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LARISSA MENEZES – GASTRO DIARREIA • Distúrbio caracterizado por perda aumentada de água e/ou nutrientes pelas fezes, tornando o bolo fecal de maior volume ou peso • Aumento na frequência das evacuações • Aumento na fluidez das fezes • Aguda: ▪ Curta duração (3-7dias) ▪ Resolução espontânea, geralmente • Crônica: ▪ Duração prolongada (>4 semanas) ▪ Contínua ou intermitente ▪ Alteração da consistência das fezes com aumento do número de evacuações por mais de 4 semanas • Volume de água > 150ml em 24h • Peso total das fezes > 200g em 24h • Escala de Bristol: A partir do tipo 5 é diarreia • 1-5% da população mundial é acometida por diarreia crônica, em países em desenvolvimento pode ter relação com infecções infecto-parasitarias e condições de saneamento • 7-14% dos idosos ETIOLOGIA • Etiologia variável: dificuldade na propedêutica investigativa e protocolo clinico • Funcional X Orgânica • Causas funcionais: ▪ SII forma diarreica ▪ Diarreia funcional ▪ Causas orgânicas: ▪ Sintomas < 3meses ▪ Sintomas noturnos ou contínuos ▪ Perda ponderal maior ou igual a 10% ▪ Sangue nas fezes FISIOPATOLOGIA OSMÓTICA o Ingestão de solutos inabsorvíveis o Má digestão de nutrientes o Má absorção de nutrientes o Presença na luz intestinal de substancia inabsorvível ou pouco absorvida, que, por seu poder osmótico, impede absorção de água e eletrólitos ou favorecem sua passagem para o lúmen o Solutos osmóticos inabsorvíveis: laxantes salinos (sulfatos ou fosfatos de Na, K e Mg) e laxantes não salinos (Lactulose, sorbitol, manitol) o Má digestão de nutrientes: insuficiência pancreática, colestase, supercrescimento bacteriano o Má absorção de nutrientes: enterctomia, doença celíaca, parasitoses (Strongyloides, Giardia) o Tanto o delgado quanto o cólon não são capazes de sustentar um gradiente osmótico, e por isso não conseguem evitar que o equilíbrio entre os dois lados da mucosa seja atingido! o A deficiência de lactase é o principal exemplo da “diarreia dos carboidratos”, de mecanismo osmótico. Além da diarreia, o paciente apresenta um grande acúmulo de gás intestinal, provocando cólica abdominal e intensa flatulência, pela fermentação bacteriana no cólon LARISSA MENEZES – GASTRO o A fermentação dos carboidratos produz ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato, butirato), gerando fezes ácidas (pH fecal < 5,5) o A “diarreia dos antibióticos” geralmente é leve e explicada na maioria das vezes pela redução da flora colônica, prejudicando a metabolização dos carboidratos (que não foram absorvidos no delgado) em ácidos graxos de cadeia curta que seriam prontamente absorvidos pelo cólon. A sobra desses carboidratos provoca um efeito osmótico no lúmen colônico, explicando a diarreia o Teste clinico: jejum de 24-36h com cessação ou minimização da diarreia é indicativo de ser osmótica o A diarreia osmótica cessa completamente com o estado de jejum, logo, não há diarreia noturna, ao contrário das diarreias secretórias SECRETORA o Aumento na secreção e ions e água o Mecanismo de ativação da bradicinina → AMP cíclico → Prostaglandinas → Secreção de sódio e água o Fezes aquosas e de grande volume o Infecções: V. cholerae, E. coli, Shigelas, Salmonellas o ATB: Clostridium difficile o Má absorção de sais biliares o Hormônios/neuromoduladores: gastrina (Zollinger-Ellison), serotonina (carcinoide), prostaglandinas, somatostina, glucagon, calcitonina o Algum fator, geralmente