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78 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 ������ �������� Exercícios contínuos e fracionados provocam respostas cardiovasculares similares em idosas praticantes de ginástica? Úrsula Veloso1, Walace Monteiro2 e Paulo Farinatti1 1. Laboratório de Aptidão Física e Promoção da Saúde – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Laboratório de Fisiologia do Exercício – Nú- cleo do Instituto de Ciências de Atividade Física da Aeronáutica (NUI- CAF-Aeronáutica). 2. Laboratório de Fisiologia do Exercício – Núcleo do Instituto de Ciências de Atividade Física da Aeronáutica (NUICAF-Aeronáutica). Programa de Pós-graduação em Educação Física – Universidade Gama Filho (PPGEF-UGF). Recebido em 3/1/03 2a versão recebida em 11/2/03 Aceito em 12/4/03 Endereço para correspondência: Paulo Farinatti Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU Rua São Francisco Xavier, 524, sala 8.133, bloco F, Maracanã 20550-013 – Rio de Janeiro, RJ Tel.: (21) 2587-7847 E-mail: farinatt@uerj.br forma contínua, porém, associou-se a maior sobrecarga car- diovascular, principalmente devido às respostas de pres- são arterial. Palavras-chave: Fisiologia cardiovascular. Força. Ginástica. Ido- sos. RESUMEN ¿Son similares las reacciones cardiovasculares en ancia- nas practicantes de gimnasia, sometidas a ejercicios con- tinuos y fraccionados? Poco se conoce acerca de las respuestas cardiovascula- res de ancianos en actividades que involucran diferentes partes musculares y de estrategias en la interacción car- ga/repetición en series fraccionadas y continuas (ICR). El objetivo del estudio fue comparar la frecuencia cardíaca (FC), la presión arterial sistólica (PAS), el doble-producto (DP) y la calidad de ejecución de los movimientos (QEx) en ejercicios con los miembros superiores e inferiores, en di- ferentes situaciones de ICR para flexión unilateral de las caderas y abducción de los hombros hasta 90o. Doce mu- jeres, entre 65 y 85 anos de edad, fueron observadas. Des- pués de un test de 12 RM, las actividades fueron conduci- das de tal forma que se mantuvo la misma carga de ejercicios, variando únicamente el número de repeticiones continuas. La FC fue medida con un cardiofrequencimetro y la PAS por el método de auscultación, al final de la últi- ma repetición de cada serie. Se filmaron los movimientos y la QEx fue evaluada por dos profesionales capacitados. Los valores de la PAS y el DP se mostraron significativamente mayores en la ejecución de forma continua, en compara- ción con la forma fraccionada (p < 0,05). Por otro lado, la QEx se mantuvo en ambas modalidades. A partir de esto, se concluye que, por lo menos en los ejercicios selecciona- dos, las formas de ejecución no influenciaron la QEx. Sin embargo, la forma continua, se asoció a una mayor sobre- carga cardiovascular, principalmente debido a las respues- tas de la presión arterial. Palabras clave: Fisiología cardiovascular. Fuerza. Gimnasia. An- cianos. RESUMO Pouco se conhece sobre respostas cardiovasculares de idosos em atividades envolvendo diferentes grupamentos musculares e estratégias de interação carga/repetições em séries fracionadas e contínuas (ICR). O objetivo do estudo foi comparar a freqüência cardíaca (FC), a pressão arterial sistólica (PAS), o duplo produto (DP) e a qualidade de exe- cução dos movimentos (QEx) em exercícios com membros superiores e inferiores, em diferentes situações de ICR para flexão unilateral do quadril e abdução dos ombros até 90o. Doze mulheres com 65 a 85 anos de idade foram observa- das. Após teste de 12 repetições máximas (RM), os exercí- cios foram conduzidos de forma a manter o mesmo volu- me de treinamento, variando-se o número de repetições contínuas. A FC foi medida com cardiofreqüencímetro e a PAS, pelo método auscultatório, ao final da última repeti- ção de cada série. Filmaram-se os movimentos e QEx foi avaliada por dois avaliadores treinados. Os valores de PA e DP revelaram-se significativamente maiores na forma con- tínua de execução, em comparação com a fracionada (p < 0,05). A QEx, porém, foi mantida em ambas as ocasiões. Concluiu-se que, ao menos nos exercícios selecionados, as formas de execução não exerceram influência na QEx. A Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 79 INTRODUÇÃO Dentre as alterações fisiológicas que ocorrem durante o