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História da Amazônia (RESUMO)

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História da Amazônia - Márcio Souza
Cap. 1 – Geografia de um Subcontinente
A Hileia Amazônica, maior floresta tropical do mundo, tem a oeste o Oceano Atlântico; ao norte, o escudo guianense; a leste, os Andes; ao sul, o planalto central brasileiro. Compreende territórios dos seguintes países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru, Guiana, Venezuela, Suriname, Equador e França (Guiana Francesa).
No Brasil, existe a AMAZÔNIA LEGAL, um conceito jurídico, criado por lei em 1953 (Getúlio Vargas), com o intuito de estabelecer políticas públicas de desenvolvimento em áreas dos seguintes estados atuais: Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins, Oeste do Maranhã e norte do Mato Grosso. Nesse mesmo ano foi criada a Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA) para implementar essas políticas. Em 1966, a SPVEA virou Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM).
Cap. 2 – A Amazônia antes dos Europeus (15000 a.C - 1500 d.C)
Grupos nômades de Homo Sapiens cruzaram o estreito de Bering há 24 mil anos e se estabeleceram na Amazônia há 15 mil anos atrás. Primeiras sociedades eram de caçadores-coletores. Entre 4 mil e 2 mil a.C. houve transição para sociedades de horticultores, com predomínio da cultura da mandioca. Desenvolveram-se sociedades complexas e hierarquizadas, de alta densidade demográfica, como os tuxauas em Santarém e Marajó, mas essas sociedades retrocederam com a chegada dos europeus. De qualquer forma, o autor ressalta que a Amazônia não era um vazio demográfico quando os europeus iniciaram a sua colonização.
A Amazônia apresentava uma diversidade linguística bastante ampla, com destaque para os idiomas caribe, tupi, jê, tukano e aruake. O multilinguismo era bastante comum entre os povos que habitavam a região.
Uma mudança de metodologia e de paradigmas dos historiadores fez com que a ciência “História” passasse a focar as camadas mais humildes e oprimidas em seus estudos. Esse movimento permitiu uma valorização dos mitos e lendas dos povos indígenas, como forma de interpretação do mundo e da região amazônica.
Em relação ao legado econômico do passado, o autor destaca a importância de outros alimentos além da mandioca: milho, batata-doce, tomate, amendoim, pimenta, chocolate, baunilha, abacaxi, mamão, maracujá e abacate. Além disso, destaca a importância da Amazônia como detentora de enorme biodiversidade, sendo uma das áreas mais ricas nesse quesito no mundo.
Em seguida, o autor reflete sobre a questão indígena e o relativismo filosófico: é possível condenar moralmente sociedades que praticam o endocanibalismo, como os ianomâmis? E sociedades que comem os cadáveres de seus parentes mortos? Praticam a poligamia? Não tem propriedade privada, moeda ou mercadorias para vender? Até onde vai o respeito à diferença? Os colonizadores sempre olharam para as diferenças como sinônimo de infantilidade e atraso.
Cap. 3 – A Conquista
Segundo o autor, nos primeiros 250 anos de colonização, os europeus chegaram em busca de riqueza e se deram conta da falta de mão de obra, carência que persistiu.
O primeiro europeu, acreditando ter chegado às Índias, a aportar na Amazônia nesse período (desconsiderando relatos de supostos chineses e vikings em séculos anteriores) foi o espanhol Vicente Yañes Pinzon, que ao retornar à Espanha, ganhou o direito de explorar aquelas terras “descobertas” e foi nomeado governador e capitão-geral das mesmas. Chamou o rio Amazonas de “Santa Maria de la Mar Dulce”. O segundo foi Diego de Lepe, que entrou em confronto com indígenas e perpetrou o primeiro massacre na região.
Já o primeiro europeu a conduzir uma expedição pelo “Mar Dulce” foi Francisco de Orellana, que chegou até o atual Equador e fundou Guayaquil em 1540. Para assumir o cargo de governador da cidade, Gonzalo Pizarro é enviado pela Espanha no mesmo ano. Seus objetivos eram encontrar formas de minar o lucrativo negócio de especiarias de Portugal e encontrar o lendário “El Dorado”, terra lendária em que haveria ouro em abundância. Os espanhóis acreditavam nessa lenda e organizaram outras expedições tentando encontrá-la. Em uma delas, levaram o famoso cronista frei Gaspar de Carvajal, que tudo relatou. Havia ainda a crença na existência das amazônidas, mulheres guerreiras que viviam na selva, e da cidade de “Manoa”, outra versão para “El Dorado”.
Surpreendentemente, não foram nem espanhóis nem portugueses os primeiros a tentar um modelo de colonização na Amazônia, mas sim os alemães, em 1528, no que hoje é a Venezuela, por meio de uma concessão do imperador Carlos V da Espanha. A empreitada fracassou e encerrou-se 13 anos depois, com a retirada da concessão.
Enquanto isso, os espanhóis seguem preparando expedições na busca pelo “El Dorado”, como a de Ursúa, Guzman e Lope de Aguirre, em 1560. Mas no final do séc. XVI os espanhóis “cansaram”. Suas colônias nos Andes e Caribe estavam prosperando e os espanhóis “desistiram” da Amazônia.
Em 1580, com a morte de Dom Sebastião em Portugal, sem deixar herdeiros, teve início o período da União Ibérica que vai até 1640, em que os reinos de Espanha e Portugal, embora distintos, tinham o mesmo rei - o espanhol. É nesse período em que ingleses, franceses, irlandeses e holandeses constroem fortes e fortificações na Amazônia Oriental, gerando uma reação dos portugueses.
Os franceses haviam se estabelecido no Maranhão no início do século XVII e em 1615, os portugueses os expulsaram dali. Logo em seguida, decidem organizar uma jornada para expulsar os estrangeiros do Grão-Pará e do rio das Amazonas. Esse ato, em tese, violaria o Tratado de Tordesilhas, o qual estabelecia que aquelas terras eram espanholas e não portuguesas. Mas no contexto da União Ibérica, os espanhóis, focados nas suas outras colônias, não se importaram. Uma expedição comandada por Francisco Caldeira de Castelo Branco fundou, em 1616, o Forte do Presépio e a cidade de Santa Maria de Belém, chamando a região de Feliz Lusitânia, alusão direta de que o faziam em nome de Portugal, sob ordens diretas do Governador-geral do Brasil.
Os primeiros anos do forte foram de constante vigilância e intensas lutas. Os primeiros a atacá-lo foram os índios tupinambás, vencidos apenas em 1619. Entre 1623 – 1625, os portugueses enfrentam e expulsam as forças combinadas de ingleses, holandeses e irlandeses. Em 1624, é fundado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado do Brasil, cujo primeiro Governador-mor foi Francisco Coelho de Carvalho.
Em 1637, fazendo parte desse novo Estado, é criada a capitania do Cabo do Norte (atual Amapá), abrangendo a linha da costa do Cabo Norte até o Oiapoque e no interior até a margem esquerda do rio Amazonas. Nesse mesmo ano, foi fundada a cidade de Caiena pelos franceses, atual capital da Guiana Francesa.
