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METODOLOGIA DO ENSINO DA HISTÓRIA Caro(a) aluno(a), A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................4 UNIDADE I - HISTÓRIA: CONTEÚDOS E MÉTODOS ........................................................5 1. A HISTÓRIA COMO DISCIPLINA ESCOLAR ....................................................................... 5 1.1 AS LEIS DE DIRETRIZES ...............................................................................................8 1.2 CIDADANIA E O ENSINO DE HISTÓRIA ....................................................................9 1.2.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Cidadania ...............................................11 1.2.2 Como ensinar História? .............................................................................................12 1.3 CONHECIMENTO HISTÓRICO ....................................................................................12 1.3.1 - O Conhecimento Histórico na Sala de Aula ............................................................14 1.4 HISTÓRIA DO ENSINO DA HISTÓRIA NO BRASIL ................................................16 1.4.1 As transformações do ensino da História no Brasil ...................................................20 1.5 ENSINO DE HISTÓRIA NOS CURRÍCULOS ATUAIS ..............................................22 1.5.1 A perspectiva crítica do currículo ..............................................................................22 1.5.2 Competências e habilidades essenciais ......................................................................24 1.5.3 Seleção e organização dos conteúdos ........................................................................26 2. FATO HISTÓRICO E CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS ................................................... 27 2.1 A CONSTRUÇÃO DO FATO HISTÓRICO ..................................................................28 2.2 TENDÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS E A SALA DE AULA ....................................29 2.3 HISTORICIDADE DOS CONCEITOS ...........................................................................32 2.4 TEMPORALIDADES HISTÓRICAS .............................................................................33 UNIDADE II - SABERES E PRÁTICA DE ENSINO EM HISTÓRIA .................................35 1. MÉTODOS DE ENSINO E USO DE DOCUMENTOS NÃO ESCRITOS ......................... 35 1.1 REFLEXÕES SOBRE MÉTODO DIALÉTICO E SITUAÇÃO PEDAGÓGICA .........36 1.2 A JUSTIFICATIVA DA PEDAGOGIA FREIRIANA ...................................................37 1.2.1 Educação dialógica ....................................................................................................37 1.2.2 A dinâmica do processo ensino-aprendizagem em Paulo Freire ...............................39 1.3 A QUESTÃO DA HISTÓRIA REGIONAL E LOCAL ..................................................40 1.4 AULAS DE CAMPO: MUSEUS, CONSTRUÇÕES E SÍTIOS .....................................42 1.5 HISTÓRIA ATRAVÉS DE MÚSICAS E IMAGENS ....................................................44 2. MATERIAIS DIDÁTICOS: USO DE DOCUMENTOS ESCRITOS E AVALIAÇÃO ... 46 2.1 LIVRO DIDÁTICO: LEITURAS E LEITORES .............................................................48 2.2 USO DIDÁTICO DE DOCUMENTOS ESCRITOS .......................................................49 2.3 LITERATURA E HISTÓRIA ..........................................................................................50 2.4 AVALIAÇÃO ..................................................................................................................52 2.4.1 O conhecimento em História .....................................................................................53 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................54 - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 INTRODUÇÃO A disciplina Metodologia da História tem como objetivo propiciar a reflexão sobre os aspectos teóricos e práticos relacionados aos processos de ensino/aprendizagem, ampliando esta discussão para as temáticas metodológicas que circundam sua práxis. Abordaremos, nesta disciplina, pressupostos teóricos e práticos que sustentam uma prática educacional significativa do ensino da História, buscando promover um exercício de reflexão a esse respeito, ressaltando aspectos ideológicos, filosóficos, psicológicos que lhes servem como referências e, principalmente, vislumbra o exercício para a construção de uma prática pedagógica, considerando a autonomia, a história e o papel dos educandos e educadores no processo ensino/aprendizagem. Seguindo as considerações de Leandro Karnal (2009) sobre o ensino de História em que se o fazer histórico é mutável, o exercício pedagógico deste também o é. “A ação pedagógica muda porque mudam seus agentes: mudam os professores, mudam os alunos, mudam as convenções de administração escolar e mudam os anseios dos pais” (KARNAL, 2009, p.9). Portanto, a necessidade de revisões sobre o Ensino de História é imprescindível. E pensando nessas considerações, percebe-se cada vez mais a importância que se devem dar as leituras atualizadas de historiadores/educadores que se dedicam em analisar nossas formas de ensino e que nos apresentam as melhores formas de atuar em sala de aula. Desta forma, o texto foi dividido em 2 grandes capítulos que poderão auxiliar-nos na prática. O primeiro capítulo intitulado: História: conteúdos e métodos aborda as questões referentes a História como disciplina escolar, sua criação e mudanças ao longo dos anos e o Fato Histórico e as construções de conceitos necessários para uma boa aprendizagem. O segundo capítulo denomina-se: Saberes e prática de ensino em História discute sobre questões como os métodos de ensino, livros didáticos e usos de documentos escritos e avaliação. Destarte, esse estudo aborda questões referentes ao Ensino de História que deve valer-se de muita qualidade e criticidade para uma potencial melhora de nossa educação. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br- 4 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 UNIDADE I - HISTÓRIA: CONTEÚDOS E MÉTODOS 1. A HISTÓRIA COMO DISCIPLINA ESCOLAR A História, como toda ciência, define historicamente seu objeto. Há uma historicidade da própria Ciência da História e, por conseguinte, do objeto que constitui esta ciência como aceitável. A História vem se construindo como campo de investigação científica, com método próprio, e enquanto disciplina, matéria que deve ser estudada (HORN & GERMINARI, 2009). O Historiador José D´Assunção Barros (2011) diz que a História, à altura de sua milenar origem na Grécia Antiga, precisou contrapor à Filosofia, mais antiga e a outras formas de expressão ou campos de práticas, tais como a Poesia Lírica, a Poesia Épica e a Retórica. Posteriormente, no mundo moderno, foi confrontada pelo surgimento das novas práticas científicas no seio das ciências sociais e humanas, contrapondo-se à Economia Política, à Sociologia, à Antropologia. Com a difusão das ideias iluministas, a História ensinada distanciou-se, cada vez mais da influência da Igreja. Entretanto, sua organização como disciplina escolar está diretamente relacionada com a transformação do estado da História como campo de conhecimento. Como disciplina escolar compreenda-se, segundo Selma Fonseca (2003, p. 15), “[...] o conjunto de conhecimentos identificado por um título ou rubrica, e dotado de organização própria para o estudo escolar”. Durante todo o século XIX, a organização dos sistemas de ensino variou conforme as conjunturas nacionais, mas, sempre havia a importância dada à formação do cidadão de acordo com o sistema social e econômico, conforme afirma Ciro Flamarion Cardoso (2005, p. 147): A profissionalização da História como disciplina é algo relativamente recente, vinculando-se em forma muito clara à convicção dos Estados nacionais, a partir de 1870, de ter ela um papel central na construção da identidade nacional. Esse complexo processo de fortalecimento das identidades nacionais e de legitimação dos poderes políticos ocorria no momento em que a História começava a apresentar maior sistematização nos seus métodos de investigação, com seu saber objetivamente elaborado e - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 5 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 teoricamente fundamentado. Dessa forma, a História passou a ocupar uma posição central entre as disciplinas escolares: ao ensino da História caberia apresentar um passado glorioso da nação e de seus grandes vultos. No Brasil, a História, como disciplina escolar, ocorreu após a Independência, com o início da estruturação de um sistema de ensino para o Império. O pensamento da elite política e intelectual apontava, cada vez mais, para a elaboração de uma história nacional que pudesse ser difundida por meio