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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 1. Caracterizar dispepsia, a diferença entre funcional e orgânica (doença do refluxo gastresofágico, neoplasias, gastrite e doença ulcerosa) mecanismo de lesão, quadro clinico e diagnostico. Dispepsia é definida como sensação de dor ou desconforto esporádico ou persistente na parte superior do abdome. É uma síndrome clínica extremamente comum, com etiologias e manifestações clínicas diversas, Dispepsia é um diagnóstico frequente, com prevalência entre 30 e 40%, conforme a população estudada, sendo a dispepsia funcional o diagnóstico mais comum. A maioria dos dispépticos permanece sintomática por muito tempo, apesar dos períodos de remissão espontânea. Quando submetidos à Endoscopia Digestiva Alta (EDA), de 50 a 70% dos dispépticos têm dispepsia funcional, 15 a 20% apresentam úlcera péptica, 20 a 30% apresentam doença do refluxo gastresofágico e 0,5 a 2% são portadores de neoplasia gástrica. Tabagismo e etilismo são fatores de risco tanto para sintomas dispépticos quanto para o desenvolvimento de doença péptica e neoplasias. A ingestão abusiva de sal e conservantes também aumenta o risco de câncer gástrico. O uso de medicamentos deve ser interrogado, pois é comum a incidência de úlcera péptica com Anti- Inflamatórios Não Esteroides (AINEs). A dispepsia é dividia em 2 grupos: DISPEPSIA FUNCIONAL A Dispepsia Funcional é uma desordem gástrica caracterizada pela presença de um ou mais sintomas (dor epigástrica, plenitude pós-prandial, saciedade precoce, queimação estomacal) durante os últimos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, 6 meses antes. No caso da dispepsia funcional, o diagnóstico se dá a partir de uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia e não se consegue identificar uma causa orgânica para os seus sintomas. CLASSIFICAÇÃO DA DISPEPSIA FUNCIONAL 1. SÍNDROME DO DESCONFORTO PÓS- PRANDIAL É fundamental a presença de pelo menos um dos critérios seguintes, com presença de pelo menos 3x por semana: Empachamento pós-prandial, que acontece necessariamente após refeições habituais, ocorrendo várias vezes por semana, nos últimos 3 meses. Saciedade precoce, que impossibilita o término normal das refeições, ocorrendo várias vezes por semana, nos últimos 3 meses. Obs: Dor ou queimação epigástrica pós- prandial, inchaço epigástrico, arrotos excessivos e náusea também podem estar presentes; SP4 – falta tempo cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 2. SÍNDROME DA DOR EPIGÁSTRICA Ocorre pela presença de um ou mais dos seguintes critérios, com presença de pelo menos 1x por semana: Dor epigástrica incômoda; Queimação epigástrica, que não ocorre exclusivamente pós-prandial, podendo ocorrer durante o jejum e pode apresentar melhora com a ingestão de alimentos. Obs: Inchaço epigástrico pós-prandial, arrotos e náuseas também podem estar presentes. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia ainda não é totalmente esclarecida e acredita-se que ela seja de origem multifatorial. Os fatores mais estudados são: Função motora gástrica: As alterações na motilidade gastroduodenal são caracterizando-se pelo retardo no esvaziamento gástrico (relaxamento do antro) responsável por causar a sensação de plenitude pós-prandial, vômitos e dor; alteração da acomodação gástrica, alterando a capacidade de acomodar o bolo alimentar na parte proximal, chegando ao antro precocemente, sendo responsável por saciedade precoce e perda de peso. Aliado a presença de alterações na motilidade, podemos observar o aumento da atividade reflexa intestinal que permite o aumento da quimiossensibilidade ou mecanossensibilidade. As alterações da acomodação podem ser justificadas pela presença de distensão do balão gástrico em jejum ou durante a alimentação a qual permite uma distribuição desproporcional do alimento, concentrado mais na região do antro (o grau de dilatação do antro reflete a gravidade da DF), acelerando seu esvaziamento. O uso de medicamentos como nitratos, sumatriptano, e agonistas da serotonina promove uma melhor acomodação gástrica. Sensibilidade visceral: Diminuição do limiar de percepção da dor devido à distensão gástrica. Também são mais sensíveis à percepção da entrada de ácido no bulbo duodenal. Distensão de mecanorreceptores (periférico) e processamento anormal de entrada na medula ou no cérebro (mecanismo central) pode ter um papel na fisiopatologia da hipersensibilidade visceral. Infecção por Helicobacter pylori: A infecção por Helicobacter pylori é, sabidamente, uma causa de gastrite crônica. Entretanto, gastrite parece não ser causa dos sintomas de muitos pacientes com dispepsia funcional, segundo estudos atuais. Os mecanismos potencialmente envolvidos no que tange a relação causal de ambas as entidades são: por processo inflamatório desencadeado pela infecção, por atividade muscular do estômago, ou por diminuição da sensibilidade gástrica pela infecção, hipóteses as quais ainda sem estudos consistentes que comprovem tal associação. Apesar disso, muitos autores têm indicado a erradicação do H. pylori na dispepsia funcional na crença de que, embora