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INTRODUÇÃO: Conceito: Conjunto de afecções que se caracterizam pela presença de isquemia miocárdica, geralmente em de- corrência da oclusão ou estreitamento de uma ou mais artérias coronárias. Epidemiologia: • 2-3% da população geral → DAC assintomática • 10-15% da população idosa → angina estável • Primeira manifestação em 50% dos casos → sín- drome coronariana aguda • DAC é a principal causa de óbito no Brasil. • Nos países ricos observa-se uma diminuição na taxa de mortalidade relacionada a DAC Anatomia das artérias coronárias: Espectro clínico • Isquemia silenciosa • Angina estável • Miocardiopatia (insuficiência cardíaca) • Arritmias cardíacas (podem fazer parada car- díaca, 80% das vezes por fibrilação ventricu- lar, necessitando desfibrilação) • Síndromes isquêmicas agudas − Com ou sem elevação do segmento ST • Morte súbita DOENÇA ATEROSCLERÓTICA A doença isquêmica do miocárdio por obstrução coronariana tem como principal etiopatogenia a aterosclerose (> 95% dos casos). Fisiopatologia: A Placa ateromatosa causa um remodela- mento da parede vascular que leva a uma oclusão do lúmen vascular. A aterosclerose pode ser dividida entre suas manifestações crônicas e agudas de acordo com con- ceito de estabilidade da placa de ateroma: Crônica Aguda • Placa estável Causa uma obstrução gradual do lúmen coro- nariano. O paciente também pode desenvol- ver circulação colateral pós-estenótica, de modo que, a chance dele apresentar isque- mia ou pelo menos uma isquemia muito grave, diminui. • Placa instável Pode acontecer o surgi- mento de aterotrom- bose, ou seja, a placa de ateroma, a qual pode ou não estar causando obstrução do lúmen co- ronariano, porém, de- vido a sua instabilidade, pode ocorrer uma ero- são na superfície da placa ou uma ruptura. Esses acontecimentos ocasionam na exposi- ção do paciente a fato- res trombogênicos pre- sentes dentro a placa o que leva a formação de um coágulo em cima da placa ateromatosa. • Assintomática • Angina estável (qua- dro de isquemia ao esforço induzida) Síndromes coronaria- nas agudas: • Angina instável • IAM s/ supra de ST • IAM c/ supra de ST Capa fibrosa grossa: No interior da placa de ateroma há o cor cen- tral necrótico que é composto por células espumosas (macrófagos mortos). No entorno do lúmen vascular, é possível observar uma grossa capa fibrosa. Essa capa é produzida durante o processo de aterogênese pelas células musculas lisas da camada média da pa- rede vascular, as quais são atraídas para o foco necrótico central através da sinalização de fatores qui- máticos e pró-inflamatórios no íntimo do vaso. Essas células tem a capacidade de secretar matriz extrace- lular, principalmente, o colágeno. Caso a placa não seja muito inflamada, forma- se uma grossa capa fibrótica e isso protege, por um tempo limitado, o paciente. Capa fibrosa fina O conceito de estabilidade da placa está intimamente relacionado com a inflamação dentro da placa de ate- roma. Os fatores de risco lesam o endotélio das arté- rias de médio e grande calibre, de modo que há um aumento de permeabilidade do vaso e, assim, as par- tículas de colesterol conseguem se acumular no sub- endotélio. Fatores de risco: • Histórico familiar de DAC prematura em familiar de 1° grau: o ♂ (< 55 anos) o ♀ (< 65 anos) • HAS • Tabagismo • Dieta rica em lipídios • Sedentarismo • Hipercolesterolemia • Idade do paciente: o ♂ (> 45 anos) o ♀ (> 55 anos) • DM • Obesidade • Adiposidade abdomi- nal • Estresse psicossocial Fatores de risco disfunção endotelial •Redução do NO e expressão de selectinas e moléculas de adesão Núcleo lipidico •Influxo de lipídios e células inflamatórias para a íntima. •Formação de células espumosas CMLS •Fatores de crescimento para as células musculares lisas Capa fibrosa •Migração das CMLs para a íntima •Síntese de tecido conjuntivo Causas não ateroscleróticas de IM • Anormalidades congênitas (ex.: coronária congeni- tamente mal implantada) • Embolia coronária (pode