Até então, os portugueses haviam limitado sua colonização à foz do Amazonas. Foi em outubro de 1637 que partiu a expedição de Pedro Teixeira, visando a iniciar a colonização portuguesa do interior da Amazônia. Vislumbrando o fim da união das coroas portuguesa e espanhola que se avizinhava, os portugueses buscavam estabelecer limites com o Peru espanhol, uma vez que a cordilheira dos Andes não os seguraria longe da Amazônia pra sempre. Retornam em 1639 sob grandes festejos em Belém. A expedição assegurou para os portugueses o controle daquele vasto território que, pelo Tratado de Tordesilhas, era dos espanhóis.
Em 1640, tem fim a União Ibérica, e inicia-se em Portugal a “Restauração”, com um rei português, Dom João IV, no comando do país. Logo em seguida, os holandeses invadem o Maranhão, sendo expulsos apenas em 1644.
Foi constante a presença de ingleses, holandeses e franceses na foz do rio Amazonas nessas décadas iniciais do século XVII. Os holandeses terminaram por se estabelecer na foz do rio Essequibo (hoje, Suriname), os ingleses no que hoje é a Guiana e os franceses no que atualmente é Guiana Francesa.
Os portugueses souberam utilizar o cristianismo como ideologia do mercantilismo para prosseguir na colonização. Aos olhares dos colonizadores, a escravização dosindígenas, selvagens sem religião, era “justa”. Implementaram uma sociedade patriarcal e estratificada em nome de uma monarquia centralizada cristã. A “descoberta” do índio gerou formas inovadoras de se pensar na Europa. Filósofos como Montaigne, Voltaire e Rousseau passaram a trabalhar o conceito de “homem natural”, um homem ainda não “modificado” pela “civilização” (europeia).
Chegando ao Pará, em 1655, Padre Antônio Vieira, escreve seus famosos “Sermões”, condenando a decadência e corrupção moral dos colonos, mais preocupados com os ganhos comerciais da empreitada colonizadora do que a propagação da palavra de Cristo. Vieira também defendia o direito universal de todos os povos “se unirem livremente em Cristo”, o que contrariava o desejo dos colonos de utilizarem os índios como escravos. Outros cronistas e relatores dessa época deixaram um legado que embasa discursos atuais que enxergam a Amazônia como “reserva natural da humanidade”, sem problematizar esse conceito.
A partir de 1657, com a fundação da missão dos jesuítas no rio Negro, a ocupação lusitana com base no trabalho das ordens religiosas tem início efetivo. A catequese e a coleta das “drogas do sertão” irão sustentar a colonização, pelo menos até 1750, quando, com a assinatura do Tratado de Madri, os espanhóis reconheceram a presença portuguesa na Amazônia. Em troca, os espanhóis mantiveram as Filipinas (violação do Tratado de Tordesilhas da parte dos espanhóis no oriente) e a colônia de Sacramento (atual Uruguai) no sul. Esse tratado, com exceção do Acre, basicamente assegurou o formato atual das fronteiras brasileiras no norte do país.
É também na primeira metade do século XVIII que as “monções do Norte” estabelecem sistemas de comunicação entre o norte e o sul do Brasil, garantindo a posse de 10 mil km de caminhos fluviais. Os portugueses chegam ao rio Guaporé e, pouco depois, em 1742, Manuel de Félix Lima mostra a possibilidade de se navegar do Mato Grosso até o Pará. Em 1752, a administração colonial suspende a proibição de navegação pelo rio Madeira e permite a viagem entre o Guaporé e o Amazonas.
O Tratado de Madri não durou muito tempo, sendo anulado em 1761 pelo Tratado de El Pardo, mas as fronteiras amazônicas são retomadas em 1777 pelo Tratado de Santo Idelfonso. Este tratado é novamente anulado, devido a Guerra das Laranjas, entre Portugal e Espanha, que termina em 1801, com a assinatura do Tratado de Badajoz, novamente reconhecendo os limites da presença portuguesa na Amazônia como fronteira separando o Brasil da América espanhola. Os princípios e conhecimentos geográficos presentes no Tratado de Madri, de 1750, foram as bases para a consolidação das fronteiras todas as vezes.
Cap. 4 – A Colonização
Portugueses e espanhóis enfrentaram escassez de mão de obra e encontraram nas culturas indígenas uma resistência muito grande para se adequar ao trabalho forçado ou ao assalariado no extrativismo e na agricultura de trabalho intensivo.
O modelo colonial espanhol era “simples”: após o sucesso militar, o estabelecimento de imigrantes, a fundação de cidades ou “cabildos”, uma administração formal, a coleta de impostos e a imposição do cristianismo. Nobres, padres e militares eram os beneficiários, os “encomenderos”. As relações entre os colonizadores e os povos indígenas se davam por meio da “encomienda”. 
Os Vice-reinos do México e do Peru eram as principais colônias e a Amazônia, onde não havia uma administração centralizada, ficou em segundo plano, cabendo aos jesuítas e franciscanos e a algumas fortificações militares realizar a ocupação da Amazônia espanhola.
Já os portugueses conheciam o modelo das feitorias e capitanias hereditárias com seus donatários. As feitorias permitiam realizar uma empreitada comercial sem os custos de uma colonização efetiva, que viria posteriormente. Pode-se dividir a colonização portuguesa da Amazônia da seguinte forma: a) 1600 – 1700: expulsão dos outros europeus e ocupação colonial; b) 1700 – 1755: estabelecimento do sistema de missões religiosas e organização política da colônia; c) 1757 – 1798: criação do sistema de diretorias de índios e esforço para alcançar o avanço do capitalismo internacional; d) 1800 – 1823: estagnação e crise do sistema colonial.
Em 1669, é fundado o forte de São José da Barra do Rio Negro, que dá origem a Manaus. A intenção era garantir um ponto de partida da penetração portuguesa em direção ao norte e impedir a passagem de navios holandeses que desciam o Orinoco para comerciar com os índios omáguas. Estes, principalmente no rio Solimões, sofriam ainda forte influência da coroa de Castela (Espanha), por meio de padres jesuítas. Em 1709, os omáguas foram praticamente extintos pelos portugueses.
Sendo o rio Negro uma das áreas mais povoadas daquela época, a população indígena logo se tornaria fonte de mão de obra para o colonizador. Entretanto, entre 1700 e 1755, os portugueses desistem de forçar a transformação dos índios em mão de obra para as plantações, e a prioridade passa a ser a construção de uma rede de missões e aldeamentos, voltados para a agricultura de sustentação, como forma de assegurar o domínio do território. Desde 1680 havia uma legislação que regulamentava o trabalho indígena, obrigando um grupo a ficar nas plantações que garantiam a alimentação dos aldeados, outro a ajudar os padres na “conversão” e outro a serviço do governo, o que na prática limitava a apenas 20% a disponibilidade da mão de obra indígena, gerando muito ressentimento nos colonos, os quais aos poucos vão se enfurecendo com os missionários, em especial os jesuítas.
Os indígenas também não aceitaram passivamente sua “colonização”. Destacam-se, no século XVIII, a rebelião permanente dos Muras e a insurreição das nações do rio Negro sob o comando do tuxaua Ajuricaba entre 1723 - 1728, o qual uniu diversas tribos sob uma confederação tribal e se revoltou contra os portugueses.