da educação, colocando como central a questão da identidade nacional. Foi muito importante, nesse sentido, a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, que promoveu um concurso de monografias sobre como escrever a História do Brasil (BITTENCOURT, 2009). Refletindo sobre o quadro em que se inscreveu a constituição da História como disciplina escolar no Brasil, percebemos que questões consideradas básicas atualmente, como as questões identitárias, visto que “a identidade é formada na "interação" entre o eu e a sociedade e, por último o sujeito pós-moderno definido como não possuidor de uma identidade fixa, permanente” (LEITE et al, 2007, p 9) e aquelas relacionadas à formação do cidadão, estiveram presentes desde o seu início. Essa “permanência” merece ser considerada em suas diferentes conjunturas e, por isso, Identidade, Cidadania e Cultura fazem parte do esquema conceitual que fundamenta a proposta de nosso trabalho. Ora, a “missão” do pensamento elitizado, que compreendia a História como “mestra da vida”, de fazer do ensino da História um instrumento de formação de cidadãos e legitimação da ordem vigente, deveria considerar, além de privilegiar o Estado e a ação de grandes personagens, o universo cultural no qual se inserem os sujeitos desse ensino. Isso se refletiu, por exemplo, na chamada Era Vargas, quando se estendeu o cultivo de uma memória para a construção de uma identidade nacional, ampliando o ensino escolar para uma educação que considerasse as políticas de preservação do patrimônio e as festas cívicas. Os livros didáticos e as comemorações passaram a ser instrumentos para a manutenção de determinadas visões de mundo e de História, sendo ferramentas de mediações entre as práticas políticas e as culturais (BITTENCOURT, 2009). Com o passar das décadas, as imbricações entre cultura, política e ensino da História passaram a expressar novas conjunturas que possibilitam um redimensionamento dessa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 6 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 “permanência”. Analisando, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais e seus reflexos no cotidiano do profissional da História, percebe-se que a prática docente da História tem caminhado de acordo com as principais questões de seu tempo, incorporando diferentes concepções de ensino e de História, mas com a preocupação de formar o cidadão de acordo com uma ordem social que deve ser legitimada. Sobre esse quesito o historiador inglês, Christopher Hill (1987) afirma que: “a história precisa ser reescrita a cada geração, porque embora o passado não mude, o presente se modifica”. Hoje, em todo o mundo “globalizado”, a vida cotidiana coletiva se constitui um dos principais eixos do ensino da História, porque conforme Leila Teixeira (2010, p. 49) “é possível afirmar que a cultura, as formas de vida, os costumes transmitidos ao passar do tempo [...] têm sido importante para a formação da identidade”, e as temáticas a ela referentes são importantes para destaques acerca das diferenças culturais e étnicas, incentivando o respeito às diversidades. No entanto, também condicionam os cidadãos e suas identidades, mantendo desigualdades. Por isso, estamos considerando os diferentes aspectos que relacionam Identidade, Cidadania e Cultura inseridos nas perspectivas atuais do ensino da História. Segundo Selma Fonseca (2003), as mudanças operadas no ensino de História nas últimas décadas do século XX ocorreram articuladas às transformações sociais, políticas e educacionais de uma forma mais ampla, bem como aquelas ocorridas no interior dos espaços acadêmicos, escolares e na indústria cultural. Portanto, passou-se a rediscutir o objeto da História, uma vez que a perspectiva presente nos currículos estava fortemente influenciada pela temática do viés positivista do século XIX: da história-nação, história-civilização. Neste sentido, é importante não separarmos a investigação e o debate sobre o ensino, do contexto em que é produzido, do conjunto de relações de espaço de saber e poder, especialmente das relações entre universidades, indústria editorial e escolas de Ensino Fundamental e Médio. Selma Fonseca (2003) também pontua que nas últimas décadas do século XX a produção historiográfica e educacional aumentou significativamente. Desta forma, tanto o mercado editorial quanto a mídia preocuparam-se em valorar o debate sobre o que ensinar em História aos milhões de jovens que frequentam as escolas brasileiras. Sendo assim, o debate sobre o ensino de História deve enfatizar os processos formativos que se desenvolvam,nos diferentes ambientes e nos diferentes cidadãos, diferentes formas de - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 7 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 educação, considerando a sociedade marcada por diferenças e desigualdades. E como já afirmaram Jaime e Carla Pinsky (2009, p. 28): [...] cada aluno tem se se perceber como um ser social, alguém que vive numa determinada época, num determinado país ou região. Ele precisa saber que não poderá nunca se tornar um guerreiro medieval ou um faraó egípcio. Ele é um homem de seu tempo, e isso é uma determinação histórica. Nesse sentido, o aluno precisa ter conhecimento de que, dentro de suas limitações, de seu tempo, ele poderá optar por qual homem será. O professor de história deve aproximar o aluno dos grandes personagens da história, sem idealização, “mostrando que gente como a gente vem fazendo história” (PINSKY & PINSKY, 2009, p. 28). 1.1 AS LEIS DE DIRETRIZES A transformação do ensino de História é estratégica não apenas na luta pelo rompimento com as práticas homogêneas e a críticas, mas também com a criação de novas práticas escolares. O objetivo do saber histórico escolar é constituído de tradições, ideias, símbolos e significados que dão sentido às diferentes experiências históricas (FONSECA, 2003). Essa perspectiva de ensino temático e multicultural presente nos PCN´s deve ser acompanhada de uma mudança pedagógica e na formação inicial e continuada do docente. É através da prática que os conhecimentos do professor são mobilizados, reconstruídos e assumem significados diversos. Tal perspectiva conclama professores de História sensíveis, com postura crítica, reflexão permanente sobre suas ações no cotidiano escolar, no sentido de rever os saberes e as práticas. De acordo com Jaime e Carla Pinsky (2009, p. 23) “[...] se o professor é o elemento que estabelece a intermediação entre o patrimônio cultural da humanidade e a cultura do educando, é necessário que ele conheça, da melhor forma possível, tanto um quanto outro”. Essa postura do professor irá possibilitar alcançar as diretrizes apontadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de História, lançado oficialmente pelo Ministério da Educação em 1997. As diretrizes apontam e reforçam a preocupação com a inclusão, a diversidade cultural e a cidadania no currículo de História. Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 8 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. Espera-se que, ao longo do ensino fundamental, os alunos, gradativamente, possam ampliar a compreensão de sua realidade, especialmente confrontando-a e relacionando-a com outras realidades históricas, e, assim, possam fazer suas escolhas e estabelecer critérios para orientar suas ações. Nesse sentido, os alunos deverão ser capazes de: reconhecer que o conhecimento histórico é parte de um conhecimento interdisciplinar; compreender que as histórias individuais são partes integrantes de histórias coletivas; conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles, continuidades e descontinuidades, conflitos e contradições sociais; questionar sua realidade, identificando problemas e possíveis soluções, conhecendo formas político-institucionais e organizações da sociedade civil que possibilitem modos de atuação; dominar procedimentos de pesquisa escolar e de produção de texto, aprendendo a observar e colher informações de diferentes paisagens e registros escritos, iconográficos, sonoros e materiais; valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade social, considerando critérios éticos; valorizar o direito de cidadania dos indivíduos, dos grupos e dos povos como condição de efetivo fortalecimento da democracia, mantendo-se o respeito às diferenças e a luta contra as desigualdades. 