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SEGURANÇA INTERNACIONAL - AULA 6

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SEGURANÇA INTERNACIONAL 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Caroline Cordeiro Viana e Silva 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Bem-vindo(a) a esta aula. Já passamos por importantes pontos da área 
de segurança internacional. Estudamos anteriormente as principais teorias de 
segurança e refletimos sobre o desenvolvimento do conceito de segurança ao 
longo dos anos, dentro das Relações Internacionais. Também falamos de 
conflitos armados e guerra, e vimos a evolução dos conflitos e os principais 
conceitos. Depois, acompanhamos como o Brasil se posiciona frente a temas de 
segurança e conversamos sobre o panorama atual dos conflitos, debatendo 
números recentes dos conflitos armados e suas características centrais. 
Nesta aula, falaremos em específico das missões de paz das Nações 
Unidas. Nosso objetivo nesse momento é entender o que são missões de paz. 
Para isso, nossa aula estará dividida em 5 principais temas. Primeiro, faremos 
um breve histórico das operações de paz. Em seguida, falaremos das operações 
de paz de primeira geração. Em nosso terceiro tema, abordaremos as operações 
de paz da segunda geração, seguiremos para operações de paz nos anos 2000 
e fecharemos nossa aula conversando sobre o Brasil e as operações de paz. 
TEMA 1 – BREVE HISTÓRICO DAS OPERAÇÕES DE PAZ 
As operações de paz realizadas pela Organização das Nações Unidas 
(ONU) são a ferramenta dessa instituição para a gestão de conflitos armados e 
a tentativa de promover a segurança e a paz internacional. Para fazer essa 
gestão, a ONU conta com um órgão especial, o Departamento das Nações 
Unidas para Operações de Paz (DPKO). 
As operações de paz da ONU foram configuradas no período de transição 
da bipolaridade. Nesse momento, o mundo começava a vislumbrar a 
possibilidade de fim da Guerra Fria e iniciava-se um novo momento no sistema 
internacional. Nesse período, a comunidade internacional passou a prestar mais 
atenção a conflitos intraestatais. O resultado disso é a chamada primeira geração 
das abordagens à paz internacional, que se caracteriza pela gestão de conflitos 
com base na mediação articulada por uma terceira parte enviada para promover 
a paz (Blanco; Guerra, 2018). 
 
 
3 
A prevenção de conflitos proposta pela ONU envolve as missões de 
manutenção de paz. As operações de paz realizadas são divididas em quatro 
possibilidade diferentes. São elas: 
1. Peacekeeping (manter a paz); 
2. Peacemaking (fazer a paz); 
3. Peace enforcement (impor a paz); 
4. Peace building (construir a paz). 
A prevenção de conflitos utilizando operações de paz pode ocorrer com 
qualquer uma dessas possibilidades. Raramente, a Peacemaking, a 
Peacekeeping e a Peace enforcement ocorrem de maneira linear ou sequencial. 
A primeira geração de operações de paz é chamada de Peacekeeping 
(manutenção da paz). Trata-se de operações caracterizadas por forças militares 
multinacionais, com uma quantidade restrita de soldados levemente armados. 
Esses soldados são enviados para monitorar processos de cessar-fogo e 
patrulhar áreas neutras. Para que essas operações aconteçam é necessário: 
1. O consentimento de todas as partes em conflito; 
2. A não ingerência em assuntos domésticos; 
3. A proibição do uso da força, exceto para fins e legítima defesa (Blanco; 
Guerra, 2018). 
A Peacemaking geralmente inclui medidas para lidar com conflitos em 
andamento e envolve ações diplomáticas para levar as partes hostis a um acordo 
negociado. O Secretário-Geral da ONU pode exercer seus “bons ofícios” para 
facilitar a resolução do conflito. Os pacificadores também podem ser enviados, 
como governos, grupos de estado, organizações regionais ou as Nações Unidas. 
Os esforços de pacificação também podem ser realizados por grupos não-
oficiais e não-governamentais, ou por uma personalidade proeminente que 
trabalha de forma independente. 
A Peace enforcement envolve a aplicação de uma série de medidas 
coercitivas, incluindo o uso da força militar. Requer a autorização explícita do 
Conselho de Segurança. É usada para restaurar a paz e a segurança 
internacionais em situações em que o Conselho de Segurança decidiu agir diante 
de uma ameaça à paz, violação da paz ou ato de agressão. O conselho pode 
utilizar, quando apropriado, organizações e agências regionais para ações de 
 
