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Farmacologia dos Anestésicos Locais A presença de um anestésico local no sistema circulatório significa que a substância será transportada para todas as partes do corpo, os anestésicos locais têm a capacidade de alterar o funcionamento de algumas dessas células Farmacocinética dos Anestésicos Locais: Absorção: Quando injetados nos tecidos moles, os anestésicos locais exercem uma ação farmacológica sobre os vasos sanguíneos da área. Todos os anestésicos locais apresentam algum grau de vasoatividade, a maioria deles produzindo a dilatação do leito vascular no qual são depositados, embora o grau de vasodilatação possa variar e alguns deles possam produzir vasoconstrição >>Os anestésicos locais do tipo éster são também potentes substâncias vasodilatadoras - A procaína, o vasodilatador mais potente entre os anestésicos locais, tem como função induzir vasodilatação nos casos em que o fluxo sanguíneo periférico foi comprometido por causa da injeção (acidental) intra-arterial (IA) de uma substância (ex. o tiopental) ou da injeção de adrenalina ou noradrenalina na ponta de um dedo ou num artelho IA de uma substância irritante como o tiopental pode produzir um espasmo arterial com consequente diminuição da perfusão tecidual que, se prolongada, pode levar a necrose tecidual, gangrena e perda do membro afetado >>A tetracaína, a cloroprocaína e a propoxicaína também apresentam propriedades vasodilatadoras em graus variáveis, porém menores que as da procaína >>A cocaína é o único anestésico local que produz vasoconstrição consistente, possui ação inicial de vasodilatação que é seguida por vasoconstrição intensa e prolongada, é produzida pela inibição da absorção de catecolaminas (especialmente a noradrenalina) para os locais de ligação tecidual, no qual resultará em um excesso de noradrenalina livre, ocasionando um estado de intensa e prolongada vasoconstrição - Um efeito clínico significativo da vasodilatação é um aumento da velocidade de absorção do anestésico local para a corrente sanguínea, diminuindo, assim, a duração e a qualidade (ex. profundidade) do controle da dor e aumentando a concentração sanguínea **As velocidades em que os anestésicos locais são absorvidos para a corrente sanguínea e alcançam seu nível sanguíneo máximo variam de acordo com a via de administração Via Oral: Com exceção da cocaína, os anestésicos locais são absorvidos pelo trato gastrointestinal após a administração oral de maneira insuficiente, muitos anestésicos locais (especialmente a lidocaína) sofrem um significativo efeito da primeira passagem hepática após a administração oral >>Após a absorção de lidocaína pelo trato gastrointestinal para a circulação enteroepática, uma fração da dose da substância é levada para o fígado, no qual aproximadamente 72% da dose são biotransformados em metabólitos inativos **E isso dificultou seriamente o uso da lidocaína como substância antiarrítmica oral Via Tópica: Os anestésicos locais são absorvidos em diferentes velocidades após sua aplicação sobre as mucosas, na mucosa traqueal, a absorção é quase tão rápida quanto a administração intravenosa (IV) (empregada em algumas situações emergenciais), na mucosa faríngea, a absorção é mais lenta; e na mucosa esofágica ou vesical a absorção é ainda mais lenta do que na faringe. Em qualquer local onde não haja uma camada de pele intacta, os anestésicos locais podem produzir um efeito anestésico após a aplicação tópica Injeção: A velocidade de absorção dos anestésicos locais após a administração parenteral (subcutânea, intramuscular ou IV) está relacionada tanto com a vascularização do local da injeção quanto com a vasoatividade da substância A administração IV de anestésicos locais fornece a elevação mais rápida dos níveis sanguíneos e é utilizada clinicamente no tratamento primário das arritmias ventriculares, a administração IV rápida pode levar a níveis sanguíneos significativamente altos do anestésico local, o que pode induzir reações tóxicas graves. Os benefícios da administração IV da substância devem ser sempre avaliados em relação aos riscos OBS: A substância deve ser administrada somente quando os benefícios superarem claramente os riscos, como no caso de arritmias ventriculares, como as contrações ventriculares prematuras Distribuição: Depois de absorvidos pela corrente sanguínea, os anestésicos locais são distribuídos