levar a infarto) • Espasmo/trombose em vaso “normal” (vasos, à princípio, saudáveis que, se investigados, mostra- riam patologias) • Arterite (raro) • Dissecção coronária — iatrogênica ou espontânea (mais comum em mulheres) • Abuso de drogas (ex: cocaína) • Doença de pequenos vasos FISIOPATOLOGIA DA ISQUEMIA: A circulação coronariana possui uma particu- laridade não observada em nenhuma outra parte do corpo: a taxa de extração de O2 no tecido miocárdico é de aproximadamente 75% (taxa máxima e fixa). Na demanda miocárdica por oxigênio, a única ma- neira de aumentar a oferta de oxigênio para os tecidos e permitir que as células captem mais o gás é aumen- tando o fluxo coronariano (↑ fluxo até 6x). As arteríolas pré-capilares, cujo o tônus controlam o fluxo sanguí- neo do leito capilar, são responsáveis pela “reserva coronariana”. A produção endotelial de oxido nítrico e e ou- tros fatores, estimulados pelos os subprodutos meta- bólicos locais liberados pela atividade dos cardiomió- citos (ADP, Ca++, K+, H+, lactato) que quando saem do espaço intra para o meio extracelular encontram re- ceptores nas arteríolas pré-capilares e induzem o re- laxamento e dilatação desses vasos. Isquemia: Quando há uma placa de ateroma obstrutiva (lesão hemodinamicamente significativa), a reserva coronariana é progressivamente requisitada, a fim de manter o equilíbrio. Isso ocorre mesmo quando o pa- ciente se encontra em repouso, o que ocasiona em um “esgotamento” da reserva coronariana. Síndrome coronariana aguda Angina estável Determinantes da demanda miocárdica de O2 (consumo) Determinantes do aporte miocárdico de O2 (oferta) • Frequência cardíaca • Contratilidade • Tensão na parede vascular • Conteúdo arterial de O2 • Fluxo coronariano Consequências da isquemia: • Disfunção diastólica • Alterações de contratilidade 1. Hipocinesia: o segmento isquêmico se contrai, porém, essa contração é “mais fraca” que a dos segmentos não isquêmicos. 2. Acinesia: o segmento isquêmico não se con- trai, ficando imóvel em relação aos segmentos não isquêmicos. 3. Discinesia: o segmento não se contrai e apre- senta um movimento paradoxal de abaula- mento em relação aos segmentos não isquêmi- cos. • Alterações eletrocardiográficas (alterações da repo- larização ventricular): − Isquemia sub-endocárdica: → Inversão da onda T (aguda) Obstrução gradual Reserva coronariana parcialmente utilizada (reposuo) Isquemia ao esforço induzido Obstrução aguda Fluxo sanguineo baixo Isquemia em repouso → Depressão do segmento ST (descendente ou retificada) − Isquemia transmural: elevação do segmento ST Angina pectoris: • Forma mais comum da DAC crônica • É uma dor ou desconforto no tórax ou áreas ad- jacentes causada pelo fluxo sanguíneo insufici- ente para o músculo cardíaco (isquemia) ao es- forço e que melhora com o repouso Fisiopatologia da angina estável • Redução do fluxo sanguíneo: − Obstrução hemodinamicamente significativa (> 50% do lúmen) de uma ou mais coronárias epi- cárdicas por placas de ateroma estáveis. − Maior tônus vasomotor (disfunção endotelial) − Refeições volumosas • Aumento do consumo de oxigênio: − Esforço físico − Estresse emocional − Decúbito Classificação clínica da dor torácica: • Angina típica: ✓ Sensação de aperto, peso ou pressão retro- esternal (as vezes queimação ou pontada) ✓ Início ao esforço físico ou emoções ✓ Alívio após repouso ou nitrato sublingual (em1-5 min) • Angina atípica: − Presença de 2 sintomas descritos acima • Dor torácica não-anginosa: − Somente 1 ou nenhum dos sintomas Características da angina no peito: • Qualidade: em aperto, opressiva, em peso ou pressão • Duração: em geral, minutos • Localização:usualmente retroesternal, podendo irradiar, mais comumente para a face ulnar do membro superior esquerdo. OBS: a dor pode irradiar para ambos os lados do corpo em qualquer localização entre a mandíbula e o umbigo, incluindo o dorso. • Fatores desencadeantes: exercício, estresse emocional, refeições volumosas. • Fatores que aliviam: cessação da