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TRANSTORNOS PSICÓTICOS

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TRANSTORNOS PSICÓTICOS 
 
BRENO RODRIGUES 
PSICOSE 
Psicose: Termo amplo que dependendo do referencial 
teórico pode se referir a personalidade, diagnóstico e 
outros. 
É a “perda do contato com a realidade”. 
Crise psicótica, surto psicótico, paciente psicótico, 
sintomas psicóticos, personalidade psicótica, filme de 
Hitchcock (Psicose) ... 
PSICOSE×PSICOPATIA (Transtornos de 
personalidade) 
! Podemos dizer que psicose é um estado mental em 
que o indivíduo perde o contato com a realidade, 
acredita em ideias mirabolantes e se relaciona com 
objetos inanimados e imaginários. Já a psicopatia tem 
mais a ver com o comportamento (frio, calculista), são 
pessoas capazes de cuidar de si e ter uma vida em 
sociedade, quando não estão em crise. 
Classificação 
CID-10 (OMS): F 20 a F 29 
▪ Esquizofrenia F 20 
▪ Transtorno esquizotípico F21 
▪ Transtorno delirante persistente F22 
▪ Transtorno Psicótico agudo e transitório 
F23 
▪ Transtorno delirante induzido F24 
▪ Transtorno esquizoafetivo F25 
▪ Outros Transtornos psicóticos não orgânicos 
F28 
▪ Psicoses não orgânica não especificada F29 
 
DSM-5: 
▪ Transtorno Delirante 
▪ Transtorno psicótico breve 
▪ Transtorno esquizofreniforme 
▪ Esquizofrenia 
▪ Transtorno esquizoafetivo 
▪ Transtorno psicótico induzido por substancia/ 
medicamentos 
▪ Transtorno psicótico devido a outra condição 
médica 
▪ Transtorno de espectro da esquizofrenia, outro 
transtorno psicótico especificado 
▪ Transtorno de espectro da esquizofrenia e 
outro transtorno psicótico não especificado 
 
ESQUIZOFRENIA 
Critérios Diagnósticos DMS-5 
A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um 
presente por uma quantidade significativa de 
tempo durante um período de um mês (ou 
menos, se tratados com sucesso). Pelo menos 
um deles deve ser (1), (2) ou (3): 
▪ 1. Delírios. 
▪ 2. Alucinações. 
▪ 3. Discurso desorganizado. 
▪ 4. Comportamento grosseiramente 
desorganizado ou catatônico. 
▪ 5. Sintomas negativos. 
B. Por período significativo de tempo desde o 
aparecimento da perturbação, o nível de 
funcionamento em uma ou mais áreas 
importantes da vida, como trabalho, relações 
interpessoais ou autocuidado, está 
acentuadamente abaixo do nível alcançado 
antes do início. (É importante pois mostra a 
gravidade do quadro e o impacto no 
funcionamento de vida do indivíduo. 
“Quebra da curva da vida” – quando a pessoa 
que estava desenvolvendo normalmente sua 
vida apresenta um comportamento 
completamente diferente. 
C. Sinais contínuos de perturbação persistem 
durante, pelo menos, seis meses.! Não é 
correto dar diagnóstico de esquizofrenia em 
uma consulta por conta de um surto. 
D. Transtorno esquizoafetivo (entre a 
esquizofrenia e o transtorno bipolar, apresenta 
episódios de surto “esquizofrênico” e surtos 
com alteração de humor) e transtorno 
depressivo ou transtorno bipolar com 
características psicóticas são descartados. 
E. A perturbação não pode ser atribuída aos 
efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., 
droga de abuso, medicamento) ou a outra 
condição médica (abstinência, delirium, 
demência, hipoxemia, 
! Não confundir surto psicótico com esquizofrenia. Os 
surtos podem aparecer em várias patologias, não são 
exclusivos da esquizofrenia. 
Epidemiologia 
Prevalência: 1% 
Igualmente prevalente entre homens e mulheres. 
Diferença quanto a faixa etária de início: 
− Homens: 10-25 anos; 
− Mulheres: 25-35 anos e 40-50 anos. 
Início antes dos 18 anos é precoce e acima de 45 
anos é tardio. 
BRENO RODRIGUES 
Fatores de risco: 
− História familiar de esquizofrenia; 
− Pré-natal: infecção (vírus influenza), 
desnutrição materna; 
− Neonatal: hipóxia; 
− Infância: abuso físico e sexual; 
− Adolescência: uso de maconha (uso pode 
impedir o desenvolvimento correto do cérebro, 
causando surtos e desenvolvendo um quadro 
esquizofrênico); 
− Imigrantes, morar em grandes centros 
urbanos. 
Etiologia 
Multifatorial: 
− Fatores biológicos; 
− Fatores sociais; 
− Fatores psicológicos. 
Apresentação clínica 
Fase pré-mórbida: 
Antes de apresentar os primeiros sintomas o indivíduo 
pode já apresentar uma anormalidade do 
funcionamento: 
− Retraimento social; 
− Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor; 
− Dificuldade de aprendizagem; 
− Poucos amigos (não confundir com 
antissocial, característica atribuída a 
sociopatas por não apresentarem empatia); 
− Ser quieto, introvertido, passivo; 
− Personalidade esquizoide ou esquizotípica 
(Transtorno de personalidade grupo A – “os 
esquisitos”). 
Essas apresentações são sinais, não devem ser 
encarados como garantia de diagnóstico. 
Fase prodrômica 
Meses antes da eclosão da psicose propriamente dita, 
há geralmente uma queda do funcionamento do 
sujeito que se torna mais isolado, ansioso, pouco 
comunicativo, com ideias distorcidas, sensação de 
estranhamento do ambiente, comportamentos 
esquisitos e até mesmo alterações 
sensoperceptivas menos complexas. 
Paciente pode ainda nessa fase apresentar algum 
juízo sobre seu estado, apresentando consciência e 
estranhamento em seus próprios pensamentos e 
comportamentos. Isso não acontece no surto. 
Também pode ter queixas somáticas: cefaleia, dores 
musculares, fraqueza, problemas digestivos. 
• Sintomas positivos ou produtivos: 
− Delírios 
− Alucinações 
− Desorganização do pensamento e 
comportamento (discurso) 
− Alterações afetivas 
− Alterações psicomotoras (agitado) 
 
