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Identificação das classes de metabólitos secundários em Mikania glomerata Sprengel (guaco)

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Identificação das classes de metabólitos secundários em 
Mikania glomerata Sprengel (guaco)
Ana Luiza Gonzaga Sanson1, Anabel C. Fernandes Poloni1, Renan Giroti1, Cristina Lorena Massocatto2, Lara Almida Zimmermann2
1 Discentes do curso de Farmácia da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UNISOCIESC)
2 Docentes do curso de Farmácia da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UNISOCIESC)
1. Introdução 
Há muito tempo as plantas medicinais vêm sendo estudadas em busca de novos princípios ativos farmacológicos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso dessas plantas medicinais pela população mundial vem obtendo cada vez mais espaço e estão entre os principais recursos terapêuticos da Medicina Complementar e Alternativa – MCA. (Brasil, 2012). Além disso, as práticas integrativas e complementares, incluindo a Fitoterapia estão em expansão no Brasil, através de diversos programas de Fitoterapia implantados ou em fase de implantação (Macedo, 2016).
Dentre os vários medicamentos fitoterápicos disponíveis atualmente no mercado, a Mikania glomerata Sprengel, conhecida popularmente como guaco, é a planta medicinal brasileira empregada comumente como broncodilatadora e expectorante, sendo útil em afecções do aparelho respiratório (gripe, tosse, ronqueira, bronquite e asma). (Panizza, 1997; Low et al., 1999)
A família Asteraceae compreende, aproximadamente, 1500 gêneros e 23000 espécies (Judd et al., 1999), no qual está inserido o gênero Mikania que abrange cerca de 430 espécies distribuídas principalmente em regiões neotropicais. (Gasparetto, et al., 2010). Dentre as principais espécies medicinais pertencentes a esse gênero, encontram-se a Mikania glomerata Spreng. e M. laevigata Sch. Bip. ex Baker. Ambas ocorrem principalmente na Floresta Atlântica do Brasil, crescendo desde o estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul, podendo, também, serem encontradas na Bahia, Paraguai e noroeste da Argentina. (Moraes, 1997; Lima et al., 2003b; Freire et al., 2006)
Em virtude das propriedades terapêuticas atribuídas a essas espécies, as formas farmacêuticas de xarope, tintura, comprimido e a solução oral de M. glomerata foram incluídos no elenco de referência de medicamentos e insumos complementares para a assistência farmacêutica na atenção básica em saúde, conforme anexo II da Portaria nº 2.982 de 26 de novembro de 2009 (Ministério da Saúde, 2009), tendo sua dispensação pelo Sistema único de Saúde (SUS) juntamente com outros medicamentos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Matsushita et al., 2015; Gasparetto et al., 2010). 
De acordo com Simões et al. (2017), os metabólitos secundários são definidos como micromoléculas acumuladas em plantas e microrganismos, que desempenham um papel importante na adaptabilidade dos organismos vivos às condições ambientais a que estão sujeitos. Esses metabólitos têm sido validados quanto à sua eficácia biológica e farmacológica e à segurança de uso como compostos bioativos no desenvolvimento de novos produtos de interesse agroindustrial e farmacêutico.
O presente estudo tem como objetivo identificar a presença de diferentes classes de metabólitos secundários presentes em M. glomerata e correlacionar com estudos já realizados e disponíveis na literatura.
2. Materiais e Métodos
Obtenção e preparação do material vegetal
Folhas de Mikania glomerata Sprengel foram coletadas às 17 horas em Pirabeiraba, em maio de 2021, no município de Joinville, SC - Brasil. As folhas foram secas em estufa a 40º C durante 7 dias e em seguida conservadas em recipiente fechado e ao abrigo da luz. 
2.1. Caracterização físico-química e fitoquímica 
A partir do material vegetal coletado, este foi submetido a diferentes processos extrativos para a realização da triagem fitoquímica, através de reações de caracterização para avaliação da presença de flavonoides, alcaloides, quinonas, taninos e cumarinas.
