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Uma aplicação da IFRS IAS 37 – CPC 25: provisões, passivos contingentes e ativos contingentes na Marisa lojas S.A. - Ana Letícia Santana Beatriz Rodrigues da Silva Helena Lívia Paixão Rocha Karyna Cristina Lima Santos Centro Universitário Carioca Pós-graduação em Controladoria e Tributos - Douglas Bastos Rodrigues Centro Universitário Carioca Prof. Me. RESUMO Este estudo tem por objetivo principal verificar a aplicabilidade do pronunciamento técnico contábil 25 - provisão, passivo contingente e ativo contingente (CPC 25) que é o foco central desta pesquisa, pela empresa de moda feminina e lingerie Marisa loja S.A. Será analisado se a empresa vem divulgando corretamente suas provisões em notas explicativas, conforme estabelecido pela norma, para alcançar a meta proposta, foi elaborada uma pesquisa qualitativa de cunho descritiva e com procedimento documental. Os dados e informações fornecidos pela empresa em suas notas explicativas, referentes ao balanço patrimonial apresentado na demonstração financeira da companhia nos três primeiros trimestres do ano de 2020, disponibilizados no site B3 foram analisados e criticados. O resultado obtido com esse trabalho, indica que a companhia está seguindo as normas do pronunciamento quanto às provisões. As análises apresentadas detalham os apontamentos, ações e procedimentos adotados pela companhia que levam a esta conclusão. Palavras-chave: Provisão. CPC 25. Notas explicativas. ABSTRACT The main objective of this study is to verify the applicability of technical accounting pronouncement 25 - provision, contingent liabilities and contingent assets (CPC 25), which is the central focus of this research, by the women's fashion and lingerie company Marisa loja SA It will be analyzed if the company comes properly disclosing its provisions in explanatory notes, as established by the standard, to achieve the proposed goal, a qualitative research of a descriptive nature and with documentary procedure was prepared. The data and information provided by the company in its explanatory notes, referring to the balance sheet presented in the financial statement of the company in the first three quarters of the year 2020, made available on the B3 website were disclosed and criticized. The result published with this work, indicates that the company is following the rules of the pronouncement regarding provisions. The analyzes detail the notes, actions and procedures adopted by the company that lead to this conclusion. Keywords: Provision. CPC 25. Explanatory notes. 1 INTRODUÇÃO Numa economia cada vez mais globalizada, com uma ascendente participação de variados investidores de todo o mundo no mercado financeiro e acrescentado ainda a esses dois fatos as diferenças políticas, econômicas e sociais de cada população, as demonstrações contábeis fundamentadas nos princípios, normas, procedimentos ou padrões contábeis próprios, acabaram se tornando inapropriadas para a prestação de informações financeiras úteis aos usuários a nível global, no que diz respeito à sua compreensão (GRECO, 2008). Nesse sentido, ficou clara uma necessidade mundial de informações padronizadas para análise de investimentos. No Brasil, a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 2005 foi o pontapé inicial para o processo de convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade (IFRS). O CPC trabalha constantemente com o intuito de adequar as IFRS para a realidade do Brasil e das empresas que operam no país, considerando as características locais e as operações comerciais. Essa harmonização tem o objetivo de proporcionar maior facilidade de entendimento e possibilitar comparação de demonstrações e documentos das entidades por seus stakeholders. Além disso, tal ato facilita a transparência dos dados empresariais e uma melhor integração do Brasil ao mercado internacional de capitais. Dentre os diversos CPC, essa pesquisa tratará do 25 que é correlacionado com a Norma Internacional de Contabilidade IAS 37 e versa sobre provisões, passivo contingente e ativo contingente. Esse pronunciamento tem o propósito de determinar critérios de reconhecimento e bases de mensuração cabíveis a provisões, contingências passivas e ativas, assim como estipular regras para que sejam divulgadas informações necessárias nas notas explicativas às demonstrações contábeis, a fim de possibilitar o entendimento de sua natureza, oportunidade e valor por parte dos usuários. Este artigo irá focar especificamente sobre esse último ponto: as regras para que sejam apresentadas informações suficientes nas notas explicativas às demonstrações contábeis. Essa escolha se justifica pelo fato de ser de grande importância que o usuário