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1 GESTÃO DE CARREIRAS PROFESSOR JOSÉ VALDIR FULLE 2 APRESENTAÇÃO Caro aluno (a), este livro tratará sobre a gestão de carreira, abrangendo os seguintes assuntos: Introdução a gestão por competências e competência individual e organizacional. Gestão por competência e o papel da liderança. Competências essenciais e a estratégia competitiva das empresas. A relação entre a mobilização de competências e o desempenho esperado. A gestão de competências no Brasil. A gestão estratégica de pessoas, a evolução das organizações e os desafios da área de recursos humanos. Remuneração por competências e melhorando os colaboradores e a prestação de serviços a sociedade. Será uma bela caminhada. Convido você, prezado aluno (a), a conhecer tão importante matéria, sobre a gestão de carreiras Seja bem-vindo(a)! 3 Sumário UNIDADE 1 INTRODUÇÃO A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS E COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS ................................................................................................................................. 5 CAPITULO 1 A GESTÃO POR COMPETÊNCIA ........................................................................................... 6 1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 6 CAPITULO 2 COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS ......................................................... 12 2.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 12 UNIDADE 2. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS E O PAPEL DA LIDERANÇA ................................................ 19 CAPITULO 3 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS .......................................................................................... 20 3.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 20 3.2 A GESTÃO DAS COMPETÊNCIAS E O PAPEL DA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS ............................ 23 CAPITULO 4 O PAPEL DA LIDERANÇA NA GESTÃO POR COMPETÊNCIA ............................................... 24 4.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 24 UNIDADE 3 COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS E A ESTRATÉGIA COMPETITIVA DAS EMPRESAS................... 28 CAPITULO 5 COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS ............................................................................................ 29 5.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 29 CAPITULO 6 A ESTRATÉGIA COMPETITIVA DAS EMPRESAS .................................................................. 32 6.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 32 UNIDADE 4 A MOBILIZAÇÃO DE COMPETÊNCIAS, O DESEMPENHO ESPERADO E A GESTÃO NO BRASIL ............................................................................................................................................................. 37 Caro(a) Aluno(a) ................................................................................................................................... 37 CAPITULO 7. A RELAÇÃO ENTRE A MOBILIZAÇÃO DE COMPETÊNCIAS E O DESEMPENHO ESPERADO 38 7.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 38 CAPITULO 8. A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS NO BRASIL .................................................................... 41 8.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 41 8.2 A GESTÃO DE RH E A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ...................................................................... 44 UNIDADE 5 A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS, A EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES E OS DESAFIOS DA AREA DE RECURSOS HUMANOS ..................................................................................................... 47 CAPITULO 9. A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS ............................................................................. 48 9.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 48 CAPITULO 10 EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES E OS DESAFIOS DA AREA DE RH ................................ 53 10.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 53 10.2 OS DESAFIOS DA AREA DE RECURSOS HUMANOS ........................................................................ 55 UNIDADE 6 REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS E MELHORANDO OS COLABORADORES ................ 59 CAPITULO 11. REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS .......................................................................... 60 11.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 60 4 11.2 NOVOS MÉTODOS DE REMUNERAÇÃO ....................................................................................... 65 CAPITULO 12 MELHORANDO OS COLABORADORES ............................................................................ 68 12.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 68 12.2 MAPEAMENTO DAS COMPETÊNCIAS ........................................................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 81 5 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS E COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta primeira unidade, abordaremos, como parte introdutória, o estudo sobre a gestão por competências e as competências individuais e organizacionais. Bons estudos!!! Conteúdos da Unidade Faremos uma introdução sobre o estudo da gestão por competências, conhecendo seus conceitos iniciais e como foi o seu surgimento e as competências individuais e organizacionais. . Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que for estudando. 6 CAPITULO 1 A GESTÃO POR COMPETÊNCIA 1.1 INTRODUÇÃO É inegável que as mudanças ocorridas nos últimos anos, em especial, no cenário do comércio global, tem alterado, significativamente as formas de gerir as relações de trabalho, não só no campo jurídico, com as edições dos últimos diplomas legais, que inovou a relação empregado e empregador, como na área gerencial. Isto se evidencia também com a mudança de um cenário burocrático para uma modelo gerencialista, redirecionando os valores para a produtividade, tirando o foco do trabalho centralizado e passando para a eficiência e a competitividade (SILVA; MELLO, 2011). A década de 1980 foi marcada pela consolidação de um novo cenário competitivo mundial, fortemente influenciado pela globalização e pelas tecnologias de comunicação e informação. É nessa época que ocorre uma verdadeira reviravolta no mercado. A incorporação de tecnologia e de capital financeiro em mercados externos é contínua; os negócios crescem em complexidade, diversidade e incerteza, e o seu êxito depende da identificação de novas possibilidades de criação de valor. (JANINI,2003). A globalização promove a compressão do tempo e do espaço - pode-se chegar mais longe em menos tempo. Nesse cenário, as barreirasde entrada passam a ser derrubadas por alianças estratégicas e produtos e tecnologias começam a ser reproduzidos no mercado em escala nunca antes vista. Acadêmicos, gestores e consultores passam a observar que o conjunto de ativos intangíveis de uma empresa pode ser um forte determinante de seu valor de mercado, especialmente se esses ativos produzem resultados que distinguem a empresa de seus concorrentes.(JANINI,2003). 7 A empresa torna-se uma comunidade de ação que produz, coordena e transforma conhecimentos em valor econômico e é pressionada a demonstrar as seguintes capacidades, entre outras: Internacionalizar os seus negócios, atuando de forma competitiva em mercados globalizados e em novos grupamentos econômicos regionais; Implantar novos arranjos competitivos em resposta às mudanças regulatórias, ao aumento do número de alianças estratégicas e ao aumento do número de aquisições e fusões; Utilizar a nova tecnologia de informação disponível; Organizar-se de maneira mais ágil e flexível para atender às pressões por melhoria em desempenho a curto prazo; Ofertar produtos e serviços de melhor qualidade; Entender melhor as relações entre cliente e fornecedor. (JANINI,2003). A aquisição, a gestão e a multiplicação de conhecimento tornam-se fatores de distinção entre empresas e começa-se a observar que estes colaboram para o desempenho organizacional e para a geração dos resultados esperados pelos stakeholders. (JANINI,2003). A relação de trabalho na década de 80, sofre também profundas alterações. Hayes, Wheelwright e Clark (1988), em Dynamic manufacturing: creating the learning organization, já sugerem alguns pressupostos que devem nortear a nova relação de trabalho, a saber: Os recursos humanos são valiosos demais para ser perdidos ou deixados sem a atenção devida; As pessoas tomam melhores decisões e as implementam de forma mais eficiente quando trabalham juntas; Talentos criativos estão distribuídos em todos os níveis das organizações; Responsabilidade real motiva alto desempenho. 8 Na nova relação empresa-colaborador, também começa a ser repensada a expectativa de vida do profissional dentro da empresa e vê-se despontar uma nova visão em relação à gestão de carreiras.