 
4 
execução sob sua autoridade e em conformidade com a Carta das Nações 
Unidas. 
Por fim, a Peacebuilding visa reduzir o risco de cair ou recair em conflito, 
fortalecendo as capacidades nacionais em todos os níveis para a gestão de 
conflitos e estabelecer as bases para a paz e o desenvolvimento sustentáveis. É 
um processo complexo e de longo prazo para criar as condições necessárias 
para a paz sustentável. As medidas de construção da paz tratam de questões 
centrais que afetam o funcionamento da sociedade e do Estado, e buscam 
aumentar a capacidade do Estado para desempenhar de maneira eficaz e 
legítima suas funções principais. 
As fronteiras entre prevenção de conflitos, Peacemaking, Peacekeeping, 
Peacebuilding e Peace enforcement tornaram-se cada vez mais obscuras. As 
operações de paz raramente se limitam a um tipo de atividade. Embora as 
operações de manutenção da paz sejam, em princípio, implantadas para apoiar 
a implementação de um cessar-fogo ou acordo de paz, elas geralmente são 
obrigadas a desempenhar um papel ativo nos esforços de manutenção da paz e 
também podem estar envolvidas em atividades iniciais de construção da paz. 
Essas missões de paz iniciaram com o término da Segunda Guerra 
Mundial, especificamente no ano de 1948, e se estendem até os dias atuais. Ao 
longo desse período, o conceito das operações de paz se alterou de acordo com 
a conjuntura internacional vivida. Elas sofreram transformações desde a forma 
como foram concebidas, em 1948, até a maneira como estão sendo utilizadas 
nos dias atuais. Para entender essa alteração nas missões de paz da ONU, 
faremos uma divisão em quatro recortes temporais, que chamaremos de 
gerações. 
TEMA 2 – PRIMEIRA GERAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE PAZ 
A primeira geração das operações de paz inicia em 1948 com a criação 
das Nações Unidas. Porém, a divisão do mundo em dois blocos vez com que a 
organização também vivesse essa divisão. Especialmente o Conselho de 
Segurança das Nações Unidas estava dividido e os dois blocos antagônicos 
travavam os processos decisórios, pois o emprego de força estava condicionado 
aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Rússia, 
China, França e Reino Unido). Diante dessa realidade, a ONU não conseguiu 
 
 
5 
colocar em prática o que havia planejado para as operações de paz (Rodrigues; 
Migon, 2017). 
Foi nesse ambiente que surgiu a primeira geração, dividida entre as 
solicitações de manutenção de paz e a realidade bipolarizada. Assim, a primeira 
geração contempla as especificidades desse período, iniciando em 1948 e indo 
até o final da Guerra Fria (1948-1990). As operações de paz implementadas 
nesse período são as de Peacekeeping, ou seja, a concepção estava baseada 
em forças militares multinacionais, com uma quantidade restrita de soldados 
levemente armados. Esses soldados são enviados para monitorar processos de 
cessar-fogo e patrulhar áreas neutras (Rodrigues; Migon, 2017). 
As operações de paz nesse período possuíam basicamente três atores: 
dois em conflito e uma força de interposição. Os três atores convergiam para o 
mesmo objetivo: pôr fim ao conflito por meio de uma resolução política. Essas 
missões tinham um objetivo limitado, que era somente estabilizar a situação em 
campo para que existisse um espaço político favorável para resolução do 
conflito. O Quadro 1 cita as operações de paz da primeira geração. 
Quadro 1 – Primeira geração das operações de paz 
SIGLA NOME INÍCIO FIM LOCALIZAÇÃO 
UNTSO 
United Nations Truce Supervision 
Organization 
1948 Presente Palestina 
UNMOGIPUnited Nations Military Observer Group 
in India and Pakistan 
1949 Presente Índia e Paquistão 
UNEF I First United Nations Emergency Force 1956 1967 Egito 
UNOGIL 
United Nations Observation Group in 
Lebanon 
1958 1958 Líbano 
ONUC United Nations Operation in the Congo 1960 1964 Congo 
UNSF 
United Nations Security Force in West 
New Guinea 
1962 1963 Nova Guiné 
UNYOM 
United Nations Yemen Observation 
Mission 
1963 1964 Iémen 
UNFICYP 
United Nations Peacekeeping Force in 
Cyprus 
1964 
 