consiga compreender de forma clara e objetiva a natureza, oportunidade e o valor dos dados divulgados. Que a adoção das IFRS é um marco importante para a contabilidade nacional, é indiscutível, a questão que fica é se as empresas seguem de maneira efetiva o que é estipulado pelas normas. Nesse contexto, fica a seguinte questão: as empresas vêm divulgando corretamente, em notas explicativas, suas provisões diante dos critérios definidos pelo CPC 25 - IAS 37? Para responder à questão proposta, foi escolhida uma empresa para análise, a Marisa Lojas S.A., que é uma das maiores redes de moda feminina e de lingerie do país. O objetivo deste estudo é poder verificar a adoção correta ou não do critério do CPC 25 quanto à divulgação de informações em notas explicativas das demonstrações financeiras da companhia e para tal foi feita a verificação de seus três trimestres de 2020. Ao final, são apresentados os resultados da pesquisa e as práticas adotadas pela companhia sobre a adoção de divulgação de informações acerca das provisões e dos ativos e passivos contingentes. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 PROVISÕES, PASSIVO CONTINGENTE E ATIVO CONTINGENTE - CONCEITOS Tendo em vista que o foco deste artigo é o pronunciamento técnico 25 que trata de provisões, passivo contingente e ativo contingente, é importante revisar alguns conceitos fundamentais estabelecidos pelo CPC 00 para elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, tal como a definição de passivo e ativo. De acordo com CPC 00 (R2) (2019), passivo é definido como “uma obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados". Entende-se como evento o que gera uma obrigação, que pode ser legal ou não formalizada, que faz com que a entidade não tenha nenhuma opção realista senão quitar essa obrigação. Compreende-se como obrigação legal, aquela que é derivada de contrato, legislação ou outra ação da lei. Já a obrigação não formalizada deriva das ações da entidade em que por meio de padrão estabelecido de práticas anteriores, de políticas divulgadas ou de declaração recente suficientemente específica, a entidade tenha sinalizado a outras partes que arcará com certas responsabilidades e em consequência, ela gera uma expectativa válida para com essas outras partes de que cumprirá com essas responsabilidades (CPC 25, 2009). Iudicibus et al. (2013) acrescenta que as obrigações originadas de fatos geradores futuros não são reconhecidas contabilmente. Já em relação ao conceito de ativo, segundo o CPC 00 (R2) (2019), ele é “um recurso econômico presente controlado pela entidade como resultado de eventos passados”. Entende- se como recurso econômico um direito que tem capacidade suficiente para gerar benefícios econômicos. Oliveira e da Luz (2012, p.49) acrescentam ainda que “é o ativo que vai determinar a estrutura e o potencial que a empresa tem para atender a uma demanda do mercado e aproveitar oportunidades”. O pronunciamento técnico 25, foco deste artigo, versa sobre provisão, ativocontingente e passivo contingente e da à definição de cada um deles. Nesse sentido, é importante entender primeiro que contingências, de forma ampla, significam possibilidades. Segundo Oliveira e Da Luz (2012, p. 49) elas “são eventos de ocorrência possível que devem ser observados e que não estão sob controle total da entidade, ou seja, dependem de fatores externos, futuros e incertos”. O Portal de Contabilidade (2011) considera que as contingências são: [...] condições ou evento cujo resultado final, favorável ou desfavorável, depende de comportamentos futuros e incertos. Contabilmente, essa definição se restringe às situações existentes à data das demonstrações e informações contábeis, cujo efeito financeiro será determinado por eventos futuros que possam ocorrer ou deixar de ocorrer. Sendo assim, sobre o ativo contingente, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2010, p. 337) afirmam que “os ativos contingentes surgem da possibilidade de entrada de benefícios econômicos futuros para a entidade de eventos não esperados ou não planejados”. O CPC 25, define como sendo aquele que é proveniente de eventos passados no qual a existência será confirmada somente pela ocorrência ou não de uma ou mais eventos futuros não planejados ou não esperados, sendo assim não totalmente sob controle da entidade. Um exemplo para ilustrar essa situação seria a reivindicação que uma determina empresa esteja fazendo por meio de processos legais, no qual o desfecho seja incerto, tendo em vista que depende de fatores externos a ela e a sua vontade. Oliveira e Da Luz (2012), ressaltam que não é permitido reconhecer os referidos ativos nas demonstrações contábeis até que os ganhos atrelados a eles apresentem concretização