(JANINI,2003). Verifica-se, então que a definição de perfis compatíveis com o cargo leva a desenvolver um trabalho muito mais frutífero. As equipes que têm sua orientação, segundo as competências necessárias ao trabalho executado, leva a um aumento da produtividade e a maximização dos resultados, a conscientização de assumir uma responsabilidade para obter um autodesenvolvimento organizacional e pessoal, sendo essas umas das vantagens da gestão por competência. Assim, procura-se conseguir o melhor de cada colaborador. Quando um colaborador desempenha suas funções de acordo e, em conformidade, com as suas competências ele consegue enxergar a sua importância para a organização, fazendo- o sentir-se motivado.(ARAUJO,2020). Adentrando ao nosso tema, a Gestão por Competências é o modelo que identifica os conhecimentos (saber) e habilidades (fazer) fundamentais para a execução da estratégia (missão, visão e valores), definida pela Instituição e exercida por cada colaborador, e tem sido utilizada nas diversas organizações como um diferencial competitivo. Inegavelmente, contempla os processos do Desenvolvimento Humano e Institucional no que se referente à Recrutamento e Seleção, Programas de Remuneração e Carreira, Treinamento e Desenvolvimento de Equipes e Líderes, Avaliação de Desempenho, Segurança e Saúde Ocupacional, Clima Organizacional, dentre outras. .(ARAUJO,2020). Ela é exercida como base de um pilar que sustenta as demais perspectivas institucionais, uma vez que as pessoas são essenciais para a sua perpetuação. O alinhamento do colaborador a estratégia organizacional é fundamental para que ele execute suas atividades com excelência, utilizando-se de suas competências e gerando sentido para a sua atividade, uma vez que cada função desempenhada é essencial para a Instituição. (ARAUJO,2020). 9 A construção do sentido do trabalho realizada pelos colaboradores está diretamente ligada à saúde ocupacional, uma vez que gera motivação, sentimento de ser útil e de pertencer ao sistema, contribuindo efetivamente com o seu trabalho. O colaborador imerso em um ambiente de trabalho que possibilite a ele vivenciar as suas potencialidades, por meio de processos claros e que favoreçam a meritocracia, bem como, que permita o desenvolvimento de suas competências e habilidades que agreguem valor às atividades diárias, vivencia condições de trabalho mais saudáveis. (ARAUJO,2020). Cada colaborador é um agente de mudanças, que deve contribuir para o clima organizacional coletivo e para a construção de um ambiente de trabalho saudável, através do bom relacionamento diário, parcerias entre os membros Outro conceito, segundo Brandão e Guimarães (2001, p.11) “A gestão de competências deve ser vista como um processo circular, envolvendo os diversos níveis da organização, desde o corporativo até o individual, passando pelo divisional e o grupal”. Os primeiros registros do conceito de gestão por competência são datados da década de 70. Segundo Pereira (2011) as organizações começaram a se preocupar com a eficácia e não apenas com a eficiência na produção. Antes, competência no sentido amplo era para denominar uma pessoa capaz de desempenhar de modo eficiente uma determinada função. Nos anos 2000 Gramigna (2007) entendeu que por meio da Gestão por Competência a organização consegue avaliar o desempenho de seus profissionais e, a partir daí, aprimorar o desempenho da equipe, permitindo que assumam as suas responsabilidades. Também nos anos 2000, Lemes (2017) avaliou que a Gestão por Competência surgiu como forma de valorização do capital humano. O autor compreende que valorizar o profissional é o caminho para sustentar o seu resultado e, assim, tornar a organização mais competitiva, produtiva e comprometida. 10 Já no fim da década, Dutra (2008) e Carbone et al (2009) tratam a Gestão por Competência como um sistema com interesses diferentes, mas relacionados para atender aos seus propósitos individuais. Em meados de 2010 foi possível aferir que as organizações, cientes do valor do capital intelectual, passaram a procurar identificá-los para manterem seu diferencial competitivo a partir disto, conforme aponta Lapolli (2010). É grande a recorrência de discussões nos últimos anos acerca do tema competência nos meios acadêmicos e empresariais. “O conceito de competências foi estruturado na literatura acadêmica em 1973 por David McClelland” (FEVORINI; SILVA; CREPALDI, 2014). Segundo esses autores, competência é uma característica individual de uma pessoa, que faz com que ela produza com maior desempenho, sendo essa a corrente de autores norte-americanos e, uma segunda corrente francesa, onde associa a competência ao que ela produz no ambiente de trabalho, sua realização profissional e não, apenas, as qualificações individuais.(NUNES,2020). De acordo com Fleury (2001, p. 184) “Competência é uma palavra de senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa”. Continua o mesmo autor afirmando que competência é uma reserva de recursos que a pessoa tem, sendo de grande importância o relacionamento das competências individuais com as pré-estabelecidas para o cargo ocupado. Para Fevorini; Silva; Crepaldi (2014, p.130) “A visão da competência como estoque de recurso foi ampliada pela literatura francesa por meio dos estudos de Le Boterf (1994) e Zarifian (1996) que associaram o conceito de competência à ideia de agregação de valor e entrega”. Brandão; Borges-Andrade (2007) aliam competência ao desempenho dentro do contexto organizacional,pois fazem a ligação das características individuais e das estratégias organizacionais. Para eles competência está ligada ao indivíduo e ao grupo de trabalhos e ou organizações. Enquanto o ponto de vista gerencial considera as competências como habilidades, conhecimentos e atitudes, a escola psicológica considera como 11 competências, a motivação individual para se alcançar o sucesso, a realização pessoal do trabalho em equipe, o autocontrole, a liderança, dentre outros (SOUZA, 2009). Fleury (2001) menciona que a presença dos verbos de ação, denotam que competência não é apenas conhecimento, mas a prática dele. “Definimos assim competência: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY; FLEURY, 2001, p.188). As competências devem ser desenvolvidas e utilizadas no dia-a-dia, agregando valor as atividades individuais e contribuindo para o bem comum, por meio da melhoria de processos que envolvem uma ou mais áreas, bem como as relações humanas no ambiente de trabalho. Não se esqueça prezado aluno(a) que desenvolver competências e habilidades é possibilitar o melhor desempenho Institucional, por meio do desenvolvimento das pessoas. (ARAUJO,2020). 12 CAPITULO 2 COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS 2.1. INTRODUÇÃO Apresentados os conceitos de gestão por competências, abordando diversos autores, em que pese, ser ainda algo novo, vimos que as competências compreendem todo o círculo organizacional, as equipes e, não apenas, as pessoas individualmente (BRANDÃO; BAHRY, 2005). Carbone (2009) ressalta que a literatura aborda competências em diferentes classificações, destacando-se em dois níveis: individuais e organizacionais. O conceito de competência individual, também chamado de competência humana por (UBEDA; SANTOS, 2008), trata daquela pessoa inserida em determinado grupo de trabalho, por meio de sua atividade prática, implicando em sua necessidade de se adaptar às mudanças e de aprender constantemente. Para tanto, esse indivíduo deve estar pronto para tomar iniciativas e assumir responsabilidades, frente às situações vividas no seu ambiente de trabalho. A autonomia, neste caso, é indicada como a compensação da responsabilidade. Em seu estudo sobre a gestão por competências no governo federal do Brasil, Souza (2004) vai além ao indicar que no planejamento das necessidades de capacitação, gestores apostam em capacitações orientadas por competências individuais consideradas essenciais ao bom desempenho da Organização, ou seja, optaram por desenvolver pessoas a partir de suas próprias competências para atender a necessidade de conciliar seu desempenho individual com os objetivos da organização que, por sua vez, exige competência do colaborador.(ARAUJO,2020). São competências estas que vão além do cumprimento das próprias tarefas, fazendo com que a instituição fortaleça a capacidade que os colaboradores têm de aprender. Pacheco (2005), analisa que o profissional espelha o potencial individual e forma o capital intelectual das organizações. O talento do indivíduo agrega valor à 13 organização. Esse processo acontece na medida em que o profissional, enquanto indivíduo, é estimulado e, ainda, tem reconhecido o seu trabalho. Portanto, prezado aluno(a), a ideia de competência está vinculada à ação do indivíduo, isto é, à sua capacidade de mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, aprender, engajar-se, assumir responsabili9ades e ter visão estratégica. Seu objetivo deve ser agregar valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo. Por outro giro, a competência organizacional é a aptidão que o indivíduo tem de gerar resultados para a organização e o diferencial que há em se manter e alcançar novos mercados. O compartilhamento das competências pessoais com o restante do grupo de trabalho é o que efetiva a competência organizacional (MAGNANI, 2004). Para Carbone, et al (2009), as competências organizacionais relacionam-se com as integrações produtivas e representam as características que o tornam eficaz. As competências estão sempre se contextualizando a partir do status que é adquirido, via geração de conhecimento e saber fazer (know how), desde que obedeçam ao princípio de que a competência é o conjunto de aprendizagens sociais e comunicacionais. E, mais, é que o conhecimento e o