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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO GEOMETRIA SAGRADA E FRACTAIS: MATEMÁTICA ALÉM DA MÉTRICA BOLSISTA: Luíza Estéfany Campos Sobreira ORIENTADOR: Bulmer Mejía García Relatório final, referente ao período de Agosto/2018 a Julho/2019, apresentado à Universidade de São Paulo pelo Programa de Iniciação Científica e Mestrado em Matemática – PIC-ME. SÃO PAULO SÃO PAULO – BRASIL JULHO/2019 1 GEOMETRIA SAGRADA E FRACTAIS: MATEMÁTICA ALÉM DA MÉTRICA Luíza Estéfany Campos Sobreira Orientador: Bulmer Mejía García RESUMO Não há consenso sobre a verdadeira origem do conhecimento matemático. Em Where mathematics comes from, Lakoff e Nuñez, 2000, defendem a invenção da matemática pelo homem, pragmática e empiricamente. Os matemáticos antigos, todavia, alegam que a matemática possui uma existência objetiva; o homem apenas a descobriu. Nesse presente trabalho, investigamos a origem do conhecimento matemático, que vai de encontro à cosmologia e à filosofia através da tradição da Geometria Sagrada. Em complemento, também estudamos a Geometria Fractal, sistematizada na década de 1970, cuja perspectiva aproxima-se do conhecimento antigo. DATA: __/__/__ PALAVRAS-CHAVE: Matemática. Geometria Sagrada. Fractais. ________________________________________________________________ Bolsista _________________________________________________________________ Orientador 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 3 OBJETIVOS.................................................................................................................... 5 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 5 I. GEOMETRIA SAGRADA ..................................................................................... 5 II. GEOMETRIA FRACTAL ............................................................................................ 8 a. Razão áurea .................................................................................................. 11 b. O vesica piscis e os sólidos platônicos .......................................................... 13 c. Geometria Sagrada Egípcia Antiga ................................................................ 13 d. Geometria Sagrada Mesopotâmica e Hebraica .............................................. 15 e. Grécia Antiga ................................................................................................. 16 f. Vitrúvio ........................................................................................................... 19 g. Os comancinos e a geometria sagrada medieval ........................................... 19 h. Renascença ................................................................................................... 23 i. Barroco .......................................................................................................... 24 j. Séculos XVIII, XIX e início do séc. XX ........................................................... 25 III. SÉCULO XX E XXI: FRACTAIS E TEORIA DO CAOS ................................................... 27 k. Geometria Fractal da Natureza ...................................................................... 30 i. Dimensão Fractal.......................................................................................................31 l. Matemática, Fractais e Arquitetura ................................................................ 35 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 38 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 39 3 INTRODUÇÃO Há controvérsias sobre o que seria a verdadeira origem da matemática. Estudos recentes da psicologia cognitiva, em especial os de (LAKOFF, NUÑEZ, 2000) em Where mathematics comes from, defendem a natureza corporificada dessa ciência, em acordo com o empirismo de John Locke (século XVII), no qual a matemática estaria enraizada na percepção – visão e tato. Conforme essa corrente, quantificar e medir o mundo seriam ações existenciais e pragmáticas, desenvolvidas desde a infância pelo sistema sensório-motor humano. Assim, até mesmo a matemática “pura”, teórica e pouco aplicável, seria, inicialmente, uma forma de conceber, entender e expressar o mundo em si, tanto humano como extra-humano, e seu princípio de atuação é a metáfora.1 Essa compreensão mais contemporânea, a qual vem ganhado força, constrói sua base em oposição a concepções antigas, nomeadas de “românticas” ou “platônicas”, nas quais a matemática possui existência independentemente do reino humano e seria uma verdade objetiva universal. Para os antigos, os princípios da matemática, em especial os da geometria, ligavam-se estreitamente à física, não simplesmente como um artifício para metaforizar os fenômenos, sendo, por si só, a própria fórmula da natureza física. Lakoff e Nuñez (2000) afirmam que não há nenhuma demonstração empírica que possa comprovar a natureza transcendental da matemática. Para eles, a capacidade dessa ciência de construir provas inalienáveis não é suficiente para admití-las como verdades universais.2 Nesse sentido, a matemática está na mente dos físicos, que a usam para efetuar os cálculos; não na física por si mesma. Entre outras conquistas da Teoria da Matemática Corporificada, está a nova maneira de se pensar o estudo da Matemática, tornando-o mais horizontal, contextual e pragmático; revolucionando o construtivismo de Jean Piaget (1896-1980), que outorga 1 PASSES, 2006, p. 248 4 aprendizado à formação de conceitos matemáticos – analogamente ao que se faziam os matemáticos antigos.3 A princípio, os argumentos defendidos pelos pesquisadores da psicologia cognitiva parecem invariavelmente convincentes; principalmente por estarem inextricavelmente associados a chamada “virada linguística”4, proferida entre o final do XIX e início do século XX, por linguistas como Wittgenstein (1953) e Bakhtin (1930). Sendo assim, o caráter transcendental da matemática, passaria a ser entendido simplesmente como uma questão de fé e idealização. Além disso, as ideias matemáticas equiparar-se-iam a outras ideias quaisquer, formadas no subconsciente humano e expressos por meio do desenvolvimento de uma linguagem. No entanto, novos estudos científicos, como a Mecânica Quântica, a Teoria do Caos e, principalmente, a Geometria Fractal – que estuda situações dificilmente explicadas pela geometria clássica; parecem estabelecer novas conexões com o entendimento antigo sobre a origem da matemática e sua relação estreita com a natureza física da matéria.5 No que diz respeito a este presente trabalho, não temos por objetivo defender fervorosamente nenhuma das vertentes apresentadas. Todavia, acreditamos ser plausível um novo debate, que vai além de uma concepção linear e comprovatória do que seria a matemática. Desse modo, através de um trabalho bibliográfico, resgataremos o conhecimento antigo sobre a matemática – mais precisamente, a Geometria Sagrada. Feito isso, daremos início ao estudo da Geometria Fractal, em associação com alguns conceitos da Teoria do Caos; em busca da conexão com o que foi apresentado pelo conhecimento antigo. 