1.2 CIDADANIA E O ENSINO DE HISTÓRIA O homem cria sua própria realidade e, segundo Ferreira (1995), tem seus próprios recursos de compreender e interpretar essa realidade, torná-la lógica e significativa para o conjunto de indivíduos. Compreendendo, analisando e interpretando todas as dimensões da - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 9 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 realidade, torna possível a interação e a organização social pela “existência de significados culturalmente compartilhados”. É, pois, através do conhecimento do mundo, adquirido, formal e informalmente, a partir de suas experiências e do convívio em sociedade, pelas trocas linguísticas e reconhecimento de símbolos, em um processo sistemático de formação intelectual e moral do indivíduo, que se processa a construção de sua dimensão enquanto cidadão. A conscientização é um processo que permite ao homem compreender a realidade que o cerca, como ela se estrutura, o que ele é e a reagir a essa realidade, assumindo seu destino e dos seus semelhantes com autonomia, buscando sempre melhores condições de vida. É um “ser aberto, insatisfeito, não completo” (ARAÚJO, 1998). Nesse processo de conscientização e busca, vai descobrindo a dimensão de suas possibilidades e necessidades, bem como as formas de superá-las, mediante sua participação na sociedade na qual está inserido. Assim, podemos identificar dois aspectos de sua personalidade: sociabilidade – enquanto “a propensão do homem para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções e os mesmos bens”, e politicidade – entendendo-se como “o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os outros, enquanto faz parte de um grupo social”. (BATTISTA MONDIN, apud BETIOLI, 1995). Na realidade, são dois aspectos de um mesmo fenômeno: por ser sociável, o homem procura conviver com seus semelhantes e formar com eles certas associações estáveis. Uma vez inserido em grupos organizados, ele torna-se um “ser político”, ou seja, membro de uma polis, garantindo direitos e assumindo deveres (BETIOLI, 1995). Para a História, segundo Holien Bezerra (2009) o conjunto de preocupações que informam o conhecimento histórico e suas relações com o ensino vivenciado na escola levam ao aprimoramento de atitudes e valores imprescindíveis para o exercício pleno da cidadania, como exercício do conhecimento autônomo e crítico; valorização de si mesmo como sujeito responsável da História; respeito às diferenças culturais, étnicas, religiosas, políticas, evitando qualquer tipo de discriminação; busca de soluções possíveis para os problemas detectados em sua comunidade, de forma individual e coletiva; atuação firme e consciente contra qualquer tipo de injustiça e mentiras sociais; valorização do patrimônio sociocultural, próprio e de outros - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 10Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 povos, incentivando o respeito à diversidade; valorização dos direitos conquistados pela cidadania plena, aí incluindo os correspondentes deveres, seja dos indivíduos, dos grupos e dos povos, na busca da consolidação da democracia. 1.2.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Cidadania A “educação para a cidadania” proposta pelos PCN tem em vista desenvolver entre crianças e jovens – a partir dos Temas Transversais – valores gerais de solidariedade, compaixão, tolerância, preparando-as para participar no futuro, dentro ou fora do local de trabalho, de ações voltadas, em última instância, aos excluídos ou àqueles que não dispõem de uma condição de vida minimamente digna, mas também às questões voltadas à saúde e à preservação ambiental, bem como aquelas ligadas à aceitação das diferenças – religiosas, culturais, de opção sexual, etc. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino de História deve ter o papel formativo para uma cidadania crítica, ou seja, espera-se que o professor de História forme um determinado tipo de cidadão. Segundo Segal (apud BITTENCOURT, 2004), é importante distinguir os objetivos da História ensinada nos níveis fundamental e médio daqueles pretendidos nos cursos superiores. Estes últimos visam formar profissionais, no caso historiadores ou professores de História; enquanto que, para os outros níveis, a História deve contribuir para a formação do indivíduo comum, que enfrenta o cotidiano contraditório de violência, desemprego, greves, congestionamentos, que recebe informações simultâneas de acontecimentos internacionais, que deve escolher seus representantes para ocupar os vários cargos da política institucionalizada. Este indivíduo que vive o presente deve, pelo ensino da História, ter condições de refletir sobre tais acontecimentos, localizá-los em um tempo conjuntural e estrutural, estabelecer relações entre os diversos fatos de ordem política, econômica e cultural. É impossível negar a importância, sempre atual, do ensino de História: Ser membro da comunidade humana é situar-se com relação a seu passado, passado este que é uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e padrões da sociedade. A História é referência. É preciso, portanto, que seja bem ensinada (HOBSBAWN apud PINSKY & PINSKY, 2009, p. 19). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 11 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 A relação entre História escolar e cidadania também nos faz pensar sobre as finalidades políticas da educação e, especificamente, no nosso caso, da disciplina História. Assim como da importância de uma formação política que a História tem a desempenhar no processo ensino- aprendizagem presente no currículo educacional. 1.2.2 Como ensinar História? Para Circe Bittencourt (2004), os objetivos ou finalidades de ensino de uma disciplina escolar precisam ser analisados, pois inserem e integram a constituição ou transformação paradigmática de um determinado campo de conhecimento produzido na escola e para a escola, mas é fundamental considerar que o atual papel do ensino de História está na compreensão do sentir-se sujeito histórico e em sua contribuição para a formação de um cidadão crítico. As propostas curriculares abordam o ensino de História como aquele que visa contribuir para a formação de um cidadão crítico para que o aluno adquira uma postura crítica em relação à sociedade em que vive. Para os historiadores Jaime e Carla Pinsky (2009), para entender melhor ainda a importância das humanidades nos dias de hoje, é preciso ter bem claro que devemos estar preparados para ocupar um espaço na sociedade globalizada sob o risco de sermos sufocados por ela. A percepção do conjunto de movimentos que estão sendo executados no mundo exige, por parte dos nossos jovens, uma cultura que vá além da técnica. Portanto, “História neles!” (PISNKY & PINSKY, 2009, p. 21). As introduções dos textos oficiais reiteram que o ensino de História, ao estudar o passado, tem como objetivo fazer com que o aluno compreenda o futuro e se sinta agente social capaz de transformar realidade que o cerca. 1.3 CONHECIMENTO HISTÓRICO O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos e dos sujeitos históricos, o desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços. Os historiadores estão atentos às diferentes e múltiplas - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 12 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 possibilidades e alternativas apresentadas nas sociedades, tanto nas de hoje quanto nas do passado, que emergiram da ação consciente ou inconsciente dos homens; procuram apontar para os desdobramentos que se impuseram com o desenrolar das ações desses sujeitos (BEZERRA, 2009). A aprendizagem de metodologias apropriadas para a construção do conhecimento histórico, seja no âmbito da pesquisa científica seja no saber histórico escolar, torna-se um mecanismo essencial para que o aluno possa apropriar-se de um olhar consciente para sua própria sociedade e para si mesmo. Para Holien Bezerra (2009), ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno terá condições de exercitar nos procedimentos próprios da História: problematização das questões propostas, delimitação do objeto, exame do estado da questão, busca de informações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos sujeitos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação e comprovação de hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos conceitos, proposta de explicação para os fenômenos estudados, elaboração da exposição, redação de textos. Dada a complexidade do objeto de conhecimento, é imprescindível que seja incentivada a prática interdisciplinar. Faz parte da construção do conhecimento histórico, no âmbito dos procedimentos que lhe são próprios, a ampliação do conceito de fontes históricas, que podem ser trabalhadas pelos alunos: documentos oficiais, textos de época e atuais, mapas, ilustrações, gravuras, imagens de heróis de histórias em quadrinhos, poemas, letras de música, literatura, manifestos, relatos de viajantes, panfletos, caricaturas, pinturas, fotos, rádio, televisão, etc. O importante é que se alerte para a necessidade de que as fontes recebam um tratamento adequado, de acordo com sua natureza. É preciso deixar claro, porém, que não é proposta do ensino básico a formação de pequenos historiadores. O que importa é que a organização dos conteúdos e a articulação das estratégias para trabalhar com eles leve em conta esses procedimentos para a produção do conhecimento histórico. Com