saber fazer não são considerados competências se não se comunicarem ou forem utilizados. (FLEURY, 2001). Para gerar o valor econômico (competência organizacional) os verbos de ação mostrados no conceito de competência significam, inspirados na obra de Le Boterf, autor referência para empresas e organizações: Saber agir Saber o que e por que faz. Saber julgar, e escolher, decidir. Saber mobilizar recursos Criar sinergia e mobilizar recursos e competências Saber comunicar Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos 14 Saber aprender Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber engajar-se e comprometer-se Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber assumir responsabilidade Ser responsável, assumindo riscos e consequência de suas ações e sendo por isso reconhecido Ter visão estratégica Conhecer e entender o negócio da organização e seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas Fonte: Fleury; Fleury (2001). As competências organizacionais se relacionam com as habilidades, conhecimentos e know-how tecnológico para fornecer vantagem especial a pontos específicos da cadeia de valor, e quando combinadas com processos estratégicos fazem o link para as capacidades essenciais (UBEDA; SANTOS, 2008, p. 189). Para deixar ainda mais clara as competências organizacionais Lapolli (2010) explica que esta é a fusão de competências integrantes na organização – humanas, individuais e coletivas. O autor ainda diz que apesar de o conhecimento e as habilidades parecerem suficientes, é necessária atitude, um elemento forte na tríade CHA (conhecimento, habilidade e atitudes), determinante na consolidação organizacional. (ARAUJO,2020). É recorrente a definição de que competência seria formada pelo conjunto de conhecimento, habilidade e atitudes (CHA), conforme aponta Ferreira (2005). 15 Figura 1: Níveis de competência organizacionais Fonte: Brandão; Puente-Palacius; Borges-Andrade (2007). A figura deixa claro os níveis de competência, a partir da ideia de que as competências individuais, fazem parte de um grupo maior que é definido como Competências da equipe de trabalho, ou da Unidade, que por sua vez, fazem parte do grupo de Competências Organizacionais. O valor do capital de competências em uma organização não provém da simples adição das competências individuais, mas de suas combinações específicas. São estas combinações que os concorrentes têm dificuldade de imitar e que constituem, portanto, a vantagem da empresa no mercado. Cockerill (1994) alerta que as competências individuais e organizacionais, ainda, podem ser subdividas em função das atividades que desenvolvem, sendo que a primeira pode ser caracterizada a partir das técnicas gerenciais, características de liderança, e a segunda se refere ao que é exigido daqueles que ocupam funções de chefia. Vamos reforçar os seguintes conceitos: Competências – Capacidade de mobilizar e colocar em ação conhecimentos, habilidades e atitudes, de forma comprometida com os resultados esperados e a missão do órgão; 16 Conhecimento (saber) – corresponde a uma série de informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem organizar a realidade e dotar o mundo que o cercade alguma racionalidade; Habilidade (saber-fazer) – é a capacidade de apropriar-se de tecnologia, identificar situações de replicabilidade e fazer uso produtivo do conhecimento adquirido, utilizando-o em uma ação com vista ao alcance de um propósito específico; Atitude (querer-saber-fazer) – diz respeito aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho. Segundo Zafiran (2001), competência é a capacidade que o indivíduo tem de tomar iniciativas, buscar ir além de suas atividades correspondentes, compreendendo e dominando as novas demandas e diversas situações no cotidiano do ambiente do trabalho, sendo responsável por seus atos, com o devido reconhecimento por suas atitudes. Lopes (2007) sustenta os conceitos de competência, com base nos pilares CHA e por meio da associação das competências da organização com as dos colaboradores. Habilidade é o saber fazer e a atitude é o querer fazer. Carbone (2006) entende que a sinergia entre essas três dimensões põe em evidencia sua própria interdependência e complementariedade e gera desempenho, que é manifestado via comportamento do indivíduo na equipe. No Guia da Gestão da Capacitação por Competências (2011) o CHA é exemplificado, conforme a figura a seguir, onde a competência Conhecimento é o que o indivíduo sabe; a habilidade, a forma como ele aplica esse saber e a atitude se referem ao querer aplicar esse conhecimento que se conhece e que se sabe como deve ser feito. 17 Figura 2. Competências – Conhecimento, Habilidades e Atitudes Fonte: Guia da Gestão da Capacitação por Competências (2011, p. 12). Durand (2000) afirma que conhecimento é a assimilação e estruturação das informações pelo indivíduo. Isto o faz “entender o mundo”, e também se refere ao aprendizado acumulado. Conhecimentos são conjuntos de informações reconhecidas e integradas pelo indivíduo dentro de um esquema pré-existente, causando impacto sobre o seu julgamento ou comportamento (PANTOJA, 2015, p. 16). A Habilidade, é para Lopes (2007), a relação ao saber como fazer algo e/ou a capacidade do indivíduo de usar de forma produtiva seu conhecimento numa ação. Também avalia que a habilidade tem a ver com o conhecimento adquirido com as experiências passadas que teve o indivíduo, podendo ser elas intelectuais a partir de processos mentais de organização e reorganização de informações, ou motoras, quando trata de coordenação neuromuscular, ou seja, movimento dos músculos - entende-se por isso, o conhecimento prático (PANTOJA, 2015). O citado autor menciona que conhecimento e habilidade são competências técnicas, ou seja, conhecimentos teóricos e práticos que têm relação a determinado assunto ou técnica. Pantoja (2015) expõe que a terceira dimensão, a Atitude, tem a ver com os aspectos sociais relacionados ao ambiente de trabalho. 18 Souza, et al (2009) afirma que Atitude é uma competência comportamental que influência direta ou indiretamente no trabalho do indivíduo e conseguinte, nos seus resultados, sendo que, a partir deste entendimento, indivíduos são diferentes, conforme atuam na organização. Enquanto Conhecimento e Habilidade são competências técnicas, Lopes (2007) afirma que atitude é uma competência comportamental. Pois veja, segundo a autora, a competência comportamental é a expressão de atitudes como relacionamento, motivação e outros, ou seja, comportamentos que influenciam na atividade do indivíduo profissional. 19 UNIDADE 2. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS E O PAPEL DA LIDERANÇA Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta segunda unidade, aprenderemos sobre gestão por competências, incluindo seu conceito, descrição das funções e o papel da liderança de uma organização.. Bons estudos!!! Conteúdos da Unidade Aprenderemos sobre a gestão por competências, incluindo seu conceito, descrição das funções, com exemplo prático, para melhor entendimento, e o papel da liderança de uma organização. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que for estudando. 20 CAPITULO 3 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS 3.1. INTRODUÇÃO Segundo Dutra (2004), apesar de o conceito de competência ainda estar em construção ele não é um modismo, ao contrário, por meio dele tem se explicado a realidade das empresas na gestão de pessoas. As empresas vem sofrendo grandes transformações e a competência dos colaboradores tem uma valiosa importância para as organizações. Através dela pode- se alçar um diferencial competitivo, orientando para os processos de seleção, escolha, avaliação e capacitação. (ARAUJO,2020). No final da idade média, o termo competência pertencia essencialmente à linguagem jurídica. Dizia respeito à faculdade atribuída a alguém ou a uma instituição para apreciar e julgar certas questões. No início de século passado o termo competência foi incorporado à linguagem organizacional, sendo utilizado para qualificar a pessoa capaz de desempenhar eficientemente determinado papel (CARBONE, et al, 2009, p.42). As transformações sofridas no mercado de trabalho vem mudando desde então, trazendo como consequência a necessidade de se adaptar e gerar inovações tecnológicas, formando novos produtos e serviços, com uma velocidade cada vez maior. Para se manter no mercado competitivo é necessário à identificação, aquisição e desenvolvimento das competências. (ARAUJO,2020). Segundo Brandão; Guimarães (2001), o importante é que a gestão de competências esteja em perfeita sintonia com a estratégia organizacional. Para Trasatti; Costa (2005), a definição do quadro de competências está intimamente ligada à estratégia empresarial e às competências organizacionais necessárias para a consecução dessa estratégia. 