2 “[...] Should we believe that there is an additional-imaginary-dimension to the physical world because imaginary numbers are used in the calculation of the periodic waxing and waning of electromagnetic forces1 There is no physical reasonto believe this.” (LAKOFF, NUÑES, 2000, p.340) 3 “[...] A crítica [às teorias psicogenéticas de Piaget] se dá na prerrogativa de que em condições propícias, toda criança percorreria os mesmos estágios, desde o senso-motor até o pensamento hipotético-dedutivo, ou abstrato, característico da atividade matemática.” (GOTTSCHALK, 2008, p. 78) 4 GOTTSCHALK, 2008, p. 78 5 Nature exhibits not simply a higher degree but an altogether different level of complexity. The number of distinct scales of length of natural patterns is for all practical purposes infinite. (FRANTZ, CRANNELL, 2011, p. 162, apud MANDELBROT, 1983) 5 Na medida em que ciência, filosofia e religião voltam a se reaproximar, novos caminhos podem ser formados. Questões, invariavelmente, atribuídas pela ciência ao âmbito da fé, clareiam-se, retornando à sua casa habitual – a consciência. As impossibilidades científicas e os pessimismos filosóficos desaparecem; abrem-se novas possibilidades. OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é contribuir para a formação de novas concepções sobre o que seria o conhecimento matemático. Sendo assim, os objetivos específicos pautam-se na investigação bibliográfica sobre o conhecimento da matemática ao longo da história da humanidade – com ênfase na Geometria Sagrada, e no estudo específico e comparativo de e com a Geometria Fractal. DESENVOLVIMENTO I. GEOMETRIA SAGRADA "O que é Deus? É longitude, largura, altura e profundidade" São Bernardo de Claraval, De la consideración Platão (427-347 a.C.) defendia que todas as coisas cresciam em formas, geometria simples de três dimensões e padrões imutáveis que conformam uma espécie de coluna vertebral da realidade. 6 Nos tempos antigos, as complexidades e as verdades abstratas da forma geométrica eram explicadas como as verdades mais íntimas das substâncias do mundo, sendo a base para a construção de templos e símbolos externos de fé por diferentes crenças em lugares separados no tempo e espaço. Assim, a geometria era reconhecida como a expressão mais convincente de um plano divino que subjaz ao mundo, um padrão metafísico que determina um padrão físico.7 De acordo com os gregos, a geometria e os números são sagrados a medida em que codificam a ordem oculta por trás da criação. 6 LAWLOR, 1996, p. 9 7 PENNICK, 1980, p. 7-8. 6 As ideias de Platão e do conhecimento antigo – em que não havia separação entre a geometria, a ciência natural, a cosmologia ou a teologia – foram, durante muito tempo, consideradas místicas. Atualmente, no entanto, a pressuposição de que a matéria pode ser estudada apenas do ponto de vista da substância – partículas, quantum – tem sido abandonada, em favor do conceito segundo o qual a natureza fundamental da matéria só pode ser reconhecida através do estudo da organização subjacente de suas formas ou ondas. 8 A descoberta de fórmulas essencialmente simples por físicos e biólogos como a estrutura do DNA (geometria de hélice do pentágono) e o padrão de crescimento das plantas (baseado em um ângulo geométrico fixo e no número de Fibonacci, Φ) têm confirmado a importância física das formas. A antiga geometria não repousa em axiomas ou presunções apriorísticas. Contrariamente aos euclidianos e à geometria mais recente, o ponto de partida do antigo pensamento geométrico não é uma rede de definições ou de abstrações intelectuais, mas uma meditação sobre uma unidade metafísica, seguida de uma tentativa por simbolizar visualmente e contemplar a ordem pura e formal que surge desta incompreensível unicidade. O enfoque do ponto de partida da atividade geométrica é o que separa o que podemos denominar de geometria sagrada, da mundana ou secular. (LLOWLER, 1996, p. 16) Figura 1 – Mapa polinésio de estudo do reconhecimento das ondas (mattang or wapepe), que mostra os padrões básicos formados pelas ondas ao serem dobradas pela terra. A funcionalidade do dispositivo é um exemplo do uso da geometria como um sistema simbólico para a compreensão das estruturas do universo. Figura 2 - Este desenho caligráfico zen japonês representa harmoniosamente a "criação", mediante a simples progressão da unidade do círculo, passando pelo triângulo, até à forma manifesta do quadrado. 8 Idem (p. 4) 7 Figura 3 – A foto de refração acima é a visualização mais aproximada que a ciência pode dar sobre a natureza da substância atômica, que aparece como esquemas de luz-energia em forma geométrica. O enfoque da moderna teoria dos campos de forças e da mecânica das ondas corresponde às visões antigas da ordem universal como configuração de esquemas de ondas entrelaçadas. Bertrand Russel (1872-1970), que reconhecia o valor profundo da geometria sagrada, já vislumbrava o que hoje é visto pela ciência: “[...] O que percebemos como diferentes qualidades de matéria são na realidade diferenças na sua periodicidade.” - Análise da Matéria. A geometria sagrada, na qual o “sagrado” diz respeito ao que é fixo ou permanente, ou seja, o que se mantém constante na estrutura do cosmo, não inclui apenas figuras geométricas básicas, feitas através da régua e compasso. A geometria 8 sagrada também é base para a investigação da topologia do universo; da arte e arquitetura; das proporções e funcionamento orgânico; da microbiologia, da estrutura do DNA; de “[...] toda a manifestação do continuum universal.”9 Nesse sentido, quando muitas culturas antigas optavam por examinar a realidade através das metáforas da geometria e da música (a música enquanto frequência e proporção dos sons), estavam muito próximas da ciência contemporânea. II. GEOMETRIA FRACTAL A palavra fractal origina-se do latim fractus, que significa fração ou quebrado. O nome foi dado pelo matemático francês Benoit Mandelbrot, em 1975, que sistematizou os princípios da geometria fractal em The Fractal Geometry of Nature, 1977. Até a década de 1970, figuras constantemente encontradas na natureza e, no entanto, dificilmente explicadas pela geometria de Euclides, eram pouco estudadas pela ciência, vistas basicamente como “sem-forma” ou “patológicas”. No final do século XIX, o matemático alemão Georg Cantor (1845-1918) desenvolveu o “Conjunto de Cantor” (figura 4), que talvez seja o primeiro objeto reconhecido como fractal. Figura 4 – Representação do Conjunto de Cantor e retirada do “segundo-meio”. Sendo C o conjunto de pontos do intervalo entre 0 e 1, ou seja, C = [0,1]. Divide-se C em três partes iguais (C’) e retira-se o intervalo central. Repete-se o procedimento com os fragmentos iguais a C’ e, posteriormente, com C’’ e, assim, sucessivamente. 