isso, evita-se passar para o educando a falsa sensação de que os conhecimentos históricos existem de forma acabada, e assim são transmitidos - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 13 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 1.3.1 - O Conhecimento Histórico na Sala de Aula Problematizar o conhecimento histórico em sala de aula é muito importante na formação intelectual do aluno e do professor. Proporciona que os objetivos fundamentais do ensino sejam os de desenvolver a compreensão da realidade histórico-social.Para Jaime e Carla Pinsky (2009), as aulas de História serão muito melhores se os professores conseguirem estabelecer um duplo compromisso: com o passado e o presente, pois entendem que o passado deve ser interrogado a partir de questões que nos são inquietadas no presente. Podemos entender, então, que este é o grande desafio enfrentado pelo professor de História para construir uma práxis reflexiva e dinâmica que alcance os objetivos propostos atualmente pelas diretrizes educacionais. Porque o compromisso com o presente não significa, contudo, presentismo vulgar, ou seja, tentar encontrar no passado justificativas para atitudes, valores e ideologias praticados no presente. “Significa tomar como referência questões sociais e culturais assim como problemáticas humanas que fazem parte de nossa vida, temas como desigualdades sociais, raciais, sexuais, diferenças culturais...” (PINSKY & PINSKY, 2009). É através do espaço de sala de aula que professores e alunos de História ultrapassam limites com o objetivo da construção do conhecimento: O professor é quem vai explicitar o passado com novidades, utilizando as memórias e tem a possibilidade de guiar e dominar em nome do conhecimento; Os alunos, com seus projetos e problemas, que devem ser mediados pelo professor. Diante dessas pontuações, notamos que a sala de aula é um espaço vivo e cheio de sobressaltos: cada aula é única, trazendo sempre novidades e surpresas nem sempre planejadas, propiciando ao professor uma certa dose de resiliência. Sendo assim, o professor de História deve trabalhar com os alunos formas de adquirir ferramentas de trabalho necessárias para a formação do educando. Quais são essas ferramentas? O saber-fazer; O saber-fazer bem; Lançar os germes do histórico. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 14 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 O professor é o responsável por ensinar aos alunos a levantar problemas, socializá-los, discuti-los, buscando transformar em cada aula de História temas e problemáticas. Ensinar História, neste sentido, é propiciar ao aluno o processo de fazer e do construir a História. Deve ficar explícito que o conhecimento histórico não é adquirido como um dom, mas construído. O aluno deve entender que o conhecimento histórico não é adquirido como um dom — comumente ouvimos os alunos afirmarem “Eu não dou para aprender História” — nem mesmo como uma mercadoria que se compra bem ou mal. (BITTENCOURT, 2004). A partir das discussões apresentadas e das transformações educacionais, entendemos que história deve ser trabalhada dentro de outra realidade, de outro ângulo, na qual o indivíduo possa fazer parte dela e dessa realidade, que o leve a se sentir, também, agente da história, não só como produto, mas também, como produtor da história. O historiador não deve fazer imposição ao alunado a seguir a maneira tradicional de se aprender história, mas ajudá-los a compreendê-la com outra realidade através do espírito crítico. Uma história ensinada com uma visão crítica, porque irá, com certeza, mostrar a boa formação e empenho do professor de História. Com isso, atingir um novo modelo de ensino de história, em que os velhos paradigmas que constituía a antiga forma de ensinar sejam modificados pelos futuros professores de história. O professor de História deve utilizar outro tipo de ensino que leve na aprendizagem no diâmetro de romper as barreiras do ensino que mistificava a visão burguesa. Pois, será que na atualidade o Ensino de História está abrindo espaços para que os grupos sociais tenham uma maior participação no currículo do componente curricular de História? Um novo ensino de história em que abranja os que ficaram e ficam à margem da sociedade, com a plena forma de oportunidade de resgatar sua cidadania e sua cultura, bem como ter sua cultura respeitada. Na verdade, a proposta é a de revolucionar o Ensino de História. E, com isso, queremos que os indivíduos tenham capacidade de pensar de uma maneira diferente do modelo tradicional e que os historiadores formem cidadãos pensantes e críticos diante desse novo Ensino de História e da realidade do mundo em que vivemos. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 15 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 Nesse caso, o professor de História deve tentar e colocar em prática o novo tipo de ensinar história, com base em um ângulo diferente em que o aluno se inclua através desse processo de ensino-aprendizagem no processo histórico. Nós, professores, se não aprendermos a trabalhar o conhecimento histórico de modo reflexivo, todo o nosso trabalho será redundante, isto é, como dizia Renato Russo, “Tempo Perdido”. A produção de conhecimentos como atividade docente não significa que o professor realize a soma das atividades de ensino e pesquisa, mas significa pensar o ensino como processo permanente de investigação e de descobertas individuais e coletivas. Produzir novos conhecimentos é um pressuposto metodológico que pode colaborar com a prática docente, dependendo da visão do professor (BITTENCOURT, 2004). É tarefa urgente do professor valorizar e articular o trabalho pedagógico com os múltiplos saberes produzidos na experiência cotidiana, assim como em outras dimensões da sociedade. 1.4 HISTÓRIA DO ENSINO DA HISTÓRIA NO BRASIL A História é a ciência humana básica na formação do aluno, pela possibilidade de fazê- lo compreender a realidade que o cerca e, consequentemente, dotá-lo de espírito crítico, que o capacitará a interpretar essa mesma realidade. Segundo Nadai (apud PINSKY et al, 1992), a História, como disciplina escolar autônoma, surgiu nos fins do século XIX, na Europa, imbricada nos movimentos de laicização da sociedade e de constituição das nações modernas [...]. Genealogia e mudança serão, assim, os suportes do discurso histórico recém-instituído: “a investigação das origens da civilização contemporânea só tem sentido através das sucessivas etapas de sua formação”. No Brasil, desde a criação da História como disciplina, no século XIX, esta percorreu vários caminhos, numa trajetória plural de difícil mapeamento. Com a sua implantação no Colégio D. Pedro II, a disciplina foi sustentada por diferentes concepções de História e tendências historiográficas (SCHIMIDT, 2004). Como a regulamentação da disciplina seguiu o modelo francês, a História Universal acabou predominando no currículo. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 16 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 A História do Brasil foi introduzida no ensino secundário depois de 1855 e, logo após, foram desenvolvidos programas para as escolas elementares. Vale ressaltar que, mesmo após a Proclamação da República, a principal referência dos programas curriculares continuou sendo a História. Com a Lei 5.692/71, foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras, ficando os conteúdos específicos da História destinados apenas aos alunos do antigo 2° grau. Neste sentido, a concepção de conteúdos da História continua atrelado a uma concepção tradicional. Na década de 80, a História ensinada nas escolas e universidades foi objeto de questionamentos quanto a sua funcionalidade. As reflexões apresentadas nesse período apontam a existência de diversas abordagens e temáticas para o ensino de História, além de questionar o currículo, foram questionados também: Os conteúdos; As metodologias; O livro didático; As finalidades do ensino; As questões epistemológicas do conhecimento histórico; A reprodução do conhecimento histórico. A década de 80 foi bastante expressiva para combater a proposta de Estudos Sociais, identificadas com os interesses e as ideologias políticas dominantes. A reconquista da disciplina História, como conhecimento específico e autônomo, causou discussões acadêmicas e permitiu também um perfil de professor de História cuja formação era dividida, nesse período, entre os cursos de graduação em Licenciatura em História curta ou plena, além do curso de Estudos Sociais curto ou pleno. Ainda na década de 80, a História trabalhada nas escolas e universidades brasileiras foi objeto debates e inúmeros estudos, tornando-se um campo de pesquisa de teses, dissertações e publicações, como livros e artigos especializados. As reflexões apresentadas nesse período apontam a existência de diversas abordagens e temáticas para o ensino de História, além de questionamentos