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BOOTCAMP_Aula1_Inovacao_e_Sustentabilidade


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INOVAÇÃO
E SUSTENTABILIDADE
V A N E S S A C . P I N S K Y & I S A K K R U G L I A N S K A S
"Minha experiência ao longo dos últimos 40 anos com pesquisa,consultoria e educação nas áreas de inovação, gestão ambiental esustentabilidade tem mostrado o crescente interesse por atorespúblicos e privados na busca por inovações para atender àsdemandas da sociedade de um modo geral, e ao mercado emparticular, para enfrentar as incertezas e complexidade dosproblemas relacionados à (in) sustentabilidade do planeta, quecolocam em risco os ecossistemas e a humanidade. As inovaçõescada vez mais vêm requerendo esforços coletivos para odesenvolvimento de uma economia mais sustentável, resiliente einclusiva. Desde a sua origem, o conceito do desenvolvimentosustentável, proposto no Relatório Brundland em 1992, atéambiciosa Agenda 2030 e o Acordo de Paris, ambos ratificados em2015 por 193 Estados-membros da ONU tenho assistido ao aumento
progressivo da pressão da sociedade no sentido de ser cada vez
mais exigente para dar a licença de operar às empresas e demais
organizações públicas e privadas. Trata-se de uma oportunidade
histórica e sem precedentes, que mobiliza pessoas e governos no
mundo para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o
bem-estar humano, proteger o meio ambiente, e enfrentar as
mudanças climáticas. As ações tomadas em 2015 resultaram nos
novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto
de 17 objetivos e 169 metas que nortearão a nova agenda de
desenvolvimento sustentável nos próximos anos. E que certamente
demandará muita inovação, governança e cooperação. 
POR ELE
Isak Kruglianskas
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"Comecei a me envolver profissionalmente com o temasustentabilidade no início de 2000. Trabalhava em umamultinacional no setor de TI, e tive a oportunidade de empreenderiniciativas de voluntariado corporativo, investimento social privado, eparticipar da implementação do programa de diversidade naorganização. Nesse período, liderado pelo Instituto Ethos e pororganizações pioneiras como o Banco Real, conceitos comocidadania corporativa e responsabilidade social começavam a fazerparte de uma agenda estratégica de algumas empresas, motivadaspor uma nova forma de fazer negócios baseada no ‘tripé dasustentabilidade’. Nessa perspectiva, o equilíbrio econômico deveser concomitante com questões relacionadas à preservaçãoambiental e justiça social no ambiente dos negócios. Impulsionadotambém pela academia e por movimentos da sociedade civil
organizada, essa nova forma de fazer negócios começa a se tornar
premissa por estratégicas organizacionais mais éticas e inclusivas, e
que atendam a uma nova geração preocupada com o
desenvolvimento sustentável. Tive a oportunidade que passar por
essa evolução nos negócios quando liderei a área de
sustentabilidade de um banco internacional no Brasil. Temas como
risco socioambiental, desenvolvimento de produtos sustentáveis,
iniciativas de eco-eficiência, ética e compliance, e alinhamento do
investimento socioambiental à estratégia de negócios pautavam
meu trabalho. Ao longo da última década, a percepção da
complexidade da crise planetária, incluindo problemas como
crescimento populacional, mudanças climáticas, desmatamento,
perda da biodiversidade, poluição e resíduos sólidos urbanos,
pressionam governos e empresas no desenvolvimento voltado para
uma economia circular e de baixo carbono, que vise a novos padrões
de consumo. O desempenho sustentável, seja ele medido por meio
de relatórios de sustentabilidade no padrão GRI (Global Reporting
Initiative) ou pelos Fatores ESG (environment, social, governance)
usado no mercado financeiro para medir risco de investimento, são
a nova realidade dos negócios. É sobre isso que vamos discutir nesse
e-book – o que direciona as estratégias de inovação e
sustentabilidade em organizações. 