Presente 
Chipre 
DOMREP 
Mission of the Representative of the 
Secretary-General in the Dominican 
Republic 
1965 1966 
República 
Dominicana 
UNIPOM 
United Nations India-Pakistan 
Observation Mission 
1965 1966 Índia e Paquistão 
UNEF II 
Second United Nations Emergency 
Force 
1973 1979 Egito 
UNDOF 
United Nations Disengagement 
Observer Force 
1974 Presente Síria 
UNIFIL 
United Nations Interim Force in 
Lebanon 
1978 Presente Líbano 
 
 
6 
UNGOMAP 
United Nations Good Offices Mission in 
Afghanistan and Pakistan 
1988 1990 
Afeganistão e 
Paquistão 
UNIIMOG 
United Nations Iran-Iraq Military 
Observer Group 
1988 1991 Irã e Iraque 
UNAVEM I 
United Nations Angola Verification 
Mission I 
1989 1991 Angola 
UNTAG 
United Nations Transition Assistance 
Group 
1989 1990 Namíbia 
ONUCA 
United Nations Observer Group in 
Central America 
1989 1992 América Central 
Fonte: Baseado em ONU, 2019. 
A primeira geração de operações de paz conta com 18 missões, sendo a 
década de 1960 com maior número, com seis no total. Das 18 missões, cinco 
ainda estão em curso atualmente. São elas: UNTSO (United Nations Truce 
Supervision Organization), na Palestina; UNMOGIP (United Nations Military 
Observer Group in India and Pakistan), na Índia e Paquistão; UNFICYP (United 
Nations Peacekeeping Force in Cyprus), no Chipre; UNDOF (United Nations 
Disengagement Observer Force), na Síria; e UNIFIL (United Nations Interim 
Force in Lebanon), no Líbano. 
TEMA 3 – SEGUNDA GERAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE PAZ 
A segunda geração de operações de paz inicia com o fim da Guerra Fria. 
A maior parte dos conflitos armados nesse período é intraestatal e intraestatal 
internacional. Especialmente nas operações de paz, temos dois formados que 
foram utilizados nesse período: a Peacemaking e a Peace enforcement. 
Enquanto a Peacekeeping tinha o objetivo enviar forças militares 
multinacionais, com uma quantidade restrita de soldados levemente armados. 
Esses soldados são enviados para monitorar processos de cessar-fogo e 
patrulhar áreas neutras. As missões de Peacemaking vão além e têm em seu 
escopo o envio de militares, mas também envolvem ações diplomáticas para 
levar as partes hostis a um acordo negociado. Enquanto as missões anteriores 
estavam focadas no monitoramento de cessar-fogo, as missões de 
Peacemaking participam da negociação de cessar-fogo. 
Além de missões de Peacemaking, a segunda geração de operações de 
paz contou com três missões de Peace enforcement. Essas missões incluem a 
aplicação de uma série de medidas coercitivas, incluindo o uso da força militar. 
As missões de Peace enforcement ocorreram no Kosovo, Timor Leste e 
República Democrática do Congo (UNMIK, UNTAET e MONUC). 
 