envelhecimento, pode-se citar a redução da força, com influência marcante nas atividades do cotidiano1-3. Por outro lado, sabe-se que o treinamento de força pode au- mentar ou preservar a massa muscular desses indivíduos, contribuindo para o decréscimo de lesões ortopédicas e manutenção da independência funcional4,5. Ao se desen- volverem programas de treinamento para idosos, re- comenda-se que sejam tomados maiores cuidados com variáveis de treinamento, como freqüência semanal, du- ração, seleção dos exercícios, número de séries e repeti- ções, intensidade e forma de progressão6,7. Um dos as- pectos a serem considerados é a segurança das atividades propostas, principalmente no que diz respeito às respos- tas cardiovasculares agudas. Nesse sentido, muitos au- tores têm utilizado a análise da freqüência cardíaca (FC), pressão arterial (PA) e duplo produto (DP) como indica- dores não-invasivos da sobrecarga cardiovascular no exercício8-12. Fatores como carga de trabalho, tempo de tensão e mas- sa muscular envolvida podem, reconhecidamente, influen- ciar as respostas cardiovasculares durante o exercício13- 15. No entanto, os estudos disponíveis parecem focalizar predominantemente o treinamento com pesos de forma individualizada. As aulas de ginástica localizada também podem consistir em opção para melhorar a força, sendo freqüentemente a opção preferencial de indivíduos ido- sos que procuram programas de exercícios. Além da pos- sibilidade de trabalhar grupamentos musculares espe- cíficos, trata-se de um tipo de atividade que favorece a integração e socialização, o que aumenta as probabilida- des de adesão em longo prazo16. Porém, até onde se pôde verificar, não foram encontrados estudos analisando a in- fluência de variações na forma de condução dos exercí- cios sobre respostas cardiovasculares agudas em pessoas idosas. Por exemplo, um recurso do qual muitas vezes se lança mão é fracionar séries de repetições em exercícios diferentes, o que, em teoria, permitiria retardar a fadiga localizada. Não se sabe até que ponto isso também in- fluenciaria no comportamento agudo de variáveis cardio- vasculares. Assim, o objetivo do estudo foi comparar FC, PAS e DP em exercícios ginásticos, realizados em diferentes situa- ções de interação carga/repetição envolvendo séries fracio- nadas e contínuas. Com isso, procurou-se determinar se mudanças simples na forma de condução dos exercícios, sem alteração das cargas ministradas, poderiam ter impac- to na magnitude destas respostas, influenciando com isso os níveis de segurança da atividade proposta. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudadas 12 voluntárias de 65 a 85 anos de ida- de (média = 72 ± 6 anos). Para seleção da amostra respei- taram-se os seguintes critérios: a) prática regular de ginás- tica havia pelo menos três meses; b) índice de massa corpórea ≤ 35kg/m2, evitando-se níveis de sobrepeso que comprometessem a qualidade de execução dos movimen- tos; c) questionário Par-Q negativo. Como critérios de ex- clusão foram implementados: a) uso de medicamentos que tivessem repercussão sobre o comportamento da FC no exer- cício; b) problemas osteomioarticulares que viessem limi- tar a realização dos exercícios propostos. Todas as volun- tárias assinaram termo de consentimento pós-informado, conforme sugerido pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação pelo Comitê de Ética da instituição. O protocolo desenvolvido foi composto por dois exercí- cios, um deles para membros inferiores (MMIS) e o outro para membros superiores (MMSS). Os mesmos foram con- duzidos em duas situações diferentes. Em cada uma delas foi mantido o mesmo volume de treinamento, embora com o número de repetiçõescontínuas diferenciado. Assim, em uma das situações foram executadas quatro séries de seis repetições (série fracionada), enquanto que para a outra realizaram-se duas séries de 12 repetições (série contínua). Foi considerada série contínua, portanto, a situação em que as repetições para um dado exercício eram feitas sem in- terrupção. A série fracionada, por comparação, seria aque- la em que haveria quebra da seqüência, alternando-se os exercícios propostos, ainda que a atividade em si não fosse interrompida. O exercício para MMIS foi a flexão unilateral do quadril, com os joelhos flexionados, a partir da posição ereta até uma angulação de 90o entre a coxa e o tronco. Para