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Introdução Sistema Imune

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Introdução ao Sistema Imune 
 Historicamente, a imunidade significa proteção 
contra doenças e, mais especificamente, doenças 
infecciosas. As células e moléculas responsáveis pela 
imunidade constituem o sistema imune, e sua resposta 
coletiva e coordenada à entrada de substâncias 
estranhas é denominada resposta imune. 
 A função fisiológica do sistema imune é a defesa 
contra microrganismos infecciosos. Entretanto, mesmo 
substâncias estranhas não infecciosas podem e licitar 
respostas imunes. Além disso, mecanismos que 
normalmente protegem os indivíduos contra uma 
infecção e eliminam substâncias estranhas também são 
capazes de causar lesão tecidual e doenças em algumas 
situações. Portanto, uma definição mais inclusiva da 
resposta imune é uma reação aos componentes de 
microrganismos, bem como a macromoléculas, tais 
como proteínas e polissacarídios, e pequenos agentes 
químicos que são reconhecidos como estranhos, 
independentemente da consequência fisiológica ou 
patológica de tal reação. Sob certas situações, mesmo 
moléculas próprias podem licitar respostas imunes (as 
chamadas doenças autoimunes). A imunologia é o 
estudo das respostas imunes em seu sentido mais 
amplo e de eventos celulares e moleculares que 
ocorrem após um organismo encontrar microrganismos 
e outras macromoléculas estranhas. 
 
Células do sistema imune 
 As células que servem a papéis especializados nas 
respostas imunes inata e adaptativa incluem fagócitos, 
células dendríticas, linfócitos específicos para antígeno 
e vários outros leucócitos que agem para eliminar os 
antígenos. Aqui descreveremos a morfologia e 
características funcionais das células do sistema imune 
e como elas são organizadas nos tecidos linfoides. 
Embora a maioria destas células seja encontrada no 
sangue, suas respostas aos microrganismos 
normalmente ocorrem nos tecidos linfoides e outros 
tecidos e, assim, podem não ser refletidas por 
alterações em seus números na circulação. 
 
 
 
 
 
 Os neutrófilos, também chamados de leucócitos 
polimorfonucleares, constituem a população mais 
abundante de células brancas sanguíneas circulantes e 
medeiam as fases iniciais das reações inflamatórias. Os 
neutrófilos circulam como células esféricas de 
aproximadamente 12 a 15 μm de diâmetro com 
numerosas projeções membranosas. O núcleo de um 
neutrófilo é segmentado em três a cinco lóbulos 
conectados, por isso o sinônimo de leucócito 
polimorfonuclear. O citoplasma contém grânulos de 
dois tipos. A maioria, chamada de grânulos específicos, 
é preenchida com enzimas tais como lisozima, 
colagenase e elastase. Estes grânulos não coram 
fortemente nem com corantes básicos nem com 
corantes acídicos (hematoxilina e eosina, 
respectivamente), que distinguem os grânulos dos 
neutrófilos daqueles de dois outros tipos de 
granulócitos circulantes, chamados de basófilos e 
eosinófilos. O restante dos grânulos dos neutrófilos, 
denominados grânulos aurofílicos, consiste em 
lisossomas que contêm enzimas e outras substâncias 
microbicidas, incluindo defensinas e catelicidinas. 
 Os neutrófilos são produzidos na medula óssea e 
surgem de precursores que também dão origem a 
fagócitos mononucleares. A produção dos neutrófilos é 
estimulada pelo fator estimulador de colônias (G-CSF). 
Um humano adulto produz mais de 1×10 11 neutrófilos 
por dia, cada qual circulando no sangue por horas ou 
poucos dias. Podem migrar rapidamente para locais de 
infecção após a entrada de microrganismos. Após a 
entrada nos tecidos, os neutrófilos funcionam por 
somente 1 a 2 dias e, então, morrem. 
 