9 PENNICK, 1980, p. 8. 9 No Conjunto de Cantor, ao calcular o total dos pontos retirados (conjunto P), temos: 𝑃 = 1( 1 3) + 2( 1 3⁄ )2 + 23(1 3⁄ )4 +⁄ … = 1 3⁄ ( 1 + 2 32⁄ + 22 33⁄ + 23 3⁄ 4 +⋯)⏟ A soma da P.G. e o total de pontos removidos são dados por: 𝑆 = 1 1 − 2 3 = 3 ⇔ 𝑃 = 3 × 1 3 = 1. Em primeira instância, observa-se que o total de pontos removidos é igual ao tamanho do segmento C (o intervalo entre 0 e 1). Entretanto, sabe-se que a divisão e remoção do “segundo-meio” acontece infinitamente. Assim, a resposta está correta? Qual seria o real tamanho do conjunto P? Para resolver esta questão, Cantor procurou investigar a natureza do “mundo dos infinitos”, definindo os Conjuntos Denumeráveis e o Continuum. Definição: “Um conjunto infinito é aquele que pode ser colocado em correspondência um-a-um com um subconjunto de si mesmo.” Sendo assim, infere-se que, no domínio do infinito, “O todo é igual a uma parte”. Na geometria fractal, esse conceito é compreendido a partir da característica de auto similaridade dos fractais, em que seus fragmentos são autosimilares ou auto afins ao seu todo; seja de maneira exata, no caso das figuras geradas por processos matemáticos, ou aproximada, nos fractais encontrados na natureza. “É Denumerável o conjunto equivalente ao conjunto dos números naturais, de modo que cada componente pode ser colocado em correspondência um-a-um com os números naturais N (1, 2, 3, ...). Exemplo: conjunto dos números ímpares, pares, entre outros. O número que representa a quantidade de componentes em um conjunto denumérável, ou seja, sua cardinalidade, é “אo” (letra hebraica “alef nau”). Existem conjuntos não-denumeráveis, como o intervalo de números reais entre 0 e 1, que não podem ser colocados em correspondência um-a-um com os números naturais e, possuem, assim, cardinalidade diferente de אo. A cardinalidade desse conjunto é chamada de continuum “c”. 10 Figura 5 – Feto e respectivas réplicas observadas em galhos e folhas. Figura 6 – Triângulo de Sierpinsk, desenvolvido pelo matemático polaco Waclav Sierpinsk. Figura 7 – (a) Smaller and smaller, 1956 e (b) Circle limit III, 1959 (Gravuras de M. C. Escher) 11 A. RAZÃO ÁUREA Platão, em seu Timeu, discutiu a Razão Dourada ou Seção Dourada como a chave para a física do cosmos. Leonardo B. Fibonacci (séc. XII) popularizou, na Europa, a série (Série Fibonacci), que foi reconhecida como um padrão de crescimento de diversos organismos da natureza. O geômatra Luca Pacioli (1447-1517) retomou-a no período do Renascimento com a obra De Divina Proportione. Enquanto, nos tempos modernos, o arquiteto Le Corbusier (1887-1965) escreveu um sistema modular baseado nessa razão. Em séries crescentes ou progressões que tem Φ (número dourado) como razão geométrica, cada termo é igual à soma dos dois precedentes – (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, ...), fato que possibilita a manipulação de toda a série. Figura 8 – Os dois principais esquemas de ramificação, um que demonstra a progressão geométrica de 2 (√2), e o outro, a série Fibonacci. (Φ). Figura 9 - Nautilus pompilius – formato baseado na razão áurea Φ. Para os antigos, os números irracionais como Φ ( √5 + 1 2 = 1, 618…) e o próprio π (1, 14156. . . ) eram chamados de números transcendentais, devido a sua natureza infinita. O próprio conceito de raiz, por sua vez, nasce da representatividade desses números na composição de sequências de expressiva proporcionalidade e comensurabilidade – sinônimo de beleza nas construções. 12 Figuras 10 – Retângulos de raiz e sua produção a partir da diagonal do quadrado de lado 1. Figura 11 – A raiz nutre o germe, a proporção entre a profundidade da raiz e o germe deve ser constante para que a planta cresça. Figura 12 – Dois exemplos de auto-semelhança fractal; retângulos da Seção Dourada e curva de Koch. (Fonte: Fractal Geometry in Architecture and Design, Carl Bovil, p. 2). Figura 13 - Padrão de crescimento do Girassol conforme a Proporção Áurea. 13 B. O VESICA PISCIS E OS SÓLIDOS PLATÔNICOS O vesica piscis é o ponto de partida do qual derivam todas as outras figuras geométricas - quadrado, triângulo, pentágono e hexágono. Nesse sentido, representa os órgãos genitais da Deusa Mãe, o ponto físico de origem da vida. Em termos geométricos e místicos, toda a série de sólidos geométricos regulares conhecida como os Sólidos Platônicos – Cubo (terra), Tetraedro (fogo), Dodecaedro (éter ou espírito), Icosaedro (água) e Octaedro (ar) – pode ser produzido a partir do vesica. Figura 14 – Construção do vesica piscis. A distância entre os pontos A e B é igual ao raio das circunferências. Figura 15 – Triângulo, quadrado e pentágono a partir do vesica. C. GEOMETRIA SAGRADA EGÍPCIA ANTIGA “As estruturas sagradas e culturais pré-cristãs só podem ser compreendidas se adotarmos o ponto de vista dos antigos. Para eles todas as coisas do mundo estavam vinculadas às coisas divinas. [...]” - Josef Heinsch. Literalmente, geometria significa “medição da terra” e, no Egito Antigo, seu desenvolvimento deve-se substancialmente a esse objetivo. Fortes indícios de um completo sistema de agrimensura do Rio Nilo datam de 5 a 6 mil anos atrás. Na construção dos templos, por sua vez, a geometria subjacente passou a ser executada numa complexa cerimônia simbólica. Os arquitetos geométricos egípcios foram os primeiros a aplicar essa ciência na arte de construir, sendo a arquitetura originalmente dependente da geometria. Entre os polímatas, destaca-se Imhotep (século XXVII a.C.), que desenhou a primeira pirâmide verdadeira – Saqqara (2667–2648 a.C.) e foi 14 considerado o primeiro arquiteto antigo, o geômetra que encabeçou a Tradição Ocidental da geometria sagrada. No Egito Antigo, nota-se uma unidade essencial entre a magia, religião e tecnologia. Na época, existia a necessidade de se encontrar os pontos precisos em que os ritos mágicos e religiosos deveriam ser cumpridos, fixando-os a partir de observações astronômicas, assim como já se colocava aos britânicos antigos com as estruturas de pedra, como em Stonehenge, Reino Unido. A expressão de uma unidade desde o menor, até o maior detalhe e objeto sagrado é um dos pontos marcantes da arte egípcia e encapsula o conceito tri facetado da Trindade de Ísis, Horus e Osíris10. Figura 16 e 17 - A teoria dos campos da astrofísica moderna concebe o universo como um campo vibratório, integral e incompreensivelmente vasto de plasma ionizado, pré-gasoso,(figura 16) uma imagem não muito diferente do Nun ou oceano cósmico do mito egípcio. Note-se que tanto este símbolo egípcio da "boca" (figura17), quanto o percurso de uma corda em vibração (figura 16) têm uma forma "vesical" achatada. 