acerca dos conteúdos curriculares, das metodologias de ensino, o livro didático - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 17 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 e dos objetivos de ensino. As questões epistemológicas do conhecimento histórico e a problemática da reprodução do conhecimento no ensino da História para a escola fundamental e média também tornaram-se objeto de discussão (HORN & GERMINARI, 2009). Os anos 90 trouxeram, nas entrelinhas, a crise da História e a possibilidade de novos paradigmas teóricos. Foram apresentadas mudanças no currículo de História para adequá-la à sociedade contemporânea, concomitantemente a necessidade de organizar os currículos a partir da Lei Federal n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996, determinou competência da União, do Distrito Federal e dos Municípios o estabelecimento de novas diretrizes para a organização de currículo e seu conteúdo mínimo. Questões relativas ao tempo presente são base de várias concepções e estratégias do ensino da História. Entretanto, as relações entre o presente e o passado, no Ensino Fundamental, merecem cautela e reflexão, para que não se incorra em analogias excessivas e anacronismos. É preciso, todavia, considerar que a clássica ideia de que o passado ajuda a explicar o presente permite, por meio da transposição didática, estabelecer relações diversas (por exemplo, de causa e efeito) entre acontecimentos e períodos, construindo uma espécie de diálogo entre as realidades do presente e do passado, e desenvolvendo a percepção de alteridades. O tempo, matéria-prima da História, sempre foi, não por acaso, de grande importância para a compreensão de seu ensino. Questões de fundamentação cognitiva, relacionadas à construção da noção de tempo, foram amplamente estudadas, sobretudo, por Piaget e seus sucessores. Entretanto, a partir desses estudos, outras questões foram levantadas e debatidas envolvendo a construção da noção do tempo histórico, as noções relativas aos níveis e ritmos da duração, a percepção das diferentes temporalidades e de uma historicidade, e, até mesmo, a construção de uma consciência histórica (HORN & GERMINARI, 2009). Paralelamente a esse processo, foi redimensionada a importância da construção da noção de espaço para o ensino da História no 3º e 4º ciclos, passando a ser importante a percepção de um espaço alterado e recriado no tempo sob a influência intencional do trabalho humano. Sociedade e Trabalho, aqui, passam a ser os principais conceitos com as quais necessitará trabalhar o ensino da História para construir as percepções das possibilidades da relação espaço/ tempo e de suas representações (HORN & GERMINARI, 2009). As sociedades e - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 18 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 o trabalho humanos, assim considerados, são, portanto, o grande objeto da história a ser ensinada. As possibilidades de reconstrução e de representação do passado, considerando-se as diferentes temporalidades, exige o desenvolvimento de noções derivadas da interface espaço/ tempo, como: sucessão, duração, simultaneidade, permanências, rupturas, mudanças, etc. Observamos que a construção dessas noções é uma operação múltipla, que ocorre principalmente pelo processo de escolarização e que aponta para a compreensão da causalidade histórica, devendo o professor estar atento às diferentes situações do ensino em que possam ser exploradas, sem perder de vista a relatividade cultural (outros contextos culturais que possam ser diferentes a respeito do tempo e do espaço). As questões relativas à espaço/tempo e suas formas de compreensão são a base do entendimento do mundo histórico e da construção de uma consciência histórica. Nesse sentido, para além das questões cognitivas, destacamos uma preocupação bastante contemporânea em relação às questões das sensibilidades. Dessa forma, é importante que o ensino da História esteja considerando a construção não apenas de noções e/ conceitos, mas também de sentimentos. Os estudos mais recentes sobre o assunto apontam a necessidade de se construírem pertenças e se reconhecerem sentimentos e sensibilidades também por meio do ensino da História. O reconhecimento sensível de que os sentimentos também têm sua história possibilitam compreender não apenas o que o Outro disse ou fez, mas aquilo que foi. A construção de um sentimento de pertença junto ao aluno, por sua vez, ao desenvolver a compreensão de que a experiência (história vivida) de cada um pertence ao fluir da história de tantos, impulsionaria a construção de uma consciência histórica. Dessa forma, oferecendo-se ao aluno diversas oportunidades de reconhecer o passado, criar-se-iam múltiplas possibilidades de caminhos na complexa história que é seu próprio crescimento, por meio da construção do sentido de pertença (a este espaço/ tempo) (HORN & GERMINARI, 2009). Dependemos, no entanto, do reconhecimento da importância da Memória para o ensino da História, em um mundo que privilegia, cada vez mais, a efemeridade das informações (consequência do redimensionamento da relação espaço/ tempo conferida pela atual tecnologia) e a velocidade do esquecimento. Nesse sentido, é necessária a compreensão de que é o reconhecimento de uma pluralidade de passados que apontará os possíveis futuros. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 19 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 As questões do tempo presente e as possíveis relações entre as noções de espaço/tempo compõem, dessa forma, o fio condutor de nossa visão de área. Pensamos, assim, que o ensino da História, ao compreender as possíveis relações entre Memória e Ensino da História, tendo em vista o esquema conceitual Identidade, Cidadania e Cultura e as noções de Sociedade e Trabalho, deverá considerar as diversas formas de relações de poder presentes em nossa sociedade. Em resumo, o ensino da História no Brasil passou por várias transformações, que acompanharam, muitas vezes, as mudanças ocorridas na organização e nas propostas educacionais brasileiras. Segundo Maria Auxiliadora Schmidt (2004), podem-se apontar três fases características desse ensino: A fase tradicional; A fase do predomínio dos Estudos Sociais; A fase do ensino da História. 1.4.1 As transformações do ensino da História no Brasil Visão das ciências: ensino tradicional: preocupaçãocom o estudo dos fatos, neutralidade do historiador e da explicação histórica; ênfase na história dos fatos políticos e na criação de heróis; ciência que estuda exclusivamente o passado. ensino de estudos sociais: interdisciplinaridade das ciências sociais (história, geografia, antropologia, sociologia); estudo das sociedades no trancorrer do tempo como objeto de ensino. ensino de História (atualidade): História de homens; inclusão de novas contribuições historiográficas (história cultural, econômica e social); Inclusão de novos temas como a História regional, de mulheres e crianças, movimentos sociais; análise do fato histórico. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 20 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 Função do ensino: ensino tradicional: estudo das origens, da genealogia das nações; objetivo de formar o cidadão para a pátria e construir identidades nacionais; estudos dos legados das civilizações europeias. ensino de estudos sociais: integração do educando com um meio cada vez mais amplo; estudo da história do presente, evitando o estudo do passado pelo passado. ensino de História (atualidade): contribuição para construção da cidadania; desenvolvimento de raciocínios historicamente corretos; aquisição de analise passado-presente. Relação professor X aluno: ensino tradicional: professor como transmissor do saber histórico e verdadeiro, pronto e acabado; aluno como receptor passivo do conhecimento histórico. ensino de estudos sociais: aluno como centro do ensino; professor como facilitador da aprendizagem. ensino de História (atualidade): importância do domínio do conteúdo específico pelo professor, que deve ser comprometido com o aluno e mediador entre este e o conhecimento histórico. Conteúdo: ensino tradicional: organização de forma linear; conteúdos selecionados com base em visões “oficiais” da História. ensino de estudos sociais: fragilização do conteúdo específico de História; livros didáticos onde haviam predominância de ilustrações. ensino de História (atualidade): recuperação da historicidade do conhecimento histórico; conteúdo histórico como produto do saber- fazer específico. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 21 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 1.5 ENSINO DE HISTÓRIA NOS CURRÍCULOS ATUAIS Auxiliar os jovens a construírem o sentido do estudo da História constitui-se, pois, num desafio que requer ações educativas articuladas. Trata-se de lhes oferecer um contraponto que permita ressignificar suas experiências no contexto e na duração histórica da qual fazem parte e, também, apresentar os instrumentos cognitivos que os auxiliem a transformar os acontecimentos contemporâneos e aqueles do passado em problemas históricos a serem estudados e investigados. 