21 Para a execução da estratégia institucional, é necessário que todos os colaboradores conheçam e atuem alinhados a missão, visão e valores da instituição. Desta maneira, há uma convergência do potencial de trabalho em prol da instituição. Atrelado a isto, cada colaborador tem papel fundamental para a execução da estratégia, através do bom desempenho nas funções e no cargo em que ocupa. Para a adequada execução das atribuições de cada cargo são necessárias competências específicas, conhecidas também por técnicas. (ARAUJO,2020). Cada cargo é fundamental para o funcionamento do sistema que é uma organização e para a normatização destes cargos, geralmente as instituições utilizam o perfil e a descrição de cargos. A descrição de cargos é um documento no qual se relata a missão do cargo, suas atribuições e as competências imprescindíveis para a execução das atividades, de forma assertiva e de maneira a contribuir para os resultados da instituição. A partir desta normatização, o colaborador passa então a ter clareza do seu papel, da sua responsabilidade e de sua importância, ou seja, qual a abrangência do seu cargo e o que deve realizar. (ARAUJO,2020). Executar adequadamente as atribuições do cargo é fundamental para que, entre outras questões, se diminuam as condições inseguras e as chances de um acidente de trabalho. Olhem a ilustração trazida, pela ilustre autora Araújo (2020), que enriquecera a parte pratica de nosso estudo: “Um Almoxarife bem intencionado, Leandro trabalha na empresa X há 10 anos. Suas atribuições são relacionadas ao controle e estoque de peças e materiais. Leandro executa suas atividades de maneira satisfatória, se destacando no que faz. 22 Em uma terça-feira, pela manhã, a empresa deu um curto circuito em uma das máquinas. Como o eletricista da empresa tinha se ausentado do trabalho naquele dia e Leandro era muito prestativo, os demais colaboradores pediram a ele que verificasse o que havia acontecido.Mais que depressa, Leandro foi ver o que estava acontecendo na máquina e tomou um forte choque, que o deixou desacordado por algum tempo. Ele não utilizava, naquele momento, os Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), obrigatórios para os eletricistas”. (ARAUJO,2020). Vamos, juntos analisar esta ilustração: Leandro foi contratado para trabalhar como Almoxarife, ele apresenta então conhecimentos e habilidades de acordo com as competências deste cargo, que podem ser vistas na Descrição de Cargos de Almoxarife.(ARAUJO,2020). Ao executar uma tarefa de Eletricista, o colaborador se coloca em uma situação de risco, uma vez que não foi identificado nele às competências e habilidades necessárias, com base na Descrição de Cargos de eletricista para a execução das atribuições deste cargo. Outro ponto importante, é que os EPI´s dos dois cargos são diferentes, o que deixou Leandro ainda mais exposto aos riscos de uma proteção ineficaz, enquanto executou atividades que não estão descritas como atribuições de seu cargo. (ARAUJO,2020). Os pontos a serem explorados neste exemplo são vastos e não nos caberá esgotá-los, entretanto, nos permite uma reflexão acerca da importância de cada colaborador conhecer suas atribuições e competências para que desempenhe adequadamente as tarefas designadas para o cargo que ocupa. (ARAUJO,2020). 23 3.2 A GESTÃO DAS COMPETÊNCIAS E O PAPEL DA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS Nos últimos anos, as mudanças no enfoque sobre a atuação da área de RH têm tido muitos defensores, entre eles, Ulrich (1998), que enfatiza o papel estratégico da área para as mudanças organizacionais. No final da década de 1980, Storey (1989) já observava, com muita propriedade, o uso elástico da expressão "gestão estratégica de recursos humanos". Segundo esse autor, era possível identificar uma versão soft do termo e uma versão hard. A versão hard enfatiza os aspectos quantitativos, de administrar recursos humanos de forma racional, objetivando a estratégia do negócio. A versão soft enfatiza os aspectos de comunicação, motivação e liderança. Ou seja, a definição de uma estratégia de recursos humanos para se obter uma força de trabalho altamente comprometida com a organização deve preceder as demais estratégias organizacionais. Na gestão de um modelo baseado em competências, essa ambiguidade fica mais evidente. Por um lado, a área de recursos humanos deve assumir um papel importante no desenvolvimento da estratégia da organização, na medida em que cuida com mais propriedade de atrair, manter e desenvolver as competências necessárias à realização dos objetivos organizacionais. Nesse sentido, é fundamental que explicite e organize a relação entre as competências organizacionais e as individuais. Por outro lado, é ela que garante que, nesse processo de desenvolvimento de competências, agregue-se também valor para o indivíduo. Em outras palavras, o papel da gestão de recursos humanos nesse contexto é complexo e envolve a negociação de interesses. 24 CAPITULO 4 O PAPEL DA LIDERANÇA NA GESTÃO POR COMPETÊNCIA 4.1. INTRODUÇÃO É papel do líder-gestor promover para os colaboradores conhecimentos das atribuições de seu cargo, bem como oferecer capacitação adequada ao colaborador que, ainda, não tem familiaridade com as atividades.(ARAUJO,2020). O líder-gestor deve saber delegar todas as atividades atribuídas a sua área, alocando os membros da equipe de acordo com as competências de cada um e acompanhar as atividades de maneira a garantir a excelência institucional, bem como a segurança dos colaboradores. Quando o líder-gestor desenvolve as competências de sua equipe, esta trabalha mais motivada e consegue agregar mais valor à instituição. É importante também que o líder-gestor incentive a equipe para o autodesenvolvimento, ou seja, que o colaborador busque também meios de se desenvolver e ampliar os seus conhecimentos e habilidades e esteja em constante atualização. (ARAUJO,2020). Para que a equipe tenha um bom desempenho é fundamental que o líder gestor esteja atento ao clima organizacional de sua área, zelando por relações saudáveis no ambiente de trabalho. Além disso, é de suma importância à qualidade e constância de feedbacks (retorno) entre o líder-gestor e os seus liderados. Esta prática permite que colaboradores possam compreender como estão à qualidade do trabalho desenvolvido, as relações interpessoais, como podem desenvolver melhor suas competências e terem também a oportunidade de dizer como se sentem no trabalho, ampliando, assim, o sentimento de pertencer à instituição. (ARAUJO,2020). 25 Outra prática importante é a de promover reuniões periódicas com os membros da equipe. Promover momentos de integração, onde todos são convidados a compartilhar ideias, sentimentos, opiniões, sugestões e assim promover a melhoria continua dos processos da área e das parcerias internas. O líder-gestor, na Gestão por Competências, deve ser continuamente preparado. Cada um dos processos e atividades é fundamental para uma Gestão por Competências eficaz. É um trabalho de parceria contínua entre a área de Recursos Humanos, também denominada de Desenvolvimento Humano e Institucional, dentre outras, a alta direção, as lideranças e os colaboradores, objetivando uma Gestão por Competências que gere sentido para os colaboradores e agregue valor para a instituição. Quando o colaborador tem clareza dos processos institucionais, bem como da abrangência de suas atribuições, consegue criar sentido nas atividades profissionais, sendo mais assertivo em suas entregas, tendo, desta maneira, uma melhor qualidade de vida. O alinhamento entre as áreas deve estar, devidamente, integrado, uma vez que a Instituição é um sistema interdependente. Assim, o trabalho de uma área está diretamente ligado às entregas e resultados de uma ou mais áreas da instituição. Desta maneira, cada colaborador tem um papel fundamental para a instituição, pois, executando bem o seu trabalho, estará contribuindo ativamente para a concretização da missão. O foco no trabalho em equipe deve ser sempre incentivado, uma vez que pessoas envolvidas estão dispostas à troca de conhecimentos com os colegas de trabalho da sua área ou de outras áreas da instituição. 26 Promover um ambiente de trabalho saudável, com clareza na tomada de decisão e nos processos, que tenham líderes capacitados e equipes avaliadas com critérios bem definidos, faz com que a Instituição esteja mais coesa e fortalecida para oferecer um serviço de qualidade. (ARAUJO,2020). Como vimos, a liderança por competência proporciona vantagens indiscutíveis, como a segurança nas decisões do gestor, uma vasta quantidade de possíveis estratégias a serem tomadas, maior facilidade na detecção e resolução de problemas ou riscos, assim como oportunidades. A liderança consiste na habilidade de gerir um grupo de pessoas, coordenando-as para que se tornem uma equipe que produz efeito positivo para o crescimento da organização. Tourinho (1982, p. 59) define liderança como “a atividade de influenciar pessoas a cooperar na consecução de um objetivo que consideram para si mesmo, desejável”. Hersey e Blanchard (1986) afirmam que nunca será demais enfatizar a importância da capacidade de diagnóstico de um líder. Se as capacidades e os motivos das pessoas que lhe estão subordinadas são tão variáveis, deve ter sensibilidade e capacidade de diagnóstico para poder sentir e apreciar as diferenças. O líder deve ter a flexibilidade pessoal e a gama de habilidades necessárias para variar seu comportamento. Se as necessidades e motivos dos seus subordinados forem diferentes, devem ser tratadas de modo diferente. (CUNHA,2014). Hersey e Blanchard (1986, p.186) explica que a necessidade de um modelo situacional significativo na área da liderança foi reconhecida na literatura especializada já faz um bom tempo, “não é apenas o reconhecimento desse fator dos ‘determinantes situacionais’, mas sim uma conceituação sistemática da variação situacional nas suas possibilidades de se relacionar com o comportamento de liderança”. 