uma toxina, droga ou substância neuro-hormonal, está estimulando a secreção ou inibindo a absorção hidroeletrolítica pelo epitélio intestinal. Pode ser uma diarreia “alta” ou “baixa”, ou as duas ao mesmo tempo o A “diarreia dos ácidos biliares” acontece toda vez que estas substâncias atingem o cólon, o que pode ser decorrente de sua absorção parcial no íleo (doença ileal leve a moderada), ou do lançamento súbito de uma grande quantidade dessas substâncias no trato gastrointestinal, excedendo a capacidade absortiva ileal (diarreia pós-vagotomia troncular, diarreia pós-colecistectomia). Uma vez no lúmen colônico, os ácidos biliares provocam secreção de cloreto e água e, portanto, diarreia, que melhora quase sempre com o uso da colestiramina, um quelante de ácidos biliares o A “diarreia dos ácidos graxos” ocorre nos estados mais acentuados de má absorção de lipídios e no supercrescimento bacteriano. Os ácidos graxos (exceto os de cadeia curta) são hidroxilados pelas bactérias colônicas, tornando-se substâncias secretórias o Teste clínico: jejum de 24-36h o quadro permanece inalterado o Outra forma de diferencia entre osmótica e secretora: ▪ GAP osmótico = 290 – 2(Na + K) ▪ Se for osmótica o resultado deve ser menor que 40 mos/kg ▪ Se for secretora o resultado deve ser maior que 150 mos/kg EXSUDATIVA OU INFLAMATÓRIA o Aumento na secreção de muco e material proteico o Decorrente da liberação de citocinas e mediadores inflamatórios por lesão direta da mucosa intestinal (enterite, colite ou enterocolite), o que estimula a secreção intestinal e o aumento da motilidade o Presença de sangue, pus e muco nas fezes, podendo ser chamada de disenteria o Fezes sanguinolentas no processo inflamatório o Pode ser infecciosa ou não infecciosa o Outros sintomas: cólica abdominal, urgência fecal, tenesmo, febre e perda ponderal o DII: RCUI, Doença de Crohn o Tumores: adenoma viloso, linfomas, doença de Menetrier o Parasitoses: Giardia, E. histolytica, Criptosporidium, Strongyloides o Bactérias: Campylobacter jejuni, Yersenia enterocolitica o Exame que avalia a presença de sangue, pus ou muco nas fezes é o EAF (elementos anormais nas fezes) o Lactoferrina fecal é um marcador de ativação leucocitária, também aumentada nas disenterias LARISSA MENEZES – GASTRO MOTORA o Alteração na motilidade intestinal: o Por hipermotilidade (Diarreia Funcional): ▪ Hipertireoidismo, tumores neuroendócrinos, SII o Por hipomotilidade: ▪ Estase pelo retardo da motilidade causa supercrescimento bacteriano com consequente diarreia ▪ Esclerodermia, DM, diverticulite de delgado, suboclusões intestinais crônicas HISTÓRIA CLÍNICA • Tempo de evolução • Características das evacuações: ▪ Se for de grande volume vem do delgado ▪ Quando o cólon que está acometido ele perde a capacidade de funcionar como reservatório, a diarreia é mais frequente e de menor volume ▪ Aquosas ▪ Mucosanguinolentas ▪ Esteatorreia: boia no vaso ▪ Urgência fecal ▪ Incontinência fecal ▪ Diurnas ou diurnas/noturnas • Sintomas associados ou relacionados: ▪ Febre ▪ Dor abdominal: SII, DII, isquemia ▪ Perda de peso: neoplasia, DII • Tempo de evolução: ▪ Início abrupto ▪ Evolução gradual ▪ Contínua X Intermitente • Epidemiologia: ▪ Viagens ▪ Consumo de alimentos/água suspeitos • Fatores agravantes: ▪ Dieta: cafeína, lactose, gluten, FODMAP (Fermentable, Oligossacharides, Dissacharides, Monossacharides and Poliols) ▪ Estresse • Iatrogenia: ▪ Drogas ▪ Cirurgias ▪ Radioterapia • Antecedentes