Até 1757, o território português na Amazônia era chamado de Estado do Maranhão e Grão-Pará, composto por 7 capitanias, sendo que 3 delas pertenciam diretamente ao rei: Pará, Maranhão e Piauí. Santa Maria de Belém e São Luís do Maranhão eram as duas principais cidades com bispados. 
Cada governador de Belém cuidou de organizar expedições de reconhecimento e ocupação, mandou tropas de resgate, moveu “guerras justas” (guerras contra índios hostis, que eram assim chamadas na época) e incentivou o descimento (apresamento) de índios para os centros coloniais, gerando um processo de aculturação, ocupação e extermínio gradativo (processo de “caboquização”). Em 1757, assume o poder na Amazônia portuguesa “Francisco Xavier de Mendonça Furtado”, irmão do Marques de Pombal.
Entre 1757 e 1797, os portugueses tentam dar uma finalidade econômica mais clara à Amazônia, além das drogas do sertão, iniciando uma experiência agrícola e pecuária de maior vulto. O extrativismo não era suficiente para formar uma sociedade permanente, e Portugal buscava alternativas.
Em 1757, é criada a Capitania do Rio Negro centrada na cidade de Barcelos, dividindo-se o Pará. Apenas em 1791 a sede da capitania é transferida para o Lugar da Barra (atual Manaus).
Na América Portuguesa, o trabalho de campo dos missionários da Companhia de Jesus foi responsável pela expansão dos limites do território colonizado. Contudo, existiam conflitos entre esses missionários e os colonos. Esse desentendimento entre os Jesuítas e os colonos resultou em vários episódios de conflito dentre os quais se destacam a oposição às manifestações do Padre António Vieira (1608-1697) e a Revolta de Beckman (1684). No século seguinte, outros episódios de conflito ocorreram só que desta vez no sul do Estado do Brasil: a questão dos Sete Povos das Missões e a Guerra Guaranítica (1753-1756).
No norte do Brasil, na época, a Companhia de Jesus: 
· Na região correspondente aos atuais estados do Pará e do Maranhão, 155 jesuítas, espalhados por 17 aldeias, dois colégios e um seminário, administravam: mais de 100 mil cabeças de gado na Ilha de Marajó, 25 fazendas de cultivo agrícola e criaçãode gado, 3 engenhos produtores de açúcar, uma olaria, além da atividade de extração das selvas as "drogas do sertão" (cacau, cravo, canela etc.);
· No sul do Piauí e proximidades, administravam a herança deixada, em 1711, por Domingos Afonso Mafrense, que englobava 31 fazendas de gado, três residências com suas roças e 49 sítios arrendados a particulares.
Como resultado da expulsão dos jesuítas em 1759, todos os bens da Companhia de Jesus foram confiscados pelo Império Português. 
Na raiz dos conflitos entre as autoridades civis e eclesiásticas com os missionários jesuítas no norte do Brasil (atuais estados do Pará e do Maranhão), estavam reformas político-econômicas propostas pelo Marquês de Pombal, implementadas naquela região por seu meio-irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador entre 1751 e 1759, que tinham cinco pilares: 
1. a Lei da Liberdade dos Índios;
2. a Lei da Abolição do Governo Temporal das aldeias administradas pelos religiosos;
3. a instituição da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (que cerceou o comércio dos missionários) em 1755;
4. o Diretório dos Índios; e
5. o redimensionamento da presença dos religiosos na região.
Tais medidas serviriam como base de sustentação para criar na Amazônia brasileira um novo quadro socioeconômico nos moldes do iluminismo. 
Boa parte desses conflitos tinham sua raiz no modo como os jesuítas administraram as aldeias sob seu controle, pois esses apartavam os povos nativos da sociedade colonial; sendo, desse modo, um obstáculo aos interesses dos colonos de explorar, sem restrições, o trabalho dos povos nativos, portanto, pode-se concluir que as leis decretadas pelo Marquês de Pombal atendiam aos interesses dos colonos. Tais conflitos estão entre as causas da expulsão dos Jesuítas do Grão-Pará e Maranhão, em 1759.
Entretanto, apesar das intenções iluministas do Marquês de Pombal e seu irmão Francisco Xavier Mendonça Furtado, há um episódio contraditório em sua administração, que foi a passagem do Santo Ofício (Inquisição) pela colônia do Grão-Pará em 1763. A inquisição atuou principalmente sobre as populações mais humildes. Não havia mais jesuítas, expulsos em 1759. Os cristãos novos (judeus convertidos) atuavam no comércio e eram importantes para Pombal, não tendo sofrido com a inquisição no Pará. Sendo assim, esta serviu como mais um meio de Pombal assegurar os domínios portugueses no norte e o domínio sobre os colonizados.
No final da década de 1770, a administração de Lobo D’Almada (1779) da Capitania do rio Negro levou adiante o plano de Pombal de encontrar outra vocação econômica para a região que não se limitasse às Drogas do Sertão. Tentaram implantar café, cana-de-açúcar, anil e algodão. Até uma incipiente estrutura industrial foi tentada, com artífices, serraria e estaleiros. Não funcionou. Os sucessores de Almada recorrem às taxações excessivas sobre os produtos naturais e cultivados, levando a província à decadência. A Amazônia inicia o século XIX como uma sociedade extrativista voltada para suprir as exigências do mercado externo e subordinada às importações para atender às suas necessidades internas.
Cap. 5 – Soldados, Cientistas e Viajantes
Foram diversas expedições científicas que aconteceram no século XVIII na Amazônia, que originaram relatos de viagens, relatos literários e discursos científicos sobre a região. Destacam-se as de Giuseppe Landi, Alexandre Rodrigues Ferreira, Stedman e John Wilkens.
Cap. 6 – A Amazônia e o Império do Brasil
Desde a Revolução Francesa, a Guiana Francesa tornou-se fonte de difusão de ideias liberais, que fomentaram revoltas e lutas independentistas nas Américas espanhola e portuguesa.
No início do século XIX, as capitanias do Pará e Rio Negro eram estáveis, experimentavam algum progresso material e eram bastante ligadas a Portugal. Faziam parte de um Estado colonial, cuja capital era Belém, separado do Brasil, cuja capital era o Rio de Janeiro. Uma viagem de barco de Belém até Lisboa levava 20 dias. Até o Rio de Janeiro levava 3 meses.
Belém apresentava uma administração local de bom nível, sistema educacional razoável, estrutura urbana, agroindústria, algumas manufaturas e burguesia mercantil, que exportava açúcar, algodão anil e cacau. Havia também pecuária e pesca, destacando-se a ilha de Marajó.
Entretanto, o interior não era povoado. Destacava-se apenas a Vila da Barra (sede da capitania de São José do Rio Negro, futura Manaus). Por isso, diferente das elites das colônias espanholas (os “criollos”), que transformaram a América espanhola em diversos países, as elites da Amazônia brasileira não cogitaram tornar-se um país novo. Sua escolha, no momento da independência do Brasil, foi entre Lisboa ou Rio de Janeiro.
Tropas napoleônicas invadem Portugal em 1807, fazendo com que a família real portuguesa e a corte, sob comando de Dom João VI, migre para o Rio de Janeiro, aportando no Brasil em 1808. Como consequência, tropas do Grão-Pará invadem a Guiana Francesa, ocupando-a até 1817, o que facilitou o contato com ideias revolucionárias.