27 Não existe um único modo de influenciar as pessoas. Por fim, podemos mencionar que o estilo de liderança que uma pessoa deve adotar com indivíduos ou grupos depende do nível de maturidade das pessoas que o líder deseja influenciar (HERSEY; BLANCHARD, 1986, p. 188). 28 UNIDADE 3 COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS E A ESTRATÉGIA COMPETITIVA DAS EMPRESAS Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta terceira unidade faremos uma abordagem sobre as competências essenciais e a estratégia competitiva das empresas.. Bons estudos!!! Conteúdos da Unidade Aprenderemos sobre as competências essenciais e a estratégia competitiva das empresas. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que for estudando 29 CAPITULO 5 COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS 5.1. INTRODUÇÃO A ideia de competência essencial ou, core competence, no planejamento estratégico é introduzida por Prahalad e Hamel em 1990 em The core competence of the corporation. Seus pensamentos despertaram o interesse de pesquisadores e profissionais para as teorias sobre os recursos da organização. (JANINI,2003). Em Gestão Estratégica do Conhecimento, integrando aprendizagem, conhecimento e competências, Oliveira Jr. (2001) apresenta um breve histórico da evolução da visão da empresa baseada em recursos e cita autores que, já na década de 1960, sublinhavam a questão dos recursos organizacionais. (JANINI,2003). O autor explica que a abordagem proposta por Wernerfelt em 1984, no sentido de que os recursos internos à organização constituíam os principais determinantes de sua vantagem competitiva, contrapondo a visão de que o principal determinante da competitividade da empresa era a sua posição na indústria, serviu como um divisor de águas ao apresentar um novo paradigma de gestão da empresa. Ainda segundo Oliveira Jr. (2001 ), "a necessidade de um recurso que seja difícil de imitar, transferir, comprar, vender ou substituir e possua uma integração sistêmica como outros recursos da empresa" é a contribuição mais valiosa da abordagem da gestão baseada em recursos para o desenvolvimento e sustentação da vantagem competitiva de uma empresa. Por meio dessa abordagem, o gestor é desafiado a identificar e desenvolver os recursos, tangíveis e intangíveis, que são primordiais para o desempenho superior da organização. No contexto da visão da empresa, baseada em recursos, recupera- se a noção da empresa como um portfólio de competências..(JANINI,2003). A questão primordial trata da possibilidade de diversas combinações das várias competências da empresa com o objetivo de desenhar, produzir e distribuir os melhores produtos e serviços a clientes e mercados. 30 Destas combinações únicas surgem as competências essenciais. As competências essenciais se caracterizam por fornecerem a sustentação a vários produtos ou negócios dentro de uma corporação, por serem mais estáveis e evoluírem mais lentamente do que produtos, por serem obtidas e aperfeiçoadas por meio do trabalho operacional e do esforço do dia-a-dia e por serem o verdadeiro motivo de competição em mercados..(JANINI,2003). Para Oliveira Jr. (2001 ), também devem possuir uma natureza dinâmica a fim de evitar uma possível rigidez organizacional, principalmente em ambientes caóticos, e requerem aprendizagem organizacional para o seu desenvolvimento e atualização contínuos. Zarifian (2001) aponta diferentes tipos de competências organizacionais, que podem se tornar essenciais se obedecidas as condições propostas por Hamel (1990), a saber: Competências sobre processos: conhecimento sobre o processo de trabalho; Competências técnicas: conhecimento específico sobre o trabalho a ser realizado; Competências sobre a organização: conhecimento sobre como organizar os fluxos de trabalho; Competências de serviço: conhecimento sobre o impacto que a competência técnica terá sobre o cliente final; Competências sociais: conhecimento sobre como ser, que inclui atitudes que sustentam os comportamentos das pessoas. Em 1994, Hamel e Heene publicam o livro Competence-Based Competition, no qual sublinham as características para que as competências organizacionais se tornem competências essenciais. Segundo esses autores, para serem essenciais, as competências precisam oferecer reais benefícios aos clientes, ser difíceis de imitar e prover acesso a diferentes mercados. Uma competência deve: 31 Ser uma integração de uma variedade de competências individuais, não residindo em um único indivíduo ou grupo pequeno; Ser um acúmulo de conhecimento tácito e explícito e uma fonte de aprendizado contínuo e coletivo; Trazer uma forte contribuição na percepção de valor pelo cliente; Conferir um caráter único ao desempenho de determinada organização frente a seus concorrentes; Facilitar a entrada em novos mercados. Ao definir a sua estratégia competitiva, a empresa identifica as competências essenciais do negócio e as competências necessárias a cada função. Por outro lado, a existência dessas competências possibilita as escolhas estratégicas feitas pela empresa. (FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L., 2001, p. 24). A competência essencial deve, portanto, ser a impressão digital da empresa que a identifica como o único ator capaz de fornecer ao cliente o benefício da solução pela qual ele anseia entre todas as outras opções de que este dispõe no mercado. Assim, fica evidente que é essa impressão digital que pode fornecer à empresa condições favoráveis para a manutenção de sua posição estratégica e para a sustentação de sua posição competitiva dentro do novo contexto mercadológico e econômico que as décadas de 1980 e de 1990 impuseram às organizações.(JANINI,2003). 32 CAPITULO 6 A ESTRATÉGIA COMPETITIVA DAS EMPRESAS 6.1. INTRODUÇÃO Para ser viável e sustentável, em determinado período de tempo, toda empresa deve buscar consolidar a sua estratégia competitiva e colher desta resultados sem igual no mercado. A estratégia competitiva é alcançada quando uma empresa consegue formular e implementar uma estratégia de criação de valor ímpar, difícil de imitar e cujos benefícios são inigualáveis. (JANINI,2003). Ao sedimentar sua estratégia competitiva e formalizar sua vantagem, a empresa consegue produzir um desempenho superior, acima da média, que constitui o seu primeiro objetivo. Um desempenho acima da média significa resultados acima do que os investidores esperariam obter em outros investimentos, com o mesmo nível de risco. Empresas que não possuem vantagem competitiva podem, apenas, apresentar retornos compatíveis com a média do mercado em que atuam. No tempo, as empresas que não conseguem, pelo menos, garantir uma taxa de retorno comparada à média de mercado, podem se ver condenadas ao fracasso. A gestão estratégica de uma empresa é um processo dinâmico em si, sujeito a alterações como resposta a novas situações mercadológicas. (JANINI,2003). De acordo com Hitts, lreland e Hoskisson (1999), a gestão estratégica engloba três partes complementares: a primeira compreende os insumos estratégicos, oriundos de análises dos ambientes interno e externo da empresa, que são necessários para a formulação da estratégia e sua implementação bem sucedida. A segunda constitui-se das ações estratégicas, que são os pré-requisitospara os resultados estratégicos e a terceira consiste nos resultados em si. Ações estratégicas efetivas, que são tomadas em um contexto no qual existe uma cuidadosa definição e implementação da estratégia global, resultam no desempenho desejado para o negócio. 33 O dinamismo da gestão estratégica é necessário devido à constante transformação que o cenário competitivo vem sofrendo como resultado da globalização e de avanços tecnológicos. Na economia global, pessoas, produtos, serviços e ideias transitam mais fluentemente entre os países; oportunidades significativas de negócios surgem em múltiplos mercados e a integração internacional é mais nítida. A tecnologia, por sua vez, contribui para as mudanças no cenário competitivo ao, por exemplo, influenciar a redução dos ciclos de vida dos produtos - o que desafia as empresas a introduzir novos produtos e serviços rapidamente no mercado - ou ainda, ao permitir que informações sejam rapidamente difundidas - o que acelera o processo de imitação de novos lançamentos e a introdução de produtos e serviços semelhantes no mercado - ou ainda, ao influenciar a maneira como a informação é capturada, transformada, armazenada e reproduzida.(JANINI,2003). Vale ressaltar que, no novo cenário competitivo, o conhecimento é visto como um recurso organizacional crítico e uma crescente fonte de vantagem competitiva. Com isso, muitas empresas procuram promover a conversão do conhecimento tácito para o explícito e do nível individual para o nível organizacional, ou além, entre organizações. Nesse cenário competitivo, empresas são desafiadas a inovar sua atuação no mercado e, até mesmo, antecipar o inesperado. A capacidade que demonstram em aprender com seus resultados de desempenho e de flexibilizar e adaptar suas ações para alterar ou corrigir rotas são primordiais para renovar e fortalecer sua vantagem competitiva. Dois modelos utilizados pelas empresas para gerar os insumos estratégicos que contribuem para a formulação e a implementação das ações estratégicas, a manutenção de um nível de flexibilidade adequado e a geração de resultados acima da média são apresentados a seguir. O primeiro modelo privilegia o entendimento da relação empresa-indústria, onde o objetivo é estabelecer uma posição única e sustentável contra forças que estabelecem a concorrência em determinada indústria. 