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COMA E REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA POR Rebeca Zilli Coma (do grego, "sono profundo") é um estado de inconsciência do qual a pessoa não pode ser despertada, sendo considerado uma síndrome neurológica e não uma doença. É uma emergência médica muito grave, que exige conduta adequada e rápida para que não haja sequelas ou morte encefálica, e, para isso, é importante saber que existem várias causas. A consciência é composta por: nível de consciência (alerta, torporoso) e o conteúdo da consciência (orientação, lucidez). ► Sono e vigília: O sono também é um rebaixamento do nível de consciência, mas fisiológico, sendo a grande diferença que nessa condição, o paciente é facilmente acordado frente a estímulo, coisa que o paciente com rebaixamento patológico não faz. Existem alguns núcleos que compõe a formação reticular, atuantes no SARA pelo envio de estímulos. Ao receber esses estímulos (visuais, auditivos, sensitivos), o córtex envia um feedback positivo e mantém o indivíduo acordado. Assim, qualquer lesão estrutural que pegue a formação reticular vai levar à um rebaixamento do nível de consciência. OBS.: para haver rebaixamento por lesão supratentorial, a lesão tem que ser bilateral (atingir ambos os hemisférios) para manifestar esse estado. ► Causas de Coma: Para uma melhor abordagem e tratamento, é importante saber o sítio e a causa que desencadeou esse evento de rebaixamento, podendo este ser metabólico ou estrutural (existem componentes mistos). COMA METABÓLICO: a lesão não é no encéfalo, mas sistêmica, provocando repercussão encefálica. Exemplos: choque, hipotermia, distúrbio hidroeletrolítico, isquemia cerebral global, toxicidade, insuf. adrenal. COMA ESTRUTURAL: a lesão é focal, tem local definido no encéfalo. Exemplos: AVC, TCE, meningites, hidrocefalias, tumores, encefalopatias hipertensivas. Dentro do crânio há cérebro, líquor e sangue, em equilíbrio. Frente à um TCE, por exemplo, ou um AVC, esse equilíbrio é abalado e pode haver hipertensão intracraniana, causando um rebaixamento. Nesse caso, pode ser uma lesão unilateral que surtirá efeito na consciência, uma vez que ocorre uma compressão de estruturas. OBS.: a hérnia de uncus é sinal precoce que o paciente está rebaixando e cursa com lesão de óculomotor (ptose palpebral). ► Níveis de consciência: 1. Alerta/ Vigil – paciente acordado e responsivo 2. Sonolência/ Letargia – rebaixado mas acorda com estímulos leves (ao ser chamado) 3. Torporoso/ Obnobilado – rebaixado e só acorda com estímulo doloroso 4. Coma – paciente não responde e não sai desse estado ► Conduta: 1. ABC da vida; 2. Escala de coma de Glasgow; 3. Hipoglicemia; 4. Colher história; 5. Exame físico direcionado; OBS.: hipoglicemia pode dar qualquer sintoma neurológico na emergência (sempre medir). ► História clínica: devo colher objetivamente com o acompanhante quando o paciente não for responsivo, mas as vezes não há testemunhas no evento. Aqui a anamnese é um pouco fraca pra determinar a conduta. ► Exame físico: deve ser feito de forma direcionada para o quesito neurológico. Tambem deve ser feita aferição da PA (encefalopatia hipertensiva, eclampsia). Edema e equimose periorbital – Sinal do guaxinim Hiperemia retroauricular – Sinal de Battle 1. Nível de consciência 2. Padrão respiratório (Cheyne-Stokes para padrão metabólico de lesão supra-tentorial) 3. Tônus e reflexos 4. Reflexos de tronco (verifico integridade do tronco avaliando pares cranianos) 5. Posição dos olhos e tamanho pupilar/ F.O 6. Movimentos involuntários de membros e olhos 7. Sinais de irritação meníngea 8. Sinais de lesão focal A maioria dos comas no geral apresentam pupila igual e fotoreagente. Mas há alguns casos como: Lesão de mesencéfalo: ● Tectal: gera pupilas grandes e fixas. ● Pré-tectal: gera pupilas médias e fixas. ● III nervo: midríase de mesmo lado da lesão. Lesão de ponte: gera pupilas puntiformes (mióticas) e fotorreagentes. Lesão de diencéfalo: gera pupilas pequenas e fotorreagentes. ► Exames complementares: Rotina – Hemograma, glicose, uréia, creatinina, Na, K, gasometria arterial, TGO, TGP, FA, GGT, amônia (tóxica para o SNC); Neuroimagem – TC e RM quando penso em causa focal; Punção lombar – quando suspeito de meningite; EEG – quando há mal epilético não motor, não convulsivo; Outros – cortisol, hormônios tireoidianos, níveis séricos de medicamentos, teste toxicológico. OBS.: se após pedir vários exames investigando causa metabólica vier tudo normal, é válido pedir neuroimagem para tirar da dúvida se é causa estrutural. ► Antídotos: 50 ml de Glicose 50%/SG + Vitamina B1 → se suspeito de hipoglicemia (B1 pro alcoólatra principalmente). Flumazenil (0,3 – 1,0 mg) → se suspeito de intoxicação por benzodiazepínicos. Naloxona (0,4 – 0,8 mg) → se suspeito de intoxicação por morfina e seus derivados. ► Diagnóstico diferencial: Síndrome do encarceramento Catatonia Estado vegetativo persistente Morte cerebral ► Prognóstico: COMA METABÓLICO: prognóstico melhor, mais comum, menos sequelas; COMA ESTRUTURAL: prognóstico pior, mais mortalidade, mais sequelas; Glasgow baixo e mantido por 72h, e ausência de reflexos de tronco nas primeiras 24h também indicam prognóstico ruim. Quanto mais tempo o paciente fica em coma, mais provável que evolua para morte encefálica ou estado vegetativo, mais sequela.
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