para todos os tecidos do corpo Os orgãos e áreas altamente perfundidos, como cérebro, cabeça, fígado, rins, pulmões e baço, apresentam inicialmente níveis sanguíneos mais elevados do anestésico do que aqueles menos perfundidos. O músculo esquelético, embora não seja tão per fundido quanto os órgãos citados, contém maior percentagem de anestésico local do que qualquer tecido ou órgão, já que constitui a maior massa tecidual do corpo **A concentração plasmática de um anestésico local em certos órgãos-alvo tem um impacto significativo sobre a toxicidade potencial da substância O nível sanguíneo do anestésico local é influenciado pelos seguintes fatores: 1. Velocidade de absorção da substância para o sistema cardiovascular 2. Velocidade de distribuição da substância do compartimento vascular para os tecidos (mais rápida em pacientes saudáveis do que naqueles que apresentam comprometimento médico [como insuficiência cardíaca congestiva], levando, assim, a níveis sanguíneos mais baixos nos pacientes saudáveis) 3. Eliminação da substância por vias metabólicas ou excretoras OBS: Os dois últimos fatores reduzem o nível sanguíneo do anestésico local A velocidade em que o anestésico local é removido do sangue é descrita como a meia-vida de eliminação, de forma simples, a meia-vida de eliminação é o tempo necessário para uma redução de 50% do nível sanguíneo: uma meia-vida = redução de 50% duas meias-vidas = redução de 75% três meias-vidas = redução de 87,5% quatro meias-vidas = redução de 94% cinco meias- vidas = redução de 97% seis meias-vidas = redução de 98,5% Todos os anestésicos locais atravessam com facilidade a barreira hematoencefálica. Eles também atravessam prontamente a placenta e entram no sistema circulatório do feto em desenvolvimento Metabolismo (Biotransformação, Destoxificação) Uma diferença significativa entre os dois principais grupos de anestésicos locais, os ésteres e as amidas, é o meio pelo qual o organismo transforma biologicamente a substância ativa em uma substância farmacologicamente inativa. O metabolismo (ou biotransformação ou detoxificação) dos anestésicos locais é importante, pois a toxicidade geral da substância depende do equilíbrio entre a velocidade de absorção pela corrente sanguí nea no local de injeção e a velocidade em que ela é removida do sangue por meio dos processos de absorção tecidual e de metabolismo Anestésicos locais do Tipo Éster: Os anestésicos locais do tipo éster são hidrolisados no plasma pela enzima pseudocolinesterase. A velocidade de hidrólise possui um impacto na toxicidade potencial de um anestésico local. A cloroprocaína, mais rapidamente hidrolisada, é a menos tóxica, enquanto a tetracaína, hidrolisada 16 vezes mais lentamente que a cloroprocaína, apresenta o maior potencial de toxicidade. A hidrólise transforma a procaína em ácido para- aminobenzoico (PABA), que é excretado em sua forma inalterada na urina, e em álcool dietilamino, que sofre posterior biotransformação antes da excreção **Aproximadamente uma em cada 2.800 pessoas tem uma forma atípica de pseudocolinesterase, que causa uma incapacidade de hidrolisar anestésicos locais do tipo éster e outras substânciasquimicamente relacionadas (ex. succinilcolina) A succinilcolina é um relaxante muscular de ação curta, comumente empregado durante a fase de indução da anes tesia geral. Ela produz parada respiratória (apneia) por um período de aproximadamente 2 a 3 minutos. Em seguida, a pseudocolinesterase plasmática hidrolisa a succinilcolina, fazendo com que seu nível sanguíneo diminua e ocorra o res tabelecimento da respiração espontânea. Pessoas que apresentam pseudocolinesterase atípica são incapazes de hidrolisar a succinilcolina em velocidade normal; portanto, a duração da apneia é prolongada Contraindicação absoluta: significa que em nenhuma circunstância a substância em questão deve ser administrada ao paciente, devido à possibilidade de reações potencial mente tóxicas ou letais Contraindicação relativa: significa que a substância em questão pode ser administrada ao paciente após cuidadosa avaliação dos riscos e benefícios potenciais e quando não houver uma substância alternativa aceitável Anestésicos locais do Tipo Amida: A biotransformação é mais complexa que a dos ésteres, o local primário da biotransformação dos anestésicos locais do tipo amida é o fígado. Praticamente todo o processo metabólico ocorre no fígado para