10 PENNICK, 1980, p.50. 15 Figura 18 - Análise geométrica da tumba de Ransés IV do Egito quadrado duplo e retângulo da seção dourada. Figura 19 – Coluna do capitol com detalhe semelhante ao Conjunto de Cantor. (Fonte: Description d'Égypte by Jean-Baptiste Prosper Jollois and Édouard Devilliers, Imprimerie Impériale, Paris, 1809-1828). D. GEOMETRIA SAGRADA MESOPOTÂMICA E HEBRAICA Para os mesopotâmicos e hebraicos, a geometria sagrada tem raízes na Babilônia, com a edificação de montanhas sagradas artificiais encimadas por templos, nas quais se encaixa o conto bíblico da Torre de Babel. As montanhas sagradas eram orientadas para as quatro direções cardinais e recebiam o nome de ziggurat, o “pico dos deuses”. Nas cidades de Ur, Uruk e Babilônia, os ziggutats chegavam a medir 300 pés da base ao ápice. O ziggurat de Nabu, em Borsippa, era dedicado aos sete planetas ou sete esferas celestiais, a “Casa dos Sete Limites do Céu e da Terra”, com seus estágios adornados em consequência das cores de cada um deles, sendo a Lua quem ocupava o lugar mais elevado no sistema mágico caldaico. A influência da geometria egípcia e da magia caldaica foi sentida pelos israelistas. Ao longo de toda a Bíblia, descrevem-se em detalhe objetos e edifícios sagrados com medições precisas que ali se dizem ter sido dadas por Deus. A mais antiga de suas construções canônicas é a mitológica Arca de Noé, dividida em 3 andares, com 11 seções cada um (33 é um número sagrado), sendo suas medidas diretamente relacionadas ao corpo do Homem. Além da Arca, destaca-se o Tabernáculo, santuário utilizado pelo povo judeu durante suas peregrinações pelo Sinai, cujas orientações das medidas eram uma “imitação do sistema do mundo” e o Templo de Salomão, feito durante o ápice da vida nacional dos judeus, no século X a.C. 16 Figura 20 - O Tabernáculo judeu, quadrado duplo. O Templo de Salomão em Jerusalém, quadrado triplo. Figura 21 - A Arca de Noé, símbolo da criação de Deus e do ano zodiacal. E. GRÉCIA ANTIGA A Geometria é o conhecimento do Eterno existente. -Pitágoras (VI a.C.) Os gregos antigos foram notáveis por suaabordagem pioneira e experimental do mundo e contribuíram imensamente para o desenvolvimento da geometria, com destaque para os polímatas Pitágoras (VI a.C.) e Euclides (III a.C.). Enquanto Euclides sistematizou todo o conhecimento geométrico dos antigos, intercalando-os com as suas próprias contribuições; Pitágoras, por sua vez, destaca-se, dentre outras, pela descoberta de que “[...] as cordas percutidas em um instrumento soavam em harmonia quando as suas extensões estavam relacionadas a uma outra corda determinada por números inteiros”, ou seja, os tons podem ser medidos em termos de espaço. Para os pitagóricos, os números eram unidades independentes que possuíam dimensões espaciais indivisíveis e eternas, sendo que o homem deveria descobrir os números que estão ocultos em todas as coisas 11 - a arché. Nesse sentido, sua descoberta constituía uma “revelação divina da harmonia universal”, em que todo o universo podia ser explicado em termos matemáticos. 11 PENNICK, 1980, p. 61-62. 17 Figura 22 – A lambda pitagórica mostra a conexão existente entre números pares e os intervalos da escala musical, a composição de um sistema harmônico. Figura 23 – Resultado do desenho feito ao cobrir de poeira uma placa metálica, movendo um arco de violino por cima dela para produzir uma frequência concreta. Para Platão, a harmonia do universo estava expressa em sete números (1, 2, 3, 4, 8, 9, 27), os quais abarcam os mistérios do macrocosmo e do microcosmo, sendo os mais adequados à incorporação da geometria sagrada. Em seu Timeu, o filósofo discute a Seção Dourada como a chave para a física do universo, sendo a República um microcosmo alegórico devido, dentre outros, aos seus atributos geométricos ou numerológicos, refletores do ideal divino. A consumação da República, nesse sentido, uniria o homem ao universo – o que sempre foi o objetivo dos mágicos e dos alquimistas antigos. A própria geometria do Paternon, por sua vez, é planejada com medidas significativas, com fachadas determinadas pela Seção Dourada e lados baseados no fator π, também considerado um número transcendental. Toda a terra era sagrada, os matemáticos também eram sagrados e, assim, a modelagem um ato de adoração. Só nos tempos modernos a geometria sagrada foi relegada primeiramente à esfera estreita do desenho de edifícios sagrados, e depois completamente abolida em função de seus objetivos práticos.12 12 Idem (p. 67). 18 Figura 24 – Seção Dourada no Paternon, Grécia. (Fonte: Gyorgy Doczi. (1994) Rhe Power of limits. Shambhala Boston & London) 19 F. VITRÚVIO Marcos Vitrúvio Polião (I a.C.) escreveu o tratado teórico e técnico De Archtectura, que influenciou grande parte das construções do Império Romano e, posteriormente, influenciou os arquitetos renascentistas. Segundo Vitrúvio, nenhum edifício poderia possuir atributos em que a proporção e a simetria não fossem observadas; “[...] a proporção é a comensuração das várias partes constituintes do todo e o fundamento da existência da simetria; [até mesmo] a estrutura humana parece ter sido formada com tal propriedade, que os muitos membros são proporcionais ao todo.” Figura 25 - Homem vitruviano superposto ao pentagrama segundo Fludd Nesse sentido, o aspecto numinoso simbólico era considerado a forma verdadeira, ao passo que a manifestação material era vista como uma simples sombra da sua contrapartida espiritual. A geometria sagrada possibilitava ao arquiteto a criação de um instrumento funcional em que poderiam ser utilizados ao máximo os atributos da forma esotérica aos níveis psicológico e espiritual.13 G. OS COMANCINOS E A GEOMETRIA SAGRADA MEDIEVAL Após a queda do Império Romano do Ocidente, os maçons, estudiosos que possuíam o conhecimento arquitetônico geométrico, espalharam-se