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INTRODUÇÃO À BIOÉTICA Apostila de Bioética I Conceitos básicos Tha ís H. Ambrósio Medicina FASM Thaís H. Ambrósio T XIV 1 z Sumário Introdução à Bioética ............................................................................................................. 2 Introdução aos Direitos Humanos ............................................................................................ 3 Relação médico-paciente e o Novo código de ética ........................................................................ 8 Thaís H. Ambrósio T XIV 2 z Introdução à Bioética 1962: Talidomida Droga oferecida gratuitamente às mulheres nos postos de saúde, a fim de aliviar o enjoo. Apresenta efeito teratogênico, mas hoje é utilizada para tratar o mal de Hansen (Lepra). 1966: Henry K. Beecher Relatou experimentos feitos em alguns hospitais: - Injeção de células cancerosas em idosos para verificar a resposta imunológica (Caso Brooklyn); - Injeção de vírus hepatite em centenas de crianças órfãs portadoras de retardo mental (Caso Willowbrook). 1932-1972: Caso Tuskegee Observar a progressão da sífilis em um grupo de mais ou menos 600 pessoas, sendo 399 infectadas e sem tratamento. A penicilina existia desde 1950. Em um hospital no Alabama, trocavam um prato de comida por amostra de sangue. Introduziam sífilis em pessoas negras, que recebiam assistência funeral gratuita. 1974: Criação da Comissão de proteção ao ser humano pelo Congresso Americano. 1978: Relatório Belmont Baseado nas descobertas dos casos anteriores; pesquisas científicas realizadas nos EUA. - Princípios éticos que devem guiar as pesquisas: Beneficência, respeitar a pessoa e justiça. 1946 – 1951: Hospital Vipeholm (Suécia) Evolução da cárie em crianças com retardo mental. O experimento consistia em ingestão de balas com grande quantidade de açúcar. Como as pessoas não aceitavam, os pesquisadores foram para um orfanato. Essa pesquisa foi financiada pela Colgate. PRINCÍPIOS DA PRÁTICA CLÍNICA ASSISTENCIAL: AUTONOMIA Pensar, decidir e agir de modo livre. BENEFICÊNCIA Fazer o bem; obrigação moral de agir em benefício dos outros. NÃO MALEFICÊNCIA Não causar dano intencional. JUSTIÇA - Justiça distributiva: distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade. →Princípios da bioética e do biodireito ➔ Temas: diagnóstico pré-natal; conselhos genéticos; eugenia fetal; terapia genética. . Práticas abortivas, esterilização masculina e feminina. . Estupro e risco de vida materna . Reprodução humana assistida em todas as suas modalidades e técnicas. . Terapia e manipulação genética. . Experiências com seres humanos, embriões e cadáveres em qualquer fase do ciclo vital. . Experiências com animais. . Suicídio e ajuda ao suicídio. . Informações clínicas ao paciente. Thaís H. Ambrósio T XIV 3 z Introdução aos Direitos Humanos Os direitos humanos são os direitos fundamentais de todo ser humano, sem nenhuma discriminação, seja étnica, social, econômica, jurídica, política ou ideológica. Eles constituem condição indispensável para se alcançar uma convivência em que todos sejam respeitados indistintamente. - O Brasil é signatário dos direitos humanos. CONCEITOS, FUNDAMENTOS E CARACTERÍSTICAS Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos. Normalmente o conceito tem a ideia também de liberdade de pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei. “A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos”. Hannah Arendt “Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não de uma vez e nem de vez por todas”. Noberto Bobbio Os direitos humanos, baseados no conceito de inerente dignidade humana (Carta das Nações Unidas, DUDH e Pactos de 1966), são: inalienáveis; universais; individuais; interdependentes; indivisíveis; naturais e obrigatórios. - Todas as pessoas devem ter a mesma dignidade; - Sua origem não é o Estado ou as leis, mas a própria natureza humana; - Nenhuma pessoa pode renunciar a eles ou negociá- los, e o Estado não pode dispor dos direitos dos cidadãos; - Não podem ser destruídos, o que constituiria um atentado contra a pessoa; - Impõem às pessoas e ao Estado a obrigação de respeita-los, mesmo que não exista uma lei que assim o estabeleça; - Suprimir qualquer um deles põe em risco o respeito aos demais. Apresenta diferentes dimensões, categorias ou gerações: direitos civis e políticos; direitos econômicos, sociais e culturais; direitos de solidariedade. Os direitos humanos devem ser distinguidos dos direitos dos cidadãos (dependentes da cidadania) e dos direitos