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TEORIA GERAL DO CRIME - Aula 1

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TEORIA GERAL DO CRIME
Inicialmente podemos dizer que crime é toda conduta humana, positiva ou negativa, que reproduz e se adéqua a um modelo definido em lei, de natureza antijurídica e penalmente reprovável.
Conduta humana porque, na regra geral, quem comete crimes são pessoas físicas. É importante ressaltar que, em casos, excepcionais, a Constituição Federal prevê a possibilidade do cometimento de crimes ambientais, de crimes contra a economia popular ou contra a ordem econômica e financeira nacional. (CF, arts. 173, § 5º e 22, § 3º).
Teoria da dupla imputação em crimes ambientais:
É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Conforme orientação da Primeira Turma do STF, “O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação” (RE 548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014).
Teoria Tripartite: crime é uma conduta humana baseada em uma ação ou omissão, típica, antijurídica e culpável.
Teoria Bipartite: desconsidera a culpabilidade como elemento de manifestação do crime, reconhecendo apenas como elemento que permitirá a manifestação da pena ao agente delituoso.
Em relação ao crime, podemos identificar três elementos que lhe são essenciais:
a) Tipicidade: é a perfeita e inequívoca adequação de uma conduta humana ao tipo descrito em lei;
b) Antijuridicidade: é a contradição do fato, eventualmente adequado ao modelo legal, com a ordem jurídica;
c) Culpabilidade: é a reprovabilidade de conduta quando comparada ao senso médio comum. É válido ressaltar que os doutrinadores que seguem a Teoria Bipartite não consideram este instituto como elementar ao crime; mas como uma mera indicação da possibilidade ou não de manifestação da sanção penal cominada em lei. Nesta teoria, a ausência de culpabilidade não seria suficiente para excluir o ilícito penal, mas, sim, a imputabilidade penal.
OBJETO DO CRIME: é tudo aquilo sobre o que incide a conduta delituosa. O objeto pode ser jurídico ou material.
Objeto jurídico é o bem-interesse protegido pela norma penal.
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.
SUJEITOS DO CRIME: é o ser a quem pode ser atribuída a prática de ação ou omissão considerada defeituosa.
Sujeito ativo: é aquele que pratica o fato descrito pela norma penal incriminadora.
Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico lesado ou exposto a perigo de lesão pela conduta criminosa. Pode ser pessoa humana, a pessoa jurídica, o Estado, a coletividade etc. Segundo Damásio de Jesus, sujeito passivo do crime é o titular do interesse cuja ofensa constitui a essência do crime. O sujeito passivo pode ser de duas modalidades:
a) Constante ou formal: sendo o crime a violação da norma penal, o Estado é o sujeito passivo ou formal, por ser titular da lei incriminadora;
b) Eventual ou material: é o sujeito que efetivamente sofre a lesão do bem do qual é titular.
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES: Conhecer a classificação dos crimes é de extrema importância, pois podem influenciar, direta ou indiretamente, nas mais variadas questões dentro do direito penal e processual penal, a saber: momento em que ocorre a consumação do crime, o estado de flagrância, sujeito ativo, etc. Nesta senda, traz-se as principais classificações:[footnoteRef:1] [1: Obra consultada: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral: parte especial. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.] 
· Quanto ao sujeito:
Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Ex.: homicídio, roubo, furto.
Crime próprio: exige uma condição ou qualidade específica do sujeito ativo. Ex.: mãe no infanticídio e servidor público no peculato.
· Quanto à conduta:
Crime comissivo: cometidos por meio de uma ação. Ex.: sequestro.
Crime omissivo: praticado através de uma abstenção, um não agir. Ex.: omissão de socorro.
· Quando ao resultado:
Crime material: exige resultado naturalístico. Ex.: nos crimes dolosos contra a vida, exige a morte para a consumação.