 
7 
O término da Guerra Fria gerou um aquecimento nas atividades do 
Conselho de Segurança da ONU. Nesse período, a bipolaridade não era tão 
expressiva, gerando um ambiente com menos vetos, aumentando a oferta das 
missões de paz. Enquanto na primeira geração foram estabelecidas 18 missões, 
a segunda geração contou com 35 missões de paz (Rodrigues; Migon, 2017). 
O Conselho de Segurança passou a aprovar operações cada vez mais 
complexas, com várias funções diferentes. As missões de Peacemaking e Peace 
enforcement previam o policiamento ostensivo, supervisão de eleições, 
verificação da situação dos direitos humanos, auxílio à administração pública, 
restauração da infraestrutura e do setor econômico, além dos objetivos 
tradicionais, como supervisão e manutenção da paz. Segundo Rodrigues e 
Migon (2017), as operações tinham como foco a resolução do conflito e também 
a reconstrução do país que hospedava a missão. As missões incorporavam 
tarefas de civis e de militares, com a previsão de construção das instituições 
políticas e econômicas do país, além das atividades policiais e militares. 
Buscando essa ampliação da atuação das operações de paz, o secretário 
geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, lançou o documento chamado Agenda 
para Paz. Esse documento ampliou a atuação das operações ao ampliar o 
conceito de operações de paz, passando a incorporar atividades de diplomacia 
preventiva, imposição da paz e construção da paz, com a previsão de 
intervenção nas instituições políticas, militares e de segurança dos países 
(Rodrigues; Mignon, 2017). 
Essa ampliação da atuação das operações de paz recebeu críticas, em 
especial nas universidades. Dentre os muitos pontos criticados, destacamos 
dois. O primeiro é a lacuna entre os objetivos a serem atingidos pela missão e o 
que, efetivamente, as operações de paz podem executar na prática, tanto em 
termos do direito internacional como também em termos materiais (Rodrigues; 
Mignon, 2017). Outra crítica feita a esse modelo é a previsão de intervenção das 
operações em aspectos políticos. A previsão de reconstrução, ou até mesmo 
construção de instituições políticas, indica uma imposição de um modelo 
específico de instituições. 
Esse modelo prévio não necessariamente é o ideal para a realidade vivida 
no território em conflito e isso pode até mesmo diminuir as chances de 
reconstrução de um Estado (Paris, 1997). Com isso, o sucesso das operações 
 
 
8 
de paz dependeria “ora da boa vontade das partes em conflito, ora do peso da 
persuasão moral da ONU” (Rodrigues; Mignon, 2017, p. 86). Com isso, verifica-
se que nem todas as missões empreendidas lograram sucesso. Pelo contrário, 
muitas obtiveram fracasso e serviram de lição para a comunidade internacional. 
Para Kenkel (2013), a segunda geração de operações de paz aponta para 
o esgotamento do aparato da ONU, tanto no campo operacional como também 
no institucional e no financeiro. Nesse período, três operações foram claramente 
fracassadas: Ruanda, com o genocídio em 1994; Somália, com a não 
concretização de um acordo político; e Bósnia, onde a ONU não foi capaz de 
proteger os civis do massacre de Srebrenica, em 1995 (Kenkell, 2013). 
Apesar desses três grandes fracassos, o período da segunda geração de 
operações de paz foi o mais numeroso, contando com um total de 35 missões 
de paz, conforme o Quadro 2. 
Quadro 2 – Segunda geração das operações de paz 
SIGLA NOME INÍCIO FIM LOCALIZAÇÃO 
UNIKOM 
United Nations Iraq-Kuwait 
Observation Mission 
1991 2003 Iraque e Kuaiti 
MINURSO 
United Nations Mission for the 
Referendum in Western Sahara 
1991 Presente Saara Ocidental 
UNAVEM II 
United Nations Angola Verification 
Mission II 
1991 1995 Angola 
ONUSAL 
United Nations Observer Mission in El 
Salvador 
1991 1995 El Salvador 
UNAMIC 
United Nations Advance Mission in 
Cambodia October 1991 March 1992 
1991 1992 Camboja 
UNPROFOR United Nations Protection Force 1992 1995 
 Croácia e Bósnia e 
Herzegovina 
UNTAC 
United Nations Transitional Authority 
in Cambodia 
1992 1993 Camboja 
UNOSOM I United Nations Operation in Somalia I 1992 1993 Somália 
ONUMOZ 
United Nations Operation in 
Mozambique 
1992 1994 Moçambique 
UNOSOM II 
 United Nations Operation in Somalia 
II 
1993 1995 Somália 
UNOMUR 
United Nations Observer Mission 
Uganda-Rwanda 
1993 1994 Uganda e Ruanda 
UNOMIG 
United Nations Observer Mission in 
Georgia 
1993 2009 Georgia 
UNOMIL 
United Nations Observer Mission in 
Liberia 
1993 1997 Libéria 
UNMIH United Nations Mission in Haiti 1993 1996 Haiti 
UNAMIR 
United Nations Assistance Mission for 
Rwanda 
19931996 Ruanda 
UNASOG 
United Nations Aouzou Strip Observer 
Group 
1994 1994 Chade e Líbia 
 
