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ABORDAGEM DE QUEIXAS NA ATENÇÃO BÁSICA POR Rebeca Zilli LOMBALGIA Antes, achava-se que a maioria dos quadros de lombalgia advinham de radiculopatias. Hoje, a maioria advém de quadros inespecíficos. Com isso, devemos nos atentar no quadro clínico para dar o diagnóstico, uma vez que os exames de imagem pode não revelar a causa real da dor. ● Abordagem: 1º passo: descartar Red Flags (Sinais de Alarme) para descartar doenças sistêmicas subjacentes; 2º passo: identificar se há comprometimento neurológico (Síndrome Radicular); 3º passo: não havendo nenhum dos fatores acima, posso classificar em dor inespecífica. Atenção às Yellow Flags, fatores psicológicos, sociais, comportamentais envolvidos na manifestação da dor. Red Flags (Sinais de Alarme) Idade acima de 70 anos; Trauma recente em >50 anos; HPP de câncer; Dor que piora ao repouso; Perda de peso inexplicada (+10%); Febre por mais de 48h; Infecção ativa; Imunossupressão; Déficit neurológico grave/progressivo; Dor com mais de 6 semanas; Osteoporose; Uso prolongado de esteroides. Se paciente não apresenta bandeira vermelha, penso em síndromes radiculares ou dor inespecífica. ● Principais causas: Síndrome Da Cauda Equina Compressão lombar que comprime a cauda equina (a nível de L1-L2. Dor lombar + 1 dos sintomas: 1. Disfunção de esfíncter (retenção/ incontinência) 2. Hipoestesia em sela (períneo/ ejaculação) 3. Paresia de MMII bilateral Fraturas Atenção à idosas, maiores de 70 em uso prolongado de corticoesteroides e HF de osteoporose. Dor lombar intensa, localizada e autolimitada. Atenção a história de trauma. Espondiloartrites (Espondilite Anquilosante) Doença reumática, mais comum em homens maiores de 40. Dor lombar crônica associada a fadiga, perda de peso, rigidez matinal, que melhora ao longo do dia. Acompanha sintomas sistêmicos: sinovite inflamatória de articulação periférica, uveíte anterior, doenças sistêmicas. Causas Infecciosas Osteomielite: quadro inflamótio crônico, com febre baixa, fadiga, perda de peso. Mal de Pott é uma osteomielite especifica que é uma tuberculose lombar (abcesso importante que destrói o corpo vertebral). Herpes Zoster: quando este atinge um dermátomo de coluna torácica baixa ou lombar. É uma dor lombar neurológica associada à lesão cutânea no dermátomo. Esses pacientes eu investigo com exames complementares dependendo da suspeita de cada caso (direcionado à causas sistêmicas). Considero sempre VHS, PCR, HC, glicemia, EAS, cálcio, fósforo, eletroforese de proteína. Neoplasias (Mieloma Múltiplo) CA em sítios primários (rins, mamas, próstata, tireóide, pulmãos) podem fazer metástase Dor lombar progressiva, contínua, que não alivia ao repouso. Pode simular radiculopatia se comprimir estruturas. Quando VHS ≥, é mandatório o exame de imagem (RX), que pode dar o diagnóstico de Mieloma Múltiplo Dores Viscerais Endometriose: dor lombar junto ao ciclo menstrual; Litíase Urinária: dor lombar intensa junto à sintomas urinários; Síndromes Radiculares Espondilolistese Deslizamento anterior de uma vertebra sobre a outra (geralmente a nível de L5-S1) < 18a assintomático, trauma ou esforço repetitivo de hiperextensão Idoso pode ser por trauma ou espontâneo. ● Lasegue – (não comprime raíz nervosa) ● Diagnóstico é via Radiografia em perfil. (cintilografia é padrão ouro) Estenose de Canal Medular Processo inflamatório crônico e degenerativo que forma osteófitos que comprimem canal medular e raízes nervosas (+ prevalente que os outros) > 50a dor bilateral referida em face anterior da coxa, que piora ao deambular (claudicação neurogênica) ● Lasegue – (pode vir + se houver compressão pelo osteófito) ● Diagnóstico é via TC ou RM, sendo o tratamento cirúrgico Hérnia Discal c/ Radículopatia O disco é vertebral é bastante elástico e quando se move, o interior do disco pressiona a raiz e causa dor. 50 – 60a dor unilateral, aguda, podendo acompanhar sintomas neurológicos moderados (dor no idoso