• Sintomas negativos ou deficitários: 
− Embotamento afetivo (não apresenta 
expressões claras, geralmente 
mantém o mesmo semblante) 
− Hipobulia/abolia (diminuição ou 
ausência de interesse em realizar 
atividades comuns do cotidiano) 
− Empobrecimento cognitivo 
− Isolamento social 
− Discurso empobrecido 
! Sintomas positivos são os clássicos característicos 
de surtos. Sintomas negativos geralmente são 
associados ao período após um surto ou entre surtos. 
Vamos explorar mais a fundo alguns dos principais 
sintomas: 
• Delírio: 
− Convicção extraordinária: não se pode 
colocar em dúvida a veracidade. 
− Irremovível: impossível a modificação pela 
experiência objetiva, por provas explícitas da 
realidade, por argumentos lógicos, plausíveis 
e aparentemente convincentes. 
− Conteúdo impossível: os modos como 
constrói o ajuizamento e como mantém a 
crença são falsos (a lógica utilizada para 
construção do pensamento não condiz com a 
realidade); 
− Produção associal: idiossincrática em 
relação ao seu grupo cultural (ideias que não 
pertencem ao seu grupo social). 
− Conteúdos mais comuns do delírio: 
persecutórios (perseguição), 
autorreferentes (tudo é sobre eles), de 
influência (acham que estão sendo 
influenciados por outras pessoas, mesmo 
distantes), grandiosidade (achar que é 
famoso), místico-religiosos (achar que é o 
eleito, o escolhido, o justiceiro). 
− Percepção delirante: o delírio surge a partir 
de uma percepção normal que recebe, 
imediatamente ao ato perceptivo, significação 
delirante (ideia delirante a partir de algo que 
realmente aconteceu, mas não 
necessariamente configura uma verdade). 
• Alucinações: 
− As alucinações mais comuns são as auditivas, 
mas também podem apresentar alucinações 
visuais; 
BRENO RODRIGUES 
− Vozes muitas vezes ameaçadoras, de 
comando, obscenas, acusatórias ou ofensivas; 
− Duas ou mais vozes podem conversar entre 
si; 
− Uma voz pode comentar a vida ou o 
comportamento da pessoa. 
 
 
 
• Discurso desorganizado: 
Alterações do pensamento expressas através do 
discurso: 
− Frouxidão de associações entre uma frase e 
outra (desconexão); 
− Descarrilamento; 
− Desagregação (mistura de palavras 
aleatórias); 
− Salada de palavras; 
− Incoerência; 
− Prolixidade: tangencialidade (tende a mudar 
de assunto) e Circunstancialidade (fala de 
vários outros assuntos); 
− Neologismos; 
 