3. Identificação de flavonoides
A triagem dos flavonoides foi realizada por meio dos seguintes testes: reação de shinoda/cianidina, reação de cloreto férrico e reação de pew. 
Primeiramente, foi preparado o extrato pesando-se cerca de 6g da droga, a qual foi adicionada em um béquer. Posteriormente, foi adicionado 50 mL de etanol. A mistura foi aquecida por 10min a 60º C, cobrindo o béquer. Após a extração, foi filtrado com funil e um algodão para um béquer e utilizado nas reações seguintes.
3.1. Técnica de reação de shinoda/cianidina
Foi transferido 5 mL do extrato bruto filtrado para cápsula de porcelana e aquecido em banho-maria até secura. Após esfriar foi adicionado 0,2 mL de clorofórmio, misturado e desprezado. Foi retomado o resíduo em 1,5 mL de etanol 70% e transferido para um tubo de ensaio grande. Depois, foi vertido cuidadosamente pelas paredes do tubo de ensaio cerca de 0,5 mL de HCl concentrado e adicionado uma pitada (cerca de 100mg) de magnésio em pó. 
3.2. Técnica de reação de cloreto férrico
Foi adicionado em um tubo de ensaio 1 mL do extrato e em seguida, adicionado 1 a 2 gotas de FeCl3 a 2,5%. 
3.3. Técnica de reação de pew
Foi transferido 3 mL do extrato filtrado para cápsula de porcelana. Posteriormente, foi aquecido em banho-maria até secura e deixado esfriar. Depois, foi adicionado 3 mL de MeOH e transferido o conteúdo para um tubo de ensaio. Foi adicionado 50 mg de zinco metálico e acrescentado 3 gotas de HCl concentrado. 
4. Identificação de quinonas
A triagem das quinonas foi realizada por meio dos seguintes testes: reação de Bornträger direta para detecção de antraquinonas, reação de detecção de O-heterosídeos e C-heterosídeos.
4.1. Técnica de reação de Bornträger direta para detecção de antraquinonas
Foi pesado 0,500 g da droga vegetal seca rasurada e colocada em um becker. Depois, foi adicionado 5 mL de éter dietílico e colocado para decantar. Agitado por 2 minutos e filtrado com pouco de algodão para um tubo de ensaio. No tubo de ensaio contendo o filtrado, foi adicionado 1 mL da solução de NaOH a 10%. 
4.2. Técnica de reação de detecção de O-heterosídeos
Foi adicionado 20 mL de água destilada ao resíduo da droga obtido na reação anterior e aquecido até a fervura mantendo em aquecimento brando por 10 minutos. Resfriado e filtrado em algodão em um funil para um erlenmeyer. Adicionado 2,5 mL de HCl concentrado e levado à ebulição, mantendo-o por 10 minutos. Resfriado e filtrado em papel filtro para funil de separação. Extraído a solução aquosa ácida com 3 porções (5 mL cada) de éter dietílico (não desprezando a camada aquosa ácida). Por fim, foi agitado 2,5 mL da solução que continha éter dietílico com 1 mL de solução NH4OH a 10%. 
4.2. Técnica de reação de detecção de C-heterosídeos
Foi adicionado 2,5 mL de solução de FeCl3 a 25% à solução aquosa ácida obtida na reação anterior. Levado à ebulição branda por 15 minutos. Resfriado e transferido para o funil de separação. Foi efetuado partição com 10 mL de clorofórmio. Separado a fase orgânica e lavado com 2 porções, de 5 mL cada, de água destilada. Adicionado 2 mL de solução de NH4OH a 10% a 5 mL da fração clorofórmica. 
5. Identificação de taninos
A triagem dos taninos foi realizada por meio dos seguintes testes: reação A, B, C e D.
