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ANÁLISE LINGUÍSTICA DO FILME A CHEGADA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
CENTRO DE HUMANIDADES – CH
Curso de Especialização em Ensino de Língua Portuguesa – ESPELP – Turma 26
Aluna: Rafaela Régia Alves de Lima
Professor: Prof. Me.Antonio Lailton Moraes Duarte 
Disciplina: Teorias Linguísticas 
Sala: T26 - ESPELP - CH - UECE  
Data: 02/03/2021
ANÁLISE LINGUÍSTICA DO FILME “A CHEGADA”
QUESTÃO. Analise a hipótese Sapir-Whorf no filme “A Chegada”.
A Chegada é um ótimo filme do ponto de vista linguístico. O filme A Chegada do diretor Denis Villeneuve, lançado em novembro de 2016, foi baseado no conto A história da Sua Vida de Ted Chiang e foi aclamado pela crítica. Para se ter dimensão sobre o sucesso do longa-metragem, ele recebeu oito indicações ao Oscar 2017 e levou o prêmio de melhor edição de som.
Foram diversos os fatores que contribuíram para que o filme, estrelado por Amy Adams, Jeremy Renner e Forest Whitaker, tenha conquistado seu lugar entre tantos outros no gênero de ficção científica.
A Chegada imagina como seria a reação mundial diante do primeiro contato com os alienígenas e como nos comunicaríamos com estes seres recém-chegados. 
A história começa quando 12 espaçonaves alienígenas pousaram em 12 locais diferentes na Terra (como: Venezuela, Inglaterra, Rússia, Paquistão e China) e a linguista Drª Louise Banks (interpretada por Amy Adams) é chamada pelo governo americano para traduzir a língua alienígena e tentar se comunicar com eles na tentativa de descobrir suas intenções no planeta.
Junto com o físico Ian Donnelly (interpretado por Jeremy Renner), eles realizam uma série de experimentos e pesquisas para interpretar a estranha linguagem dos Heptapods - nome dado aos aliens no filme-, enquanto a tensão mundial só aumenta, chegando às margens de um conflito armado entre os extraterrestres e os humanos. A tarefa começa a ficar ainda mais complicada quando Louise começa a ter flashbacks sobre sua filha, e é aqui que a história começa a ficar interessante.
“Eu pensava que este era o começo da sua história. Mas agora eu não sei se acredito em começos e finais. Existem dias que definem sua história além da sua vida. Como o dia que eles chegaram.” - Drª Louise Banks
O primeiro fator de sucesso a ser destacado no filme é sobre a estrutura do roteiro que brinca com a maneira que percebemos e interpretamos histórias. A princípio, somos levados a acreditar que os flashbacks de Louise são sobre seu passado, já que vemos uma montagem da vida da protagonista com sua filha e seu final trágico. A partir daí, também imaginamos Louise como alguém que está se recuperando desse trauma. Porém, o filme muda totalmente de direção ao chegar nos últimos minutos e revelando que o que acreditávamos ser o passado, era na realidade o futuro. Essa é a tentativa de fazer o público reavaliar tudo aquilo que assistiu e acreditou ser verdade nos últimos 90 minutos, trazendo a tona o verdadeiro questionamento da história.
“Diferente da fala, o logograma é livre do tempo. Como suas naves e seus corpos, a linguagem deles não possui direção. Os linguistas chamam isso de ortografia não-linear, o que levanta a pergunta, ‘é assim que eles pensam?’” - Dr. Ian Donnelly
O filme desafia a linearidade do tempo. O começo e o final da história estão ligados e completam um círculo, da mesma forma que a linguagem dos Heptapods funcionam.
Os grifos usados pelos alienígenas são circulares, produzidos através de uma tinta (similar a de polvos e lulas) que flutua na atmosfera, não possuindo um começo ou final. É desta mesma forma que o tempo é representado no filme. Como descobrimos no final, os Heptapods têm uma percepção de tempo diferente, que é representada pela sua escrita, esta é a explicação dos roteiristas para o porquê Louise começa a ver seu futuro. Ao aprender a língua alienígena, ela passa a perceber o tempo da mesma forma que eles, representado pelo início dos flashs de memória.
Durante um sonho, a hipótese Sapir-Whorf é evocada para explicar o fenômeno. A hipótese, proposta em duas formas diferentes, na primeira metade do século vinte, trata da noção de que sua língua nativa se relaciona com o seu modo de pensamento e percepção do mundo. A versão, defendida por Sapir, sugeria que a língua influencia o modo de pensar. A versão da hipótese defendida por Whorf, e hoje já desacreditada pela maioria dos linguistas, dizia que a língua determina, de modo inescapável, a forma de pensar de uma pessoa.
A Chegada realiza um grande trabalho abordando as reações humanas diante de uma situação de crise:
· Temos o lado militar, que se afasta um pouco do estereótipo “atire primeiro, faça perguntas depois” e se esforça para utilizar da diplomacia (mesmo que isso cause atrito dentro do grupo).
· O lado científico, que faz tudo o que pode para descobrir novas informações e ajudar a conter a situação da melhor forma, mesmo que seus métodos não sejam claros para os militares.
· E o lado civil, angustiado pela falta de informações e influenciados pelo medo, retratado pela mídia com cenas de noticiários.