por toda a Europa Ocidental e Setentrional, construindo igrejas, castelos e obras cívicas. Assim, as Igrejas 20 e os mausoléus14 passaram a ser os repositórios do conhecimento sobre a geometria sagrada. Por sua vez, o influxo de ideias árabes, ao se combinarem com o entusiasmo cristão dos séculos XII e XIII, em um contexto de fusão multicultural com os intercâmbios e as expedições das Cruzadas, tornaram possível a construção das grandes catedrais góticas. As ideias e práticas geométricas do mundo clássico tardio foram aprendidas pelos árabes quando estes conquistaram, no período helenístico, cidades universitárias de importância vital como Alexandria. Dessa forma, a arquitetura sagrada exigida pela nascente fé islâmica recebeu as contribuições de textos clássicos, como “Elementos” da Geometria Euclidiana, que, por sua vez, sobreviveu apenas através das traduções árabes. Cabe destacar a revolução geométrica instaurada pelo uso do arco pontiagudo pelos islâmicos, o qual, em sua forma perfeita, é a metade superior do vesica piscis, produzido pela intersecção de dois arcos. Figura 26 e Figura 27 – Uso do vesica piscis na construção de catedrais góticas. Os maiores exemplos do uso do arco pontiagudo (figura 26) são os das catedrais de Canterbury e Cartres. Numa época de grande entusiasmo maçom, Feltre (1980) destaca que “[...] os princípios transcendentais foram adotados com alacridade pelos homens pragmáticos, cuja compreensão do simbolismo os capacitara a trabalhar com o inexperimentado e o insuspeitado.” (p.84). Nesse sentido, a construção das catedrais góticas e suas precedentes, as catedrais românicas, incorporava várias estruturas complexas, sendo todo o seu conjunto; o que inclui a nave, o coro, o transepto, o corredor, o portal, a 13 PENNICK, 1980, p. 73. 14 Tumba grandiosa, normalmente construída para alguém importante. 21 janela, a arcada do frontão e a torre; harmonizado de forma a criar um todo que ligava o homem, o microcosmo, com o universo, o macrocosmo. Cada característica possuía sua unidade de medida, o seu simbolismo místico. Os sistemas mais utilizados pelos maçons no momento de construção das grandes catedrais góticas foram o ad quadratum, baseado no quadrado e seus derivados geométricos e o ad triangulum, baseado no triângulo equilátero, que, por sua vez, era considerado um sistema mais dinâmico, sendo o mais novo dentre os dois. À época das últimas igrejas góticas, o sistema ad quadratum se refinou para uma forma mais complexa, que tem por base mais o quadrado duplo que o simples – forma favorecida, desde o Egito Antigo, como a adequada a um lugar santo.15 O dodecaid (figura 28) – derivação do ad quadratum – é um poligrama irregular de dez pontas, muito oportuno ao planejamento de igrejas. Figura 28 - Dodecaid, baseado no quadrado duplo; representa a Trindade Divina. O quadrado maior, central, representa o Pai; o retângulo transversal, o mundo material constituído pelos 4 elementos e 4 direções. A Trindade Divina é quem sustenta o mundo material. Figura 29 - Catedral de S. Maria secs. XI-XIII, Anagni. Traçado semelhante ao Triângulo de Sierpinski. 15 PENNICK, 1980, p.89. 22 Figura 30 - A catedral gótica de Amiens, uma simbolização do homem universal ou cósmico, do qual Cristo foi uma encarnação. 23 H. RENASCENÇA Deus também criou o homem à sua própria imagem: pois, como o mundo é a imagem de Deus, também o homem é a imagem do mundo. - H. Cornelius Agrippa, Filosofia Oculta. No período da Renascença, a geometria linear superposicional foi suplantada por uma geometria poligonal centralizada. Tal tendência centralizadora é vista como um emblema de um movimento de fuga das crenças transcendentais da Idade Média, substituídas por umethos mais humanista, antropocêntrico. 16 A basílica, nesse contexto, foi elevada para o reino da adoração, fato que foi criticado pelo arquiteto italiano Alberti (século XV), já que esta construção não estava sendo feita segundo a geometria sagrada, além da forma circular ser considerada pagã, na época. Andrea Palladio (1508-1580) é um dos maiores expoentes da geometria sagrada da Renascença, refinando-a à partir princípios rígidos, de forma a servir às residências palacianas.17 Também destaca-se a forte ligação estabelecida entre geometria, música e arquitetura a partir de resgastes de textos clássicos, além de contribuições como do italiano Lomazzo (1538-1592), que escreveu sobre o corpo humano em termos de harmonia musical. Figura 31 - Os números que surgem do triângulo "pitagórico" 3,4,5 produzem formosas simetrias nas formas naturais. Esta série começa com uma expressão natural do triângulo eqüilátero e conclui com uma série de simetrias em que se inspiram as plantas de edifícios. 16 PENNICK, 1980, p. 114. 17 Idem 24 I. BARROCO A arquitetura do Barroco, por sua vez, compreendida entre os séculos XVII e XVIII, demonstra a evasão das “figuras geométricas principais” e um constante uso da forma oval. Segundo Feltre (1980), “[...] a palavra barroco tende a despertar na mente de muitas pessoas uma disposição desenfreada de ornamento aparentemente casual que se mantém suspensa, como que por mágica, por uma tela de fundo de motivos clássicos desconectados e arranjados de maneira teatralmente espetacular.” Sir Chstopher Wren (1632-1723), que talvez tenha sido o arquiteto Inglês mais famoso de todos os tempos, enquanto lecionava em Oxford, 1657, exprimiu sobre o seu ethos: As Demonstrações Matemáticas, constituindo-se sobre as inexpurgáveis Fundações da Geometria e da Aritmética, são as únicas Verdades que podem mergulhar na Mente do Homem, vazia de toda a Incerteza; e todos os outros Discursos participavam mais ou menos da Verdade, segundo seus Assuntos sejam mais ou menos capazes de Demonstrações Matemáticas. Em complemento ao pensamento de Wren, seu filho escreveu o livro Parentalia, composto de quatro Tracts, nos quais se discute as intenções da Arquitetura que visa a eternidade, em que a Geometria Sagrada seria seu princípio condutor. A incorporação de medidas que retomam o simbolismo místico é vista na reedificação da Catedral de São Paulo, por Wren, e ilustra bem o que seria o ethos barroco. A altura global da catedral, por sua vez, media 365 pés desde o nível do chão até o topo da cruz dourada; valor que posteriormente foi usado por Sir Edward Maufe (1883-1974) na construção da Catedral de Guildford, em 1930. Esse número, além de representar a consumação do ano de Deus, o Tempo Cósmico em que o Reino do Céu se cumpre na Terra, equivale, em geomatria, ao nome Abraxas, que significa Abracadabra e, também, a consumação de todo o conhecimento.18 18 Idem (p.125-126) 25 Figura 32 - Versão concluída do projeto para a Catedral de St. Paul, Londres, por Chistopher Wren. J. SÉCULOS XVIII, XIX E INÍCIO DO SÉC. XX Embora após a época de Wren e Newton houvesse um novo mundo secular em construção19, os arquitetos do século XVIII mantinham interesse pelas máximas da harmonia musical de Palladio e, consequentemente, apreço pela estrutura geométrica como fonte básica da harmonia. No século XIX, no entanto, muitas ideias dos séculos anteriores foram substituídas pela busca pelo menor custo e planejamento construtivo. Com os emergentes cultos à iluminação de uma época materialista, a geometria sagrada foi vista apenas como uma aderência supersticiosa, um sistema sem valor algum para a tradição. 