 
 
 Inclui as células circulantes denominadas monócitos 
e células residentes teciduais denominadas 
macrófagos. Os macrófagos, que são amplamente 
distribuídos nos órgãos e tecido conectivo, têm papel 
central na imunidade inata e adaptativa. Muitos tecidos 
são povoados com macrófagos residentes com vida 
longa e derivados do saco vitelino ou precursores 
hepáticos fetais durante o desenvolvimento fetal que 
assumem fenótipos especializados dependendo do 
órgão. Exemplos são as células de Kupffer que recobrem 
os sinusoides no fígado, macrófagos sinusoides no baço, 
macrófagos alveolares nos pulmões e células da 
microglia no cérebro. Nos adultos, as células da 
linhagem de macrófago surgem a partir de células 
precursoras na medula óssea, direcionadas por uma 
proteína denominada fator estimulador de colônia de 
monócito (ou macrófago) (M-CSF). Esses precursores 
evoluem para monócitos, que entram e circulam no 
sangue e, então, migram para os tecidos, especialmente 
durante as reações inflamatórias, onde eles então 
Neutrófilos 
 
Fagócitos Mononucleares 
 
amadurecem em macrófagos. 
 
 
 
 Os monócitos têm entre 10 a 15 μm em diâmetro, 
com citoplasma finamente granular contendo 
lisossomas, vacúolos fagocíticos e filamentos de 
citoesqueleto. Os monócitos são heterogêneos e 
consistem em diferentes subgrupos distinguíveis pelos 
marcadores de superfície celular e funções. Em ambos 
humanos e camundongos, os monócitos mais 
numerosos, algumas vezes denominados monócitos 
clássicos, produzem abundantes mediadores 
inflamatórios e são rapidamente recrutados para locais 
de infecção e tecido danificado. Em humanos, esses 
monócitos são identificáveis pela alta expressão na 
superfície celular de CD14 e não têm a expressão de 
CD16 (CD14++CD16). Os monócitos não clássicos, que 
constituem a minoria dos monócitos sanguíneos, são 
CD14+CD16++ em humanos. Estas células contribuem 
para o reparo tecidual após a lesão e são conhecidas por 
rolar ao longo das superfícies endoteliais (descrito como 
patrulhamento). Um subgrupo humano intermediário 
também foi descrito (CD14 ++CD16+). 
 
 Os macrófagos teciduais realizam várias funções 
importantes na imunidade inata e adaptativa. 
•A principal função dos macrófagos na defesa do 
hospedeiro é ingerir e matar microrganismos. Os 
mecanismos de morte, incluem a geração enzimática de 
espécies reativas de oxigênio e nitrogênio que são 
tóxicas aos microrganismos e digestão proteolítica. 
•Os macrófagos também ingerem células mortas do 
hospedeiro, incluindo células que morrem nos tecidos 
por causa de trauma ou suprimento sanguíneo 
interrompido e neutrófilos que se acumulam nos locais 
de infecção. Esta é a parte do processo de limpeza após 
a infecção ou lesão tecidual. Os macrófagos também 
reconhecem e engolfam células apoptóticas antes que 
as células mortas possam liberar seus conteúdos e 
induzir respostas inflamatórias. 
•Macrófagos ativados secretam várias citocinas 
diferentes que agem nas células endoteliais que 
recobrem os vasos sanguíneos para aumentar o 
recrutamento de mais monócitos e outros leucócitos do 
sangue para os locais de infecções, amplificando, assim, 
a resposta protetora contra os microrganismos. 
•Macrófagos servem como APCs que apresentam 
antígenos e ativam os linfócitos T. Esta função é 
importante na fase efetora das respostas imunes 
mediadas por células T. 
•Macrófagos promovem o reparo de tecidos 
danificados pela estimulação do crescimento de novos 
vasos sanguíneos (angiogênese) e síntese de matriz 
extracelular rica em colágeno (fibrose). Estas funções 
são mediadas por citocinas secretadas pelos 
macrófagos que agem em várias células teciduais. 
 