Crime formal: não há necessidade de resultado naturalístico, embora seja perfeitamente possível a sua ocorrência. Assim, basta a conduta humana para a sua consumação. Ex.: na concussão (316, CP), apenas com a exigência se consuma o delito, não necessitando da obtenção de vantagem econômica. Referida vantagem apenas teria relevância para fins de aplicação da pena.
Crime de mera conduta: exige-se apenas a conduta do agente, não comportando a ocorrência de resultado naturalístico. Ex.: porte ilegal de arma de fogo, algumas formas de violação de domicílio, etc.
· Quanto à intenção do agente:
Crime de dano: consuma-se com a efetiva lesão do bem jurídico tutelado. Ex.: furto.
Crime de perigo: prevê um comportamento que traz perigo de dano ao bem tutelado. Este perigo ou risco ao qual se expõe o bem é suficiente para a consumação da prática delituosa. Ex.: expor a vida ou saúde de alguém a perigo (art. 132, CP), dirigir sem habilitação (art. 309, CTB), omissão de notificação de doença (art. 269, CP)[footnoteRef:2]. [2: A lista de doenças de notificação compulsória é a contida na Portaria nº 5, de 21 de fevereiro de 2006, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que ainda especifica entre aquelas as que são de notificação imediata, que deve ocorrer no prazo de 24 horas a partir da suspeita inicial da doença. A matéria é ainda regulada pelas Leis nº 6.259, de 30 de outubro de 1975 e ainda 6.437, de 20 de outubro de 1977, com alterações ditadas pela Lei nº 9.695, de 20 de agosto de 1998, pela Medida Provisória nº 2.190 – 34, de 2001, e pelo Decreto nº 78.231, de 12 de agosto de 1976.] 
· Quanto ao momento da consumação:
Crime instantâneo: a consumação se dá em uma única conduta e não produz resultado prolongado no tempo, ou seja, o momento consumativo é definido. Ex.: homicídio.
Crime permanente: a consumação se dá em uma única conduta, contudo se prolonga no tempo enquanto durar a vontade do agente. Ex.: extorsão mediante sequestro, porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei 10.826/03) ou de substâncias entorpecentes.
· Quanto ao número de agentes:
Crime unissubjetivo: pode ser praticado por uma única pessoa. Havendo concurso de agentes, tratar-se-á de concurso eventual. Ex.: homicídio, aborto, estelionato, etc.
Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário: somente pode ser praticado por mais de uma pessoa e com liame subjetivo entre as mesmas (concurso de agentes). Ex.: associação criminosa (art. 288, CP), rixa (art. 137, CP), etc..
· Quanto ao modus operandi:
Crime unissubsistente: admite a prática do crime por meio de um único ato, não se admitindo, em regra, tentativa. Ex.: injúria verbal.
Crime plurissubsistente: pode ser fracionado dentro da lógica do iter criminis, no qual o agente cogita, prepara e executa o crime em momentos distintos e visualizáveis. Ex.: homicídio.
Fato típico
Fato típico é todo comportamento humano que se amolda perfeitamente ao tipo penal. 
Em regra, o fato típico possui os seguintes elementos:
a) Conduta (ação ou omissão);
b) Resultado;
c) Relação de causalidade;
d) Tipicidade;
e) Elemento subjetivo (dolo ou culpa).
Conduta: é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, típica ou não, mas que produz ou tenta produzir um resultado previsto na lei penal como crime.
A prática do crime não se manifestará somente pela ação do sujeito ativo, mas também por conduta omissiva, que ocorre quando a norma jurídica impõe uma determinada conduta ao indivíduo e este não age, nada faz.
Em relação aos crimes omissivos, o Código Penal adotou a teoria normativa. Segundo essa teoria, a omissão só terá relevância causal se existir uma norma impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. Assim, a omissão é a inatividade, a abstenção deum fazer determinado pela lei penal.
Os crimes omissivos podem ser próprios e impróprios.