• Comportamento desorganizado: 
− Higienização precária;− Aparência desleixada; 
− Desinibição; 
− Risos explosivos aparentemente imotivados; 
− Comportamento social inadequado; 
− Sorrisos e caretas incongruentes; 
− Respostas emocionais inadequadas. 
Diagnóstico diferencial 
− Transtorno psicótico breve; 
− Transtorno delirante persistente; 
− Transtorno de humor (THB, depressão, 
depressão com sintomas psicóticos) – 
esquizofrênicos não têm alteração de humor; 
− Transtorno psicótico induzido por drogas; 
− Quadros demenciais; 
− Outros. 
Doenças do SNC: 
− Infecções: Sífilis Terciária, AIDS, meningite, 
encefalites virais, etc. 
− Tumores, Doença degenerativa, epilepsia, 
TCE, etc. 
Quadros sistêmicos: 
− Lúpus, Endocrinopatias (hipertireoidismo), 
Intoxicações com metais pesados, deficiência 
de vitaminas, distúrbios metabólicos, 
farmacodependência, etc. 
Medicamentos: 
− Corticoides, estimulantes (ritalina, cocaína, 
anfetaminas e seus derivados), anticolinérgicos, 
digitálicos, Dissulfiram, Metoclopramida, etc. 
 
Abordagem – Princípios gerais 
Avaliação de riscos e necessidade de hospitalização: 
− Agitação psicomotora; 
− Risco de auto e/ou heteroagressividade; 
− Risco de suicídio (alto); 
− Perturbação da ordem pública; 
− Elucidação diagnóstica; 
− Recusa alimentar com risco de 
desnutrição/desidratação; 
− Má adesão ao tratamento; 
− Suporte familiar pobre. 
Estabelecer plano terapêutico: 
− Farmacoterapia específica: antipsicóticos 
(AP); 
− Monitoramento de efeitos adversos; 
− Reavaliação diagnóstica continuada; 
− Psicoeducação para o paciente e familiares; 
− Estratégias psicossociais: terapia ocupacional, 
psicoterapia, trabalho supervisionado. 
 
Tratamento medicamentoso 
 
− Antipsicóticos (AP): são eficazes tanto nas 
psicoses não afetivas como na mania 
psicótica e adjuvantes na depressão psicótica. 
− Qualquer AP é potencialmente eficaz na 
psicose aguda, mas o perfil de efeitos 
adversos deve ser ponderado na escolha. 
− Quando disponíveis/acessíveis, AP de 2ª 
geração devem ser preferidos pela melhor 
tolerabilidade. 
− Quanto mais precoce se iniciar o AP, melhor 
prognóstico. 
− Avaliar troca do AP com quatro a seis 
semanas. Se francamente agitados e sem 
melhora alguma, trocar em duas a três 
semanas. 
− Não existe evidência que a associação de 
diferentes APs promova algum benefício 
adiciona (melhor usar uma dose efetiva em 
monoterapia do que uma associação com 
subdosagens). 
− A dose do AP da fase de manutenção deve 
ser a mesma dose da fase aguda. 
− Manter o AP por pelo menos um a dois anos. 
Coparticipação dos pacientes na decisão. 
− Os AP injetáveis de longa ação são preferíveis 
em casos de má adesão. 
 
 
BRENO RODRIGUES 
TRANSTORNO DELIRANTE 
Critérios diagnósticos DSM-5 
A. A presença de um delírio (ou mais) com duração 
de um mês ou mais. Geralmente não há presença 
de alucinações. 
B. O critério A para esquizofrenia jamais foi atendido. 
! Nota: Alucinações, quando presentes, não são 
proeminentes e têm relação com o tema do delírio (p. 
ex., a sensação de estar infestado de insetos 
associada a delírios de infestação). 
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus 
desdobramentos, o funcionamento não está 
acentuadamente prejudicado, e o comportamento 
não é claramente bizarro ou esquisito – paciente 
leva sua vida normal, sem quebra de curva da vida. 
Epidemiologia 
− Prevalência ao longo da vida: 0,2%; 
− Idade média de início: 40 anos; 
− Subtipo mais frequente: persecutório. 
Outros subtipos que também podem ser encontrados: 
erotomaníaco, grandioso, ciumento, somático, misto e 
não-especificado. 
TRANSTORNO PSICÓTICO BREVE 
Critérios diagnósticos DSM-5 
A. Presença de um (ou mais) dos seguintes 
sintomas. Pelo menos um deles deve ser (1), (2) 
ou (3): 
1. Delírios. 
2. Alucinações. 
3. Discurso desorganizado 
4. Comportamento grosseiramente 
desorganizado ou catatônico. 
B. A duração de um episódio da perturbação é de, 
pelo menos, um dia, mas inferior a mês, com 
eventual retorno completo a um nível de 
funcionamento pré-mórbido. 
C. A perturbação não é mais bem explicada por t. 
depressivo maior ou t. bipolar com características 
psicóticas, por outro t. psicótico como esquizofrenia 
ou catatonia, nem se deve aos efeitos fisiológicos 
de uma substância. 
Especificar se: 
− Com ou sem estressor evidente 
− Com início no periparto 
− Com catatonia

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