 Os macrófagos são ativados para realizar suas 
funções por meio do reconhecimento de diferentes de 
moléculas microbianas, bem como moléculas do 
hospedeiro produzidas em resposta a infecções e lesão. 
Estas várias moléculas ativadoras se ligam a receptores 
de sinalização específicos localizados na superfície ou 
dentro do macrófago. Os macrófagos também são 
ativados quando receptores em suas membranas 
plasmáticas ligam a opsoninas na superfície dos 
microrganismos. As opsoninas são substâncias que 
recobrem partículaspara a fagocitose. Na imunidade 
adaptativa, os macrófagos são ativados pelas citocinas 
secretadas e por proteínas de membrana nos linfócitos 
T. 
 Os macrófagos podem adquirir capacidades 
funcionais distintas, dependendo dos tipos de estímulos 
ativadores aos quais são expostos. O exemplo mais claro 
disto é a resposta dos macrófagos a diferentes citocinas 
produzidas pelos subgrupos de células T. Algumas 
destas citocinas ativam macrófagos para estes se 
tornarem eficientes em matar microrganismos, o que é 
chamado de ativação clássica. Outras citocinas ativam 
os macrófagos para promover o remodelamento e 
reparo tecidual, o que se denomina ativação alternativa. 
Essas diferentes vias de ativação e as citocinas 
envolvidas também podem assumir diferentes formas 
morfológicas após a ativação por estímulos externos, 
tais como microrganismos. Alguns desenvolvem um 
citoplasma abundante e são chamados de células 
epitelioides porque são semelhantes às células 
epiteliais da pele. Os macrófagos ativados podem se 
fundir para formar células gigantes multinucleadas. 
 Os macrófagos respondem tipicamente aos 
microrganismos mais próximos tão rapidamente 
quando os neutrófilos o fazem, mas os macrófagos 
sobrevivem por muito mais tempo nos locais de 
inflamação. Diferentemente dos neutrófilos, os 
macrófagos não são terminalmente diferenciados e 
podem sofrer divisão celular nos locais de inflamação. 
Dessa maneira, os macrófagos são as células efetoras 
dominantes dos estágios finais na resposta imune inata, 
vários dias após uma infecção se iniciar. 
 
 
 
 Os mastócitos são células derivadas da medula e 
presentes na pele e mucosa epitelial, contendo 
abundantes grânulos citoplasmáticos cheios de 
histamina e outros mediadores. O fator de citocina de 
célula-tronco (também denominado ligante c-Kit) é 
essencial para o desenvolvimento do mastócito. 
Normalmente, os mastócitos maduros não são 
encontrados na circulação, mas estão presentes nos 
tecidos, em geral adjacentes a pequenos vasos 
sanguíneos e nervos. 
 Seus citoplasmas contêm numerosos grânulos 
ligados à membrana, que estão cheios de 
proteoglicanos acídicos que se ligam a corantes básicos. 
Os mastócitos expressam receptores de alta afinidade 
na membrana plasmática para um tipo de anticorpo 
denominado IgE e, geralmente, são recobertos com 
esses anticorpos. Quando os anticorpos na superfície 
dos mastócitos se ligam ao antígeno, eventos de 
sinalização são induzidos e levam à liberação dos 
conteúdos dos grânulos citoplasmáticos para dentro do 
espaço extravascular. A liberação do conteúdo do 
grânulo, incluindo histamina, promove mudanças nos 
vasos sanguíneos que causam inflamação. Os 
mastócitos funcionam como sentinelas nos tecidos, 
onde eles reconhecem produtos microbianos e 
respondem produzindo citocinas e outros mediadores 
que induzem inflamação. Estas células fornecem defesa 
contra helmintos e outros microrganismos, mas 
também são responsáveis pelos sintomas das doenças 
alérgicas. 
 