20 Assim, tornou-se impensável um arquiteto admitir que trabalhava através de princípios esotéricos; por sua vez, poucos arquitetos estavam sequer conscientes de que havia, na área, um conhecimento dessa espécie de tradição. 19 Idem (p.127) 20 “Os únicos arquitetos que trabalharam com forças reais foram os engenheiros civis, tais como Thomas Telford e Isambard Brunel, e mais tarde Gustavo Eiffel e Louis Sullivan.” (PENNICK, 1980, p.127). 26 Em contrapartida, nesse mesmo período, muitas foram as conquistas dos ocultistas em relação a publicação dos mistérios. Com a Inquisição dissolvida, os segredos maçônicos, que anteriormente apenas vazaram em poucos livros, puderam ser compilados e publicados em linguagem facilmente compreensível; sendo amalgamados com conhecimentos diversificados, inerentes de diferentes regiões do mundo. Além disso, com o desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos séculos e com a revitalização do conhecimento oculto, tornou-se possível investigar a estrutura subjacente da matéria e da geometria orgânica mineral e vegetal. A supremacia do materialismo e do culto à iluminação, todavia, não permitiu que tais princípios arcanos do conhecimento antigo fossem aplicados na vida cotidiana. Como retrato disso, guias influentes do início do século XX, como o livro Hints on Bulding a Church21, de Parr Maskel (1905) apresentavam conhecimento insuficiente sobre medidas canônicas e outras noções da geometria sagrada. Sendo assim, apenas franco-maçons praticantes ou arquitetos versados no saber canônico antigo estavam verdadeiramente interessados no conhecimento canônico. Diferentemente dos “edifícios copiados”, a Sagrada Família e outras obras-primas de Antoni Gaudí, enquadram-se no cânone da Geometria Sagrada. De fato, o interesse de Gaudí pela geometria esotérica fez dele um dos primeiros arquitetos dos tempos modernos a empregar o arco parabólico e, por essa razão, seus edifícios contém aquilo que à primeira vista parece ser um conceito ridículo – pilares inclinados. Estes pilares, todavia, são o resultado de se considerar a construção de um edifício como um todo que integra mecânica e organicamente as partes de maneira que ela ecoe espiritualmente, se não funcionalmente, a natureza “abrangente” da arquitetura gótica. [...] A geometria sagrada determina suas formas. [...] Este fato, e não a forma externa, separa a arquitetura realmente sagrada da arquitetura meramente inventada ou derivada. (PENNICK, 1980, p. 129) 21 Maskell escreveu: “Nossos predecessores acreditam muito naquilo que a psicologia moderna chama de mente subconsciente, (...) O ‘sentido interno’ fazia todas as avaliações inconscientemente. Devemos reconhecer que essa crença era justificada, via de regra, em suas obras, mesmo nos assuntos mais abstrusos da acústica e da ventilação.” Esta afirmação, naturalmente não faz sentido. Não se erige por meios “inconscientes” uma catedral como a de Salisbury, com uma torre de quatrocentos pés que resistiu por setecentos anos. Edifícios como esse são o resultado de uma avançada tecnologia de arquitetura, planejados de acordo com os princípios seguros da geometria. (PENNICK, 1980, p.130) 27 Figura 33 - A Sagrada Família, projetada por Gaudí no final do século XIX; ainda em construção em 2019. III. SÉCULO XX E XXI: FRACTAIS E TEORIA DO CAOS No ano de 1955, com o cientista do M.I.T, Edward Norton Lorenz, nasce o início formal da Teoria do Caos. Ao tentar manipular uma função para a previsão meteorológica, Lorenz percebeu que: "situações iniciais ligeiramente diferentes podem se desenvolver em situações consideravelmente diferentes". Tal propriedade, por sua vez, é comum a maioria dos fenômenos naturais e sociais e não apenas uma propriedade de leis matemáticas abstratas. 22 Atualmente, o sistema de Lorenz é expresso como um sistema de três equações diferenciais não lineares acopladas: �̇� = 𝑎 (𝑦 − 𝑥) �̇� = 𝑟𝑥 − 𝑦 − 𝑥𝑧 �̇� = 𝑥𝑦 − 𝑏𝑧22 VALERIO, 2014, p. 4 28 Figura 34 - Solução caótica para o Sistema de Lorenz, formação do Atrator de Lorenz e/ou Fractal de Lorenz. (Fonte: VALERIO, 2014, p. 6) Em Sistemas Dinâmicos, define-se “atrator” como uma região (subconjunto) do espaço de fase de sistemas dissipativos para a qual tendem as trajetórias que partem de determinada região. Os atratores assemelham-se a um campo de força que exerce certa atração numa determinada região do espaço e, por sua vez, representam o processo de auto-organização dos sistemas. Num sistema linear, por exemplo, obtemos tipicamente trajetórias que convergem para um ponto fixo estável ou para um ciclo limite correspondendo a uma variação periódica. Lorenz descobriu que, para certos valores dos parâmetros “a”, “r” e “b”, as trajetórias deste sistema nunca acabam num ponto fixo nem num ciclo limite estável e, contudo, nunca divergem para o infinito. (VALERIO, 2014, p. 6-7) Com a fabricação de computadores cada vez mais modernos, foi possível o desenvolvimento de funções iterativas mais sofisticadas (figura 35), que podem reproduzir situações muito próximas a encontradas na natureza. Por sua vez, o uso de funções iterativas para a produção de geometrias fractais tornou-se uma solução para a codificação de imagens no computador. Ao invés de transferir uma imagem pixel por pixel, codificá-la e decodificá-la a partir de funções que expressam a auto semelhança e auto afinidade das partes da figura (figura 36 e 37) coloca-se como uma opção mais rápida para o processamento da imagem na internet. 