das minorias (dependentes da qualidade de membro de um grupo minoritário). Esses direitos humanos estão limitados a membros desse grupo, não sendo, portanto, universais. EVOLUÇÃO HISTÓRICA A historicidade dos direitos humanos configura-se a partir do seu nascimento e evolução em determinadas circunstâncias históricas, caracterizadas pelas lutas por novos direitos e liberdades contra os velhos poderes. Portanto, ao longo da história da humanidade a concepção de direitos humanos tem sofrido variações, de acordo com o modo de organização da vida social e política de cada país. Isso é um grande debate até nos dias de hoje. - Questão: diversidade cultural e direitos humanos A diversidade cultural é um componente cultural da história humana. Cada cultura, grupo ou sujeito é uma perspectiva, uma localização, um modo de ver e se relacionar. - Conflito com a aplicação global dos direitos humanos. Exemplo: O que se faz quando um índio (que jamais teve contato com a civilização) quer enterrar viva uma criança deficiente, pois, segundo sua crença, sua sobrevivência é um motivo para os deuses se irritarem e destruírem toda a tribo? Deve-se proteger a vida? Ou deve-se proteger a autodeterminação dos povos? Os dois direitos são protegidos pela Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 3º e 27, respectivamente). O elenco dos direitos dos homens se modificou com as mudanças das condições históricas, o que é fundamental em uma época histórica e em uma determinada civilização, não fundamental em outras épocas e em outras culturas, etc. Historicamente, podemos dizer que os direitos humanos podem estar dispostos cronologicamente em diversas fases ou gerações. Os direitos humanos, ao surgirem, fazem uso do novo conceito jurídico elaborado pela modernidade. - CÓDIGO DE HAMMURABI (Mesopotâmia, 1690 a.C.) → 1ª codificação a consagrar rol de direitos comuns a todos os homens livres (vida, propriedade, honra, dignidade, família). - GRÉCIA ANTIGA → igualdade e liberdade; participação política (Péricles: democracia direta), supremacia do «direito natural» (Sófocles e “Antígona”, 441 a.C.; sofistas e estoicos). Thaís H. Ambrósio T XIV 4 z - LEI DAS DOZE TÁBUAS (ROMA)→ interditos para a tutela dos diretos individuais frente ao arbítrio da autoridade. - CRISTIANISMO → igualdade essencial entre os homens. Dignidade da pessoa humana (“Digo-lhes a verdade: Os publicanos e as prostitutas estão entrando antes de vocês no Reino dos Céus.” – (Mt 21, 31-32). - MAGNA CHARTA LIBERTARUM (Inglaterra, 15.06.1215) → João Sem-Terra. Liberdade da Igreja, restrições tributárias, proporcionalidade entre delito e sanção, liberdade de locomoção, livre acesso à Justiça e devido processo legal. - PETITION OF RIGHTS (Inglaterra,1628) → ilegalidade dos tributos sem ato do Parlamento; abolição das prisões ilegais. - HABEAS CORPUS ACT (Inglaterra, 1679) → regulamentação do habeas corpus, que já existia na Common Law. - BILL OF RIGHTS (Inglaterra, 1689) → princípio da legalidade (contra a suspensão real de leis ou de sua execução); direito de petição; liberdade de eleição e imunidades parlamentares; vedação das penas cruéis. - CONSTITUIÇÃO FRANCESA (24.06.1793). Igualdade, liberdade, segurança, propriedade, legalidade, livre acesso aos cargos públicos, direito de petição, direitos políticos, garantias penais, devido processo legal e ampla defesa. - CONSTITUIÇÃO FRANCESA (04.11.1848) → Ampliação do rol dos direitos humanos fundamentais (em direção aos direitos sociais): liberdade do trabalho e da indústria, assistência social (aos desempregados, às crianças abandonadas, aos enfermos e aos idosos sem recursos). - CONSTITUIÇÃO MEXICANA (31.01.1917). Direitos trabalhistas (= direitos sociais stricto sensu) e efetivação do direito à educação (direito social lato sensu). - CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR (11.08.1918) → Parte II: Direitos e deveres fundamentais dos alemães. Seções I a V: direitos e garantias individuais (I), direitos relacionados à vida social (II), direitos relacionados à religião e à Igreja (III), direitos relacionados à educação e ensino (IV) e direitos relacionados à vida socioeconômica (V). Seção II: proteção da família, igualdade de direitos entre homens e mulheres e entre filhos legítimos e ilegítimos. Seção V: propriedade, sucessão e liberdade contratual; proteção geral do trabalhador, liberdade de associação sindical e seguridade social. A evolução dos direitos humanos não se deu de uma forma tão harmoniosa. Inseridos na dinâmica histórica, em contextos determinados, esses não foram conquistados sem luta e sem conflitos de interesses, quer entre indivíduos, classes e países. Os avanços que vêm se processando nessas últimas décadas, manifestaram-se por meio de novas conquistas e pela ampliação do conceito de direitos humanos, abrangendo novas aspirações coerentes com o mundo moderno. Universalização dos direitos humanos é mais uma consequência da globalização. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS Podemos dizer que há três grandes fundamentações teóricas em torno dos direitos humanos. A primeira concepção metafísica e abstrata identifica os direitos humanos a partir de valores transcendentais, que se manifestam por meio da vontade divina. Essa visão predominou durante o período feudal, ou da razão natural humana, ideia defendida pelos autores jusnaturalistas, no século XVII. A concepção metafísica defende a ideia de que os direitos humanos são inerentes ao homem, independentemente do seu reconhecimento pelo estado. A segunda concepção, positivista, defende que os direitos humanos só podem ser considerados fundamentais e essenciais quando reconhecidos por ordenamento jurídico. Assim, os direitos não seriam inerentes ao homem, mas o resultado de lutas e conquistas e conquistas políticas e sociais. A terceira concepção, materialista-histórica, que teve como grande teórico Karl Marx, surge no século XIX como uma crítica ao pensamento liberal. Essa concepção considera que os direitos humanos, enunciados na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, são expressão das lutas sociais da época que culminaram com a ascensão da burguesia ao poder, derrotando o Antigo Regime. Assim, podemos observar que, segundo as diferentes concepções, uns entendem que os direitos humanos, também chamados de direitos dos homens e fundamentais, são inerentes à natureza humana, já para outros, os direitos humanos são a expressão de conquistas sociais que ocorrem por intermédio das políticas. São divididos em três gerações. Portanto, na primeira geração dos direitos humanos, a luta pela conquista dos direitos individuais ou de liberdade desenvolveu-se nos séculos XVII e XVIII. Os documentos mais famosos produzidos nesse período e que refletem o modo como a sociedade Thaís H. Ambrósio T XIV 5 z estava pensando os direitos humanos são a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução de 1789 e a Declaração dos Direitos do Estado da Virgínia na Independência Americana, em 1776. Esses dois documentos exprimem o desejo do povo de lutar contra a opressão que sofria por parte de seus governantes. Os direitos dos homens deixam de ser vistos apenas como vontade divina. Já a segunda geração dos direitos humanos foi formulada nos primeiros 70 anos do século XIX, quando ocorre o desenvolvimento de uma economia industrial e proletariado, uma classe de trabalhadores explorados e espoliados de sua força de trabalho pela burguesia. Diante da pobreza e da expropriação que era imposta a esses trabalhadores, aqueles ideais de igualdade de direitos e de liberdade para todos passaram a ser questionados. Na realidade, havia uma distância muito grande entre os direitos humanos formalizados no papel e aqueles que eram vividos na realidade. Havia uma diferença muito grande entre os direitos formais e os direitos reais. Nessa 2ª geração de direitos humanos foram considerados como direitos fundamentais “os direitos sociais, econômicos e culturais”. - Direitos sociais, econômicos e culturais: vida; educação; moradia; educação gratuita; remuneração digna; greve; serviços públicos; segurança; proteção da infância e lazer. Finalmente, a terceira geração dos direitos humanos foi marcada por uma ampliação da noção de direitos. Ela se desenvolveu no período após a segunda GM, quando todos pediam pelo fim dos crimes contra a humanidade. Foram incorporados, nessa geração: direitos à paz; direito à autodeterminação dos povos; direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. - Direitos civis: Direitos à vida; à propriedade privada, liberdades de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou seja, de todos perante a lei, direitos à nacionalidade, de participar do governo do seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fundamentados no valor liberdade. - Direitos econômicos: direito ao trabalho, à educação, à previdência social. À moradia, à distribuição de renda fundamentada na igualdade, saúde, entre outros valores. - Direitos de solidariedade: direito à paz, ao progresso, autodeterminação dos povos, direito ambiental, direitos do