é considerado Red Flag, pois ele não comprime raíz – disco fibrosado – e não há dor) ● Lasegue + ● Evolução benigna, com pouca indicação cirúrgica. Dor Inespecífica É um diagnóstico de exclusão, quando há uma dor aguda, recorrente, de caráter mecânico, sem Red Flag, muito relacionada a fatores psicossociais. É autolimitado de 4 – 6 semanas, com ou sem tratamento, mas pode recorrer por até 1 ano. O tratamento envolve analgesia e abordagem dos fatores psicossociais. ● Exame físico: TESTE DE LASÉGUE: Paciente deitado, elevo MMII a fim de provocar alongamento neural e, na presença de radiculopatia, intensificar o quadro álgico (Lasegue +). Lasegue + a dor passa do joelho e vai até o pé (pode ser falso +; sendo bilateral, confirmo radiculopatia). Lasegue - geralmente exclui radiculopatia (seguro) Devo avaliar se há alterações neurológicas (marcha, trofismo, reflexo, sensibilidade, força) para verificar causas com Radículopatia. A presença de contratura à palpação da musculatura fala a favor de Dor Inespecífica. ● Conduta terapêutica: Red flag→ referencio ao setor especializado (sai da APS); Espondilolistese→ fisioterapia e repouso; Estenose de Canal Medular→ AINES, fisioterapia e aplicação epidural de esteroides; Hérnia c/ Radiculopatia→ tto conservador, analgesia, fisioterapia; fase aguda: corticoide ou gabapentina ou AINE + opióide fase crônica: não há fármaco com benefício comprovado (não uso benzodiazepínicos ou relaxantes musculares) Dor Inespecífica→ avalio o nível da dor e capacidade funcional, de modo a evitar repouso absoluto. fase aguda: trato dor leve com paracetamol; dor moderada com AINE (inclusive tópico) e relaxantes musculares (por no máximo 1 semana, apenas no início). fase crônica: TCC, fisioterapia, abordagem psicossocial (trato a causa psíquica por trás). DOR NO JOELHO Quando a queixa é no joelho, devo ter em mente os principais ligamentos e estruturas de impacto. ● Abordagem: traumático: se tratando de trauma, avalio a gravidade e se for um trauma grave, encaminho ao PS. não traumático: observo se há derrame articular e se está ou não associado à atividade física. ● Por local: DOR ANTERIOR: penso em luxação recidivante de patela, lesão de Osgood Schlatter, Joelho do Saltador, Condromalácia Patelar. DOR MEDIAL: penso em entorse de ligamento colateral medial, ruptura de menisco medial, Bursite da Pata de Ganso. DOR LATERAL: penso em tendinite de banda iliotibial, entorse de ligamento colateral lateral, ruptura de menisco lateral. DOR POSTERIOR: penso em cisto poplíteo, lesão de ligamento posterior. Lombalgia Red Flags s/ Red Flags investigação adicional Hérnia c/ radiculopatia ou Espondilolistese ou Estenose de Canal Medular Lombalgia Inespecífica Luxação Recidivante de Patela Sensação que o joelho “sai do lugar”. Sem derrame articular, pode haver edema articular, crepitação, dor, desvio lateral da patela, “frouxidão”. Avalio o grau de mobilidade da patela (comparar os dois lados, passivo a ativo) Conduta é RX de joelho, imobilização, analgesia, fisioterapia (fortalecimento isométrico de quadríceps) Condromalácia Patelar (dor patelofemoral) Patela comprime a cartilagem femoral de forma irregular. Ocorre mais em mulheres, Sinal do Teatro (dor após ficar sentado muitas horas – flexão), dor ao descer escadas, sem derrame articular. Diagnóstico clínico! Conduta é evitar atividades que causem a dor,analgesia na fase aguda, fisioterapia. (reforço muscular e estimular atividade física para manutenção) Não há cura, apenas tto. Tendinite Patelar (Joelho Do Saltador) Ocorre mais em adolescentes em estirão e atletas de alto impacto. É um quadro agudo, com EF sem grandes alterações, podendo haver alterações de sensibilidade/dor em tendão patelar e dor à extensão contra- resistência. Conduta é analgesia e repouso por 1 semana. Devo referenciar à Ortopedia se for recorrente. Diagnóstico diferencial com Osgood Schlatter (pediatria). Síndrome da Banda Ileotibial Geralmente ocorre em idosos, corredores, ciclistas. Dor