a manutenção do equilíbrio e da postura ereta, o exer- cício foi realizado com apoio de bastão em frente do cor- po (figura 1). Para os MMSS, adotou-se a abdução dos ombros até uma angulação de 90o em relação ao tronco, os cotovelos em extensão e punhos em ‘posição neutra’ (figura 2). Antes do início da coleta de dados, cada participante rea- lizou um teste de 12 RM, para definir as cargas de trabalho que seriam usadas nos exercícios. Além disso, foi conduzi- da uma série de adaptação. Os dados foram então coleta- dos nos dois dias subseqüentes. A ordem de execução dos exercícios para cada um dos indivíduos, assim como das séries, foi definida através da técnica do quadrado latino. Cada indivíduo realizou duas séries de 12 repetições com cada um dos membros inferiores, alternando-as com os exercícios para membros superiores, em dias distintos. Não houve intervalos entre os exercícios, a fim de procurar re- 80 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 Fig. 1 – Exercício para membros inferiores A) B) Fig. 2 – Exercício para membros superiores A) B) produzir as condições habitualmente encontradas em au- las de ginástica. Nas duas situações propostas, foram aferidas as seguin- tes variáveis: FC, PA e qualidade da execução dos exercí- cios (QEx). A FC foi medida de forma contínua durante os exercícios, com auxílio de cardiofreqüencímetro Polar© modelo Accurex Plus. A PA foi verificada ao final da últi- ma repetição de cada série, através de esfigmomanômetro Tycos© e estetoscópio Lithman© modelo Classic II. Para tanto, o aparelho foi colocado no braço direito, anterior- mente à realização dos exercícios, sendo inflado no final da penúltima repetição. Duas avaliadoras tomaram as me- didas. Enquanto uma segurava o relógio que registrava a PA, a outra inflava o instrumento para realizar a medida e acompanhava os ruídos de Korotkoff. Uma preocupação que tinha de ser esclarecida dizia res- peito à qualidade de execução dos movimentos, que pode- ria ser influenciada pelo tipo de série. Em outras palavras, para comparar as respostas cardiovasculares agudas indu- zidas pelas formas de execução dos exercícios seria preci- so, antes de tudo, ter evidências de que o exercício execu- tado não era significativamente diferente do outro. Caso contrário, na verdade estar-se-iam comparando atividades diversas. Para avaliar a QEx, os movimentos foram filma- dos e dois avaliadores atribuíram pontuação através de uma escala de pontos especialmente confeccionada para o estu- do. Quão mais defeituosa a execução, maior a pontuação na escala (quadros 1 e 2). Considerou-se a média de pon- tos atribuídos pelos dois avaliadores como resultado final. QUADRO 1 Escala para avaliação da qualidade de execução dos exercícios (membros inferiores) Impressão geral do movimento (postura correta) 1 pt Utilizar grupamentos musculares não desejados para auxiliar na execução 2 pt Perda do ritmo de execução proposto durante as repetições 2 pt Amplitude de movimento inadequada durante a execução 3 pt Mudança indesejável do plano de execução do movimento 2 pt QUADRO 2 Escala para avaliação da qualidade de execução dos exercícios (membros superiores) Impressão geral do movimento (postura correta) 1 pt Utilizar o corpo para auxiliar o movimento (jogar o tronco para trás) 2 pt Perda do ritmo de execução proposto durante as repetições 2 pt Amplitude de movimento inadequada durante a execução 3 pt Mudança indesejável do plano de execução do movimento 1 pt Flexionar o punho durante o movimento 1 pt Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 81 TABELA 1 Fidedignidade interavaliadores Combinações estudadas Wilcoxon Spearman Membros superiores: 6 repetições – avaliador 1 x 2 NS r = 0,82 Membros inferiores: 6 repetições – avaliador 1 x 2 NS r = 0,81 Membros superiores: 12 repetições – avaliador 1 x 2 NS r = 0,77 Membros inferiores: 12 repetições – avaliador 1 x 2 NS r = 0,86 NS = não significativo TABELA 2 Correlação entre 6 e 12 repetições Combinações estudadas Wilcoxon Spearman Membros superiores: 6 rep. x 12 rep. – avaliador 1 NS r = 0,60 Membros inferiores: 6 rep. x 12 rep. – avaliador 1 NS r = 1,00 Membros superiores: 6 rep. x 12 rep. – avaliador 2 NS r = 0,63 Membros inferiores: 6 rep. x 12 rep. – avaliador 2 NS r = 0,95 NS = não significativo rep. = repetições A análise estatística envolveu os seguintes procedimen- tos: a) para