POR ELA
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"Você quer ser uma liderança que reconhece a importância defomentar uma economia mais inclusiva e de baixo carbono?Deseja saber mais sobre como reinventar a dinâmicaempresarial que considera a sustentabilidade nas estratégiase tomada de decisão nos negócios? Então este E-book é paravocê.
POR ELA
Vanessa C. Pinsky 
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A inovação é um dos principais fatores que influenciam
positivamente a competitividade e o desenvolvimento
econômico. Países que fomentam a inovação buscam melhoria
na produtividade, tornando suas economias mais eficientes.
Empresas inovadoras também apresentam um melhor
desempenho econômico. O Brasil é um país com vocação para
a sustentabilidade em razão de suas reservas naturais e
biodiversidade, e apresenta grande potencial de contribuição
para as mudanças climáticas. Diferentemente de países com
economia madura, o Brasil possui uma infraestrutura industrial
e tecnológica ainda em desenvolvimento, possibilitando a
adoção de novas tecnologias para o fomento de uma
econômica circular e de baixo carbono, sem demandar muitas
reconversões de infraestrutura. Esse contexto requer a
formulação de políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento sustentável e centradas em ações
sistemáticas que considerem as incertezas e complexidade das
questões contemporâneas da sustentabilidade, além da
diversidade de atores e interesses divergentes envolvidos no
processo. 
Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, o mundo
contemporâneo utiliza cada vez menos materiais para produzir
a mesma riqueza. No entanto, a pressão sobre os recursos
continua crescendo em termos absolutos devido à magnitude
do crescimento demográficos e consequentemente da
produção, agravado pelo excesso de consumo e uso dos
recursos naturais. 
 
ONDE
ESTAMOS
Para que as inovações virtuosas possam florescer é necessário
estabelecer uma governança que considere os limites dos
ecossistemas e a redução das desigualdades como fatores
centrais das decisões econômicas públicas e privadas. A
inovação orientada para a sustentabilidade apresenta-se como
uma alternativa para contribuir com a construção de uma nova
forma de capitalismo que considere a unidade entre sociedade
e natureza, economia e ética. E isso requer uma compreensão
não apenas das formas financeiras e físicas do capital, como
também do capital social, humano e natural (Abramovay, 2012).
O aumento da competitividade global, a crescente demanda
por eficiência operacional com redução de custo e qualidade, as
regulações socioambientais, a pressão de stakeholders e a
rápida transformação tecnológica desafiam cada vez mais as
empresas a inovar com foco em sustentabilidade. Se por um
lado o presente cenário é desafiador e complexo para as
empresas, por outro, a inovação sustentável pode se tornar uma
alternativa para estratégias de diferenciação e oportunidades
de negócios, por meio da redução de custo e risco e de
alinhamento com as expectativas da sociedade. Essa
perspectiva é o principal fator e orientação para que as
empresas gradativamente adotem práticas de negócios
sustentáveis. O efeito sistêmico dessas demandas pressiona as
empresas a inovar nos seus modelos de negócios, produtos e
processos produtivos e de gestão, envolvendo cada vez mais a
sua cadeia de valor na busca por soluções sustentáveis. 
ONDE
ESTAMOS
O conceito de inovação orientada para a sustentabilidade é
abrangente e recebe denominações distintas, como inovação
sustentável, verde, eco ou ambiental. O foco na redução do
impacto ambiental é o aspecto central na inovação sustentável,
na perspectiva de resultado, e não como uma meta
estabelecida previamente ao seu desenvolvimento. O objetivo
da inovação pode ser, por exemplo, a redução de custo por
meio do uso eficiente de recursos naturais. A inovação
sustentável demanda a integração de competências ao longo
da cadeia produtiva da empresa, na qual a regulação ambiental
incentiva a utilização de novos materiais e tecnologias,
diferentes funcionalidades e usos e descartes para os produtos
Embora a mudança tecnológica não seja condição suficiente
para atransição para a sustentabilidade, ela é um dos principais
fatores que contribuem para a redução dos impactos
ambientais dos produtos e dos processos envolvidos. As
mudanças tecnológicas orientadas para a sustentabilidade são
influenciadas por diversos fatores socioeconômicos,
institucionais, e pela própria característica da inovação, como o
grau de complexidade de sua implantação, compatibilidade
com o sistema de produção existente e disponibilidade de
capital (Del Rio Gonzalez, 2009).