Inicialmente, foi pesado cerca de 5,211 g de guaco e 6,439 g de canela, que foi utilizada como amostra de referência-padrão. Cada amostra foi colocada em um béquer identificado, adicionado 50 mL de etanol e aquecido durante 10 minutos a 60º C. Após o aquecimento, cada amostra foi filtrada em um funil com algodão para outro béquer e utilizado nas reações seguintes.
5.1. Reação A
Em um tubo de ensaio, foi adicionado 2 mL do extrato do guaco e 2 mL do extrato da canela. Adicionada solução de gelatina 2,5% gota a gota, até o aparecimento do precipitado. 
5.2. Reação B
Em um tubo de ensaio, foi adicionado 2 mL do extrato do Guaco e 2 mL do extrato da canela, 10 mL de água e 2 a 4 gotas de solução de cloreto férrico a 1% (p/v) em etanol. 
5.3. Reação C
Em um tubo de ensaio, foi adicionado 5 mL do extrato do guaco e 5mL do extrato da canela, 10 mL de solução de ácido acético a 10% e 5 mL de solução de acetato de chumbo a 10%. 
5.4. Reação D
Em um tubo de ensaio, foi adicionado 2 mL do extrato do Guaco e 2 mL do extrato da canela, 0,5 mL da solução de vanilina a 1% e 1 mL de HCl concentrado. 
6. Identificação de cumarinas
A triagem das cumarinas foi realizada por meio do teste de fluorescência.
Foi utilizado cerca de 2 g de folhas picadas de guaco em um Erlenmeyer, adicionado em média 15 mL de metanol e levado à decocção durante 10 minutos a 65º C. Depois, foi filtrado o extrato para um béquer. Com o extrato filtrado fez-se a reação em meio alcalino para que fosse determinada com fluorescência a presença de cumarinas. Foi adicionado 2 mL do extrato em uma cápsula de porcelana e levado ao banho maria com o intuito de ter maior concentração do produto. Em seguida, foi aplicado cinco gotas do extrato concentrado em um papel filtro, fixado no mesmo ponto duas vezes, obtendo-se duas manchas de aproximadamente 1 centímetro de diâmetro, e por fim, foi aplicado uma gota de solução alcoólica de hidróxido de potássio a 10%. A amostra depois de seca no papel filtro foi levada para a radiação ultravioleta.
7. Identificação de alcaloides
A triagem dos alcaloides foi realizada por meio dos seguintes testes: reação A e B.
Foi utilizado cerca de 2 g de amostra de guaco picadas, colocado em um erlenmeyer juntamente com 30 mL de ácido sulfúrico 1%. A mistura foi pulverizada por 10 minutos. Após o preparo, a amostra foi dividida em duas porções: A e B.
7.1 Reação A
Foi depositado 3 mL da amostra em três diferentes tubos de ensaio. No primeiro tudo de ensaio foi adicionado de duas a três gotas do reagente de Mayer e no segundo tubo de ensaio foi adicionado de duas a três gotas do reagente de Dragendorff. O terceiro tubo permaneceu em branco.
7.2 Reação B
Para alcalinizar o filtrado, foi adicionado hidróxido de amônio e transferido para um funil de separação com a adição de 5 mL de clorofórmio. Após a extração da fase aquosa alcalinizada a cada repetição (3/3), as porções foram levadas em banho-maria para a secura. Posteriormente, foram dissolvidos os resíduos em 3 mL de ácido sulfúrico e divididos em três tubos de ensaio; o primeiro tubo de ensaio recebeu de duas a três gotas do reagente de Mayer, o segundo tubo de ensaio recebeu de duas a três gotas do reagente de Dragendorff e o terceiro tubo de ensaio permaneceu sem reagente.
8. Resultados e Discussão 
Neste estudo vários extratos foram preparados empregando solventes de diferentes polaridades e, posteriormente, avaliados quanto ao teor de extrativos.
Os resultados encontrados permitem observar as diferentes classes de metabólitos secundários encontrados em Mikania glomerata Spreng, conforme a tabela 1.