29 Figura 35 – O Conjunto de Mandelbrot (M) desenvolvido por Benoit Mandelbrot, 1977, é gerado pela iteração da função complexa: 𝑓𝑐(𝑧) = 𝑧 2 + 𝑐. A ampliação de diferentes regiões de M define fractais de variável complexa, chamados de Conjuntos de Julia.23 Figura 36 - Uma folha e uma árvore são os atratores de, respectivamente, apenas quatro e seis iterações de um fractal auto afim. 23 No vídeo Mandelbrot Zoom 10^227 [1080x1920], disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PD2XgQOyCCk, é possível ver sucessivas ampliações dentro do Conjunto. https://www.youtube.com/watch?v=PD2XgQOyCCk 30 Figura 37 – Panorama feito com o software fractal Terragen. A superfície áspera das montanhas é feita usando uma técnica matemática chamada “Perlin noise”. A técnica, montada pelo cientista de computação Ken Perlin, em 1997, já foi usada em filmes e na televisão. K. GEOMETRIA FRACTAL DA NATUREZA Figura 38 – “Aqui Deus criou Círculos, Ondas e Fractais.” (Página 277 do livro de Benoit Mandelbrot, The Fractal Geometry of Nature, 1977). Ao propor o início formal de um novo ramo da matemática, a Geometria Fractal, Benoit Mandelbrot destacou a possibilidade de fazer o que até então não havia sido feito: medir, definir e comparar o belo e aparentemente irregular das formas vistas na 31 natureza. As formas fractais da natureza, por sua vez, apresentam um grau de complexidade bem maior que de fractais como a Curva de Koch e o Triângulo de Sierpinski, por exemplo. Segundo Mandelbrot, 1977, “[...] A natureza não exibe meramente um alto nível, mas, completamente, um diferente nível de complexidade. O número de escalas distintas de comprimento dos padrões naturais é, para objetivos práticos, infinitos. 24 Contudo, a Geometria Fractal representa um grande salto em relação à compreensão dos padrões e funcionamento naturais. O desenvolvimento de um organismo pode [...] ser considerado como a execução de um “programa de desenvolvimento” presente na fertilização do ovo. A celularidade de organismos superiores e seus componentes comuns de DNA nos forçam a considerar os organismos em desenvolvimento como coleções dinâmicas de autômatos finitos apropriadamente programados. A pergunta central do desenvolvimento biológico é descobrir o algoritmo subjacente ao curso de desenvolvimento. (Aristid Lindenmayer and Grzegorz Rozenberg)25 i. Dimensão Fractal Assim como já observamos no Conjunto de Cantor, os fractais possuem algumas propriedades diferentes da geometria euclidiana. A dimensão das figuras geométricas euclidianas é expressa por números inteiros; por exemplo, uma linha (dimensão 1), um quadrilátero (dimensão 2), um cubo (dimensão 3). Na Geometria Fractal, todavia, encontra-se casos como os da Curva de Koch, com um perímetro cujo crescimento é infinito; ou casos reais como a costa de um continente 26 , que, por possuir características fractais, não consegue ser medida por meio de cálculos euclidianos básicos. 24 Nature exhibits not simply a higher degree but an altogether different level of complexity. The number of distinct scales of length of natural patterns is for all practical purposes infinite. (FRANTZ, CRANNEL, 2011, p. 162) 25 “The development of an organism may […] be considered as the execution of a ‘developmental program’ present in the fertilized egg. The cellularity of higher organisms and their common DNA components force us to consider developing organisms as dynamic collections of appropriately programmed finite automata. A central task of developmental biology is to discover the underlying algorithm from the course of development.” In: Automata, Languages, Development, A. Lindenmayer, G. Rozenberg (eds.), North-Holland, Amsterdam, 1975. 26 MANDELBROT, B. How Long Is the Coast of Britain? Statistical Self-Similarity and Fractional Dimension. Science, 05 May 1967: Vol. 156, Issue 3775, pp. 636-638. DOI: 10.1126/science.156.3775.636 32 Nesse contexto, observa-se que ao tentar medir o comprimento (dimensão 1), de um quadro (1 x 1), através de segmentos de reta de tamanho 1 u., seriam necessários infinitos segmentos para o preenchimento total da área do quadrado (figura 39). No entanto, apesar do comprimento infinito, a área do quadrado (dimensão 2) é finita e igual a 1. Figura 39 - O "comprimento" de um quadrado de lado 1 é infinito. Figura 40 – Divisão de um quadro de lado 1 por cubos de lado s. Da mesma forma, ao medir área, comprimento e volume de um quadro, através de sua divisão em cubos de lado 𝑠, como na figura 40, teríamos o seguinte resultado: Área do quadrado de topo = (número de cubos)×(área do topo do cubo) = (1 𝑠²⁄ ) × (𝑠2) = 1. “Comprimento” lateral do cubo = (número de cubos)×(comprimento lateral do cubo) = (1/𝑠²)(𝑠¹) = 1/𝑠. Volume do quadro = (número de cubos)×(volume do cubo) = (1 𝑠2⁄ )(𝑠³) = 𝑠. Observa-se que, em relação à área do quadrado de topo, o valor não é apenas correto, mas é válido para qualquer valor positivo de 𝑠. O comprimento lateral do cubo, no entanto, não pode ser mensurado em relação a 𝑠, pois apesar de estar contido na lateral de um cubo de valor igual a 1, torna-se infinito à medida em que 𝑠 se aproxima de zero. Outrossim, o volume do quadro aproxima-se de zero à medida que 𝑠 tende à zero. Desse modo, infere-se que a “dimensão de medida” é dada por D, em: 33 “tamanho” = (número de cubos) × 𝑠𝐷 Assim, quando o tamanho à que nos referimos é o comprimento, usa-se 𝐷 = 1; área: 𝐷 = 2 e volume 𝐷 = 3 . Por exemplo, sendo o quadrado um objeto bidimensional, sua área é igual a 1; um valor finito e positivo. Nesse sentido, tem-se que: Se a medida resulta em infinito é porque a dimensão de medida foi muito pequena. Da mesma forma, se a dimensão de medida é muito grande, a medida será zero. A verdadeira dimensão de um objeto é a dimensão que torna sua medida finita e positiva, sendo que esta dimensão existe e é única.27 No ano de 1921, o matemático britânico Lewis Fry Richardson, ao tentar medir o perímetro da costa da Inglaterra através da sua divisão em “passos” de tamanho 𝑠, descobriu a seguinte relação; em que 𝐶 é uma constante, 𝑁 = 𝑁(𝑠) é o número de passosde tamanho 𝑠 e 𝐷 é a dimensão de medida: 𝑁 = 𝐶 ∙ 𝑠−𝐷 Figura 41 – A Curva de Koch é um bom exemplo da linha costeira de um continente. O número de passos, N(s) e o seu tamanho (s) codificam a formação do fractal. O fractal pode ser mais ou menos complexo de acordo com o número de estágios ou iterações na sua construção. 