34 O modelo de Michael Porter, das cinco forças competitivas, é uma legítima formalização da maneira como o ambiente externo competitivo era visto entre as décadas de 1960 e 1980. O modelo sugere que a rentabilidade potencial de uma indústria é em função das interações entre cinco forças: a entrada de novos concorrentes, a ameaça de substitutos, o poder de negociação dos compradores, o poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre os concorrentes existentes. "As cinco forças determinam a rentabilidade da indústria porque influenciam os preços, os custos e o investimento necessário das empresas em uma indústria - os elementos do retorno sobre o investimento." (PORTER, 1992, p. 4) . Por este modelo, a empresa é desafiada a entender qual é o potencial de rentabilidade da indústria e a definir qual estratégia é mais adequada para sustentar uma posição viável dadas as suas características. O modelo geralmente sugere que os resultados acima da média são conquistados por meio da liderança ou da diferenciação em produtos pelos quais os clientes estão dispostos a pagar mais. O segundo modelo considera que cada empresa tem uma gama de recursos únicos e que a vantagem competitiva decorre da identificação e combinações desses recursos. Para A. Fleury e M. T. L. Fleury (2001), a abordagem desse modelo é de dentro para fora, ou seja, é com base nos recursos que se identifica a vantagem competitiva da empresa. As diferenças do desempenho entre empresas ao longo do tempo são oriundas, principalmente, dos seus recursos internos, suas combinações e capacidades, e, não somente, das características da indústria. Contudo, nem todos os recursos em si são a base da estratégica competitiva. Somente demonstram a sua força de sustentar uma vantagem competitiva quando: permitem que a empresa explore oportunidades e/ou neutralize ameaças do ambiente; pertencem a poucos ou a nenhum outro concorrente no mercado; 35 são difíceis ou custosos de imitar ou não possuem equivalentes disponíveis. Assim sendo, atendendo a essas quatro premissas, os recursos podem se tornar competências essenciais da empresa que a distinguem de seus potenciais concorrentes. (JANINI,2003). O segundo modelo defende, portanto, que as competências essenciais são a base para a vantagem competitiva da empresa, sua competitividade estratégica e sua habilidade de gerar resultados acima da média. Em linhas gerais, um sistema de gestão de desempenho pode ser dividido em três fases. A primeira fase é o início do sistema de gestão e traz a definição e o planejamento do desempenho desejado. São estabelecidas expectativas, responsabilidades e objetivos de desempenho dentro de um determinado período. Pré-requisitos desta fase incluem a definição da estratégia e das metas organizacionais. Na segunda fase ocorre a observação e a documentação do desempenho em si. Durante esse período é comum observar esforços para manter o alinhamento de recursos, reforçar comportamentos efetivos, acompanhar progressos, revisar expectativas e fornecer feedback. A terceira e última fase do sistema de gestão é dedicada à avaliação formal dos resultados do desempenho contra as expectativas e os objetivos definidos na primeira fase. Essa avaliação fornece importantes informações para a área de gestão de pessoas. Ela, por exemplo, pode auxiliar a: definir a remuneração dos colaboradores (fixa ou com base em desempenho, salário vs. bônus); definir planos de sucessão (acompanhamento de carreira, promoções); manter a disciplina na organização (comportamentos vs. regras, advertências, demissões); 36 auxiliar no desenvolvimento individual (planos para desenvolver competências, treinamento, job assignments, atividades de mentoring); construir carreiras (planejamento de futuras atividades que possam oferecer ao colaborador competências ou experiências específicas). 37 UNIDADE 4 A MOBILIZAÇÃO DE COMPETÊNCIAS, O DESEMPENHO ESPERADO E A GESTÃO NO BRASIL Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a)! Nesta quarta unidade, aprenderemos a relação entre a mobilização de competências e o desempenho esperado e a gestão de competências no Brasil.. Bons estudos!!! Conteúdos da Unidade Aprenderemos sobre a relação entre a mobilização de competências e o desempenho esperado e a gestão de competências no Brasil.. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que for estudando 38 CAPITULO 7. A RELAÇÃO ENTRE A MOBILIZAÇÃO DE COMPETÊNCIAS E O DESEMPENHO ESPERADO 7.1. INTRODUÇÃO Zarifian (2001) propõe quatro condições para a construção da relação de competências e do desempenho esperado. Vamos agora, estudar cada uma delas. A primeira é garantir que cada colaborador entenda as implicações estratégicas da empresa na qual atua e permitir que se aproprie delas, para que se sinta compelido a disponibilizar suas competências individuais e fazê-las interagir cooperativamente com o grupo. Para tanto, a visibilidade da estratégia e das competências essenciais que a empresa pretende privilegiar tornam-se imprescindíveis para que cada indivíduo dê sentido ao seu trabalho e ao seu envolvimento, situe a sua contribuição, mobilize o seu repertório de competências e identifique as suas necessidades de desenvolvimento. A segunda condição está em esclarecera relação de causa e efeito entre a atuação local e o desempenho global. A competência individual é mobilizada quando é clara a percepção da cadeia de cooperação existente entre o agir local e o resultado global. (JANINI,2003). A terceira condição é que se conceda ao indivíduo a faculdade e o direito de julgar situações e de tomar decisões pertinentes e diretamente relacionadas à estratégia organizacional, no momento em que forem necessárias. A autonomia de julgamento e de decisão favorece a mobilização das competências individuais e coletivas em prol da competência essencial. A quarta condição é que exista uma filosofia e uma necessidade de melhoria contínua do desempenho na empresa. É na busca pelo progresso e no desafio do 39 novo que as competências atuais são estimuladas a mudar e/ou que novas competências surgem. (JANINI,2003). Le Boterf (2003) compartilha do pensamento de que algumas condições devem ser obedecidas para que a competência organizacional possa emergir e gerar os resultados esperados. Para o autor são desejáveis as seguintes condições, entre outras: Organizar a cooperação entre as competências - determinar uma linguagem comum a ser compartilhada pelo grupo e facilitar a complementaridade entre as competências individuais para que sejam amplificadas por outras que as cercam; Facilitar as relações de ajuda entre os diversos colaboradores ou junto a especialistas para favorecer o apoio mútuo e o compartilhamento do saber; Dispor de uma ferramenta de ofertas e procuras de competências, principalmente se a rede de cooperação for extensa; Implantar estruturas de geometria variável, onde o mesmo colaborador possa ser simultaneamente o líder de um projeto, o colaborador de outro e o consultor de um terceiro, para facilitar a sinergia e o intercâmbio de competências; Implantar uma memória organizacional a fim de construir e de consolidar uma base de conhecimentos, de valores e de princípios comuns. Em se tratando da gestão de pessoas para a obtenção de resultados, A. Fleury e M. T. L. Fleury (2001) afirmam que, em seus trabalhos de consultoria, têm observado mudanças significativas no gerenciamento dos recursos humanos quando é incorporado o conceito de competência. Mencionam que novas técnicas vêm sendo empregadas nos processos de recrutamento e seleção a fim de identificar pessoas com potencial de crescimento e flexibilidade para enfrentar incidentes críticos e demandas crescentes das empresas. 40 Também asseveram que os processos de treinamento e desenvolvimento vêm assumindo novos contornos, com o objetivo de garantir que todo o processo de desenvolvimento das pessoas estejam alinhados às estratégias de negócio e às competências essenciais da organização. (JANINI,2003). Além disso, em se tratando do sistema de remuneração, começa-se a observar que algumas empresas estão desenvolvendo modelos baseados em níveis de competência e propostas de remuneração condizentes com cada um desses níveis. Segundo Nadler et ai (1994), os sistemas de trabalho de alto desempenho já produziram resultados importantes em empresas nas quais foram aplicados, a saber: Redução de custos; Menor índice de erros e melhor qualidade geral de serviços e produtos; Maior motivação interna e de dedicação dos funcionários; Menor rotatividade e absenteísmo; Maior ênfase na aquisição de conhecimento e no valor do aprendizado; Maior capacidade de adaptação Os princípios dos Sistemas de Trabalho de Alto Desempenho favorecem o desenvolvimento e o fortalecimento de competências individuais, coletivas e organizacionais e os resultados obtidos de sua aplicação evidenciam a relação existente entre a mobilização de competências e a obtenção do desempenho esperado. (JANINI,2003). 