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URTICÁRIA E ANGIOEDEMA


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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL 
ALAN R F PAZ JÚNIOR 
PASSO FUNDO 2021 
 
URTICÁRIA E ANGIOEDEMA 
 
URTICÁRIA: Dermatose reacional da pele e mucosas, caracterizada pelo 
aparecimento súbito de placas eritemo-edematosas circunscritas, geralmente 
numulares. Placas uurticariformes, extremamente pruriginosas. As lesões podem 
ser isoladas ou agrupadas, de tamanho e localizações variáveis mas sempre 
associadas a prurido intenso e aparecimento súbito, bem como caráter efêmero 
e migração de sítio da lesão. Se duração superior a 48/72h devemos pensar em 
vasculite autoimune, comumente as lesões duram cerca de 4h em um em um 
mesmo sítio. 
Placas urticárias são consequentes a vasodilatação, aumento da permeabilidade 
capilar e edema da derme. A lesão individualizada costuma ser fugaz, 
esmaecendo sem deixar cicatriz em 24 a 48h. Acompanhada ou não de edema 
de partes moles ou mucosas (angioedema) e sintomas sistêmicos (sibilos 
respiratórios, acometimento TGI, náuseas, vômitos, dor epigástrica). 
ANGIOEDEMA: Edema de mucosas, súbito e acentuado, da derme profunda e 
do tecido celular subcutâneo, acometendo partes moles e mucosas e tendo 
resolução lenta, podendo durar até 72 horas. A urticária sozinha se apresenta em 
cerca de 50% dos casos, urticária com angioedema em 40% dos casos e 
angioedema sozinho em 10% (associado ao uso de IECA). 
• Urticária espontânea – Aguda ou Crônica – 90% dos casos 
• Urticária física – Dermografismo, de pressão tardia, por frio (causa de 
morte súbita por imersão em nadadores, após adentrar água fria), por 
calor (exposição solar), solar, vibratória 
• Tipos especiais – Colinérgica (desencadeada pela adrenalina, falar em 
público), de contato, aquagênica, induzida pelo exercício 
Síndromes clínicas associadas com Urticária/Angioedema: 
Síndrome de Muckle-Wells: Urticária recorrente, surdez neurossensorial, 
amiloidose, febre e artrite. 
Síndrome de Schnitzler: Gamopatia monoclonal, febre recorrente, artrite. 
Síndrome de Gleich: Angioedema episódico com eosinofilia, gamopatia IgM 
Síndrome de Well: Celulite eosinofílica, dermatite granulomatosa com 
eosinofilia. 
 