os benefícios sejam discretos, seriam suficientes para justificar a erradicação; Fatores Psicossociais: Os transtornos depressivos, de somatização e de ansiedade estão aumentados nessas populações, quando comparado a pessoas saudáveis. Há, também, estudos que demonstram correlação de traumas de infância (abuso) com sintomas de dispepsia funcional, comprovando ainda mais que esses pacientes devem ser vistos sob um aspecto global, em qualquer nível de assistência. cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 DIAGNÓSTICO A anamnese é fundamental, uma vez que estreita os diagnósticos diferenciais e ajuda a focar avaliação e manejo. O exame físico é usualmente normal, exceto por uma sensibilidade em epigástrio. A anamnese e o exame físico devem avaliar a presença de “sintomas e sinais de alarme” que podem sugerir a presença de outros diagnósticos, que não a dispepsia funcional. EXAMES LABORATORIAIS Podem ser solicitados exames laboratoriais com o objetivo de investigar a presença de sinais de alarme como ferropenia, distúrbios metabólicos, diabetes, hipercalcemia. Além de possibilitar pesquisar doença celíaca associada. Entre os exames laboratoriais que podem ser solicitados, temos: • Hemograma • Bioquímica • Função Renal • Perfil Hepático • Amilase e Lipase. USG DE ABDOME A ultrassonografia pode ser solicitada para investigação de acometimento de vias biliares, pancreáticas principalmente nos pacientes com quadros de dor abdominal atípica. EDA Paciente com > 40 anos já tem indicação para realizar o exame de endoscopia digestiva alta, com o objetivo de definir se o paciente tem ou não alguma doença orgânica. Caso não encontre nada, pode-se suspeitar de uma dispepsia funcional; Já para pacientes com <40 anos, a EDA só é indicada caso o paciente apresente algum sinal de alarme. TRATAMENTO Medidas não farmacológicas Orientações: benignidade, cronicidade, resultado de exames; Dieta fracionada, com volumes menores, evitando refeições antes de deitar; Evitar cafeína e alimentos gordurosos; Cessar o tabagismo; Reduzir o consumo de álcool; Atividade física regular; Perda de peso (maior impacto); Farmacológicas: Síndrome do Desconforto pós-prandial Procinéticos por 4 a 8 semanas Metoclopramida: 10 mg, 3x ao dia. Uso limitado em longo prazo pelos efeitos colaterais em SNC: síndrome extra-piramidal Domperidona: o 10mg 30 minutos antes do café, antes do almoço, antes do jantar. o Alteram o intervalo QT pode causar arritmias (solicitar ECG antes de iniciar) Se não melhora: associar IBP Se não melhora: acupuntura, psicoterapia. Síndrome da Dor Epigástrica: IBPs em dose padrão, por 4-8 semanas Dose padrão: o Omeprazol 20mg o Pantoprazol 40mg o Lanzoprazol 30mg o Esomeprazol 20mg o Rabeprazol 20mg Idealmente pela manhã, em jejum, pois o momento máximo de ativação cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 das bombas de prótons ocorre após a primeira refeição. Aumento de doses não implica em melhora de resposta Possibilidade de associação com BH2: Ranitidina 150 a 300mg, 1x/dia, via oral; Avaliar descontinuação do uso de medicação após termino do tempo de tratamento Se não melhorar: associar neuromodulador o Amitriptilina/Nortriptilina 10-75 mg/noite o Se melhorar após o início do neuromodulador, quando acabar o tempo do IBP (4-8 semanas), retira-se o IBP e deixa só o neuromodulador por 3-6 meses. DISPEPSIA ORGÂNICA A dispepsia orgânica acontece quando os sintomas relacionados ao aparelho digestivo alto são secundários a doenças orgânicas específicas, como úlcera péptica, pancreatite, doença do refluxo gastresofágico, neoplasia. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) É caracterizada como uma doença crônica secundaria a um refluxo patológico de parte do conteúdo gástrico para o esôfago, acarretando em variados sintomas esofágicos que podem ser acompanhados ou não lesões teciduais, como a esofagite. A DRGE pode aparecer em qualquer faixa etária (inclusive crianças), porém, sabemos que sua prevalência aumenta com a idade. Não há preferência por sexo, mas os sintomas tendem a ser mais frequentes e intensos na vigência de obesidade, bem como durante a gestação (relaxamento do EEI promovido pela progesterona + aumento da pressão intra-abdominal exercido pelo útero gravídico); Nas crianças, a DRGE predomina em lactentes, na qual a maioria desaparece ate os 2 anos de vida. E esse fenômeno é explicado pela imaturidade do Esfíncter esofagiano Inferior. FISIOPATOLOGIA Existem 3 anormalidades básicas que podem originar o refluxo: 1- Relaxamentos transitórios do EEI não relacionados à deglutição. É o mecanismo patogênico mais comum. Acredita-se que esse relaxamento é estimulado por um reflexo vasovagal anômalo estimulado pela distensão gástrica, pois o vago é ao mesmo tempo aferencia e eferencia desse reflexo; 2- Hipotonia verdadeira do EEI. Algumas condições podem justificar uma hipotonia verdadeira, como esclerose sistêmica, devido a fibrose e atrofia da musculatura esofagiana, uso de drogas com efeitos anticolinérgicos ou miorrelaxantes, como os agonistas beta-adrenergicos e a gestação. 