comparação entre os resultados de FC, PA e DP entre as séries de um mesmo número de repetições e entre as situações de execução contínua e fracionada, valeu-se de ANOVA de duas entradas, adotando-se como fatores as variáveis série e forma de execução; b) para a verificação da fidedignidade interobservadores e da concordância de QEx entre as séries, foram aplicados o teste de Wilcoxon e a correlação de Spearman. Em todos os casos, um nível de 5% para o erro do tipo I foi exigido para significância esta- tística. RESULTADOS Inicialmente, foi analisado o impacto das situações de execução propostas sobre a QEx. Após análise das filma- gens, as notas lançadas pelos dois avaliadores foram com- paradas entre si nas seguintes situações: a) exercícios de MMSS e MMIS; b) séries contínuas e fracionadas. Tal estra- tégia foi adotada para verificar a fidedignidade interavalia- dores no julgamento da QEx. Como pode ser observado nas tabelas 1 e 2, não foram encontradas diferenças significati- vas entre as notas atribuídas nas distintas situações. Uma vez tendo sido confirmado que o tipo de execução (contínua ou fracionada) não interferia na qualidade de execução dos movimentos propostos, passou-se a analisar os dados referentes às respostas agudas das variáveis car- diovasculares. Assim, as figuras 3, 4 e 5 apresentam os valores médios e os resultados da ANOVA, respectivamen- te, para FC, PAS e DP nas diferentes situações de execução. Como pode ser observado, a FC não apresentou diferença significativa nas séries de um mesmo número de repeti- ções, o mesmo ocorrendo para as duas situações de execu- ção (contínuas e fracionadas). No que diz respeito às res- postas da PA, foram verificadas diferenças significativas quando comparadas a primeira e a segunda séries, nas duas situações, ou quando confrontadas a segunda série contí- nua com a segunda série fracionada. Por outro lado, o mes- mo não foi observado quando se comparou a primeira sé- rie contínua com a primeira série fracionada. Finalmente, foram verificadas diferenças significativas para o DP, quan- do comparadas as séries de mesmo número de repetições, bem como nas distintas formas de execução. DISCUSSÃO Em situações de prescrição de exercícios, a análise das respostas dinâmicas ao esforço torna-se imprescindível, principalmente ao se considerar a segurança. Nesse con- texto, a literatura tem demonstrado que o duplo produto representa um bom indicador não-invasivo para estimar a demanda de oxigênio pelo miocárdio, ao menos em ativi- dades aeróbias contínuas9,10,17. Já em atividades descontí- nuas, como o treinamento contra resistência, a medida do 82 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 dp média 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000 DP REP DP6 série1 DP6 série2 DP12 série1 DP12 série2 # * # * ¤ ¤ + + DP REP: Duplo produto de repouso DP6 série 1: Duplo produto após duas séries de seis repetições DP6 série2: Duplo produto após quatro séries de seis repetições DP12 série 1: Duplo produto após uma série de 12 repetições DP12 série 2: Duplo produto após duas séries de 12 repetições * diferença significativa para 6 e 12 repetições – série 1 (p < 0,05) + diferença significativa entre 6 e 12 repetições – série 2 (p < 0,05) # diferença significativa entre séries (6 repetições) (p < 0,05) �diferença significativa entre séries (12 repetições) (p < 0,05) Fig. 5 – Duplo produto em exercícios contínuos e fracionados dp média 65 75 85 95 105 115 FC REP FC6 série1 FC6 série2 FC12 série1 FC12 série2 FC REP: Freqüência cardíaca de repouso FC6 série 1: Freqüência cardíaca após duas séries de seis repetições FC6 série 2: Freqüência cardíaca após quatro séries de seis repetições FC12 série 1: Freqüência cardíaca após uma série de 12 repetições FC12 série 2: Freqüência cardíaca após duas séries de 12 repetições Não houve diferença significativa entre as séries Fig. 3 – Resposta da freqüência cardíaca em exercícios contínuos e fracionados dp média 110 120 130 140 150 160 170 180 190 PAS REP PS6 série1 PS6 série2 PS12 série1 PS12 série2 + + * * # # Fig. 4 – Resposta da pressão arterial em exercícios contínuos e fracio- nados PAS REP: Pressão arterial de repouso PS6 série 1: Pressão sistólica após duas séries de seis repetições PS6 série 2: Pressão sistólica após quatro séries de seis repetições PS12 série 1: Pressão sistólica após uma série de 12 repetições