em face lateral do joelho, em queimação, durante atividade física, podendo irradiar para coxa/pé. No EF, Teste de Ober e Teste de Noble. Conduta é analgesia, repouso, crioterapia (compressas com gelo), infiltração com anestésicos locais e fisioterapia (fortalecimento, alongamento e correção de marcha) Bursite Pré-Patelar Pessoa que fica muito tempo ajoelhada. Dor em região anterior que melhora com extensão – descomprime a bursa inflamada. Sem grandes achados no EF, podendo ter achados inflamatórios dependendo da etiologia. Conduta é analgesia (AINE), repouso, evitar ficar ajoelhado e referenciar casos mais difíceis para a Ortopedia. Bursite Anserina Associada à DM2 e osteoartrite (derrame) É frequente e cursa com dor em região medial, com piora a noite (sobrecarga durante o dia). No EF, dor a palpação, sem sinais flogísticos. Conduta é analgesia, perda de peso e fisioterapia. Lesões Ligamentares Atletas→ mais lesão em LCA Trauma→ mais lesão em LCP A RNM é o exame de escolha, mas o RX pode mostrar assimetrias ósseas que explicam o quadro. ligamento cruzado anterior teste da Gaveta Anterior e teste de Lachmann ligamento cruzado posterior teste da Gaveta Posterior e teste de Godfrey Conduta é analgesia, repouso, crioterapia, fisioterapia e, em casos mais graves, opto pelo tratamento cirúrgico; mas geralmente prefiro o conservador. Lesões Meniscais Dor recorrente, podendo ser em menisco medial ou lateral, com leve edema local, associado à esforço e que limita movimentos. A RNM é o exame de escolha e a Manobra de McMurray ajuda no diagnóstico. Conduta é analgesia, repouso, crioterapia e fisioterapia (alivio da dor e reforço muscular) Artrite Séptica Infecção via hematogênica ou por osteomielite, principalmente m imunodeprimidos (DM2 inclusa). Doença articular rápida (2- 6 dias), com dor intensa, edema, hiperemia, restrição de movimentos, sintomas sistêmicos, derrame articular. Conduta é punção diagnóstica, drenagem e antibióticoterpia IV, sendo necessária internação. Gonartrose Doença insidiosa, progressiva, de caráter mecânico e perda de função (instabilidade/ rigidez articular), prevalente em mulheres, obesas, acima dos 50 anos, com lesão previa e HF. RX serve para excluir outras causas, mas não diagnóstico, pois vai quase sempre indicar osteoartrite. Critérios clínicos: 1. Mais de 40 anos; 2. Dor mecânica; 3. S/ rigidez matinal (ou mínima); 4. Limitação de atividade (deambular); 5. Crepitação; 6. Deformidade articular. Conduta é perda de peso, atividades de baixo impacto, fisioterapia, analgesia (com paracetamol, AINE e/ou AINE tópico – capsaicina) e corticoide intraarticular (benefício à curto prazo). (difícil controle da dor) Cisto Poplíteo (Cisto de Baker) Cisto sinovial em fosse poplítea, que pode ser assintomático, associado à osteoartrite, AR, lesão meniscal. Pode complicar com TVP, aneurisma poplíteo, tumores. Conduta é, quando houver, tratar sintomas e orientar sobre benignidade do quadro e suas possíveis complicações Tumores Ósseos Sem associação com atividade física; Derrame Articular, massas palpáveis, sintomas sistêmicos, história de CA. Conduta é radiografia de joelho e referenciar. DOR NO OMBRO Quando a queixa é no ombro, devo lembrar dos principais músculos/ estruturas que sustentam o braço. ● Manifestação: aguda: pode estar ligada a trauma (tendão), ou não (miofascial); crônica: após 6 meses, devo investigar. Na imagem ao lado, vemos os músculos que seguram o úmero e acabam por estabilizar o braço, tal como auxiliar na sua movimentação. ● Manobras semiológicas: Teste de Jobe (Lata Vazia) Posição do paciente: De pé, de frente para o examinador. Descrição do teste: o paciente deve realizar uma flexão e abdução de 30º de membros superiores e uma rotação interna, apontando os polegares para o chão (lata vazia). O examinador impõe uma resistência com ambas às mãos na altura do cotovelo do paciente e pede que o mesmo realize uma flexão contra a resistência. Resultados: dificuldade