O crime omissivo próprio é aquele em que o agente viola o que está escrito no tipo penal por meio de uma conduta omissiva expressamente prevista na norma proibida, ou seja, existe uma previsão expressa de punição para um não fazer. Neles a conduta negativa é descrita no preceito primário da lei penal, sendo a simples omissão causa suficiente para a consumação, independentemente de qualquer resultado ulterior (exemplo: art. 135 do CP – omissão de socorro).
Os crimes omissivos impróprios são aqueles em que existe o dever jurídico de agir para evitar um resultado concreto, ou seja, nos crimes omissivos impróprios o indivíduo que se encontra na posição de garantidor responde como se houvesse praticado o crime. Nesses crimes o agente não responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado produzido, salvo se esse resultado não lhe puder ser atribuído por dolo ou culpa (exemplo: art. 1634 do CC – a mãe que deixa de amamentar o filho responde por homicídio, podendo ser doloso ou culposo, em virtude da sua obrigação legal de criar, proteger e cuidar dos filhos).
Assim, nos crimes omissivos impróprios, a omissão só tem relevância causal quando estiver presente o dever jurídico de agir que, de acordo com o art. 13, § 2º, do CP, incumbe a quem (garante ou garantidor):
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (o pai, o bombeiro militar, etc.) 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (uma relação contratual, p. ex., onde a escola assume a responsabilidade de impedir qualquer resultado lesivo aos alunos; ou também o guia turístico numa escalada de montanhas; a babá que assume o compromisso de cuidar da criança) 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (quem, p. ex., a pessoa que jogou na piscina uma outra que não sabia nadar tinha o dever de salvá-la; alguém que num acampamento acende uma fogueira e depois não a apaga, resultando em um incêndio com a morte de um dos integrantes do grupo). 
Resultado: existem duas espécies de resultado: o normativo e o naturalístico.
O resultado normativo é toda lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela norma penal. Todos os crimes possuem necessariamente resultado normativo, inclusive os formais e os de mera conduta. Não há, portanto, crime sem resultado.
O resultado naturalístico é toda modificação no mundo exterior provocada pelo comportamento humano voluntário. Essa modificação pode ser de ordem física (nos objetos inanimados), fisiológica (no corpo humano) ou psicológica (na psique humana). Nem todos os crimes possuem resultado naturalístico.
Relação de causalidade: é a conexão estabelecida entre a conduta do agente e o resultado naturalístico produzido. Em outras palavras, é a relação de causa e efeito existente entre a conduta e o resultado.
Sobre o conceito de causa, o CP adotou a teoria da conditio sine qua non (ou teoria da equivalência dos antecedentes). Segundo essa teoria, considera-se causa todo fato que concorre para a produção do resultado. Para evitar o regresso ao infinito – ou seja, a responsabilização de pessoas que influíram no plano fático com total ausência de vontade, como por exemplo, o operário que trabalha numa fábrica de armas de fogo) utiliza-se o filtro da causalidade psíquica (ou subjetiva) que exige a presença do dolo ou da culpa para a responsabilização dos agentes (no exemplo citado, o operário poderia ser responsabilizado se, desde o momento em que fabricava a arma, pretendia desviá-la para um conhecido que pretendia matar uma pessoa – a conduta dolosa do operário foi uma das causas do evento).
Tipicidade (ou adequação típica): é a perfeita adequação entre o fato concreto (a conduta praticada pelo agente no mundo real) e o tipo legal. Tipo legal, por sua vez, é a descrição abstrata do crime feita detalhadamente pela lei penal e corresponde a um fato criminoso.
A adequação típica (ou tipicidade) pode ser de duas espécies:
1) De subordinação imediata: é aquela em que a adequação do fato tipo legal se opera de forma direta, integral e perfeita (ex.: uma pessoa disparou arma de fogo contra outra causando-lhe a morte – há perfeita correspondência ao tipo legal previsto no art. 121 do CP);
2) De subordinação mediata (ou tipicidade indireta): é aquela em que a adequação depende de uma outra norma que promova a extensão do tipo até alcançar a conduta, como ocorre nos casos de tentativa (art. 14, II, CP).