 
INOVAÇÃO
SUSTENTÁVEL
o que é e quais os benefícios
Do ponto de vista da inovação sustentável, na vertente ambiental
da sustentabilidade, direcionadores como o aumento da
temperatura do planeta, o desmatamento e degradação ambiental,
o esgotamento dos limites de utilização de alguns sistemas
terrestres, a taxa de perda da biodiversidade e a interferência
humana no ciclo do nitrogênio são muito relevantes, pois podem
trazer consequências irreversíveis e catastróficas para muitas partes
do planeta, afetando principalmente regiões mais pobres e
vulneráveis Já a vertente social da sustentabilidade apresenta um
cenário complexo diante de um aumento do contingente
populacional estimado pela ONU de 6 para em 9 bilhões de pessoas
até 2050, que gerará aumento das expectativas e de atritos com
relação ao fornecimento de energia, segurança alimentar,
saneamento, moradia, disponibilidade de recursos naturais,
degradação dos ecossistemas e bem-estar humano. 
Dentre os principais fatores motivadores de um projeto corporativo
de inovação estão o aumento de participação de mercado e da
lucratividade nos negócios, melhoria da reputação, captura de
parte do mercado sensível às questões socioambientais e
fortalecimento da licença de operar por parte da sociedade.
Portanto, a análise das condições de setores específicos para o
desenvolvimento de uma inovação sustentável é relevante, pois as
empresas somente fazem investimentos em iniciativas de inovação
se percebem valor e seu potencial de retorno. 
"Se por um lado a trajetória do desenvolvimento sustentável écomplexa, por outro, pode trazer oportunidades para asempresas por meio de iniciativas de inovação sustentável. Aslideranças empreendedoras são fundamentais para oalinhamento das estratégias organizacionais com as novasdemandas da sociedade pautadas nos princípios dodesenvolvimento sustentável. 
Diversos estudos analisam os fatores que levam organizações a
desenvolver iniciativas em inovação em inovação sustentável.
Em geral, os direcionadores estão relacionados a fatores
específicos da organização, tecnológicos, de mercado e
regulação. Diferenciação, desenvolvimento de novos produtos,
processos e serviços, acesso a novos mercados, eficiência na
cadeia de valor, compliance, redução de custo e risco são
alguns dos fatores motivadores que levam organizações a
inovar com foco em sustentabilidade. Relacionamos na tabela
abaixo os principais fatores determinantes da inovação
sustentável e que apoiam a tomada de decisão nos processos
de gestão da inovação. 
 
TECNOLOGIA Qualidade do produto; eficiência material;
eficiência energética; dependência tecnológica
 
DEMANDA DE
MERCADO
Governo, consumidores e empresas;
consciência social da necessidade de uma
produção mais limpa; consumo consciente;
janela de oportunidade; redução de custo;
imagem; participação de mercado;
concorrência (monopólio, número de empresas
concorrentes); novos mercados; influência de
stakeholders 
FATORES
DETERMINANTES
Fatores determinantes da inovação sustentável 
PARA A INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL
PRESSÃO 
REGULATÓRIA
Política ambiental (comando e controle ou
instrumentos de incentivo de mercado);
estrutura institucional (redes de inovação,
oportunidades política em grupos orientados
para a sustentabilidade); acordos internacionais
ou convenções; legislação de patente; padrão
de emissão; regulação esperada 
FATORES
ESPECÍFICOS
DA EMPRESA
Recursos financeiros (incluindo a
disponibilidade de capital de risco) e
investimento em P&D para projetos de eco-
inovação; capacidade tecnológica; existência de
práticas, ferramentas e sistema de gestão
ambiental; competência técnica especializada
para desenvolver ecoinovações; patentes
ambientais 
A influência governamental é considerada um dos principais
determinantes de iniciativas em inovação sustentável, onde
empresas se beneficiam com a redução de custo e risco, e do
cumprimento da regulação concomitantemente. Os resultados
esperados são a redução do impacto ambiental, o
desenvolvimento de produtos com melhor qualidade e o
aumento da competitividade internacional das empresas. A
presença de regulação combinada com subsídios e incentivos
econômicos é condicionante na medida em que diversos
projetos de inovação sustentável apresentam riscos e seus
benefícios são difíceis de internalizar. 