3- Desestruturação anatômica da junção esofagogástrica (hérnia de hiato). As hérnias de hiato favorecem o refluxo na medida em que o esfíncter passa a não contar mais com a ajuda da musculatura do diafragma. Dessa forma, a posição inapropriada do EEI facilita a ocorrência do refluxo; no entanto, é importante ressaltar que nem toda hérnia de hiato acompanha de uma doença do refluxo, mas torna-se um fator de risco. ACID POCKET: um novo conceito de fisiopatologia é relacionado aos bolsões de acido. Isso acontece quando o estomago esta cheio, parte do suco gástrico produzido no fundo do órgão fica meio que boiando por cima do bolo alimentar, criando uma coleção liquida chamada de Acid Pocket, e 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 é justamente esse liquido que reflui durante o relaxamento do esfíncter. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A queixa típica dos pacientes é a pirose, que é uma dor retroesternal em queimação, geralmente ocorrendo nas primeiras 3 horas após as refeições e ao deitar. Podendo estar acompanhada de regurgitação, que é a percepção de um fluido salgado ou acido na boca. É importante diferenciar para o paciente, pirose de azia, já que esta ultima significa queimação epigástrica. Pacientes com DRGE pode se queixar também de disfagia, o que sugere a ocorrência de complicações como estenose péptica ou adenocarcinoma, mas também pode resultar apenas do edema inflamatório na parede do esôfago. Uma queixa menos frequente, mas que costuma assuntar é a dor precordial, que pode ser indistinguível da dor coronariana, sendo uma das principais causas de dor torácica não cardíaca. Certos pacientes têm ainda sintomas extraesofagianos, os chamados “sintomas atípicos”, que podem ser relacionados ao refluxo ácido para a boca (erosão do esmalte dentário), faringe (irritação da garganta, sensação de globus), laringe (rouquidão, granuloma de corda vocal), cavidade nasal (sinusite crônica, otite média) e árvore traqueobrônquica (tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa). DIAGNÓSTICO Na maior parte das vezes o diagnóstico de DRGE pode ser feito somente pela anamnese, quando o paciente refere pirose pelo menos uma vez por semana, por um período mínimo de 4 a 8 semana; A resposta à prova terapêutica (redução sintomática > 50% após 1-2 semanas de uso de IBP) é considerada o principal teste confirmatório! 1. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: Sua principal finalidade é identificar as complicações da DRGE, como a esofagite, estenose péptica, esôfago de Barrtett e adenocarcinoma. Também é útil para o diagnostico diferencial com as condições que simulam os sintomas de refluxo. Dizemos que o paciente tem esofagite de refluxo quando ele desenvolve alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis pela endoscopia. É importante dizer que a maioria dos pacientes sintomáticos apresentam EDA normal e isso não descarta a existência da doença. 2. pHmetria de 24h Trata-se do método PADRÃO-OURO para confirmação diagnóstica de DRGE (sensibilidade e especificidade acima de 90%)! Contudo, lembre-se que na maioria dos pacientes não é preciso realizar qualquer exame complementar (logo, uma pHmetri a não é feita de rotina); 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 CÂNCER DE ESÔFAGO O câncer de esôfago esta entre as dez neoplasias malignas mais incidentes no brasil. É um câncer que predomina no sexo masculino e geralmente se apresenta a partir dos 40 anos de idade. O tipo escamoso é mais comum em negros, enquanto que o adenocarcinoma é típico de brancos. O carcinoma escamoso é a forma mais comum, e é derivado da mucosa normal do esôfago. Já o adenocarcinoma é derivado do epitélio de Barrett – metaplasia intestinal que complica em alguns pacientes com DRGE erosiva, portanto esse tumor é localizado no terço distal do esôfago. Os fatores de risco mais importantes para o carcinoma escamoso do esôfago são o tabagismo e o etilismo, enquanto o principal fator de risco para o adenocarcinoma é a esofagite de refluxo (com formação do epitélio de Barrett). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas iniciais podem ser inespecíficos, tais como uma dor retroesternalmal definida ou queixas de “indigestão”. No entanto, a principal manifestação clínica é a disfagia, que geralmente se inicia para sólidos e, após um período variável, evolui para líquidos. A perda ponderal é um achado clássico, sendo geralmente maior do que o esperado pelo grau de disfagia e de evolução mais rápida. Lesões mais avançadas apresentam-se com halitose e, às vezes, tosse após ingestão de líquidos – a dificuldade de ingestão de líquidos indica que o lúmen já foi quase completamente comprometido; TUMOR ESOFAGIANO BENIGNO Os tumores benignos do esôfago são raros. O tipo mais comum é o leiomioma, seguido pelos cistos e pólipos fibrovasculares; Os leiomiomas são tumores benignos provenientes do musculo liso e são considerados tumores mesenquimais. No esôfago são mais comuns nos terços médio e inferior do órgão. Geralmente são diagnosticados em indivíduos entre 30-50 anos, com leve predomínio no sexo masculino. Apenas os leiomiomas acima de 5 cm de diâmetro são capazes de causar sintomas, como sensação de pressão retroesternal ou disfagia