O penúltimo governador-geral do Grão-Pará, conde de Vila Flor, fez sua prioridade impedir que se repetisse na Amazônia o que vinha acontecendo da América espanhola (revoltas e revoluções independentistas). Vila Flor deixa o Grão-Pará em 1820, deixando em seu lugar um governo interino muito fraco, que teve enormes dificuldades para governar.
1820 também foi o ano da Revolução do Porto em Portugal, que exigia o retorno de D. João VI. A Revolução do Porto era ambígua: era liberal, pois exigia que o rei se submetesse às cortes e subscrevesse uma constituição, limitando seu poder absolutista sob uma monarquia constitucional; mas era reacionária/recolonizadora em relação às colônias, cujo controle deveria retornar para os portugueses em Portugal, não os do Rio de Janeiro.
Ainda nesse ano, chega a Belém Felipe Patroni, defendendo ideias liberais por meio do jornal “O Paraense”, o fim do sistema colonial e até mesmo a independência da região. Havia também o grupo de Dom Romualdo Seixas e Antônio Correia de Lacerda, que defendiam reformas que garantissem liberdades individuais, mas a manutenção dos laços com Portugal.
Patroni foi preso e deportado e seu jornal fechado. No entanto, a causa da independência ganha novos adeptos, como o Cônego João Batista Campos. Este, no final de 1822, quando soube da independência do Rio de Janeiro (Brasil), expulsou o governador militar português, com apoio popular, e promoveu eleições gerais para um governo provisório. Esse governo provisório foi mal visto pelas elites cariocas e não teve seu apoio. Foi deposto e substituído por “portugueses”. Em abril de 1823, o coronel Pereira Vilaça condena 300 paraenses à morte por tentarem aderir à independência. É nesse cenário, com boa parte das elites paraenses defendendo a manutenção dos laços com Portugal, que aporta em Belém o mercenário Grenfell, comandando o brigue de guerra “Maranhão”, a serviço do Rio de Janeiro.
Grenfell encontra a seguinte situação: um grupo de soldados, comandados pelo Cônego João Batista Campos, marchando contra Belém para depor a junta governativa de conservadores (que queriam continuar ligados a Portugal). Grenfell abriu fogo e reprimiu os soldados revoltosos. Em seguida, as elites conservadoras desistem da ideia de permanecer ligas a Portugal e aderem à independência do Rio de Janeiro. Em troca, obtém a manutenção de seu poder econômico, cargos administrativos, etc. O povo é deixado à margem dessa decisão, o que gera ressentimentos que irão explodir posteriormente.
Já a Capitania do Rio Negro, de forma diferente, aderiu desde que a notícia lá chegou, em 1823, à independência do Rio de Janeiro. Em 1825, a região foi novamente incorporada ao Grão-Pará (já estabilizado e parte do Império do Brasil), o que também gerou ressentimentos entre os rionegrensses. Essa situação só viria a mudar em 1850, quando a região virou a província do Rio Negro.
O Império do Brasil arrastou a Amazônia para uma economia rural atrasada baseada na escravidão. A regiãonão foi prioridade para nenhum dos dois imperadores, que nunca visitaram a região. Não houve investimentos e açúcar, café e algodão passaram a ser controlados como forma de favorecer Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. A renda caiu e as exportações de especiarias da selva, peles e couros também. Até que o ciclo do boom da borracha tivesse início, a Amazônia experimentou uma grande letargia.
Destacam-se três eventos nesse período: a criação da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, pelo Barão de Mauá, em 1852; a abertura à navegação internacional do Amazonas, em 1867, no contexto da Guerra do Paraguai, como forma de apaziguar vizinhos e potências internacionais que antes não podiam ali navegar, obtendo ao menos a neutralidade dessas nações no conflito que ocorria ao sul do continente; e a abolição da escravatura, que ocorreu no Rio Negro de forma precoce, ainda em 1884, segunda província a libertar seus escravos, depois do Ceará, bem antes portanto do que o 13 de maio de 1888, quando a escravidão se encerrou no Brasil. A Proclamação da República, em 1889, foi vista quase como uma repetição dos fatos da Independência.
Cap. 7 – A Cabanagem
A Cabanagem foi uma revolução de índios, mestiços e colonos sem-terra esfarrapados. Começou como uma luta de proprietários brasileiros contra o continuísmo das oligarquias portuguesas no poder, para aos poucos se transformar numa explosão popular.
Com a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, tem início o período da Regência (1831 – 1840) em que ocorrem diversas revoltas pelo Brasil, contestando o poder centralizado no Rio de Janeiro.
É nomeado um novo presidente da província do Pará, Visconde de Goiana, que se aproxima do Cônego Batista (o mesmo da independência), partidário das forças liberais, e desagrada as elites conservadoras, principalmente por revogar medidas que na prática permitiam a utilização do trabalho escravo indígena, o que era proibido. É deposto 10 dias depois de assumir o cargo por representantes dos “Caramurus”, como eram chamados os conservadores e moderados nessa época. Cônego Batista foi preso e o Visconde deportado para o Rio de Janeiro.
Em 1832, tropas da Barra do Rio Negro se rebelam, tomam o comando da Barra sob a liderança de um soldado e proclamam a separação do rio Negro do Pará, a quem o rio Negro estava vinculado desde 1825. A rebelião é reprimida por tropas do Pará.
Em 1833, assume o comando de Belém o experiente Lobo de Souza, que adota tom conciliador e anistia o Cônego Batista. Este retorna a Belém e passa a ser crítico mordaz dos conservadores, ficando conhecido como “Benze-Cacete” pelas massas. Além disso, uma decisão de Lobo de Souza de impor o recrutamento de jovens do povo, gerando descontentamento entre os mais pobres, deu a eles armas, munições e instruções. Também se indispôs com o Bispo de Belém e passou a recrutar soldados nas portas das igrejas, gerando grande insatisfação popular.
Em 1834, ocorre o assassinato de tropas governamentais no rio Acará, por parte de futuros líderes dos cabanos. Tem início a Guerra Civil. No final desse ano morre o Cônego Batista, gerando grande comoção na Amazônia. Em janeiro de 1835, os cabanos Antônio Vinagre e crioulo Patriota, comandando uma tropa de “desclassificados”, como quilombolas e índios, tomam Belém. Lobo de Souza foi encontrado e executado. A população comemorou.
Num primeiro momento, Malcher, um dos revolucionários foi aclamado presidente da província. Era muito autoritário e logo entrou em confronto com outros revolucionários. Foi derrubado por Francisco Vinagre, mas esse também não ficou muito tempo no poder, entregando-o para um emissário da regência, o marechal Rodrigues, que chegou a Belém com o apoio de navios de guerra ingleses e franceses. Contudo, este também não ficou muito tempo no controle da cidade, pois o mais famoso dos cabanos, Eduardo Angelim, reuniu 3 mil homens, entre negros, índios e lavradores e invadiu a cidade. Foi aclamado presidente do Grão-Pará e Rio Negro. Era muito popular.