a lidocaína, mepivacaína, etidocaína e bupivacaína. A prilocaína sofre o metabolismo primário no fígado, com algum metabolismo ocorrendo também possivelmente no pulmão. A articaína, uma molécula híbrida contendo componentes tanto éster quanto amida, é metabolizada tanto no sangue quanto no fígado A velocidade de biotransformação da lidocaína, mepivacaína, etidocaína e bupivacaína é semelhante. Aproximadamente 70% de uma dose de lidocaína injetada sofrem biotransformação em pacientes com função hepática normal. Pacientes com fluxo sanguíneo hepático abaixo do habitual (hipotensão, insuficiência cardíaca congestiva) ou função hepática deficiente (cirrose), essa biotransformação mais lenta acarreta níveis sanguíneos elevados do anestésico e aumento potencial na toxicidade A articaína apresenta meia-vida mais curta do que as outras amidas (27 min versus 90 min), porque uma parte de sua biotransformação ocorre no sangue por meio da enzima colinesterase plasmática. Os produtos da biotransformação de alguns anestésicos locais podem apresentar atividade clínica significativa caso seja permitido seu acúmulo no sangue A prilocaína, o composto original, não produz metemoglobinemia, mas a ortotoluidina, um me tabólito primário da prilocaína, induz a formação da metemo globina, que é responsável pela metemoglobinemia A lidocaína não produz sedação; entretanto, dois metabólitos - monoetilglicinaxilidida e glicinexilidida - são considerados responsáveis por essa ação clínica Excreção: Os rins são os órgãos excretores primários tanto para os anestésicos locais quanto para seus metabólitos. Uma percentagem da dose do anestésico local é excretada inalterada na urina. Essa porcentagem varia de acordo com a substância A procaína aparece na urina como PABA (90%) e 2% na forma inalterada. Até 10% de uma dose de cocaína são encontrados inalterados na urina. As amidas são geralmente encontradas na urina como o composto primário em uma maior porcentagem do que os ésteres, principalmente em razão de seu processo de biotransformação mais complexo **Os pacientes com insuficiência renal significativa podem ser incapazes de eliminar do sangue o anestésico local original ou seus principais metabólitos, resultando em um ligeiro aumento dos níveis sanguíneos desse composto e, portanto, em aumento no potencial de toxicidade Ações Sistêmicas dos Anestésicos Locais: Os anestésicos locais são compostos químicos que bloqueiam de maneira reversível os potenciais de ação em todas as membranas excitáveis. O sistema nervoso central (SNC) e o sistema cardiovascular (SCV) são, portanto, particularmente suscetíveis a suas ações, a maioria das ações sistêmicas dos anestésicos locais é relacionada com seu nível sanguíneo ou plasmático no órgão-alvo (SNC, SCV). Quanto maior o nível, mais intensa será a ação clínica >>Os anestésicos locais são absorvidos de seu local de administração para o sistema circulatório, que efetivamente os dilui e transporta para todas as células do corpo. O nível sanguíneo do anestésico local depende da velocidade de sua absorção, do local de administração para o sistema circulatório (aumentando o nível sanguíneo) e da velocidade de distribuição tecidual e de biotransformação (no fígado), que remove a substância do sangue Sistema Nervoso Central: Os anestésicos locais atravessam facilmente a barreira hematoencefálica. Sua ação farmacológica no SNC é a depressão, em níveis mais altos (tóxicos, superdosagem), a manifestação clínica pri mária é a convulsão tônico-clônica generalizada Propriedades Anticonvulsivantes Alguns anestésicos locais (p. ex., procaína, lidocaína, mepivacaína, prilocaína, até mesmo a cocaína) têm demonstrado propriedades anticonvulsivantes. A procaína, a mepivacaína e a lidocaína têm sido utilizadas por via intravenosa para fazer interromper ou reduzir a duração das crises de grande mal e pequeno mal Mecanismo das Propriedades Anticonvulsivantes Os pacientes epilépticos apresentam neurônios corticais hiperexcitáveis no local no cérebro onde o episódio convulsivo tem origem (designado como foco epiléptico). Em virtude de suas ações depressoras no SNC, os anestésicos locais elevam o limiar convulsivo por meio da redução da excitabilidade desses neurônios, prevenindo ou interrompendo as crises Sinais e Sintomas Pré- convulsivos Com o aumento do nível sanguíneo do anestésico local acima de seu limite terapêutico, podem ser observadas