 
 
 São granulócitos sanguíneos com muitas 
similaridades estruturais e funcionais com os 
mastócitos. Assim como os granulócitos, os basófilos 
são derivados de progenitores da medula óssea (uma 
linhagem diferente da dos mastócitos), amadurecem na 
medula óssea e circulam no sangue. Os basófilos 
constituem menos de 1% dos leucócitos sanguíneos. 
Embora normalmente não estejam presentes nos 
tecidos, os basófilos podem ser recrutados para alguns 
locais inflamatórios. Os basófilos contêm grânulos que 
se ligam a corantes básicos e são capazes de sintetizar 
muitos dos mesmos mediadores dos mastócitos. Assim 
como os mastócitos, os basófilos expressam receptores 
para IgE, ligam IgE e podem ser ativados por antígeno 
ligado à IgE. Como o número de basófilos é pequeno nos 
tecidos, sua importância na defesa do hospedeiro e nas 
reações alérgicas é incerta. 
 
 
 
 São granulócitos sanguíneos que expressam 
grânulos citoplasmáticos contendo enzimas que são 
danosas às paredes celulares de parasitas, mas também 
podem danificar os tecidos do hospedeiro. Os grânulos 
dos eosinófilos contêm proteínas básicas que ligam 
corantes acídicos tais como eosina. Assim como os 
neutrófilos e basófilos, os eosinófilos são derivados da 
medula óssea. As citocinas GM-CSF, IL-3 e IL-5 
promovem a maturação do eosinófilo a partir de 
precursores mieloides. Alguns eosinófilos normalmente 
estão presentes nos tecidos periféricos, especialmente 
nas coberturas mucosas dos tratos respiratório, 
gastrintestinal e geniturinário, e seus números podem 
aumentar com o recrutamento a partir do sangue em 
uma situação de inflamação. 
 
 
 
 As células apresentadoras de antígenos (APCs) 
capturam microrganismos e outros antígenos, 
apresentam-nos aos linfócitos e fornecem sinais que 
estimulam a proliferação e diferenciação dos linfócitos. 
Por convenção, APC normalmente se refere à célula que 
apresenta antígenos aos linfócitos T. O principal tipo de 
APC que está envolvido na iniciação das respostas da 
célula T é a célula dendrítica. Os macrófagos e células B 
apresentam os antígenos aos linfócitos T nas respostas 
imunes mediadas por células e humorais, 
respectivamente. Um tipo celular especializado, 
chamado de célula dendrítica folicular, apresenta 
antígenos aos linfócitos B durante fases particulares das 
respostas imunes humorais. Muitas APCs, tais como 
células dendríticas e macrófagos, também reconhecem 
e respondem aos microrganismos durante as reações 
imunes inatas e, assim, ligam as reações imunes inatas 
às respostas do sistema imune adaptativo. 
 
➢ Células Dendríticas 
 São as APCs mais importantes para a ativação das 
células T imaturas e têm papel principal nas respostas 
inatas às infecções e na ligação das respostas imunes 
inata e adaptativa. Elas têm longas projeções 
membranosas e capacidades fagocítica e são 
amplamente distribuídas nos tecidos linfoides, epitélio 
mucoso e parênquima de órgãos. A maioria é parte de 
linhagem mieloide de células hematopoéticas e se 
origina de um precursor que também pode se 
diferenciar em monócitos, mas não em granulócitos. A 
maturação das células dendríticas é dependente de uma 
citocina denominada ligante Flt3, que se liga ao 
receptor tirosinoquinase Flt3 nas células precursoras. 
Mastócitos 
 