praticamente certa. E essa certeza é suficiente para afastar a característica de contingência de um elemento ativo. Passivo Contingente é conceituado pelo CPC 25 (2009, p.04) como: Uma obrigação possível que resulta de eventos passados e cuja existência será confirmada apenas pela ocorrência ou não de um ou mais eventos futuros incertos não totalmente sob controle da entidade; ou (b) uma obrigação presente que resulta de eventos passados, mas que não é reconhecida porque: (i) não é provável que uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos seja exigida para liquidar a obrigação; ou (ii) o valor da obrigação não pode ser mensurado com suficiente confiabilidade. Sendo assim, segundo consta no pronunciamento, uma das formas para a sua concretização é dependente do fato de ocorrência ou não um ou diversos eventos futuros, nos quais independe da vontade ou influencia da entidade. Tais eventos podem culminar em ganhos ou perdas para ela e não está totalmente sob o seu controle. Quanto à provisão, ela é "um passivo de prazo ou de valor incertos" (CPC 25, 2009). Devido a essa falta de certeza sobre prazo ou valor do dispêndio futuro necessário para a sua quitação, as provisões podem se distinguir de outros passivos, como por exemplo: contas a pagar e passivos advindos de apropriações por competência. O referido pronunciamento caracteriza ainda o passivo e a provisão, sendo o primeiro caracterizado como obrigações presentes de provável desembolso que resultem em benefícios futuros e o segundo por ser uma obrigação presente, proveniente de evento passado, sendo uma provável saída de recursos, que seja exigida da entidade a transferência de benefícios econômicos para sua liquidação e que o valor da obrigação possa estimado de maneira confiável (CPC 25, 2009). 2.2 RECONHECIMENTO E DIVULGAÇÃO O CPC 25 é a principal norma contábil brasileira que aborda sobre os ganhos contingentes, ela também trata dos requisitos de apresentação dessas contingências nas demonstrações financeiras das entidades. Como ressaltado em seu objetivo, a saber: O objetivo deste Pronunciamento Técnico é estabelecer que sejam aplicados critérios de reconhecimento e bases de mensuração apropriados a provisões e a passivos e ativos contingentes e que seja divulgada informação suficiente nas notas explicativas para permitir que os usuários entendam a sua natureza, oportunidade e valor CPC 25 ( 2009, pág. 2). Os próximos tópicos abordarão como deve ser realizado o reconhecimento e a divulgação dos ativos contingentes, passivos contingentes e provisões, segundo as normas presentes no pronunciamento técnico 25. 2.2.1 Ativo Contingente O CPC 25 (2009) estabelece critérios para reconhecimento e mensuração das provisões, dos ativos contingentes e dos passivos contingentes. Sobre as contingências ativas, o comitê dá as seguintes orientações: 31. A entidade não deve reconhecer um ativo contingente. 32. Os ativos contingentes surgem normalmente de evento não planejado ou de outros não esperados que dão origem à possibilidade de entrada de benefícios econômicos para a entidade. Um exemplo é uma reivindicação que a entidade esteja reclamando por meio de processos legais, em que o desfecho seja incerto. 33. Os ativos contingentes não são reconhecidos nas demonstrações contábeis, uma vez que pode tratar-se de resultado que nunca venha a ser realizado. Porém, quando a realização do ganho é praticamente certa, então o ativo relacionado não é um ativo contingente e o seu reconhecimento é adequado. 34. O ativo contingente é divulgado, como exigido pelo item 89, quando for provável a entrada de benefícios econômicos. 35. Os ativos contingentes são avaliados periodicamente para garantir que os desenvolvimentos sejam apropriadamente refletidos nas demonstrações contábeis. Se for praticamente certo que ocorrerá uma entrada de benefícios econômicos, o ativo e o correspondente ganho são reconhecidos nas demonstrações contábeis do período em que ocorrer a mudança de estimativa. Se a entrada de benefícios econômicos se tornar provável, a entidade divulga o ativo contingente (ver item 89) CPC 25 ( 2009, pág. 8). Sendo assim, o comitê especifica que não se deve reconhecer um ativo contingente. Podendo apenas ser divulgado e isso só no caso de o ingresso de benefícios econômicos seja classificado como provável, mas não totalmente certo, e a sua ocorrência dependa de um evento externo que não esteja sob o controle da entidade. E sua divulgação deve ocorrer por meio de notas explicativas (OLIVEIRA; DA LUZ, 2012). Vale ressaltar que em caso que a realização do ganho é praticamente certa, o ativo relacionado não se classifica como contingente e por isso o seu reconhecimento é adequado. De maneira resumida, quando a entrada de benefícios econômicos é praticamente certa, o ativo não é considerado contingente. Agora quando essa entrada é provável, mas não totalmente certa, o ativo deve ser reconhecido e a sua divulgação é exigida. E quando não se tem uma entrada provável, o ativo não deve ser reconhecido, nem divulgado, ou seja, nada deve ser feito nesse sentido. 