Tabela 1: Metabólitos secundários identificados para M. glomerata Sprengel.
	Metabólito
Secundário
	Positivo
	Negativo
	Flavonoides
	+
	
	Quinonas C-Heterosídeos
	
	-
	Quinonas O-Heterosídeos
	+
	
	Taninos
Totais
	+
	
	Taninos Condensados
	+
	
	Taninos Hidrolisáveis
	
	-
	Cumarinas
	+
	
	Alcaloides
	
	-
Resultados para flavonoides
Verificou-se que através da técnica de reação de shinoda/cianidina para a identificação de flavonoides, que o guaco apresentou reação positiva, uma vez que apresentou coloração avermelhada, a mesma coloração quando comparado com a camomila que foi utilizada como padrão positivo. 
Para a técnica de reação do cloreto férrico foi verificado que o guaco apresentou reação positiva, uma vez que apresentou coloração verde ao comparar com a camomila.
Por fim, para a técnica de reação de pew, foi verificado que o guaco também apresentou reação positiva, uma vez que apresentou o desenvolvimento lento de uma coloração avermelhada/castanha, como está indicado na figura 1.
 
Figura 1: Guaco (tubo de ensaio do lado direito) apresentando reação positiva pela técnica de reação de pew.
De acordo com estudos encontrados na literatura, como Mendes, C. F. (2011), Czelusniak et al., (2012) e Chimelo B. M. et al., (2013) que investigou a presença de flavonoides por meio de análises bioquímicas as propriedades antioxidantes do chá de M. glomerata in vitro, pode-se afirmar a presença dos flavonoides encontrados no guaco no presente estudo. 
Os flavonoides representam um dos metabólitos secundários mais presente nas espécies vegetais, representando assim uma importante classe dos polifenóis. Possuem atividades terapêuticas com propriedades antioxidantes, antiinflamatória e antiviral, além de possuírem a capacidade de agir sobre a inflamação e sobre o sistema imunológico. (Simões, et al., 2017; Czelusniak et al., 2012).
Resultados para quinonas
Para a identificação de quinonas, verificou-se que através da técnica de reação de bornträger direta o guaco apresentou reação negativa, por não ter apresentado uma coloração rósea-vermelho ao comparar com o Sene que foi utilizado como padrão positivo, como ilustra na figura 2.
Figura 2: Resultado negativo do guaco (tubo de ensaio do lado esquerdo) ao comparar com o sene (tubo de ensaio do lado direito).
Para a técnica de reação de c-heterosídeos, foi verificado que o guaco apresentou reação negativa, pois não apresentou coloração avermelhada na fase aquosa ao comparar com o sene.
Para a técnica de reação de o-heterosídeos, conforme figura 3, foi verificado que o guaco apresentou reação positiva, pois foi apresentado uma coloração rósea na fase alcalina aquosa ao comparar com o sene.
Figura 3: Resultado positivo do guaco (tudo de ensaio do lado direito) ao comparar com o sene (tubo de ensaio do lado esquerdo).
Os resultados negativos confirmam que o guaco não apresenta quinonas na sua composição, uma vez que não foram encontrados estudos na literatura afirmando isso, mesmo a reação para o-heterosídeos ter sido positiva. Como o presente estudo se tratava de uma triagem fitoquímica, o ideal seria utilizar em estudos futuros técnicas mais sensíveis para poder investigar a presença ou não de quinonas.
Resultados para taninos
Para a identificação de taninos totais, verificou-se que através da técnica de reação A o guaco apresentou reação positiva, uma vez que a amostra precipitou da mesma forma que a canela, que foi utilizada como padrão positivo, como ilustra na figura 4.
Figura 4: Resultado positivo do guaco (tudo de ensaio do lado direito) ao comparar com a canela (tubo de ensaio do lado esquerdo).
Para a técnica de reação B, conforme figura 5, foi verificado que o guaco apresentou reação positiva, pois foi apresentado uma precipitação de coloração verde, que é indicativo de taninos condensados.