 
9 
UNMOT 
United Nations Mission of Observers 
in Tajikistan 
1994 2000 Tajiquistão 
UNAVEM III 
United Nations Angola Verification 
Mission III 
1995 1997 Angola 
UNCRO 
United Nations Confidence 
Restoration Operation in Croatia 
1995 1996 Croácia 
UNPREDEP 
United Nations Preventive 
Deployment Force 
1995 1999 Macedônia 
UNMIBH 
United Nations Mission in Bosnia and 
Herzegovina 
1995 2002 
Bósnia e 
Herzegovina 
UNTAES 
United Nations Transitional 
Administration for Eastern Slavonia, 
Baranja and Western Sirmium 
1996 1998 
Eslavônia Oriental, 
Baranja e Sírmia 
Ocidental 
UNMOP 
United Nations Mission of Observers 
in 
1996 2002 Croácia 
UNSMIH 
United Nations Support Mission in 
Haiti 
1996 1997 Haiti 
MINUGUA 
United Nations Verification Mission in 
Guatemala 
1997 1997 Guatemala 
MONUA 
United Nations Observer Mission in 
Angola 
1997 1999 Angola 
UNTMIH 
United Nations Transition Mission in 
Haiti 
1997 1997 Haiti 
MIPONUH 
United Nations Civilian Police Mission 
in Haiti 
1997 2000 Haiti 
UNCPSG UN Civilian Police Support Group 1998 1998 Haiti 
MINURCA 
United Nations Mission in the Central 
African Republic 
1998 2000 
República Centro 
Africana 
UNOMSIL 
United Nations Observer Mission in 
Sierra Leone 
1998 1999 Serra Leoa 
UNMIK 
United Nations Interim Administration 
Mission in Kosovo 
1999 Present Kosovo 
UNAMSIL 
United Nations Mission in Sierra 
Leone 
1999 2005 Serra Leoa 
UNTAET 
United Nations Transitional 
Administration in East Timor 
1999 2002 Timor Leste 
MONUC 
United Nations Organization Mission 
in the Democratic Republic of the 
Congo 
1999 2010 
República 
Democrática do 
Congo 
Fonte: Baseado em ONU, 2019. 
De todas as missões instauradas nesse período, apenas duas seguem 
em curso: MINURSO, no Saara Ocidental, e a UNMIK, no Kosovo. 
TEMA 4 – OPERAÇÕES DE PAZ NOS ANOS 2000 
Nos anos 2000, iniciamos o um novo período nas operações de paz com 
a terceira e a quarta geração das operações. Nesse período, as operações têm 
as características de Peace building. Essas operações visam reduzir o risco de 
cair ou recair em conflito, fortalecendo as capacidades nacionais em todos os 
níveis para a gestão de conflitos e estabelecer as bases para a paz e o 
desenvolvimento sustentáveis. É um processo complexo e de longo prazo para 
 