Eosinófilos 
 
Células Apresentadoras de Antígenos 
 
Basófilos 
 
Similarmente aos macrófagos, as células dendríticas 
expressam receptores que reconhecem moléculas 
tipicamente produzidas pelos microrganismos e não 
células de mamíferos, e elas respondem aos 
microrganismos com a secreção de citocinas. 
 A maioria das células dendríticas na pele, mucosa e 
parênquima de órgãos, que são chamadas de células 
dendríticas clássicas (ou convencionais), responde aos 
microrganismos migrando para os linfonodos, onde elas 
apresentam antígenos proteicos microbianos aos 
linfócitos T. Uma subpopulação de células dendríticas, 
denominadas células dendríticas plasmocitoides, 
consiste em respondedores celulares precoces à 
infecção viral. Elas reconhecem ácidos nucleicos de vírus 
intracelular e produzem proteínas solúveis chamadas de 
interferons tipo I, que têm potentes atividades 
antivirais. As populações de células dendríticas também 
podem ser derivadas de precursores embrionários e, 
durante a inflamação, dos monócitos. 
 
 
 
➢ Células Dendríticas Foliculares 
 As células dendríticas foliculares (FDCs) são células 
com projeções membranosas encontradas 
entremeadas em coleções de células B ativadas nos 
folículos linfoides de linfonodos, baço e tecidos linfoides 
mucosos. As FDCs não são derivadas de precursores na 
medula óssea e não estão relacionadas com as células 
dendríticas que apresentam antígenos aos linfócitos T. 
As FDCs ligam e apresentam antígenos proteicosem 
suas superfícies para o reconhecimento pelos linfócitos 
B. Isso é importante para a seleção dos linfócitos B que 
expressam anticorpos que ligam antígenos com alta 
afinidade. As FDCs também contribuem para a 
organização estrutural dos folículos. 
 
➢ Outras Células Apresentadoras de Antígeno 
 Em adição às células dendríticas, macrófagos e 
linfócitos B são importantes células apresentadoras de 
antígenos para as células T auxiliares CD4+. Macrófagos 
apresentam antígenos para os linfócitos T auxiliares nos 
locais de infecção, o que leva à ativação da célula T 
auxiliar e produção de moléculas que ativarão os 
macrófagos. Este processo é importante para a 
erradicação de microrganismos que são ingeridos pelos 
fagócitos, mas resistem à morte; nestes casos, as células 
T auxiliares aumentam grandemente as atividades 
microbianas dos macrófagos. As células B apresentam 
antígenos às células T auxiliares, o que é um passo 
importante na cooperação das células T auxiliares com 
as células B para as respostas de anticorpos aos 
antígenos proteicos. Os linfócitos T citotóxicos (CTLs) 
são células T CD8+ efetoras que podem reconhecer 
antígenos de qualquer tipo de célula nucleada e se 
tornar ativados para matar a célula. Dessa maneira, 
todas as células nucleadas são potencialmente APCs 
para CTLs. 
 
 
 
 Únicas células da imunidade adaptativa, são as 
células exclusivas no corpo que expressam receptores 
de antígenos clonalmente expressos, cada um 
específico para um determinante antigênico diferente. 
Cada clone de linfócitos T e B expressa receptores de 
antígenos com uma única especificidade, que é 
diferente das especificidades dos receptores em outros 
clones. Assim, os receptores de antígenos nestes 
linfócitos são clonalmente distribuídos. Existem milhões 
de clones de linfócitos no corpo, permitindo que o 
organismo reconheça e responda aos milhões de 
antígenos estranhos. 
 Destes, ∼2% estão no sangue, ∼4% na pele, ∼10% 
na medula óssea, ∼15% nos tecidos linfoides mucosos 
dos tratos gastrintestinal e respiratório e ∼65% nos 
órgãos linfoides (principalmente baço e linfonodos). 
Após o nascimento, os linfócitos, assim como as células 
sanguíneas, surgem a partir das células-tronco na 
medula óssea. Os linfócitos e seus precursores são 
radiossensíveis e mortos por altas doses de radiação γ. 
Todos os linfócitos passam por complexos estágios de 
maturação, durante os quais eles expressam receptores 
de antígenos e adquirem as características funcionais e 
fenotípicas de células maduras. Os locais anatômicos 
onde ocorrem os principais passos no desenvolvimento 
do linfócito são chamados de órgãos linfoides 
geradores. Estes incluem a medula óssea, onde 
precursores de todos os linfócitos surgem e as células B 
amadurecem, e o timo, onde as células T amadurecem. 
Estas células B e T maduras são chamadas de linfócitos 
imaturos. Os linfócitos imaturos são funcionalmente 
quiescentes, mas, após ativação pelo antígeno, eles 
proliferam e sofrem dramáticas alterações na atividade 
fenotípica e funcional. 
Linfócitos 
 