Figura 5: Resultado positivo do guaco (tudo de ensaio do lado esquerdo) ao comparar com a canela (tubo de ensaio do lado direito).
Para a técnica de reação C, foi verificado que o guaco teve reação negativa, por não ter apresentado precipitado esbranquiçado - indicativo de taninos hidrolisáveis ao comparar com a canela, como ilustra nas figuras 6 e 7.
Figura 6: Resultado positivo da canela.
Figura 7: Resultado negativo do guaco.
Para a técnica de reação D, foi verificado que o guaco teve reação positiva por ter apresentado uma coloração vermelha sutil ao comparar com a canela, como ilustra na figura 8.
Figura 8: Resultado positivo do guaco (tubo de ensaio do lado esquerdo) ao comparar com a canela (tubo de ensaio do lado direito).
A autora Bacelar, T. S. (2020) conduziu um estudo onde foi feito uma análise fitoquímica realizada por cromatografia em camada delgada para identificar a presença ou ausência de taninos hidrolisáveis e teve resultado negativo, semelhante ao presente estudo.
Os taninos são polifenóis hidrossolúveis que podem ser classificados em taninos hidrolisáveis e taninos condensados, de acordo com sua estrutura química. Suas propriedades terapêuticas são utilizadas para tratamento de diarreia, queimaduras, feridas, problemas gástricos, renais e processos inflamatórios, além de possuir atividade farmacológicas bactericida, antivirais e fungicidas (Simões, et al., 2017).
Resultados para cumarinasPara a técnica de reação de fluorescência, foi verificado que o guaco teve reação positiva no tubo de ensaio e no papel filtro conforme as figuras 9 e 10, uma vez que se obteve a fluorescência esverdeada.
Figura 9: Resultado positivo do guaco.
Figura 10: Resultado positivo do guaco.
Com os resultados positivos de fluorescência, pode-se afirmar a presença de cumarinas encontradas no guaco no presente estudo, confirmando diversos estudos encontrados na literatura, como feito por Bertoldi et al. (2016), que cita que a cumarina é considerada a principal substância ativa do guaco, sendo classificada também como marcador químico da espécie Mikania glomerata para controle de qualidade de formulações à base de guaco. 
Estruturalmente, as cumarinas são lactonas do ácido o-hidroxicinâmico, sendo o representante mais simples a cumarina (1,2-benzopirona). Ela é formada após a lactonização do seu composto precursor, o ácido o-cumárico, por ação enzimática e na presença de calor, sendo processos que ocorrem na danificação dos tecidos vegetais durante o processamento das folhas de guaco para obtenção de extrato. (Bertoldi et al., 2016)
Importante ressaltar que a biossíntese de cumarina é regulada geneticamente, mas é influenciada por fatores ambientais, origem geográfica e sazonalidade que interferem com a obtenção dos níveis desejados de cumarina em guaco (Castro et al., 2006; Passari, 2014).
A autora Lázzari (2015) correlacionam o aumento da intensidade da luz com a produção de metabólitos secundários, uma vez que todas as substâncias sintetizadas pelas plantas estão relacionadas com a fotossíntese que ocasiona alterações anatômicas, fisiológicas e químicas. Isso significa que o teor de cumarina, por exemplo, apresenta alterações significativas com relação às variações na intensidade de luz, observando-se maior produção em pleno sol.
O efeito farmacológico do guaco ligado à cumarina (Ruppelt et al., 1991), descreve diversas atividades terapêuticas importantes como anti-inflamatória, imunossupressora, antibiótica, broncodilatadora, fungicida, anticoagulante, vasodilatadora, espasmolítica e antitrombótica hipolipidêmico, relaxante vascular, anticoagulante, hipotensora, antioxidante, antiofídica, entre outros (Ruppelt et al., 1991; Leite et al., 1993). 