1.5.1 A perspectiva crítica do currículo Em sentido lato, o estudo na área do currículo não avançou muito além dos pressupostos e paradigmas clássicos existentes há algumas décadas. Há uma aceitação passiva das posturas que em grande medida desconsideram a complexidade do estudo do currículo e que por essa razão não têm realmente contribuído para mudar as perspectivas básicas. A análise marxista elaborada, a partir da década de 70, por estudiosos ligados à área de sociologia da educação, possibilitou, através da dialética, novos estudos sobre o currículo, o que representou uma tentativa de construir um novo modelo de elaboração curricular (HORN & GERMINARI, 2009, p. 15). As transformações do ensino de História podem ser identificadas mediante a análise de várias propostas curriculares elaboradas a partir de 1980 pelos Estados, Municípios e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, produzidos pelo poder federal na segunda metade da década de 90. Nos últimos dez anos têm surgido uma variedade de propostas que almejam proporcionar o ensino de História mais significativo para a geração do mundo tecnológico, com seus ritmos diversos de apreensão do presente e seu intenso consumismo, o qual desenvolve, no público escolar, expectativas utilitárias muito acentuadas. (BITTENCOURT, 2004). Circe Bittencourt (2004) ainda afirma que as propostas curriculares inserem-se em um momento importante do ensino de História, entretanto ela ressalta a importância de analisar o rigor metodológico para as novas propostas dos currículos para podermos perceber efetivamente se está ocorrendo o processo de mudanças. Há propostas de mudanças que precisam ser identificadas, contudo devemos verificar as tradições escolares que permanecem e as várias interpretações dadas aos antigos conteúdos e métodos. Os currículos não somente deveriam inquietar o professor, mas deveriam também dar pistas de para onde o novo mundo e a nova escola estão a caminhar. Daí a necessidade desta - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 22 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 nova proposta ser simples e objetiva, possível, mas instigante, viável, mas que caiba a utopia da construção de uma nova sociedade: que passa pela escola, não se resume nela, mas não prescinde dela. E, portanto, de cada um de nós. As discordâncias começam quando se analisa o papel político desses currículos e das escolas organizadas a partir deles. De acordo com Palma Filho (1989), em cuja gestão iniciou-se o projeto de reforma curricular da História: o currículo não pode ser separado do social, deve ser historicamente situado e culturalmente determinado; o currículo é um ato inevitavelmente político, que objetiva a emancipação das camadas populares. A escola onde se aplicaria tal currículo era vista: (...) como um espaço de luta, de contradição, e nesse sentido, do ponto de vista político acaba por transmitir uma mensagem otimista, de esperança. Para Palma Filho (1989), a escola era uma instituição política, capaz de promover mudanças estruturais na sociedade e nesse sentido, um dos espaços em que o indivíduo exerce seu direito à cidadania. Não faz sentido, por outro lado, atribuir à escola o papel de agência conscientizadora do povo a respeito de seus direitos e do seu potencial de ação política, como foi postulado por vários pedagogos nos últimos dez anos. (...) É necessário reconhecer que a escola é uma instituição cujo objetivo fundamental é a socialização dos conhecimentos acumulados. Não há como negar que o papel inerente à escola seja a transmissão do saber sistematizado - formação cultural como instrumento de inserção social dos indivíduos enquanto cidadãos. É esta a sua função possível e indispensável (MARTINS, 1998). A escola não é capaz de desenvolver a consciência política necessária para que o cidadão consiga exercer de fato a sua cidadania. Ao contrário da perspectiva libertária proclamada por Palma Filho (1989), a escola possui poderes bastante limitados, cabendo a ela instrumentalizar o cidadão para sua adequação à sociedade. O Currículo de História tem se revelado um projeto pedagógico de suma importância na formação de professores e pesquisadores. Ao não dissociar ambas habilidades, o currículo tem - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 23 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 trazido à luz uma nova geração capaz de operar comos conhecimentos, métodos e teorias da história nos diversos níveis de atuação. A operacionalização do Currículo exige da coordenação o domínio de sua filosofia. O interessante equilíbrio entre a relação coordenação, e os corpos discente e docente concretiza o dinamismo do próprio currículo. 1.5.2 Competências e habilidades essenciais Ensinar História é ensinar a fazer História. É impossível ensinar História sem o domínio suficiente de como se dá a produção histórica. Ensinar não se perfaz com transmitir conhecimentos, muito menos informação. Nem é o professor mero revendedor de mercadoria disponível no estoque do curso, ou simples executante de um programa de distribuição (facilitada por técnicas didáticas) de noções consolidadas pelo uso. Ao contrário, a reconstrução do próprio processo de pesquisa deve participar, de uma forma ou outra, do processo pedagógico. Já se vê que esta perspectiva permite resolver também a falsa dicotomia de objetivos de um curso de História, indeciso entre a formação do pesquisador e do professor: as diferenças existem, é claro, mas são de grau, contexto e organização prática do trabalho, não de natureza (MENEZES, 1984). Diríamos mesmo que a filosofia de curso implicada nesta passagem que reproduzimos é a única forma consequente de defender a união indissolúvel do ensino e da pesquisa na escola — ponto de unanimidade das associações de todos os segmentos da comunidade universitária. Se tomarmos a educação como seleção e organização de conhecimento disponível em determinado período e o currículo como uma totalidade de experiências organizadas com o fim de possibilitar acesso a tais conhecimentos, verificamos que a asserção acima indica o caminho que necessita ser percorrido. Os currículos escolares têm sido objeto de muitas análises que situam seus significados sociopolíticos. Essa dimensão precisa ser considerada para determinar o caminho da educação escolar e de cada disciplina a fim de atender a configuração de um conhecimento próprio da sociedade contemporânea. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 24 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 As reformulações curriculares nos anos 90 advêm da nova configuração mundial e dos modelos econômicos vigentes. Esta lógica cria novas formas de submissão ao mundo capitalista. Conforme Circe Bittencourt (2004), existe a lógica de privatização, do lucro, da tecnologia, lógica essa que submete as políticas e procura impor suas metas a todos os países. À sociedade, cabe a difícil tarefa de ser educada para competir e viver de acordo com a lógica do mercado, que exige domínios mais amplos do conhecimento. Sendo assim, nos países emergentes caracterizados pelas desigualdades, é necessário objetivos específicos segundo a lei do mercado. O público escolar existente em tais condições é heterogêneo e para ser atendido em nível aceitável de escolaridade, além de investimentos consideráveis do setor o governamental necessita de currículos flexíveis para se adequar as circunstâncias e diversidades. As contradições nas reformulações curriculares diante de tamanha diversidade se tornaram inevitáveis, apesar da tendência de homogeneização da sociedade globalizada. Desta forma, Circe Bittencourt (2004) afirma que, no Brasil, as reformulações curriculares iniciadas no processo de redemocratização da década de 80 pautaram-se pelo atendimento às camadas populares com enfoques voltados para uma formação política que pressupunha fortalecimento da participação de todos os setores sociais no processo democrático. Juntamente com tais propósitos, introduziram-se diversas propostas que estavam sendo elaboradas, também os projetos vinculados aos das políticas liberais, voltadas para os interesses internacionais. Como parte da política do governo federal, alinhado ao modelo liberal, o MEC comprometeu-se a realizar total reformulação curricular, que abarcasse todos os níveis de escolarização, do infantil ao superior, para atender aos novos pressupostos educacionais. De acordo com Circe Bittencourt (2004), para os currículos do Ensino Fundamental e Médio foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), sob uma orientação internacional oriunda de pressupostos da psicologia de aprendizagem piagetiana. Vale ressaltar que essa tendência psicologista dos currículos não é nova, mas foi redimensionada sob novas perspectivas, prevalecendo as interpretações de alguns educadores, notadamente a do espanhol César Coll daquela que se denomina construtivismo. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 25 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 Essa linha de orientação para os currículos norteou as relações dos países ibéricos e da América Latina, especialmente a do Mercosul. 1.5.3 Seleção e organização dos conteúdos As propostas curriculares recentes têm demonstrado centrar-se na relação ensino e aprendizagem e não mais exclusivamente no ensino como antigamente. Estudos recentes assinalam as diferentes formas de produção dos currículos e os diferentes sujeitos que executam as tarefas sendo possível distinguir o conjunto de elementos que deles participam e os integram desde a sua elaboração enquanto documento oficial até a efetivação dos professores e alunos na sala de aula. É dever da escola, e direito dos alunos do ensino fundamental e médio, oferecer e trabalhar os conjuntos de conhecimentos que foram socialmente elaborados e que os estudiosos consideram necessários para o exercício da cidadania. No entanto, as dificuldades acentuam-se quando se trata de explicitar o que está sendo entendido como necessário, como aquilo que é comum a todos os alunos brasileiros (BEZERRA, 2009) Holien Bezerra (2009) afirma que já é consenso que a escola não tem por finalidade apenas transmitir conhecimentos. E segundo o autor, passa a ser consenso também, entre os profissionais da História, ainda que com menor intensidade, que os conteúdos a serem trabalhados em qualquer dos níveis de ensino/pesquisa (básico, médio, superior, pós-graduado) não é todo o conhecimento socialmente acumulado e criticamente transmitido a respeito da trajetória da humanidade. “Forçosamente, devem ser feitas escolhas e seleções” (BEZERRA, 2009, p. 38). Por outro lado, em vista da diversidade dos enfoques teórico-metodológicos que foram sendo construídos, especialmente nas últimas décadas, não é possível pensar em uma metodologia única para a pesquisa e para a exposição dos resultados, nem mesmo para a prática pedagógica do ensino de História. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 26 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 2. FATO HISTÓRICO E CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS A historiografia do século XIX, cuja referência principal era o documento escrito divulgou a concepção de que o documento falava por si só e, ao historiador, cabia tão somente a compilação e organização dos fatos documentais. Nesse sentido, ao professor cabia apenas transmitir fatos e conhecimentos produzidos pelos historiadores. No século XX, expandiu-se a ideia de que caberia ao historiador a responsabilidade pelo conhecimento sobre o passado; e, aos professores, a mediação desses conhecimentos, levando em consideração os alunos e a localidade onde estão inseridos, sempre de forma crítica (CHESNEAUX, 1995). Os fatos históricos são cognoscíveis cientificamente, mas essa exigência deve levar em conta seus caracteresespecíficos. Por um lado, segundo Jean Chesneaux (1995) os fatos históricos são contraditórios como o próprio decorrer da história; eles são percebidos diferentemente (porque ocultados) segundo o tempo, o lugar, a classe, a ideologia. Por outro, escapam à experimentação direta por sua natureza passada; são susceptíveis apenas de aproximações progressivas, sempre mais próximas do real, nunca acabadas nem completas. Segundo os PCN´S (1997) os fatos históricos podem ser traduzidos, por exemplo, como sendo aqueles relacionados aos eventos políticos, às festas cívicas e às ações de heróis nacionais, fatos esses apresentados de modo isolado do contexto histórico em que viveram os personagens e dos movimentos de que participaram. Em uma outra concepção de ensino, os fatos históricos podem ser entendidos como ações humanas significativas, escolhidas por professores e alunos, para análises de determinados momentos históricos. Podem ser eventos que pertencem ao passado mais próximo ou distante, de caráter material ou mental, que destaquem mudanças ou permanências ocorridas na vida coletiva. Assim, por exemplo, dependendo das escolhas didáticas, podem se constituir em fatos históricos as ações realizadas pelos homens e pelas coletividades que envolvem diferentes níveis da vida em sociedade: criações artísticas, ritos religiosos, técnicas de produção, formas de desenho, atos de governantes, comportamentos de crianças ou mulheres, independências políticas de povos (PCN´s, 1997). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 27 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 2.1 A CONSTRUÇÃO DO FATO HISTÓRICO Atualmente, a preocupação com a importância do conhecimento histórico na formação intelectual do aluno faz com que um dos objetivos fundamentais do ensino seja o de desenvolver a compreensão histórica da realidade social (SCHIMDT, 2004). Assim, compreender a história com base nos procedimentos históricos tornou-se um dos principais desafios enfrentados pelo professor no cotidiano na sala de aula. Esse desafio é um passo interessante na construção de uma prática de ensino reflexiva e dinâmica, podendo-se afirmar que ensinar História é fazer o aluno compreender e explicar, historicamente, a realidade em que vive. Para Holien Bezerra (2009), a História busca explicar tanto as uniformidades e as regularidades das formações sociais quanto as rupturas e diferenças que se constituem no embate das ações humanas, isso além da descrição factual e linear. Na verdade, o passado humano não é uma agregação de ações separadas, mas um conjunto de comportamentos intimamente interligados, que têm uma razão de ser, ainda que na maioria das vezes imperceptível para nossos olhos. O processo histórico constitui-se dessas práticas, ordenadas e estruturadas de maneiras racionais. São os problemas colocados constantemente na indeterminação do social que fazem com que os homens se definam pelos caminhos possíveis e desenhem os acontecimentos que passam a ser registrados. Os registros ou as evidências da luta dos agentes históricos são o ponto de partida para entendermos os processos históricos. Deve-se ressaltar, igualmente, que o conceito de processo histórico supõe que sua enunciação resulta de uma construção cognitiva dos estudiosos. No entanto, embora os processos não existissem exatamente como estão sendo descritos, eles têm uma sedimentação na realidade social. Pode-se dizer que o status ontológico do passado garante a compreensibilidade do processo (BEZERRA, 2009). A dimensão de elaboração, de construção cognitiva, nos leva a entender a possibilidade de posicionamentos teóricos e metodológicos diferenciados. Destarte, conceber a História como processo busca aprimorar o exercício da problematização da vida social, como ponto de partida para a investigação produtiva e criativa, buscando identificar as relações sociais de grupos locais, regionais, nacionais e de outros povos; perceber as diferenças e semelhanças, os conflitos/contradições e as solidariedades, igualdades e - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 28 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 desigualdades existentes nas sociedades; comparar problemáticas atuais e de outros momentos, posicionar-se de forma crítica no seu presente e buscar relações possíveis com o passado (BEZERRA, 2009). Nesse quadro conceitual de processo, conforme Holien Bezerra (2009, p. 44), “se dimensiona a compreensão do conceito de ‘fato histórico’, de ‘acontecimento’, que têm sua importância como ponto referencial das relações sociais, no cotidiano da História”; mas, o sentido pleno dos acontecimentos, afirma o autor, em sua dimensão micro, se resolve quando remetido aos processos que lhes emprestam as possibilidades explicativas. Enfim, “o fato histórico toma sentido se considerado como constitutivo dos processos históricos, e nessa escala deve ser considerado” (BEZERRA, 2009, p. 44). 