patológicos: ▪ DM, doença pancreática, tireoidiana, reumatológicas, deficiência de Ig ▪ RT ou QT ▪ Historia familiar de DII, CCR ou celíaca ▪ Cirurgias previas (ressecções intestinais): gastrectomia, colecistectomia, by-pass, enterectomias ▪ Medicamentos/Uso de drogas: antiácido a base de Mg, IBP, AINES, micofenolato de mofetil, metotrexato, olmesartan • Antecedentes familiares patológicos: doença celíaca, DII, neoplasia de colón EXAME FÍSICO • Normal • Sinais de desidratação e desnutrição • Sinais de alarme: ▪ Evidência de sangramento de TGI: anemia, sangue no toque retal ▪ Perda ponderal ▪ Febre ▪ HF de neoplasia GI ▪ Inicio dos sintomas > 50 anos: rastreio é colonoscopia• Alterações em outros órgãos/sistemas: ▪ Rubor facial, hiperpigmentação cutânea, equimoses ▪ Massas tireoidianas ▪ Linfadenopatias ▪ Edemas ▪ Derrames cavitários ▪ Neuropatias ROTEIRO DIAGNÓSTICO DIARREIA CRÔNICA FUNCIONAL o Investigação mínima DIARREIA CRÔNICA ORGÂNICA o Laboratório geral: LARISSA MENEZES – GASTRO ▪ Hemograma ▪ Proteínas totais e frações (avaliar albumina para déficit nutricional) ▪ Eletrólitos: Na, K, Ca ▪ Glicemia ▪ Função tireoidiana: TSH, T4L o Laboratório específico para doença de suspeita o Exames de imagem: ▪ Endoscopia digestiva alta com biopsia duodenal: Doença celíaca com fissuras na mucosa ▪ Colonoscopia/Retossigmoidoscopia: Ulcerações, formações de pseudopolipos ▪ Cápsula endoscópica: limitações é a impossibilidade de coleta de material para biopsia ou risco de impactação se fistula ou obstrução ▪ Enteroscopia: se suspeitar de delgado para complementar a EDA e colonoscopia o Abordagem indefinida baseada em opiniões de especialistas, consensos e informes de grandes centros o Exame de fezes: ▪ Parasitológico de fezes: Cryptosporidium sp ▪ Coprocultura: Yersinia enterocolitica ▪ Pesquisa de leucócitos fecais ▪ Calprotectina ▪ Pesquisa de sangue oculto ▪ Pesquisa de gorduras fecais: Sudam III o Esteatorreia: ▪ Dosagem de gordura fecal ▪ Teste de absorção da d-xilose: ▪ Administrar 25g de xilose e colher após 5h a urina ▪ Xilose normal: pancreatopatia ▪ Xilose alterada: sd de má absorção (alteração nas vilosidades intestinais) ▪ Restrições: insuficiência renal, alteração da motilidade gástrica CAUSAS ESPECÍFICAS DE DIARREIA CRÔNICA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL o Distribuição etária bimodal: 1 pico – 15-40 anos 2 pico – 50-80 anos o Doença de Crohn – acometimento de todo TGI o RCUI – acometimento do cólon o Diarreia exsudativa o Caráter intermitente COLITE MICROSCÓPICA o Diarreia crônica secretora sem sangramento o Geralmente pacientes de meia idade LARISSA MENEZES – GASTRO o Colite colagenosa: sem infiltração linfocítica no epitélio o Colonoscopia macroscopicamente normal o Colite linfocitica: infiltração de linfócitos no epitélio do cólon, é que o que diferencia DIARREIA PÓS COLECISTECTOMIA o 5-12% dos pacientes o Melhora espontânea após semanas a meses o Relacionada ao excesso de sais biliares no cólon o Colecistectomia → Excesso de sais biliares no delgado → Excede a capacidade de reabsorção no íleo terminal → Diarreia o Pode fazer uso de resina de sais biliares (colestiramina), mas existe a possibilidade de melhora sem medicação DIARREIA POR SUPERCRESCIMENTO BACTERIANO NO DELGADO o Associado ao aumento de bactérias ou bactérias incomuns no TGI superior o Causas de supercrescimento bacteriano: ▪ Diminuição da secreção ácida: gastrite atrófica, IBP, cirurgias gástricas ▪ Diminuição da motilidade: DM, esclerodermia o Condições anatômicas ou pós cirúrgicas -> estase ou recirculação bacteriana colônica -> supercrescimento bacteriano o Diarreia aquosa, dor abdominal, esteatorreia, emagrecimento e flatulência o Diagnóstico: aspirado duodenal ou jejunal ou testes respiratórios o Tratamento: correção dos fatores predisponentes, dieta e ATB DIARREIA POR ALERGIA ALIMENTAR o Resposta imune anormal após exposição ao alimento o Reprodutível após novo contato o 1-2% da população o Mediada por IgE → rápida apresentação, sinais e sintomas envolvem pele, sistema respiratório, cardiovascular e TGI o Não mediada por IgE → sintomas subagudos e crônicos, acomete pele e TGI INTOLERÂNCIA A LACTOSE o Teste de sobrecarga a lactose: ▪ Dose: 2g/Kg ou 50g ▪ Coleta sanguínea: jejum e a cada 30 min - > 2h ▪ Valor normal: aumento de pelo menos 20mg/dL ▪ Intolerância a lactose: exame positivo com sintomas logo após a ingestão da lactose ▪ Má absorção da lactose: exame positivo sem sintomas após ingestão de lactose o Teste do hidrogênio em ar expirado: ▪ Sobrecarga com lactose: pico elevado e precoce ▪ Má absorção da lactose: exame positivo sem sintomas SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO CELÍACA (SGNC) o Ocorre em adultos (+/- 40 anos) o Maior frequência em mulheres (5:1) o Exclusão de doença celíaca e da alergia ao trigo o Dor abdominal, náuseas, aerofagia, estomatite e diarreia o Fadiga, cefaléia, depressão e ansiedade o Acredita-se não causar lesão permanente ou déficit nutricional o Tratamento: dieta isenta de glúten (DIG) ALERGIA AO TRIGO LARISSA MENEZES – GASTRO o Reação imune mediada por IgE o Sintomas na pele, sistema respiratório, TGI (diarreia, náuseas, vômitos, distensão gasosa, dor abdominal) o Não acarreta lesão permanente no TGI o Desenvolve-se na infância DOENÇA CELÍACA (DC) o Desordem sistêmica que afeta primariamente TGI o Induzida pelo consumo de proteínas presentes no trigo, centeio e cevada o Melhora clínica e histológica após dieta isenta de glúten (DIG) o Forma clássica: esteatorreia, distensão abdominal, edema e adinamia o Sintomas gastrintestinais variáveis: quadro grave de má absorção e desnutrição proteico- calórica até sintomas inespecíficos (distensão abdominal, flatulência e alteração do HI) o Anemia ferropriva, osteoporose, baixa estatura, infertilidade, doenças autoimunes e HF para doença celíaca o Predisposição genética -> HLA-DQ2 e HLA-DQ8 (95-99%) o Deficiência de IgA – risco de 1,7-2,6% de DC associada o Exames sorológicos: ▪ Anti-endomísio IgA e IgG ▪ Anti-transglutaminase IgA e IgG ▪ Anti-gliadina IgA e IgG o Teste padrão-ouro: Bx do intestino delgado (4 fragmentos 2ᵃ porção duodenal e 1-2 fragmentos do bulbo): o Critérios de Marsh: infiltração por linfócitos (> 25/100 enterócitos), aumento das criptas (hiperplasia) e atrofia vilositária o Refratariedade/Complicações: ▪ Enteropatia persistente ou recorrente com má absorção e atrofia de vilos em celíacos com DIG há pelo menos 12 meses ▪ Jejunite ulcerativa, Linfoma não Hodgkin o Tratamento: ▪ Hidratação ▪ Correção de DHE ▪ Suporte nutricional ▪ Tratamento específico TRATAMENTO o Medicamentos antidiarreicos: ▪ Loperamida 2mg a cada evacuação (maximo de 16mg/dia) ▪ Racecadotrila 100mg (máximo de 400mg/dia) o Controle de cólica/dor abdominal: ▪ Codeína: 5-30mg 6/6 horas ▪ Clonidina o Fibras são formadoras de bolo fecal, ingerir 20- 30 g/dia
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