Crime doloso: é aquele praticado pelo agente que objetiva o resultado ou que, no mínimo, assume o risco de produzi-lo, isto é, tem consciência da conduta que pratica. Dolo é vontade livre e consciente de praticar a ação ou omissão, de executar o fato definido como crime pela letra da lei.
Dolo direto: ocorre quando o agente pretende, busca o resultado, de modo que o evento corresponde a sua vontade.
Dolo indireto: ocorre quando a vontade do agente não se orienta de forma segura em relação ao evento. Essa espécie de dolo subdivide-se em dois tipos: dolo alternativo, quando o agente executa a ação pretendendo um dos objetivos que esta possa vir a causar; dolo eventual, onde o agente prevê o resultado e mesmo não o querendo diretamente, assume o risco de produzi-lo. 
Crime culposo: é o que se verifica pela conduta voluntária, sem a devida atenção ou cuidado, que gera como resultado o que a lei descreve como crime. Assim, os elementos do crime culposo são: o ato voluntário e a negligência, imperícia ou imprudência de que resulta fato definido como crime.
O tipo culposo também é conhecido por tipo aberto, porque o seu preceito primário (conduta) não está completamente descrito, exigindo-se, para a sua complementação, a realização de um juízo valorativo, que decorre da comparação da conduta do caso concreto com a que seria ideal nessas circunstâncias. Por isso, um crime só pode ser punido como culposo quando houver expressa previsão legal (art. 18, p.ú., do CP).
O crime culposo apresenta os seguintes elementos: conduta inicial voluntária; violação do dever de cuidado (por imprudência, negligência ou imperícia); resultado involuntário; nexo de causalidade; previsibilidade objetiva de resultado; ausência de previsão; tipicidade.
O dever objetivo de cuidado é aquele imposto a todas as pessoas de sempre agir com o emprego das cautelas necessárias para que de seu atuar não resulte dano a bens jurídicos alheios.
A previsibilidade objetiva é a possibilidade de qualquer pessoa comum, dotada de prudência mediana, de antever a produção de um resultado involuntário lesivo (se o resultado for voluntário não haverá culpa, mas sim dolo). 
As modalidades da culpa são: 
Imprudência: é a prática de um ato perigoso, sem as cautelas necessárias. Trata-se de um comportamento positivo, ou seja, o agente faz o que não deveria fazer. 
Negligência: é a prática de um ato sem a observância, por preguiça psíquica, dos cuidados exigidos pela situação em que o agente se encontra. Trata-se de um comportamento negativo, ou seja, o agente não faz o que deveria fazer. 
Imperícia: é a incapacidade técnica, teórica ou prática durante o exercício de arte, ofício ou profissão. O agente pratica ato para o qual não possuía aptidão suficiente.
As espécies da culpa são:
Culpa consciente: ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera sinceramente, que este não ocorra. Diferente do dolo eventual porque neste o agente prevê o resultado não se importa que ele venha a ocorrer. Na culpa consciente o agente, embora prevendo o resultado, não o aceita como possível.
Culpa inconsciente: ocorre quando o agente não prevê o resultado de sua conduta, apesar de ser este previsível.
Erro de tipo: é o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal (art. 20, caput, do CP) o agente adota uma determinada conduta por acreditar que ela não corresponde a um crime previsto na lei penal. Esse erro, na regra geral, elimina o dolo, mas permite a responsabilização a título culposo, caso a condutaseja punível a este título.
O erro de tipo essencial incide sobre as elementares e circunstâncias do crime. Tal erro é tão grave que impede que o agente compreenda o caráter criminoso do fato ou conheça alguma circunstância a ele relacionada.