reações adversas. Como o SNC é muito mais suscetível às ações dos anestésicos locais do que os outros sistemas, não é surpreendente que os sinais e sintomas clínicos iniciais de superdosagem (toxicidade) tenham origem no SNC Os sinais e sintomas clínicos iniciais de toxicidade do SNC são geralmente de natureza excitatória, todos esses sinais e sintomas, exceto pela sensação de dormência perioral e lingual, estão relacionados com a ação depressora direta do anestésico local no SNC. A dormência da língua e da região perioral não é causada pelos efeitos do anestésico local no SNC. Ela é resultado de uma ação anestésica direta da substância sobre as terminações nervosas livres, que está presente em concentrações elevadas nesses tecidos altamente vascularizados ** A lidocaína e a procaína diferem um pouco dos outros anestésicos locais, pois pode não ser observada a progressão habitual dos sinais e sintomas mencionados. A lidocaína e a procaína frequentemente produzem uma sedação leve inicial ou sonolência Quando observada durante os primeiros 5 a 10 minutos após a administração intraoral de um anestésico local, a excitação ou a sedação devem representar para o clínico um sinal de alerta de aumento dos níveis sanguíneos e da possibilidade (se esse nível continuar a se elevar) de reações mais graves, incluindo um episódio convulsivo generalizado Fase Convulsiva A elevação adicional do nível sanguíneo de anestésico local ocasiona sinais e sintomas clínicos compatíveis com um episódio convulsivo tônico-clônico generalizado. A duração da convulsão está relacionada com o nível sanguíneo do anestésico local e inversamente relacionada com o nível da pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2) arterial Quando os níveis de dióxido de carbono (CO2) estão aumentados, o nível sanguíneo de anestésico local necessário para desencadear uma convulsão diminui, enquanto a duração da convulsão aumenta. A atividadeconvulsiva é geralmente autolimitante, pois a atividade cardiovascular em geral não é significativamente diminuída e a biotransformação e a redistribuição do anestésico local continuam durante todo o episódio. Isso resulta em redução do nível sanguíneo do anestésico e no término da atividade convulsiva, geralmente em menos de 1 minuto Tanto o fluxo sanguíneo cerebral quanto o metabolismo cerebral aumentam durante as convulsões induzidas por anestésicos locais. O aumento do fluxo sanguíneo para o cérebro ocasiona aumento no volume de anestésico local conduzido ao cérebro, o que tende a prolongar a crise. O aumento do metabolismo cerebral leva a uma acidose metabólica progressiva à medida que a crise evolui, e isso tende a prolongar a atividade convulsiva (com a diminuição do nível sanguíneo do anestésico necessário para provocar uma crise), mesmo na presença de declínio do nível de anestésico local no sangue A depressão respiratória ocorre nesse momento, levando eventualmente à parada respiratória se os níveis sanguíneos do anestésico continuarem a aumentar Mecanismo das Ações Pré- convulsivantes e Convulsivantes Sabe-se que os anestésicos locais exercem ação depressora sobre as membranas excitáveis, embora as manifestações clínicas associadas a níveis sanguíneos elevados dessas substâncias sejam relacionadas com graus variáveis de estimulação. Como uma substância que deprime o SNC pode ser responsável Os anestésicos locais produzem sinais e sintomas clínicos de excitação do SNC (incluindo convulsões) pelo bloqueio seletivo das vias inibitórias no córtex cerebral >> O córtex cerebral tem vias neuronais que são essencialmente inibitórias e outras que são facilitadoras (excitatórias), normalmente, é mantido um estado de equilíbrio entre os graus do efeito exercido por essas vias neuronais >>Em um nível sanguíneo pré- convulsivante do anestésico local, os sinais e sintomas clínicos observados são produzidos devido a uma depressão seletiva nas ações dos neurônios inibidores pelo anestésico local **O equilíbrio é, então, desviado ligeiramente a favor do impulso facilitador (excitatório), ocasionando sintomas de tremores e de agitação leve >> Em níveis sanguíneos mais elevados (convulsivantes), a função dos neurônios inibidores é completamente deprimida, permitindo que os neurônios facilitadores funcionem sem oposição >> O aumento adicional do nível sanguíneo do anestésico local leva a uma depressão das vias facilitadoras e