PS12 série 2: Pressão sistólica após duas séries de 12 repetições * diferença significativa para 6 e 12 repetições (p < 0,05) + diferença significativa entre séries (6 repetições) (p < 0,05) # diferença significativa entre séries (12 repetições) (p < 0,05) DP não apresenta correlação com a demanda de oxigênio pelo miocárdio. Entretanto, isso não impede que essa me- dida perca valor na apreciação da sobrecarga imposta ao músculo cardíaco. Seja sob qual for a perspectiva em que se examina o assunto, valores mais elevados de duplo pro- duto durante o exercício decorrem de freqüência cardíaca, volume sistólico, débito cardíaco e, em alguns casos, re- sistência sistêmica mais importante; portanto, maior estres- se cardiovascular. Dessa forma instituições como o Ameri- can College of Sports Medicine7 consideram essa variável como o melhor indicador de solicitação cardíaca em pro- gramas de treinamento com pesos. Na determinação do DP no presente estudo, uma limita- ção que deve ser apontada é a técnica de medida da pres- são arterial. O método auscultatório tende a subestimar os valores obtidos para pressão arterial nos exercícios de for- ça, uma vez que seus valores decrescem rapidamente ao final da contração muscular. Nesse sentido, a medida in- tra-arterial é considerada padrão-ouro para aferição da pres- são arterial. Contudo, devido ao seu caráter invasivo, o mesmo pode acarretar riscos elevados para o participante. Logo, problemas éticos tendem a desaconselhar o uso des- sa técnica em estudos desenvolvidos com indivíduos sau- dáveis18,19. Apesar de exibir maior margem de erro e menor reprodutibilidade, o método auscultatório tem maior apli- cabilidade e oferece menor risco. Parte-se da premissa de que a tendência de subestimar os valores pressóricos abso- lutos, principalmente os relativos à PAS, mantém-se em to- das as situações propostas de exercício. Assim, o método seria capaz de identificar, ao menos em termos comparati- vos, as tendências de solicitação cardiovascular relativa impostas pelas atividades20. Em outras palavras, através do método auscultatório seria possível afirmar que a sobre- carga cardiovascular de um exercício tende a ser maior que a de outro, mesmo que não se possam fazer inferências mais precisas sobre os reais valores absolutos de PA e DP. Outros estudos valeram-se do método auscultatório para Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 83 comparar as respostas pressóricas de diferentes atividades envolvendo o treinamento contra resistência, partindo da mesma premissa21-24. Até onde foi possível verificar, não foram encontrados estudos que compararam as respostas cardiovasculares em situações de trabalho contínuo e fracionado junto a idosos praticantes de aulas de ginástica. A literatura tem demons- trado maior preocupação em acompanhar os efeitos do trei- namento de força em equipamentos de treinamento contra resistência. Alguns exemplos são os estudos de Overend et al.11 e Smolander et al.25, que centraram suas atenções no estresse cardiovascular em jovens e idosos, durante exercí- cios isocinéticos e isométricos, respectivamente. Os resulta- dos do presente estudo indicaram que não houve diferen- ças significativas da FC entre as séries contínua e fracionada e entre as séries com número de repetições similar ou dife- rente, mostrando que as situações de trabalho propostas não influenciam nas respostas dessa variável. No entanto, era esperado que a FC aumentasse de acordo com a massa muscular mobilizada e com o tempo de tensão ao qual a musculatura foi submetida26,27. Um dos aspectos que pode ter influenciado nesses resultados foi a continuidade da execução de ambos os exercícios: apesar da natureza con- tínua e fracionada de cada um deles, na verdade não houve intervalos entre as séries, completando um tempo total de execução total semelhante para uma mesma intensidade relativa (percentual da força máxima). No entanto, foram observadas diferenças significativas nas respostas da PAS quando comparadas as primeiras e as segundas séries, nas duas situações, ou quando confron- tadas a segunda série contínua com a segunda série fracio- nada. Por outro lado, o mesmo não foi observado ao se comparar a primeira série contínua com a primeira série fracionada. Esses dados sugerem que a PAS seria sensível à forma de condução dos exercícios, o trabalho fracionado tendendo a promover