 
 
 Os linfócitos imaturos que emergem da medula 
óssea ou do timo migram para os órgãos linfoides 
periféricos, onde são ativados pelos antígenos para 
proliferar e se diferenciar em células efetoras e de 
memória, algumas das quais então migram para os 
tecidos. A ativação dos linfócitos segue uma série de 
etapas sequenciais que se iniciam com a síntese de 
novas proteínas, tais como receptores de citocinas e 
citocinas, que são necessárias para muitas das 
alterações subsequentes. As células imaturas passam 
então a proliferar, resultando em tamanho aumentado 
dos clones específicos para o antígeno, um processo 
chamado de expansão clonal. Em algumas infecções, os 
números de células T infectadas pelo microrganismo 
pode aumentar mais de 50 mil vezes, e o número de 
células B específicas pode aumentar até 5 mil vezes. Esta 
rápida expansão clonal dos linfócitos específicos para 
microrganismos é necessária para manter o ritmo com 
a habilidade dos microrganismos de rapidamente 
replicarem. 
 Em paralelo com a expansão clonal, os linfócitos 
estimulados por antígeno se diferenciam em células 
efetoras cujas funções são eliminar o antígeno. Outra 
progênie dos linfócitos B e T estimulados por antígeno 
se diferencia em células de memória de vida longa, cuja 
função é mediar respostas rápidas e aumentadas a 
subsequentes exposições aos antígenos. Misturas de 
linfócitos imaturos, efetores e de memória sempre 
estão presentes em vários locais por todo o corpo, e 
estas populações podem ser diferenciadas por meio de 
vários critérios funcionais e fenotípicos. 
 
 
 
 
 