 
10 
criar as condições necessárias para a paz sustentável. As medidas de 
construção da paz tratam de questões centrais que afetam o funcionamento da 
sociedade e do Estado, e buscam aumentar a capacidade do Estado para 
desempenhar de maneira eficaz e legítima suas funções principais. 
Aqui, é importante fazer uma ressalva sobre duas terminologias. 
Primeiramente, sobre a terminologia Peace building. Todos os termos que 
apresentamos nesta aula (Peacekeeping, Peacemaking, Peace enforcement e 
Peace building) foram traduzidos diretamente dos documentos da ONU. Porém, 
a ONU segue utilizando de maneira genérica o termo Peace keeping. Se 
observarmos as caraterísticas das operações de paz, veremos que uma não 
exclui a outra. Todas as operações como making, enforcement e building ainda 
apresentam características da Peace keeping. Por isso, é possível achar nos 
documentos da ONU referências a todos das operações como Peace keeping. 
Apesar de todas as missões terem características de Peace keeping, a 
cada geração de novas missões, vemos que o perfil da atuação muda. Por esse 
motivo, nesta aula, nós distinguimos as operações por gerações (por recorte 
temporal) e também por tipo (por recorte de características). 
O segundo ponto importante para fazermos uma ressalva são as 
terminologias operação e missão. Nos anos 2000, em específico na quarta 
geração, a ONU passou a utilizar o termo missão de estabilização. Dessa forma, 
encontramos documentos com os termos operações de paz, missões de paz e 
missão de estabilização. Em todos os momentos, a referência que se faz é à 
mobilização de forças para implementação de uma ação em território em conflito, 
com a aprovação do Conselho de Segurança. 
Além disso, o fracasso das operações em Ruanda, Somália e Bósnia 
chamaram a atenção da comunidade internacional, fazendo com que as 
operações como um todo fossem repensadas. Os resultados desse esforço 
foram compilados no relatório Brahimi. A diferença mais marcante é a 
autorização do uso da força pelas tropas da ONU. As operações foram 
caracterizadas pelo aumento do uso da força para atingir os objetivos propostos 
pela ONU, mas nem todas as missões previram essa utilização da força, como 
é o caso da MINUSTAH (Rodrigues; Mignon, 2017). 
Além disso, as operações de paz também foram caracterizadas pelo 
aumento do componente militar e um maior emprego do componente civil. A 
 
 
11 
terceira geração das operações de paz ocorreu até meados de 2007. A partir de 
então, temos o início da quarta geração, com as missões e estabilização. O 
Quadro 3 apresenta as operações instauradas. 
Quadro 3 – Terceira e quarta gerações das operações de paz 
SIGLA NOME INÍCIO FIM LOCALIZAÇÃO 
UNMEE 
United Nations Mission in Ethiopia and 
Eritrea 
2000 2008 Etiópia e Eritrea 
UNMISET 
United Nations Mission of Support in 
East Timor 
2002 2005 Timor Leste 
MINUCI 
United Nations Mission in Côte 
d’Ivoire 
2003 2004 Costa do Marfim 
UNMIL United Nations Mission in Liberia 2003 2018 Libéria 
UNOCI 
United Nations Operation in Côte 
d’Ivoire 
2004 2017 Costa do Marfim 
MINUSTAH 
United Nations Stabilization Mission in 
Haiti 
2004 2017 Haiti 
ONUB United Nations Operation in Burundi 2004 2006 Burundi 
UNMIS United Nations Mission in the Sudan 2005 2011 Sudão 
UNMIT 
United Nations Integrated Mission in 
Timor-Leste 
2006 2012 Timor Leste 
UNAMID 
African Union-United Nations Hybrid 
Operation in Darfur 
2007 Presente Sudão 
MINURCAT 
United Nations Mission in the Central 
African Republic and Chad 
2007 2010 
República Centro 
Africana e Chade 
MONUSCO 
United Nations Organization 
Stabilization Mission in the Democratic 
Republic of the Congo 
2010 Presente 
República 
Democrática do 
Congo 
UNISFA 
United Nations Organization Interim 
Security Force for Abyei 
2011 Presente 
Sudão e Sudão do 
Sul 
UNMISS 
United Nations Mission in the Republic 
of South Sudan 
2011 Presente Sudão do Sul 
UNSMIS 
United Nations Supervision Mission in 
Syria 
2012 2012 Síria 
MINUSMA 
United Nations Multidimensional 
Integrated Stabilization Mission in Mali 
2013 Presente Mali 
MINUSCA 
United Nations Multidimensional 
Integrated Stabilization Mission in the 
Central African Republic 
2014 Presente 
República Centro 
Africana 
MINUJUSTH 
 United Nations Mission for Justice 
Support in Haiti 
2017 2019 Haiti 
Fonte: Baseado em ONU, 2019. 
A partir de 2007, a quarta geração de operações de paz marcam a 
robustez das operações ao combinarem a permissão para usar a força com a 
autorização para exercerem tarefas civis complexas. Foram 18 missões 
implementadas nesse período. Seis delas ainda estavam em andamento no 
início do ano de 2020. 
 