2.2.2 Provisão e Passivo Contingente Em situações, que geralmente é rara de acontecer, em que não é possível fazer alguma estimativa confiável, há um passivo que impossibilitado de ser reconhecido. Esse passivo é, portanto, divulgado como passivo contingente. A respeito do passivo contingente, o CPC 25 estabelece as seguintes regras de reconhecimento e divulgação: 27. A entidade não deve reconhecer um passivo contingente. 28. O passivo contingente é divulgado, como exigido pelo item 86, a menos que seja remota a possibilidade de uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos. 29. Quando a entidade for conjunta e solidariamente responsável por obrigação, a parte da obrigação que se espera que as outras partes liquidem é tratada como passivo contingente. A entidade reconhece a provisão para a parte da obrigação para a qual é provável uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos, exceto em circunstâncias extremamente raras em que nenhumaestimativa suficientemente confiável possa ser feita. 30. Os passivos contingentes podem desenvolver-se de maneira não inicialmente esperada. Por isso, são periodicamente avaliados para determinar se uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos se tornou provável. Se for provável que uma saída de benefícios econômicos futuros serão exigidos para um item previamente tratado como passivo contingente, a provisão deve ser reconhecida nas demonstrações contábeis do período no qual ocorre a mudança na estimativa da probabilidade (exceto em circunstâncias extremamente raras em que nenhuma estimativa suficientemente confiável possa ser feita) CPC 25 ( 2009, pág. 8). Nesse contexto, é correto afirmar que a norma estabelece que é vedada as entidades o reconhecimento de um passivo contingente, mas tal passivo pode ser divulgado a menos que seja remota a probabilidade de uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos. É instruída ainda a realização periódica de avaliação dos passivos contingentes para que seja determinado se uma saída de recursos que agrega benefícios econômicos passou a ser provável. Em relação à provisão, o CPC 25 (2009, pág. 5) estipula que ela só deve ser reconhecida quando: (a) a entidade tem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de evento passado; (b) seja provável que será necessária uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidar a obrigação; e (c) possa ser feita uma estimativa confiável do valor da obrigação. Caso tais condições não forem atendidas, nenhuma provisão deve ser reconhecida. O CPC esclarece também que quando for difícil notar que existe uma obrigação, é necessário avaliar, considerando toda a evidência disponível, se é mais provável que sim do que não que existe uma obrigação no balanço. Nos casos em que for mais provável que não exista uma obrigação presente na data do balanço, a entidade deve divulgar um passivo contingente (não reconhecendo o, somente divulgando em notas explicativas). Em casos quando a possibilidade de saída de recursos for considerada remota não é necessária à divulgação. De maneira esquematizada, Farias (2006) esclareceu a relação entre a probabilidade da ocorrência das contingências e o respectivo tratamento contábil a ser dado. Tabela 1 Probabilidade de ocorrência das obrigações e tratamento contábil PROBABILIDADE DEFINIÇÃO EFEITO Provável Casos em que existem chances de perdas por parte da entidade envolvida sobre fatos ocorridos até a data de encerramento das demonstrações contábeis. Os valores envolvidos deverão ser estimados e provisionados, incluindo todos os gastos, bem como eventuais recuperações esperadas, devendo, os fatos serem revelados em notas explicativas. Possíveis São as situações nas quais existe a possibilidade de perdas ocorrerem. A perda não é registrada, é apenas divulgada em nota explicativa. Remotas Referem-se a situações em que as perdas contingentes possuem as chances pequenas de ocorrerem Não há nem o registro, nem a divulgação do fato em notas explicativas. Fonte 1: Adaptado de Farias (2006) Nos casos em que a entidade considerar a obrigação um passivo contingente ela deve atentar para que, periodicamente, a obrigação seja reavaliada para determinar se a probabilidade de saída de recurso não se alterou. Segundo o CPC 25, se for provável que será exigida uma saída de benefícios futuros para um item previamente tratado como passivo