FISIOPATOLOGIA URTICÁRIA: Reação inflamatória localizada ou sistêmica 
com predomínio de mastócitos, célula liberadora de mediadores pré-formados, 
tais como histamina (vasodilatação e extravasamento do plasma), e citocinas 
(IL4, 5 e 6, TNF). 
Inicialmente a resposta predominante é por meio da ação da histamina e, após 
cerca de 3 a 6 horas, ocorre a síntese de leucotrienos e prostaglandinas. A 
urticária é tipicamente transitória e autolimitada sem o extravasamento de células 
do sangue na pele ou dano aos vasos sanguíneos. A urticária crônica é definida 
como aquele recorrente por um período de 6 semanas ou mais, mais 
frequentemente relacionada à ingestão de aspirina. A urticária aguda é 
controlada por meio do uso de anti-histamínicos, mas uma urticária crônica já 
necessita uma abordagem em cima das citocinas IL e TNF. 
ETIOPATOGENIA: Não imunológicas ou imunológicas. 
• Não imunológicas: Degranulação direta dos mastócitos (opiáceos, 
antibióticos, venenos e meios de contraste) ou outros degranulantes 
(AINEs, aspirina, tartazina, pseudoalérgenos alimentares). Não mediados 
por IgE, sem sensibilização. 
• Imunológicas: Dependentes de IgE (urticária física), dependentes de 
complemento (angioedema hereditário, adquirido, urticária vascular) ou 
por anticorpos (anticorpo Anti-IgE). 
Urticária aguda: 
Início súbito e duração inferior a 6 semanas, com formação de grandes placas 
eritemato-edematosas, pruriginosas e polimórficas. Se durarem mais de 48h, 
desconfiar de eritema polimorfo ou urticária vasogênica autoimune (vasculite). 
Em crianças, as causas mais frequentes são infecções (48%, virais), 
medicamentos (5%) e alimentos (3%). A causa não pode ser estabelecida em 
até 50% do casos. Em adultos a causa predominante é medicamentosa, a 
primeira a ser desconfiada. 
As lesões individuais da urticária são de coloração rósea a vermelho-clara, ficam 
esbranquiçadas ao serem pressionadas e são elevadas da superfície cutânea, o 
centro a lesão pode ser mais pálido do que a borda. As lesões individuais podem 
coalescer em placas gigantes ou anéis chamados de urticária gigante. A urticária 
pode, ainda, vir acompanhada de artralgia, febre, angioedema e anafilaxia com 
edema laríngeo. 
Urticária crônica: 
Duração superior a 6 semanas, recorrente, pode se prolongar por anos (crises 
que regridem e voltam), tendência a involução espontânea, diminuição 
significativa da qualidade de vida. O prejuízo à qualidade de vida dos pacientes 
com urticária crônica é semelhante ao comprometimento dos coronariopatas com 
obstrução triarterial, principalmente nos aspectos psicológicos e das relações 
sociais. 
Investigação: Segundo a anamnese, exames de hemograma, VSG, PCR, 
doenças infecciosas (H. pylori), sorologia hepatites, anticorpos antitireoidianos e 
antinucleares, provas de função tireoidiana, complemento, proteinograma, 
provas de sensibilização alimentar e pesquisa de parasitoses intestinais. 
1. Urticária Física – Dermografismo: Urticária localizada, linear, que 
aparece em 6 a 7 minutos após o estímulo físico e que começa a 
desaparecer em 10 a 15 minutos, podendo ser secundário a 
endorcrinopatias, infecções, medicamentos ou fisiológico na gestação ou 
menopausa. Dura de 2 a 3 anos e tem involução espontânea. Não é 
tratada e não exige investigação sistêmica. Diferenciar de lesões de 
pressão tardia, que demoram horas para se estabelecer, têm duração igual 
ou superior a 24 horas e são mais patológicas. 
2. Urticária por Pressão Tardia: As placas de urticária iniciam após 2 
horas da aplicação da pressão na pele, durando de 8 a 24 horas e sendo 
pruriginosas, dolorosas e até acompanhadas por mal estar geral, dores 
difusas e cefaleia. Os locais de pressão mais acometidos são as palmas, 
plantas, glúteos e cintura. 
3. Urticária colinérgica: Rara em crianças, mais comum em adolescentes 
e em atópicos, cursando com surtos de erupção papular extremamente 
pruriginosa, desencadeados pelo exercício físico ou estresse emocional, 
podendo ser generalizados e com duração de 30 minutos a 4 horas. As 
áreas mais afetadas são pescoço, cotovelos, joelhos, punhos e cotovelos. 
4. Urticária ao frio: Eritema, edema e prurido cutâneo poucos minutos 
após exposição ao frio, água, vento, contato com metais ou mudança 
súbita de ambientes. Podem ter sintomas sistêmicos, tais como fadiga, 
dispneia, vômitos, síncope e diarreia. Está bastante relacionada a casos 
de óbito por imersão em mergulhadores atópicos, que geram uma urticária 
generalizada com resposta inflamatória disseminada e óbito. Pode ser 
precipitada ao se colocar um cubo de gelo sobre a pele e o intervalo até a 
lesão se desenvolver e sua duração correlacionam-se à gravidade da 
doença. 
5. Urticária solar: Muito raro em crianças, comum na idade adulta. Prurido, 
eritema e edema seguido por placas de urticária após minutos de 
exposição solar, persistem por 15 minutos a 3 horas. Pode ser induzida 
pelos diferentes tipos de radiação, aparecer sob roupas finas ou através 
de vidros (filtra a radiação, permite exposição prolongada e ainda 
prejudicial). 
6. Urticária aquagênica: Erupção pruriginosa, disseminada, de pequenas 
pápulas perifoliculares, que surge após o contato com a água em qualquer 
temperatura, duração de 15 a 90 minutos. 
7. Urticária idiopática 
Omalizumabe – Biológico específico para tratamento de urticária 
crônica 
Urticária Prova diagnóstica 
Dermografismo Pressão com elemento rombo, 
aparecimento da urtica em menos de 
10 minutos 
Urticária por pressão Aplicar um peso de 2,5kg a 4,5kg de 
1,5cm de diâmetro no antebraço ou no 
dorso, leitura em até 3 horas. 
Urticária colinérgica Exercícios que aumentam a 
temperatura corporal ou imersão em 
água quente (42°C) durante 10 
minutos, leitura entre 2 e 30 minutos 
Urticáriaao frio Aplicação de um cubo de gelo em uma 
bolsa plástica ou objetos refrigerados 
em temperatura abaixo de zero em 
diferentes regiões do dorso ou 
antebraço durante 20 minutos 
Urticária solar Exposição à luz solar natural, 
monocromática ou simulador solar 
artificial durante 10 minutos. 
Urticária aquagênica Gaze embebida em água a 37°C ou 
banho de 20 minutos. 
 