 
12 
Para Richmond (2004), as missões de paz da quarta geração se 
caracterizam por prevenir formas de violência direta ou indireta, ao proporem a 
reconstrução ou construção de determinadas estruturas no país hospedeiro. 
Porém, as críticas feitas às operações anteriores também se aplicam a essas 
novas gerações, pois essa geração também se propõe a criar estabilidade, 
restaurar instituições estatais e direcionar as dimensões socioeconômicas do 
conflito (Richmond, 2004). 
TEMA 5 – O BRASIL E AS OPERAÇÕES DE PAZ 
Ao longo dos anos, o Brasil vem se engajando em operações de paz. 
Conforme a política externa brasileira projeta o país no cenário internacional, 
intensifica-se também o engajamento do país nessa formade atuação. O 
aumento na participação do Brasil foi gradual, iniciando na primeira geração de 
operações e seguindo até a quarta geração. A trajetória do Brasil demonstra um 
maior envolvimento do Estado brasileiro em missões da ONU e um crescimento 
da inserção do país em assuntos de segurança e defesa no cenário 
internacional. O Quadro 4 apresenta as operações de que o Brasil participa e 
participou. 
Quadro 4 – Brasil e as operações de paz 
GERAÇÃO SIGLA INÍCIO FIM LOCALIZAÇÃO BRASIL 
1ª geração UNEF I 1956 1967 Egito Brasil 
1ª geração ONUC 1960 1964 Congo Brasil 
1ª geração UNSF 1962 1963 Nova Guiné Brasil 
1ª geração UNFICYP 1964 Presente Chipre Brasil 
1ª geração DOMREP 1965 1966 República Dominicana Brasil 
1ª geração UNIPOM 1965 1966 Índia e Paquistão Brasil 
1ª geração UNIFIL 1978 Presente Líbano Brasil 
1ª geração UNAVEM I 1989 1991 Angola Brasil 
1ª geração UNTAG 1989 1990 Namíbia Brasil 
1ª geração ONUCA 1989 1992 América Central Brasil 
2ª geração MINURSO 1991 Presentee Saara Ocidental Brasil 
2ª geração UNAVEM II 1991 1995 Angola Brasil 
2ª geração ONUSAL 1991 1995 El Salvador Brasil 
2ª geração UNPROFOR 1992 1995 Croácia e Bósnia e Herzegovina Brasil 
2ª geração UNTAC 1992 1993 Camboja Brasil 
2ª geração UNOMUR 1993 1994 Uganda e Ruanda Brasil 
2ª geração UNOMIL 1993 1997 Libéria Brasil 
2ª geração UNAVEM III 1995 1997 Angola Brasil 
2ª geração UNCRO 1995 1996 Croácia Brasil 
2ª geração UNPREDEP 1995 1999 Macedônia Brasil 
 
 
13 
2ª geração UNTAES 1996 1998 
Eslavônia Oriental, Baranja e 
Sírmia Ocidental 
Brasil 
2ª geração UNMOP 1996 2002 Croácia Brasil 
2ª geração MINUGUA 1997 1997 Guatemala Brasil 
2ª geração MONUA 1997 1999 Angola Brasil 
2ª geração UNMIK 1999 Presente Kosovo Brasil 
2ª geração UNTAET 1999 2002 Timor Leste Brasil 
3ª geração UNMEE 2000 2008 Etiópia e Eritrea Brasil 
3ª geração UNMISET 2002 2005 Timor Leste Brasil 
3ª geração UNMIL 2003 2018 Libéria Brasil 
3ª geração UNOCI 2004 2017 Costa do Marfim Brasil 
3ª geração MINUSTAH 2004 2017 Haiti Brasil 
3ª geração UNMIS 2005 2011 Sudão Brasil 
3ª geração UNMIT 2006 2012 Timor Leste Brasil 
4ª geração MINURCAT 2007 2010 
República Centro Africana e 
Chade 
Brasil 
4ª geração MONUSCO 2010 Presente República Democrática do Congo Brasil 
4ª geração UNISFA 2011 Presente Sudão e Sudão do Sul Brasil 
4ª geração UNMISS 2011 Presente Sudão do Sul Brasil 
4ª geração UNSMIS 2012 2012 Síria Brasil 
4ª geração MINUSCA 2014 Presente República Centro Africana Brasil 
Fonte: Baseado em ONU, 2019. 
A participação do Brasil em operações de paz está vinculada a 
observadores militares, policiais, peritos eleitorais, especialistas em saúde, civis 
e tropas armadas. No total, foram 39 operações de paz com a participação de 
brasileiros. A participação brasileira é baseada em dispositivos legais como a 
Constituição Federal, a Política de Defesa Nacional, a Estratégia Nacional de 
Defesa e o Livro Branco de Defesa. A decisão por participar de uma operação 
de paz é política e a missão é considerada uma atividade complementar ou 
subsidiária das forças armadas (Aguiar, 2015). 
Apesar da política externa brasileira estar baseada no princípio de não 
intervenção, a postura da política externa brasileira tem sido atrelada ao conceito 
de não-indiferença, com a premissa de que é necessário dar apoio e ter 
solidariedade com os países em situação de crise. Com isso, o Brasil inicia a 
chamada diplomacia solidária, que visa a ampliação da ação coletiva e também 
a inserção do Brasil no debate internacional (Aguiar, 2015). 
 