mecânica. CÂNCER GÁSTRICO O câncer gástrico é um dos tumores malignos mais comuns. Geralmente os pacientes costumar procurar assistência tarde demais devido ao quadro pouco sintomático. É mais frequente no sexo masculino, com um pico de incidência entre 50-70 anos. O tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma gástrico. Os fatores de risco para o adenocarcinoma gástrico incluem principalmente o tipo de dieta, a gastrite atrófica pelo Helicobacter pylori e a anemia perniciosa; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em estágios iniciais, o carcinoma é geralmente assintomático ou apresenta sintomas dispépticos inespecíficos. Quando o quadro é mais avançado, os sintomas mais comuns são perda ponderal, dor epigástrica, náusea, anorexia, disfagia, melena, saciedade precoce e dor semelhante a ulcera péptica. Essa dor costuma ser constante, sem irradiação e não aliviada com a ingestão de alimento. 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 O adenocarcinoma gástrico envia metástases para o fígado, pulmão e principalmente para o peritônio. GASTRITES Gastrite é definida como inflamação do revestimento do estômago associada à lesão da mucosa gástrica. O estudo da gastrite é difícil porque, mesmo com alterações acentuadas da mucosa, ela é, na maioria das vezes, assintomática e sem aspectos radiológicos, gastroscópicos ou sorológicos específicos. Seu diagnóstico é, então, essencialmente histopatológico. A gastrite por H. pylori e a gastrite autoimune são os dois principais representantes. Hoje classificamos as gastrites e gastropatias baseando-se em: tempo de instalação (aguda ou crônica), histopatológica (gastrite superficial ou gastrite atrófica ou gastropatia) e etiologia (gastrite por H. pylori); 1. GASTRITE POR H. PYLORI O H.pylori é um bacilo gram-negativo que adere a mucosa gástrica, sobrevivendo neste local graças a secreção de uréase (enzima que converte ureia em amônia, alcalinizando o meio). Esse germe não é invasivo, mas possui fatores de virulência que estimulam a resposta inflamatória tecidual. Após a aquisição da bactéria, o paciente desenvolve uma pangastrite aguda superficial, que pode ser totalmente assintomática ou se apresentar com dispepsia (dor epigástrica, náuseas e vômitos). Neste momento, o histopatológico revela uma gastrite neutrofilica. Tal quadro evolui com resolução espontânea dentro de alguns dias ou semanas, mas a bactéria não desaparece. A partir dai, três evoluções são possíveis: GASTRITE CRÔNICA LEVE; representa a forma mais comum, cursando de forma 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 assintomática e sem repercussões clinicas futuras; GASTRITE ANTRAL CRÔNICA: se associa a HIPERcloridria e a ulcera péptica, principalmente a duodenal. Isso porque o H.pylori danifica de forma seletiva as células D do antro, que são secretoras de somatostina, o que suprime o feedback negativo deste hormônio sobre as células G, secretoras de gastrina. Assim, ocorre hipergastrinemia, que estimula a secreção acida do corpo e fundo gástrico. PANGASTRITE CRÔNICA GRAVE: ocorre destruição e atrofia das glândulas oxínticas do corpo e fundo gástrico, gerando HIPOcloridria. Esse fenômeno se associa as ulceras gástricas, a metaplasia intestinal e a hiperestimulação do tecido linfoide associado a mucosa, aumentando o risco de linfoma B de baixo grau; 2. GASTRITE ATRÓFICA AUTOIMUNE Envolve predominantemente a mucosa do corpo e fundo gástricos, poupando o antro. É frequente a associação com outras doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto e a doença de Graves. Alguns auto anticorpos podem estar presentes, como a anticelula parietal e o antifator intrínseco. A falta do fator intrínseco leva a anemia megaloblástica por carência de B12. Essa gastrite é um importante fator de risco para o adenocarcinoma. 3. GASTROPATIA EROSIVA HEMORRÁGICA GASTROPATIA PELOS AINES: pode ser aguda ou crônica e pode cursar ou não com sintomas dispépticos e sangramento digestivo alto (hematêmese e melena). O uso de AINES esta associado a petequeias, erosões e ulceras na mucosa gástrica. As erosões são superficiais e raramente causam sangramento importante. Em alguns casos, estas são as responsáveis por sangramento crônico (sangue oculto as fezes) que resulta em anemia ferropriva. A fisiopatologia da gastropatia por AINE é bem conhecida, pois estes fármacos inibem a formação de prostaglandinas pelas células da mucosa gástrica, prejudicando a proteção contra o acido gástrico e a própria regeneração epitelial. GASTROPATIA ALCOOLICA: comumente são encontrados em pacientes alcoólatras, hemorragias subepiteliais puntiformes, com aspecto endoscópico de sangue sob envoltório plástico, associado ao edema de mucosa. 