contingente, a obrigação deve ser reconhecida nas demonstrações contábeis do período no qual ocorre a mudança na estimativa da probabilidade. Resumidamente, para melhor elucidação, caso se tenha uma obrigação provável, se trata de uma provisão, o que exige um reconhecimento no passivo e uma divulgação em notas explicativas. Quando se tem uma obrigação possível, trata-se de um passivo contingente e, portanto, não deve ser reconhecido no passivo, porém deve ser evidenciada em notas explicativas. E por fim, se a probabilidade de perda for remota, não se deve reconhecer e tão pouco evidenciar tal fato em nota explicativa. Quadro 1 Provisões para Contingências - tratamento contábil Demonstrações Remota Possível Provável Balanço Patrimonial Não reconhece Não reconhece Reconhece Notas Explicativas Não divulga Divulga Divulga Fonte 2: elaborado pelo autor (2021) 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com o propósito de identificar a aplicação da IFRS IAS 37 - CPC 25 quanto a divulgação em notas explicativas das provisões, passivos contingentes e ativos contingentes da empresa Marisa lojas S.A, foi necessária a realização de uma pesquisa para alcançar os dados. Para Silva (2012), pesquisas são práticas que tem como objetivo buscar entendimento em determinadas áreas de atuação, tendo como finalidade principal a descoberta de respostas para o problema por intermédio de procedimentos científicos. Quanto aos objetivos, a pesquisa é de cunho descritiva, já que tem como intenção averiguar a conexão das demonstrações da empresa estudada ao CPC 25 (2009), analisar se a mesma inclui as informações necessárias em notas explicativas quanto às suas provisões, ativos contingentes e passivos contingentes e reconhecer se as informações prestadas são relevantes e corretas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois foram examinadas as Notas Explicativas e o Balanço Patrimonial referentes ao primeiro, segundo e terceiro trimestre do ano de 2020 na empresa componente da amostra, permitindo o entendimento das particularidades do cumprimento das normas contábeis. Em relação aos procedimentos técnicos empregados, Martins e Theóphilo (2009) estabelecem como uma pesquisa documental, visto que será utilizado documentos fornecidos aos usuários da informação contábil pela companhia estudada. 4 RESULTADOS E ANÁLISES A Marisa Lojas S.A., uma empresa nacionalmente conhecida, de moda feminina e lingerie, foi à companhia escolhida para servir de base de amostra para a presente pesquisa. Foram recolhidos, compilados e transcritos para este artigo, trechos das notas explicativas disponibilizadas pela instituição em suas demonstrações financeiras, com intuito de analisar se estas estão de acordo com as normas pré-definidas como obrigatórias em relação ao pronunciamento técnico 25, a saber: Provisão para litígios e demandas judiciais Política contábil A companhia e suas controladas são partes em ações judiciais e processos administrativos em decorrência do curso normal de suas operações, envolvendo questões de natureza tributária, trabalhistas e civil em processos administrativos. As provisões decorrentes dessas ações judiciais e processos administrativos são reconhecidas quando a companhia e suas controladas possuem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de eventos passados, sendo provável a necessidade de saída de recursos financeiros para liquidar essa obrigação e o valor pode ser razoavelmente estimado na data das informações financeiras intermediárias. A avaliação da probabilidade de perda inclui a avaliação de evidências disponíveis a hierarquia das leis, as jurisprudências disponíveis, as decisões mais recentes nos tribunais e a sua relevância no ordenamento jurídico. As provisões são revisadas e ajustadas para levar em conta alterações circunstanciais tais como prazo de prescrição aplicável, não materialização, conclusões de inspeções fiscais ou exposições adicionais identificadas com base em novos assuntos ou decisões de tribunais. A provisão para riscos trabalhistas é calculada com base no histórico de perdas sobre toda a massa de processos e o valor histórico de perdas por cargo de reclamante. A administração acreditam, apoiada na opinião de seus advogados legais, que a provisão de litígios e demandas judiciais é suficientepara cobrir as perdas prováveis. Processos avaliados como perda possível Em 31 de março de 2020, a Companhia e suas controladas possuem processos tributários em andamento, cuja materialização, na avaliação dos assessores jurídicos, são avaliados como possível perda. Os valores atualizados montam R$ 548.387 na controladora e R$ 913.781 no consolidado (R$ 512.166 na controladora e R$ 37.712 no consolidado, em 31 de dezembro de 2019), os