de movimento ou dor, indica, na maioria das vezes, lesão em supraespinhoso. Teste de Patte Posição do paciente: De pé e de costas para o examinador. Descrição do teste: O paciente é instruído a realizar uma abdução de braço a 90º, flexão do cotovelo à 90º e, rotação externa do braço contra a resistência do examinador imposta na altura do punho do paciente. Resultados: dificuldade de movimento ou dor, indica, na maioria das vezes, lesão em infraespinhoso. Teste de Gerber Posição do paciente: De pé de costas para o examinador. Descrição do teste: O examinador instrui ao paciente que realize uma adução e rotação interna do membro superior a ser avaliado e pede ao paciente que coloque o dorso da mão na altura da lombar. Resultados: dificuldade de movimento ou dor, indica, na maioria das vezes, lesão em subescapular. Manobra do Braço Cruzado (CrossBody) Posição do paciente: De pé, com os braços cruzados até o quadril (como um sinto de segurança). Resultados: dificuldade de movimento ou dor, indica, na maioria das vezes, osteoartrite de acrômio. Manobra de Hawkins (Rotação Interna) Posição do paciente: De pé, com os braços cruzados até o quadril (como um sinto de segurança). Descrição do teste: O paciente deve fletir os braços 90º e o examinador deve solicitar para que os repouse sobre sua mão. O examinador então fará uma rotação interna com os braços do paciente. Resultados: essa manobra testa todos os tendões do manguito rotador, logo, se der negativo, exclui- se a possibilidade de tendinite. Drop Arm Test Posição do paciente: Deve sentar-se em uma mesa de exame ou ficar de pé enquanto realiza o teste, e o examinador deve estar de pé na lateral do paciente ou atrás do braço que está sendo avaliado. Descrição do teste: O examinador abduzirá passivamente o ombro do paciente (úmero) a 90 graus. O paciente é então solicitado a abaixar lentamente ou aduzir o ombro para o lado. Se o paciente não conseguir realizar esse movimento, o examinador pode segurar o úmero a 90 graus de abdução e aplicar uma leve pressão no antebraço distal. Resultados: Se o braço do paciente cai significa que há uma disfunção do manguito rotador. Sinal do Arco Doloroso Descrição do teste: O paciente deve ser orientado a abduzir o braço no plano escapular e depois, lentamente, inverter o movimento, voltando a trazer o braço para a posição neutra. Resultados: É considerado positivo se o paciente sente dor aproximadamente entre os 60º e os 120º de elevação, o que corresponde à uma possível lesão em manguito rotador. Teste de Apreensão/ Realocação Posição do paciente: Em pé e de costas para o examinador. O membro superior a ser testado permanece em abdução a 90º, rotação externa e com o cotovelo também fletido a 90º. Descrição do teste: Colocando-se por trás do paciente, o examinador com uma das mãos sobre a escápula e o polegar empurrando a cabeçaumeral para frente e, com a outra mão traz simultaneamente o braço em rotação externa máxima. Resultados: o teste vai mostrar se há estabilidade de fossa glenóide, devendo ser observada a reação facial do paciente. ● Exames de imagem: RX: solicito quando quero fazer a exclusão de osteoartrite. RNM: solicito quando quero esclarecer lesões tendinosas, mas é pouco disponível. USG: solicito também para lesões tendinosas, mais disponível, porém, é operador dependente. Síndrome do Manguito Rotador Supraespinhoso Infraespinhoso Subescapular Pode ser em qualquer músculo do manguito, nem sempre é possível distinguir. Sedentarismo é principal fator de risco, e a DM não é considerado fator de risco. Pode ter dor noturna (apoia ao deitar); Dor que não ultrapassa cotovelo; (se ultrapassa penso em radiculopaia cervical) Conduta é analgesia e fisioterapia (3 – 6 meses) Conduzo na APS, salvo se houver ruptura de tendão (referencio para Ortopedia) Capsulite Adesiva Doença inflamatória (sem relação com atividade física), relacionada ao hipotireoidismo e DM. Dor difusa no ombro, com rigidez e redução de amplitude (passiva e ativa), unilateral, progressiva, autolimitada. O diagnóstico é feito com RX normal e deve ser feito diagnóstico diferencial com Parkinson. É uma condição autolimitada em até 1 ano, mas a conduta envolve analgesia, fisioterapia, injeção articular (corticoide). Osteoartrite glenoumeral (artrose de ombro) Há quadro doloroso difuso, podendo ser bilateral sem movimentação específica, com perda de amplitude lenta e progressiva. RX normal exclui o diagnóstico. Conduta é analgesia SOS por até 5 dias, fisioteraria e controle de comorbidades. Se não melhorar: injeção intrarticular de corticoide; Instabilidade Glenoumeral Em jovens, atletas, com histórico de luxação prévia, seja por lesão de labrum ou de manguito, pode ocorrer luxação de cabeça de úmero na fossa glenóide. Comprometimento do movimento, parestesia, Teste de apreensão +. RX de ombro mostrando lesão de Hill Sachs (destruição progressiva da fossa glenoide e subluxação) mas pode vir normal. Conduta é referenciar precocemente à Ortopedia, fisioterapia e evitar atividades que elevem o braço acima da cabeça. Osteoartrite Acrômioclavicular Lesão por sobreuso, em quadro crônico, com agudização. Dor em região anterior do braço, ligada à trauma. Teste de CrossBody e Hawkins podem dar +, podendo haver também dor e edema à palpação da articulação. Condições raras Fibromialgia; Radículopatia; Síndrome do Desfiladeiro Torácico OBS.: pode haver mais de um diagnóstico concomitante (um não exclui o outro). DOR MIOFASCIAL A síndrome da dor miofascial é um distúrbio no qual a pressão sobre pontos sensíveis dos músculos causa dor em partes do corpo aparentemente não relacionadas. É de difícil diagnóstico, visto que não há exames que confirmem, sendo o diagnóstico dependente do examinador (EF + clínica detalhada). É de variada etiologia, podendo ser por traumas agudos, sobrecarga muscular, microtraumas crônicos, questões emocionais e psicossociais. ● Diagnóstico Paciente tem dificuldade de descrever a dor, mas quando relata um quadro de dor mal localizada, em queimação, peso, pontada, com relato de dor referida à distância. É um diagnóstico adicional, sendo importante sempre excluir outras causas. Mais comuns: - dor lombar/glútea → irradia para face posterior da coxa. - dor cervical posterior → irradia para face. - dor ombro → irradia para braço. ● Exame Físico 1. Avaliar amplitude dos movimentos: geralmente preservada, pode limitar por dor; 2. Avaliar força: pode perder força, mas geralmente normal; 3. Palpar segmento afetado: avaliar dor, pontos de gatilho, tensão; 4. Palpar pontos gatilho 5. Exame neurológico: geralmente normal; ● Critérios Diagnósticos 1. Banda muscular tensa 2. Presença de ponto gatilho com reprodução da dor à digitopressão 3. Limitação de amplitude pela dor 4. Reação contrátil à palpação ou ao agulhamento (twitch) 5. Padrão de dor corresponde ao PG durante a compreensão dele OBS.: O paciente com dor miofascial tem que ter no mínimo os critérios 1, 2, e 5. ● Pontos de Gatilho (PG) São nódulos intensamente dolorosos dentro da banda tensa, ativos ou latentes. Quando estimulados por estresse, podem ser ativados. Os ativos cursam com dor local espontânea, enquanto os latentes apenas com tensão muscular na banca acometida ao palpá-la - dor ao palpar. ● Diagnóstico diferencial Podem ser diagnósticos diferenciais, ou podem cursar com essa síndrome: LEER/DORT, RADICULOPATIAS, OSTEOARTRITES, TENDINITES, CEFALÉIA TENSIONAL, DOR PÓS-OPERATÓRIA, FIBROMIALGIA. OBS.: os exames complementares são usados apenas para diagnóstico diferencial desse quadro. Diagnóstico diferencial importante, pois são semelhantes. No entanto, a fibromialgia apresenta dor em diversos segmentos ao mesmo tempo, enquanto a miofascial é segmentar. ● Tratamento Fase Aguda Terapia farmacológica: AINES e miorrelaxantes ou Dipirona e miorrelaxantes; (uso apenas na fase aguda ou de agudização, por até 7 dias, para interromper o ciclo) Terapia física: consiste na liberação