inibitórias, produzindo depressão generalizada do SNC ** O local exato de ação do anestésico local no SNC não é conhecido, mas acredita-se que seja nas sinapses corticais inibitórias ou diretamente nos neurônios corticais inibitórios Analgesia Existe uma segunda ação dos anestésicos locais no SNC. Quando administrados por via intravenosa, eles aumentam o limiar de reação à dor e produzem algum grau de analgesia Elevação do Humor O uso de substâncias anestésicas locais para a elevação do humor e o rejuvenescimento persiste por séculos, apesar do registro de eventos catastróficos (na elevação do humor) e da falta de efeito desejado (no rejuvenescimento). A cocaína é usada há muito tempo por suas ações de indução de euforia e redução da fadiga Em tempos mais recentes, as mortes súbitas e inesperadas de vários atletas profissionais ilustres causadas pela cocaína, e a dependência de muitos outros, demonstraram claramente os perigos envolvidos no uso casual de substâncias potentes Sistema Cardiovascular Os anestésicos locais têm ação direta no miocárdio e na vas culatura periférica. Entretanto, em geral, o sistema cardiovascular parece ser mais resistente aos efeitos de substâncias anestésicas locais do que o SNC Ação Direta no Miocárdio Os anestésicos locais modificam os eventos eletrofisiológicos que ocorrem no miocárdio de maneira semelhante às suas ações nos nervos periféricos. À medida que aumenta o nível sanguíneo de anestésico local, a velocidade de elevação de várias fases da despolarização miocárdica diminui. Não há alterações significativas no potencial de membrana em repouso e não há prolongamento significativo das fases de repolarização, os anestésicos locais produzem depressão do miocárdio que está relacionada com o nível sanguíneo do anestésico local Essa ação depressora é utilizada como vantagem terapêutica no tratamento do miocárdio hiperexcitável, que se manifesta como várias arritmias cardíacas. Embora muitos anestésicos locais tenham demonstrado ações antiarrítmicas em animais, somente a procaína e a lidocaína apresentam segurança clínica significativa em humanos. A lidocaína é o anestésico local mais amplamente utilizado e exaustivamente estudado nesse aspecto A procainamida é a molécula de procaína com uma ligação amida que substitui a ligação éster. Por isso, ela é hidrolisada muito mais lentamente que a procaína.51 A tocainida, um análogo químico da lidocaína, foi introduzida em 1984 como um antiarrítmico oral, visto que a lidocaína é ineficaz após a administração oral ** A tocainida também é eficaz no tratamento de arritmias ventriculares, mas é associada a uma incidência de 40% de efeitos adversos, incluindo náuseas, vômitos, tremor, parestesias, agranulocitose e fibrose pulmonar ** A tocainida agrava os sintomas de insuficiência cardíaca congestiva em cerca de 5% dos pacientes e pode provocar arritmias (é pró-arritmica) em 1 a 8% dos pacientes Os níveis sanguíneos de lidocaína desenvolvidos habitualmente após a injeção intraoral de um ou dois tubetes anestésicos, 0,5 a 2 mg/mL, não são associados à atividade cardiodepressora. Um ligeiro aumento nos níveis de lidocaína no sangue ainda não é tóxico, sendo associado a ações antiarritmicas. Os níveis sanguíneos terapêuticos da lidocaína para a atividade antiarritmica variam de 1,8 a 6 mg/mL A lidocaína é geralmente administrada por via intravenosa em uma dose maciça de 50 a 100 mg à velocidade de 25 a 50 mg/ min Sinais e sintomas de superdosagem de anestésico local serão observados se o nível sanguíneo ultrapassar 6 mg/mL de sangue. A lidocaína é utilizada na clínica principalmente no tratamen to de PVCs e de taquicardia ventricular. Ela é também empregada como uma substância (de classe indeterminada) fundamental no suporte vital cardiovascular avançado e no tratamento de parada cardíaca causada por fibrilação ventricular. As ações cardíacas diretas dos anestésicos locais em níveis sanguíneos acima do nível terapêutico (antiarrítmico) incluem redução da contratilidade do miocárdio e diminuição do débito cardíaco, ambas levando a colapso circulatório >> O efeito primário dos anestésicos locais sobre a pressão ar terial é a hipotensão. A procaína produz hipotensão em maior frequência e em um grau mais significativo que a lidocaína: 50% dos pacientes em um estudo com o uso de procaína, em comparação com 6% daqueles que fizeram uso de lidocaína.61 Essa ação é produzida por depressão direta do miocárdio e relaxamento da musculatura lisa das paredes dos vasos pelo anestésico local. Em resumo, os efeitos negativos no sistema cardiovascular não são observados até que haja elevação significativa dos níveis A sequência habitual das ações induzidas pelos anestésicos locais no sistema cardiovascular é a seguinte: 1. Em níveis abaixo da superdosagem, há um pequeno aumento ou nenhuma alteração na pressão arterial em razão do aumento do débito cardíaco e da frequência cardíaca, como consequência do estímulo da atividade simpática; há também vasoconstrição direta de alguns leitos vasculares periféricos. 