A Cabanagem começa a se espalhar pelo interior do Amazonas. Em 1836, os cabanos controlam a Barra. O movimento se distinguia pela efetiva e dominante participação das massas, com líderes dos mais baixos estratos da sociedade. Apesar de terem tomado o poder, os cabanos, infelizmente, não tinham um projeto político, um modelo de sociedade ou programa de reformas sociais. Eram contra os ricos e “os portugueses”, mas em nenhum momento cogitaram abolir a escravidão ou separar a Amazônia do Império do Brasil.
A reação da regência inicia-se ainda em 1836, enviando uma tropa de 2500 homens para “pacificar” a região. A repressão dura 3 anos, nas quais morrem 30 mil cabanos, ou 20% da população local. A destruição da iniciativa política da sociedade caboca gerou uma impotência e passividade nas camadas populares que se perpetua até hoje. O fisiologismo político das lideranças amazônicas predomina desde então. Também contribui para reduzir a densidade populacional e eleitoral da Amazônia, reduzindo sua importância junto aos núcleos de poder do país.
Nesse ponto do livro, Márcio Souza interpreta o conceito de “leseira amazônica”. Segundo o autor, é uma forma de mecanismo de defesa desenvolvido pelas camadas mais populares.
Cap. 8 – O Ciclo da Borracha
Em 1874, ocorre no Pará (e também no Pernambuco) a questão da “Querela das Investiduras”, um confronto entre a Igreja Católica e a Maçonaria, que colocou Dom Pedro II no meio do fogo cruzado. Basicamente, as bulas papais precisavam do “beneplácito” (autorização) do imperador para valerem no Brasil. O Bispo de Olinda, Dom Vital, seguido pelo Bispo do Pará, Dom Macedo Costa, decide implementar uma bula que proibia que membros da maçonaria fizessem parte da igreja católica, expulsando diversos membros maçons dos seus quadros. A tal bula não havia passado pelo beneplácito do imperador. O imperador exige que os dois bispados retirem a interdição de membros da maçonaria participaram na igreja. O bispo de Belém bate o pé e o imperador o processa criminalmente. É condenado a prisão. Acontece que o bispo era muito querido entre os mais pobres, o que gera ressentimento.
Em 1889, o conde D’eu, marido da Princesa Isabel, em campanha pelo norte e nordeste em prol de um terceiro reinado, comandado por sua esposa, é friamente recebido em Belém e Manaus. Lauro Sodré, paraense membro do Clube Republicano, escreve um manifesto contra essa visita.
Quando a Proclamação da República aconteceu, nesse mesmo ano, apesar de nomes como os de Lauro Sodré, Justo Chermont e José Paes de Carvalho, no Pará, e os de Carvalho Leal, Bernardo Silva Ramos e Gentil Rodrigues de Souza, no Amazonas, entre os defensores da República, as lideranças regionais estavam mais preocupadas em administrar o crescente enriquecimento proporcionado pela exportação do látex. Estavam mais preocupados com a Bolsa de Londres e com a moda de Paris.
O Ciclo da Borracha durou mais ou menos 40 anos. Começou devagar, em 1870, trinta anos depois da descoberta do método de vulcanização da borracha, que permitiu seu uso em pneumáticos, por exemplo, mas em 1910 o produto representava um quarto (25%) das exportações do Brasil. Também ocorreu, embora em menor escala, na Bolívia e Peru. Na década de 1910, a economia do látex entrou em colapso por não conseguir competir com os preços baixos do látex do sudeste asiático, implantado por ingleses e holandeses em suas colônias. Os produtores brasileiros lucraram enquanto detinham o monopólio da produção. O Estado brasileiro, diferente de como agiu com o café no sudeste do Brasil, eximiu-se de subsidiar os empresários da borracha.
A borracha exigia trabalho extensivo nos seringais e muita mão de obra. Foi preciso trazer muitos trabalhadores de outros estados brasileiros, principalmente do nordeste. Entre 1877 e 1879, a região sofreu uma das maiores secas e depressões econômicas da sua história. Aproximadamente 65mil nordestinos migraram para a Amazônia só nesse período. Esses trabalhadores logo se endividavam com os patrões e atuavam em condições extremamenteprecárias. Adentraram pelo rio Purus e logo estariam no que hoje é o Acre. Naquele tempo, o Acre ainda pertencia à Bolívia.
Percebendo o que estava acontecendo no Acre, que sofria uma “invasão” de brasileiros, a Bolívia se associa a capitais europeus e norte-americanos e funda o Bolivian Syndicate, assegurando o direito desses capitais explorarem o território acreano pelo prazo de 10 anos. Acontece que em 1899, um aventureiro espanhol, Luiz Galvez Rodrigues de Arias, com apoio de políticos e empresários amazonenses, à frente de um exército de boêmios e aventureiros de toda sorte, ocupa o território e funda o Estado Independente do Acre, sendo deposto no final do mesmo ano por uma flotilha da Marinha brasileira.
Em 1902, um gaúcho, Plácido de Castro, comandando um exército de guerrilheiros recrutados entre seringueiros, invade novamente o território boliviano, prende o intendente boliviano e funda novamente o Estado Independente do Acre. A Bolívia reage militarmente, mas Castro resiste e cria uma situação de fato. As autoridades bolivianas não controlam mais o Acre. O exército brasileiro envia uma grande força militar que ocupa o território e começa a negocia diplomaticamente com a Bolívia. As negociações terminam em 1903, com o Acre brasileiro, por meio do Tratado de Petrópolis. Em troca o Brasil deveria pagar 2 milhões de libras esterlinas e construir a estrada de ferro do Madeira-Mamoré, garantindo aos bolivianos acesso a ela para exportarem seus produtos. A ferrovia foi inaugurada em 1912, pelo empresário norte – americano, Percival Farquhar, que comandava o Madeira-Mamoré Raillway Limited. Em 1937 a ferrovia seria nacionalizada por Getúlio Vargas. Funcionou até 1966, quando foi desativada. Seis mil trabalhadores morreram na sua construção.
No contexto da expansão da economia do látex peruana, ocorre o conflito entre Peru e Colômbia pela posse da região de Letícia, atualmente parte da Colômbia, mas que foi fundada por peruanos. Os primeiros choques entre os dois países aconteceram em 1911, sendo a questão solucionada apenas em 1922, com o Tratado de Salomón-Lozano. Em 1931, houve novo conflito internacional, solucionado por uma arbitragem em 1934.
Voltando à economia da borracha, a exportação do produto natural para suprir as necessidades dos parques fabris europeus e norte-americanos começa a suplantar algum incipiente produto manufaturado com borracha que os brasileiros pudessem produzir. O sistema extrativista, por conseguinte, impossibilitava esses capitais gerados pela extração e exportação do produto natural de serem invertidos em indústrias no Brasil, uma vez que a demanda pela matéria prima no exterior era muito alta, gerando altos lucros e pouco incentivo para “mudar o que estava dando certo”.
A Amazônia, durante o ciclo da borracha, vivenciou uma “Belle Époque Tropical”, com os coronéis da borracha enriquecidos, buscando ares de cosmopolitismo e internacionalismo. Entre 1890 e 1914, Belém e Manaus tiveram agitada vida cultural. Foi época de ostentação, como na construção do Teatro Amazonas, e de urbanização das capitais Belém e Manaus. Esta última sofreu um crescimento desordenado bastante prejudicial. A mulher era tratada como “bem de luxo”, objeto escasso e raro a ser “comprado” nessa sociedade que recebia muitos aventureiros homens solteiros. A libra esterlina circulava juntamente com o “mil-réis”. Em 1908, foi criada a primeira universidade brasileira na região, a Escola Universitária Livre de Manaus, funcionando até 1917, embrião da UFAM.