consumidor, direitos de inclusão digital, entre outros fundamentos no valor da fraternidade. Cada vez mais se amplia o entendimento de que essas três gerações de direitos são complementares umas às outras. Sendo assim, as gerações de direitos não podem ser hierarquizadas, nem a compreensão sobre o que são os direitos humanos pode ser fragmentada. Assim, os direitos nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando há um aumento do poder do homem pelo homem, ou cria novas ameaças à liberdade do indivíduo. PADRÕES DE DIREITOS HUMANOS A NÍVEL UNIVERSAL Proteção jurídica internacional dos direitos humanos: constituição de um sistema internacional de proteção aos direitos humanos. O rápidodesenvolvimento de novos direitos foi uma resposta às mudanças do século XX, onde a preocupação com o ser humano tornou-se o epicentro para o surgimento de leis e acordos que têm como principal inquietação o bem-estar humano. Urgência de se eliminar tudo que se oponha aos direitos humanos. - 1948: Declaração Universal dos Direitos Humanos. - 1948: Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. - 1949: Convenção contra o genocídio. - 1965: Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. - 1966 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. - 1966 Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. - 1979: Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra mulheres. - 1984: Convenção contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. - 1989: Convenção sobre os direitos da criança. - 1990: Convenção internacional sobre a proteção dos direitos de migrantes e dos membros de suas famílias. - 1993: Declaração de Viena - 2006: Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência - 2006: Convenção internacional para a proteção de todas as pessoas contra os desaparecimentos forçados. Thaís H. Ambrósio T XIV 6 z Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). - Resolução 1314 da Assembleia Geral da ONU, de 10/12/1948. Adotada pela ONU em 1948, a DUDH é um dos mais importantes documentos já escritos. Trata-se da primeira proclamação internacional dos direitos básicos dos indivíduos no que se refere a direitos políticos, econômicos e sociais. Ela retoma os ideais da Revolução Francesa de igualdade, liberdade e fraternidade, porém, em um âmbito universal. Aceita e respeitada internacionalmente, a declaração foi usada como base para a elaboração de muitas constituições ao redor do mundo e é considerada uma referência fundamental para qualquer outra certificação. A DUDH não passa de uma resolução da A.G., ou seja, não possui força jurídica. - Soft law – lei branda “As normas do direito internacional, especialmente as contidas nos tratados internacionais, serão consideradas soft se possuírem uma ou várias das seguintes características: propriamente disposições, obrigações genéricas de modo a criar princípios e não jurídicas; linguagem ambígua ou incerta, impossibilitando a identificação precisa de seu alcance; conteúdo não exigível, como simples exortações e recomendações; ausência de responsabilização e de mecanismos de coercibilidade (tribunais)”. - Declaração pode ser acatada como a maior prova de que existe um consenso entre os seres humanos quando a pauta se relaciona com a promoção e proteção de seus direitos. Contudo, todas essas conquistas não foram tão fáceis de serem alcançadas. Capitalismo X Socialismos Disparidades com os Estados orientais e com as nações que ainda se enquadravam como colônias dos países ocidentais. É inegável a representatividade da Declaração para a proteção dos direitos humanos. A DUDH foi o primeiro documento internacional que dedicou ao tema dos direitos humanos a importância e abrangência merecida, integrando os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais em um único patamar, inaugurando assim a concepção contemporânea do direito internacional dos direitos humanos. Os direitos e liberdades expressos no documento são amplamente conhecidos, servindo de inspiração para a defesa da vida, da liberdade, da segurança, da luta contra a escravidão, do reconhecimento da igualdade jurídica e de direitos entre homens e mulheres, e de diversos outros requisitos para que o ser humano tenha uma vida digna e com qualidade. IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS DE DIREITOS HUMANOS Os Estados têm o dever... ...de respeitar os direitos humanos: nenhum órgão do Estado os pode violar. ... de proteger os direitos humanos: o Estado deve prevenir violações de direitos humanos, junto da população do seu território. ... de implementar os direitos humanos: as obrigações internacionais devem ser implementadas e transformadas em direito nacional para que qualquer indivíduo os possa reivindicar. - Os indivíduos têm obrigações para com a sociedade (Art.