 
➢ Linfócitos Imaturos 
 Os linfócitos imaturos são células T ou B maduras 
situadas nos órgãos linfoides periféricos e circulação e 
que nunca encontraram antígeno estranho. (O termo 
imaturo se refere à ideia de que estas células são 
imunologicamente inexperientes porque elas nunca 
encontraram um antígeno.) Os linfócitos imaturos 
morrem tipicamente após 1 a 3 meses se não 
reconhecerem antígenos. Os linfócitos imaturos e de 
memória são ambos chamados de linfócitos em 
repouso porque eles não estão ativamente em divisão, 
nem realizam funções efetoras. Linfócitos B e T imaturos 
(e de memória) não são facilmente diferenciados 
morfologicamente, e ambos são frequentemente 
denominados como linfócitos pequenos quando 
observados em esfregaço sanguíneo. Um linfócito 
pequeno tem 8 a 10 μm de diâmetro e possui um núcleo 
grande com heterocromatina densa e um fino anel de 
citoplasma que contém pouca mitocôndria, ribossomos 
e lisossomas, mas nenhuma organela especializada 
visível. Antes da estimulação antigênica, os linfócitos 
imaturos estão em estado de repouso, ou em um 
estágio G0 do ciclo células. Em resposta à estimulação, 
eles entram no estágio G1 do ciclo celular antes de se 
dividirem. Os linfócitos ativados são maiores (10 a 12 
μm de diâmetro), contêm mais citoplasma e organelas e 
quantidade aumentada de RNA citoplasmático, e são 
chamados de linfócitos grandes ou linfoblastos. 
 A sobrevivência dos linfócitos imaturos depende de 
sinais gerados pelos receptores de antígenos e pelas 
citocinas. É postulado que o receptor de antígeno das 
células B imaturas gera sinais de sobrevivência mesmo 
na ausência de antígeno. Os linfócitos T imaturos 
reconhecem rapidamente vários dos próprios 
antígenos, o que é suficiente para gerar sinais de 
sobrevivência, mas sem disparar os sinais mais fortes 
que são necessários para iniciar a expansão clonal e 
diferenciação em células efetoras. 
 As citocinas também são essenciais para a 
sobrevivência de linfócitos imaturos, e as células B e T 
expressam receptores para estas citocinas. As mais 
importantes destas citocinas são a interleucina-7 (IL-7), 
que promove a sobrevivência e, talvez, baixo nível de 
ciclagem das células T, e o fator de ativação da célula B 
(BAFF), uma citocina pertencente à família do TNF, que 
é necessária para a sobrevivência de células B imaturas. 
No estado de equilíbrio, o conjunto de linfócitos 
imaturos é mantido a um número constante por causa 
do balanço entre a morte espontânea destas células e a 
produção de novas células nos órgãos linfoides 
geradores. Qualquer perda de linfócitos leva à 
proliferação compensatória dos remanescentes e ao 
aumento na saída dos órgãos geradores. Uma 
demonstração da habilidade da população de linfócitos 
em preencher o espaço disponível é o fenômeno da 
proliferação homeostática. Se as células imaturas são 
transferidas para um hospedeiro que é deficiente em 
linfócitos (dito ser linfopênico), os linfócitos transferidos 
começam a proliferar e aumentam em número até 
atingir aproximadamente os números de linfócitos nos 
animais normais. Este processo ocorre na situaçãoclínica de transplante de célula-tronco hematopoética 
para o tratamento de certos tumores e em doenças 
genéticas. A proliferação homeostática parece ser 
direcionada pelos mesmos sinais – fraco 
reconhecimento dos próprios antígenos e citocinas, 
principalmente IL-7 – que são necessários para a 
manutenção dos linfócitos imaturo. 
 
➢ Linfócitos Efetores 
 Após os linfócitos imaturos serem ativados, eles se 
tornam maiores e começam a proliferar. Algumas 
destas células se diferenciam em linfócitos efetores que 
têm a habilidade de produzir moléculas capazes de 
eliminar antígenos estranhos. Os linfócitos T efetores 
incluem as células auxiliares e os CTLs, e os linfócitos B 
são células secretoras de anticorpos, incluindo 
plasmócitos. As células T auxiliares, que normalmente 
são CD4+, expressam moléculas de superfície, tais como 
ligante CD40 (CD154), e secretam citocinas que se ligam 
aos receptores nos macrófagos e linfócitos B, levando à 
sua ativação. Os CTLs possuem grânulos citoplasmáticos 
cheios de proteínas que, quando liberadas, matam as 
células que os CTLs reconhecem, que normalmente são 
infectadas com vírus ou células tumorais. Ambas as 
células T efetoras CD4+ e CD8+ normalmente expressam 
proteínas de superfície indicativas de ativação recente, 
incluindo CD25 (um componente do receptor para o 
fator de crescimento de célula T IL-2) e padrões 
alterados de moléculas de adesão (selectinas e 
integrinas). A maioria dos linfócitos T efetores 
diferenciados são de vida curta e não têm 
autorrenovação. 
 Muitas células B secretoras de anticorpos são 
morfologicamente identificáveis como plasmócitos. 
Elas têm núcleo característico posicionado 
excentricamente na célula e com a cromatina 
distribuída em torno da membrana nuclear em um 
padrão de roda de carroça; citoplasma abundante 
contendo retículo endoplasmático rugoso denso é o 
local onde os anticorpos (e outras proteínas secretadas 
e de membrana) são sintetizados e complexos de Golgi 
perinuclear distintos, onde as moléculas de anticorpo 
são convertidas às suas formas finais e preparadas para 
a secreção. Os plasmócitos se desenvolvem nos órgãos 
linfoides e em locais das respostas imunes, e alguns 
deles migram para a medula óssea, onde podem viver e 
secretar anticorpos por longos períodos após a resposta 
imune ser induzida e mesmo após o antígeno ser 
eliminado. Os plasmoblastos, que são precursores 
circulantes de plasmócitos de vida longa, podem ser 
encontrados em baixo número no sangue. 
 