41 CAPITULO 8. A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS NO BRASIL 8.1. INTRODUÇÃO O primeiro trabalho que fala da competência na Administração de Recursos Humanos de forma mais ampla é o de Duarte (1996), no qual são apresentados diversos conceitos de competência, assim como é questionada a sua relação e aplicabilidade à gestão de Recursos Humanos. Dutra, Hipólito e Silva (1999) realizaram um estudo em uma organização do setor de telecomunicações e nele apresentam as circunstâncias que levaram a organização a implementar um sistema de gestão por competências, com o objetivo de oferecer orientação para as decisões gerenciais na administração de pessoas. O estudo mostra a estrutura e os critérios que levaram a esse modelo de gestão, assim como levanta a percepção dos gestores em relação a ele. Os autores apontam diversas mudanças ambientais, internas e externas, como justificativa para a adoção da gestão por competências. (TEIXEIRA,2007). Entre esses fatores, foram citados a desregulamentação e a abertura dos monopólios; o crescimento da demanda por serviços tradicionais de telefonia e por novos serviços; o incremento tecnológico e a realização de acordos de cooperação. De acordo com os autores, a modernização do setor privilegiou a busca de melhorias em três grandes pilares: a tecnologia, a introdução de processos de negócios, e as pessoas. Em decorrência da mudança tecnológica e nos processos de produção em que se redefiniu sua estrutura, a empresa percebeu a necessidade de rever como gerenciava suas políticas de Recursos Humanos como forma de dar suporte a essas transformações. A solução encontrada foi a implementação do modelo de Gestão por Competências. Ribeiro e Guimarães (1998) realizaram estudo em uma organização 42 financeira estatal, levantando, por meio de entrevistas com os gerentes, quais as competências organizacionais essenciais para a organização e quais as competências humanas essenciais para os ocupantes de cargos gerenciais na organização. Segundo os autores, as competências organizacionais e as humanas estão interligadas dentro dessa organização. A interface entre competência e desempenho levou Brandão e Guimarães (2001) a questionarem as diferenças e semelhanças existentes entre a gestão de competências e a gestão de desempenho. Diversas semelhanças foram encontradas nas duas formas de gestão, como a necessidade de associar competências da organização com as de seus indivíduos; outra semelhança é que tanto a gestão de desempenho quanto a de competências supõem um processo que considera a interdependência entre os atos de planejar, acompanhar e avaliar. (TEIXEIRA,2007). Sob esse aspecto, nota-se que os processos inerentes às tecnologias, muitas vezes, sobrepõem se, parecendo ser complementares. Na gestão de competências, por exemplo, faz-se necessário contar com algum mecanismo de avaliação de desempenho que permita à empresa identificar suas competências, tanto em nível individual como organizacional. Em função das semelhanças encontradas, tanto de objetivos quanto de ferramentas, Brandão e Guimarães (2001) sugeriram a utilização do termo Gestão de Desempenho. (TEIXEIRA,2007). Os autores reforçam a necessidade de integrar, em um único modelo de gestão, as atividades de planejamento, acompanhamento e avaliação de desempenho, a partir de um diagnóstico das competências essenciais à organização, desde o nível corporativo até o nível individual. Albuquerque e Oliveira (2002) realizaram um estudo de um modelo de Gestão por Competências em uma empresa petroquímica brasileira. De acordo com os autores, a gestão de pessoas da organização estudada sofreu diversas modificações. 43 A empresa reestruturou a área de Recursos Humanos, o que foi considerado decisivo para a implementação e sustentação do modelo. A adoção da estrutura organizacional possibilitou um ajuste adequado do modelo matricial da área de RH, o que foi considerado fundamental para a implementação do modelo. (TEIXEIRA,2007). Barbosa(2004) investigou a aplicação do conceito de competências em três empresas de telefonia móvel. Seu estudo indica, de forma tênue, um direcionamento das ações de Recursos Humanos que aloquem suas atividades para patamares estratégicos na organização. No quadro descrito pelo autor, a adoção de modelos de competências em empresas do setor dinâmico da economia, ainda que guarde distâncias de uma efetiva prática que reconheça o papel de RH, serve como alento em direção ao futuro. Visando a levantar mais informações relativas à Gestão de Competências, Barbosa e Rodrigues (2005) realizaram outra pesquisa em organizações localizadas em quatro estados brasileiros. De uma maneira geral, sem considerar as peculiaridades regionais das empresas estudadas, a prática da Gestão por Competências demonstrou que os modelos, mesmo em empresas de um mesmo setor, são desenvolvidos ou definidos de acordo com as particularidades, em que cada empresa segue uma lógica própria de acordo com as necessidades e intenções envolvidas. O resultado desse estudo indica que os modelos desenvolvidos estão voltados para a cultura do desempenho e dos resultados, não refletindo na remuneração e na certificação das competências para o empregado. Isso sinaliza que a competência acaba sendo apropriada, tão somente, pela empresa na qual o indivíduo se encontra, impedindo não só que ele possa agregar ao seu portfólio profissional aquilo que executa como também um vínculo efetivo ao seu processo de formação profissional. Assim, percebe-se que a Gestão por Competências pode ser entendida como alternativa viável no espaço da gestão de Recursos Humanos, considerando a busca permanente de resultados organizacionais em patamares superiores. 44 8.2 A GESTÃO DE RH E A GESTÃO POR COMPETÊNCIAS O uso da noção de competência individual de modo sistêmico, colocando-a na base das práticas de Gestão de Pessoas, permite falar em modelos de competência. (TEIXEIRA,2007). McLagan (1980) define tais modelos como ferramentas de decisão que descrevem capacitações-chave para desenvolver um trabalho. Rothwell e Lindholm (1999, p.91) detalham que “(...) um modelo de competência é normalmente uma descrição narrativa de competências ocupacionais para um grupo identificável, como uma categoria ocupacional, um departamento ou uma ocupação”. Os autores chamam a atenção para como esses modelos “têm evoluído de uma teoria sobre a performance individual para uma abordagem focada no aperfeiçoamento da performance organizacional” De acordo com Zarifian (2001), o “modelo da competência” começou a surgir nas pequenas e médias empresas, na década de 80, despertando o interesse de docentes e de gestores. O autor observa que, em pesquisa realizada em pequenas e médias empresas do setor moveleiro francês, viu emergir o modelo de competência a partir de mudanças constatadas na forma de avaliação que organizações e seus responsáveis faziam de sua mão-de-obra. (TEIXEIRA,2007). Os trabalhadores passariam a ser avaliados pelo “entendimento do processo de trabalho e iniciativa” (ZARIFIAN, 2001, p.22) e não mais por suas habilidades corporais. Essa nova metodologia era chamada de avaliação da competência. Zarifian (2003) sugere uma abordagem para aplicar o modelo de competências através de seis etapas: Explicitar a estratégia – Esse é o ponto de partida, é explicitar a estratégia dessa entidade. É a estratégia que fixará o quadro e a 45 orientação a ser dada às competências a serem desenvolvidas nessa entidade. Explicitar as macro escolhas da organização – São as opções que demonstram as escolhas das organizações que materializem a estratégia da organização. Definir princípios simples, que caracterizem o que se entende por competência – É nessa etapa que se estabelece uma filosofia de competência. Elaborar uma primeira definição das áreas de competência – Nessa etapa devem ser desenhadas as grandes áreas de competência. O autor sugere: as competências de profissão, as competências organizacionais e as competências relacionadas aos clientes. Fazer uma análise das situações com os interessados – Identificar com o público interessado e construir as competências que são mobilizáveis. Validar as áreas de competências e hierarquizar os níveis que irão interferir nos salários. Para o autor, esse conjunto de propostas é uma forma prática e simples de tornar a abordagem das competências inteligível para todas as pessoas a ela relacionadas. Diversas empresas têm recorrido à utilização de modelos de Gestão por Competências, objetivando planejar, selecionar e desenvolver as competências necessárias ao negócio. (TEIXEIRA,2007). Em resumo, as competências devem auxiliar os gerentes e funcionários a interligar, planejar e comunicar as funções de RH. Segundo Fleury e Fleury (1995), não é fácil elaborar um modelo de gestão, sob medida, para a realidade brasileira, mas reconhecem que existem alguns pressupostos que vêm orientando a busca de novas configurações organizacionais, como pensamento sistêmico, ação estratégica, processos decisórios integrados, uso inteligente da informação e cooperação na competição. 