miofascial, podendo ser por Compressão Isquêmica ou Agulhamento Seco, sendo importante o uso posterior de compressas mornas. Fase Crônica Terapia física: consiste na liberação miofascial, como na fase aguda, mas que deve ser feita em várias sessões continuadas e com anestésico local, pois tem o intuito de liberar o ponto e, ao mesmo tempo, com o uso do anestésico bloquear as vias de dor durante determinado tempo. (acunpuntura ≠ agulhamento seco, mas também uma alternativa terapêutica acessória ) Terapia farmacológica: antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina) e inibidor seletivo de recaptação de noradrenalina e serotonina (Venlafaxina), a Gabapentina e os Benzodiazepínicos (não muito bom). Atividades físicas: alongamento, fortalecimento, propriocepção. Ainda, conta com adoção de hábitos de vida saudáveis, intervenção psicossocial e fisioterapia. CEFALÉIA Cefaleia primária: não tem nenhum outro quadro que explique a cefaleia, ela por si só é a doença. São as principais: Migranea, Salva, Tensional. Cefaleia secundária: secundária a outras condições, como um TCE, neoplasia, uso de medicamentos, crise hipertensiva, hemorragia intracraniana e outros. Aqui ela é um sintoma de outra doença. ● Anamnese 1. Tempo: saber se é aguda, crônica, quando começou, quando surge, quando piora. 2. Localização: qual lado afeta, se é difusa, anterior ou posterior. 3. Característica: pulsátil, lancinante ou continua. 4. Sintomas associados: náusea, vômitos, sinais premonitórios, parestesias, convulsão. 5. História patológica pregressa: outros episódios, trauma, medicamentos, etilismo. 6. Fatores associados: o que piora, o que melhora, o que desencadeia, psicossocial. ● Exame Físico Pressão arterial Inspeção e palpação crânio cervical→ palpar musculatura pois dor miofascial é diagnóstico diferencial Ausculta→ carótida, temporal, occipital, ocular: sopros indicam uma condição mais grave de cefaleia Oto e Oroscopia→ descartar sinusite Exame neurológico→ força, sensibilidade, marcha, equilíbrio, coordenação motora, 3º e 4º par, sinais meníngeos ● Cefaleia Migranea Com aura: menos frequente, menos incapacitante. Sem aura: mais frequente e mais incapacitante. Aura é um sintoma neurológico focal, que inicia antes (5-20min) ou em conjunto com a cefaleia, e assim que começa a dor, esse sintoma desaparece (importante). Sintomas premonitórios: não é sintoma neurológico (não é aura), mas um sintoma subjetivo que a pessoa sabe que vai ter o episódio, como hipo/hiperatividade, depressão,euforia, alt. apetite. Critérios Diagnósticos: Deve preencher pelo menos cinco crises preenchendo os critérios abaixo: 1. Duração de de 4 – 72h (sem tratamento ou com tratamento ineficaz): 2. Deve ter duas das seguintes características: Unilateral; Pulsátil; Moderada ou Forte; Exacerbada em atividades rotineiras; 3. Durante o quadro da cefaleia, pelo menos um dos seguintes: Náusea e/ou vômitos Fotofobia Critérios para aura: pelo menos duas crises com os critérios: 1. Dor começa durante a aura ou dentro de 60 minutos do início dela. 2. Pelo menos um dos seguintes sintomas: ► visuais (escotomas – positivos; apagamento – negativos) ► sensitivos (parestesia – positivos; esquecimento de membro – negativo) ► disfasia (dificuldade de elaborar frases) Tratamento: Com aura→ referenciar ao Neurologista. Sem aura→ Orientações, MEV, reservar triptanos e ergotamina para casos mais intensos pois o uso desses medicamentos podem cronificar a dor. Em crise 1. Paracetamol/ Dipirona (dor leve) 2. AINE (dor leve) 3. Paracetamol + AAS + cafeína (neosaldina) Caso os anteriores não funcionem, inicio os demais: 4. Ergotamina (sintomas prodrômicos, 10mg/semana é a dose máxima) Contra indicações: Não usar em HAS descontrolada, doença coronariana, hepática ou renal, doença vascular periférica, gestação, hipertireoidismo e porfiria pois ele é um vasoconstrictor. 