Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRABALHO DE AVALIAÇÃO: DOS RECURSOS 1. Brasilino, menor, ajuizou ação em face de Artaxerxes pretendendo que o réu seja condenado a lhe pagar, a título de indenização por danos materiais suportados, a importância de R$20.000,00. O requerido ofereceu contestação, buscando a improcedência do pedido formulado. Encerrada a instrução probatória, o juiz da causa julgou parcialmente procedente a postulação do requerente, condenado o réu Artaxerxes a lhe pagar a importância de R$10.000,00. Ambas as partes – autor e requerido – apresentaram recurso de apelação contra a sentença prolatada, requerendo a sua reforma: o primeiro para majorar o valor da condenação e o segundo para que o pedido seja julgado improcedente. Além disso, o Ministério Público, na condição de fiscal da ordem jurídica, porque o requerente é menor de idade, também interpôs recurso de apelação contra a sentença, pleiteando igualmente a sua modificação em favor do autor, almejando seja aumentado o valor da condenação; o requerido, por sua vez, intimado a oferecer resposta ao recurso de apelação manejado pelo autor, apresentou, no prazo legal, contrarrazões e recurso adesivo, pretendendo, agora, por meio deste último, a nulidade da sentença. Diante do exposto acima, dissertar de modo fundamentado, à luz do ordenamento jurídico, da doutrina e da jurisprudência, sobre: a) No caso em análise, o Ministério Público detém legitimidade/interesse para interpor recurso de apelação? Sim, o Ministério Público tem legitimidade para atuar como parte do processo (autor ou réu) ou como fiscal da ordem jurídica (ordenamento jurídico exige sua atuação). O MP como fiscal, pode apresentar recurso embora a parte não tenha apresentado recurso, a legitimidade recursal dele é autônoma, tem legitimidade própria mesmo como fiscal da ordem jurídica. “Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. STJ, Súmula n. 99: “O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte”. b) Quais recursos admitem o recurso adesivo? O recurso adesivo só é admissível em três espécies de recurso, não é cabível em nenhuma outra espécie de recurso, quais sejam: Recurso de apelação – recurso voltado contra a sentença, em regra. Recurso extraordinário – recurso dirigido ao STF, alega-se afronta a constituição federal Recurso especial – recurso dirigido ao STJ, alega-se afronta a lei federal infraconstitucional (abaixo da constituição – direito penal, civil, empresarial etc). O recurso adesivo, nada mais é, que o recurso de apelação, recurso extraordinário e o recurso especial na forma adesiva. Não é um recurso próprio, por isso sua disciplina está nas disposições gerais. “Art. 997, § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial”. c) Caso não seja admitido o recurso principal/independente, o recurso adesivo deve ser conhecido? O recurso adesivo é subordinado ao recurso principal, ou seja, para que seja admitido é necessário que o recurso principal seja admitido, que passe pelo juízo de admissibilidade. Se o recurso principal não for admitido por qualquer motivo de admissibilidade, o recurso adesivo não é admitido/conhecido. Caso o recurso principal “morra” o recurso adesivo também “morre”, pois segue a sorte do principal. Além disso, para que o recurso adesivo seja admitido também precisa passar pelo juízo de admissibilidade de seus requisitos próprios. O reconhecimento do recurso principal não importa admissão automática do recurso adesivo, é necessário que cumpra seus requisitos. “Art. 997, § 2o O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível”. d) No caso em apreço, o requerido detém legitimidade/interesse para interpor recurso adesivo? Sim, o requerido tem legitimidade para interpor o recurso adesivo. Embora haja controvérsias na doutrina e jurisprudência, o entendimento majoritário é que apenas o autor e o réu podem interpor recurso adesivo. O autor e réu não podem apresentar, por exemplo, recurso adesivo de terceiro prejudicado, o recurso é de um contra o outro. “Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. § 1o Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro”. 2. O autor Brasilino interpôs recurso de agravo de instrumento contra determinada decisão interlocutória prolatada em processo de conhecimento. No entanto, a petição de interposição de agravo não foi instruída com as peças obrigatórias previstas no Código de Processo Civil em vigor. Além disso, o agravante não comprovou, junto ao juízo de conhecimento, a interposição do recurso. Em face do exposto acima, dissertar de modo fundamentado, à luz do ordenamento jurídico, da doutrina e da jurisprudência, sobre: a) As peças obrigatórias devem instruir o recurso de agravo de instrumento sendo físicos ou eletrônicos os autos do processo? Não, a obrigatoriedade é aplicável apenas ao processo físico, no processo digital não precisa. O artigo 1017, § 5º do CPC, dispensa a obrigatoriedade de instruir as peças no processo digital, a parte tem a faculdade. “Art. 1.017, § 3o Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único. § 