A maneira como Louise, Ian e os outros cientistas trabalham também merece destaque. Vemos uma representação realista da busca pelo conhecimento que envolve a comunicação e o compartilhamento de informações. Cada país oferece algo de relevante para a conversa e contribui para a pesquisa dos outros aliados. A situação só muda a partir do momento que os governos começam a interferir cortando as comunicações.
Deve-se ressaltar que a Drª Louise Banks é a peça central na narrativa, já que vemos os acontecimentos através do seu olhar, ao mesmo tempo que tentamos descobrir sua história (e eventualmente nos emocionamos com ela). A atriz Amy Adams realiza um incrível trabalho ao retratar a sensibilidade de sua personagem frente aos problemas enfrentados.
Já o personagem de Jeremy Renner, Ian Donnelly, traz alívio ao clima pesado da situação. Suas reações são semelhantes ao de uma criança num parque de diversões, a emoção e empolgação frente ao desconhecido ficam bem claras nas suas expressões e modo de falar.
Apesar de toda a história ser contada em volta dos alienígenas e sua chegada na Terra, A Chegada se torna um grande filme de ficção científica pela forma que aborda as reações humanas dentro de uma situação excepcional, ao mesmo tempo que analisa a forma como nos comunicamos e nos relacionamos com aqueles que possuem visões contrárias às nossas. O grande questionamento não é “e se aliens invadissem a Terra?” mas sim e se você pudesse ver toda a sua vida, do começo ao final, você mudaria alguma coisa?
Esse é o grande dilema enfrentado por Louise e que nos pega de surpresa nos últimos minutos. Mesmo sabendo que sua filha morreria ainda jovem devido uma doença genética e que seu marido a deixaria por esse motivo, ela escolhe passar por isso, pois os momentos de felicidade serão maiores do que a dor causa pela perda.
Diferente de muitos filmes de ficção científica, em que a fundamentação de suas histórias gira em torno de grandes efeitos especiais e cenas de ação, o filme do diretor Denis Villeneuve com roteiro de Eric Heisserer remete aos clássicos da literatura de ficção científica ao centrar sua história nos questionamentos humanos que promovem o avanço científico. Permitindo que seja quase impossível não refletir sobre o que faríamos no lugar da protagonista e analisar as escolhas que fizemos em nosso passado e as escolhas que faremos no futuro.
De certa forma, o filme defende a ideia de que a língua determina o pensamento. Isto é, que a estrutura e o vocabulário de uma língua são capazes de moldar os pensamentos e percepções de seus falantes. O conceito tem nome: hipótese de Sapir-Whorf. Edward Sapir, um antropólogo que associou língua e cultura, e Benjamin Lee Whorf, um engenheiro químico. Juntos, os dois moldaram a teoria de que cognição e língua são inseparáveis.
A teoria é citada no filme e representa um mote perfeito para explicar como a linguista estadunidense Louise Banks (Amy Adams) consegue entender a língua escrita dos heptapods, como são chamados os alienígenasrecém-chegados à Terra dado seus sete “pés”. É claro que o filme se utiliza de muitos artifícios sobrenaturais para tentar explicar ao espectador como ela passa a se comunicar com os aliens, mas o caminho linguístico escolhido é muito interessante.
Convidada a ajudar o governo dos EUA a entender o propósito dos heptapods na Terra, Louise Banks é uma das primeiras a entender que os aliens têm dois tipos diferentes de comunicação, a falada e a escrita, e que as duas não são diretamente ligadas, uma vez que a escrita é simbólica — os símbolos feitos por eles representam sentenças inteiras e não palavras.
Contudo, A Chegada não consegue explicitar o caminho usado por Louise para entender o mecanismo da língua escrita dos heptapods e isso é uma falha grave, pois confunde o espectador e faz com que quem assista tenha que assinar o pacto de confiança na história sob a pena de não conseguir continuar assistindo ao filme. Isto é, em certa altura do longa, o espectador precisa colaborar, desligar seu raciocínio lógico e comprar a ideia. É daí em diante que o roteiro deixa a desejar.
Uma vez comprada a ideia de que a língua molda o raciocínio do falante, o espectador assiste a uma Louise Banks que passa a sonhar e viver sob os símbolos da língua escrita heptapod que são circulares. É nesse ponto que o longa faz o salto, ligando a língua à noção circular de tempo, dando a Louise a capacidade de literalmente ver o futuro. É assim que “A Chegada”, em uma grande montagem linguística, une o presente ao futuro, “explicando” tudo a quem assiste.
 Por fim, podemos concluir que a compreensão das implicações científicas do filme não prende apenas a percepção do tempo cíclico, se estendem à ideia de uma linguagem que afeta nossa percepção sensorial e já se provou verdadeira. 
Além disso, o filme destaca o trabalho da linguística como ciência notável e primorosa na compreensão da natureza humana.
 Nossa sintaxe se estrutura de acordo com a seta do tempo (passado-futuro), até porque o tempo é descrito como linear. Em uma sociedade em que a seta do tempo fosse descrita como cíclica, a sintaxe teria outra estrutura. 
O que é constante é a semântica, mas até ela pode ser afetada pela alteração na sintaxe. Estas alterações de natureza cultural modificam a percepção do percepção e descrição do espaço-tempo. Há dezenas de artigos científicos dando prova de tal afirmação.

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