27 “The true dimension D of an object is the measurement dimension that causes the measurement to converge to a finite, positive value as the edge length of the measuring cubes approaches zero (provided such a dimension exists and is unique.” (FRANTZ, 2011, p. 167 e 169) 34 Ao analisar a Curva de Koch de forma semelhante ao que fez Richardson para a linha costeira da Inglaterra, no estágio 1, em que: 𝑁 = 𝑠−𝐷 (figura 41), tem-se que: 𝑁 = 𝐶 ∙ 𝑠−𝐷 ⇒ 𝑁 = 𝑠−𝐷⇔ 𝐶 = 1. No estágio 𝑚, por sua vez, tem-se 𝑁 (𝑠) = 4𝑚 e 𝑠 = ( 1 3 ) 𝑚 . Logo, 𝑁 = 𝐶 ∙ 𝑠−𝐷 ⇒ 4𝑚 = 1 ∙ ( 1 3 ) 𝑚(−𝐷) ⇔4𝑚 = 3𝑚𝐷 = 3𝐷(𝑚)⇔ 3𝐷 = 4 ⇒ log 4 = log 3𝐷 = 𝐷 log 3 ⇔ 𝐷 = log 4 log 3 ≈ 1,26. Em geral, pois, a dimensão (𝐷) de um objeto, também chamada de dimensão topológica de Hausdorff28, sendo 𝑁 o número de subdivisões (passos) e 𝑠 o tamanho de cada passo, é dada por: 𝐷 = log𝑁 log 1 𝑠⁄ Figura 42 - Variações de dimensão na Curva de Koch. Á medida em que a dimensão (D) se aproxima de D = 2, maior o espaço preenchido pela curva. Da mesma forma, quanto mais próxima de D = 1, mais próxima será a curva do comprimento de uma linha. 28 MUCHERONI; LIBARDI; SOUZA, 2017, p. 46 35 L. MATEMÁTICA, FRACTAIS E ARQUITETURA Matemática é frequentemente definida com a ciência do espaço e do número. [...] No entanto, foi com a recente ressonância de computadores e matemática que sua definição ficou totalmente evidente; matemática é a ciência dos padrões. – Lynn Arthur Steen, 198829 No cálculo da dimensão fractal, fizemos o uso de álgebra, expoentes e logaritmos. A construção de um fractal, por sua vez, requer técnicas de repetições de padrões de uma geometria, como na figura 43. Figura 43 – Passos do desenho de uma couve-flor (a-g) e uma representação computacional (h-i) depois de muitas iterações. O desenho da couve-flor da figura acima se inicia com uma linha de comprimento 𝐿 (a), a partir da qual se traça uma altura 𝐿/3 (b). O mesmo é feito em (c) para os segmentos 𝐿’ e 𝐿’’, resultantes do traço da altura em (b), e com alturas 𝐿’/3 e 𝐿’’/3, sendo 𝐿’ = 𝐿’’. O procedimento se repete para cada novo segmento gerado. Desse modo, assim como é observado no Conjunto de Cantor, na Curva de Koch, e no Triângulo de Sierpinski, tanto o todo, como as partes da couve-flor apresentam o mesmo princípio de formação, fato que promove sua característica de auto semelhança. 29 “Mathematics is often defined as the science of space and number [. . .] It was not until the recent resonance of computers and mathematics that a more apt definition became fully evident: mathematics is the science of patterns.” (PEITGEN; JÜRGENS; SAUPE, 2004, p. 37) 36 Segundo (YESSIOS,1987, apud SEDREZ; PEREIRA, 2009, p. 169), “[...] o fractal, como um sistema generativo, consiste de uma forma inicial (a base) e um ou mais geradores. O gerador, do ponto de vista prático, é uma regra de produção: substitui cada e todos os segmentos da base com a forma do gerador.” Desse modo, o número de iterações de uma função geratriz, no caso do uso de fractais na construção arquitetônica, depende do que se busca construir. O fractal atua como forma e estrutura do projeto e se transforma de acordo com o desejo do arquiteto, de maneira parecida com o uso da Geometria Sagrada na construção de edifícios. Na pós-modernidade, a arquitetura fractal é uma das oito tendências dos projetos arquitetônicos, sendo diversa em formas, curvas, linhas, planos ou volumes que se baseiam em fractais.30 Figura 34 – Construção de uma superfície fractal usando o mosaico de um triângulo. Figura 45 – Seção perfilada da planta baixa; triângulo de Sierpinski. Fonte: autoria do aluno Luiz Henrique Fernandes. 30 JENCKS, 2002, apud SEDREZ; PEREIRA, 2009, p. 171. 37 Figura 45 - Arquitetura Islâmica Figura 46 – Pavilhão Swoosh, Londres – Geometria Fractal. 38 CONCLUSÃO Segundo os antigos, tudo o que é manifesto, seja no mundo físico, seja no mundo das imagens e dos conceitos mentais, pertence ao incessante fluxo das progressões em constante mudança; é apenas o reino não manifesto (metafísico) dos princípios o que é imutável. Essa compreensão é a chave para se entender a Geometria Sagrada e a origem do conhecimento matemático. Ao contrário da Teoria da Matemática Corporificada (LAKOFF, NUÑEZ, 2000), o conhecimento da Geometria Sagrada demonstra que a experiência no mundo empírico, o que inclui o sistema sensório-motor humano, não são permanentes. Assim como a Geometria Sagrada, a Geometria Fractal não restringe seus estudos às formas e teoremas, como na geometria euclidiana, ampliando seu olhar para os padrões geométricos e formas da natureza; a qual, para os antigos, seria o continuum universal. Alguns fractais, antes de serem reconhecido por esse nome, já haviam sido expressos na arte e arquitetura por artistas formados no saber cânone da Geometria Sagrada. O desenvolvimento tecnológico contemporâneo permite um número de iterações de funções na produção de fractais que, antes do século XX, era praticamente impossível. Ao longo da história, com a separação entre geometria, filosofia, religião e ciência, o conhecimento matemático perdeu grande parte do seu rico simbolismo e aplicação prática. No século XIX, por exemplo, alguns estudiosos delegaram a esfera do inconsciente a construção de edifícios de elaboradas técnicas matemáticas. A afinidade entre a criação do mundo e a geometria, que era senso comum aos antigos, é de difícil compreensão para a modernidade. Mas os princípios geradores são imutáveis e permanecem, e nossa contemporânea recusa daqueles princípios surge simplesmente porque temos procurado o permanente no mundo empírico, em lugar de procurar na sua verdadeira morada, que é o metafísico. (LAWLOR, 1996, p. 27) 39 BIBLIOGRAFIA BARDON, Franz. Iniciação ao Hermetismo. Comunidade Pgem - Brasil: Haon, 2001. 200 p. BOYER, Carl B.. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 1996. 496 p. Tradução de Elza E. Gomide. CHAOS UN'AVVENTURA MATEMATICA. 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MUCHERONI, Laís Fernandes; LIBARDI, Profa. Dra. Alice Kimie Miwa; SOUZA, Profa. Dra. Tatiana Miguel Rodrigues de. Dimensão de Hausdorff e Algumas Aplicações. 2017. 63 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Câmpus de Rio Claro, 2017 PASSES, Alan. Do um à metafora.: Para um entendimento da matemática pa’ikwené (palikur). São Paulo: Revista de Antropologia, Usp, v. 49, n.1, p. 245-281, 2006. Tradução de Inês Rosa Bueno. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ra/v49n1/v49n1a08.pdf >. Acesso em: 09 abr. 2019. PEITGEN, Heinz-Otto; JÜRGENS, Hartmut; SAUPE, Dietmar. Chaos and Fractals: New Frontiers of Science. New York. Springer Science + Business Media, Inc. 2004. Second Edition. 895 p. PENNICK, Nigel. Geometria Sagrada: Simbolismo e Intenção nas Estruturas Religiosas. 98765432. ed. São Paulo: Pensamento Ltda., 1980. 146 p. Tradução de Alberto Feltre. SANTOS, Ricardo Yamashita. 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Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Acesso em: 09 abr. 2019. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-04072011-145346/pt-br.php>.
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