4o Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original. § 5o Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia”. b) Quais peças são legalmente consideradas obrigatórias? Peças obrigatórias: 1. petição inicial; 2. contestação; 3 petição que ensejou decisão agravada; 4 decisão agravada; 5 certidão de intimação; 6 procurações. “Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; c) Faltando uma peça obrigatória, deve o relator, de imediato, sem adotar qualquer providência, não conhecer do recurso de agravo de instrumento? Não, na falta de uma peça obrigatória o relator deve conceder prazo de 5 dias ao recorrente para sanar o vício, conforme pressupõe os artigos a seguir: “Art. 1.017, § 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único. Art. 932. Incumbe ao relator: Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementadaa documentação exigível. d) Sendo físicos ou eletrônicos os autos do processo, pode o Tribunal não conhecer do recurso de agravo de instrumento, de ofício, porque o agravante não comprovou, junto ao juízo de conhecimento, a interposição do recurso? Quando o processo for físico, o agravante deve instruir o recurso com as peças obrigatórias e, além disso, tem que comprovar que instruiu junto ao juízo que prolatou a decisão agravada. Deve realizar esse ato no prazo de 3 dias úteis, contados da interposição do recurso. Sendo eletrônico os autos, não precisa fazer a comprovação. A não comprovação da interposição do recurso, no prazo de 3 dias, quando o processo por físico gera a inadmissibilidade do recurso do agravo de instrumento, o não conhecimento por falta de requisito de admissibilidade. Requisito de admissibilidade de recurso, em regra, é matéria de ordem pública, ou seja, deve ser reconhecido de ofício pelo órgão julgador. Mas esse requisito específico, a comprovação da interposição do agravo de instrumento, é exceção. Trata-se de matéria de ordem privada, porque é requisito que o descumprimento do ato só pode se reconhecido pelo tribunal se houver alegação da parte contrária/recorrida/agravada nas contrarrazões. Sendo assim, não pode ser reconhecido de ofício pelo tribunal. “Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso. § 1º Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. § 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento. § 3º O descumprimento da exigência de que trata o § 2º, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento”. 3. O Juízo da Terceira Vara Cível da comarca de Rubiácea, após o oferecimento de contestação e produção de prova oral, proferiu sentença julgando improcedente o pedido formulado pelo autor Oncromenézio, o qual interpôs recurso de apelação contra tal decisão. O Juízo recorrido – da Terceira Vara Cível da comarca de Rubiácea – não admitiu o recurso manejado pelo autor por considerar que fora interposto além do prazo legalmente previsto, ou seja, que não resultou satisfeito o requisito da tempestividade. Realmente o recurso de apelação foi apresentado dois dias depois de decorrido o prazo legal previsto para tanto. Diante do exposto acima, dissertar de modo fundamentado, à luz do ordenamento jurídico, da doutrina e da jurisprudência, sobre: a) Qual a diferença entre juízo de admissibilidade e juízo de mérito do recurso? O juízo de admissibilidade analisa se estão presentes ou não os requisitos de admissibilidade do recurso. Enquanto que, o juízo de mérito analisa se o recorrente tem ou não razão no inconformismo dele. O órgão julgador só faz o juízo de mérito se o juízo de admissibilidade for positivo. b) No caso em análise, o Juízo de Rubiácea agiu corretamente? Não agiu corretamente, pois a tempestividade é um dos requisitos de admissibilidade do recurso. Compete ao órgão julgador do recurso analisar se estão presentes ou não os requisitos de admissibilidade, realizando o chamado juízo de admissibilidade do recurso. Esse juízo de admissibilidade pode ser positivo ou negativo. Consoante a esse entendimento expõe o autor EDUARDO ARRUDA (2019) “A competência para analisar o preenchimento dos requisitos de admissibilidade de determinado recurso é, como regra, do próprio órgão ao qual ele é dirigido, afinal, a sua competência recursal não diz respeito somente ao mérito, mas, antes disso, à própria”. c) No caso em apreço, se configurados todos os requisitos de admissibilidade do recurso, o Juízo de Rubiácea detém competência para realizar o juízo de mérito recursal? Compete ao órgão destinatário do recurso analisar se o recorrente tem ou não razão do seu inconformismo, isto é, realizar o chamado juízo de mérito. Significa que, caso o recorrente tenha razão, o órgão destinatário dá provimento ao recurso, caso contrário nega o provimento ao recurso. Para que isso ocorra deve cumprir todos os requisitos de admissibilidade. d) Tratando-se de sentença, quais hipóteses admitem retratação por parte do juízo de primeiro grau de jurisdição, por força do efeito de retratação, diferido ou regressivo do recurso? O recurso interposto permite que o próprio órgão jurisdicional que deferiu