localização típica: axila, virilha, genitais, períneo, região perianal, região glútea, dobras infra e intermamárias. 3. Cronicidade e recorrência. Classificação de acordo com a gravidade: - Estágio 1– Formação de abscessos únicos ou múltiplos sem formação de sinus após a cicatrização. - Estágio 2 – Abscessos recorrentes, evoluindo com formação de tratos e cicatrizes. - Estágio 3 – Envolvimento difuso, vários tratos comunicantes, presença de fibrose. 12 Clínica Cirúrgica – Heloísa Paraíso 6ºP Os casos crônicos podem ser acompanhados de anemia secundária, hipoproteinemia, amiloidose, queratite intersticial, artropatia periférica, astenia e depressão. Raramente → transformação maligna p/ carcinoma de células escamosas, especialmente na região perianal A diferença fundamental entre hidradenite, furúnculo e carbúnculo é que na hidradenite não há formação do “carnegão”, apenas pus cremoso. Tratamento: Quando não tratada pode persistir por meses ou anos. Medidas locais: antissepsia, calor úmido Antimicrobianos Os abscessos, quando formados, devem ser incisados e drenados A região envolvida deve ser lavada com soluções antissépticas (hexaclorofeno, clorexidina, PVPI); A secreção deve ser colhida para cultura com antibiograma; Diversos medicamentos têm sido utilizados, mas vários ainda em experimento: - Hormônios (estrógeno, progesterona) - Inibidores da produção de androgênios (leuprolida, ciproterona) - Corticosteroides - Derivados da vitamina A (isotretinoina) - Ciclosporina. Casos mais graves: abertura e curetagem dos trajetos fistulosos, marsupialização, ablação com laser de CO2, excisão local ou excisão radical da área envolvida, com cicatrização por segunda intenção, sutura primária, realização de enxerto ou rotação de retalho para cobrir a área cruenta. Entretanto, mesmo com essas medidas, pode haver recidiva. REFERÊNCIA SAVASSI, Cirurgia de Ambulatório
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