	
Ex. (XII Exame de Ordem) Bráulio, rapaz de 18 anos, conhece Paula em um show de rock, em uma casa noturna. Os dois, após conversarem um pouco, resolvem dirigir-se a um motel e ali, de forma consentida, o jovem mantém relações sexuais com Paula. Após, Bráulio descobre que a moça, na verdade, tinha apenas 13 anos e que somente conseguira entrar no show mediante apresentação de carteira de identidade falsa. A partir da situação narrada, assinale a afirmativa correta.
(A) Bráulio deve responder por estupro de vulnerável doloso.
(B) Bráulio deve responder por estupro de vulnerável culposo.
(C) Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de tipo essencial.
(D) Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de proibição direto.
Iter criminis: representa o conjunto de fases pelas quais pode passar o delito. Segundo Damásio de Jesus, o iter criminis pode acontecer em quatro fases:
- Cogitação (fase interna do crime): o agente tem ideia de cometer o delito;
- Atos preparatórios: o agente prepara o crime;
- Execução: o agente coloca em prática o planejado;
- Consumação: o agente atinge o resultado pretendido.
A cogitação, por tratar de uma fase meramente abstrata, é impunível.
Em regra, os atos preparatórios também são impuníveis, salvo situações em que, isolados e desvinculados do contexto geral do crime, possam ser tipificados como delito penal.
Crime tentado: segundo disciplina o CP, diz crime tentado aquele que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente agressor. De forma mais doutrinária, pode-se dizer que o crime tentado é aquele que não conseguiu efetivamente provocar o dano ao bem jurídico protegido ou tutelado pela norma penal, em decorrência de circunstâncias diversas e alheias à vontade do sujeito ativo. 
A tentativa pode ser:
A) Tentativa perfeita ou crime falho: ocorre quando todos os atos executórios foram realizados, mas o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente agressor;
B) Tentativa imperfeita: ocorre quando a execução não foi realizada de forma completa, ou seja, o sujeito ativo do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade, não conseguiu levar a execução até o fim, deixando de realizar algum ou alguns dos atos pretendidos.
Existe ainda outra classificação da tentativa, que se divide em:
a) Tentativa branca ou incruenta: ocorre quando o agente desempenha total ou parcialmente a conduta, mas não consegue atingir o bem jurídico;
b) Tentativa vermelha ou cruenta: ocorre quando o agente desempenha total ou parcialmente a conduta, conseguindo atingir o bem jurídico.
Ocorrendo tentativa, independentemente de ser perfeita ou imperfeita, a pena será estabelecida tendo como referência o crime consumado, reduzindo-se esta de um terço a dois terços.
Desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior: 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz estão previstos no artigo 15 do Código Penal. A primeira consiste no abandono voluntário da prática delitiva pelo agente. Cessa a fase executória da conduta e o resultado inicialmente desejado não ocorre em razão da desistência voluntária do agente. Ressalte-se que a desistência tem que ser voluntária, ou seja, por razões próprias o sujeito abandona a prática delitiva. Nada impede que um amigo ou terceiro o convença a abandonar seu intento inicial.
O arrependimento eficaz ocorre quando o agente pratica alguma conduta para salvaguardar o bem jurídico que já foi colocado em risco. Em tal situação, a fase de execução foi realizada, entretanto, o agente agrega nova conduta a fim de evitar o sacrifício do bem tutelado, salvando-o. Note que a execução do crime aconteceu, mas não a sua consumação.
O arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, só pode acontecer em crimes praticados sem violência ou grave ameaça, desde que o agente repare o dano ou restitua a coisa até o recebimento da denúncia ou da queixa. Trata-se de situação na qual o crime já foi consumado, mas se for possível a reparação o agente terá em seu benefício a causa obrigatória de diminuição da pena de um a dois terços. O instituto tem natureza jurídica de causa obrigatória de diminuição de pena (de um a dois terços), analisado na terceira fase do cálculo da pena.