2. Entender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clinico, diagnostico, complicações e tratamento da ulcera gástrica e duodenal (H. pylori). As úlceras pépticas constituem soluções de continuidade da mucosa gastrointestinal secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina, atingindo ate a muscular da mucosa. As úlceras pépticas podem se desenvolver em qualquer porção do trato digestório exposta à secreção cloridropéptica em concentração e duração suficientes. No entanto, o termo “doença ulcerosa péptica” geralmente é empregado para descrever ulcerações do estômago, duodeno ou ambos. EPIDEMIOLOGIA As ulceras duodenais predominam em populações ocidentais, enquanto as ulceras gástricas são mais frequentes na Ásia. Além disso, a úlcera duodenal é a forma mais predominante, localizada na primeira porção do duodeno, incidindo na faixa etária de 30 a 55 anos de idade. Já a ulcera gástrica é localizada predominantemente no antro, na pequena 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 curvatura e no epitélio não secretor de acido, em indivíduos entre 50 e 70 anos de idade. As ulceras pépticas de forma geral são mais frequentes no sexo masculino. O declínio na prevalência da ulcera péptica observada no século XX, tem sido atribuída À redução das taxas de infecção pelo H. pylori, resultado da melhora dos padrões de higiene e condições sanitárias, além de maior uso da terapia de erradicação do H.pylori. As complicações como hemorragias ou perfurações, não apresentaram uma redução significativa nas ultimas décadas. Isso porque na população idosa com o uso crescente de AINES, as ulceras gástricas tem aumentado. FATOR DE RISCO Algumas condições apresentam forte associação com DUP. O tabagismo parece ser um fator de risco significativo, pois: (1) a DUP é mais comum em tabagistas do que em indivíduos que não fumam; (2) o fumo estárelacionado a uma maior recorrência da DUP; (3) ocorre uma cicatrização mais lenta das úlceras pépticas em pacientes fumantes; (4) ocorre prejuízo à resposta terapêutica em tabagistas; e (5) nos fumantes, observa-se maior incidência de complicações da DUP, sobretudo perfuração. Determinadas teorias procuram entender o efeito do cigarro na gênese da DUP. Diminuição da produção de bicarbonato pelo duodeno, lentidão no esvaziamento gástrico (estômago mais distendido produz mais ácido), maior incidência de infecção pelo H. pylori e produção de radicais livres lesivos à mucosa são algumas das explicações propostas! FISIOPATOLOGIA O estomago é dividido em 5 regiões anatômicas principais: cárdia, fundo, corpo, antro e piloro. E a mucosa do estomago é constituída de epitélio colunar. Esse epitélio vai sofrer invaginações formando as fossetas gástricas, nos quais em suas bases vamos ter as glândulas gástricas. Na região do corpo e fundo gástrico, as células próximas à superfície da fosseta tem a função de secretar muco e bicarbonato. Em situação mais profunda, na estrutura glandular, encontramos as células parietais que secretam acido clorídrico e fator extrínseco. E as células principais secretam pepsinogenio, que sob efeito do HCL vai ser transformado em pepsina. CONTROLE DE SECREÇÃO ÁCIDA Esse acido clorídrico é secretado pelas células parietais pela ação da bomba de prótons. E quando essas células são estimuladas, seus canalículos se fundem às microvilosidades e a secreção acida acontece em grande quantidade. Três substancias endógenas estimulam a secreção de acido pelo estomago, agindo em receptores nas células parietais: 1. ACETILCOLINA A acetilcolina é liberada pela estimulação vagal do estomago, influenciada pela visão do alimento, olfato, paladar. Essa acetilcolina vai agir nos receptores muscarinicos. 2. HISTAMINA A histamina é produzida pelas células enterocromafim (ECL), e sua ação se faz de forma paracrina. Sabe-se que tanto a acetilcolina quanto a gastrina estimula as células ECL a secretarem. 3. GASTRINA A gastrina é produzida pelas células G, presentes no antro em resposta a diversos estímulos, principalmente aumento do pH do cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar cecel Destacar 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 conteúdo gástrico, presença de peptidios e aminoácidos dietéticos e distensão gástrica. Essa gastrina vai estimular a secreção acida tanto de forma indireta, por meio do estimulo as células ECL, quanto direta, pelos receptores parietais. É possível observar que enquanto o pH alcalino intraluminal estimula a secreção de gastrina, o aumento da acidez estomacal a inibe. Sendo assim, na presença de hipocloridria, seja induzida por fármacos ou por doenças, observamos elevação dos níveis de gastrina. A somatostatina é sintetizada pelas células D, encontradas principalmente no antro gástrico; sua liberação se dá em resposta ao HCl. Este hormônio tem por função inibir a secreção ácida através de dois mecanismos: ação direta em seu receptor sobre a célula parietal e ação indireta, reduzindo a secreção de gastrina pela célula G e de histamina pelas células ECL. A destruição das células D, como ocorre em alguns casos de infecção pelo H. pylori, leva à hipergastrinemia e à hipercloridria. DEFESAS DA MUCOSA 1. MUCO O muco é uma camada fina e protetora sobre a mucosa, que em condições normais é constantemente produzido pelas células foveolares e retirado por fatores mecânicos e pela pepsina, que o degrada. A espessura dessa camada aumenta com o aumento da distensão gástrica e da produção de prostaglandinas. Por outro lado, AINES e N- acetilcisteina reduzem sua produção. 