A sociedade do látex era patriarcal, beirava o exotismo, o dinheiro e a ostentação não escondiam a falta de refinamento nem a hipocrisia sexual e os coronéis da borracha detinham todo um aparato jurídico legal para preservar seu status e seu poder.
A economia do látex quebrou o isolamento da região e buscou integrá-la ao mercado internacional. Também ocasionou a mudança do perfil populacional pelas grandes levas de migrantes. Aportaram nordestinos, judeus sefarditas do Marrocos, sírio-libaneses, italianos, entre outros. Em 1928, começaram a chegar imigrantes japoneses. A partir de 1964, incentivados pelo regime militar a colonizar a região, vieram muitos gaúchos e paranaenses, principalmente no sul da Amazônia.
Cap. 9 – A Sociedade Extrativista
Simón Bolívar, José de San Martin e Antonio José de Sucre são os artífices das independências da América Espanhola. Na década de 1830, os processos de independência de Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia e Equador estão consolidados. É o período das ditaduras dos caudilhos nesses países. Na Colômbia, por exemplo, haverá uma alternância por todo o século XIX e início do século XX entre liberais e conservadores no poder.
Vale destacar o processo de separação do Panamá da Colômbia. Desde 1855, havia uma ferrovia ligando o Caribe ao Pacífico. Administrada pela Panama Railway Company, era dirigida como se fosse parte do território dos EUA, registrada em NY e sob as leis de NY.
Em 1888, Ferdinand Lessep, construtor do Canal de Suez no Egito, tenta realizar a mesma façanha no Panamá, mas desiste em 1891. Em 1903, um levante militar, apoiado pelos EUA, proclama a independência do Panamá.
De qualquer forma, todos esses países da Amazônia hispânica tinham posição periférica no capitalismo e economias extrativistas. A Amazônia venezuelana, na região do Orinoco, produzia cacau e um pouco de ouro. A Amazônia colombiana peles, salsaparrilha, plumas, cera de abelha, quina e um pouco de ouro também. A quina e o cacau foram substituídos no final do século XIX pelo látex, principalmente no Peru.
O sistema extrativista empurrou milhares de trabalhadores para regiões distantes da Amazônia, invadiu terras indígenas, assegurou a posse de territórios para estados nacionais. Gerou uma elite frágil e subserviente. O sistema de aviamento, braço das relações de trabalho do extrativismo, inclusive do látex, sobreviveu e prosperou nos empreendimentos atuais do garimpo, extração ilegal de madeira e na transformação de áreas de floresta para criação de gado. A chegada de grandes capitais transnacionais, concentrando propriedades nas mãos de grandes empresas, absorveu os métodos do extrativismo, transformando as velhas unidades extrativistas em empresas agropecuárias. Na Colômbia, a união do narcotráfico com as guerrilhas para controlar a produção agrícola da coca e seu refinamento não foi diferente.
O Peru foi o estado que, depois do Brasil, mais esforços fez para ocupar a sua região amazônica. Esse país, juntamente com a Bolívia, ficou marcado pela Guerra do Pacífico contra o Chile, entre 1879 e 1884. Nessa guerra, a Bolívia, com a entrega do porto de Antofagasta, perdeu definitivamente sua saída para o mar para o Chile. O Peru perdeu Arica.
As Amazônias de colonização hispânica sofreram crises parecidas à da brasileira com o fim do ciclo da borracha. Henry Wickham, um aventureiro, súdito da Inglaterra, que passou por Nicarágua e Venezuela, antes de entrar no Brasil, levou 70 mil mudas da Hevea brasiliensis para a Inglaterra em 1876, driblando a fiscalização da alfandega de Belém. Entre 1913 e 1922, quase 40 anos depois, as plantações inglesas na Ásia (Ceilão, Malásia, Índia e Bornéu) suplantam a produção amazônica. Com o fim do monopólio da produção da borracha, a região amazônica (peruana, colombiana e brasileira) torna-se um imenso território empobrecido, sem muito peso político e eleitoral na República. A produção brasileira caiu 50% e o preço da borracha no mercado internacional caiu 90%.
A reação do governo federal foi passageira. Decretos executivos de 1912 tentavam, pela primeira vez, instituir um programa de valorização da Amazônia brasileira, prevendo uma larga gama de serviços e investimentos públicos, mas foram vetados pelo legislativo. Os barões do látex não previram que a economia extrativa drenaria capital e trabalho dos outros setores, impedindo o desenvolvimento da indústria e agricultura. Além disso, a venda exclusiva de matéria-prima inibia a criação de um mercado interno e desenvolvimento tecnológico. A falta depoder político nacional das elites amazônicas não atraiu apoio para programas que combatessem os efeitos da quebra do monopólio e queda dos preços da borracha.
Em 1922, tentando reverter essa queda, os produtores ingleses adotaram o Stevenson Rubber Scheme, como forma de valorizar a borracha. Esse esquema desagradou aos EUA, que eram o maior consumidor de borracha no mundo. Ela era o quarto produto mais importado pelos norte-americanos. Em 1923, após um encontro em Washington entre vários grupos empresariais ligados à importação do produto, o presidente americano Warren G. Harding libera verbas para a realização de estudos da viabilidade de se plantar seringais nas Filipinas (então sob controle dos EUA). Os americanos também buscaram alternativas no Brasil.
Na década de 1920, os estados da Amazônia brasileira estavam endividados e empobrecidos pela queda das receitas de exportação. O Amazonas, inclusive, tentou realizar um grande empréstimo com capitais norte-americanos, dando em garantia a propriedade de parte de seu território, o que foi vetado pelo governo federal. Houve redução populacional e boa parte da massa rural regrediu para a agricultura de subsistência e regime de troca. É nesse contexto que o governo do Pará vê com bons olhos a aquisição de terras (1 milhão de hectares) na margem direita do rio Tapajós pela Ford Motor Company. A empreitada da Companhia Ford Industrial do Brasil entre 1927 e 1941 ficou conhecida como “Fordlândia”. Não prosperou. Sofreu dificuldades com fungos e pragas, com a obtenção de mão de obra e com a permanência dos trabalhadores, que não se acostumaram ao sistema de trabalho. Em suma, tinham pouco conhecimento do ambiente amazônico e tampouco conseguiram competir com as plantações asiáticas.
É ainda nesse período decadente que o Movimento Tenentista tem reflexos na Amazônia. Em 1924, tropas do tenente Ribeiro Júnior tomam conta de Manaus e depõe o governo do Amazonas, com o apoio de funcionários públicos e das camadas mais pobres. Tropas do Pará são acionadas e controlam a situação, não sem que antes diversos palacetes do período do auge da borracha tenham sido saqueados.