menor demanda cardiovascular. Isso pode ter ocorrido devido a diferenças no tempo de oclusão arterial, já que este foi sistematicamente maior nas séries contínuas do que nas séries fracionadas. Aliás, essa possi- bilidade tem sido apontada em outros estudos envolvendo o acompanhamento do tempo de tensão em exercícios con- tra resistência14,28. Os resultados obtidos para DP mostraram diferenças sig- nificativas entre séries com mesmo número de repetições, bem como nas distintas formas de execução. Esses dados confirmam os resultados disponíveis na literatura, que as- sociam a sobrecarga cardíaca ao tempo de recuperação da musculatura esquelética8,27. Em nosso estudo, pôde-se ve- rificar que na segunda série, para ambas as formas de tra- balho, o DP mostrou-se significativamente maior que o ve- rificado na primeira série. No que diz respeito ao volume total de trabalho, observou-se que nas séries fracionadas o tempo de tensão para um mesmo grupamento muscular foi menor do que o verificado nas séries contínuas, embora o tempo total de esforço fosse semelhante em ambas as for- mas de trabalho. Como dito, as diferentes formas de traba- lho associam-se a um tempo variado de oclusão arterial para um mesmo grupamento muscular, o que pode contri- buir para maiores valores de DP no trabalho contínuo. Essa possibilidade pode ter importância para prescrição de exer- cícios em idosos: a opção por séries fracionadas, indepen- dentemente da carga usada, pode constituir-se em alterna- tiva para aumentar a segurança do treinamento. A análise simultânea da FC, PAS e DP mostra, além disso, que os valores deste último foram mais sensíveis às varia- ções da PAS que às da FC. Uma possível explicação para isso reside no fato de que as modificações na FC tendem a ocorrer de forma mais lenta do que na PAS8,15,27,28. Dessa forma, o acompanhamento dos valores de FC pode não re- fletir adequadamente a sobrecarga cardiovascular imposta pelo exercício, principalmente em populações com idade mais avançada, uma vez que as variações na amplitude da FC tendem a ser menores do que as verificadas em mais jovens. Reforçando o que foi dito, isso deveria serconsi- derado em situações de prescrição de exercício para pes- soas idosas, principalmente aquelas com problemas de con- trole da pressão arterial – o acompanhamento desta variável durante as sessões, assim como a adoção de estratégias que minimizem sua elevação durante os exercícios, parece ser uma estratégia aconselhável. CONCLUSÃO Em suma, os resultados apresentados permitem concluir que: a) ao menos nos exercícios selecionados, as formas de execução não exerceram influência na QEx; b) os valo- res de DP parecem ser mais sensíveis às variações da PAS do que as da FC, em ambas as formas de trabalho estuda- das; c) a demanda cardiovascular, expressa pelo DP, parece ser maior nas séries contínuas do que nas fracionadas; d) a FC não se modificou nas diferentes situações propostas, o mesmo não ocorrendo com o DP, sugerindo que este pode representar um indicador mais sensível de sobrecarga car- diovascular em atividades dessa natureza. Enfim, cabe di- zer que são raros estudos sobre as respostas fisiológicas agudas de pessoas idosas em situações de prescrição de exercícios ginásticos. Maior investimento investigativo na compreensão dessas respostas parece-nos desejável. Para melhor esclarecer a influência das diversas formas de tra- balho nas variáveis estudadas, estudos devem ser conduzi- dos ampliando-se o número de exercícios e analisando novas formas de intervenções carga/repetição. Seria igual- 84 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 mente interessante controlar variáveis com potencial inter- veniente, como lactato sanguíneo e percentual da força máxima envolvida, indicadores da intensidade relativa do esforço realizado. Todos os autores declararam não haver qualquer poten- cial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. Häkkinen K, Häkkinen A. Neuromuscular adaptations during intensive strength training in middle-aged and elderly males and females. Elec- tromyogr Clin Neurophysiol 1995;35:137-47. 2. Phillips WE, Haskell W. Muscular fitness – Easing the burden of dis- ability for elderly adults. J Aging Phys Activity 1995;3:261-89. 3. Fontera WE, Hughes VA, Fielding RA, Fiatarine MA, Evans WJ, Rou- benoff R. 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