quais não foram provisionados, conforme determinam as práticas contábeis. Os principais temas estão descritos a seguir: Contribuições Previdenciárias A Companhia, possui autuação em virtude de possível divergência no pagamento das contribuições previdenciárias devidas a terceiros, incidentes sobre o programa de participação nos lucros e resultados da empresa - PLR. A discussão está na fase administrativa e o valor envolvido com a aplicação de juros e multa de mora é de R$ 29.187 (R$20.860 em 31 de dezembro de 2019). Dentro deste cenário a Companhia já possui decisão favorável, para afastar a cobrança dos valores possíveis. ICMS - Importação A Companhia possui discussões judiciais relativas ao crédito de ICMS em operação de importação, supostamente devido ao Estado de São Paulo. A Companhia visa a anulação dos débitos fiscais através de Ação Anulatória, na qual apresentou seguro garantia. O montante envolvido, considerando juros e multa de mora, equivalente a R$ 40.661 (R$ 40.356 em 31 de Dezembro de 2019) ICMS - Diversos A companhia possui diversas discussões envolvendo seus estabelecimentos em todo Brasil relacionados à antecipação tributária, supostas divergências de estoques, crédito indevido, guerra fiscal e descumprimento de obrigações acessórias, sendo que há processos nas fases administrativa e judicial. O montante envolvido, com a aplicação de juros e multa de mora, é de R$ 399.670 ( R$406.871 em 31 de Dezembro de 2019). PIS E COFINS A companhia teve um pedido de compensação de credito negado junto a Receita Federal do Brasil, referente a PIS E COFINS cujo valor atualizado monta a R$ 59.438 (R$ 58.306 em 31 de Dezembro de 2019). A decisão aguarda julgamento na esfera administrativa. IRPJ E CSLL A controlada Club Administradora de Cartões de Credito LTDA, possui algumas autuações e discussões relativas a apuração dos anos calendários de 2007 a 2012, cujo valor exigido com aplicação de juros e multa de mora é de R$ 319.853 (R$ 317.319 em 21 de Dezembro de 2019). A decisão aguarda julgamento na esfera administrativa. A companhia e suas controladas estão contestando o pagamento de certos impostos, contribuições, obrigações trabalhistas e processos cíveis e efetuaram depósitos para recursos de montantes equivalentes pendentes das decisões legais finais e depósitos em caução relacionados com os recursos sobre processos judiciais, no montante de R$ 133.418, sendo R$ 98.252 da Controladora (R$131.951 em 31 de Dezembro de 2019, sendo R$ 95.792 da Controladora). (MARISA, 2020) Observa-se então, por meio das informações mencionadas acima, que a Companhia dispõem de processos pendentes de regularização, visto que há divergência na aceitação de algumas solicitações pela Receita Federal do Brasil. Sendo assim a pesquisa descreve com clareza as informações necessárias nas notas explicativas com relação a ativos contingentes e passivos contingentes. Foram analisadas também as demonstrações dos trimestres posteriores e verificou-se que a companhia fez a avaliação periódica a fim de determinar se houve alguma mudança quanto a possibilidade de uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos se tornar provável ou remota e como a mesma se manteve como possível, continuam valendo as conclusões acima descritas. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo detectar a adoção das normas do CPC 25 quanto às provisões da empresa Marisa S.A. E respondendo a este problema, pode-se concluir que por meio das informações mencionadas ao longo do texto foram detectados processos com pendências de regularização, por conta de divergências na aceitação de algumas solicitações pela Receita Federal do Brasil. Com isso, entende-se que a pesquisa detalha claramente as informações necessárias em relação aos ativos e passivos contingentes em suas notas explicativas. O estudo se limitou nos três primeiros trimestres de 2020. Recomenda-se seja realizados estudos dos próximos trimestres, tendo em vista que o detalhamento dos dados contribui para as tomadas de decisão. 6 REFERÊNCIAS DE OLIVEIRA, Antônio Carlos Leite; DA LUZ, Érico Eleutérico. Contabilidade Societária. Curitiba: IESDE Brasil, 2012. IUDÍCIBUS, S. de, Martins, E., Gelbcke, E. R., & Santos, A. dos. (2010). Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas. COMITÊ de Pronunciamentos Contábeis - CPC, 16 de Set. 2009 Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=56>. Acesso em: 03 Dez. 2020. MARISA Lojas S.A Disponível em: < http://bvmf.bmfbovespa.com.br/cias- listadas/empresas- listadas/ResumoDemonstrativosFinanceiros.aspx?codigoCvm=22055&idioma=pt-br>. Acesso em: 03 Dez. 2020. MARISA Lojas S.A. e Controladas. Relatório sobre a Revisão das Informações Financeiras Intermediárias: 30 de junho de 2020