2. Em níveis próximos, porém ainda abaixo da superdosagem,observa-se grau leve de hipotensão; isso é causado pela ação relaxante direta sobre o músculo liso vascular. 3. Em níveis de superdosagem, há acentuada hipotensão, causada pela diminuição da contratilidade do miocárdio e redução do débito cardíaco e da resistência periférica. 4. Em níveis letais, é observado colapso cardiovascular. Isso é causado pela vasodilatação periférica maciça e diminuição da contratilidade do miocárdio e da frequência cardíaca (bradicardia sinusal). 5. Alguns anestésicos locais, como bupivacaína (e em menor grau ropivacaína e etidocaína) podem precipitar fibrilação ventricular potencialmente fatal Toxicidade Tecidual Local: O músculo esquelético parece ser mais sensível às propriedades irritantes locais dos anestésicos locais do que outros tecidos. Injeções intramusculares ou intraorais de articaína, lidocaína, mepivacaína, prilocaína, bupivacaína e etidocaína podem produzir alterações dos músculos esqueléticos Parece que os anestésicos locais de longa duração causam danos mais localizados nos músculos esqueléticos do que as substâncias de curta duração. As alterações que ocorrem na musculatura esquelética são reversíveis, com completa regeneração muscular em duas semanas após a administração do anestésico local. Essas alterações musculares não foram associadas a qualquer sinal clínico evidente de irritação local Sistema Respiratório: Os anestésicos locais exercem um efeito duplo sobre a respiração. Em níveis inferiores à superdosagem, eles têm ação relaxante direta sobre o músculo liso brônquico, enquanto em níveis de superdosagem podem produzir parada respiratória resultante de depressão generalizada do SNC. Em geral, a função respiratória não é afetada pelos anestésicos locais até que se atinjam níveis próximos à superdosagem Ações Diversas: Bloqueio Neuromuscular Muitos anestésicos locais bloqueiam a transmissão neuromuscular em humanos. Isso é o resultado da inibição da difusão de sódio por um bloqueio dos canais de sódio na membrana celular. Essa ação normalmente é discreta e em geral clinicamente insignificante. Entretanto, em algumas ocasiões ela pode se somar à ação produzida por relaxantes musculares despolarizantes, causando períodos anormalmente prolongados de paralisia muscular Essas ações são improváveis de ocorrer em um paciente odontológico de nível ambulatorial Interações Medicamentosas Em geral, os depressores do SNC (p. ex., opioides, substâncias ansiolíticas, fenotiazinas e barbitúricos), quando administrados em conjunto com anestésicos locais, levam à potencialização das ações depressoras dos anestésicos locais sobre o SNC Tanto os anestésicos locais do tipo éster quanto o relaxante muscular despolarizante succinilcolina requerem a presença da pseudocolinesterase plasmática para sua hidrólise **A apneia prolongada pode resultar do uso concomitante dessas substâncias As substâncias que induzem a produção de enzimas microssômicas hepáticas (p. ex., barbitúricos) podem alterar a velocidade de metabolismo dos anestésicos locais do tipo amida. O aumento da indução das enzimas microssomais hepáticas eleva a velocidade de metabolismo do anestésico local Hipertermia Maligna A hipertermia maligna (HM; hiperpirexia) é uma desordem farmacológica na qual uma variante genética no indivíduo altera a resposta dessa pessoa a algumas substâncias. As manifestações clínicas agudas da HM incluem taquicardia, taquipneia, pressão arterial instável, cianose, acidose respiratória e metabólica, febre (de até 42 oC [108oF] ou mais), rigidez muscular e morte. A mortalidade varia de 63 a 73%. Muitas substâncias anestésicas comumente utilizadas podem desencadear a HM em alguns indivíduos
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