Atendimento de urgência – Verificar indicativos de choque anafilático, 
hipotensão arterial sistêmica, permeabilidade das vias aéreas, sinais de sibilância 
e broncoconstrição, perfusão periférica (cianose, palidez e pulso filiforme), sinais 
de edema de glote. EPINEFRINA, subcutânea ou EV (subcutânea mais segura), 
reposição de volume, oxigenoterapia, uso de broncodilatadores, 
intubação/traqueostomia e acompanhamento em UTI. Corticoide apenas nos 
casos de angioedema. 
MANEJO – Identificar e remover o agente causal, reduzir fatores inespecíficos 
que podem contribuir para a urticária ou piorar o prurido. Anti-histamínicos 
bloqueadores H1 de segunda geração (não sedativos) com ou sem corticoides. 
Bloqueadores H2 podem ser utilizados apenas como como sinergistas dos H1. 
MANEJO CLÍNICO – Uso de Anti-leucotrienos, evitar AINES. Nas situações de 
anafilaxia opta-se pelo uso de anti-histamínicos, corticoides, epinefrina IM/IV + 
expansões com cristaloides + broncodilatadores. Na urticária crônica, manejo 
com anti-histamínico e, no caso de ausência de resposta ao tratamento, dobra a 
dose, triplica, quadriplica e, ao final, Omelizumabe (imunobiológico). 
 
 
Tratamento Opções de uso 
Primeira linha Anti-histamínicos H1 por via oral: 
Difenidramina 5 mg/kg/dia em doses 
divididas a cada 6 a 8 horas (efeito 
sedativo), Hidroxizine 2 mg/kg/dia (a 
sonolência pode diminuir dando a dose 
maior a noite pela durabilidade de 
fixação aos receptores), Fexofenadina 
(não recomendada em menores de 6 
anos) com dose de 60 mg/dia para 
crianças entre 6 e 12 anos, 
Desloratadina 10 a 20 mg/dia (a partir 
de um ano) e Cetirizina 0,25 mg/kg/dia 
em crianças entre 1 a 5 anos (entre os 
anti-histamínicos de segunda geração 
é o que produz mais sonolência, 
conveniente para crianças maiores de 
6 anos). 
Anti-histamínicos H2: Podem ser 
associados aos antihistamínicos H1, 
tendo como principal representando a 
Ranitidina. 
Segunda linha Corticoides: Prednisolona 40 mg/dia 
durante 7 dias, com diminuição gradual 
da dose por um período de 2 semanas 
(em crianças a dose é de 1-2 
mg/kg/dia durante 2 semanas). 
Antidepressivo Tricíclico: Doxepina 
25-75 mg/dia ou 25-50 mg/dia em 
crianças maiores de 12 anos (mais 
potente que os Anti-H1 e H2, 
antiprurigonosa, não deve ser 
associada à cimetidina e provoca 
prolongamento do intervalo QT). 
Urticária crônica: Se não responsiva 
a anti-histamínicos utiliza-se o 
Omalizumabe. 
Terceita linha Metotrexato, Ciclosporina, 
Hidroxicloroquina, Colchicina, 
Sulfassalazina, Dapsona, Micofenolato 
de Mofetil, antagonistas dos 
leucotrienos (Montelucaste 10 mg/dia). 
 
Farmacodermia: 
Eritema polimorfo ou multiforme (múltiplos formatos, lesões em alvo, 
arredondadas com centro mais intenso, lesões geralmente iniciais e como 
primeira manifestação da farmacodermia, acometimento de palma e planta), 
Stevens Johnson, necrólise epidérmica tóxica, síndrome DRESS (farmacodermia 
exuberante, mortalidade alta, acompanhada de febre, GRAVE, edema facial, 
lesões cutâneas características de farmacodermia, acometimento de função 
hepática, aumento de TGO/TGP, icterícia). 
 
PEGA – Pustulose exantemática generalizada aguda: Presença de lesões com 
pus junto à farmacodermia, principalmente em pacientes com uso prévio de 
Vancomicina e Nimesulida. Biópsia e terapia corticoide. 
Eritrodermia: Acometimento de mais de 40% do corpo, mãos e pés