Fatores específicos de cada empresa, como a disponibilidade
para investimento em P&D focado em sustentabilidade, assim
como a capacidade tecnológica apresentam-se como requisitos
básicos para viabilizar um projeto com essas características. Por
outro lado, tendências de consumo e a demanda de mercado
são determinantes da inovação sustentável. 
Não se trata apenas de melhorar aspectos da eco-eficiência nos
processos produtivos, mas repensar coletivamente as
estratégias governamentais, empresariais e os padrões de
consumo das sociedades contemporâneas. A relação deve ser
do tipo ganha-ganha para o governo, empresas e indivíduos.
Políticas públicas orientadas para o desenvolvimento
sustentável devem ser respaldadas por mecanismos de
governança e arranjos de implementação que fomentem a
inovação sustentável, incluindo metas de longo prazo,
mudanças tecnológicas e institucionais de forma sistêmica,
além de desenvolver um conjunto de medidas políticas
coerentes com uma transição para uma economia de baixo
carbono que respeite a capacidade do planeta relativamente à
extração de seus recursos naturais e à absorção de descartes
juntamente com a busca de uma sociedade mais justa e ética. 
O aumento da importância da sustentabilidade nos últimos
anos tem levado organizações públicas e privadas a considerar
como parte integrante da estratégia de negócios a inclusão de
metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento
sustentável. Estas podem exercer um papel importante na
promoção de uma sociedade ecologicamente sustentável,
socialmente justa, sem abrir mão de suas responsabilidades
financeiras com os acionistas. Trata-se de uma nova ênfase na 
 forma de fazer negócios, em que as vertentes inovação e
sustentabilidade caminham juntas e tornam-se fontes de
vantagem competitiva. 
Lideranças sensíveis às questões de sustentabilidade são
fundamentais para conduzir novos processos que vão ao
encontro dos dilemas do desenvolvimento sustentável,
influenciando não só a cultura interna de suas organizações
como também a demanda de mercado, estabelecendo novos
padrões de consumo com foco em produtos e serviços
ambientalmente corretos, socialmente justos e que continuam
trazendo retornos financeiros e econômicos para as empresas
e seus acionistas. 
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Pinsky, V. C., & Kruglianskas, I. (2019). Gestão estratégica da
sustentabilidade: experiências brasileiras. Alta Books Editora.
Abramovay, R. (2012). Muito além da economia verde. São Paulo:
Editora Abril.
Barbieri, J. C. (2020). Desenvolvimento sustentável - Das origens à
agenda 2030. São Paulo: Editora Vozes 
Del Rio Gonzalez, P. (2009). The empirical analysis of the
determinants for environmental technological change: A research
agenda. Ecological Economics, 68(3), 861–878.
https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2008.07.004 
Figueres, C.; Rivett-Carna, T. (2020). The Future We Choose:
Surviving the Climate Crisis . Editora Knopf
ONU. (2015). Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/pos2015/ 
Sachs, J. (2017). A era do Desenvolvimento Sustentável. São Paulo:
Editora Actual.
World Economic Forum. (2020). The Global Risk Report 2020.
Disponível emhttps://www.weforum.org/reports/the-global-risks-
report-2020 
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DRA VANESSA C. PINSKY
Professora FIA ONLINE e em diversos curso de pós-graduação
e mestrado profissional, coordenadora adjunta do PROGESA-
FIA, pesquisadora associada na FEAUSP e consultora em
desenvolvimento sustentável. 
DR ISAK KRUGLIANSKAS
Presidente da FIA, coordenador do PROGESA-FIA, professor
titular sênior na FEAUSP, pesquisador e consultor em inovação
e sustentabilidade. 
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