º 29º n.º1 DUDH). As restrições dos direitos humanos pelo Estado são possíveis, mas apenas por lei, para garantir o respeito pelos direitos dos outros, proteger a moral, a ordem pública e o bem-estar público (Art.º 29º n.º 2 DUDH). Os direitos humanos não podem ser utilizados para violar outros direitos humanos (Art.º 30º DUDH). Os Sistemas Regionais de proteção e promoção podem... ... resolver as queixas de forma mais eficiente. ... mostrar uma maior sensibilidade para com preocupações culturais e religiosas. ... resultar em sentenças vinculativas e com indemnizações para o indivíduo. ...resultar na alteração das leis nacionais potencialmente violadoras. Nas Américas: - 1928 Comissão Interamericana de Mulheres. - 1948 Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. - 1959 Comissão Interamericana dos Direitos Humanos. - 1969 Convenção Americana sobre Direitos Humanos com o Prot. Adicional de 1988 em Matéria de Direitos Económicos, Sociais e Culturais e o Prot. Adicional de 1990 referente à Abolição da Pena de Morte. - 1979 Tribunal Interamericano dos Direitos Humanos. - 1994: Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Thaís H. Ambrósio T XIV 7 z - 1999 Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. No Brasil: É importante reconhecer que no Brasil o processo de reconhecimento dos direitos humanos é contínuo e é necessário que haja a participação de diferentes atores sociais para que se trabalhe continuamente o reconhecimento de tais direitos. No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal de 1988, o que pode ser considerado um grande avanço jurídico, já que o país conta com uma história marcada por episódios de graves desrespeitos a esses direitos, sobretudo no período do Regime Militar. Amais recente constituição garante os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais dos nossos cidadãos. Essas garantias aparecem, por exemplo, logo no primeiro artigo, onde é estabelecido o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Já no artigo 5º é estabelecido o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, sejam eles individuais ou coletivos. A Constituição defende princípios como: igualdade entre os gêneros, erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais, promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, idade ou cor; racismo como crime imprescindível; propôs direito de acesso a saúde, previdência, assistência social, educação e cultura; reconhecimento de crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento; estabelecimento da política de proteção ao idoso, ao portador de deficiência e aos diversos agrupamentos familiares; orientação de preservação da cultura indígena. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os direitos humanos são frutos de um processo histórico marcado por lutas e reivindicações em momentos em que a dignidade humana esteve ameaçada, contextos que ficaram marcados na história evolutivado nosso planeta e que foram fundantes no processo de construção para uma cultura de direitos, na tentativa da promoção de uma cultura em prol da paz. No mundo atual, discutir questões relacionadas aos direitos humanos (DH) é cada vez mais relevante. A cada dia, as pessoas estão mais conscientes dos seus direitos, reivindicando-os e lutando para sua efetivação. Nesse sentido, discutir direitos humanos não é algo simples, mas é algo que deve estar inteiramente ligado às atividades de ensino, não só nas séries iniciais, mas também na educação superior, espaço onde estão sendo formados futuros multiplicadores do conhecimento. Thaís H. Ambrósio T XIV 8 z Relação médico-paciente e o Novo código de ética - Segue as bases principais da bioética: AUTONOMIA: no passado era um paternalismo. Tal princípio, na relação médico-paciente, é extremamente relevante, na medida em que o médico deve ter em mente que somente pode manipular, receitar, conduzir, etc., seus pacientes, se eles de fato estiverem aptos e cientes de aceitar tais procedimentos e atitudes. O Princípio da Autonomia, nesta relação, faz com que tanto médico quanto paciente desenvolvam, de maneira eficaz e confiável, diálogos e entendimentos capazes de dar à relação profissional uma forma respeitosa e aceitável ponto de vista médico, social e ético. BENEFICÊNCIA: duas importantes funções e regras: - Não