a decisão impugnada possa retratar-se. A regra no ordenamento jurídico é o princípio da invariabilidade da decisão do órgão que a proferiu. No entanto, o artigo 994 do CPC traz exceções a essa regra; permite que o próprio órgão que proferiu a decisão altere a sentença. Isso poderá ocorrer quando houver recurso dotado de efeito regressivo, de retratação ou diferido – autorização legal para que o próprio órgão que proferiu a decisão retome-a porque tem um recurso contra ela, enquanto não julgado aquele recurso pelo órgão competente, o órgão que a deferiu está autorizado a alterá-la. A retaração só incide caso haja recurso, isto é, se não houver recurso contra a decisão o juízo não poderá se retratar. “Art. 494. Publicada a sentença decisão, o juiz só poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração”. – busca aperfeiçoar a decisão judicial, torna-la melhor, pois há algum vício, defeito. 4. A respeito dos requisitos de admissibilidade dos recursos, dissertar de modo fundamentado, à luz do ordenamento jurídico, da doutrina e da jurisprudência, sobre: a) se o prazo recursal pode ser reduzido ou aumentado por ato das partes e do juiz do processo; Os recursos devem ser interpostos dentro do prazo estabelecido pelo legislador. O juiz de ofício não pode reduzir o prazo de recurso, a não ser que as partes concordem. O juiz pode prolatar o prazo do recurso desde que haja justo motivo para isso - flexibilização do procedimento que significa adaptar o procedimento a exigências concretas do processo. Se houver flexibilização procedimental (art. 190), poderão os prazos ser dilatados, reduzidos ou até mesmo suspensos, mediante acordo entre as partes. “Art. 222, §1o Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes”. b) os prazos para recursos; Os recursos em regra possuem o prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.003, § 5º , CPC). São exceções a essa regra, o embargos de declaração que possui prazo de 5 (cinco) dias (art. 1.023, CPC); e o recurso inominado com prazo de 10 (dez) dias (arts. 41 e 42, Lei nº 9.099/95 – JEC). c) a partir de que momento os prazos recursais são contados; Conforme disposição do artigo 1003 do CPC, em regra, o prazo começa contar a partir do momento em que os representantes das partes são intimados da decisão (art. 1003, caput, CPC), mas essa regra comporta exceções (art. 1003, § 1º) Conforme o autor DONIZETTI (2020), caso a decisão seja proferida em audiência, será a partir desta que se iniciará a contagem do prazo (art. 1003, caput do CPC). Essa decisão, em regra, deveria valer para todos os sujeitos do processo, no entanto, o STF entendeu pela impossibilidade do Defensor ou Promotor de Justiça serem intimados da audiência “(…) não descarto a possibilidade de afastar a incidência do art. 1.003, caput c/c seu § 1º, do CPC de 2015 por meio de interpretação consentânea com o critério da especialidade. Deveras, ao confrontar a regra contida no caput c/c o § 1º, do art. 1.003 do CPC com a prevista nos arts. 4º, V, e 44, I, da LC n. 80/1994, observa-se que aquela descreve a regra geral de intimação dos que detêm o ius postulandi (contagem do prazo a partir da intimação em audiência),ao passo que estas últimas referem-se especificamente aos membros da Defensoria Pública, atrelando a validade de intimação pessoal somente com a remessa dos autos. (…) Assim, por todo o exposto, parece-me ser a melhor interpretação do § 1º do art. 1.003 do CPC aquela que se harmoniza com a lei especial que trata da intimação pessoal da Defensoria Pública, de modo que a leitura feita do termo (sujeitos) referido pelo parágrafo primeiro não abarcaria a referida instituição tratada no caput ” (HC 296.759/RS e REsp 1.349.935/SE). d) as pessoas que desfrutam de prazo especial para recorrer e qual é esse prazo; O prazo para recorrer será em dobro quando o recorrente for o Ministério Público (art. 180), a Fazenda Pública (art. 183) ou a Defensoria Pública (art. 186). O prazo para recorrer também será contado em dobro quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, mas desde que os processos não tramitem na forma eletrônica (art. 229). e) se é possível juridicamente interpor recurso antes de iniciado o prazo, ou seja, antes da intimação das partes da decisão prolatada. O recurso interposto antes da publicação da decisão no órgão oficial é denominado “recurso prematuro”. Antes era entendido ser essencial a publicação da decisão para que a parte tivesse pleno conhecimento das razões de decidir, sendo considerado extemporâneo o recurso que antecedesse esse ato processual (AgR no RE 817.571). Contudo o julgamento do HC 101.132/MA de 2012, o STF reconheceu que “as preclusões se destinam a permitir o regular e célere desenvolvimento do feito, por isso que não é possível penalizar a parte que age de boa-fé e contribui para o progresso da marcha processual [...]”. Por fim, o assunto se encontra sedimentado com o CPC 2015, artigo 2018, § 4º. “Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei. § 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo”.
Compartilhar