São requisitos do arrependimento posterior:
a) Delito cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa. A violência contra a coisa não exclui a minorante. A doutrina entende cabível o arrependimento posterior nos crimes violentos contra a pessoa frutos de conduta culposa.
b) Reparação total do dano ou restituição integral da coisa.
c) Até o recebimento da denúncia ou da queixa. Após o recebimento, pode-se falar da circunstância atenuante prevista no artigo 65, III, b, CP.
d) Ato voluntário do agente. O ato não precisa ser espontâneo.
Crime impossível, ou tentativa inidônea, tentativa inadequada, quase crime ou ainda quase morte, é aquele ato que jamais poderia ser consumado em razão da ineficácia absoluta do meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto. Em resumo, é um crime impossível de se realizar, cujas duas hipóteses legais estão previstas no artigo 17 do CP. Assim, temos as duas hipóteses, ou condições:
Delito impossível por ineficácia absoluta do meio - a ineficácia absoluta do meio se traduz na impossibilidade do instrumento utilizado consumar o delito de qualquer forma. São frequentemente citados como exemplos deste tipo: usar um alfinete ou palito de dente para matar uma pessoa adulta ou querer produzir lesões corporais mediante o mero arremesso de um travesseiro de pluma. Dentro desta categoria está também a hipótese chamada tentativa irreal ou supersticiosa, onde o sujeito deseja matar a vítima através de ato de magia ou bruxaria.
Delito impossível por impropriedade absoluta do objeto material - ocorre quando a conduta do agente não é capaz provocar qualquer resultado lesivo à vítima. Outro exemplo bastante utilizado neste caso, é a ação destinada a matar um cadáver.
ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE
A Ilicitude (ou antijuridicidade) é a contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico.
As causais legais que excluem a ilicitude da conduta estão previstas no art. 23 do CP. Além dessas causas legais, o CP ainda prevê nos arts. 128 (vedação à punição do aborto necessário e do aborto em caso de gravidez decorrente de estupro) e 142 (exclusão do crime de injúria e de difamação nas situações previstas nos incisos).
Estado de necessidade
De acordo com o artigo 24 do CP “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”.
Pressupõe a existência de dois elementos:
1- Situação de perigo (ou situação de necessidade): exige que o perigo seja atual (pode decorrer de situação provocada por pessoas, coisas ou animais), que ameace direito próprio ou alheio, que não tenha sido causado voluntariamente (abrange o dolo e a culpa) pelo agente e que inexista o dever legal de afastar o perigo (exemplo: um policial ou um bombeiro não podem deixar de socorrer uma pessoa em perigo, salvo se a situação de perigo extrapolar os limites legais ou sociais do exercício da profissão);
2- Conduta lesiva (ou fato necessitado): exige a demonstração da inevitabilidade do comportamento (ou seja, não existia outra forma de agir diante da situação), da inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado e do conhecimento da situação justificante pelo autor. 
O Código Penal adotou, como regra, o estado de necessidade justificante pelo fato de permitir o sacrifício de bem de menor valor para salvar outro de maior valor ou, pelo menos, sacrificar um bem de igual valor ao sacrificado. 
Legítimadefesa
De acordo com o art. 25 do CP “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Possui os seguintes requisitos:
A) Agressão humana injusta, atual ou iminente (se a pessoa se defende de um animal, haverá estado de necessidade a não ser que o animal seja utilizado como instrumento de um humano, nesse caso teremos legítima defesa);
B) Defesa de direito próprio (legítima defesa própria) ou de terceiro (legítima defesa de terceiro);
C) Repulsa com meios necessários (meios necessários são aqueles que o agente dispõe no momento para eliminar o perigo);
D) Uso moderado dos meios necessários (deve ser o suficiente para repelir a agressão injusta);
E) Conhecimento da situação justificante.
Ao contrário do que ocorre com o estado de necessidade, a legítima defesa deve ser dirigida somente contra o agressor e só pode ser invocada quando houver agressão injusta (o estado de necessidade pode ser dirigido contra terceiros e não exige que a agressão seja injusta). 
