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MATHEUS MORAES – MED 98 PATOLOGIA DO COLO E CORPO DO ÚTERO São dividas em patologias do corpo e colo uterino. 1. Colo Uterino Colo: neoplasia intraepitelial e invasiva (carcinoma de células escamosas), e adenocarcinoma. Colo uterino é delimitado lateralmente pela parede vaginal. Inferiormente à abertura do colo uterino (orifício cervical externo), encontra-se o fundo-de-saco de Douglas, onde há acúmulo de secreção mucoide. A porção externa do colo uterino é revestida pela ectocérvice (epitélio escamoso). No canal endocervical, há revestimento por células colunares (glândulas). JEC: junção escamo-colunar; porção onde o epitélio da ectocérvice encontra o epitélio da endocérvice. • Ectrópio: ocorre quando o epitélio do canal cervical se exterioriza, isto é, à microscopia é possível identificar estruturas glandulares onde se localizava o epitélio escamoso. Macroscopicamente, é uma região avermelhada no colo uterino. Observado em mulheres jovens, gestantes e ao uso de anticoncepcional. Sem relevância clínica. • Entrópio: epitélio escamoso localizado na região do epitélio glandular, ou seja, há uma reentrância do tecido externo do colo uterino para a endocérvice. Observado em mulheres idosas. Exame Colpocitológico: raspagem de células superficiais do colo uterino com intuito de, precocemente, pesquisar possíveis lesões cancerosas (atipias celulares). • Há duas coletas: uma superficial (espátula) e outra do canal do colo (escova). O material coletado pode ser depositado em uma (SUS) ou duas lâminas (atendimentos particulares), sendo, no primeiro, necessária uma maneira de distinção entre os coletados. Quais as características necessárias do material coletado para uma análise satisfatória? Identificado, íntegro, bem distendido, bem fixado, JEC. A leitura pode ser prejudicada pela presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, intensa superposição celular e outros. Há três possibilidades para serem encontradas em um exame colpocitológico: dentro dos limites da normalidade, alterações celulares benignas ou atipias celulares. O laudo que descreve um processo inflamatório pode ser – na maioria das vezes – considerado normal devido à dinâmica cíclica do epitélio. Além disso, outras alterações celulares benignas podem ser: reparação, metaplasia escamosas imatura, atrofia com inflamação, radiação e outras. Já em relação à microbiota, esta se modifica principalmente com a temperatura e pH vaginal. Nomenclatura brasileira para laudos citopatológicos cervicais: normal, inflamatório, alterações celulares, das quais: MATHEUS MORAES – MED 98 Alterações celulares de significado indeterminado: quando vejo modificações, mas não sei diferenciar entre inflamatória ou atípica. Necessária investigação mais detalhada. ASCUS (células escamosas) e AGC (células glandulares). Possivelmente não neoplásicas, mas não se pode afastar lesões de alto grau. Displasia epitelial de células escamosas: lesão intraepitelial de baixo grau (L-Sil – HPV e NIC I), lesão intraepitelial de alto grau (H-Sil – NIC II e NIC III), não podendo excluir microinvasão, e carcinoma epidermoide invasor. Displasia epitelial de células glandulares: adenocarcinoma in situs (AIS), adenocarcinoma invasor (cervical, endometrial ou sem outras especificações), outras neoplasias malignas e presença de células endometriais (na pós- menopausa ou acima de 40 anos, fora do período menstrual). Se o exame preventivo trouxer atipias ou houver lesões macroscópicas identificáveis, há indicação da realização de uma colposcopia. O colposcópio é um aparelho que amplia a visão e é utilizado pelo ginecologista para excisionar a lesão. Sendo assim, após o laudo confirmatório, a conduta médica se divide em três: acompanhamento, conização (tratamento cirúrgico que consiste na remoção de um fragmento do colo do útero em forma de cone, daí o seu nome) ou histerectomia. 