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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL ALAN R F PAZ JÚNIOR PASSO FUNDO 2021 DOENÇAS VESÍCUBOLHOSAS E PUSTULOSAS Pênfigo foliáceo, pênfigo vulgar, pênfigo paraneoplásico, pênfigo por IgA, penfigóides (bolhoso ou cicatricial), dermatose por IgA linear, herpes gestacional, dermatite herpetiforme e epidermólise bolhosa adquirida. Acomete a estrutura inferior da epiderme, originando bolhas e gerando as manifestações características da doença. Vesículas e bolhas: Ocorrem em diferentes afecções cutâneas, podem constituir epifenômeno de processo de causa específica (queimadura química, ação de toxinas, infecção bacteriana ou viral) ou advir de dermatoses em que as vesículas e bolhas constituem a manifestação primária e fundamental (doenças bolhosas). Patogenia – Múltiplos mecanismos: • Infecção bacteriana: Impetigo bolhoso, síndrome estafilocócica da pele escaldada • Infecções virais: Herpes simples, herpes zoster, doença mão-pé-boca • Hipersensibilidade a medicamentos: Eritema pigmentar fixo, eritema polimorfo bolhoso, síndrome de Steven-Johnson, necrólise epidérmica tóxica • Desordens metabólicas: Diabetes, porfirias Caráter genético: dominante ou recessivo, associado a mutações genéticas de um dos componentes moleculares da epiderme ou da união dermoepidérmica. Ex: Genodermatoses bolhosas, pênfigo familiar benigno (doença de Haylei- Haylei), incontinência pigmentar, epidermólises bolhosas e algumas formas de ictiose. Caráter adquirido: produção de autoanticorpos contra antígenos localizados em estruturas específicas da pele, divididas em intraepidérmicas ou subepidérmicas. Histopatologicamente, as bolhas se configuram como áreas de clivagem epidérmica, com perda da função dos componentes de integração da pele (fibronectina, desmossomos) e com o consequente acúmulo de líquido e outros subtipos celulares na região. Podem se encontrar na região intraepidérmica (na própria epiderme) ou em localização subcorneal, suprabasal ou subepidérmica. Bolhas subepidérmicas são mais profundas, densas e firmes, localizadas na região da derme do paciente e com clivagem em superfície mais profunda. As bolhas intraepidérmicas, por outro lado, são mais superficiais, com clivagem mais superior e, consequentemente, mais flácida e de fácil rompimento. Intraepidérmicas Subepidérmicas Pênfigo foliáceo; Pênfigo vulgar; Pênfigo vegetante; Pênfigo por IgA; Pênfigo paraneoplásica; Pênfigo induzido por medicamentos Penfigóide bolhoso; Penfigóide das membranas mucosas; Herpes gestacional ; Dermatose por IgA linear; Dermatite herpetiforme ; Epidermólise bolhosa adquirida ; Lúpus eritematoso bolhoso Pênfigo: Grupo de doenças com comprometimento cutâneo, algumas vezes mucoso, que têm como característica comum a presença de bolhas intraepidérmicas, além de alta morbimortalidade e letalidade. Ocorrem por perda total da epiderme em um processo denominado acantólise (perda de adesão entre as células epiteliais da camada de Malphingi), geralmente originado a partir do surgimento de autoanticorpos dirigidos contra os desmossomos (antígeno – desmogleína), estrutura responsável pela adesão celular epitelial. Os mais comuns são os pênfigos vulgar e foliáceo, mas outros menos frequentes são o herpetiforme, paraneoplásico, por IgA e desencadeado por drogas. SINAL DE NIKOLSKY: Caracteriza-se pelo deslizamento da pele aparentemente normal próxima à área comprometida, quando se faz uma fricção, indicando a existência de acantólise. É um excelente recurso para o diagnóstico dos pênfigos, embora não seja patognomônico. Bolhas mediadas por anticorpos: • Penfigo foliáceo: (desmogleina 1 ) Topo da camada córnea, bolha MUITO alta e superficial • Penfigo vulgar: (desmogleina 3): bolha alta, flácida e de fácil rompimento • Penfigoide bolhoso: BP230 e BP180. Bolha mais tensa, abaixo da epiderme • Epidermolise bolhosa adquirida: colágeno tipo VII. Bolha tensa, abaixo