 
 
14 
NA PRÁTICA 
Conforme vimos ao longo desta aula, um ponto marcante para o 
desenvolvimento das operações de paz foi a Agenda para Paz. Desenvolvido 
pelo então secretário geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, o documento foi 
significativo na definição de quatro fases consecutivas de ação internacional 
para prevenir ou controlar conflitos, além de destacar a importância de sua 
coesão. Essas fases são definidas da seguinte forma: 
 A diplomacia preventiva; 
 Operações de Peacemaking; 
 Operações de Peacekeeping; 
 Operações de Peacebuilding. 
Busque o documento da ONU1 e procure identificar, ao longo do texto, 
quais são as principais diretrizes para as operações de paz ali definidas. 
FINALIZANDO 
Na aula de hoje, conversamos sobre operações de paz, em específico, as 
realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). No primeiro tema da 
aula, compreendemos as definições de operação de paz, apresentando como a 
ONU descreve cada uma de suas operações. Depois, vimos o desenvolvimento 
temporal das operações, passando pela primeira e segunda gerações de 
missões de paz. Ainda seguindo uma ordem temporal, o quarto tema da nossa 
aula apresentou as operações de paz dos anos 2000. Por fim, em nosso último 
tema, vimos a participação do Brasil nas operações de paz da ONU. 
 
 
1 Disponível em: <https://www.un.org/ruleoflaw/files/A_47_277.pdf/>. Acesso em: 15 dez. 2019. 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
AGUIAR, S. L. C. A participação do brasil nas operações de paz: passado, 
presente e futuro. Journal for Brazilian Studies, vol. 3, n.2, 2015. 
Guerra, L.; Blanco, R. A construção da paz no cenário internacional: do 
Peacekeeping tradicional às críticas ao Peace building Liberal. Carta 
Internacional, 13(2). 2018. Disponível em 
<https://doi.org/10.21530/ci.v13n2.2018.775>. Acesso em: 15 dez. 2019. 
KENKEL, K; M. Cinco gerações de operações de paz: de “tênue linha azul” a 
“pintar um país de azul”. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 56, n. 
1, 2013. 
ONU. Department of Peace Operations. 2019. Disponível em: 
<https://peacekeeping.un.org/en/department-of-peace-operations>. Acesso em: 
15 dez. 2019. 
PARIS, R. Peacebuilding and the limits of liberal internationalism. International 
Security, v. 22, n. 2, pp. 54-89, 1997. 
RICHMOND, O. United Nations peace operations and the dilemmas of the 
Peacebuilding consensus. International Peacekeeping, v. 1, n. 1, p. 83-
1012004. 
RODRIGUES, A. O.; MIGON, E. X. F. G. O Brasil na evolução das operações de 
paz. Ver. Carta Internacional, Belo Horizonte, v. 12, n. 3, p.77-103, 2017. 
Disponível em: <https://peacekeeping.un.org/en/department-of-peace-
operations>. Acesso em: 15 dez. 2019.

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