2.1. Neoplasia Escamosa Intraepitelial e Invasiva Principal relação: Vírus do Papiloma Humano (HPV). Vírus afeta as células basais da ectocervice. Existem mais de 100 tipos de HPV; quando infectam as células humanas, na maioria das vezes, são destruídos pelo sistema imunológico, porém, em alguns casos, o consegue se manter nas células do colo uterino e fazem progressão, desenvolvendo seu potencial oncogênico. Além disso, o vírus também é capaz de se manter em latência no organismo. Fatores de risco: início das relações sexuais em idade muito precoce. Vários parceiros sexuais. Grande número de gestações. Parceiro sexual que já teve muitas parceiras sexuais. Presença de um tipo de HPV associado a câncer. Detecção persistente de um HPV de alto risco, particularmente em alta concentração (carga viral). Certos subtipos de HLA e de vírus. Exposição a contraceptivos orais e a nicotina. Infecções genitais. Exame de rastreamento: Papanicolau. Usado com o objetivo de se detectar lesões pré-cancerosas. A lesão pré-cancerosa pode permanecer em um estágio não-invasivo durante um período muito longo (anos) e desprender células anormais que podem ser detectadas pelo exame citopatológico. As alterações pré-cancerosas não evoluem invariavelmente para um câncer e podem regredir espontaneamente; e o risco de desaparecerem ou evoluírem aumenta com a gravidade da lesão pré-cancerosa. HPV dos tipos 16 e 18 são de alto risco oncogênico. Causam verrugas comuns, condilomas acuminados e neoplasias epiteliais no colo uterino, pênis e orofaringe, no entanto podem ser assintomáticos. Infecta células basais ectocervicais, metaplásicas e células escamosas endocervicais. As lesões verrugosas são menos agressivas, do ponto de vista oncogênico, em relação às lesões planas, como as encontradas no colo MATHEUS MORAES – MED 98 uterino, o que indica que a sequência de eventos moleculares necessária para a progressão da lesão muitas vezes não é iniciada ou é interrompida pelo sistema imunológico do hospedeiro. Quais são as alterações microscópicas que nos permitem identificar a infecção de uma célula pelo HPV? A atipia celular causa pelo HPV é classicamente classificada pela presença de Coilocitose (halo perinuclear) e Discariose (alteração nuclear, como núcleo disforme, dividido em duas ou mais partes – bi/multinucleação). As displasias epiteliais se iniciam na porção basal do epitélio e ascendem, tal como ocorre a maturação do epitélio. Outras alterações microscópicas observadas são: aumento na relação núcleo/citoplasma, perda da polaridade, aumento do número de figuras mitóticas (incluindo mitoses anormais) e hipercromasia. Classificação das displasias epiteliais escamosas: baseia- se em uma classificação bimodal que divide as lesões intraepiteliais escamosas em BAIXO (L-Sil - correspondendo ao NIC I) e ALTO GRAU (H-Sil - correspondendo ao NIC II e NIC III). Isso é baseado nos aspectos morfológicos aliados à conduta terapêutica e ao HPV. Enquanto a lesão evolui, ocorre uma perda progressiva da diferenciação e presença de atipia em mais camadas do epitélio, até que esse tecido seja totalmente substituído por células atípicas imaturas, que não exibem diferenciação na superfície (H-Sil/NIC III). L-Sil (NIC I): desordenação ocorre nas camadas mais basais do epitélio estratificado, ou seja, anormalidades do epitélio no 1/3 proximal da membrana. Há ou não presença de coilócitos (células com coilocitose). H-Sil (NIC II): alterações avança 2/3 proximais da membrana. H-Sil (NIC III): desarranjo é observado em todas as camadas, sem romper a membrana basal. Quando as alterações celulares se tornam mais intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio, temos o carcinoma invasor. Para chegar a câncer invasor, a lesão não tem, obrigatoriamente, que passar por todas essas etapas. As lesões podem se encaixar em qualquerponto da sequência do espectro, dependendo do tipo de HPV associado e de outros fatores do hospedeiro, que abrangem o tipo de célula infectada pelo vírus (escamosa madura, escamosa imatura, colunar...). Zona de transformação: é a JEC. Local onde comumente se localizam as primeiras alterações. 1.2. Carcinomas Carcinoma das células escamosas é o mais prevalente. A literatura traz o pico de incidência aos 45 anos, mas é comumente encontrado em mulheres mais novas, devido à prevalência de infecções virais nessas idades, principalmente pelo HPV. Os fatores de risco deste tipo de acometimento são os mesmos presentes nas alterações displásicas. MATHEUS MORAES – MED 98 Carcinoma de Células Escamosas (CEC) Apresenta-se de três diferentes formas: vegetante ou exofítico, ulcerativo ou infiltrativo, sendo o primeiro o mais comum. O carcinoma cervical avançado propaga-se por disseminação direta e invade estruturas contíguas: peritônio, bexiga, ureteres, reto e vagina. Os linfonodos locais e distantes podem ser afetados, e os sítios de metástases mais comuns são: fígado, pulmões e medula óssea. Como se caracteriza a lesão por CEC? Ninhos de células escamosas atípicas invadindo a parede do colo uterino, constituindo as chamadas Pérolas Córneas (queratinização de grupos de células que se dispõem em redemoinhos). Adenocarcinoma Ao contrário do CEC, os adenocarcinomas se localizam no epitélio da endocérvice, haja vista que tem relação com tecido glandular. Com frequência são precedidos por uma neoplasia intraepitelial glandular (pré-câncer). São caracterizados pela presença de glândulas atípicas. Para a determinação do prognóstico, são avaliadas características do adenocarcinoma, como a invasão da parede do colo uterino, se há acometimento de estruturas contíguas (ligamentos, bexiga e reto), vascular ou linfonodal, a diferenciação das células e a presença ou não de metástases (pulmão, fígado e medula óssea). O carcinoma adenoescamoso e o tumor carcinoide são de pior prognóstico. 