atividade fí- sica e nitrato SL “Sinal de Levine” Quando se pede que o paciente localize a dor ele es- frega a mão difusamente sobre o esterno ou coloca o punho cerrado no meio do peito. Avaliação clínica: • História clínica: − Sintomas: tipo de dor, localização, duração e fatores desencadeantes e de alívio − Grau de gravidade (incapacidade) (Sociedade Canadense de Cardiologia - CCS) − Determinar se a síndrome coronariana é está- vel ou instável (crônica ou aguda) − Análise dos fatores de risco − Histórico de doenças cerebrovasculares ou vascular periférica • Exame físico: − Frequentemente normal (altera-se apenas du- rante a dor) − Procurar sinais de doença aterosclerótica em outros sítios → sopro carotídeo, pulsos arteriais assimétricos Gravidade da angina estável Classe Gravidade da angina estável se- gundo a CCS I Atividades físicas comuns não cau- sam angina, apenas esforços inten- sos, prolongados ou muito rápidos II Atividades comuns desencadeiam angina, porém com pouca limitação III Atividades comuns desencadeiam angina com significativa limitação IV Qualquer atividade desencadeia an- gina Principais fatores que denunciam a presença de uma síndrome coronariana aguda Angina em crescendo Paciente com angina prévia, porém com diminuição progressiva do li- miar anginoso. Angina de início re- cente Angina de início há no máximo dois meses, que evoluiu de forma rá- pida. Angina de repouso Angina em repouso com > 20 min de duração, ocorrendo há, no má- ximo, uma semana. Avaliação complementar: • Dosagens laboratoriais: − Glicemia − Perfil lipídico − Hemograma − Tireoide − Função renal • Radiografia do tórax • ECG (pode apresentar-se normal) • Testes provocativos de isquemia: são feitos no quadro estável (contraindicado em casos agudos): − Teste ergométrico − Cintilografia miocárdica de perfusão (falha de captação) − Eco de estresse (falha de motricidade) • Avaliação da função ventricular: − Ecodopplercardiograma − Ventriculografia radioisotópica • Avaliação da anatomia coronariana (quadros agudos) − TC das coronárias (com contraste EV) − Score de cálcio (TC sem contraste) – marca- dor de DAC → mais utilizado pata estratifi- cação de risco − Cinecoronariografia (CATE) – alta probabili- dade de IM → Classe III ou IV + fatores de risco • Probabilidade pré-teste (%): Idade Dor não-anginosa Angina atípica Angina típica Anos ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ 30-39 4 2 34 12 76 26 40-49 13 3 51 22 87 55 50-59 20 7 65 31 93 73 60-69 27 14 72 51 94 86 Diagnóstico diferencial da angina no peito Cardiovascular não isquêmico ▪ Dissecção aórtica ▪ Pericardite ▪ Prolapso mitral Pulmonar ▪ Embolia pulmonar ▪ Pneumotórax ▪ Pneumonia Gastroinstestinal ▪ Esofagite ▪ Espasmo ▪ Refluxo ▪ Litíase biliar ▪ Úlcera ▪ Pancreatite Parede torácica ▪ Condrite ▪ Fibrosite ▪ Artrite ▪ HZ ▪ Fratura de costela Distúrbios psiqui- átricos ▪ Ansiedade ▪ Pânico ▪ Somatização ▪ Depressão TRATAMENTO: Objetivos: • Redução da isquemia miocárdica, com alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida. • Prevenir ou retardar o processo aterosclerótico • Prevenir eventos agudos e morte Abordagem geral: • Correção dos fatores de risco • Correção dos fatores agravantes de isquemia Modificação dos fatores de risco: • Cessação do tabagismo • Perda ponderal • Dieta saudável (dieta mediterrânea) • Exercício regular (150 a 300 minutos por semana) • Modificação dos níveis séricos de lipídios − Redução do LDLc para menos de 50 mg/dL • Redução do consumo de sal • Controle da hipertensão e diabetes Tratamento farmacológico Melhora da relação oferta x consumo de O2 (anti-isquê- mico) ▪ Nitratos, betabloqueadores, antagonistas de Ca++ ▪ Ivabradina, trimetadizina, ranolazina Prevenção da trombose ▪ Anti-plaquetário, anticoagu- lante Prevenção da ins- tabilização da placa ▪ Estatinas, inibidores da ECA Tratamento intervencionista • Angioplastia (preferencial) • Impante de stents • Revascularização cirúrgica
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