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PÁLPEBRAS E VIAS LACRIMAIS BRENO RODRIGUES PÁLPEBRA Aspectos anatômicos A pálpebra é a região externa do olho que tem importante função de proteção das estruturas oculares. A pálpebra é formada por uma lamela anterior de pele e músculo orbicular, na região externa e inferior. Na lamela posterior, na parte interna e inferior, existe o tarso (tecido conjuntivo denso) e a conjuntiva. A conjuntiva reveste o bulbo ocular, se desdobra e reveste a parte interna da pálpebra. A linha cinzenta (onde se passa lápis de olho) é o que separa a lamela anterior e posterior, ou seja, exterior de interior. Quando o paciente tem anemia, ou se quiser verificar indiretamente se ele está corado ou hipocorado, é só inverter a conjuntiva da pálpebra inferior (que é um tecido muito vascularizado) e observar. As principais glândulas lacrimais são: − Glândulas meibomianas (lipídicas); − Glândulas de Zeiss (sebáceas); − Glândulas de Moll (sudoríparas). DOENÇAS DAS PÁLPEBRAS Triquíase Quando os cílios nascem no local correto, mas em direção à conjuntiva, encostando no bulbo e causando sensação de corpo estranho e muito incômodo. A abrasão também pode causar infecções e doenças ulcerosas. O tratamento é por meio de epilação (retirada do cílio), ou eletrocoagulação/cauterização quando o cílio volta a crescer e continua incomodando. Distiquíase Muito semelhante à triquíase, mas aqui os cílios nascem fora do local adequado, gerando anomalia. Por exemplo: uma fileira de cílios no tarso, na parte interna da pálpebra. Gera os mesmos sintomas e riscos da triquíase. Tratamento é feito através de cirurgia de divisão lamelar (retirada da lamela extra) e crioterapia. Madarose Ausência de cílios na pálpebra, localizada ou difusa. Os cílios tem uma importante função de limpeza. Evita que poeira e outros conteúdos caiam no olho. Também pode ter influência na lubrificação do globo ocular e causar feridas e alterações mecânicas. Pode ser causada por doenças autoimunes, reumatológicas, hanseníase. Em muitos casos, os cílios não voltam a crescer. Blefarite Blefarite anterior: também conhecida como Blefarite Seborreica, é uma doença extremamente comum. Causada por excesso de oleosidade nos cílios. Forma uma espécie de dermatite seborreica (caspa). Comum em pessoas que tem pele BRENO RODRIGUES oleosa, rosácea, acne. Gera coceira na base da pálpebra, sensação de corpo estranho e sintomas de olho seco. Blefarite Posterior: também chamada de Meibomite. As glândulas meibomianas normalmente não são visíveis, apenas quando estão inflamadas. Elas são responsáveis pela produção lipídica do filme lacrimal. Esse filme é formado 90% de água e sais minerais e 10% de uma camada lipídica que tem função de retardar a evaporação da água. Logo, uma inflamação das glândulas meibomianas gera diminuição ou ausência na produção de lipídios, levando a evaporação mais rápida da água do filme lacrimal e causando o “olho seco evaporativo”. É comum o excesso de produção de lágrimas em pessoas com olho seco evaporativo, como forma de compensar a evaporação excessiva. Tratamento das blefarites: − Higiene ciliar (shampoo Johnson’s neutro 2 ou 3 vezes ao dia); − Pomadas antibióticas em casos mais graves; − Esteroides tópicos fracos; − Lágrimas artificiais para devolver a configuração normal da lágrima; − Tetraciclinas sistêmicas (meibomites). Nódulos benignos e cistos Calázio (Cisto Meibomiano): quando a glândula meibomiana entope e o conteúdo lipídico se acumula, formando uma cápsula e gerando um cisto. É uma lesão inflamatória crônica (não é dolorosa, já que não tem um processo inflamatório agudo ativo) e estéril (não é uma infecção, não possui patógeno). Muito associada com acne, rosácea e dermatite seborreica. Hordéolo (terçol): infecção em glândula do olho que gera um processo inflamatório agudo. Causa dor e maior hiperemia. Pode gerar um abcesso e seu rompimento (ou não) com drenagem da secreção purulenta. Pode ser: − Hordéolo interno: glândula meibomiana; − Hordéolo externo: glândula de Zeis ou Moll. Tratamento: compressa morna várias vezes ao dia (para tentar drenar a secreção) e uso de antibióticos tópicos ou sistêmicos. OBS:O hordéolo, se não tratado adequadamente, pode evoluir para uma celulite orbitária e esta, em último caso, para uma meningite. Xantelasma: são placas subcutâneas de colesterol. Não há implicações clínicas, apenas estéticas. Deve atentar para o risco O olho seco pode ser causado principalmente por uma