2.2 - TENDÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS E A SALA DE AULA A questão da teoria no ambiente escolar do ensino básico é comumente tratada com estranheza pelos professores que, de maneira geral, entendem ser este ambiente “impróprio” para reflexões teóricas. “Eu não gosto de teoria”; “teoria é muito difícil de ensinar para os alunos de primeiro grau”; “a teoria é algo que vai se expressar naturalmente dentro do conteúdo das minhas aulas, de maneira livre, sem que eu precise me preocupar com isso especificamente”, são respostas bastante comuns às indagações referentes ao tema (KARNAL, 2009). A concepção de História é que vai determinar a seleção de conteúdos. Neste sentido, é imprescindível conhecer as tendências historiográficas. Depende delas a produção dos historiadores e o conhecimento histórico produzido de maneira que se tornem acontecimentos inteligíveis de acordo com determinados princípios e conceitos. Assim sendo, pontuar os referenciais teóricos no processo de seleção de conteúdos escolares não é algo neutro, mas é uma necessidade para o trabalho docente que permanentemente se realiza na escola. Conhecer e acompanhar as principais tendências de produção historiográfica não é apenas uma questão de teoria, porque é uma necessidade prática que devemos assegurar como critério indispensável para uma aprendizagem efetiva e coerente. Circe Bittencourt (2004) apresenta quatro tendências historiográficas e sua produção escolar: - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 29 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 História e Narrativa Essa tendência historiográfica pode ser concebida como uma narrativa de fatos passados, ordenados cronologicamente e narrados sem nenhuma intervenção do professor. Neste sentido, conhecer o passado dos homens é, por princípio, uma definição de História e, aos historiadores cabe recolher, por intermédio de uma variedade de documentos, os fatos importantes para organizá-los cronologicamente. Tal tendência constitui-se no século XIX e está relacionada ao historiador prussiano Leopold Von Ranke que exerceu um papel importante na configuração dos aportes teóricos e no caráter científico da História. Segundo Circe Bittencourt (2004), Ranke baseava-se no pressuposto da singularidade dos acontecimentos históricos. Cada fato histórico é único e sem possibilidade de repetição, devendo a reconstrução de um passado ter como base a objetividade, para ser história verdadeira. Também como historicismo cujametodologia conhecida como positivista por basear-se nos princípios da objetividade da neutralidade do trabalho do historiador. De uma História Econômica a uma História Social No decorrer do século XX, a produção historiográfica passou a disputar espaço com as novas ciências sociais que se constituíam na busca da compreensão da sociedade, especialmente a Sociologia, a Antropologia e a Economia. Como consequência dessa disputa, houve uma renovação na produção historiográfica com paradigmas que visavam ultrapassar o historicismo. O historiador Ciro Flamarion Cardoso (2005), ao sintetizar as tendências desse percurso historiográfico, identifica duas filiações básicas entre os anos de 1950 e 1968: A Escola dos Annales e o Marxismo. A Escola dos Annales, inaugurada por Marc Bloch e Lucien Febvre, centrou-se na produção da História-problema para fornecer respostas às demandas surgidas no tempo presente (CARDOSO, 2005) O paradigma marxista, segundo Flamarion Cardoso (2005) desenvolvido paralelamente ao grupo dos Annales, tem como princípio o caráter científico do conhecimento histórico e o - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 30 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 enfoque de sua análise é a estrutura e a dinâmica das sociedades humanas. As estruturas presentes na análise marxista têm como finalidade orientar a práxis social. Apesar das diferenças entre os marxistas e os adeptos dos Annales, Ciro Flamarion Cardoso (2005) pontua aproximações entre os dois grupos: abandono da História centrada em fatos isolados; tendência para análise de fatos coletivos e sociais; ambição em formular uma síntese histórica global e social; História entendida como ciência do passado e ciência do presente, simultaneamente; Consciência da pluralidade da temporalidade — tempo do conhecimento, da conjuntura e da longa duração ou da estrutura. História Cultural Conjuntamente com as duas correntes, a marxista e a nova História, no decorrer dos anos 80 do século XX, muitos historiadores aproximaram-se dos sujeitos e objetos de investigação da antropologia. Diante dessa aproximação, sedimentou-se uma História Cultural que atualmente procura vincular a micro história da macro história e tem sido conhecida como nova História Cultural. As representações sociais dão unidade a todas as manifestações da vida, quer individual, quer social. Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as formas de organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas, etc. “Assim, o estudo das identidades sociais, no âmbito das representações culturais, adquire significado e importância para a caracterização de grupos sociais e de povos”. (BEZERRA, 2009, p. 46). Essa concepção de História que visa articular macro e micro história é também um desafio para o ensino de História, pois se fundamentam em algumas propostas curriculares e delas dependem a seleção de conteúdos históricos escolares. História do Tempo Presente ou Presente como História Muitos historiadores têm se dedicado à História mais recente, denominada de História contemporânea ou História do tempo presente. São intensos os debates acerca dos pressupostos de uma apreensão objetiva dos fatos vividos no calor do momento de um presente que envolve - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 31 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 emocionalmente que o analisa e que constitui por esta razão uma História descartada por muitos historiadores. Segundo Circe Bittencourt (2004), os defensores desta abordagem tem como ponto culminante a política, ou seja, a necessidade de refazer uma História Política realizada por distintas correntes historiográficas anteriores. Cabe ressaltar que o domínio conceitual da História do Presente tem como finalidade libertar o aluno do tempo presente, algo que parece paradoxal. Contudo, essa contradição ocorre porque o domínio de uma História do Presente fornece conteúdos e métodos de análise do que está acontecendo e as ferramentas intelectuais que possibilitam os alunos a compreensão dos fatos cotidianos, além de situar os acontecimentos em um tempo histórico. 2.3 HISTORICIDADE DOS CONCEITOS “Os conceitos históricos somente podem ser entendidos na sua historicidade”. (BEZERRA, 2009, p. 46). A afirmação do autor quer dizer que os conceitos criados para explicar certas realidades históricas têm seu significado voltado para essas realidades, não sendo possível empregá-los indistintamente para toda e qualquer situação semelhante. Dessa forma, os conceitos, quando tomados em sua acepção mais ampla, não podem ser utilizados como modelos, mas apenas como indicadores de expectativas analíticas. Ajudam-se e facilitam o trabalho a ser realizado no processo de conhecimento, na indagação das fontes e na compreensão de realidades históricas específicas. Registre-se que é possível distinguir os conceitos, na escala de sua compreensão, entre aqueles que são mais abrangentes e os que se referem a realidades mais especificamente determinadas. Para Holien Bezerra (2009), quando o conceito tem uma compreensão geral, que se aplica a realidades histórico-sociais semelhantes, pode receber a denominação de “categoria”. Por exemplo, a categoria trabalho, homem, continente, revolução etc. Nesse sentido, os conceitos ou categorias são abertos, são vetores à espera de concretizações com base na elaboração de conhecimentos específicos, de acordo com os procedimentos próprios da disciplina História. No momento em que se atribui a essas categorias as determinações históricas e suas especificidades, como trabalho assalariado, trabalho servil, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 32 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 trabalho escravo, por exemplo, já estamos lidando com os conceitos que, por sua vez, poderão receber ainda mais especificações, como trabalho servil na Germânia, na Francônia, e assim por diante; a revolução socialista, a revolução industrial etc. Não há uma “democracia” considerada em sua essência, mas democracias: na Grécia, no século XIX, a democracia liberal, a socialista, a atual brasileira etc. Seriam, então, os conceitos propriamente ditos, considerados como representações de um objeto ou fenômeno histórico, por meio de suas características (BEZERRA, 2009). 2.4 TEMPORALIDADES HISTÓRICAS A dimensão da temporalidade é considerada uma das categorias centrais do conhecimento histórico. Não se trata de insistir nas definições dos diversos significados de tempo, mas de levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da História e ter claro sua importância nas formas de organização social e seus conflitos. Sendo um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Daí a necessidade de relativizar as diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas; de situar os acontecimentos históricos nos seus respectivos tempos (BEZERRA, 2009). Pode-se admitir, como alguns historiadores, que tempo é uma categoria mental que não é natural, nem espontânea, nem universal. Levar em consideração essas características de tempo significa entender suas consequências para o trabalho do historiador e para o ensino da História. A temporalidade é um tema importante, pois
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