A década de 1930 deu continuidade à decadência amazônica. A situação só começaria a ganhar contornos diferentes em 1940, com a visita de Getúlio Vargas e seu “Discurso do Rio Amazonas”, que previa desenvolver o “potencial” da região. De concreto, em 1943, Getúlio desmembrou o Amazonas, criando o território de Rio Branco (futura Roraima), separou do Mato Grosso o território do Guaporé (território de Rondônia a partir de 1956) e criou o território do Amapá, separando-o do Pará. O Amapá, antigo Cabo Norte, era oficialmente parte do Brasil desde 1900, quando numa arbitragem envolvendo Brasil x França, julgada por um árbitro suíço, foram definidos os seus limites. O Acre era território federal desde 1903.
Ainda em 1942 até 1945, a economia do látex daria mais um breve suspiro, no episódio que ficou conhecido como “Batalha da Borracha”. Com 97% das áreas produtoras de borracha na Ásia sob controle dos japoneses, durante a 2a Guerra Mundial, os aliados voltaram-se para o látex da Amazônia. Foram anos de euforia econômica, como haviam sido os anos do “boom”, seguidos de marasmo econômico.
Dando continuidade às promessas do Discurso do Rio Amazonas, Getúlio Vargas, em 1953, cria a Superintendência do Plano de valorização da Amazônia (SPVEA), que iria aplicar 3% da arrecadação de impostos de todo o Brasil em projetos de desenvolvimento da região amazônica. A SPVEA privilegiou projetos ligados à borracha dando continuidade à lógica do extrativismo. Não atentou para o fato de que outros dois produtos, trazidos por imigrantes japoneses, estavam começando a prosperar na Amazônia: a pimenta-do-reino, na Zona Bragantina do Pará e a juta no Baixo Amazonas, em Santarém/PA e Parintins/AM. O Brasil se tornou o maior produtor de pimenta-do-reino até a década de 70, quando suas plantações foram atacadas por pragas. Já a juta teve sua demanda muito reduzida a partir dessa mesma década, devido a sua substituição por fibras sintéticas. Houve também uma incipiente economia da castanha-do-pará e das madeiras de lei.
Em 1956, tem início a atuação da mineradora ICOMI no Amapá, responsável pela exportação de manganês.
Ainda na década de 50, vale ressaltar o início da construção da rodovia Belém-Brasília em 1958, conectando o norte ao restante do Brasil pela via rodoviária. É nessa década que se consolida o modelo do “desenvolvimentismo” voltado para a região amazônica, do qual essa rodovia faz parte. Suas potencialidades hidrológicas, minerais e madeireiras a tornam local privilegiado para implantação de projetos econômicos, especialmente a partir do governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1964). Sob esse impulso, é criada a Faculdade de Filosofia do Pará, em 1955, e a Faculdade de Filosofia do Amazonas, em 1962, embrião da UEA. Foram os anos dos governos Plínio Coelho e Gilberto Mestrinho (PTB) no Amazonas e Aurélio de Carmo (PSD) no Pará.
Após o golpe militar de 1964, a Amazônia foi encarada como “Zona de Fronteira” e ocupação e colonizada pelo capital nacional e internacional sob apoio e incentivo do governo federal.
Nesse ponto do livro, o autor destaca alguns expoentes da literatura e arte amazônica durante a fase “modernista”, como Raul Bopp, com “Cobra Norato”; o poeta Francisco Pereira da Silva, com “Poemas Amazônicos”; o artista plástico Ismael Nery e o músico Waldemar Henrique. Após essa geração, marcada, segundo o autor, pela “inocência”, vem uma geração do pós-guerra engajada, que visava a produzir uma arte com “autenticidade amazônica”. Em relação às ciências, o autor destaca nomes da medicina tropical, como Djalma Batista, e a criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em 1952.
Cap. 10 – A Fronteira Econômica
Na década de 60, surge o movimento guerrilheiro colombiana das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), pregando reforma agrária com fim do latifúndio. Em 1966, seguindo a lógica de argumentos geopolíticos, os militares decidiram ocupar e integrar a região Amazônica, por meio de uma estratégia de desenvolvimento regional chamada “Operação Amazônia”. “Integrar para não entregar” era o lema dessa operação. Desenvolvimento como “arma” na luta contra o comunismo. É nesse contexto que são criados órgãos como o Banco da Amazônia (BASA), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), a Zona Franca de Manaus, e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), que tiveram como consequência o enfraquecimento dos políticos locais em detrimento do aparato burocrático federal e seus “técnicos” e gestores.
A SUDAM, exercitando sua política financeira de incentivo fiscais, canalizou grandes projetos agropecuários, minerais e energéticos para a Amazônia Oriental, enquanto a SUFRAMA, usando os incentivos para criar um enclave exportador, fez de Manaus e da Amazônia Ocidental um nicho de projetos industriais de eletroeletrônicos e projetos agropecuários de menor porte.
Foram os anos do governo Arthur Reis no Amazonas, quando, apesar de ter sido nomeado pelos militares, na contramão do Brasil, o estado conviveu com um governo de espírito republicano, preocupado em criar quadros administrativos, tirar o Amazonas do isolamento, incentivar artistas e intelectuais e promover o desenvolvimento econômico. Para tanto, adotava metas e planejamento. Perseguia corruptos porque era republicano e muito se indispôs com as elites locais e, num momento de excesso, mandou a Polícia Militar fechar a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Justiça do Amazonas e o jornal “O Trabalhista”. Mesmo assim, respeitou a liberdade de expressão, artistas e opositores.
Em 1965, durante o governo Arthur Reis, ocorreu o escândalo do Instituto do Trópico Úmido, e a ideia de que a Amazônia poderia ser tomada pelos interesses estrangeiros começou a ganhar força. Uma delegação da Academia Nacional de Ciências dos EUA reunia-se com o Ministro da Agricultura no Rio de Janeiro, propondo a implantação deum centro de pesquisas na Amazônia, mas com sede em Porto Rico, possessão americana, e sem a participação de nenhum brasileiro. Arthur Reis denunciou o projeto na imprensa e, além disso, expôs duas agências dos EUA, o Instituto Hudson e a Rand Corporation, por realizar pesquisas na Amazônia sem autorização. O presidente general Castelo Branco (1964-1967) abortou a iniciativa. Mas o estrago já vinha sendo feito há anos. A Força Aérea dos EUA, por exemplo, retomara um projeto de aerofotografia, suspenso por Getúlio Vargas. Não foi por acaso que a U.S. Steel “descobriu” jazidas de ferro na Serra do Carajá no Pará.
A partir de 1967, um decreto presidencial transformou Manaus em Zona Franca, imediatamente instalando uma série de indústrias e gerando milhares de empregos. As indústrias da ZFM operavam principalmente na fase de montagem e acabamento dos produtos. Instalaram-se no chamado “Distrito Industrial” de Manaus, onde receberam terrenos a preços irrisórios e subsídios, como isenção de impostos. Atualmente, a ZFM produz principalmente eletroeletrônicos, como aparelhos celulares de áudio e vídeo, televisores, eletrodomésticos de linha branca, como geladeiras e fogão, mas também motocicletas, bicicletas, concentrados para refrigerantes, entre outras coisas.
