Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Fatores Predisponentes das Micoses Oportunistas Modelo Aspergilose - O Aspergillus spp. é um fungo filamentoso, realiza apenas reprodução assexuada, é um fungo oportunista – assim como a Candida spp. – sua transmissão é feita pelo ar – facilitada devido a sua forma de esporos (conídeos); - Atualmente, é possível isolar Aspergillus spp na cavidade oral. Verificou-se que ele chega na cavidade oral via fossas áreas superiores; - O grande perigo desse fungo é que alguns produzem micotoxinas – que podem levar a patologias sérias. Distribuição da Flora Normal - Fungos - Após o nascimento, os humanos já começam a desenvolver a microbiota endógena – dentro dessa microbiota encontram-se as leveduras – que é extremamente importante para o funcionamento do organismo; OBS.: O impacto é tanto que existem mais células microbianas do que células próprias no corpo humano. - São as células microbianas que vão estimular o sistema imunológico após o nascimento, vão proteger o organismo de patógenos exógenos. Em situações de desequilíbrio elas podem gerar doenças; - O intestino é o local onde existem o maior número de microrganismos – aeróbios ou aeróbios facultativos; OBS.: O Aspergillus é um fungo presente nas fossas nasais – não deveria estar – sendo o único fungo filamentoso presente no organismo. Micose - Qualquer infecção causada por fungos. Existem cerca de 250 mil tipos de fungos, mas apenas 150 tipos aproximadamente causam infecções, os outros são bastante utilizados na alimentação, por exemplo – produção de queijo, iogurtes, salames, produtos fermentados; - Leveduras: Compõe parte da microbiota animal. As patologias causadas por elas são, geralmente, em decorrência de desequilíbrios na microbiota – oportunistas. O gênero Candida, por exemplo, está relacionado com a infecção hospitalar – febre; - Fungos Filamentosos: Não fazem parte da microbiota animal. Eles têm como porta de entrada as vias aéreas superiores – seus esporos são inalados, podendo chegar até o pulmão – ou a epiderme – barreira epidérmica quebrada; → Causas das Micoses - O processo infeccioso das micoses, normalmente, não é decorrente diretamente da virulência do fungo – quantificação da patogenicidade – mas sim do comprometimento do hospedeiro – questões imunológicas ou doenças pré-existentes – e sua interação com o meio ambiente – existem vários hábitos, como usar roupa suada, que podem aumentar a probabilidade de exposição as micoses; - O fungo responsável pela micose se prolifera em regiões quentes e úmidas – fatores em comum para qualquer micose. A ocorrência de micose é mais provável quando há umidade frequente – suor, por exemplo – e pequenas lesões na pele, no couro cabeludo ou nas unhas; → Porta de Entrada-Iatrogênica - É resultado de um tratamento odontológico ou médico; - Quebra de Barreiras – Traumatismo - Peritonites - Fungemias - Perda do Equilíbrio Normal - Candidíase oral e vaginal - Pulmonar – Inalação - Aspergilose - Criptococose - Histoplasmose → Fatores Extrínsecos - Profissões – agricultor, veterinário, serviços gerais – esportes – não armazenas as roupas e calçados em local arejado, nadadores (micoses transmitidas pela água) – hábitos – roer as unhas uso de roupas suadas – e aglomerações – praias, locais onde animais tem acesso, creches; → Fatores Intrínsecos - Idade – para qualquer patologia os extremos de idade são grupos de risco (crianças e idosos) – gravidez ou qualquer alteração hormonal – puberdade – lesões preexistentes, estado patológico – diabéticos – pacientes que estão fazendo o uso de antibióticos e/ou corticoides, realizando quimioterapia, radioterapia ou fazendo o uso de dispositivos invasivos. Todos esses pontos vão interferir na imunidade inata e adaptativa; - Outro fator relatado mais recentemente é a desnutrição. A falta de algumas vitaminas e nutrientes aumenta a probabilidade de infecções fúngicas, pois essas deficiências podem afetar a integridade do epitélio – pele mais ressecada, mais frágil – diminui a secreção de lisozimas – antimicrobiano natural – nas lágrimas e na saliva, altera a função das células T e atividade do sistema complemento; → Micoses Sistêmicas - Muitas micoses sistêmicas são dimórficas – nem todas são; - Dimorfismo é a propriedade de poder existir em duas formas diferentes. Os fungos tem duas formas, a forma leveduriforme e a forma filamentosa, a mudança de uma forma para a outra depende do ambiente – temperatura e pH; - Acredita-se que esse dimorfismo seja uma evolução