causar o mal; - Maximizar os benefícios possíveis e minimizar os danos possíveis. Na relação médico-paciente, tal princípio é de observância contínua e irrestrita, haja vista que o paciente, ao procurar o profissional da área de saúde, busca a cura para o seu mal, e o profissional, por sua vez, tentará empreender todos os esforços para não agravar o mal do paciente e para curá-lo da doença que o aflige. O Princípio da Beneficência é que estabelece esta obrigação moral de agir em benefício dos outros. A Beneficência no contexto médico é o dever de agir no interesse do paciente, a fim de proporcionar-lhe o maior conforto possível e/ou o menor sofrimento ao seu mal. NÃO-MALEFICÊNCIA: é o mais controverso de todos. Muito autores o incluem no Princípio da Beneficência. Justificam tal posição por acharem que, ao evitar o dano intencional, o indivíduo já está, na realidade, visando ao bem do outro. Hipócrates, ao redor do ano 430 AC, propôs aos médicos, "Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente". O Princípio da Não-Maleficência propõe a obrigação de não infligir dano intencional. Este princípio deriva da máxima da ética médica "Primum non nocere". O Juramento Hipocrático insere obrigações de Não-Maleficência e de Beneficência: "Usarei meu poder para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar a qualquer homem com ele". Portanto, o Princípio da Não-Maleficência, na relação médico-paciente, é aquele pelo qual o médico deve evitar produzir intencionalmente danos ou malefícios aos seus pacientes, tratando-os como gostaria de ser tratado. PRIVACIDADE: "Privacidade é a limitação do acesso às informações de uma dada pessoa, ao acesso à própria pessoa, à sua intimidade, envolvendo as questões de anonimato, sigilo, afastamento ou solidão. É a liberdade que o paciente tem de não ser observado sem autorização." Tal princípio, na relação médico- paciente, é fundamental. É obvio que o médico deve abster-se de repassar as informações clínicas de seus pacientes para qualquer pessoa e também deve evitar a exposição pública de um caso particular levado ao seu conhecimento, pelo simples fato que existe nesta relação uma confiança muito grande dos pacientes no sigilo médico. Portanto, a base da relação, além dos princípios éticos anteriormente descritos, funda-se em uma relação de confiança, credibilidade e de intimidade que não permite a exposição da situação médica do paciente para pessoas não envolvidas com o seu tratamento. Exceções legais ao Princípio da Privacidade A exceção à preservação de informações ocorre quando, por força de legislação existente, um profissional é obrigado a comunicar informações a que teve acesso em função de sua atividade, nas seguintes situações: - Ocorrência de doença de informação compulsória; - Ocorrência de maus-tratos em crianças ou adolescentes: anotar no prontuário a notificação do conselho tutelar. - Ocorrência de abuso aos cônjuges ou idosos; - Ocorrência de ferimento por arma de fogo ou de outro tipo, quando houver suspeita de que tal lesão tenha sido resultante de ato criminoso: notificar a delegacia. MODELOS DE RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE MODELO SACERDOTAL É o mais tradicional, pois baseia-se na tradição hipocrática. Neste modelo o médico assume uma postura paternalista com relação ao paciente. O médico exerce não só a sua autoridade, mas também o poder na relação com o paciente. Esse método não é mais utilizado, o paciente agora tem direito de decidir. O processo de tomada de decisão é de baixo envolvimento, baseando-se em uma relação de Thaís H. Ambrósio T XIV 9 z dominação por parte do médico e de submissão por parte do paciente. MODELO ENGENHEIRO Coloca todo o poder de decisão no paciente. O médico assume o papel de repassador de informações e executor das ações propostas pelo paciente. O médico preserva apenas a sua autoridade, abrindo mão do poder, que é exercido pelo paciente. É um modelo de tomada de decisão de baixo envolvimento, que se caracteriza mais pela atitude de acomodação do médico que pela dominação ou imposição do paciente. O paciente é visto como um cliente que demanda uma prestação de serviços médicos. - Nesse modelo não há vínculo nem afetividade. MODELO COLEGIAL Não diferencia os papéis do médico e do paciente no contexto da sua relação. O processo de tomada de decisão é de alto envolvimento. Não existe a caracterização da autoridade do médico como profissional, e o poder é compartilhado de forma igualitária. A maior restrição a este modelo é a perda da finalidade da relação