2. BICARBONATO O bicarbonato é secretado pelas células epiteliais foveolares e pode neutralizar o HCL. Entretanto, a maior parte produzida fica retida entre a mucosa e a camada de muco, não alcançando a luz do estomago. Isso faz com que o pH próximo a mucosa fique em torno de 7, contrastando com o pH intraluminal que se encontra entre 1 e 2. Sendo assim, a produção de bicarbonato é um dos fatores essenciais na proteção À mucosa gástrica e duodenal. 3. RENOVAÇÃO CELULAR A rápida renovação celular na mucosa do trato gastrointestinal é um importante fator protetor, substituindo as células comprometidas e evitando progressão da lesão. 4. PROSTAGLANDINAS As prostaglandinas são mediadores de varias funções como na formação de muco, síntese de bicarbonato, fluxo sanguíneo e regeneração da mucosa. 5. ÓXIDO NÍTRICO O oxido nítrico apresenta efeito citoprotetor sobre a mucosa gástrica semelhante aos da prostaglandina. Muitos estudos apontam que as barreiras de defesa e os processos de reparo tecidual estariam prejudicados sob atuação de fatores exógenos como o H.pylori e os AINES. HELIOBACTER PYLORI O H.pylori é uma bactéria gram-negativa que coloniza apenas mucosa gástrica e tem grande afinidade pelas células produtoras 11 Marcela Oliveira – Medicina 2021 de muco localizadas no antro gástrico, levando a quase totalidade dos casos de gastrite crônica ativa. Entretanto, com o passar do tempo, o micro- organismo pode migrar para regiões mais proximais do estomago. Um fator importante de agressão bacteriana é a produção de uréase, que é uma enzima que converte ureia, presente em abundancia no, conteúdo gástrico, em bicarbonato e amônia. Essa conversão além de permitir a neutralização do ambiente Ácido do estomago, facilita à adesão da bactéria a parede gástrica e ainda gera amônia que é toxica para as células epiteliais. A infecção pelo H. pylori acomete igualmente homens e mulheres. Sabemos que idade avançada, baixo nível socioeconômico, más condições de moradia e baixo grau de instrução são importantes fatores de risco para se adquirir a bactéria. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, seguindo uma via oral-oral, gastro- oral ou fecal-oral. A infecção pelo H. pylori está relacionada às seguintes patologias gástricas: gastrite superficial aguda (no momento em que o indivíduo é infectado), gastrite crônica ativa de antro, gastrite ou pangastrite atrófica ou não atrófica, adenocarcinoma gástrico, linfoma gástrico MALT e úlceras pépticas gástricas e duodenais. No Brasil, aproximadamente 95% dos pacientes com úlcera duodenal e 70-80% dos pacientes com úlcera gástrica são infectados pelo H. pylori. H. pylori possui adesinas que o permitem colonizar a mucosa gástrica, ligando-se às células epiteliais, envolto pela camada de muco. Algumas proteínas da bactéria são capazes de induzir a formação de citoquinas (especialmente a IL-8) estimulando a quimiotaxia para neutrófilos e linfócitos. A maior liberação local do fator de ativação plaquetária promove trombose dos vasos capilares superficiais e isquemia. Praticamente todos os pacientes H. pylori positivos possuem algum grau de gastrite crônica. Em alguns pacientes, os mecanismos lesivos desencadeados pela bactéria (em conjunto com outros importantes fatores) são capazes de formar uma lesão ulcerada crônica. ÚLCERA DUODENAL O H.pylori ao infectar cronicamente a mucosa antral, inibe a produção de somatostatina pelas células D. A perda deste fator inibitório promove hipergastrinemia leve a moderada, tendo como resposta a hipercloridria. A maior secreção de HCl pelo estômago faz o duodeno receber maior carga ácida, induzindo a formação de metaplasia gástrica no bulbo duodenal, isto é, surge um epitélio tipo gástrico (oxíntico) no duodeno, que normalmente tem epitélio do tipo intestinal... Isso permite a infecção do bulbo duodenal pela bactéria; Outro importanteefeito da bactéria é inibir a produção de bicarbonato pela mucosa duodenal. ÚLCERA GÁSTRICA Existem quatro tipos clínicos de úlcera gástrica, sendo as lesões classificadas de acordo com sua localização e associação ou não com úlceras duodenais; A úlcera da pequena curvatura (tipo I) é a mais comum e está associada à normo ou hipocloridria, com gastrite atrófica do corpo gástrico pelo H. pylori. Embora ainda incerta, 12 Marcela Oliveira – Medicina 2021 sua patogênese parece estar relacionada a uma grande proliferação da bactéria na junção antrocorpo. A lesão da mucosa pelo micro-organismo a tornaria extremamente sensível aos efeitos do ácido e da pepsina, mesmo no estado de hipocloridria. A úlcera tipo IV (mais rara) teria patogênese semelhante, com a normocloridria mais frequentemente observada. As úlceras tipo II e III são as úlceras gástricas que possuem relação direta com a hipercloridria, e sua patogênese é semelhante à da úlcera duodenal; AINES Os AINES agem inibindo a COX. E ao inibir a formação de prostaglandinas pela mucosa gástrica, os AINES reduzem praticamente todas as defesas contra a secreção acida, dificultando o reparo e a neutralização do HCL. De forma geral, podemos dizer que 5-10% das úlceras duodenais e 20-30% das úlceras gástricas são causadas pelos AINEs, constituindo a segunda causa mais comum de DUP. Até mesmo a aspirina (AAS) em doses antiplaquetárias (81-325 mg/dia) é capaz de causar DUP e suas complicações. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A dor abdominal epigástrica (epigastralgia), em queimação, que ocorre 2-3h após as refeições e à noite, que pode ser aliviada pelo uso de antiácidos ou pelo alimento, e que tipicamente irradia para o dorso, é o sintoma mais característico da úlcera duodenal! Alguns pacientes referem que eventualmente acordam à noite (entre 0h e 3h) por causa da dor, coincidindo com o pico de secreção ácida por descarga vagal. Na úlcera gástrica, por outro lado, os sintomas costumam ser desencadeados pelo alimento e alguns pacientes perdem peso. Náusea é mais comum na úlcera gástrica. A diferença de sintomas entre as úlceras duodenal e gástrica não é confiável para predizer qual a localização da úlcera encontrada na endoscopia. COMPLICAÇÕES O sangramento é a complicação mais frequente da doença ulcerosa péptica, ocorrendo em torno de 15 a 20% dos casos, em sua maioria associados às úlceras duodenais. As perfurações são complicações ainda mais graves, observadas em até 5% dos pacientes e responsáveis por ⅔ das mortes por úlcera 13 Marcela Oliveira – Medicina 2021 péptica. Ocorrem mais frequentemente na pequena curvatura gástrica e na parede anterior do bulbo duodenal; As úlceras gástricas perfuradas geralmente são bloqueadas pelo lobo hepático esquerdo, e as úlceras duodenais perfuradas, pelo pâncreas e raramente pelo cólon. Estreitamento e estenose secundária a edema ou cicatrização são observados em até 2% dos ulcerosos, frequentemente relacionados a úlceras do canal pilórico, mas também podem ocorrer como complicações de úlceras duodenais. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de úlcera péptica requer a realização de exame complementar, sendo a Endoscopia Digestiva Alta (EDA) o padrão- ouro. O exame baritado ou Seriografia Esôfago-Estômago-Duodeno (SEED) é uma alternativa com acurácia mais baixa, embora de custo bem mais barato, indicado apenas quando a EDA não se encontra disponível. A queixa de sintomas dispépticos recentes não necessariamente indica EDA... Este exame é oneroso! Pelo Guideline americano, a conduta inicial diante de tal situação deve ser a pesquisa do H. pylori por exames não invasivos (teste respiratório da urease, sorologia) e, caso positivo, tratamento empírico com erradicação da bactéria (antibióticos + inibidores da bomba de prótons). Caso negativo, um curso empírico de quatro semanas com antissecretores (inibidores da bomba de prótons ou bloqueadores H2), é a medida sugerida, solicitando-se a EDA apenas nos casos refratários ou recorrentes. O uso de AINE também deve ser investigado, e se presente o medicamento deve ser suspenso. Estas são as melhores estratégias em termos de custo-benefício. Porém, a EDA está sempre indicada desde o início nos pacientes > 45 anos ou naqueles com “sinais de alarme” para uma possível neoplasia gástrica: perda ponderal, anemia, sangramento, vômitos recorrentes, disfagia, massa abdominal, adenopatia, história familiar de câncer gástrico e gastrectomia parcial prévia. Deve-se tomar muito cuidado com as úlceras gástricas! Enquanto as duodenais raramente são malignas, as gástricas devem SEMPRE ser investigadas para câncer: se a EDA visualizar uma úlcera “péptica” no estômago, várias amostras de material (pelo menos sete) devem ser colhidas por biópsia e exaustivamente investigadas à procura de tecido neoplásico, o que não é necessário de rotina numa úlcera duodenal. As úlceras gástricas devem ter um controle endoscópico de cura aproximadamente 8- 12 semanas após a primeira EDA, o que coincide com o término do tratamento clínico; Quando estão indicados os testes para o H. pylori? O tratamento do HP deve ser feito em todo paciente com úlcera, no qual se possa documentar a presença deste agente – assim, fica óbvio que todo paciente que tem úlcera tem que ser investigado para H. pylori! Como investigar o H. pylori? Existem, atualmente, vários testes disponíveis para o diagnóstico da infecção por H. pylori. A escolha do método dependerá da situação clínica vigente. Podemos dividir os testes em invasivos e não invasivos. Testes não invasivos 1- Sorologia: o ELISA para detectar a presença de IgG anti-H. pylori tem baixa sensibilidade e especificidade comparado aos demais métodos não invasivos, não sendo mais indicado de rotina para o diagnóstico de infecção ativa. Além do mais, este método não deve ser realizado para controle de cura, já que os anticorpos permanecem positivos anos após a cura. 14 Marcela Oliveira – Medicina 2021 2- Teste Respiratório da Ureia (TRU): o paciente ingere uma solução de ureia marcada com isótopos de carbono (C13 e C14). Sob ação da urease do H. pylori, a ureia é convertida em amônia e bicarbonato, o qual é convertido em CO2 (com o C marcado), sendo este último prontamente absorvido para a circulação e eliminado na exalação. O paciente então expira em um recipiente onde a presença de carbono marcado pode ser detectada por cintilação ou espectrografia. O teste, por ser não invasivo, é considerado o método de eleição para o controle de cura, porém, só deve ser realizado após quatro semanas do término do tratamento antimicrobiano, e após duas semanas do término do tratamento com IBP; 3- Pesquisa do antígeno fecal: antígenos do Helicobacter pylori podem ser detectados nas fezes e, quando presentes, indicam doença ativa. Apresenta menor acurácia que o teste respiratório, porém, é de mais fácil acesso. Também pode ser empregado para o controle de cura da infecção. TRATAMENTO Hoje está claro que não existe dieta específica para o tratamento da úlcera péptica, sendo a única recomendação importante quanto à dieta evitar as comidas que exacerbem os sintomas. Tratamento farmacológico O tratamento farmacológico visa à redução da acidez do conteúdo gástrico somada à erradicação do Helicobacter pylori, quando a bactéria se encontra presente. 