2. Corpo Uterino Corpo Uterino: leiomioma uterino, leiomiossarcoma uterino e adenocarcinoma de endométrio. Histologicamente, o corpo uterino é composto por três camadas: endométrio, miométrio e perimétrio. O endométrio é um tecido epitelial altamente vascularizado; o miométrio é a camada intermediária, constituída de musculatura lisa; o perimétrio é a porção externa, comporto por tecido conjuntivo. Duas enfermidades bastante prevalentes envolvendo o tecido uterino são: • Endometriose: presença de glândulas ou estroma endometriais em locais anormais, fora do útero. Local mais comum de implantes endometrióticos: ovário. Também é comumente encontrada na parede abdominal e em incisão cesariana, devido à cirurgia do parto. O bisturi entra em contato com o endométrio e, ao toque, implanta essas células em outra região. As células ectópicas, por sua vez, sobrevivem e tornam-se cíclicas responsivas aos hormônios. A remoção é cirúrgica. • Adenomiose: ninhos irregulares de estroma endometrial, com ou sem glândulas, disposto no interior do miométrio. Macroscopicamente, são pontos hemorrágicos no miométrio. MATHEUS MORAES – MED 98 Importância clínica: menorragia, irregularidade menstrual e dismenorreia (principalmente durante o período de menstruação). Também, relacionada a dispareunia, dor pélvica e infertilidade. O sangramento gera um processo inflamatório, uma vez que o tecido não está acostumado a esse padrão típico do endométrio, o que leva à formação de cicatrizes e aderências fibrosas. Quando acomete grandes extensões há formação de aderências fibrosas extensas entre as tubas, os ovários e outras estruturas, e a obliteração do fundo-de-saco de Douglas. Os ovários podem se tornar muito distorcidos pela presença de grandes massas císticas (3-5 centímetros de diâmetro) repletas de restos de sangue degradado de cor castanha, formando os denominados cistos de chocolate. Podem se romper e sangrar na pelve. • Endometrioma: é um cisto que acomete principalmente o ovário, preenchido por sangue escuro envelhecido e tecido endometrial (camada mais interna do útero). Trata-se de uma lesão decorrente de endometriose profunda nos ovários. 2.1. Leiomioma Uterino Tumor benigno mais comum. Comporto por nódulos de células musculares lisas (bem circunscritos, firmes, fasciculados, esbranquiçados), podendo ser único ou múltiplos, com tamanhos varáveis, e crescendo a ponto de competir espaço com estruturas fisiológicas da mulher, como reto e bexiga, o que traz sintomas compressivos. Podem exibir áreas amolecidas amareladas, acastanhadas ou vermelhas, sendo chamadas de áreas de degeneração. • Clínica: assintomático, sangramento uterino disfuncional, sintomas compressivos, infertilidade, abortamento, parto prematuro. Podem ser classificados quando a sua: • Localização: Submucosos: próximos ao endométrio. Intramurais: dentro do miométrio. Subserosos: colados à serosa. • Apresentação: Sésseis ou pediculados. O que eu vejo à microscopia? Feixes entrelaçados de células musculares lisas que se assemelham ao miométrio não atingido. As células musculares têm tamanhos e formatos uniformes, núcleo oval característico e processos citoplasmáticos longos e delgados. Mitoses são raras. MATHEUS MORAES – MED 98 2.2. Leiomiossarcoma Uterino Tumor maligno originado da musculatura lisa uterina (linhagem mesenquimatosa). Encontram-se atipias celulares, como índice mitótico e necrose. Crescem assumindo dois padrões: massa carnosa e volumosa que invade a parede uterina ou massa polipoide que se projeta na direção ao lúmen. 2.3. Adenocarcinoma do endométrio Apresenta-se como um sangramento pós-menopausa, sendo mais comum em mulheres com mais de 40 anos, e leucorreia. Corresponde a 85% dos tumores de endométrio. Mais prevalentes em mulheres obesas, diabéticas, hipertensas e inférteis. A lesão cresce de maneira polipoide localizada ou difusa, formando vegetações que ocupam todo o endométrio. A forma de disseminação é por invasão direta.
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