de adaptação, estando ligado a patogenicidade do fungo; - Fungos na forma leveduriforme conseguem se disseminar mais facilmente pelo organismo, sendo essa a forma “mais patogênica”; → Nomenclatura das Micoses - Localização do processo: Otomicose – ouvido – dermatomicose – derme; - Nome do fungo que causa a patologia: Dermatofitose – Dermatófitos – aspergilose – Aspergillus; - Designação popular: Pé-de-atleta – frieira – sapinho – candidíase pseudomembranosa aguda; → Classificação das Micoses - Podem ser classificadas de acordo com o grau de desenvolvimento no tecido e modo de entrada no hospedeiro: - Superficiais: Infectam apenas as camadas mais superficiais da pele, tecidos lipofílicos – ricos em lipídios – e está relacionada com a microbiota endógena ou exposição ao ambiente. Ex.: Piedra negra, Tinea nigra; - Cutâneas: Mais comuns, manifestam-se na pele, pelos e unhas, são transmissíveis e estão relacionadas com fungos queratinofílicos – capazes de quebrar queratina e usá-la para a sua nutrição. Ex.: Tínea ou dermatofitoses; - Subcutâneas: Iniciam de forma superficial – pele – e pode atingir tecidos mais profundos – tecidos subcutâneos. Estão relacionadas com traumatismo, e são saprófitas. Ex.: Esporotricose, zigomicose; - Sistêmicas: Órgãos internos, vísceras outros tecidos, causadas por fungos de solos, inalação – chegando ao pulmão, na sua forma leveduriforme, pode se disseminar para o corpo através da corrente sanguínea. Ex.: Paracoccidioidomicose, coccidioidomicose, histoplasmose; - Oportunistas: Geralmente acometem pessoas com o sistema imune comprometido. Ex.: Candidíase, Criptococose, Aspergilose. Aspergilose - Fungos filamentosos, não são dimórficos, ubíquos – encontrados em todas as estações do ano, dispersos no solo, em vegetais ou qualquer matéria em decomposição. São contaminantes comuns em hospitais e laboratórios; OBS.: Seus conídeos – estruturas livres, abertas – permitem a disseminação deles de forma muito rápida. - Espécies Causadoras de Aspergilose Pulmonar: A. fumigatus – mais comum – A. flavus, A. niger e A. terreus; - Forma Infectante: Conídios veiculados pelo ar – a inalação é necessária; - Temperatura de crescimento do fungo em torno de 37°C – é a que ele gosta mais, mas ele consegue se desenvolver em outras temperaturas; - O Aspergillus tem a capacidade de adesão ao endotélio e epitélio. Conseguem invadir os vasos sanguíneos, provocando angeites – inflamação dos vasos – e/ou trombose; - São produtores de enzimas/toxinas como restrictocina, fumigatoxina, proteases, tais como elastase. Essas enzimas/toxinas vão gerar lesão das células epiteliais e ruptura da barreira protetora – facilitando a disseminação fúngica no tecido – aumento da resposta imunológica inflamatória com a produção de citocinas-IL8 e fatores de crescimento, dentre outras. OBS.: As toxinas fúngicas não são proteínas diferentemente das bactérias. OBS.: Qualquer mecanismo patogênico tem que produzir toxinas, enzimas degradativas ou algum componente específico dele que vá dá a ação antigênica – provocar a patologia. → Manifestações Clínicas - São determinadas pela resposta imune do hospedeiro e classicamente definidas em: alérgica – similar a asma – invasiva – mais perigosa, ela se dissemina no organismo causandofibrose pulmonar, e acometendo também outros órgãos e tecidos – e saprofítica – presentes no ambiente, decompõem matéria orgânica; → Aspergilose - A infecção encontra-se nos pulmões, ouvidos, sistema nervoso central, olhos e outros órgãos; - Aspergilose Pulmonar - A primeira micose visceral escrita na literatura médica. Oportunista por excelência, indivíduos imunodeprimidos, debilitados ou em tratamento com drogas imunossupressoras estão mais susceptíveis, mas atualmente já há relatos de indivíduos imunocompetentes infectados; - Esse processo à nível pulmonar é denominado processo pneumônico parenquimatoso – o fungo preenche as cavidades preexistes causando abcessos; - Um caso muito parecido com a tuberculose bacteriana – também forma os tubérculos. Para o diagnóstico diferencial através de raio-x, os aspergilomas intracavitários ou bola fúngica, também formadas nesses casos, são importantes para diferenciar de uma infecção bacteriana. Atualmente, já existem testes imunológicos que facilitam e agilizam o processo; → Aspergilose Broncopulmonar Alérgica - Caracteriza-se por episódios de asma aguda responsiva e corticosteroide ou por asma corticoide dependente, com sintomas não usuais de febre e hemoptise – tosse com escarro contendo sangue – com destruição da via aérea; - Se tratada inadequadamente pode progredir para fibrose; - A patogênese implica na exposição e inalação de conídios que se fixam em brônquios mais calibrosos. Ao germinarem produzem alta concentração de antígenos que estimulam o SI, com formação de anticorpos específicos, principalmente IgE, IgG e IgA; - O fungo não invade o tecido, permanecendo como saprófito. A injúria tecidual causada pela elevação dos produtos ativos do sistema complemento – alta produção de citocinas – e proteases produzidas pelo fungo; - Critérios Diagnósticos Primários - Obstrução brônquica episódica – melhora com corticoide; - Bronquiectasia: Dilatação crônica dos brônquios com catarro mucopurulento presente; - Eosinofilia periférica; - Presença de anticorpos específicos contra antígenos de Aspergillus spp; - Reação cutânea imediata a antígeno de Aspergillus spp. – só indica que o indivíduo foi exposto, não que necessariamente ele está doente; - Elevação sérica de IgE totais; - Presença de infiltrados pulmonares; - Critérios Diagnósticos Secundários - Detecção de Aspergillus spp. – isolar ele, mas demora um pouco mais; - Expectoração de moldes brônquicos; - Elevação de IgE específica contra Aspergillus spp. – demora um pouco, o aumento do IgE total é mais rápido; - Reação cutânea tardia; - Tratamento - O tratamento consiste da associação de corticosteroide e itraconazol. O corticoide melhora a função pulmonar e diminui os episódios de consolidações recorrentes; - O uso de itraconazol – 200 mg v.o. a cada 12 h por 16 semanas – reduz a dose de corticoide necessária, a eosinofilia – superior a 500 células/mm3 em 68% dos casos – e a concentração de IgE, melhorando a função pulmonar e a qualidade de vida; OBS.: Todo antimicótico pode gerar problemas hepáticos ou renais, portanto, se o paciente já tiver algum desses problemas é necessário o acompanhamento, devendo até ficar internado nos primeiros momentos. → Aspergilose Pulmonar Invasiva - Sem tratamento, a aspergilose pulmonar pode evoluir para uma forma invasiva – mais grave, uma vez que vai se disseminar; - Doença infecciosa de alta morbidade e mortalidade em imunodeprimidos; - Diagnóstico - A TC do tórax associada a antigemia, auxilia no diagnóstico precoce; - O teste de antigemia padrão para a aspergilose pulmonar invasiva é a detecção de galactomanana – polissacarídeo da parede do Aspergillus spp. e não está na parede celular de outros fungos. A β- D-glucana é inespecífica, indica apenas uma infecção fúngica invasiva, mas não indica a espécie; - PCR: Bastante utilizado, na histologia, o achado de hifa hialina septada, ramificada em ângulo de 90° não é especifico para Aspergillus spp; - A confirmação deve ser feita com cultura, mas como é demorada, o tratamento deve ser logo iniciado; - A hemocultura é limitada; - Material de Lavado Bronco Alveolar (LBA), biópsia transtorácica percutânea e biópsia por videotoracoscopia são procedimentos padrões para estabelecer o diagnóstico de API; - Falsos-negativos podem ocorrer em caso de uso prévio de antifúngicos ou quando o procedimento não alcança a área afetada; - Tratamento - Voriconazol: 1° escolha, intravenoso para pacientes graves. Indicado para manifestações incomuns – osteomielite e endocardite; - Anfotericina B lipossomal: Indicado em caso de hepatopatia e contra indicação de Voriconazol; - Duração: Em geral de 6-12 semanas, se continuar ou tiver recidiva esse prozo pode aumentar; OBS: Em imunodeprimidos, deve-se manter o medicamento até que ocorra melhora da imunossupressão e reabsorção das lesões. - Casos Refratários: Alteração da via de administração, monitoração dos níveis da medicação, alteração da classe do medicamento e/ou combinação medicamentosa; - Ressecção Cirúrgica: Em casos de lesão contígua a grandes vasos e/ou ao pericárdio, lesão única que causa hemoptise, ou invasão da parede torácica; - Monitoração Terapêutica: O aumento progressivo da antigenemia significa mau prognóstico, porém, a normalização da mesma não pode ser utilizada como critério único para cessar o tratamento; - Fatores que Aumentam o Risco de Morte - Infecção após transplante; - Neutropenia; - Infecção por citomegalovírus; - Uso prolongado de imunossupressores e corticoides; - Aspergilose Pulmonar Invasiva disseminada; - Monocitopenia; - Carga fúngica: Quanto maior a carga, maior o tempo de tratamento e as concentrações dos medicamentos; - Derrame pleural associado; - Insuficiência renal; - Infecção bacteriana de repetição; - Idade avançada.
Compartilhar