Além disso, a quantificação de cumarina no guaco tem importância não somente devido às suas comprovadas atividades farmacológicas, mas também devido a efeitos colaterais em decorrência do uso excessivo, podendo causar vômitos e diarreias (Nolla & Severo, 2005). Neste sentido, a recomendação da ANVISA é de que a dose diária máxima de cumarina seja de 5mg de acordo com a lista de registro simplificado de fitoterápicos.
Resultados para alcaloides
Para a técnica de reação A, foi verificado que o guaco teve reação negativa, pois não apresentou precipitados em ambos os reagentes, como ilustra a figura 11.
Figura 11: Resultado negativo do guaco pelo tubo 1: reagente de Mayer; tubo 2: reagente de Dragendorff; tubo 3: branco.
Para a técnica de reação B, foi verificado que o guaco também teve reação negativa, conforme a figura 12, pois não apresentou precipitados e nem turvação em ambos os reagentes.
Figura 12: Resultado negativo do guaco pelo tubo 1: reagente de Mayer; tubo 2: reagente de Dragendorff; tubo 3: branco.
Os resultados negativos confirmam que o guaco não apresenta alcaloides na sua composição, uma vez que não foram encontrados estudos na literatura afirmando isso. O ideal seria utilizar em estudos futuros técnicas mais sensíveis para poder confirmar mais precisamente a presença ou não de alcaloides.
9. Uso popular
O guaco é usado na cultura popular há séculos devido às propriedades das suas folhas, porém, seu uso não se restringe somente a elas. (Czelusniak et al., 2012) 
Visando ampliar o acesso aos fitoterápicos no SUS, em razão das demandas das políticas e programas nacionais, o Ministério da Saúde (2012) incluiu o guaco na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), na apresentação de cápsula, emulsão, solução oral e tintura.
Para uso popular, o guaco pode ser utilizado topicamente, na forma de tintura, alcoolatura e como sabão medicinal. Nestas formas farmacêuticas, ele é empregado como antisséptico, no tratamento de eczemas pruriginosos, queimaduras, tumores, picadas de insetos, frieiras e dores de dentes (Garcia, 2017). A ação terapêutica tópica pode ser explicada pela formação de uma película ou filme protetor sobre a pele. 
Quando utilizado via oral, o guaco facilita a fluidificação do muco produzido pelo sistema respiratório estimulando a secreção, de modo que possa facilitar a eliminação através da tosse (Garcia, 2017).
Um estudo feito no interior do Estado de São Paulo em Unidades de Saúde da Família por Alcantara et al. (2015), demonstrou que a folha foi a parte mais usada para a maioria da população (92%), tendo como modo de preparo a decocção ou o xarope, preparado na quantidade de 1 litro de água para um punhado de “mão fechada” da planta. 
Apesar da ampla utilização do extrato de guaco em fitoterápicos, o seu controle de qualidade é rigoroso, tendo como padronização o mínimo de 0,15% de teor de cumarina segundo a Farmacopeia Brasileira (2019). Sendo assim, a quantificação de cumarina torna-se importante, já que se pode inferir sobre a qualidade da matéria-prima vegetal utilizada na preparação, bem como na eficiência do método de extração empregado. (Bertoldi et al., 2016)
10. Conclusão
Os estudos citados neste trabalho juntamente com a triagem fitoquímica realizada demonstraram a presença de metabólitos secundários na composição química do guaco, tais como flavonoides, quinonas o-heterosídeos e taninos condensados, além do destaque para as cumarinas, principal metabólito que apresenta ações biológicas no combate à enfermidades do trato respiratório, devido as ações broncodilatadora, expectorante, antiinflamatória e antialérgica, comprovadas pelos diversos estudos realizados, o que faz do guaco um potente fitoterápico.
Os registros apresentados demonstram a necessidade de novas pesquisas e de testes mais precisos e sensíveis sobre o guaco, esclarecendo mais detalhadamente sobre sua composição química e ações biológicas de seus componentes, além de possíveis interações medicamentosas, toxicidade e descoberta de novas atividades farmacológicas. 
Referências
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