da epiderme 1. Pênfigo foliáceo: mais comum. Sua ocorrência pode se dar de forma não endêmica ou endêmica, a primeira de ocorrência universal, com predomínio em indivíduos entre a quarta e a quinta décadas de vida e sem a existência de casos familiares. A segunda, por sua vez, é conhecida como FOGO SELVAGEM e tem ocorrência familiar, com predomínio em adultos jovens e crianças que vivem próximos a rios e áreas rurais, desencadeadas por um agente ambiental e comumente relacionadas à exposição repetida a um antígeno que desencadeia a enfermidade em indivíduos geneticamente predispostos (produção de autoanticorpos Antidesmogleína-1, IgG1/IgG4 desencadeada por fatores ambientais). Suas manifestações clínicas estão relacionadas ao surgimento de bolhas superficiais que se rompem com facilidade, deixando áreas erosadas no local. Não há acometimento mucoso e pode haver sensação de queimação ou ardor, justificando o termo fogo selvagem. Sua fisiopatogenia está associada à clivagem epitelial alta com surgimento de anticorpos contra desmogleína-1 nas porções superiores da epiderme. Seu principal diagnóstico diferencial são as celulites O Diagnóstico se dá por meio da clivagem intraepidérmica acantólica subcorneana ou granulosa, com análise histológica do tecido e imunofluorescência direta, identificandose IgG e C3 através de toda a epiderme Quanto ao Tratamento, pacientes com pênfigo foliáceo costumam responder rapidamente ao uso de corticoide oral, geralmente Prednisona 1 mg/kg/dia com início e retirada lentos, iniciando com 10 mg, aumentando 10 mg por semana até se atingir 40 mg ao dia e com uma redução mais gradual ainda, de 5 a 10 mg por mês e quando se atinge a dose de 10mg diminui-se 2,5mg a cada 2 ou 3 meses. A imunossupressão é o ponto principal da terapia e outros imunobiológicos também podem ser utilizados, tais como o Itoxumabe, primeira linha hoje para o tratamento do pênfigo. Outras drogas possíveis de uso sã ao Azatioprina, Ciclofosfamida, Micofenolato de mofetil, Sulfona e Cloroquina (lesões em áreas fotoexpostas), além do uso de antiparasitários antes da imunossupressão de qualquer paciente. 2. Pênfigo vulgar: O Pênfigo Vulgar pode ser considerado a forma mais grave de pênfigo, apresentando bolhas flácidas e erosivas na orofaringe, tronco, cabeça, pescoço e áreas intertriginosas. 50% dos casos iniciam com lesões na mucosa oral, lembrando aftas dolorosas e podendo durar vários meses antes do aparecimento das lesões de pele em si (90% dos pacientes apresentam lesão em mucosas durante o curso da doença). É mais frequente entre a 4ª e 6ª décadas de vida e sua patogenia também está associada ao surgimento de Autoanticorpos IgG4 contra a desmogleína 3 (lesão de mucosas) e desmogleína 1 e 3 (doença mucocutânea). Suas manifestações são por meio de bolhas flácidas sobre a pele normal ou eritematosa, que formam áreas erodidas, úmidas e sangrantes, algumas cobertas por crostas hemáticas. São dolorosas, sem tendência a cicatrização, graves, crônicas, com períodos de exacerbação (podendo evoluir ao óbito). SINAL DE NIKOLSKY – Indica a atividade da doença Assim como no pênfigo foliáceo, no pênfigo vulgar a imunofluorescência também pode ser utilizada como método de diagnóstico e acompanhamento da lesão, detectando e marcando os locais de maior presença de autoanticorpos IgG. No pênfigo foliáceo, haverá um predomínio de autoanticorpos na camada mais superficial da epiderme, enquanto no pênfigo vulgar estará distribuído por toda a epiderme. O Tratamento, assim como no pênfigo foliáceo, exige imunossupressão do paciente por meio do uso de corticoide oral (Prednisona 1.0 mg/kg/dia com doses crescentes aumentadas e diminuídas gradualmente) e agentes imunossupressores como o Itoxumabe, Azatioprina, Ciclofosfamida, Micofenolato, Ciclosporina, pulsos de Metilprednisolona, plasmaferese e altas doses IV de imunoglobulinas. 