deficiência na produção da lágrima. A síndrome de Sjögren, por exemplo, é uma doença autoimune que ataca a glândula lacrimal, responsável pela produção da parte aquosa da lágrima. Pode haver um componente genético, já que tende a aparecer em pessoas com pele oleosa, acne e rosácea, e essas características são hereditárias. BRENO RODRIGUES de hipercolesterolemia sistêmica. Tratamento estético através de excisão. Defeitos de posição da pálpebra A pálpebra possui ligamentos suspensores, o músculo orbicular e o tarso, que mantém a sustentação palpebral. Com o passar dos anos, esses mecanismos de sustentação vão perdendo sua funcionalidade e podem surgir defeitos de posicionamento da pálpebra. Ectrópio: doença em que há o caimento da pálpebra inferior, externalizando o tarso. Pode ser involucional (causada pela idade), cicatricial (causada por uma cicatriz na face) ou paralítico (falta de inervação por paralisia facial, por exemplo). O tratamento temporário é feito com lubrificantes de lágrima artificial durante o dia e oclusões com gaze e pomada durante a noite para evitar infecções e melhorar o conforto. O tratamento definitivo é cirúrgico. Entrópio: doença em que a pálpebra inferior é internalizada, invertendo para dentro. Pode ser involucional (idade) ou cicatricial. O tratamento é o mesmo do ectrópio. Pode-se utilizar ainda uma lente de contato para proteger a córnea do contato com os cílios. Ptose: quando a pálpebra superior não abre normalmente (abre pouco). Pode ser: − Neurogênica: paralisia do nervo oculomotor (III), que inerva o músculo elevador da pálpebra superior, causada por aneurisma ou tumor, por exemplo. − Miogênica: paralisia no músculo elevador da pálpebra; − Aponeurótica: quando há uma alteração constitucional na aponeurose do músculo; − Mecânica: massa ou cicatriz. Dermatocálase: excesso de pele. Geralmente surge com o passar da idade. Não tem implicações clínicas importantes desde que não interfira no campo visual do paciente. Tratamento é cirúrgico para retirada do excesso de pele, seja por interferência na visão ou questão estética. BRENO RODRIGUES VIAS LACRIMAIS A glândula lacrimal principal fica no rebordo orbitário. Ela é a responsável por produzir a lágrima em maior quantidade, quando se chora ou por estímulo reflexo no olho (bater o dedo, corpo estranho). As glândulas lacrimais acessórias ficam dentro da conjuntiva e são responsáveis pela produção basal da lágrima (filme lacrimal que mantém a lubrificação natural do olho no dia-a-dia). A lágrima é produzida nas glândulas lacrimais, passa pelo olho, e é drenada passando pelos pontos lacrimais, passando pelos canalículos e chegando até o saco lacrimal, que se continua como canal lacrimo-nasal que desemboca no meato inferior da cavidade nasal. É por isso que quando se chora, há secreção sendo expelida pelo nariz. Por isso, deve-se ter cuidado com o uso de colírios. Esses medicamentos tópicos podem ter absorção sistêmica pela conjuntiva altamente vascularizada e ao descer para a cavidade nasal e para a orofaringe, onde será absorvido pelo TGI. Não é incomum pacientes relatarem sentirum gosto estranho na boca depois de utilizarem colírio. Uma gota é suficiente para ter a ação desejada. Lacrimejamento Lacrimejamento: é causado pelo excesso de produção lágrimas. Epífora Epífora é um excesso de lágrima causado por obstrução na drenagem. A causa mais comum de epífora é a obstrução congênita do ducto nasolacrimal. Obstrução congênita Atinge 20% das crianças no primeiro ano de vida. Sinais: epífora, cílios grudados, Dacriocistite aguda. Canalização espontânea em 95% dos casos no primeiro ano de vida. Tratamento: massagem 4x ao dia (10 movimentos de cima para baixo) e, caso o canal não abra após os 12 meses, pode-se utilizar uma sonda para fazer a abertura. Dacriocistite aguda Quando o ducto lacrimal está obstruído (principalmente em regiões mais baixas), há acúmulo de secreção no saco lacrimal, que se transforma em meio de cultura e acaba gerando uma infecção chamada Dacriocistite aguda. Associado a S. aureus e bactérias gram positivas. Início subagudo com dor, eritema, edemano canto medial e epífora. Em casos graves pode evoluir para uma celulite pré-septal. Tratamento: compressa morna, antibiótico oral (cefalexina, por exemplo). Quando mesmo após melhorar o ducto ainda permance fechado, pode-se fazer uma dacriocistorrinostomia (cirurgia de abertura de uma nova passagem para o meato nasal).
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