5. Triptanos (padrão ouro com ou sem aura; mesmas contraindicações) Profilaxia: evitar abuso de medicamentos e melhorar qualidade de vida: ► Terapia não medicamentosa: para todos os pacientes; ► Evitar alimentos desencadeantes: álcool, aspartato (adoçantes), glutamato (produtos industrializados), tiramina (queijos) e chocolate. ► Evitar medicamentos desencadeantes: nitrato; ► Controle de fatores desencadeantes: mudanças climáticas, menstruação, estresse; ► Técnicas de relaxamento: meditação, mindfullness, acupuntura. ► Profilaxia medicamentosa: precisa preencher critérios: a) Interfere significativamente no dia a dia apesar das terapias abortivas b) Crises frequentes (mais de uma vez na semana) c) Uso excessivo de medicamentos d) Terapia abortiva ineficaz ou contraindicada e) Preferência do paciente f) Presença de cefaleia migranea com aura Assim, vou escolher o medicamento mais adequado, dependendo do perfil de uso, posologia, contraindicações: 1) Iniciar dose baixa e aumentar gradativamente 2) Se houver falha, trocar a classe ou associar 3) Monoterapia preferencialmente 4) Manter por 6 meses e então reavaliar retirada ● Cefaleia Tensional Critérios: 1. Duração de 30 min à 7 dias. 2. Pelo menos duas das seguintes características: ► bilateral ► pressão ou aperto (não pulsátil) ► dor fraca ou moderada ► não agravada por atividade física 3. Ausência de náusea ou vômito 4. Fotofobia ou fonofobia Perfil da cefaleia: em faixa, bilateral, dolorimento pericraniano, variando apenas a frequência: Episódica Frequente→ de 12 a 180 dias de cefaleia por ano Episódica Infrequente→ < 12 dias de cefaleia por ano Crônica→ > 180 dias de cefaleia por ano (aqui pode ter náusea leve, mas não vômito) Tratamento: 1. Paracetamol/ Dipirona (dor leve) 2. AINE (dor leve) 3. Paracetamol + AAS + cafeína (neosaldina) 4. Abordagem psicossocial 5. Massoterapia, relaxamento 6. Compressa morna na região temporal e occiptal Profilaxia: evitar abuso de medicamentos e melhorar qualidade de vida: ► Técnicas de relaxamento: meditação, mindfullness, acupuntura. ► Profilaxia medicamentosa: tricíclicos (inicia com baixa dose de 10mg e aumenta até 75mg); descontinuar após 6 meses. OBS.: na Cefaleia Tensional é importante fazer diagnóstico diferencial com causas osteomusculares; o uso de relaxante muscular não alivia esse tipo de cefaleia. Tricíclicos Amitriptilina Nortriptilina Altera peso ISRS Fluoxetina Sertralina Altera apetite Anticonvulsivantes Ácido valpróico Topiramato Gabapentina Altera apetite Betabloqueadores Propanolol Atenolol Metoprolol Hipotensão ● Cefaleia em Salva Caracterizada por períodos de salvas, que podem durar de semanas a meses, geralmente seguidas por longos períodos de alívio (remissão). Durante a remissão, os ataques podem parar por meses ou anos. Incidência: ♂, entre 20 – 40 anos Característica: forte intensidade, súbita, periorbital ou temporal, unilateral, duração de 20 - 180min, com sintomas autonômicos associados (hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudoreses na fronte e face, ptose, edema palpebral) e agitação intensa. Crises: ocorrem geralmente de madrugada, no mesmo horário, tendo espaço entre as crises de algumas horas ou até 24h, podendo recorrer por 2 semanas a 3 meses. Manejo: Crise: O2 + triptanos nasais (sumatriptano); Profilaxia: verapamil + prednisona por 3 dias → desmame em 2 semanas; Conduta: referenciar ao Neurologista; ● Sinais de alerta o Aparecimento súbito o Dor mais intensa o Mudança do padrão da dor o Sinais de meningite o Crise que dura mais que 72h o Inicio do quadro após os 50 anos o Despertar noturno o Alteração neurológica ou déficit o Associada à esforço (pressão intracraniana) o Após trauma recente o Associação a HIV o Sinais/Sintomas visuais ● Exame de imagem Vou fazer o Choosing Wisely e só solicitar quando houver achado inexplicável ao exame neurológico, ou quando há característica atípica da dor. Se cumprir os critérios diagnósticos para Cefaleia Primária, não preciso fazer, exceto se for a Cefaleia Migranea com Aura.
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