➢ Linfócitos de Memória 
 As células de memória podem sobreviver em um 
estado funcionalmente quiescente ou com ciclo lento 
por meses ou anos, sem a necessidade de estimulação 
pelo antígeno e presumivelmente após o antígeno ser 
eliminado. Elas podem ser identificadas pela expressão 
de proteínas de superfície que as distinguem dos 
linfócitos imaturos e dos linfócitos efetores 
recentemente ativados, embora não seja claro quais 
proteínas de superfície são os marcadores definitivos 
das populações de memória. 
 As células T de memória, assim como as células T 
imaturas, mas não as efetoras, expressam altos níveis de 
receptor para IL-7 (CD127). As células T de memória 
também expressam moléculas de superfície que 
promovem sua migração para os locais de infecção em 
qualquer local do corpo. Em humanos, a maioria das 
células T imaturas expressa uma isoforma de 200-kD de 
uma molécula de superfície chamada de CD45, que 
contém um segmento codificado por um éxon 
designado A, sendo assim denominada CD45RA (para A 
restrito). Em contrapartida, a maioria das células T 
ativadas e de memória expressa uma isoforma de 180-
kD da CD45 na qual o RNA do éxon A foi retirado; esta 
isoforma é chamada de CD45RO. 
 Os linfócitos B de memória podem expressar certas 
classes (isotipos) de Ig de membrana, tais como IgG, IgE 
ou IgA, como resultado da troca de isotipo, ao passo que 
as células B imaturas expressam somente IgM e IgD. Em 
humanos, a expressão de CD27 é um marcador para as 
células B de memória. As células B parecem ser 
heterogêneas e existem subgrupos que diferem 
especialmente no que diz respeito à sua localização e 
propriedades migratórias. 
 As características que distinguem os linfócitos 
imaturos, efetores e de memória refletem diferentes 
programas de expressão gênica que são regulados por 
fatores de transcrição e por alterações epigenéticas 
estáveis, incluindo metilação e acetilação de histona e 
remodelamento da cromatina. 
 
 
 
 As células linfoides inatas (ILCs) incluem vários 
subgrupos relacionados de células derivadas da medula 
óssea com morfologia linfoide e funções efetoras 
similares àquelas das células T, mas sem receptores de 
antígeno da célula T. As principais funções das ILCs são 
fornecer defesa inicial contra patógenos infecciosos, 
reconhecer células estressadas e danificadas do 
hospedeiro e auxiliar na eliminação destas células e 
influenciar a natureza da resposta imune adaptativa 
subsequente. 
 As primeiras e mais bem caracterizadas células 
linfoides inatas são as células assassinas naturais (NK, do 
inglês natural killer), que secretam a citocina IFN-γ e 
matam células infectadas e danificadas e secretam IFN-
γ, uma citocina também produzida pelo subgrupo TH1 
das células T efetoras CD4+. Outros subgrupos de 
células linfoides inatas secretam citocinas que também 
são produzidas por certos subgrupos de células T 
auxiliares CD4+, incluindo IL-5, IL-13, IL-17 e IL-22. As 
células indutoras de tecidos linfoides são um subgrupo 
de ILCs que produzem as citocinas linfotoxina e TNF e 
são essenciais para a formação de tecidos linfoides 
secundários organizados. 
 
 
 
 
 
 
 
Células Linfoides Inatas

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