1- ANTISSECRETORES DE PRIMEIRA LINHA Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) Atuam na H+/K+ATPase, inibindo diretamente o mecanismo de secreção de HCl da célula parietal, sendo considerados os antissecretores de primeira escolha para o tratamento da DUP. Após a administração, o início de ação dos IBPs é rápido, com o efeito inibitório máximona secreção ácida ocorrendo dentro de duas a seis horas. Esses agentes atuam com maior eficácia quando a bomba de prótons se encontra ativada, daí a recomendação de serem administrados em jejum. A secreção ácida retorna totalmente ao normal somente após 7 a 14 dias da suspensão da medicação. Como vimos antes, o uso de IBP pode levar à hipergastrinemia e consequente efeito trófico sobre as células ECL e células parietais. Em seres humanos, este fenômeno não foi associado a um aumento na incidência de tumores carcinoides gástricos... A gastrinemia também costuma retornar ao normal uma a duas semanas após a interrupção da droga. Bloqueadores H2 Bloqueiam competitivamente os receptores H2 de histamina das células parietais, responsáveis pelo estímulo à produção de ácido gástrico – tais células, além de ficarem menos responsivas aos efeitos estimulantes da histamina, também ficam menos responsivas à acetilcolina e à gastrina. Existem diversos BH2, que diferem em termos de potência, efeitos colaterais etc. Os principais agentes disponíveis no mercado, com suas respectivas doses são: 15 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Como os antiácidos interferem com a absorção dos BH2, eles não devem ser ingeridos concomitantemente. Como os rins são a principal via de eliminação dos BH2, deve-se ajustar a dose na insuficiência renal. O tempo de tratamento com bloqueadores H2 de histamina varia em função do tamanho da úlcera, localização etc. No geral, eles também são prescritos por 4-8 semanas. Antiácidos Ao reagirem com o HCl, os antiácidos neutralizam diretamente o pH reduzido do estômago. Atualmente esta classe de drogas é utilizada apenas para alívio dos sintomas. Os antiácidos mais conhecidos são: (1) hidróxido de alumínio (2) hidróxido de magnésio (3) bicarbonato de sódio (4) carbonato de cálcio Os hidróxidos de alumínio e magnésio são os mais utilizados e podem ser encontrados em comprimidos ou na forma de gel. Como o hidróxido de alumínio é constipante e o de magnésio é laxante, a maioria das preparações mistura os dois... Se os antiácidos forem tomados com o estômago vazio, eles rapidamente deixam este local, sendo eficazes por apenas 10-20min. Quando tomados uma hora após as refeições, momento em que a secreção de ácido (reativa) não mais consegue ser tamponada pela comida no estômago, são geralmente efetivos por duas a três horas. Dessa forma, os antiácidos devem ser tomados uma hora após as principais refeições e ao deitar. Os antiácidos que contêm alumínio, quando usados em grande quantidade, podem causar depleção de fosfato pela formação de precipitados intestinais inabsorvíveis. Isso pode resultar em anorexia, fraqueza muscular e doença óssea. O uso em longo prazo do carbonato de cálcio como antiácido, pode levar à síndrome leite-álcali – hipercalcemia, hiperfosfatemia e calcinose dos rins, com progressão para insuficiência renal. TRATAMENTO DA H.PYLORI Sabemos, até o momento, que a melhor terapia para erradicação do H. pylori tem como base uma combinação de pelo menos três drogas utilizadas por tempo variável. Em nosso meio, o tratamento inicial é feito por sete dias; Devido ao grande potencial de não adesão, preparações combinadas como o Pylorid® ou Pyloripac® (omeprazol, claritromicina e amoxicilina) encontram-se disponíveis no mercado; A falência na erradicação do H. pylori com a terapia tríplice inicial requer o emprego do “tratamento de resgate”. No Brasil, os tratamentos de segunda linha atualmente preconizados são: (1) IBP (ex.: omeprazol 20 mg 12/12h) + levofloxacino (500 mg/1x dia) + amoxicilina (1 g 12/12h) por 10 dias; ou (2) IBP (ex.: omeprazol 20 mg 12/12h) + levofloxacino (500 mg/1x dia) + furazolidona (200 mg 12/12h) por 7-10 dias. Como “resgate adicional” (terceira linha de tratamento), podemos lançar mão da terapia quádrupla: IBP (ex.: omeprazol 20 mg 12/12h) + sal de bismuto (240 mg 12/12h) + amoxicilina (1g 12/12h) ou doxiciclina (100 mg 12/12h) + furazolidona (200 mg 12/12h) por 10-14 dias.
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