46 Os autores chamam a atenção para novas configurações organizacionais para o processo de Gestão de Pessoas. Fernandes e Fleury (2005) identificaram quatro gerações na evolução de Modelos de Competência: a visão comportamental; a competência como input; a incorporação da complexidade; visão abrangente. Autores que defendem o modelo de Gestão por Competências apresentam vários argumentos que justificam sua adoção: Levy-Leboyer (1993) atribui sua adoção à utilização de formas mais inovadoras de gestão de desempenho, mais atreladas com os esforços individuais. Para Schein (1990), o modelo permite que os empregados desenvolvam carreiras focando nos pontos que são relevantes ao seu crescimento. Para Fleury e Fleury (2001), o modelo de Gestão por Competências possibilita a modernização das práticas de Recursos Humanos, podendo promover a valorização do potencial humano na organização e o enriquecimento das tarefas, aspectos considerados fundamentais para a satisfação no trabalho. À medida que o conceito de competência começou a ser discutido e ganhou força no ambiente empresarial, passou a ser alvo de apreciações e críticas, que buscaram discutir o seu alcance como modelo de gestão e, também, como se deu sua estruturação nesse ambiente 47 UNIDADE 5 A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS, A EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES E OS DESAFIOS DA AREA DE RECURSOS HUMANOS Caro(a) Aluno(a) Seja bem-vindo(a) Nesta quinta unidade, aprenderemos sobre a gestão estratégica de pessoas, a evolução das organizações e os desafios da área de recursos humanos. Bons estudos!!! Conteúdos da Unidade Aprenderemos sobre a gestão estratégica de pessoas, a evolução das organizações e os desafios da área de recursos humanos. Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que for estudando 48 CAPITULO 9. A GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS 9.1. INTRODUÇÃO A gestão estratégica de pessoas é um modelo de gestão que busca relacionar os objetivos e as metas da organização ao desempenho e às formas mais adequadas para alcançá-los, ou seja, que planos precisamos traçar para desempenharmos nossas funções de forma satisfatória e assim atingir as metas estabelecidas (SHICKMANN, 2010). As diretrizes e as metas organizacionais precisam ser desdobradas até o nível do indivíduo, vemos então que o desempenho não está relacionado apenas à organização, mas também às pessoas que nela atuam (SHICKMANN, 2010). O modelo de gestão estratégica de pessoas inclui a definição de perfis profissionais e quantidade de pessoas de cadaperfil necessários à organização. Além disso, o modelo também contempla o estabelecimento de políticas para assegurar a sustentabilidade da gestão (SHICKMANN, 2010). Para que essas políticas possam garantir tal sustentabilidade, é essencial que elas contemplem e integrem aspectos relativos ao recrutamento de pessoal, à estratégia de desenvolvimento profissional e pessoal, à realocação e redistribuição de pessoas, à estrutura de carreira, à avaliação de desempenho, à remuneração, dentre outros (SHICKMANN, 2010) O planejamento da força de trabalho é o primeiro passo para garantir um corpo funcional estruturado e de tamanho adequado às necessidades da organização. Para tanto, é essencial que os tomadores de decisão disponham de informações qualificadas acerca das competências necessárias à organização e de suas diretrizes estratégicas (OCDE, 2010) O planejamento da força de trabalho consiste na avaliação e sistematização das necessidades futuras de pessoal na organização, a fim de garantir um quadro de pessoal adequado no que concerne aos perfis profissionais e à composição quantitativa e qualitativa. 49 Vale ressaltar, que este é um processo dinâmico e de prospecção de cenários futuros, uma vez que as necessidades das organizações podem variar ao longo do tempo, bem como as competências prioritárias num dado contexto, seja ele interno ou externo à organização (SCHIKMANN, 2010). Segundo a OCDE (2010), os benefícios de se planejar estrategicamente a força de trabalho tendem a impactar de forma positiva no: Fortalecimento dos serviços e da capacidade institucional e gerencial para a gestão estratégica da força de trabalho; Adequação da força de trabalho com a missão da organização; Tornar mais acurado o processo de planejamento e de previsão orçamentária; Contribuir para o alcance das metas globais do governo em termos de diversidade, competências e nível de educação. Identificando o conjunto de competências essencial para a organização, é possível definir perfis profissionais por competências que nortearão os processos de recrutamento e seleção. A partir deste perfil, a seleção pode ser orientada para identificar e avaliar em que grau o candidato possui as competências requeridas, bem como o alinhamento delas com a estratégia e objetivos organizacionais. (PASSOS et al., 2006). Em países como a Bélgica e Reino Unido, os processos de recrutamento e seleção, são norteados por perfis de competências. No caso da experiência britânica do civil service, foram definidas competências chave para a alta administração pública bem como um esboço do perfil de qualidades pessoais e talentos requeridos para cada escalão. Esse portfólio de competências foi utilizado como base para seleção de candidatos, progressão de carreiras e formação gerencial. Posteriormente o modelo foi aperfeiçoado para incluir a dimensão do desempenho, tendo efeitos no sistema de gestão de salários e de desempenho. 50 O governo Belga dispõe de um referencial de competências para administração federal, que subsidia a definição de perfis dos cargos para os diversos grupos de funções. O modelo tem um enfoque predominante no desenvolvimento das competências e na gestão da carreira dos servidores, além de subsidiar a tomada de decisão em questões sobre mobilidade, avaliação do desempenho, remuneração e promoção (HONDEGHEM et al., 2006). Na esfera nacional, experiências de seleção com base em referenciais de competência têm sido descritas para processos seletivos internos, tanto para cargos gerenciais como técnicos. Algumas destas experiências foram relatadas no III Encontro Nacional de Desenvolvimento de Pessoas (2012) como é o caso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) A gestão do desempenho também interage com o modelo de gestão por competência, uma vez que contribui para o desenvolvimento de uma cultura voltada para resultados, já que parte da premissa de alinhar os objetivos individuais e das equipes aos objetivos organizacionais (SCHIKMANN, 2010). Para Brandão e Guimarães (2001) a gestão por competências e a gestão do desempenho estão inseridas em um mesmo contexto estratégico, uma vez que se propõem a integrar os processos de gestão de pessoas com vistas a atrair, manter e desenvolver as competências necessárias ao alcance da missão institucional. A avaliação das competências é feita por meio de indicadores de desempenho, representados por padrões ou comportamento esperados para aquelas competências individuais definidas como essenciais para a organização, cujo resultado pode subsidiar o planejamento de desenvolvimento de competências dos servidores (BRANDÃO, 2012). Contudo, é importante compreender de forma sistêmica a gestão por competências e a gestão do desempenho, como parte de uma política de gestão e de desenvolvimento de pessoas e não apenas como ferramentas para a melhoria das performances profissional e organizacional (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001). 51 No setor público esforços para alavancar os sistemas de avaliação de desempenho têm sido envidados desde a década de 1990. Recentemente a edição do Decreto nº 7.133/2010 (Brasil, 2010) reforça a importância da utilização desse sistema para a Administração Pública Federal, vinculando a gestão do desempenho ao planejamento estratégico, atuando desse modo como elemento de conectivo entre o planejamento e o desempenho. Sob essa ótica, a avaliação de desempenho pode se tornar mais do que uma ferramenta para os propósitos de progressão e promoção, mas sim em um instrumento de desenvolvimento de competências individuais e organizacionais. (SCHIKMANN, 2010). Nesse raciocínio de avaliação do desempenho individual e de sua produtividade, inferimos que também o processo de remuneração pode ser operado a partir das competências de forma alinhada às estratégias da organização. Nessa situação, a remuneração está relacionada às competências requeridas para o desempenho das atividades ou processos de trabalhos da organização. Ao colocar em prática essas competências, o indivíduo estaria fazendo sua entrega à organização e a qualidade desta entrega estaria vinculada à remuneração. Vemos então que a remuneração está relacionada aos padrões de desempenho esperados para aquele conjunto de competências definido para o cargo. Nessa lógica, podemos entender que o sistema de remuneração por competência direciona como foco o ocupante do cargo e o aumento da remuneração parte da premissa da aquisição de novas competências ou da melhoria da performance daquelas já existentes (RABELO-SANTOS, 2010; SOUZA et al., 2006). O objetivo da capacitação por competências é o estabelecimento de um quadro de pessoal adequado e com as competências necessárias ao alcance das metas e dos resultados organizacionais estabelecidos. Assim, as ações de desenvolvimento de competências estão ligadas aos processos de aprendizagem e consistem na obtenção e no aperfeiçoamento das competências requeridas pela organização. (TEIXEIRA,2007). 52 Vemos então que o objetivo das ações de capacitação é diminuir a lacuna entre o que o servidor é capaz de fazer, ou seja, suas competências atuais e o que a organização espera que ele faça: as competências necessárias. (SHICKMANN, 2010; DUTRA, 2008; CARBONE et al., 2006). Podemos, por derradeiro, entender a gestão por competências como um modelo que busca estimular o desenvolvimento das competências humanas para sustentar as competências da organização, e esse é um processo contínuo de troca de competências, que possibilita alinhar os objetivos da organização à gestão e ao desenvolvimento de pessoas (DUTRA, 2008). 53 CAPITULO 10 EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES E OS DESAFIOS DA AREA DE RH 10.1. INTRODUÇÃO
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