Uma das consequências da ZFM foi a explosão demográfica da cidade, que passou de 150 mil habitantes em 1968 para 600 mil em 1975. Diferente do ciclo da borracha, quando Manaus se consolidou como um centro urbano com serviços públicos como eletricidade, distribuição de água e esgoto, criou óperas, hospitais, teatros e universidades e pavimentou ruas, essa segunda onda de urbanização foi caótica e desenfreada, gerando favelização, especulação imobiliária e serviços públicos precários. É verdade que Belém perdeu importância regional para Manaus com a criação da ZFM, mas, ao menos, conservou uma estrutura urbana mais organizada.
Com o governo do general Médici (1969-1974), o governo federal passou a investir diretamente em megaprojetos, através de iniciativas como o Plano de Integração Nacional (PIN), o Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (Proterra) e o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Poloamazônia). No início da década de 70, a Amazônia já era uma área de agropecuária, mineração, metalurgia e siderurgia.
Apesar de enfatizar empreendimentos agropecuários e minerais, o governo militar não se esqueceu da infraestrutura e setembro de 1970 tem início o projeto de construção da Rodovia Transamazônica, ligando o nordeste à Amazônia. A ideia era integrar ainda mais o território nacional, mas o projeto de ligar uma área pobre a uma área subdesenvolvida fracassou ao não atentar para sua viabilidade econômica.
Em 1974, a Companhia Vale do Rio Doce, em associação com uma companhia japonesa, logo dispensada, anunciou a construção de uma fábrica de alumínio em Belém e de uma hidrelétrica em Tucuruí. Na década de 80, a companhia adere ao Projeto Carajás e se lança na exploração de diversos minérios na província mineral paraense.
Durante a década de 70, agravou-se na Amazônia a questão indígena. Ainda 1967, houve a extinção do antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), como forma de dar novo enfoque à questão. Entretanto, com a ascensão ao poder do general Médici, da linha dura do regime militar, os grandes projetos e o “desenvolvimento” da Amazônia, mesmo que à custa do meio ambiente e das populações tradicionais, foram colocados acima de todas as outras questões. Médici leva adiante a construção da BR-174, iniciada em 1968, que ligaria Manaus à Venezuela, passando por Roraima e cruzando a terra dos povos Waimiris-Atroaris. Foi um verdadeiro massacre. Os Waimiris-Atroaris eram algo em torno de 3 mil indígenas. Quando a construção da estrada terminou, eram menos de 400. Boa parte morreu ao entrar em contato com doenças que antes não conheciam. Pode-se dizer que o mesmo ocorreu na fronteira com a Venezuela entre os povos Ianomâmis, que só para o sarampo perderam 20% de sua população.
Como estratégia para derrubar a ditadura militar e promover a revolução socialista no país, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) enviou 69 militantes para a região do rio Araguaia, entre as cidades de Marabá e Conceição do Araguaia. Começaram a se infiltrar nas comunidades camponesas da região, onde davam aulas de alfabetização, prestavam pequenos atendimentos médicos e tentavam ganhar o povo para a causa da revolução. A guerrilha era localizada e não gozava de grande apoio popular. Mesmo assim, em 1972, a ditadura solta um decreto passando ao Conselho de Segurança Nacional a jurisdição de todas as atividades de colonização e projetos industriais implantados na Amazônia, reduzindo o poder de governadores e demais autoridades civis e dá início à Operação Presença, deslocando milhares de soldados para a região para combater a guerrilha. Em 1974, a guerrilha estava esmagada e quase todos os seus componentes mortos.
No final da década de 70, as melhores terras da Amazônia já estavam ocupadas, com extensos latifúndios nas mãos de grupos agropecuários que para lá foram incentivados pelo governo militar. Isso legaria para as próximas gerações o problema da reforma agrária, nunca levada a sério no Brasil. O movimento e os conflitos pela terra foram muito fortes na Amazônia, principalmente nas regiões do sul do Pará, Rondônia e Acre. Destacam-se os líderes sindicalistas Wilson Pinheiro e Chico Mendes.
Em 1981, Rondônia, que era território federal desde 43, torna-se estado da federação. Roraima, Amapá e Acre tornam-se estados em 1988. Também em 1988, Tocantins foi separado de Goiás e tornou-se parte da região norte.
Neste ponto do livro, o autor dedica algumas páginas ao Festival Folclórico de Parintins, Amazonas, o qual defende como espetáculo de massas que uniu a cultura rústica tradicional com a indústria cultural, em moldes parecidos com os do carnaval. Realizado anualmente desde 1965, o festival opõe dois bois bumbás, o Garantido (vermelho) ao Caprichoso (azul), que disputam todo ano o melhor desfile.
Em relação à culinária amazônica, o autor a chama de “mais original vertente da culinária americana” e a defende como prova da superioridade cultural das civilizações indígenas da Amazônia. Com base na visão de que as grandes culinárias do mundo são formas de conhecimento e sistemas de sinais culturais transmitidos entre gerações, o autor termina esse delicioso ponto da narrativa exaltando o pato no tucupi, a cuia de tacacá, a caldeirada de jaraqui, o jambu, a farinha uarini, o guaraná e o tambaqui assado na brasa.
Caminhando para o final do livro, o autor analisa a questão do narcotráfico. Chama atenção para o fato de a coca, produto lícito até a década de 50, utilizado como fármaco e por populações indígenas, não ter tido a mesma sorte do tabaco e álcool e ter sido criminalizado. O alcaloide cocaína, sintetizado por meio da folha de coca, era conhecido desde 1866 e amplamente estudado e utilizado pela medicina. É após uma onda puritanista que se espraiou dos EUA para o mundo, na década de 50 do século XX, que tem início a criminalização do produto e, com ele, o surgimento do tráfico e do crime organizado ligado a sua comercialização. Nos países andinos e amazônicos, a economia da cocaína traz efeitos perversos pela alta lucratividade do produto ilícito, como substituição dos cultivos dos povos tradicionais pelo da coca, encarecimento dos mesmos produtos agrícolas que precisam ser importados, surgimento de novos ricos fora da lei, que alteram a estrutura social e corrompem o aparelho estatal e poluição ambiental que decorre do despejo dos componentes químicos usados no refino do produto.
O autor termina o livro retomando alguns pontos importantes. Na sua origem, a Amazônia não pertencia ao Brasil. Os portugueses tinham dois Estados coloniais diferentes. O Grão-Pará foi descoberto pelo espanhol Vicente Yañes Pinzon em 1500, batizando o rio Amazonas de mar Dulce. A região,no entanto, apesar de descoberta pelos espanhóis, foi ocupada pelos portugueses a partir de 1616, mas principalmente a partir de 1630. Até 1823, quando a região foi anexada pelo Império do Brasil, era um Estado diferente.
Nesse Estado, Grão-Pará e Rio Negro tinham economias voltadas desde cedo para o látex e drogas do sertão. Escravos tinham menor importância que no sul e havia uma classe de comerciantes que logo se especializaram em importação dos mais variados produtos e exportação de produtos extrativos. Belém, até a criação da ZFM era o principal núcleo urbano e administrativo. Até hoje, existem 32 idiomas falados na Amazônia brasileira e, até o século XIX, o nheengatu, ou língua geral, era o principal idioma falado, e não o português.
Finalmente, o autor o defende para a Amazônia a “Teoria da Sustentabilidade Econômica”, matriz do tripé economia, ambiente e sociedade das atuais teorias do desenvolvimento sustentável.

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