Dica importante:
Principais diferenças entre estado de necessidade e legítima defesa:
- No estado de necessidade há conflito entre bens jurídicos; na legítima defesa há ataque ou ameaça de lesão a um bem jurídico;
- No estado de necessidade o bem jurídico é exposto a perigo (atual ou iminente); na legítima defesa o interesse sofre uma “agressão”;
- No estado de necessidade o necessitado pode dirigir sua conduta contra terceiro alheio ao fato; na legítima defesa o agredido deve dirigir seu comportamento contra o agressor;
- No estado de necessidade o perigo pode advir de conduta humana, força da natureza ou de ataque de irracional; só há legítima defesa contra agressão humana.
Para que seja a excludente seja invocada não se exige que o autor da agressão seja imputável. Admite-se, portanto, a legítima defesa contra a agressão de inimputáveis (loucos, bêbados, menores de idade etc.).
O ofendículo que é um obstáculo ou impedimento idealizado pelo homem para evitar a ação criminosa de terceiros, é considerado pela maioria da doutrina como hipótese de legítima defesa preordenada (outros a consideram como hipótese de exercício regular de direito).
Estrito cumprimento de dever legal
Diferentemente do que fez com o "estado de necessidade" e com a "legítima defesa", o Código Penal não definiu o conceito de "estrito cumprimento de dever legal", limitando-se a dizer que:
"Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
 (...)
 III – em estrito cumprimento de dever legal..."
Sua conceituação, porém, é dada pela doutrina, como por exemplo Fernando Capez, que assim define o "estrito cumprimento do dever legal": "É a causa de exclusão da ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por força do desempenho de uma obrigação imposta por lei, nos exatos limites dessa obrigação". Em outras palavras, a lei não pode punir quem cumpre um dever que ela impõe.
Exemplo clássico de estrito cumprimento de dever legal é o do policial que priva o fugitivo de sua liberdade, ao prendê-lo em flagrante. Nesse caso, o policial não comete crime de constrangimento ilegal ou abuso de autoridade, por exemplo, pois que ao presenciar uma situação de flagrante delito, a lei obriga que o policial efetue a prisão do respectivo autor, mais precisamente o art. 292 do CPP. Preenchido, portanto, o requisito do dever legal.
Por outro lado, necessário, também, que o policial se limite a cumprir exatamente o que a lei lhe impõe, isto é, que o cumprimento desse dever cinja-se estritamente ao imposto por tal lei. Assim, basta que o policial prenda o agente flagrado, privando sua liberdade. Haveria abuso ou excesso se o policial, depois de contido o sujeito, continuasse desnecessariamente a fazer uso da força ou de ofensas físicas contra aquele.
Outro exemplo tradicional é o do oficial de justiça que retira da casa de alguém objetos de sua propriedade, em cumprimento de mandado de penhora contra aquela pessoa. Ora, por um lado, há o dever legal de assim agir, pois que o mandado judicial entregue ao oficial de justiça impõe-lhe o dever de cumpri-lo, não havendo, portanto, crime de roubo, embora a conduta seja típica. 
Exercício regular do direito
Previsto na 2ª parte do art. 23, III do Código Penal, o exercício regular de um direito compreende ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas a regularidade do exercício desse direito. 
A intervenção médico-cirúrgica, por exemplo, constitui exercício regular de direito, desde que, não seja possível o consentimento do paciente ou de seu representante legal. Caracterizar-se-á, também, como exercício regular de direito, determinados caso de violência desportiva, desde que haja consentimento prévio do ofendido. Portanto, neste último exemplo, o ofendido deve estar ciente dos riscos do esporte que pratica. Por fim, tal atividade não pode ser contrária aos bons costumes e a agressão deve se dar dentro dos imites do esporte e de seus desdobramentos possíveis.

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