médico-paciente, equiparando-a a uma simples relação entre indivíduos iguais. - Dentro do atendimento médico deve haver uma diferenciação dessa relação. Muita intimidade destrói isso, então esse método não é ideal. Deve haver apenas a intimidade de confidencialidade. MODELO CONTRATUALISTA Estabelece que o médico preserva a sua autoridade, enquanto detentor de conhecimentos e habilidades específicas, assumindo a responsabilidade pela tomada de decisões técnicas. O paciente também participa ativamente no processo de tomada de decisões, exercendo seu poder de acordo com o estilo de vida e valores morais e pessoais. O processo ocorre em um clima de efetiva troca de informações e a tomada de decisão pode ser de médio ou alto envolvimento, tendo por base o compromisso estabelecido entre as partes envolvidas. - Modelo que mais se aproxima da relação médico- paciente. RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE “Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença” (Osler,1898) - Acelerado processo de desenvolvimento científico e tecnológico na medicina. X - Ausências de políticas públicas eficazes - Deterioração dos serviços de saúde - Relações de trabalho inadequadas - Deficiências do ensino médico. - Falar a verdade - Prestar atendimento humanizado,com tempo e atenção necessários. - Saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e expectativas, com registro no prontuário. - Explicar detalhadamente, de forma simples e objetiva, o diagnóstico e o tratamento, seus benefícios, complicações e prognósticos. - Tratamento: respeitar autonomia do paciente. - Atualização científica. Direitos do paciente - O médico não pode abandonar o paciente, exceto em casos de deterioração da relação médico-paciente, desde que assegurada a continuidade do tratamento. - O paciente tem o direito de acompanhante nas consultas, internações, exames pré-natais e no momento do parto. - Recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida. - O paciente tem direito a um atendimento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado pelo nome ou sobrenome. - Consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem realizados. - A criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão acompanhá-la integralmente durante o período de internação. - É vedada a realização de exames compulsórios, sem autorização do paciente, como condição para internação hospitalar, exames pré-admissionais ou periódicos e ainda em estabelecimentos prisionais e de ensino. - O paciente tem o direito de gravar a consulta, em caso de dificuldades de entendimento. - O paciente tem o direito de optar pelo local de morte (conforme Lei Estadual válida para os hospitais do Estado de São Paulo). - Ser prévia e expressamente informado, em caso de pesquisa (Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do hospital ou instituição). Thaís H. Ambrósio T XIV 10 z - Ter acesso ao seu prontuário médico. - O paciente pode desejar não ser informado do seu estado de saúde, devendo indicar quem deve receber a informação em seu lugar. - Direito de uma segunda opinião sobre o seu estado de saúde. - Ter resguardado o segredo sobre dados pessoais, (sigilo profissional), desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção e independência, visando ao maior benefício para os pacientes e a sociedade. XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa. RELAÇÃO COM MÉDICOS E FAMILIARES É vedado ao médico: Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. Art. 33. Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar danos, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal. Art. 35. Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos. Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados. Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. Art. 38. Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais. Art. 39 Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal. Art. 40. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra natureza. Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Art. 42. Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo. DIREITOS HUMANOS Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo. Art. 27. Desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se de meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em investigação policial ou de qualquer outra natureza. Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer instituição na qual esteja recolhido, independentemente da própria vontade.
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