3. Pênfigo paraneoplásico:Pacientes com Pênfigo Paraneoplásico comumente apresentam bolhas oculares ou orais e erosões com lesões cutâneas que lembram um eritema multiforme e uma neoplasia maligna subjacente associada, que usualmente é de origem linforreticular. A característica clínica marcante é a estomatite severa intratável que se estende sobre o vermelhidão do lábio. Na biópsia cutânea visualizam-se anticorpos IgG circulantes e ligados aos tecidos que são indistinguíveis daqueles do pênfigo vulgar 4. Pênfigo bolhoso: O penfigoide bolhoso é uma doença bolhosa autoimune do idoso, com a formação de bolhas tensas e placas urticariformes nas faces flexoras dos braços e pernas, face interna de coxas, axilas, virilhas e abdome. Acomete a região subepidérmica da pele, cursando também com a formação de Autoanticorpos IgG contra antígenos de 230KD, 180KD, BP 230 (localizado na placa hemidesmossômica intracelular) e BP180 (glicoproteína transmembrânica, filamentos de ancoragem). Suas manifestações se dão por meio da formação de bolhas grandes e tensas, de conteúdo claro ou hemorrágico, sobre a pele normal ou eritemato-edematosa e INTENSAMENTE PRURIGINOSAS. Um comprometimento mucoso pode ser visto em 10 a 35% dos casos e eosinofilia periférica pode ser detectada em até 50% do sangue dos pacientes, podendo estar correlacionada a um aumento sérico de IgE. Muito associado à Síndrome Praneoplásica. 5. Pênfigo cicatricial: O Penfigoide Cicatricial, ou Penfigoide das Membranas Mucosas, é um grupo de doenças bolhosas subepiteliais que acomete as superfícies mucosas. Os pacientes apresentam bolhas nas mucosas oral, ocular, nasofaríngea, laríngea, anogenital e esogáfica, que curam com cicatrização (justificativa da maior morbidade da doença). Penfigóide cicatricial, erosões das margens gengivais (gengivite descamativa ou erosiva), penfigóide cicatricial, erosões crônicas no palato duro, envolvimento ocular típico como manifestado por symblepharon, envolvimento cutâneo do couro cabeludo com cicatrizes e atrofia resultando em alopecia. 6. Penfigóide gestacional: Também denominado herpes gestacional, é uma dermatose autoimune rara da gravidez que, apesar do nome, não está relacionada à infecção por herpesvírus. A maioria das pacientes apresenta prurido intenso associado a placas urticariformes periumbilicais que progridem para vesículas e bolhas (de conteúdo seroso) e se espalham perifericamente, em geral poupando a face, palmas das mãos, plantas dos pés e membranas mucosas. A histologia revela uma bolha subepidérmica e a imunofluorescência direta mostra depósitos lineares de C3 na membrana basal. Ocorre predominantemente no segundo ou terceiro trimestre da gestação e apresenta alta predisposição genética, relacionada aos genes HLA-N3-DR3 e DR4. Dermatite herpetiforme: A Dermatite Herpetiforme, ou Dermatite de Duhring, é uma doença vesiculosa imunomediada que normalmente acomete jovens ou adultos. As lesões cutâneas são vesículas agrupadas, extremamente pruriginosas, e erosões localizadas no couro cabeludo, nuca e superfícies extensoras dos cotovelos, joelhos e nádegas. A maioria dos pacientes apresenta uma enteropatia sensível ao glúten associada. A dieta, isoladamente, pode, algumas vezes, controlar a doença cutânea, com o desaparecimento dos depósitos cutâneos granulares de IgA da membrana basal, contudo, em inúmeros casos é necessário o uso da Dapsona 100mg/dia cronicamente, droga de múltiplos efeitos adversos associados. Epidermólise bolhosa adquirida: A EBA é uma doença bolhosa autoimune adquirida que ocorre na fase adulta, existindo dois tipos de lesões cutâneas: bolhas acrais não inflamatórias, que curam com cicatrização e formação de milia, e a doença vesicobolhosa inflamatória generalizada. A histologia revela uma bolha subepidérmica, contendo poucas células inflamatórias, quando as lesões são mecanobolhosas, ou um infiltrado rico em neutrófilos, quando as bolhas são inflamatórias.
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